Jornal de
estud
Foto: Tarick Cardoso
Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFJF | Juiz de Fora | Junho de 2018 |
Demlurb reduz em 50,7% acidentes de trabalho em 2017
População pode ajudar a diminuir ainda mais os riscos para os garis fazendo descartes de forma correta p. 6 e 7
COMPORTAMENTO
ECONOMIA
Dados apontam aumento no número de trabalhadores com carteira assinada no 1º quadrimestre do ano em JF
Saiba como funcionam os trâmites para conseguir uma bolsa de intercâmbio pela UFJF
Cineclube itinerante debate genocídio e racismo em escola pública de Juiz de Fora
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CIDADE E REGIÃO
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CULTURA
Dispositivos de segurança contribuem para queda de assaltos a táxis na cidade
Uma visão feminista, diante do machismo da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis
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Foto: Bruno Nogueira
Foto: Ramon Souza
CULTURA
EDITORIAL
EXPEDIENTE
Juiz de Fora em pauta
lística pertinente. Mais um exemplo é a matéria de cultura sobre a gravação de um filme de produção regional com viés filosófico denunciando o racismo. Outra matéria, parte da análise crítica literária de um dos maiores escritores brasileiros, Machado de Assis, costurando com uma peça teatral local, contrapondo o machismo do passado ao feminismo atual. Além disso, uma reportagem sobre o programa de intercâmbio universitário onde a repórter embasa suas informações iniciais em sua própria experiência de recém-aprovada na seleção. A reportagem que traz informações sobre o cenário econômico de Juiz de Fora trouxe um desafio para a repórter responsável pelo grau de dificuldade na busca de informações que além do aspecto técnico é apresentada de forma didática para os leitores. A forma como as reportagens foram produzidas consideraram todas as etapas do processo jornalístico - a criação de pauta, a apuração de campo, a entrevista com as fontes, a produção do texto e de imagens, o respeito aos processos de verificabilidade na edição e normas da boa redação, bem como o cuidado com a diagramação. O objetivo, ao mesmo tempo em que pensava no leitor, foi possibilitar ao estudante de jornalismo refletir sobre a forma de produção de conteúdo de qualidade como propósito maior da relação entre jornalismo e sociedade.
Sistema de segurança nos táxis diminui assaltos em Juiz de Fora Projeto para uso obrigatório de câmera e biometria está há pouco mais de um ano em vigor
Jornal Laboratório da Faculdade de Jornalismo da UFJF, produzido pelos alunos da disciplina de Técnica de Produção em Jornalismo Impresso Reitor
não se adaptaram. Eduardo Coleta, que também chefia a área de fiscalização da Settra, relata que a maioria dos carros sofrem problemas em suas baterias: “Isso se deve ao fato de que o ritmo de filmagens que as câmeras fazem é intenso. As filmagens são ininterruptas durante 40 dias, o que força bastante as baterias que ainda não estão acostumadas. As gravações são apagadas no próprio cartão. Eles só deixam salvas e arquivadas nos computadores os registros de assaltos”.
Foto: Ramon Souza
A proposta do Jornal de Estudos é apresentar o desfecho de todo um processo de estudos, pesquisa e elaboração de matérias jornalísticas pelos alunos do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Juiz de Fora. Nosso jornal é o espelho da dedicação do aprendizado aprimorado durante todo o curso, refletindo o esforço e personalidade de cada um. Esta edição, produzida pela última turma do Mergulhão de Impresso do período noturno, traz para o leitor a oportunidade de explorar e conhecer mais sobre a cidade de Juiz de Fora por meio de reportagens aprofundadas sobre a pluralidade de costumes, comportamentos e práticas de seus habitantes, além de seu desenvolvimento econômico e cultural. É importante ressaltar que nos tempos atuais, a tecnologia informatizou e acelerou os processos de comunicação trazendo, como uma das consequências, a perda da qualidade na produção das notícias em relação ao conhecimento que as mesmas deveriam proporcionar ao leitor. E informação com conteúdo é a principal forma de balancear esse contraste. Por exemplo, podemos citar a matéria sobre acidentes de trabalho com garis na cidade. Tudo começou quando nosso repórter observou que os profissionais não utilizavam equipamentos de segurança para realizar suas atividades, e enxergou ali uma pauta jorna-
CIDADE E REGIÃO
2018 junho
Prof. Dr. Marcus David Vice-Reitora Profª Drª Girlene Alves da Silva Pró-reitora de Graduação Profª. Maria Carmen Simões Cardoso de Melo
Mobilização desde 2013
Pró-reitor adjunto de Graduação Prof. Cassiano Caon Amorim Diretor da Faculdade de Comunicação Social Profª. Drª. Marise Pimentel Mendes
ARTIGO
A Copa em tempos de Crise Por Carol Cadinelli e Marcos Vinícios Basta abrir o mais superficial dos portais de notícias online para saber que os últimos tempos não têm sido fáceis para o brasileiro. Entre medidas governamentais impopulares, greves e paralisações, alta dos preços, polarizações políticas e a perspectiva de uma eleição presidencial imprevisível, muitos de nós nos percebemos confusos e assustados. Em paralelo ao caos socioeconômico que estamos vivendo, contudo, se dá um dos eventos esportivos mais aguardados do país e do mundo. A Copa do Mundo FIFA, que a cada quatro anos é motivo de expectativa e comoção para os brasileiros, começou no dia 14 de junho de 2018 na Rússia. Porém, a situação do país anda tão complicada que nem a Copa está sendo efetiva em aliviar os ânimos. Surpreendentemente, a exatos nove dias do início do grande evento, eram raros os torcedores brasileiros animados para entrada da seleção em campo. Ao contrário de todos os anos anteriores, as ruas não estavam coloridas e as camisas do Brasil abarrotadas nas vitrines. No ônibus, na padaria, fila de banco, o assunto nunca era o grande evento. Nem mesmo o setor de eletroeletrônicos, que historicamente era o mais beneficiado no período, demonstrou otimismo nas vendas. Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, a tendência é de que as vendas fiquem abaixo do registrado no mesmo período de 2014, quando foram vendidas 7,935 milhões de TVs, 14% a mais do que a quantidade final estimada para 2018. A crise econômica desanima os brasileiros de forma geral, afetando não só os eletroeletrônicos, mas também outros aspectos das comemorações. Exemplo disso são as clássicas decorações urbanas: a venda de tintas, que surpreendeu os lojistas com o crescimento repentino próximo à Copa de 2014, não recebeu nem nota de rodapé nos jornais. O asfalto e os muros continuam cinzentos, tanto por parte dos moradores das cidades quanto dos governos - em tempos nos quais garantir o pão tem sido tão difícil, investir no circo é movimento arriscado que pode gerar ainda mais impopularidade junto aos eleitores.
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Vice-Diretor Prof. Dr. Nilson Assunção Alvarenga Por Ramon Souza Coordenador do Curso de Jornalismo Noturno
Além da crise econômica, a atual crise social também pesa para os que pensam em festejar. O medo da violência e da depredação é razão determinante para o desânimo da população em investir em comemorações públicas e enfeites para o grande acontecimento. Festas tradicionais estão correndo o risco de serem canceladas - em especial no Rio de Janeiro, onde as forças militares se têm feito cada vez mais visíveis e atuantes. A polarização política e a ressignificação de símbolos como a camisa da seleção também criam cenário hostil à confraternização sem rótulos que sempre caracterizou a época da competição. Sintoma disso é a criação de uma versão alternativa da camisa da CBF na cor vermelha, criada em forma de protesto por torcedores devido ao vínculo criado entre a canarinho e os posicionamentos políticos de direita que levaram ao impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Mais algumas estatísticas nos fazem refletir sobre tal desprezo à Copa, em um país que tratava a seleção como orgulho nacional. Um levantamento realizado pelo Instituto Paraná de Pesquisas em 26 Estados e no Distrito Federal revelou que somente 33% dos entrevistados disseram ter interesse na competição. 14,5% deles afirmaram nem saber onde o torneio será disputado. Foram ouvidas 2.984 pessoas em 185 cidades brasileiras. Muito disso é atribuído ao insucesso da Seleção Brasileira na Copa de 2014 e à frustração causada pelo ‘7 a 1’, que gera desestímulo para investir dinheiro, esforços e esperanças na possibilidade de mais uma decepção. Independentemente de a Copa acontecer, o Brasil está em crise e é papel da população demandar seus direitos e condições melhores de vida. Desta forma, é positivo que o acontecimento não distraia as pessoas da realidade que vivem, especialmente às vésperas das eleições presidenciais. O desânimo do brasileiro pode ser interpretado, inclusive, como indicador da gravidade da crise brasileira. Contudo, não deixa de causar estranhamento que até a Copa, um momento que costuma ser de alegria e de crescimento para o país, esteja sendo afetada pelo cenário político e econômico do país.
