A vida deve acontecer num orar sem cessar!

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O Caminho da Graça

A vida deve acontecer num orar sem cessar! Caio Fábio

Vamos abrir no Evangelho de Marcos, capítulo 11. Primeiramente, dos versos 12 a 14. Em seguida, dos versos 20 a 26...

“No dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome (Jesus teve fome). E, vendo de longe uma figueira com folhas, foi ver se nela, porventura, acharia alguma coisa. Aproximando-se dela, nada achou, senão folhas; porque não era tempo de figos. Então, lhe disse Jesus: Nunca jamais coma alguém fruto de ti! E seus discípulos ouviram isto.”

Vendo que a figueira só tinha folhas e nenhum fruto, disse Jesus: “Nunca jamais coma alguém fruto de ti!”. Jesus se dirigiu à figueira! Olha só como a relação de Jesus com gente, ou com figueira, ou com mar, ou com vento, é igual. Parece até que ele

está falando com um rapaz, ou com uma mulher que não quer dar à luz e, ingrata, raivosa, diz: “Não quero, jamais...!”. E o verso 20 prossegue: E, passando eles pela manhã, viram que a figueira secara desde a raiz. Então, Pedro, lembrando-se, falou: Mestre, eis que a figueira que amaldiçoaste secou. Ao que Jesus lhes disse: Tende fé em Deus; porque em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele. Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebeste, e será assim convosco. E, quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas. [Mas, se não perdoardes, também vosso Pai celestial não vos perdoará as vossas ofensas.] Agora já é outro dia, eles olham e veem que aquela árvore grande, que estava antes cheia de folhas – e algumas figueiras ficam bem frondosas – tinha secado toda, até à raiz. E Pedro diz: Mestre, a figueira que amaldiçoaste secou. Pedro ficou surpreso, eu acho que ele pensou que Jesus estava jogando conversa fora, brincando de amaldiçoar a figueira; que Jesus é como nós, que damos uma topada e amaldiçoamos a pedra, falamos bobagem à beça. Nós falamos muita bobagem, não é?

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Jesus e os discípulos tinham pernoitado em Betânia e estavam indo de lá para Jerusalém, que fica a dois quilômetros. E Jesus teve fome. Então ele viu uma figueira cheia de folhas. E a figueira é uma árvore que antes de dar folha, dá a própria fruta; só depois que ela dá a fruta é que surgem as folhagens, de modo que uma figueira cheia de folhagem significa que ela tem de estar cheia de figos. Mas aquela figueira era uma anomalia vegetal – e aqui ela serve de ilustração, de metáfora, de parábola para Israel. Por tudo o que Marcos vem descrevendo que Jesus viu antes, Israel era como aquela figueira: cheia de folhas, cheia de religião, cheia de aparência, mas escondendo o fato de que não havia fruto nela. Israel era uma figueira cheia de folhas mas sem fruto digno de arrependimento. Então, não fiquem achando que foi um capricho de Jesus perseguindo a figueira; os ecologicamente mais apaixonados não entrem em crise ecológica por causa do que aconteceu.


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Oração é algo em relação a que todos nós temos algum tipo de expectativa. Mesmo aquele que ora muito pouco, ou que quase nem ora, ou nem lembra disso, passa a lembrar da oração na hora em que alguma coisa dói, ou que alguma impotência surge, ou que alguma angústia chegue, ou que algum susto lhe acometa, lhe visite, quando alguma subiteza lhe deixe sobressaltado. Ou, também, quando nós desenvolvemos um sentimento de compaixão por alguém e, de repente, esse ente está para além do alcance das nossas mãos ajudarem, às vezes nós oramos. Quando há alguma impotência a oração acaba se transformando, para a maioria de nós, naquilo que fazemos quando não podemos fazer acontecer pela própria força; então, dizemos: “socorro, lembra-te de mim!”. Pois, na maioria das vezes, quando o indivíduo se sente podendo vai parando de orar. E também a maioria de nós sempre associa oração a coisas que demandem transformações, mudanças, muitas vezes fora de nós. Mas ainda quando a oração é

algo que nós fazemos desejando mudança em nós, também na maioria das vezes é porque já fomos muito frustrados, do lado de fora, em razão de quem nós somos, em razão de quem nos tornamos, em razão de como a nossa existência se tornou pouco palatável e às vezes entrou num estado de total rejeição por parte de pessoas que gostaríamos que nos acolhessem, ou de situações que gostaríamos que nos fossem favoráveis e não o são porque o nosso próprio ser trabalha contra tudo na vida. Nessa hora nós começamos a dizer: “Ó Deus, me muda”. Mas também, eu repito, na maioria das vezes é por causa de frustrações externas, e não por causa do que nasça no coração; não é orar por orar, não é orar entendendo oração como intimidade, comunhão, privilégio, conversa, relação, diálogo com o Pai, entendendo oração como a alegria mais natural do ser, entendendo oração como a coisa mais simples de acontecer porque até os nossos pensamentos, nosso processo reflexivo, nosso processo decisório, nosso processo de discernimento e compreensão das coisas, enfim toda a nossa capacidade cognitiva pode ser trabalhada e condicionada a tornar-se um processo de oração – que é o ideal, que é aquilo que Paulo diz: Orai sem cessar. Quando Paulo está falando de orar sem cessar, está dizendo: façam com que todo o processo cognitivo de vocês, todo o processo de pensamento, de discernimento, de lógica, de reflexão, de decisão, tudo quanto constituir o trabalhar mental de vocês viaje por dentro do ambiente da certeza de que a nossa vida é um flagrante só, diante de Deus, de que nós existimos nele. Não é nem que existamos sendo vistos por ele; nós existimos nele. Mesmo quando eu não estou pensando em Deus, o meu pensar

