Como podemos negligenciar tão grande salvação?!

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O Caminho da Graça

Como podemos negligenciar tão grande salvação?! Caio Fábio

Vamos ler na epístola aos Hebreus, capítulo 2...

A pergunta que está posta aqui é uma pergunta forte. É uma pergunta que parte de um arrazoado, o qual tem um contexto antecedente à pergunta e um contexto imediato, subsequente a ela; mas a pergunta é de uma veemência extraordinária: Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?

Testamento nós vemos o testemunho dessa presença de anjos. Foi assim com Abraão, foi assim com Isaque, foi assim com Jacó, foi assim com os filhos e com a descendência de Jacó, foi assim com Davi, foi assim com todos os profetas: através da ministração de anjos – que são espíritos ministradores em favor daqueles que hão de herdar a salvação, como se diz aqui na epístola aos Hebreus.

“A palavra falada por meio de anjos,” isto é, pelo testemunho diversificado de anjos por toda a velha aliança (que nós chamamos, na Escritura, de “Velho Testamento”), a todos aqueles que obtiveram um bom testemunho pela manifestação da sua fé. Uma fé que recebeu a Palavra sendo ministrada por meio de anjos. Foi o que aconteceu com todos eles, de Adão para a frente, pois a Escritura, a Palavra escrita, é um acontecimento bem posterior. Durante milênios esses homens acerca dos quais nós lemos nas genealogias tiveram a sua fé afirmada por meio de visões de anjos, ou de visões arquetípicas de Deus, por um falar de Deus aos seus corações, frequentemente revalidado, para fins de melhor percepção deles, por meio de anjos. Ao lermos a Escritura do Antigo

E este é o argumento: se a palavra falada por meio de anjos, incluindo tudo o que foi dado a Moisés – que foi dado por meio de anjos – tornou-se firme, se essa palavra se tornou absolutamente enraizada como âncora do caráter de Deus na consciência humana, e se a transgressão a essa palavra que nos foi trazida por meio de anjos (e cujo testemunho nós temos guardado na parte anterior da Escritura) se tornou forte como forte se tornou, que faremos nós, ou como escaparemos nós, se negligenciarmos a essa tão grande salvação? Salvação que não nos foi trazida por meio de anjos, mas, como está dito no capítulo primeiro desta epístola, nos foi trazida pelo próprio Filho de Deus, o Unigênito de Deus; porque havendo Deus outrora falado de muitos modos e maneiras

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“Por esta razão, importa que nos apeguemos, com mais firmeza, às verdades ouvidas, para que delas jamais nos desviemos. Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade.”


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aos nossos pais (aos que nos precederam) por meio dos profetas, os quais, por seu turno, receberam a sua palavra por meio de anjos, nesses últimos dias, nesse tempo em que nós vivemos, nesse aeon ao qual nós pertencemos, ele nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, o mesmo pelo qual ele também criou o próprio universo e todas as criações visíveis e invisíveis; o Filho, que é também o resplendor da glória de Deus; o Filho, que é a expressão exata do ser de Deus, porque nele, no Filho, habita corporalmente toda plenitude da divindade, nele estão todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento. Sim, nestes dias Deus nos falou pelo Filho, que é a expressão absoluta do ser de Deus. E mais do que isso, essa sua palavra que nos foi encarnada no Filho e que nos foi revelada como Evangelho, como boa-nova, depois de toda ela ter sido vivida, encarnada, gestualizada, interpretada, ensinada e sinalizada pelo Filho feito homem na História, ele, o Filho, foi ressuscitado depois de morrer, e assentouse acima de todo principado, potestade e poder; depois de ter purificado os nossos pecados, veio a assentar-se à direita da Majestade, nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais excelente nome do que toda a soma de todas as criaturas e de toda a criação.

ouvindo a Palavra não por meio de Gabriel, nem por meio de Miguel, nem por meio de anjos enviados para falarem a Palavra na calada da noite a profetas solitários? Nós recebemos essa palavra diretamente da boca do Filho, pelo testemunho direto do Espírito Santo no nosso coração. E a palavra não está longe de nós, para que alguém pergunte: Quem descerá ao abismo para trazê-la a nós? Quem subirá ao céu para trazê-la até nós? Ao contrário, o que dela se diz é que ela está aqui, bem juntinho de nós, entre a boca e o coração. Porque “se com a tua boca confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa a respeito da salvação”.