Settra faz vistoria dos veículos na rodoviária de Juiz de Fora
Prof. Ms. Eduardo Leão Chefe do Departamento deMétodos Aplicados e TécnicasLaboratoriais Prof. Dr. Cristiano Rodrigues Professora Orientadora Profª. Drª. Telma Johnson Monitoria Júlia Coêlho Repórteres Bruno Nogueira Carla Baldutti Carolina Cadinelli João Victor Medeiros Monike Neves Marcos Vínicios Ramon Souza Tarick Cardoso Edição e Diagramação Júlia Coêlho Tarick Cardoso Endereço Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Campus Universitário - Bairro São Pedro 36036-900 Contato mergulhodiario@gmail.com facebook.com/mergulhodiario (32) 2102-3612
O transporte público-particular é essencial na sociedade atualmente. A importância é tamanha, que não conseguimos nos imaginar sem os carros e ônibus que fazem o trabalho de levar a gente de um lado ao outro para nossos empregos, estudos e afins. Em cidades médias e grandes, quanto mais meios de locomoção melhor. O táxi tornou-se um meio de transporte tradicional e apesar de outrora ser um considerado elitista, hoje em dia um taxista pode levar qualquer pessoa basta ter o dinheiro que pague a corrida. Fazer a filtragem de passageiros é impossível. Deu o sinal, entrou no carro, o motorista já pensa que conseguiu mais um cliente. Por trabalhar sozinho, e ter em posse dinheiro e o próprio bem (o automóvel), o profissional fica automaticamente vulnerável para um potencial assalto. Juiz de Fora é uma cidade relativamente grande e com bastante taxistas rodando. Nos últimos anos as estatísticas de assaltos e assassinatos à motoristas de táxi vinham aumentando e foi preciso dar uma diminuída nesse perigoso cenário. O projeto de lei que preza pela segurança dos motoristas de táxi surgiu já tem pouco mais de um ano, e vem mostrando que a incidência de assaltos diminuiu bastante durante o período. Em 2016, ano que os equipamentos de segurança nos carros ainda não estavam instalados, foram registrados 103 assaltos em Juiz de Fora. Já em 2017, o primeiro ano que o projeto entrou em vigor, o número caiu praticamente pela metade, 59. Até junho de 2018, apenas sete assaltos foram registrados, com duas identificações e prisões efetuadas pela Polícia Militar segundo dados do major Jovânio Miranda e do agente de Trânsito da Settra Eduardo Coleta. Coleta explicou que o serviço de táxi
em Juiz de Fora é composto por motoristas permissionários, que detém a concessão e responsabilidade dos veículos. Eles contam com a ajuda dos auxiliares, que fazem o revezamento com os donos quando estão em período de descanso. Os auxiliares não precisaram pagar pelos equipamentos, todos os custos ficam à cargo dos permissionários.
Taxistas pagam caro O preço é justamente o que incomoda os proprietários dos táxis. Se por um lado é importante a segurança do motorista e do veículo, por outro, pagar caro por ela é algo que deveria ser revisto, segundo os próprios taxistas. Giovane Souza, que trabalha como taxista há 12 anos, disse que desembolsou em torno de R$ 3 mil em todo o processo. Ele comenta que, apesar de se sentir mais seguro após a instalação de todos os dispositivos, seria melhor se houvesse outras licitações que gerassem uma concorrência maior, pois é desleal com pagar tão caro. A taxista Vanessa Magesti, que trabalha como auxiliar de Souza, conta que nunca foi assaltada, mas que antes da entrada em vigor do sistema de segurança costumava sofrer assédio de passageiros. Durante os últimos oito meses em que o veículo está regularizado, Vanessa afirma que não sofreu mais qualquer tipo de assédio e atribui isso ao fato de que alerta as pessoas de que estão sendo filmadas, até como uma forma de se proteger de possíveis ataques. José Célio Batista, que é proprietário de um táxi, comprou os equipamentos há seis meses. Segundo ele, o rastreador e a câmera apresentam uma funcionalidade perfeita e servem como meios de registrar e identificar delitos. “Eu apóio e concor-
do que eles dão mais segurança, sim. Haja vista que, em qualquer evento ou auditoria, as câmeras podem registrar e você pode entregar as imagens para a polícia fazer a apuração que achar necessária. Ainda tem o rastreador que é importante na localização do táxi”, explicou Batista. O taxista Anderson Sani, que já está regularizado há oito meses, valoriza a implementação da lei, porque é uma alternativa de defesa. Ele destaca que antigamente o motorista se via muito à mercê dos passageiros mal intencionados. “Hoje em dia, já não é mais assim. A gente ficava muito à mercê dos passageiros e de muita coisa. Quando acontecia alguma coisa dentro do táxi, era a palavra de um contra a do outro. Agora, com o registro das câmeras, fica mais fácil os dois se inibirem. Pode acontecer de ter uma desavença dentro do táxi e você alertar o passageiro: ‘Olha, tudo que você tá falando, tá sendo gravado’ e a mesma coisa com o próprio taxista, que sabe que não pode fazer ou falar besteira porque seu carro tem câmera gravando 24 horas”. Para Anderson, o preço também é desleal com os taxistas, principalmente pelo fato de que as pessoas que trabalham com a Uber não precisam se adequar a nada, tampouco pagar tarifas e impostos. O motorista diz que o meio de transporte não foi criado agora, existe há muito tempo e é uma profissão importante, mas que as pessoas não se atentam e têm pouca consideração com a categoria profissional. É unânime entre os motoristas a importância do projeto na redução do número de assaltos. Porém, problemas técnicos são comuns de acontecerem, principalmente em períodos de teste, onde os aparelhos ou até mesmo os carros ainda
O que serviu de estopim para os motoristas buscarem uma mudança nesse cenário foi o episódio que ocorreu em 4 de novembro de 2013, onde um taxista de 33 anos foi assassinado no bairro Santa Rita. Após o ocorrido, os representantes da categoria se mobilizaram através de manifestações e uma votação. Eles tiveram que decidir entre rastreador, câmera de segurança e cabine blindada. As duas primeiras opções foram as mais votadas e a Câmara Municipal de Juiz de Fora criou a lei que determinou a obrigatoriedade dos itens nos veículos. O presidente do Sindicato dos Taxistas de Juiz de Fora, Aparecido Fagundes, explica que não há relação entre o assassinato à época e a licitação posterior. Aliás, para Fagundes, não havia necessidade de fazer licitações. “O táxi não carece de licitação, não há necessidade de ser licitado, porém é uma forma mais justa e transparente para contemplar as pessoas. Em muitas cidades de Minas Gerais, até mesmo no Brasil, praticamente só Juiz de Fora teve licitação. Por isso entendemos que não era necessário. Principalmente excluir alguns taxistas por não terem participado do processo licitatório. Fazendo com que eles passem dificuldades por estarem acima dos 40 anos e serem privados de trabalhar na única fonte de renda”, disse Fagundes. Atualmente cerca de 650 taxistas na cidade estão regularizados e se encaixam nas exigências feitas no Edital da Licitação nº 007/2014. Outros 120 taxistas não são obrigados a segui-las, pois ainda estão no edital de 2010. O presidente do Sindicato afirma que essa situação é temporária, porque eles já encaminharam a nova regulamentação para a Câmara Municipal aprovar: “Essa nova regulamentação vai determinar que todos os táxis sejam equipados com esses dispositivos obrigatórios. Aí as regras de hoje vão valer também para quem participou do edital no ano de 2010. Isso vai permitir que todos os veículos estejam legalizados e aptos para rodarem em Juiz de Fora”.
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2018 junho
A ciência saiu do laboratório e veio para o bar durante o Pint of Science
Crescimento econômico de Juiz de Fora traz desafios para empregadores e empregados Número de contratações foi o maior em seis anos com destaque para os ramos de comércio, serviços e construção civil
com uma rotatividade maior, sempre são mais ofertadas, como secretária, atendente, pedreiro, estágio (de diversas áreas), vendedor, entre outras”. O site tem conseguido uma boa aceitação por criar oportunidades para muitas pessoas. Lucas Barbosa veio do Rio de Janeiro para Juiz de Fora em 2016. Logo após sair do Exército, ele ficou desempregado de janeiro até maio deste ano, e resolveu utilizar o JF Empregos para conseguir inserir-se
Por Bruno Nogueira
Dados de empregabilidade do primeiro quadrimestre de 2018 mostram balanço econômico de Juiz de Fora - Fonte: CAGED
mento maior tem sido na questão do estágio. Nós preparamos o estagiário de forma com que ele possa vir nos atender, como contratado, num curto espaço de tempo”. A alternativa tem dado certo, pois a empresa que tem criação recente, só possuía seus dois sócios num primeiro momento, e rapidamente passou a ter 25 funcionários. Quanto a rotatividade de funcionários, ela entende que a questão não está ligada ao segmento, mas sim com a adaptação do funcionário à cultura da empresa, das suas expectativas em relação ao trabalho, e do processo de seleção em si: “É extremamente importante você fazer uma seleção bem feita, que esteja de acordo com os valores da empresa, para que você consiga minimizar essa rotatividade. É importante também atentar-se ao que o gestor oferece ao colaborador como forma de retenção”, afirma ela.
taforma no ano passado, para que ficasse mais acessível e intuitiva ao usuário. Ele conta que pode destacar duas melhorias: “ A reformulação de todo o layout, deixando o site com um foco maior em navegabilidade e experiência do usuário, e a reconstrução da área de pesquisa de vagas, onde o mesmo pode procurá -las com maior facilidade, podendo filtrar de acordo com o seu perfil”.