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Você já pensou a quantidade de bobagem que você fala? Uma irritação aqui, outra ali, reações muito estúpidas por causa de coisas mínimas. E Pedro julgou Jesus pela própria estupidez. E a resposta que Jesus lhe dá é esta: “Tende fé em Deus; porque em verdade vos afirmo que, se alguém disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar no seu coração, mas crer que se fará o que diz, assim será com ele”. O monte era o Monte das Oliveiras, que está lá até hoje – eles estavam ali entre Jerusalém e Betânia, e o que faz separação entre uma cidade e outra é só a elevação, o pico do Monte das Oliveiras; Betânia está construída na descida do Monte das Oliveiras, do lado de lá.


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Quando a pessoa entende isso não apenas na mente, mas internaliza isso no coração, nas entranhas do ser, a sabedoria é dizer: Já que é assim, já que eu sou um flagrante permanente e ininterrupto, já que tudo em mim é em Deus, eu quero orar sem cessar, eu quero levar a oração para o meu sistema parassimpático, assim como o respirar, que é algo sobre o que eu não preciso pensar. Porque, assim, orar sem cessar passa a ser a realidade mais natural. Nenhum de nós, neste momento, está dizendo: eu preciso pensar quantas vezes vou respirar neste minuto agora. Ninguém está contando quantas respirações faz. Seria uma canseira se nós ficássemos contando a respiração, graças a Deus nós nem contamos, o parassimpático toma o controle, respirar é uma dimensão da nossa função nervosa que funciona automaticamente. A maior parte de nossas funções acontece no piloto automático do parassimpático, flui. O nosso coração está batendo no nosso peito e ninguém fica controlando: “deixa eu acelerar mais um pouquinho o meu coração... Agora está na hora de diminuílo...” Não, ao contrário, está tudo operando naturalmente. Assim como a minha respiração e o bater do meu coração, eu sou em Deus; independentemente de eu contar ou não contar, de eu saber ou não saber, de eu querer ou não querer, de eu desejar ou não desejar, eu sou nele. Até o

diabo é nele, existe nele; todos os antagonistas de Deus bebem de Deus, recebem o fluir de Deus. Até os seres “hitlerianos” comem, têm digestão, defecam e urinam por causa da bondade de Deus; tudo quanto de bom na vida lhes aconteça é graça de Deus. Por isso o ser humano é indesculpável! Então, já que é assim, uma das coisas mais sensatas que nós deveríamos fazer seria dizer: eu quero que o meu pensamento se transforme em oração, que as minhas ações sejam a expressão dessa oração, que os meus sentimentos, que as minhas decisões, que o meu discernimento, que tudo isso viaje em Deus. A maioria de nós fica falando de nós para nós mesmos, até quem não fala sozinho. Tem alguns que falam sozinhos, e dá até para nós ouvirmos a pessoa falando consigo mesma: “Você é bobo, Fulano, por que você botou isso aí?”. Às vezes a gente surpreende a pessoa ali, falando sozinha, pergunta o que foi, e ela responde: “Não, nada não... é que eu sou assim mesmo”. Mas na mente, mesmo quem não fala sozinho para fora, fala para dentro; a pessoa fica em diálogos consigo mesma, tem alguns que vociferam, que rugem para dentro, tem outros que dengam a si mesmos, que ficam dizendo: “ai, coitadinho de você, não liga não, você é o máximo, eles é não te enxergaram ainda” (esse é o indivíduo que ainda não entrou em processo de depressão, apenas está com uma autovitimização parcial, ainda fica assim, fazendo carinho nele mesmo; até que o bicho pega e ele não sabe mais nem quem ele é). Mas o fato é que a gente fica nessa relação constante de nós com nós mesmos; e a gente mata, de nós para nós mesmos, a gente mente, de nós para nós mesmos: ah, eu vou fazer aquilo – diz uma banda de nós; e a outra: não faz não,

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acontece em Deus. De modo que não há nada que eu faça que não seja feito em Deus, mesmo quando eu digo que não creio em Deus ou que não quero Deus. Até quando eu digo que Deus está longe de mim eu estou cometendo o absurdo de dizer que Deus está longe de mim estando eu em Deus, sendo eu alimentado pela energia de Deus, existindo eu em Deus. De modo que eu sou em Deus, até quando eu digo: não creio em Deus.