Então, se o que foi dito por meio de anjos teve o seu poder implacável, conforme nós lemos no testemunho da antiga aliança, a pergunta do escritor de Hebreus é: E quanto a nós? Pois a esse grande privilégio, a essa grande salvação corresponde uma imensa responsabilidade. Por isso ele indaga: Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? Como? Onde nos esconderemos? Para onde fugiremos, depois de termos sido visitados pela encarnação de Deus,

É grande salvação porque cobre todos os nossos pecados. É grande salvação porque tirou, tira e tirará os nossos pecados. É grande salvação porque é de graça, é dom de Deus, é mediante a fé, não vem de nós, não vem das nossas boas obras, para que nenhum de nós se glorie. É grande salvação porque ela opera pelo constrangimento do amor, do amor de Deus nas nossas entranhas, na nossa alma. É grande salvação porque ela opera na racionalidade

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Por isso o verso primeiro do capítulo 2 diz: Por essa razão importa que nos apeguemos com mais firmeza às verdades ouvidas, para que delas jamais nos afastemos. Por esta razão é necessário, hoje, mais do que em qualquer outro tempo histórico, que nos apeguemos (a palavra é “agarremonos”) com mais firmeza às verdades ouvidas, sabidas, entendidas, proclamadas, cridas, para que delas jamais nos desviemos. Do contrário, a pergunta é: como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?


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É tão grande salvação porque ela é unilateral na sua expressão e na sua decisão de se vocalizar, de se expressar e de se encarnar na nossa direção, pois Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões. É grande salvação porque nós temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo; ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos próprios, mas, ainda, pelos do mundo inteiro. É grande salvação porque foi ele quem nos amou primeiro, e nos amou sendo nós hostis, revoltados, alienados, rebelados, sem desejarmos Deus em nós, cultuando apenas o fluxo dos nossos caprichos; mas ele nos amou apesar de todas as indicações da nossa existência em contrário. É grande salvação porque Jesus disse que se alguém vem a ele ninguém o arrebatará das suas mãos; nem o diabo, nem anjos, nem principados, nem potestades, nem nenhuma criatura,

ninguém poderá arrebatar-nos das suas mãos. É grande salvação, exceto para a seguinte realidade: eu posso negligenciá-la; eu posso saber dela e não a querer; eu posso não deixar que ela se infiltre em mim; eu posso levantar meu coração pelo cinismo e endurecer-me para ela; eu posso dizer não à sua realidade de convencimento no meu ser; eu posso enrijecer o meu espírito e posso postergar, protelar, procrastinar de maneira contínua o abraçar dessa graça, o acolher da eternidade que deseja se implantar e beneficiar a minha vida fazendo com que o Evangelho seja, de fato, boa nova da graça de Deus em mim. Eu posso, você pode, nós podemos, infelizmente, exercer a nossa liberdade, de maneira suicida, contra o Evangelho. É por isso que aqui se diz: sabendo disso – ou por essa razão – apeguemo-nos. Lutemos contra o fluxo interior dos nossos caprichos, dos nossos pensamentos, das nossas compulsões, e apeguemo-nos à Palavra; e mais, e mais, com mais firmeza apeguemo-nos. E façamos isso com toda a consciência e intenção do nosso ser, para que não aconteça que nenhum de nós se desvie dela, da Palavra em nós. Além disso, o escritor de Hebreus nos oferece uma quantidade significativa de razões adicionais, das quais vamos tratar sem nos estendermos muito. A primeira razão que ele nos oferece para que não negligenciemos essa grande salvação é que ela não foi resultado da ministração de anjos, mas da encarnação do Filho, que a trouxe a nós – como diz o capítulo primeiro, do verso 1 até o verso 14. A segunda razão é que essa grande salvação que hoje que nos alcançou não foi fruto do testemunho de anjos para nós,