no mercado de trabalho: “Um colega havia me falado sobre a existência do site, mas eu não me cadastrei de início. Fiquei entregando currículo em shopping e nada de ser chamado, até que em meados de março resolvi fazer o cadastro. Foi bem simples, e um mês depois eu já fui chamado para um treinamento em uma empresa. Já concluí e estou empregado.”. Segundo os responsáveis pelo por-
JF Empregos: site divulga vagas de forma gratuita O site JF Empregos, que até 2016 era vinculado à Prefeitura Municipal de Juiz de Fora, hoje em dia tem como único responsável a empresa Plugin Web. Quando nasceu era uma forma de aproximação da gestão pública da
Érica Quintão, da empresa Ipixel
O desenvolvedor Douglas Barteles, responsável pela reformulação do JF Empregos
Leticia Banni, responsável pelo atendimento e gerenciamento do site, diz que cerca de 70% dos usuários do portal possuem escolaridade igual ou abaixo do Ensino Médio. O perfil é de pessoas que já tiveram alguma experiência profissional ou que buscam um emprego melhor. Em relação às áreas que mais alimentam o site com vagas, ela comenta: “Varia muito, ainda não conseguimos mensurar de forma específica qual o ramo em que é mais oferecido. A questão é que normalmente vagas
tal, cerca de 600 vagas por dia são anunciadas no site, e ficam disponíveis de sete a 15 dias. Além disso, 200 novas oportunidades são postadas diariamente. A porcentagem de contratação de pessoas que se candidatam é de 60%. Esse fato representa um aumento positivo para a economia da cidade. Maior número de pessoas trabalhando e recebendo salários que dão a elas poder de compra, movimenta o comércio, que passa a contratar também mais funcionários para atender a demanda de vendas.
Ciência, assunto sério para um lugar animado. Entre um brinde e outro, regado a um bate-papo descontraído, muitas perguntas. O encontro fez parte do festival Pint of Science que surgiu na Inglaterra em 2012. Pint significa um copo com meio litro de cerveja, famoso nos pubs ingleses. A ideia de juntar ciência e bar deu tão certo que, atualmente, acontece em mais de vinte países. No Brasil começou no interior de São Paulo, na cidade de São Carlos, e caiu no gosto do povo. Esse ano, 56 cidades do país brindaram à ciência também, inclusive Juiz de Fora, que participou pela primeira vez. A ideia foi aproximar os cientistas do público em geral e discutir sem formalidades, de maneira acessível e divertida, temas que têm influência no cotidiano. Trocar sala de aula e tubos de ensaio por um bar e canecas de cerveja, conversar sobre assuntos como febre amarela, funcionamento do cérebro ou efeito estufa. Na cidade, bastante gente esteve presente. Foram cerca de mil pessoas, que entre os dias 14 e 16 de maio, assistiram às palestras e se divertirem nos bares, sem necessidade de inscrição ou conhecimento prévio. É o que aconteceu no terceiro dia de evento no bar “Na Garganta Culture Pub”, localizado na Garganta do Dilermano - Avenida Rio Branco, 267. Um dos últimos eventos do Pint of Science em Juiz de Fora com o tema “Tecnologia, pra que te quero?”, uma conversa com o público sobre sistemas de dados na sociedade e o impacto no cotidiano, instruída pelos doutores da área, Artur Ziviani e Eduardo Barrére. O pesquisador Artur Ziviani, tecnologista sênior do Laboratório Nacional de Computação Científica, explicou o que são Big Data e a ciência de dados: “Vivemos num mundo operado por dados, somos monitorados o tempo todo e essas ações têm aplicações em nosso benefício, mas também como invasão da nossa privacidade. Com esse processo, teremos uma sociedade regida pela inteligência artificial que vai impactar em nosso emprego, no trabalho, em to-
Cientistas explicam os malefícios do excesso de informação
dos aspectos de nossa vida”. E foi desenvolvendo esta questão que o cientista realizou sua palestra. Para explicar sobre o termo Big Data, Artur pegou a primeira frase do livro “Introdução Ilustrada à Computação” de Larry Gonick, escrito em 1983 e traduzido pela Itautec no Brasil: “Vivemos a era do excesso de informação. Graças a outros milagres a tecnologia do século XX, nós habitantes da Terra dispomos de acesso instantâneo a mais informação do que conseguimos tratar!”. Comenta: “É uma visão que parece atual, mas foi escrita há 35 anos, o livro foi feito numa era pré-internet, quase 10 anos antes do surgimento da rede”, ressaltando que a sensação de já estarmos sobrecarregados pelos excesso de informação não é nova, havendo um crescimento sem precedentes deste fenômeno. Artur afirmou desconhecer todas as consequências advindas do excesso de informações: “Muitos desses possíveis efeitos somente serão descobertos nas próximas gerações”. E cita o fenômeno do grande número de pessoas terem mais amigos virtuais que reais afetando nas relações sociais. “Alguns estados norte-americanos estão abolindo o uso da letra cursiva em escolas, tendo em vista a ampla utilização da escrita informatizada. “Essas crianças não serão capazes de ler uma carta dos avós”. Ainda explicou alguns conceitos
como Bitcoin, uma ferramenta monetária que veio para substituir virtualmente o dinheiro que conhecemos. “Bitcoin já existe, não é algo do futuro. É uma realidade, mas o quanto ela vai avançar depende. As pessoas estão usando, mas não estão questionando os tipos de transações que estão sendo feitas. Há muitos debates entre governos. Estas questões estão surgindo muito rapidamente em países diferentes com tratamentos diversos e os sistemas bancários de transações e suas ações regulatórias estão em discussão”, afirmou Artur. Com o tema “Sorria, você está sendo filmado!” o doutor Eduardo Barrére, professor da UFJF, responsável pelo Laboratório de Aplicações e Inovação em Computação (LApIC - UFJF) tratou da proliferação dos dispositivos de geração de vídeos. “Em qualquer direção que você olhar, verá uma câmera. Nos dias atuais a quantidade de dispositivos capazes de gerar vídeos é, no mínimo, impressionante. O volume de vídeos gerados e disponibilizados na internet cresce a cada dia. Acompanhando essa tendência, diversos recursos tecnológicos estão associados à distribuição dessa mídia e ao seu processamento, principalmente à descoberta de informações”. Barrére alertou para os vários tipos de coletas de dados de forma camuflada que estão sendo utilizados em nosso cotidiano e dá o exemplo do fornecimento
Público lota o bar “Na Gargante Culture Pub” em plena quarta-feira para discutir ciência
do número do CPF em farmácias para receber desconto na compra de remédios. Segundo o pesquisador essas informações serão utilizadas posteriormente pelos planos de saúde para aumentar o valor especificamente sobre ramos ligados à doença identificada pela compra da medicação do usuário, por exemplo. O professor ainda ressaltou que: “A evolução tecnológica permite o armazenamento de muitos dados, porém estamos na era da informação e não do conhecimento, que é aquele se se leva consigo. Daqui a pouco as pessoas não aprenderão a mexer num livro, não vão saber fazer arroz sem antes consultar a internet, estão abrindo mão do conhecimento em detrimento da informação”. Num tom pessimista, Barrére alertou que “na verdade toda essa questão da alta conectividade, das redes sociais, dos dispositivos móveis, fazem com que as pessoas passem a ter mais vida virtual que real. Isso é fazer com que a tecnologia deixe de ser usada como apoio para o desenvolvimento, mas para comandar os destinos de uma sociedade. E isso eu acredito que é extremamente perigoso”. Os coordenadores e cientistas participantes do festival não receberam remuneração. A ideia foi compartilhar e debater o conhecimento de forma voluntária e os bares e restaurantes que cederam seu espaço não cobraram entrada. O público pagou apenas o que consumiu.
Fonte: pintofscience.com
cidade com os cidadãos juiz-foranos. O portal consiste numa plataforma onde as empresas podem anunciar suas vagas, de forma gratuita, em diversos setores e ramos. O usuário, por sua vez, faz seu cadastro e com o login de acesso procura por vagas que sejam compatíveis com seu grau de escolaridade e área de atuação. Douglas Barteles, desenvolvedor na empresa responsável pelo portal, fez toda a reformulação da pla-
Foto: Monike Neves
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O mercado de tecnologia não aparece no ranking de contratações em Juiz de Fora, por ser um mercado novo e ainda não haver muitos estudos sobre esses dados. Mas segundo Érica Quintão, responsável pelo setor de Recursos Humanos da empresa Ipixel, o que falta na cidade são pessoas qualificadas para o setor, pois vaga sempre tem. Para resolver esse problema, eles encontraram uma solução: “Nosso investi-
Foto: Monike Neves
No primeiro quadrimestre de 2018, Juiz de Fora teve um aumento significativo no número de contratação de profissionais, especialmente nos segmentos da construção civil, comércio e prestação de serviços. Esse foi o melhor resultado em seis anos, e mostra que a cidade tem avançado para minimizar os efeitos da crise que atingiu o país em meados de 2010. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) fazem um comparativo entre resultados do ano passado e o período de janeiro a abril deste ano. Em 2017, no ramo de serviços, por exemplo, foram admitidos 23.478 profissionais durante todo o ano, contra 24.027 desligados, resultando numa redução total de 549 profissionais da área na cidade. Já os dados do primeiro trimestre deste ano mostram que este mesmo segmento já contratou 9.247 funcionários, o que representa mais de um terço do resultado total de todo o ano de 2017. Além disso, o saldo continua positivo pois, até o momento, foram mais contratações do que desligamentos. As informações econômicas referentes à Juiz de Fora vão de encontro às estatísticas do país, que abriu 56.151 vagas com carteira assinada, o melhor resultado em cinco anos para o período analisado. Os quatro primeiros meses do ano tiveram um crescimento consecutivo e também manteve-se com saldo positivo pois o total de contratações foi maior que o número de demissões. Já o ramo da construção civil, mesmo estando em crescimento, apresenta dificuldades. Segundo José Maria Ribeiro Alvim, sócio-proprietário da Ribeiro Alvim Engenharia, no setor público, por exemplo, as regras atuais de licitação priorizam pequenas e micro empresas, o que torna inviável o êxito de organizações não classificadas nesta faixa. Ele conta que nos últimos dois anos, a Ribeiro Alvim realizou apenas duas obras nesse setor, e que tiveram prejuízos. Esse fato também resultou no desligamento de funcionários, pois se a obra para, não há porque mantê-los. A rotatividade de mão de obra é algo comum quando se trata da realização de construções, e segundo José Maria, isso só acontece com menor frequência em empresas de tradição no mercado: “As que produzem há muito tempo, apesar de estar com estoque grande de unidades, têm mantido um ritmo de obra que ainda absorve parte significativa de mão de obra. De um modo geral, o cenário é de pouca oferta de emprego, comparado com outras épocas de aquecimento. Desta forma, há muita rotatividade e a absorção de profissionais tem sido, como alívio ao desemprego, por obras particulares, de casas em condomínio”.