Fulano.... E a pessoa briga com a outra banda de si mesma que não concorda, e que vence sempre. Quando é tentação, então, tem uma banda fadada a perder, que é aquela banda que o indivíduo cria só para dizer para si mesmo: “olha, não é nem que eu não tentei, eu bem que tentei me convencer de que não era legal fazer aquilo, mas eu não consegui convencer a mim mesmo e fui, e me estourei todo; foi humanamente impossível, porque eu tentei me convencer e não consegui, e olha que eu sou duro de ser convencido, hem? Mas eu tentei me convencer de que não era pra ir, e fui convencido por mim mesmo a ir; eu não queria ir, mas fui, então, coitado de mim!” – É assim que a nossa imbecilidade funciona. Mas em vez de ficarmos falando de nós conosco mesmos, o sábio é aquele que diz: Já que eu sou assim, por que eu não transformo o meu processo mental, e em vez de ser um diálogo estupidificante de mim comigo mesmo eu não faço o meu diálogo mental e o meu espírito, em todo tempo, pensarem numa sequência de pensamentos, num processo de pensar que seja uma relação referenciada pela consciência que eu tenho de Deus, referenciada pela percepção que eu tenho de que eu sou um flagrante diante de Deus, e referenciada pelo entendimento que eu possuo de que eu existo em Deus? Se esse ato simples se instala em nós, eu lhes garanto: a nossa existência muda quase cem por cento. Porque a maior parte do que acontece a nós, conosco e dentro de nós acontece por causa da nossa relação estanque, esquizofrenizada, que constrói um abismo na percepção, e que pensa em Deus e imagina Deus como um ente a ser informado por nós, ou, na melhor das hipóteses, como um onisciente que de vez em quando precisa estar alerta, pois se ele

não estiver muito alerta na onisciência dele a gente dá umas dribladinhas rápidas e ele nem percebe, e a gente segue. É como funciona a mesquinharia do nosso ser. Mas quando nós entendemos que não é assim e tomamos uma decisão para além disso, a decisão de dizer: bom, já que eu sou em Deus e tudo em mim é um flagrante diante de Deus, e que a minha existência acontece nele e que eu estou totalmente aberto, que somente ele me conhece mais do que eu a mim mesmo, eu farei com que todo o meu pensar, todo o meu sentir, todo o meu respirar, todo o meu ser, todo o meu agir seja um movimento que busque diariamente funcionar no parassimpático, que eu não precise nem ficar pensando que estou falando com Deus; eu quero aprender a falar com Deus assim como eu respiro, eu quero que isso se torne automático na minha consciência, eu quero que o temor de Deus me penetre, que o amor de Deus me constranja, e que a consciência da presença e da realidade de Deus se torne tão forte em mim que dentro de mim tudo seja feito viajando dentro dele, por ele; que minha decisão, que o meu tesão, que o meu desejo, que a minha alegria, que a minha tristeza, que a minha escolha, que tudo em mim possa viajar em Deus, com a minha consciência – se isso acontecer nós vamos depurando o nosso pensamento, vamos depurando as nossas emoções. Vamos abdicando de muitas das nossas razões que são loucura, vamos aprendendo que muitas das nossas justiças são vingança, que muito daquilo que chamamos de a nossa ética é nossa arrogância, que muito daquilo que chamamos de nosso direito é nosso pecado. Porque nós vamos conferindo quem nós somos com o amor de Deus, com quem Deus é, com o Evangelho, com Jesus – o Evangelho é Jesus, Jesus é o Evangelho,

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Frequentemente nós devemos, mesmo, parar, devemos nos isolar, ficar em silêncio, desviar todo o processo mental de tudo e orar, como quem faz amor. Para fazer amor a gente fecha a porta, não fica gritando para o vizinho ouvir, a gente busca recolhimento para ser discreto. A gente faz amor no secreto. E a gente também ora no secreto – foi o que Jesus disse. Orar e fazer amor têm de ser coisas meio semelhantes: demandam aquela dignidade, aquela cautela, aquela poesia, aquela alegria de fechar a porta, de silenciar tudo e mergulhar numa relação explícita de amor com o Pai. Mas a oração como um processo contínuo é como o amor. Quando você separa um momento de oração e entra no seu quarto, fecha a porta e ora, é como quem faz amor com a mulher, ou com o marido, a quem ama. E a vida de fidelidade, de companheirismo, de amizade, de

franqueza, de verdade, que a gente guarda em relação a ela, ou a ele, é a vida também equivalente àquela que a gente deve viver no amor de Deus, em fidelidade, em amor, de modo que a gente se mantém no outro mesmo quando não está acoplado a ele. Se existem amor e verdade genuínos em nós, não existe dicotomia, tudo vai integrado: o outro viaja e a gente vai junto, o outro está e nós não dizemos: porque ele está eu fico mais distante. Tudo vai se tornando uma coisa só, vão se tornando um. Assim é no casamento. E assim deve ser conosco. Como disse Paulo: Cristo e a igreja, nós e Deus, grande é esse mistério. Esse é o vínculo, é para essa atitude de conjugalidade com o Absoluto, com o Infinito, com o Ininterrupto, que nós somos chamados a viver todas as coisas. Mas por que eu li aquele texto e estou falando sobre isso até agora? É porque o texto parece ser tão tópico, não é? Ele parece reforçar muito essa ideia da oração forte. Pois Jesus vem passando de manhã, sente fome, tem uma figueira cheia de folhas, e ele diz: estou com fome, vou comer, se tem folha é porque tem figos (pois como já foi explicado, a figueira dá primeiro o figo, a folha vem depois; se está repleta de folhas, está cheia de figos. E não me venha com aquela pergunta idiotada: “Escuta, mas Jesus não era Deus? Ele não sabia que a figueira não tinha figo?”. Ora, vamos deixar Jesus ser gente, deixar Jesus ser humano. “Absolutamente humano e absolutamente divino” – como isso funciona dentro dele é um mistério que nenhuma filosofia, nenhuma neurociência, nenhuma psicologia, nenhuma finitude consegue penetrar. Eu sou inteligente demais para entrar nesse alçapão das besteiras. Isso já ficou para trás, na minha compreensão, há milênios. Eu não penso raso assim). Então, Jesus olhou para a