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da nossa percepção, que diz: ora, se um morreu por todos e levou o pecado de todos, e se aquele que não tinha pecado Deus o fez pecado por nós, se assim é, se um morreu por todos, a lógica é que todos morreram para aquele projeto de existência anterior, egótico, idolátrico, cultuando o próprio ego adoecido e os caprichos dos desejos e das vontades corrompidas pela nossa própria egolatria; logo, todos morreram para isso, se um morreu por todos, se um levou a penalidade de todos, se um se fez pecado pelo pecado de todos; se foi assim, logo, todos com ele morreram, para que nós, agora que vivemos, não vivamos mais para a autossatisfação, para a autoindulgência, para a doença do nosso culto ao nosso próprio ego adoecido e pervertido, mas vivamos para que experimentemos novidade de vida.


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A terceira razão é que negligenciar tão grande salvação é negligenciar a certeza do porvir, que já está definido, que já está estabelecido. Como dizem os versos de 5 a 8 do capítulo 2: “Pois não foi a anjos que Deus sujeitou o mundo que há de vir, sobre o qual estamos falando; antes, alguém, em certo lugar, deu pleno testemunho, dizendo: Que é o homem, que dele te lembres? Ou o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos, de glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre as obras das tuas mãos. Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas”. Essas coisas que estão sob o domínio de Cristo

são as de que nós nos tornamos coerdeiros, como está dito em Romanos 8; de modo que na vitória de Jesus aparece a minha vitória, e na glória de Jesus está definido o meu porvir. Olhe para o Cristo glorificado, vitorioso sobre a morte, e saiba quem você nele já é e quem você concretamente será. Negligenciar tão grande salvação é negligenciar a manifestação da glória definida como sendo minha e como sendo sua, fazendo a escolha trágica da corrupção como estilo de existência, fazendo nós pouco caso da glória que já nos está destinada e que já nos é designada, hoje, para que seja vivida, provada e conhecida por nós a partir de agora, nas escolhas de incorruptibilidade que façamos para a nossa vida. A quarta razão é que aqui se diz que negligenciar tão grande salvação é negligenciar a solidariedade da cruz para conosco. Conforme está dito no verso 9 do capítulo 2, quando, depois de dizer que nenhuma coisa foi deixada fora do seu domínio, embora ainda não vejamos todas as coisas a ele sujeitas, afirma-se: “vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem”. Para que pela graça de Deus provasse a morte por mim, por você, por todo homem. Essa é a solidariedade de Cristo, de Jesus, que se fez menor do que anjos, que experimentou o sofrimento da morte, e que foi solidário para conosco até à morte, e morte de cruz, e provasse a morte por todo homem. Porque convinha que aquele por cuja causa e por quem muitos filhos estão sendo conduzidos à glória e experimentam coisas que hoje existem por amor de nós, aperfeiçoasse,

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mas do testemunho de homens como nós. Isso torna a situação muito mais complexa, pois não foram seres de outra energia, de outra natureza, nem de outra dimensão que nos testemunharam essa grande salvação, mas foram pessoas como eu e como você, e que não a negligenciaram, que não a procrastinaram, que não fugiram dela, antes, aferraram-se a ela, agarraramse a ela, morreram pelo testemunho dela. Eles, os que creram, são os que nos trouxeram esse testemunho – é o que está afirmado para nós nos capítulos 2, versos 3 e 4. E mais, ainda: esse testemunho teve a corroboração de Deus, através de sinais, de prodígios, de maravilhas, e de um derramar abundante do Espírito Santo sobre nós, sobre toda carne. Não sobre uns ou sobre outros, não sobre profetas, não sobre indivíduos especiais, mas sobre toda carne, sobre todo aquele que crê na universalidade do testemunho do Espírito Santo na subjetividade de cada um, nos convencendo do pecado, da justiça, do juízo, e dessa tão grande salvação.