No último dia do evento na cidade, tecnologia foi o tema discutido na mesa de bar
Foto: Bruno Nogueira
Por Monike Neves
TECNOLOGIA
2018 junho
Foto: Bruno Nogueira
ECONOMIA
História do Pint Of Science A ideia surgiu depois que dois pesquisadores do Imperial College London, Michael Motskin e Praveen Paul, organizaram um evento chamado Encontro com Pesquisadores, em 2012. Nesse encontro, pessoas com Alzheimer, Parkinson, doenças neuromusculares e esclerose múltipla foram convidadas para conhecer os laboratórios dos cientistas e ver de perto o tipo de pesquisa que realizavam. A experiência foi tão inspiradora que a dupla decidiu propor um evento em que os pesquisadores pudessem sair das universidades e institutos de pesquisa para conversar diretamente com as pessoas e assim, em maio de 2013, surgiu o Pint of Science. De lá para cá, o evento cresceu – em 2018, foram 21 países – e a meta é ampliá-lo cada vez mais. “Quero levar o Pint of Science para todas as cidades do mundo e comunicar a ciência como ela é: divertida, fascinante e inspiradora”, diz Motskin em seu perfil na página internacional do evento - http:// pintofscience.com/.
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CIDADE E REGIÃO
CIDADE E REGIÃO
2018 junho
Caem em 50,7% acidentes de trabalho envolvendo garis do Demlurb em 2017
Servidores se dividem entre usuários de EPI e não usuários
Por Tarick Cardoso
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Os coletores de lixo de Juiz de Fora recebem macacão, botas, luvas, protetor auricular, protetor solar e havendo necessidade, máscaras e óculos”, afirma.
Garis resistem ao uso Na avaliação do engenheiro de Segurança do Trabalho Paulo Leal, o Demlurb compartilha um problema comum de muitas outras
Foto: Tarick Cardoso
mais profissionais com experiência em outros locais para fazer palestras e compartilhar fatos com os funcionários daqui. Temos uma grande campanha educativa sendo desenvolvida desde 2017”. Barros comenta que todos os servidores do Demlurb recebem os EPIs e que a conscientização sobre a importância desses materiais tem aumentado. “Cada funcionário tem recebido o EPI necessário para a sua função.
Equipamentos de segurança individual são entregues aos servidores do Demlurb
direitos mais determinados e são orientados pelos seus sindicatos e pelas próprias instituições onde trabalham”, esclarece. Nossa equipe explicou para Maria Mazarelo que, apesar da maior parte dos trabalhadores do Demlurb serem servidores públicos, existem também empregados terceirizados e ela afirmou, então, não saber como tem funcionado a fiscalização no caso desses trabalhadores. A fiscalização no Demlurb fica por conta dos técnicos de segurança do trabalho e por uma comissão de segurança formada por funcionários que são eleitos para compô-la. Segundo Jorge Barros, diariamente técnicos e membros da comissão circulam nas ruas da cidade acompanhando o trabalho tanto dos coletores de lixo urbano, como dos garis responsáveis por outras atividades. “Nós não temos uma grande equipe, não dá para acompanhar sempre em todas as partes da cidade. Mas temos desenvolvido esta fiscalização”, informa.
CAMINHÕES
Coletor de lixo trabalha sem luva e sem outros equipamentos de segurança
e a luva. Os outros materiais eu fui deixando estão aqui há mais tempo possuem uma maior de usar pois senti que não tinha necessidade”, dificuldade de se adequar às regras e utilizar os EPIs, mas mesmo assim conseguimos mecomplementa. O gari concursado Antônio Moutinho, de lhorar nossos resultados também com estes 52 anos, trabalha no Demlurb há 12 anos e funcionários mais antigos”, analisa. lembra que quando começou na empresa as População pode ajudar preocupações com segurança do não eram tão fortes. Ele observa uma grande diferença dos José Carlos últimos cinco anos para cá. Candiles, técni“Eu percebi que os funcioco de segurança “O sindicato luta constannários que estão começando temente para que a empresa do trabalho no a trabalhar agora passam por alerta formações que antes nós não dê condições mínimas para Demlurb, passávamos para iniciarmos o empregado. Mas muitas também que muinossos trabalhos. Em todos vezes, neste caso, o Demlurb tos dos acidentes esses anos trabalhando com oferece os EPIs que os garis ocupacionais enisso, eu já recebi formações necessitam, mas o próprio volvendo estes prode segurança do trabalho trabalhador se nega a utili- fissionais podem desde o início, mas sinto que zar o material por achar in- ser evitados com ajuda da populaagora ficou mais intenso e cômodo” ção. “Se formos leisso tem sido atualizado com vantar dados mais os servidores novos e antigos, Amarildo Romanazzi precisos, percebeconstantemente”. remos que a maior Mesmo com constantes parte dos acidentes palestras e instruções sobre com coletores de lixo acontece devido ao dessegurança do trabalho, nossa equipe flagrou Moutinho trabalhando sem usar luvas e outros carte irregular que fazemos do lixo”, critica. A secretaria administrativa Andrea Bizarequipamentos de proteção. “Hoje eu esqueci de trazer a luva. O protetor de ouvido eu tinha ro, 42 anos, moradora do bairro Bom Pastor, costume de usar quando trabalhava nas ruas é uma das pessoas de uma parcela ainda redo centro. Os outros equipamentos eu nunca duzida que faz o descarte de lixo de maneitive costume de usar”, revela o servidor. ra correta. Flagramos o exemplo dela na Rua O técnico Jorge Barros comenta que a mu- Coronel Vaz de Mello, na zona sul da cidade. dança de postura para se adequar às ações de Ao ter um objeto de vidro de sua casa queprevenção ao combate de acidentes ocupacio- brado ela o eliminou de forma cuidadosa, nais é mais difícil de ser alcançada com ser- enrolando os cacos em folha de jornal, colovidores antigos do Demlurb. “Por termos co- cando em uma caixa de sapato com um aviso meçado a intensificar nossa preocupação com colado: “Vidro”. Andrea afirma também ter segurança do trabalho nos últimos cinco anos, cuidado quando joga fora outros materiais, nós vemos claramente que os servidores que principalmente em formatos pontiagudos. “É
uma questão de educação, de empatia mesmo. Você se colocar no lugar do outro e imaginar quantos riscos os coletores de lixo enfrentam todos os dias e que nós, fazendo nossa parte, podemos evitar tantas situações de perigo para eles”, finaliza.
Responsabilidade pela fiscalização A chefe da auditoria do Ministério do Trabalho em Juiz de Fora, Maria Mazarelo, explica que a fiscalização da situação de riscos dos servidores públicos municipais fica a critério da própria Prefeitura. Segundo ela, o Ministério do Trabalho possui a responsabilidade de fiscalizar somente funcionários que têm seus direitos e deveres regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). “Não cabe ao Ministério fiscalizar os órgãos públicos. Os servidores municipais, estaduais e federais possuem estabilidade e
Entre abril e março de 2018, a imprensa local trouxe várias notícias que denunciavam o sucateamento dos caminhões que fazem as rotas da coleta domiciliar de resíduos sólidos. Atualmente os veículos utilizados são de duas empresas terceirizadas responsáveis também pela sua manutenção. O diretor administrativo do Demlurb, Fernando Gramiani explica como funciona a fiscalização dos caminhões: “Nós sabemos que os problemas com esses automotores também geram acidentes de trabalho. Temos buscado qualidade para atender nossos funcionários e a população, mas a maior parte de nossa frota hoje é terceirizada. Junto com Comissão Para Licitação (CPL) da Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) fiscalizamos e cobramos das empresas que nos prestam esses serviços a manutenção preventiva dos veículos e agilidade na manutenção corretiva”.