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e Jesus disse: Eu e o Pai somos um; então, no que concerne ao homem, pensar em Deus é discernir Deus em Cristo, é saber como Deus pensa, em Cristo, é saber como Deus deseja a vontade dele para nós, em Cristo, é saber como é o caminho de Deus para nós, no Evangelho. Não existe dicotomia, não existe separação, tudo o que é de Deus é de Deus. Então, quando a gente faz isso, as coisas começam a mudar dramaticamente dentro de nós. E a oração deixa de ser um email, deixa de ser um telegrama, deixa de ser um SMS, deixa de ser um torpedo, deixa de ser um site. Porque que nós, mais ou menos, usamos a oração. A oração não é um instrumento. Você já notou como é que as pessoas falam? Que a oração tem poder... E assim é porque a vida não acontece num orar sem cessar. E porque a vida não acontece num orar sem cessar, a oração é algo para o que a gente marca hora. A gente não ora o tempo todo, no espírito.


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No dia seguinte a figueira secou. Num dos textos sinóticos se diz que a figueira secou na mesma hora, mas o de Marcos diz que foi no dia seguinte. Não importa, isso é um lapso desnecessário. O que importa é que a figueira secou, e secou a ponto de gerar um susto em Pedro, pois ela era uma árvore frondosa – algumas são enormes, sendo precisos, às vezes, dois homens para dar a volta numa figueira adulta, de tão grande, ampla, farta e densa em folhagens que ela pode se tornar. A figueira secou por inteiro, da folhagem à raiz! Foi um choque, foi mais do que um raio caindo nela teria produzido. E Pedro ficou chocado com o processo que parecia uma espécie de secagem total, de drenagem de toda a seiva. Toda a vida dela morreu, ela virou apenas um pau, do dia para a noite. Pedro se perplexificou diante daquela observação, e disse: Secou, Senhor! E por que Jesus imediatamente não falou sobre a figueira como uma simbolização de Israel, que é algo que ele vai fazer em algumas ocasiões mais adiante, contando parábolas desse tipo para a mente dos discípulos entenderem a analogia? Não; no imediato ele ficou contido ao que Pedro dissera na expressão do seu susto, da sua falta de expectativa quanto a se concretizar o que Jesus havia dito à figueira. Pedro deve ter olhado para aquela cena de Jesus falando à figueira e pensado: Não, isso é um exagero, vai ver que a fome estava grande e Jesus falou isso impensadamente,

ele não falou isso sério, não. Mas quando eles voltam no dia seguinte, aquela figueirona está toda seca, não tem uma folha, não tem seiva, secou até à raiz, virou um pau enterrado ali no chão; ainda estava arraigada por causa da plantação de suas raízes no chão, mas a tendência seria que com o passar do tempo ela viesse a cair pelo desarraigamento, pois nenhuma raiz iria continuar viva para se prender ao chão, e as árvores quando morrem mesmo, tombam. Pedro viu que o que acontecera em vinte e quatro horas era o equivalente ao resultado que acontece em décadas, não só de falência gradativa da árvore, mas no que dizia respeito à finalização total do processo de desarraigamento, de perda de vida. Ela não envelheceu; ela colapsou, secou, foi drenada! E Pedro chocou-se com isso, e disse a Jesus: Mestre, a figueira secou. Por isso a resposta de Jesus a Pedro é essa: Tende fé em Deus. Jesus foi noutra direção, foi na direção bem tópica, o que nos faz pensar que do ponto de vista de Deus, considerando o que Jesus disse a Pedro, é como se em quase todas as nossas orações nós não acreditássemos, de fato, no resultado do que estamos pedindo; assim como Pedro não acreditou no resultado do que Jesus estava dizendo. É equivalência total. Assim como Pedro não acreditou no resultado do que Jesus falou, Jesus estava transferindo para nós e dizendo: Vocês não acreditam, de fato, no que vocês pedem, dizem, afirmam e creem. E oração é um dizer, é um pedir, é um crer, é um viver da gente em Deus. É aquilo que a gente chama de convicção e de fé. Isso é oração. Oração sou eu, oração é você, oração é aquilo no que eu digo crer, oração é o que eu confesso, oração é o que eu declaro como esperança, oração é o que eu digo que tenho certeza como coisas que se esperam e convicção de fatos que se não

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figueira e disse: vou pegar um fruto. Foi lá pegar e não tinha nada, a figueira estava só tirando onda, estava na passarela: todas as outras figueiras estavam secas, secas, só ela aparecendo, ali, com aquela folhagem, tirando onda no Fashion Week dos vegetais. Aí Jesus disse: Nunca mais nasça fruto de ti. E, então, eles seguiram o caminho.