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A nossa salvação tem um autor. Não é um sistema – como a reencarnação – que é o autor da nossa salvação. Não é um conceito: “anule o ego, anule a pessoalidade, anule todo desejo, todo sentir; morra para todas as suas dimensões de consciência pessoal e você mergulhará no nirvana”. A nossa salvação não é: “pratique todas as boas obras que a convenção moral, e a ética, e a religião determinarem, e você se salvará”. O autor da nossa salvação não é um sistema, não é um conceito, não é nenhum de nós, nem somos todos nós seguindo um comportamento. O autor da nossa salvação é um só: o artífice da graça; o qual, pela graça de Deus, provou a morte por todos os homens, expressou solidariedade absoluta para comigo e para com você. De modo que, diante da expressão de tão grande salvação, como escaparemos nós, se viermos a negligenciar a autoria desse salvar solidário e completamente específico e artesanal provando a morte não apenas por todo homem, mas por cada homem, cada indivíduo, cada singularidade humana nas realidades mais indevassáveis do ser de cada um de nós? A quinta razão que a carta aos Hebreus, apenas nesses capítulos 1 e 2, nos dá para que não sejamos negligentes com essa tão grande salvação é o fato de que Cristo trouxe, nessa tão grande salvação, absoluta vitória sobre o diabo, na nossa vida. Como dizem os versos 14 e 15 do capítulo 2: Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue (ou seja, são herdeiros de DNA), destes também ele, Jesus, igualmente participou (identificando-se com toda nossa condição humana), para que por sua morte destruísse a nossa

morte, e destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pânico da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida. Que coisa mais maravilhosa: “destruísse aquele que tem o poder da morte”! Jesus identifica-se com a minha morte para que, assumindo o DNA da minha desgraça, o DNA do meu medo, do meu pânico, da minha da minha culpa, da minha condição, assumindo o DNA da minha corrupção, assumindo o DNA do meu estado, assumindo o DNA da minha relatividade provasse a morte por mim, a fim de destruir aquele que tem o poder da morte na minha e na sua vida, a saber, o diabo; e para livrar todos aqueles que estavam sujeitos à escravidão por causa do pânico da morte, por causa da fobia da morte, do medo de morrer, da contagem regressiva, do “o que será?! O que será?! Já estou entrando na meia-idade, estou ficando mais velho, estou fazendo sessenta anos, estou quase chegando aos setenta! Meu Deus, agora comecei a contar: menos um, menos dois, menos três... Oitenta anos! Ai... Quando será?! Quando será?! Ai... É hoje... É agora...! E como será? Será escuro? Será claro? Será dia? Será noite? Estarei sozinho? Como será, meu Deus?! E enquanto não chega a hora, deixa eu transar com quem eu puder, deixa eu beijar todas as bocas, deixa eu fazer do mundo uma rave, deixa eu pegar todo dinheiro que puder, deixa eu rodar o Planeta, deixa eu dizer pra todo mundo que eu tirei onda...! Porque, meu Deus, está chegando, está chegando... E o meu terapeuta não resolve esse problema, nem a minha mulher, nem o meu marido! Eu virei avô, é uma alegria, mas é um sinal de morte, também, ai, meu Deus, está chegando a hora...!”. Essa é a vida humana, esse pânico da morte, essa fobia do morrer que alimenta todas as nossas carências,

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por meio da cruz, a todos nós, e se tornasse o autor da salvação de todos nós.