Foto: Assessoria Demlurb
Todos os dias os profissionais que atuam na coleta de lixo estão sujeitos a inúmeros riscos. As atividades desses funcionários se destacam pelo alto índice de periculosidade e insalubridade. Em um ranking publicado em janeiro de 2018 pelo Ministério do Trabalho, a profissão dos garis aparece entre uma das mais suscetíveis a essas ocorrências e fica em quinto lugar quanto ao registro de comunicados de acidentes de trabalho (CAT). Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho, o Brasil é o quarto país com maior número de acidentes ocupacionais do mundo, ficando atrás apenas de China, Índia e Indonésia. Em 2017, estes imprevistos tiveram uma redução de quase 35% no país, porém o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) aponta que houve aumento na informalidade e diminuição do número de carteiras assinadas, o que influencia diretamente na queda dessas estatísticas. Apesar de não ter registrado dispensa no quadro de funcionários, o Departamento de Limpeza Urbana (Demlurb) de Juiz de Fora conseguiu diminuir o número de incidentes durante horas trabalhadas. Em 2016 foram 67 acidentes e em 2017 foram 34 acidentes, uma queda de 50, 7%. Segundo o técnico em Segurança do Trabalho do Demlurb Jorge Barros, as reduções foram resultado das intensas formações e treinamentos que visam educar os funcionários quanto à importância da utilização dos equipamentos de segurança individual (EPI) e sobre os riscos que eles correm ao exercerem suas atividades. “Nós temos trazido engenheiros, técnicos de segurança do trabalho e de-
empresas: os funcionários não quererem utilizar os equipamentos e não se atentarem às regras de segurança. Para Leal, é preciso buscar uma nova postura nas organizações através de meios educativos: “A mudança de cultura é você mostrar para o empregado que o modo de proceder sem observar regras de segurança não é correto e tentar esclarecê-lo através de vídeos, testemunhos e relatos de acidentes parecidos, como é importante que ele adote o procedimento adequado”. Amarildo Romanazzi, presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Juiz de Fora (SINSERPU-JF) confirma a constatação de Paulo Leal e revela que mais incidentes poderiam ser evitados se os profissionais do Demlurb utilizassem regularmente os EPIs. “O sindicato luta constantemente para que a empresa dê condições mínimas para o empregado. Mas muitas vezes, neste caso, o Demlurb oferece os EPIs que os garis necessitam, mas o próprio trabalhador se nega a utilizar o material por achar incômodo”, afirma. Leal esclarece que os coletores de lixo estão sujeitos a inúmeros riscos ocupacionais: queda, atropelamento, fatores biológicos, ruídos e barulhos excessivos, ergométricos e tantos outros. O coletor de lixo terceirizado do Demlurb Márcio Alves, 36 anos, relata que logo ao ser contratado pela empresa, antes de iniciar as atividades nas ruas, passou por duas formações com instruções sobre segurança no trabalho. “Nestas formações, nós recebemos nossos uniformes, as luvas, os óculos, máscara e o protetor de ouvido”. Alves trabalha há um ano e meio na coleta de resíduos sólidos e admite que, com o passar do tempo, foi deixando de utilizar alguns equipamentos de segurança: “Hoje eu estou com uniforme
Foto:Tarick Cardoso
Foto: Tarick Cardoso
Servidores mais antigos ainda resistem ao uso de equipamentos de segurança como luvas e protetores auriculares
Garis recebem formação antes de ir para as ruas
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CULTURA 2018 junho COMPORTAMENTO
2018 abril CULTURA
CULTURA
2018 junho
Olhos de ressaca e de dor
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Na obra Dom Casmurro, o personagem Bento Santiago (Bentinho), narra seu romance com Capitolina (Capitu). Na infância eram vizinhos e não se desgrudavam, viviam brincando de fazer missa e dividiam a hóstia, prometeram se casar quando fossem adultos. Então, sua mãe Dona Glória percebendo que estava surgindo um romance, decidiu mandar Bentinho para o seminário, por conta de uma promessa que havia feito. Passado alguns anos, com a ajuda do agregado José Dias, Bentinho sai do seminário, vai para a faculdade e se forma em Direito. Casa-se em seguida com Capitu, seu amor da adolescência. Recebe em sua nova casa visitas contínuas do seu amigo de semináideal para a época e, justamente por isso, foi expulsa de casa. Com grande capacidade de lidar com as adversidades, é um exemplo que transcende a definição de esposa e mãe. Ela busca uma maneira de transpor o estabelecido e luta por emancipar-se, pois está cansada das obrigações sociais e familiares que lhes são impostas. Uma Capitu moderna A atriz Tainá Neves, de 24 anos, produtora cênica, articuladora do projeto municipal “Gente em Primeiro Lugar” e que interpreta a Capitu na peça, revela que precisou desconstruir a personagem literária para construir a do teatro. Segundo a atriz, a princi-
pal diferença entre as duas é o fato de ser negra, o que possibilitou a abordagem de questões distintas entre peça e livro. “É quando Escobar fala que ‘a família Santiago sabe que ela [a Capitu] não se importa em pegar os talheres que caiu’ que ela [atriz] entende a visão submissa que eles têm sobre a personagem. É como, neste momento eu me reconhecesse como negra… Agora que eu vi a minha diferença”. “Eu acho que a mulher sempre teve essa coisa de sensual”, observa Tainá ao se referir sobre a visão que se tem da mulher em geral. No caso da expressão “olhos de cigana oblíqua e dissimulada” sobre o olhar de Capitu, utilizada pelo agregado da família de Bentinho, José Dias, Tainá afirma que Foto: Bruno Nogueira
O livro Dom Casmurro, escrito por Machado de Assis, foi publicado em 1899 e é considerado por muitos a maior obra da literatura brasileira de todos os tempos. Recebeu centenas de adaptações e críticas, além de várias edições em outros países. Quebrando os paradigmas machistas da história original, numa vertente empoderada da mulher, a companhia Santa Corja de teatro subiu aos palcos de Juiz de Fora pela terceira temporada com a peça “Sobre Capitu”, uma adaptação livre da obra textual. Com abordagem moderna e temas como o racismo, diferença de classes sociais, patriarcado, sexualidade, machismo e feminismo, fez o espectador se deparar com questões da vida da personagem Capitu (Maria Capitolina Santiago) para além da temática da traição. “Só agora eu posso finalmente contestar as acusações contra mim feitas”, diz a personagem Capitu. A frase resume a temática do espetáculo teatral, que a coloca como protagonista de sua própria história. A versão, conhecida na obra original através da visão do personagem narrador Bentinho, é contada aqui sob o olhar dela. E é assim que alguns elementos e questionamentos diferentes são feitos, daquilo que os leitores vem repercutindo desde a época em que o livro foi publicado - afirma o diretor Gabriel Bittencourt, que também interpreta o Escobar no espetáculo. A peça traz então uma visão feminista da história já repercutida durante tanto tempo. A questão racial também é mostrada em cena pela presença de uma Capitu negra, além do preconceito da classe social narrado no livro. Outro ponto polêmico levantado na peça é o envolvimento íntimo entre os amigos Bentinho e Escobar durante o seminário religioso, uma relação exposta de forma a insinuar uma intimidade amorosa. No livro, o protagonista é Bento Santiago, o Dom Casmurro, que narra sua história “atando as duas pontas da vida, da infância à velhice”, falando sobre sua paixão dramática que envolve uma bela jovem, a menina de olhos de ressaca Capitolina, a Capitu. Se ela é inocente ou não, não cabe aqui discutir, mas sim as questões morais envolvidas na obra. O romance revela a sociedade brasileira machista e patriarcal num contexto de pré-revolução industrial que desmerecia a mulher. Porém, Capitu foge desse modelo de mulher
Entenda o enredo da obra rio Escobar, que agora é casado com Sancha Gurgel, amiga de infância de Capitu. Escobar morre, e no velório Bentinho fica perturbado pela postura de Capitu. Naquele momento nasce a sua desconfiança, então ele começa a identificar indícios de uma provável traição. Bento vê uma semelhança terrível entre o seu filho Ezequiel e seu amigo Escobar. Resolve suicidar-se bebendo uma xícara de café envenenado. Quando Ezequiel entra em seu escritório, decide matar a criança, mas desiste no último momento. Diz ao garoto, então, que não é seu pai. Capitu escuta tudo e lamenta-se pelo ciúme de Bentinho, que, segundo ela, fora despertado pela casualidade da semelhança.