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E Jesus está dizendo que existe uma desconexão total entre nós, à semelhança do que houve na mente de Pedro. A desconexão entre ouvir Jesus falar e assustar-se no dia seguinte com o resultado é equivalente ao que acontece na nossa dissociação entre a nossa fé, a nossa confissão, a nossa declaração, o nosso dizer, o nosso falar, o nosso pseudo esperar e o que eventualmente aconteça. Se eu perguntasse, alguns de vocês iriam me dizer que já se assustaram com algumas respostas a oração. Porque pediram, não creram, e Deus às vezes resolve nos dar um susto, e a coisa acontece. É quando o indivíduo, surpreso, diz: “Meu Deus, é verdade! Não é só para a gente ficar fazendo um rosariozinho, um terço, aquela beatice de pedir! Ele está aí, não está calado, ele intervém, está presente, se manifesta!”. Dizer: Mestre, a figueira que tu amaldiçoaste secou, é como um cara que se volta para Deus e diz: “Senhor, a oração que eu fiz tu atendeste, que maravilha! O Senhor sabia que atendeu a oração que eu fiz?!”. “Deus, o Senhor sabia que eu pedi, e o Senhor, no dia tal, às tantas horas, atendeu? Eu estou lhe lembrando apenas porque o Senhor pode ter despachado com uma simples rubrica, sem perceber, sabe?”. Esse é o nível da nossa ignorância, é o tamanho do nosso paganismo em processo.

Aí, Jesus diz: Tende fé em Deus, não tem nada sendo jogado fora; se eu falar, já é. Quando eu falei que ela estava seca, tanto fazia se ela tivesse secado na hora, no dia seguinte, no ano seguinte, mas nunca mais iria nascer fruto dela; e eu fui sabendo isso. Tende fé em Deus, porque em verdade eu vos digo que mesmo se disserdes a este Monte das Oliveiras: arranca-te daqui e desplanta-te para o mar, assim será convosco; se não duvidardes, se confiardes, assim será convosco; se não surgir nenhuma dúvida, se no coração de vocês esse já for um fato. “Em verdade, em verdade eu vos digo: Tudo quanto pedirdes em oração, crede que já recebestes, e assim será convosco”. Não é conosco antes de ser para nós. Não é conosco antes de se tornar em nós. A fé é certeza desses fatos que se esperam, é a convicção desses fatos que se não veem. Se existe essa fé que factualiza as coisas antes de elas se tornarem, se existe essa fé que dá concreção ao abstrato antes de ele se concretizar como realidade diante de nós, se existe em nós essa fé que torna o futuro em realidade presente para nós não importando mais, para nós, quando esse futuro venha a se estabelecer, se no dia seguinte, se no ano seguinte, se na década seguinte – para nós ele já é, e esse é um assunto sobre o qual nós não temos mais dúvida, o tempo não está em questionamento , nós dizemos: eu sei que já é – se existe essa fé Jesus diz: “assim será convosco”. Porque sendo em nós, é uma questão de tempo. E só Deus sabe, na sua soberania, se será na hora, se será no dia seguinte, na semana seguinte, no ano seguinte, na década seguinte; mas não importa mais o dia, a hora e o tempo: para mim, já é; eu tomei posse e não duvido, já recebi. Antes de que aquilo se materialize eu já recebi, eu já vi, eu já sei, eu já

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veem. Isso é oração. Oração é o que eu formulo objetivamente a Deus, tanto quanto é aquilo que eu formulo objetivamente como expressão de fé, na vida, na existência; é a minha introdução consciente na vida, dizendo: eu creio, eu sei, é, será, por isto eu vivo, por isto eu falo, por isto eu declaro, e assim eu continuarei a viver.


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é bom, e não o que é mau. Como disse Tiago: Nada tendes, porque não pedis; porque quando pedis, pedis mal, para esbanjardes nos vossos prazeres, nos vossos caprichos. Como, por exemplo: “Ó Senhor, eu quero tanto pegar aquela menina, mas ela tem um namorado, e ele está indo viajar para um camping, seria bom se ele ficasse lá para sempre; me dá uma chance de chegar, eu sou teu filho, ele é só um incrédulo”. Ou, também: “Senhor, eu vou entrar amanhã naquela licitação, e eu sou teu servo, esse dinheiro na minha mão ia dar um dízimo maravilhoso, olha só o que eu podia fazer por ti, Senhor! É melhor dar pra mim do que pra esses caras que vão gastar em devaneios, em viagens perdidas. Senhor, me abençoa amanhã!”. Não é assim, que nós vamos fazendo? De maneira até burramente inocente, idiotamente distraída, muitas vezes, mas no coração de muitos de nós operam esses mecanismos, esses privilégios de playboy celestial. E nós chegamos com esse argumentinho para Deus em muitas áreas da vida. Até mesmo quando se vai orar por um cristão: a gente sempre acha que o leito de um cristão tem obrigação de gerar mais cura do que o leito onde está o chamado incrédulo. Tudo na cabeça da gente é cheio de parcialidade, de doença. E porque eu sei que eu sou assim, ainda que eu queira algo que, à luz do espírito do Evangelho, à luz do que a palavra de Deus me diga eu não veja nada que seja um absurdo, nem na coisa pedida, nem nas minhas motivações, nem nas minhas intenções de utilização daquilo ou de alcance daquilo, ainda que para mim tudo esteja tão alinhado e harmonizado que me faça pedir com toda a tranquilidade o que eu estou pedindo, eu peço com essa tranquilidade, com essa convicção, com essa fé, com essa confiança, assumo que eu