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A sexta razão é de uma delicadeza extraordinária! Porque se diz que não negligenciemos salvação tão grande porque ela é fruto de uma exclusividade de socorro absolutamente singularizado na direção de cada um de nós – conforme nos afirmam os versos 16 a 18 do Capítulo 2. O verso 16 assim diz: “Pois ele (Jesus), evidentemente, não socorre anjos”. Ele não socorre anjos, que não têm crise psicológica, que não sofrem traumas, que não crescem. Anjo não cresce, não sofre o pai, não sofre a mãe, não vira anjo abandonado, não fica com sarna, não é traumatizável; eles são entes que nasceram feitos, com a consciência plena, com luz absoluta. Anjo não tem psicologia, anjo enxerga tudo com a luz cristalina do espírito. Por isso ele não socorre anjos. Porque anjos, quando querem, escolheram cair; quando decidem, decidiram na direção do que quiseram, com a mais consciente consciência que uma criatura pode ter. E se o livre arbítrio vale para mim, que sofro meu pai, que sofro minha mãe, que sofro o mundo, que sofro as contingências, que sofro as relatividades, que sofro a ebuliência dos meus hormônios, que sofro a minha carne, que sofro as minhas desordens psíquicas; se ainda assim sou responsabilizado e chamado a exercer a minha liberdade, o

meu arbítrio com consciência responsável, quanto mais os anjos, que não podem dizer: “ó, Deus, foi a mulher que tu me deste...”; ou: “pudera, Senhor, eu nasci naquela família! Releva, afinal de contas eu fui um anjo abandonado, eu usei crack na cracolândia, então, eu só podia mesmo ter me tornado um demônio, eu fiquei malandro porque tive que me virar pela celestialidade”. Anjos não podem dizer coisas assim, eles são de uma dimensão de criação onde tudo é luz. Quando Lúcifer decidiu o que decidiu, virou diabo porque decidiu sabendo das implicações, sem ilusão, sem titubeio; era uma definição de oposição, carrega em si a blasfêmia contra o Espírito Santo como consciência que habita as mentes absolutamente iluminadas nas decisões que tomam, sem nenhuma compulsão. Anjo não tem crise hormonal, não surta na adolescência, não tem crise de meia-idade. Anjo quando decide, decidiu. Por isso Jesus não socorre anjos. Mas ele socorre a mim, socorre você. Porque, apesar de tudo, ele foi solidário com a nossa natureza e a nossa condição, e se tornou um de nós. Ele provou todas as nossas tentações, ele as vivenciou, ele as sentiu, ele estremeceu em todas as direções em que o nosso ser estremece; mas sem pecado. E aquele que não teve pecado, Deus o fez pecado por nós. Por isso se diz: Ele não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão. Por isso mesmo, convinha que em todas as coisas se tornasse semelhante a nós – a quem ele chama de irmãos – para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote nas coisas referentes à nossa própria condição, a fim de fazer propiciação identificada por todos os nossos pecados. Ah, meus irmãos, é por isso que ele pode socorrer os que são tentados. E socorre. Portanto, como

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todas as nossas doenças, todas as nossas volúpias, todas as nossas ansiedades, todas as nossas buscas descontroladas; que estabelece essa contagem regressiva do pânico, na nossa alma. E Jesus veio para destruir aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo; e para livrar aqueles que, pelo pânico da morte, estavam sujeitos a essa escravidão apavorada por todo o curso da sua existência. Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?


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Toda a carta de Hebreus vai fazendo essas comparações e orientando: não olhe para trás, olhe para ele; não olhe para trás, olhe para ele. Isso que vimos até aqui é apenas uma pílula introdutória, a mensagem da carta inteira depois vai usar Moisés, depois vai usar o sistema levítico, depois vai falar da Lei, depois vai falar do tabernáculo, depois vai falar dos sacerdotes, depois vai falar das ordens de intercessão. Vai até o fim dizendo que todas essas coisas foram menores, que tudo é menor. E ainda que sendo menor, carregaram um significado imenso; ainda que sendo sombra, arquétipo, simbolização, cobrou-se dos homens pela luz que tiveram acerca daquelas coisas. Como, então, não se pediria, agora, aos homens e às mulheres, que respondessem de maneira apegada, aferrada, ancorada, comprometida, a tão grande salvação? Do contrário, como escaparemos nós se, depois de termos sido visitados por graça tão incomparável, dermos de mão a ela e não a acolhermos no nosso coração? E a conclusão – não da epístola, que prossegue, mas para nós, aqui – está por exemplo, no capítulo 3, verso 1, que diz: “Por isso (por essas razões), santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus”. Ou no capítulo 4, versos 1 e 2: “Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no descanso de Deus (nessa tão grande salvação segundo a graça), suceda parecer que algum de vós tenha falhado. Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu com eles (no passado); mas a palavra que (eles, no passado) ouviram, não lhes