Doutoranda em Estudos Literários, Izabella Maddaleno pesquisa a obra Dom Casmurro de Machado de Assis
Diante de tantas dúvidas, da suposta traição de sua mulher e seu amigo, da terrível semelhança de Ezequiel e Escobar, ele decide afastar Capitu e o filho, exilando-os definitivamente na Europa, onde Capitu falece e é enterrada. Logo após, Ezequiel volta para o Brasil, sendo recebido friamente pelo pai de quem sentia saudades. Não se demorando muito, parte numa expedição para Jerusalém, onde morre por conta de uma epidemia. Bentinho por fim, sozinho, afunda de vez em sua casmurrice. Sites pesquisados: www.guiadoestudante.abril.com.br www.infoescola.com/livros/dom-casmurro/ www.mundovestibular.com.br “um homem com aquele padrão de nobre e rico faz sentido ver uma menina como uma ameaça. Ele a enxerga com uma visão habituada e marginalizada da personagem, talvez se estivessem na mesma condição social a olharia como uma mulher corajosa”, comenta a atriz. O romance original pertence à segunda fase machadiana, também chamada fase madura do autor, e coleciona inúmeros títulos, artigos e trabalhos acadêmicos, principalmente no que tange à questão da culpabilidade da principal personagem feminina - Capitu. Ela está inserida num sistema moral em que só participa de forma passiva, contemplando tão somente o ponto de vista do marido. A versão dos fatos é contada, através da visão soberana de um único sujeito, o narrador Bentinho, que mais tarde transforma-se no Dom Casmurro. De acordo com a doutoranda em Estudos Literários pela UFJF, Izabella Maddaleno, a visão mais moderna da obra Dom Casmurro veio com a pesquisadora norte-americana Helen Caldwell, que a partir da década de 1950 inverteu a leitura que se costumava fazer da obra de Machado, que até então imputava a culpa à Capitu. Caldwell colocou Bentinho no banco dos réus, representando Capitu como uma mulher emancipada, apesar de não ser detentora da palavra na narrativa. Seu traço mais pertinente é sua natureza independente, uma capacidade de não se deixar abater. Há uma leveza, uma espontaneidade em seu espírito que a coloca acima dos papéis que lhes eram reservados na cultura e na sociedade a que pertencia. Segunda a pesquisadora, a figura do
Diabo na obra Machadiana está implícita em algumas passagens representativas sobre a personagem Capitu. A força de seu olhar é evocada em vários momentos, quase que em um contexto sobrenatural. Ela explica em sua tese de mestrado que, segundo o crítico literário Valentim Facioli em seu artigo ‘Amor e Bruxaria’, Capitu seria uma bruxa. Neste artigo, a personagem teria um poder de sedução. “Ela não seduzia só o Bentinho, mas os outros personagens, o pai de Sanja, a própria mãe do Bentinho e no final, Capitu consegue conquistar até o José Dias”, comenta. Valentim atribui esse poder de sedução e fascinação ao poder do olhar da personagem, remetendo ao mito de duas deusas gregas, Ártemis e Gorgó, que possuíam olhares capazes de sedução mortal. A primeira, por ser deusa da natureza, caçadora com olhar afiado para suas caças e a segunda, por ser condenada a transformar a todos que olhassem em seus olhos em pedra. “Se olhar na história, a mulher na época da inquisição era queimada se houvesse domínio do misticismo, tendo em vista seu empoderamento”, diz a pesquisadora. Bentinho fala dos olhos de Capitu: “Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. [...] Olhos de ressaca? Vá, de ressaca”. São olhos misteriosos, que atraem e têm a capacidade de envolver e tragar como as ondas do mar nos dias de ressaca. Ao tratar sobre a violência atual contra as mulheres, Tainá Neves admite conhecer mulheres que sofreram agressões em seus relacionamentos, associando que, assim como Capitu, há momentos de alegrias e tristezas em qualquer relação amo-
rosa. “A gente não escolhe de quem a gente gosta”, mas alerta que hoje há mecanismos de proteção contra esses casos. “Primeiro momento é sair da situação que a diminui e posteriormente se empoderando, para enfrentar qualquer tipo de abuso”, recomenda. Violência contra a mulher no Brasil No Brasil, a Lei 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, visa proteger a mulher da violência doméstica e familiar, não somente aquelas físicas, mas também as psicológicas, reconhecendo a gravidade destes casos e retirando dos juizados especiais criminais (que julgam crimes de menor potencial ofensivo) a competência para julgá-los, garantindo o afastamento do agressor e servindo para todas as pessoas que se identificam com o sexo feminino, heterossexuais e homossexuais, ou seja, incluindo também as mulheres transexuais. Além disso, foi criado a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, o “Ligue 180” - é um serviço de utilidade pública, gratuito e confidencial, oferecido pela Secretaria Nacional de Políticas para Mulheres, desde 2005. Ele é a porta principal de acesso aos serviços que integram a rede nacional de enfrentamento à violência contra a mulher, sob amparo da Lei Maria da Penha. É uma base de dados privilegiada para a formulação das políticas do governo federal nessa área, contando com o apoio financeiro do Programa Mulher viver sem Violência. E em 2015, o crime de Feminicídio, aquele homicídio qualificado pelo assassinato de mulher em razão do gênero, foi considerado hediondo pela Lei 13104/2015, cuja pena é de
Foto: Nanda Gondim/Divulgação
Por Bruno Nogueira
Foto: Nanda Gondim/Divulgação
Em meio ao machismo presente em Dom Casmurro surge uma nova Capitu, sob um olhar feminista
Da esquerda para direita, os artistas da Cia. Santa Corja de Teatro, Kaio Lara, Gabriel Bittencourt, Tainá Neves, Isabela Fidelis e Lucas Nunes posam para foto na divulgação da peça “Sobre Capitu”
“Só agora, eu posso finalmente contestar as acusações contra mim feitas”. Personagem Capitu na Peça “Sobre Capitu” da Cia. Teatral Santa Corja
reclusão de 12 a 30 anos, sancionada pela ex-presidenta Dilma Rousseff. A ex-presidenta, relembra Izabella Maddaleno, foi vítima de diversas formas desrespeitosas de tratamento. “Ela foi deposta mesmo não tendo provas de corrupção. O mesmo não acontece com o atual governo masculino”, afirma. “Essa questão do patriarcalismo é muito evidente em nossa sociedade. Mulher no poder incomoda. A mulher está sendo empoderada, mas às duras penas”, complementa. É o que lamenta a feminista Kiara Luz, atriz e produtora teatral da Grupa de Teatro Manas Juanas. Formada pela Escola Técnica de Teatro Martins Pena e integrante de uma companhia formada por cinco mulheres, Kiara defende a inserção maior das mulheres no meio teatral e do cinema, constituído em sua maioria por homens. Sobre Capitu, observa: “É uma histó-
ria contada pela ótica de um homem. Nenhuma mulher quer passar por isso, e é extremamente constrangedor para ela expor suas agressões e comentar sobre. Quantos casos de mulheres foram assassinadas por pedir o divórcio? Outro exemplo, as mulheres no Oriente Médio que são apedrejadas por homens até a morte se suspeitarem que cometeram algum adultério”. Para Kiara, moradora no Rio de Janeiro, conta que sentiu-se calada com a morte da vereadora Marielle Franco, em quem votou, assim como outras mulheres que perderam sua representatividade. Da mesma forma aconteceu quando Dilma Rousseff perdeu a Presidência da República. “Muitas mulheres foram caladas”, comenta. Sobre Capitu, ela acredita ser uma temática de luta contemporânea apesar de retratar uma realidade antiga. “Quantas não são punidas, assim como Capitu, com alguma espécie de exílio?”. Fica a reflexão.
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CULTURA 2018 junho COMPORTAMENTO
2018 abril CULTURA
Racismo e genocídio são debatidos em cineclube itinerante de Juiz de Fora “CineFanon” utiliza recursos audiovisuais em busca da conscientização dos valores da igualdade nas periferias
Por João Victor Medeiros No primeiro dia do mês de maio, foi lançado o trailer de “Último toque”, filme escrito por Pedro Carcereri e Luciano Azevedo, viabilizado através da Lei Murilo Mendes. Ambos venceram o edital que os premiou com R$ 8 mil para realizar um curta de 15 minutos. No entanto, acabaram realizando um longa-metragem. “No audiovisual brasileiro existe uma contradição: para ganhar edital de longa-metragem, você precisa ter realizado um longa, no entanto, só consegue realizar longa-metragem através de financiamento”, comenta Pedro, um dos diretores. A partir disso, veio a ideia de, mesmo com orçamento apertado, encarar o desafio de realizar um longa-metragem. O filme é um documentário sobre pai e filho que possuem o único serviço de funerária na pequena cidade de Mar de Espanha (MG), a 60 km de Juiz de Fora, com uma população de apenas 12 mil habitantes. Portanto, eles conhecem a todos e são os responsáveis por fazer desde a maquiagem até o enterro dos que morrem na cidade, quase como Caronte, o barqueiro de Hades na mitologia grega, que fazia a transição das almas entre o mundo dos vivos e o reino do Deus do Submundo. Segundo Azevedo, a ideia surgiu após a morte de seu pai. Assim, ele teve acesso a essas pessoas. “Eu fiquei com isso na cabeça e inclusive um dos personagens principais do
chegou na cidade para conversar com pai e filho, donos da funerária, mas conheceram outros personagens como “Zezinho da Pipoca” que, além de (obviamente) ser pipoqueiro, é também quase centenário e a pessoa responsável por anunciar as mortes em uma respeitável aparelhagem de som. Os diretores queriam personagens mais pontuais, para fugir do jornalismo e realizar um documentário de cinema, ao invés de uma reportagem sobre o assunto - e foram bem sucedidos. Zezinho foi um personagem tão icônico e importante, que os diretores Pedro Carcereri e Luciano Azevedo decidiram, na ilha de edição, por fazer um segundo filme só com ele, aproveitando o excesso de imagens produzidas durante a gravação de “Último Toque”. O responsável por anunciar as mortes é um senhor que possui um bloco de carnaval há 50 anos, surgido através da política de segregação racial de Mar de Espanha. No interior de Minas Gerais, acontecia algo semelhante à política segregacionista nos Estados Unidos: os negros não podiam frequentar o mesmo clube dos brancos. Zezinho, então, decidiu pela única alternativa que lhe cabia: criou sua própria danceteria em que todos frequentavam, inclusive os brancos. “Ele já era conhecido na cidade, todo mundo gostava do cara mas ele não podia entrar no baile”, comenta Luciano.
documentário é quem fez a placa do túmulo
“Era no quintal dele, exatamente ao lado da
do meu pai”. O diretor já possui alguns filmes
casa dele”. E a história do pipoqueiro não para
de terror que tratam da temática da morte e queria aprofundar nesse assunto.