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enxerguei. Não porque a coisa tenha se realizado, mas porque em Deus eu vi pela fé, eu vi o invisível, eu vi o futuro, eu vi o que ainda não se materializou mas em Deus já é, eu já penetrei a dimensão das coisas que estão feitas, consumadas e estabelecidas; e eu creio. Eu não estou pedindo um capricho, eu não estou pedindo a realização de uma banalidade, eu não estou pedindo uma maldade, eu não estou arriando um despacho, uma macumba, eu não estou querendo furar a fila, eu não estou querendo o mal de ninguém; eu estou querendo a graça de Deus sobre todos e também sobre aquilo que eu trago diante dele em oração; pedindo sempre que a vontade dele seja feita, pois o meu olhar é muito limitado, mas no que diz respeito ao meu enxergar, ao meu perceber, ao meu discernir, se for uma coisa tópica acerca da qual não exista um mandamento dizendo: pedi isto, ou fazei isto, se estiver numa área onde não exista, aparentemente, nada que na minha mente me chegue com uma instrução específica sobre o conteúdo daquela coisa, ou seja, estando aquela coisa livre para o meu pensar, para o meu compreender das coisas à luz do Evangelho e eu deseje pedir aquilo porque eu quero ver aquilo acontecendo, eu peço. E peço com toda confiança. Sempre dizendo a ele, também com toda certeza e entrega e submissão, que eu sei que a vontade dele é maior do que o meu olhar, e que ele faça em relação àquilo o que seja o melhor; mas isso não me priva de ter a liberdade de dizer a ele o que eu quero. Sabendo eu que o meu querer deve estar educado pelo amor, pela graça, pela compaixão, pela solidariedade, pela mente de Cristo, pelo Evangelho, pelo mandamento explicitado por Jesus, que condiciona o que deva ser o nosso pensar. Sabendo eu disso, eu pedirei apenas o que


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De um modo ou de outro, seja como for, o que Jesus diz é: No seu coração, não duvide. Não duvide nem quando você não saiba qual a convicção que o Espírito de Deus lhe dê sobre o melhor resultado para aquilo. Não duvide, não duvide. Saiba que o resultado é o melhor, tome posse do melhor, em Deus – se você pedir algo tópico ou não. Se você tiver uma convicção numa direção, peça. Mas tome posse do melhor, em Deus. Não dê a Deus ideias finais, não tente fazer a arte final da oração,

deixe Deus fazer a pós-produção toda, mesmo quando você chegar com uma convicção muito clara. Tome posse, sem perfeccionismos de resultados. Tome posse, sabendo que já está feito. Eu posso não saber como será nem quando será. Mas sei que será. Sei que será o bom, o melhor, o justo, o verdadeiro. Sei que será. Não duvideis no coração, e assim será convosco. Aí, Jesus, de repente, no meio dessa história, acrescentou: “E quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas ofensas. Mas se não perdoardes, também vosso Pai celestial não vos perdoará as vossas ofensas”. O que Jesus está nos ensinando aqui? Primeiro, é que, de fato, não basta haver fé para que o meu processo de orar se efetive diante de Deus. Eu posso ter toda fé do mundo, posso ter aquela fé quase obstinada, posso ter aquela fé tenaz, posso, num mecanismo de ousadia e intrepidez do meu coração, achar que eu honro a Deus com a minha atitude kamicaze de dizer: “eu vou contigo e me arrebento todo, mas isso vai acontecer!”, como eu vejo muita gente fazendo – sem consciência, sem amor, sem entendimento, mas é na obstinação que a determinação de fé deles funciona; é uma fé muito carnal, muito mental, é uma fé obstinada, é uma fé que não nasce das raízes do amor de Deus em nós e da certeza de Deus; é uma fé produzida, muitas vezes, por uma certa arrogância humana, ou por uma intrepidez apenas humana, ou uma valentia humana que pretende colocar Deus contra a parede para ele nos ajudar, como se Deus fosse zeloso de sua própria reputação e dissesse: bom, já que ele me encalacrou tanto

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já recebi o que vem de Deus, e digo: Senhor, seja feito o melhor, seja feito como tu queres, porque eu não enxergo todas as variáveis, mas daqui de onde eu estou, deste cantinho da minha finitude, a minha consciência está limpa, o meu olhar está harmônico, e eu não tenho nenhuma dúvida quanto a pedir isso. Existem horas em que juntamente com isso vem no nosso coração a convicção do Espírito de Deus de que a gente tem de ser um intercessor daquela causa, que a gente tem de intervir nela com a autoridade da nossa relação com Deus na vida; e, então, a gente fala com Deus acerca da vida. Por isso é que se diz que agora, em Cristo, todos nós somos sacerdotes de nós mesmos; através do único sumo sacerdote, que é Jesus, mas nós oferecemos a Deus orações, súplicas, petições, com ações de graça, sabendo que o Espírito Santo intercede por nós sobremaneira, na nossa fraqueza, porque não sabemos orar como convém, mas o Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. Mas também existem ocasiões em que o próprio Espírito coloca dentro de nós aquela certeza de intercessão objetiva e tópica, do tipo que diga: não nasça mais fruto de ti. Ou do tipo que diga: nasça fruto de ti. Do tipo que seja completamente objetivo, explícito, claro, tópico em relação a coisas.