aproveitou, visto não ter sido acompanhada pela fé naqueles que a ouviram". Por isso, temamos, guardemos a promessa, guardemos a boa-nova, acolhamo-la em fé. E o capítulo 3, dos versos 7 a 12, conclui dizendo: Ouçam bem, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração como foi na provocação, no dia da tentação no deserto, onde os vossos antepassados na consciência me tentaram, me puseram à prova, viram as minhas obras por quarenta anos e endureceram o coração. Por isso eu me indignei contra aquela geração e disse: Estes sempre erram no seu coração; eles também não conheceram os meus caminhos. Assim, eu jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso. Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo. Pense nessas razões para nos apegarmos mais e mais ao Evangelho. Porque se a palavra ministrada por anjos teve as suas consequências para aqueles que a negligenciaram, como escaparemos nós, que fomos ministrados pelo Filho, que somos ministrados pelo Espírito Santo trazendo-nos a palavra da encarnação de Deus entre nós? Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? Agora olhe para você e veja como lentamente a negligência foi se instalando em você. Foi se instalando de tantos modos, ganhou até o disfarce da graça na sua falsa consciência, no seu engano, no seu autoengano; para não plantar raízes na Palavra, você evoca a graça, dizendo: “tudo está feito por mim, então let it be”. Não brinque disso. Está tudo feito, e justamente por isso é que não existe qualquer razão para você não deixar acontecer na sua vida.

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escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?


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Quando não estava feito, havia muito mais desculpa; mas agora que está tudo feito, por que você não deixará o que já está feito se tornar realidade de bem de Deus em você? Mas a negligência vai tomando conta, e a gente vai esfriando, vai gelando, vai ficando autoindulgente, vai criando justificativas para as nossas deliberações, para os cultos aos nossos caprichos, à nossa preguiça, à nossa indisposição; a gente vai criando pseudoálibis, folhas de figueira para cobrir as expressões da nudez da nossa realidade, que, se revelada, expressa apenas a nossa negligência, o nosso endurecimento, o nosso cinismo – terrível cinismo, frieza e indiferença. Como escaparemos nós? Olhe para o seu coração, olhe para a sua vida. Olhe para como você, lentamente, foi se desviando da Palavra, do Evangelho, da verdade. Num caminho sutil, você foi deixando a vereda menos percorrida. Foi deixando a estreiteza do caminho gloriosamente da liberdade em Cristo, e foi

escolhendo a largueza do caminho da sua escravidão caprichosa, se desviando da verdade, se desapegando da Palavra. Veja como foi gradativo, e fúnebre está sendo o seu caminho; como você se faz desacompanhar do Evangelho dia a dia, mais e mais, infeliz e tragicamente. Eis que o Senhor Jesus diz: Eu estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo. Mas acorda. O chamado é: Vê, pois, onde caíste, e volta. Volta, volta. Volta e agarra-te à Palavra, agarra-te ao Evangelho. Vê o resvalão, vê o desvio, e volta o teu ser para o cerne, para o âmago, para a essência da Palavra, de novo e outra vez. Vê, pois, onde caíste e arrepende-te, e muda a tua mente, muda a tua atitude hoje. Porque eis que eu estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo.

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Mensagem ministrada em 01/07/2012 Estação do Caminho - DF

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