Zezinho, o pipoqueiro
Cemitério Municipal de Mar de Espanha
O visual do filme Para a equipe de gravação, além da direção
por aí: além de figura de combate ao racismo, de fotografia do próprio Luciano, eles também ter um dos blocos de carnaval mais tradicional contaram com Daniel Zinato, que fez as foto-
da cidade, ele também já foi vencedor do “La- grafias em still que entrarão na edição, em mata-velha”, quadro do programa “Caldeirão do terial digital e analógico. A escolha do fotógraHuck”, que restaura carros velhos.
fo veio pela proximidade de linguagem entre
janeiro de 2018, em quatro dias. Em Mar de
“O Zezinho diz ter feito 80 anos, mas minha a arte criada por ele e os filmes de Luciano de mãe vai fazer 70 anos e ela fala que quando ela Azevedo. Segundo o diretor, o documentário é
Espanha, surgiram outras histórias. A equipe
era criança, ele já tinha quase 30 anos”, conta de fato um documento. “Você tem que ter to-
As filmagens foram realizadas no mês de
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A equipe Direção de Luciano de Azevedo e Pedro Carcereri; Roteiro de Carolina Queiroz, Luciano de Azevedo e Pedro Carcereri; Produção Executiva de Isabela Abreu; Assistência de Fotografia de Luan de Azevedo; Still de Daniel Rdzr; Som Direto e Finalização de Som de André Medeiros; Edição de Carolina Queiroz e Luciano de Azevedo; Color e Finalização de Luciano de Azevedo e Legendagem de Ingryd Lamas. Os entrevistados são Marques Lima, Marques Junior, José Dutra, Leandro Miranda e Adriano de Souza.
Foto: Marcos Vinícios
o diretor Pedro Carcereri. Apesar da importan- dos os tipos de linguagem, contando uma histe função enquanto anunciador das mortes na tória. Uma história que já se contou lá atrás e cidade, Zezinho não tem um sucessor. “O filho foi registrada de um jeito, hoje será registrada dele é evangélico. Ele é meio solitário e não de outro”. Pedro conta que ao iniciar a investigação tem a quem passar”, complementa. Apesar disde um assunto (processo comum na realização so, Pedro acredita que a função não irá morrer, pois é tradição e certamente alguém vai assu- de documentário, nesse caso, a morte), é frequente que se tente entender linhas narrativas mir para si. da própria vida e da sociedade em que se vive. “Eu comecei a entender como a relação das A questão racial pessoas com essa finitude da vida é complicada até hoje. [...] Mas todos os personagens Segundo as pesquisas da equipe do dorepetem durante o documentário: ‘Se você tem cumentário, Mar de Espanha teve a maior que fazer alguma coisa, faça em vida’; eles concentração de escravizados em Minas Getêm essa ideia muito firme” Assim, ficou evirais no século XIX, em paralelo com a forte dente para ele o quanto que, apesar da religião população de imigrantes alemães lá presente. que esses personagens têm, há em paralelo o Pedro conta que durante as gravações do doceticismo sobre as questões relativas ao póscumentário, eles foram parar em uma cidade vida. Para além da questão da vida e da morte, menor ainda que Mar de Espanha, chamada Pedro também está iniciando uma pesquisa “Felicidade”. Lá, souberam que há dois cemiteórica e acadêmica sobre a questão do trabatérios, um para negros e outro para brancos, lho, suas formas, representações e como são as herança do período da escravidão. A prática da pessoas que têm esses trabalhos mais braçais divisão ocorre até hoje. e peculiares. “Durante uma gravação, estávamos em um No dia 16 de junho, Pedro Carcereri, Luciapequeno bar com três negros e um branco. Um no Azevedo, Daniel Zinato e toda equipe tem dos negros conta que a avó dele morreu na se- que entregar o filme finalizado para os avaliamana anterior e foi enterrada no cemitério de dores da Lei Murilo Mendes. Eles pretendem negros, enquanto o branco alegava que isso vender o filme para ser exibido na televisão e não acontecia e que no dia o cemitério estaria o lançamento deve ocorrer durantes os últimos fechado”, conta Pedro. Ele ainda adianta que, meses do ano, após ser exibido também para a apesar disso estar presente no documentário população de Mar de Espanha. O trailer de “O “O Último Toque”, eles pretendem explorar Último Toque” pode ser visto no Vimeo através do link: https://vimeo.com/267511028. mais no documentário sobre Zezinho. Foto: Luciano de Azevedo/Divulgação
Foto: João Victor Medeiros
Documentaristas de Juiz de Fora investigam a relação das pessoas com a morte no interior de Minas Gerais
Por Marcos Vinícios
Alunos do Colégio Marília de Dirceu assistindo curta “Vista a minha pele”
O cineclube itinerante “CineFanon”, fundado no final de 2017 em Juiz de Fora, vem causando uma boa repercussão por ter sido criado com o propósito de exibir e discutir obras relacionadas à cultura afro-brasileira e africana. De acordo com a fanpage do projeto na rede social Facebook, a missão é “oferecer oportunidade de escoamento e circulação de uma categoria de filmes e realizadores, cineastas e documentaristas negros, africanos e/ ou afrodescendentes, que tratem diretamente de temas e questões ligadas à problemática do racismo, da exclusão social e das minorias”. O CineFanon foi criado pelo jornalista, escritor e fotógrafo Ugo Soares e entre os principais colaboradores que ajudam a mover o projeto estão a estudante de psicologia Sarah Silva e o professor de língua portuguesa Giovani Verazzani, além de reunir os mais variados profissionais e artistas, das mais diversas expressões como o cinema, a música, a literatura e a animação. O coletivo tem como pontos de exibição central, as periferias e espaços populares da cidade de Juiz de Fora. Além de demonstrações especiais em escolas, universidades e eventos públicos. Em uma apresentação em maio passado voltada para os alunos do ensino fundamental da Escola Municipal Marília de Dirceu, no bairro Filgueiras, o coletivo reuniu um grupo de convidados das mais diversas áreas. A Drª Adenilde Petrina, representante do projeto “Vozes Da Rua”, o B-boy Marquinhos e o vereador petista e sociólogo Wanderson Castelar debateram o tema “Genocídio de Jovens Negros em Periferias”. O seminário foi criado pelas professoras do colégio Gilsiana Franco e Cristina Campos, que viram a importância do tema ser debatido após abordar o assunto da morte da vereadora Marielle Franco com os alunos e perceber a apatia da maioria deles. O filme em exibição que deu o pontapé para as discussões foi “Vista a minha pele” do cineasta baiano Joel Zito Araújo. O curta é uma paródia de 26 minutos que trata da realidade brasileira e foi utilizado como material básico para estimular o debate sobre racismo e preconceito em sala de aula, em uma histó-
ria invertida, onde os negros são a classe dominante e os brancos foram os escravizados. O fundador do “CineFanon” Ugo Soares deu partida à roda de conversas, explicando aos alunos como funcionava a abordagem do cineclube e, logo depois, iniciou o debate sobre o conteúdo do filme exibido, relacionou a história com a realidade da desigualdade que acontece no mundo real e com o tema do genocídio proposto pelo seminário que estava acontecendo. Adenilde discursou sobre sua trajetória e dificuldades, como foi importante sua luta e principalmente usar a sua voz e nunca se calar perante as desigualdades que existiam por ela ser negra e da periferia. E
experiências e obstáculos para alcançar a igualdade que ele almeja no mundo da música. E ainda recitou alguns versos de poesia em forma de rap de sua autoria, animando os jovens que prestavam atenção na apresentação. O vereador Castelar analisou o preconceito que sempre presenciou em sua vasta trajetória política e social. “Muitos podem achar graça, mas sempre me senti mais negro do que branco. Tenho descendência de índios e africanos, e quando presenciava a discriminação desses povos enquanto professor ou vereador, sempre me senti igualmente ofendido e discriminado”. Castelar elogiou a prática do cineclubismo que deveria ser ampla-
Foto: Marcos Vinícios
Morreu, acabou
Pedro, Luciano e Daniel, parte da equipe de “Último toque”
CULTURA
2018 junho
Ugo Soares apresentando Cineclube para estudantes
explicou como surgiu a parceria com o Cineclube: “O Ugo, que é o criador, participa do coletivo Voz da Rua. Assim, durante várias conversas, surgiu a parceria, pois ambos temos os mesmos objetivos, que é a luta para conscientização e organização da periferia”. O B-boy Marquinhos falou da importância da arte na inclusão e socialização dos jovens negros das periferias. Também citando suas
mente adotada, pois é uma via de se dialogar qualquer assunto com um veículo intermediário que todos se identificam, que é a arte. A professora Gilsiana Franco, uma das organizadoras do seminário, se sentiu realizada com o sucesso do projeto, e feliz com a participação efetiva e interesse dos alunos na discussão final. “Durante a exibição do filme, muitos alunos me abordaram, e disse-
ram que se sentiam representados pela história, que se identificaram com aquilo, e foi gratificante, pois, uma das vertentes do projeto, era justamente utilizar da cultura como um meio de conscientização e discussão para o preconceito contra a comunidade negra”. E por parte do cineclube o projeto também foi gratificante. “Eu tô muito feliz e extasiado com o sucesso de mais uma parceria. Tendo uma quadra cheia de alunos de diversas tendências, unidos pela arte e pelo cinema”, comemorou Ugo Soares. O “CineFanon” segue com seu compromisso de abordar o preconceito e a conscientização das periferias através do cinema e das artes audiovisuais, como uma alternativa viável e concreta para se fazer e pensar o cineclubismo na atualidade. Como explica em sua página no Facebook, a proposta não é fazer oposição ao dito Cinemão comercial norte-americano ou ao Cult cinema europeu, “tão admirado e estudado por jovens brancos universitários. Sendo ambos quase em sua totalidade feito, comercializado, discutido e consumido pela branquitude hegemônica”. E complementa, no Face: “Através da missão de exibir um “cinema preto” na periferia assumimos como missão a promoção da pluralidade das vozes envolvidas na construção da teia social, dando novos ‘tons’ ao discurso através da amplificação das falas de novos protagonistas, de outros olhares que não espelham apenas a visão dos ditos vencedores sobre os ditos vencidos. O que o CineFanon busca é descolonizar o pensamento dos seres e promover sua libertação através da conscientização pela arte”.