O Caminho da Graça

Cuidado para que no seu ato de orar você não seque. No fim de tudo, esta é a parábola de Jesus para nós, que dizemos que temos fé em Deus tendo alguma coisa contra alguém. O que Jesus está dizendo é: Ninguém tem fé em Deus quando tem alguma coisa contra alguém. Porque todo

aquele que de fato tem fé em Deus deixa de ter alguma coisa contra alguém. Ter alguma coisa contra alguém é reter acerca de alguém um tipo de atitude e de impressão, fazendo com que essa pessoa conviva comigo no dia a dia e eu a mantenha isolada, afastada, habitando um continente de inacessibilidade em relação a mim porque o meu coração tenha se bloqueado para ela. E, assim, eu seco como a figueira; e minha oração é um amaldiçoamento de mim mesmo, a minha oração ao Pai é um reforçar, diante de Deus, do meu cinismo, eu estou achando que o Pai celestial é Pai apenas meu e não de todos, que ele é um Deus que é acionado por mim e que não é de si mesmo, que não é aquele em quem eu existo juntamente com todas as demais criaturas; eu o estou reduzindo a um servo da intensidade daquilo que eu chamo de minha convicção e que serve só a mim, só para mim, e tem a ver apenas com o meu egoísmo, e que eu creio que possa se vincular e se expressar através de uma vida que não esteja reconciliada, em amor no coração, com todos os seres humanos, perdoando qualquer coisa de quem quer que seja. Ainda que sabendo que com certas pessoas eu preciso tomar cuidado em uma coisa ou outra, ou ainda que descobrindo que algumas são perversas o suficiente para que eu não passe pelo caminho delas porque elas são danosas, no meu coração elas precisam estar absolutamente absolvidas; em mim não existe inferno para elas, em mim não existe purgatório para elas, em mim não existe penitência para elas, em mim não existe punição nem sentença para elas; eu não sou o juiz delas, eu não exerço justiça contra elas, eu não dou ideia a Deus de nenhuma justiça sobre elas. Elas estão perdoadas, absolvidas. Os cuidados que eu

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declarando tudo isso a meu respeito, deixa eu resolver esse negócio, senão eu vou ficar mal. Tem gente que trata Deus nessa perspectiva. Eu posso ter a fé que for, desde a mais carnal e intensa, até à fé mais sistematizada em relação a qualquer construção que eu faça que me leve a dizer: por isso eu creio em Deus; mas se ela não for plantada no chão do amor, da compaixão, da graça e do perdão, ela não realiza nada. Por isso é que depois de dizer: Tende fé em Deus, não duvidem, se vocês pedirem creiam que já receberam e assim será convosco; Jesus diz: E quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai. Se tendes, perdoai. Se no ato de orar você se lembrar e tiver algo contra alguém, perdoe. E aqui ele nem condiciona ao lembrar, ele diz que a gente sabe se tem: se você tem algo contra alguém, perdoe essa pessoa. Porque, do contrário, nada vai acontecer na sua vida. Não há absolutamente nada que se peça a Deus, não há nenhuma boa causa que se apresente diante de Deus, não há nenhum bom motivo de oração diante de Deus, não há nenhuma genuinidade espiritual diante de Deus em relação ao coração que pretenda ter vida com Deus, que pretenda advogar causas divinas diante de Deus, que pretenda apresentar situações em relação às quais ele tenha compaixão, ou tenha boa intenção, ou tenha intensidade, ou tenha ousadia, ou tenha coragem, se no coração a pessoa tem alguma coisa contra alguém e não perdoou. Essa fé deixa a pessoa tão seca quanto a figueira.


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Do contrário, não ore mais, não faça mais nada. Sem perdão, pare tudo. Diante de Deus, pare tudo. Sem perdão, tudo se dessignifica, para Deus. Sem perdão, tudo não é, para Deus. Porque Deus é o Deus da graça, do favor, do perdão. Quantas vezes você acha que foi perdoado por Deus hoje? Você não precisa ter pedido perdão de nada, porque a maioria das coisas que a gente faz, a gente nem se toca. São idiotices que a gente pensa, são coisas que a gente fala, são coisas que a gente guarda, são as nossas justicinhas, as nossas razões. Nós somos muito nojentos, e nem nos tocamos; a gente sai por aí, levanta os braços cantando “Aleluia”, com um cecê espiritual danado, e nem sente. Tem anjo fazendo companhia espiritual para nós e fechando o nariz, dizendo: se toca, rapaz, não exagera, vai escovar os dentes, você está com mau-hálito, olha o que sai da sua boca, olha o seu pensamento! Mas a gente não sente. A relação de Deus conosco é dar. Tudo o que existe, existe por dádiva, por graça. O Big Bang (como nós resolvemos apelidar esse momento de singularidade universal) é graça. O bóson de Higgs, que é a mais recente descoberta das partículas subatômicas, é graça; sem bóson de Higgs não há transferência de matéria para os outros entes subatômicos. Tudo é Deus dando. Por isso é que se diz que o Cordeiro

de Deus foi imolado por nós antes da criação do universo, porque todo ato de criar é um ato de doar, de entregar, de parir, de tirar de si e botar pra fora, ir botando para fora. Deus é o Deus da graça! E perdão é a expressão divina de graça no coração da criatura, que tendo sido perdoada abraça e acolhe o perdão que recebeu e, por isso, perdoa sempre. Quem quer ser sempre perdoado por Deus perdoa sempre o próximo. Sempre. Quem quer fluxo ininterrupto de Deus consigo na vida não deixa nada ficar no coração bloqueando a interpretação sobre o próximo – perdoa logo. A gente sabe quem o outro é, os pecados que ele tem, as malícias que carregue, as fraquezas que tenha, mas isso é só o que a gente já enxergou; a gente percebe e se acautela em alguma coisa, vê se pode trazer algum prejuízo para a nossa vida ou para a vida de alguém, e anda com certo discernimento e tato. Mas ele ou ela, para nós, está completamente perdoado. Nós apenas passamos a exercitar sabedoria, mas não é mais uma reação do nosso coração contra ninguém. Em mim, todo mundo tem de estar perdoado. Do contrário, pare tudo o mais, vá para casa. E nem adianta ficar dizendo: ah, eu tenho toda fé do mundo! Porque essa fé é fé-tida diante de Deus; é uma fé fétida, ela não realiza nada, a não ser a nossa arrogância e o nosso anestesiamento diante do Senhor. Essa atitude de graça que perdoa sempre é que realiza no meu coração a confiança no amor de Deus. Essa atitude de graça em mim, que perdoa sempre, é que transfere, e volta, e retroalimenta no meu coração a consciência sobre a fidelidade do amor de Deus por mim. Porque é a certeza da fidelidade do amor de Deus por mim que me faz pedir e não duvidar. E eu só peço e não duvido porque quando eu perdoo

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deva ter dizem respeito apenas à minha sabedoria de relacionamento, mas no meu coração tem de estar tudo limpo; e tem de estar tudo dentro da proporção: um mosquito é um mosquito, um camelo é um camelo, um assassinato é um assassinato, um tropeção é um tropeção; cada coisa tem de ter as medidas da proporção. Mas no meu coração todos estão absolvidos. Todos.


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De modo que o que está aqui instalado não é uma arbitrariedade de um mandamento de Jesus no meio de um processo. É algo que faz uma lógica psicológica e espiritual absoluta com a constituição de quem nós somos. Perdoe. Tem alguma coisa contra alguém? Não importa o que seja, grande ou pequena: perdoe. Do contrário, desista. Perdoe ou desista. Mas se o seu coração perdoa, não duvide, creia que já recebeu. Porque a gente recebe na medida do que a gente dá. Você perdoou de fato? Você vai receber de fato. Não perdoou de fato, não

vai receber nada de fato. É simples assim. Ou vocês não conseguem ver a lógica espiritual do ensino de Jesus? Perdoou completamente? Vai receber completamente. Perdoou de fato? Vai receber de fato. Age com graça na realidade? Na realidade será abençoado com graça. Aquilo que pode você realiza, ou seja, você pode perdoar, você perdoa? Aproxime-se de Deus com a mesma confiança, sabendo que o que ele pode fazer ele fará. E ele pode tudo. Se eu me tornar Deus na minha relação com o próximo, perdoando, perdoando e perdoando, sabendo que eu sou objeto de perdão todo dia e transferindo esse perdão, isso faz crescer em mim essa certeza descansada que se reafirma todo dia vinculadamente ao fato de que eu estou exercendo graça para com os outros. Essa mesma graça está sendo reforçada, estabelecida, crida e apropriada por mim. E eu duvidarei cada vez menos, eu titubearei cada vez menos, porque no âmbito do que me concerne eu tenho exercido divindade de perdão para com o meu próximo. E o Pai que está nos céus exercerá toda a sua graça – que ele exerce unilateralmente em nosso favor, mesmo quando a gente não pede; quanto mais considerando que agora, perdoando e perdoadamente, nós pedimos a ele, ele fará conosco muito mais do que tudo aquilo que pedimos ou pensamos, segundo o seu poder que opera em nós.

Mensagem ministrada em 05/08/2012 Estação do Caminho - DF

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estou afirmando, pela minha fé, a certeza de que se eu, que sou tão relativo, perdoo, eu posso crescer, dia a dia, na confiança também de que o Pai, que é Absoluto, perdoa sempre. Mas quando no meu coração eu não perdoo os meus irmãos na relatividade do que fizeram a meu respeito, instala-se dentro de mim a mesma dúvida. Porque por mais esquizofrênico que eu queira ser, separando Deus da totalidade da minha vida, o meu espírito não sabe fazer essa dicotomia. E, aí, eu começo a relativizar o amor nos meus vínculos, não perdoando pessoas. Se eu relativizo o amor nos meus vínculos horizontais eu relativizo a percepção e o entendimento do amor no meu vínculo com Deus. E porque eu, aqui, não perdoo alguém, eu começo a duvidar de Deus em relação a qualquer outra coisa, porque a minha consciência não terá paz para confiar, para sossegar, para descansar, para crer, para saber, e para tomar posse.


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