Uma breve história dos cineclubes
Os cineclubes são entidades surgidas no começo do século XX. Uma representação da sociedade civil organizada, que tanto pode ter uma sala própria com as características de sala de cinema que todos conhecem, ou um local adaptado, como sala de aula, sociedade de amigos do bairro ou mesmo na rua ao ar livre. Foi em 1925 na França que nasceu o Tribuna Livre de cinemas, o primeiro cineclube inaugurando as sessões semanais seguidas de debate. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os cineclubes se multiplicaram rapidamente por toda a Europa. Durante o festival de Cannes de 1947 foi constituída a Federação Internacional dos Cineclubes (FICC). A FICC estabeleceu alguns princípios gerais, como seu caráter não comercial e a disposição de criar uma rede internacional de circulação de filmes. O pioneirismo do movimento no Brasil se deu informalmente com o “Cineclube Paredão” no Rio de Janeiro, em 1917. Formalmente, a entidade “Chaplin Club”, fundada em 1928, também no Rio de Janeiro, fez parte do surgimento das práticas cineclubistas no país, que apresentava uma intensa exibição de filmes internacionais, que tiveram um importante papel na produção cinematográfica brasileira.
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CULTURA
2018 junho
Sessions Brasador completa 500 apresentações
Ensino individualizado de música descobre novos talentos em JF
Festival investe em música instrumental e autoral há mais de 10 anos
Espaço Musicale traz programa personalizado e Live investe em apresentações em festivais ras, têm uma forma mais quadrada de pensar. Já as pessoas que se enCom um cenário musical forte e volvem mais com o lado lúdico que representado por artistas conhecidos a música traz, têm um jeito mais fánacionalmente, Juiz de Fora exporta cil de contornar a vida, acho que talentos. As escolas de música têm pasão mais simples e mais sensíveis.” pel fundamental nesse processo: elas O reconhecido músico decidiu trodescobrem e filtram os novos músicos. car os palcos para dar aulas de música A cidade sedia festivais importanpela realização de ver os talentos se tes de música clássica, é referência no destacando. “Eu vibro muito de ver samba, tem conservatório e até faculdaum aluno tocando, a satisfação que me de de música. Com isso, a importância dá isso é muito boa, por isso escolhi das escolas particulares aumenta. Mas esse lado [da educação]. Gosto muito o mercado da música na cidade, com de alunos e acredito neles”. Ele promuitas vertentes musicais, tem sido move festivais da escola e destaca a movimentado por concursos de música importância de dar a alunos anônimos como o programa televisivo exibido no a oportunidade de “brilhar e se desBrasil “The Voice”. Nesse cenário, aula tacar”, descobrindo um talento. Jorge de canto é uma área muito procurada. questiona as aulas virtuais e a imporCom apenas seis meses, o Espaço tância dos festivais como oportuniMusicale traz para Juiz de Fora um dades de troca e exibição de conhenovo conceito focado na musicalização cimento. Como explica: “O ambiente como um todo. A gerente de produto virtual é muito seco, muito direto, da escola Patrícia Cardoso destaca: “A Jorge Terror, sócio proprietário da Escola de Música Live muito objetivo e nisso aí esse formagente queria trazer para a escola uma proposta de musicalização levando em tos como cantora, a professora Carol al. Eu gosto muito de cantar e gosto to peca. Festival, presencial, show, conta a individualidade, fazendo um Cardoso explica o prazer de dar au- muito de dar aula, não sei falar qual vibrar, emoção de pessoa para pesprograma personalas pois “aprende eu gosto mais”. Cantar, para Carol, é soa, isso é muito legal, muito bom.” lizado trazendo ouPara ele, se apresentar num show “é “É importante que a educa- muito ao ensinar” “indescritível”. O foco do seu trabatros ritmos, outras ção seja continuada que o e o gosto pelo en- lho como cantora são os casamentos. como entrar no portal do He-MAN em ideias, outros estilos Mas ela ressalta a necessidade de es- outro mundo, outra fonte de vida. É cantor nunca desista e nun- sino. “É por ter vindo de uma fa- tudar sempre para crescer como musi- difícil explicar com palavras, é muito diferentes para proca pare, sempre se aperfei- mília de professo- cista quando reforça que “é importante legal”. E complementa que dá para vipiciar a experimentaçoe, sempre estude, cuide res e a gente pas- que a educação seja continuada e que o ver de música, mas “o mercado mudou ção da música como um todo”. Patrícia do seu instrumento. É mui- sa o que a gente cantor nunca desista e nunca pare, sem- e tem que ser empreendedor”. Ele resexplica, por exemto importante cuidar da voz sabe”. Ela é bacha- pre se aperfeiçoe, sempre estude, cuide salta que a internet é uma grande aliaplo, que se uma pesrel em música pela do seu instrumento. É muito importan- da para mostrar o talento do músico. porque ela é única”. UFJF e sua família te cuidar da voz porque ela é única”. soa chegar à escola A Live oferece aulas de instrumenCarol Cardoso é musicalizada. querendo cantar líTradicional na cidade e com 17 anos tos populares: baixo, bateria, guirico, a equipe insere também no plano “Minha mãe tocava, meu pai tocaensinando música, o sócio-proprietário tarra, violão, canto, piano e teclado. de curso um pouco da música popular va. Muitas vezes, a referência muO mercado musical em Juiz Fora, da Live Espaço Musical Jorge Terror para que ela possa contrapor e criar um sical é o que a mídia impõe e geralcomo afirma Jorge afirma que antigaestilo único ou pelo menos experimen- mente é uma música muito pobre”. mente só os gran- “Juiz de fora é um berço Terror, é marcaCarol explica que o estudo da mútar, e conhecer. “Acho que isso é uma des mestres podiam do por instituições de talentos, aqui a gente esoportunidade única”, acredita Patrícia. sica influencia inclusive no desentocar, mas hoje é de ensino públicas O carro-chefe são as aulas de canto e volvimento do raciocínio, na vida uma terapia e até barra com talento toda hora. e privadas recenconteúdos especiais, além de aulas indi- escolar e na socialização: “Tem esum ponto favorá- Tem muito, basta não só tes e antigas mas, vidualizadas. Apesar de pouco tempo no tudo que fala que criança que estuda vel. “A importância frequentar a noite, mas ver p r i n c i p a l m e n t e , mercado, alguns alunos já se destacam: música está trabalhando na mesma é a sociabilização e também na internet. A gente pelo grande nú“Tem uma aluna da Carol que faz testes área do cérebro da matemática, do também o relaxamero de talentos. exporta talento.” para a Globo atualmente. É uma criança raciocínio lógico. É interessante pormento, poder chePara ele “Juiz de Jorge Terror fora é um berço gar em casa, pegar um instrumento de talentos, aqui para tocar e reunir família e amigos”. a gente esbarra com talento toda Quanto à preparação, ele destaca hora. Tem muito, basta não só freque é possível “filtrar para o merca- quentar a noite, mas ver também na do da música, pois a escola direciona internet. A gente exporta talento.” para isso porque a própria faculdaO músico salienta que nesse conde não faz isso, ela já pega a pessoa texto, a importância das escolas de pronta praticamente, já formada. Tan- música é o filtro, pois “muita gente to o conservatório quanto a faculda- que tem um potencial incrível talde. E tem muita gente nossa na Favez nem saiba que tem, e a escola culdade de Música de Juiz de Fora.” Jorge diferencia um indivíduo que tem esse papel de desvendar e aflotem contato com música de alguém rar o dom musical que o aluno tem e que não aprende essa arte quando diz nem sabe, para que ele possa depois que “as pessoas que não lidam com a fazer o que quiser com isso: se proFachada do Espaço Musicale música ficam mais ríspidas, mais du- fissionalizar ou apenas se divertir.” de 11 anos e tem até videos dela no nosso Instagram para quem quiser conferir. Há um outro jovem que tem uma rede social enorme e está aprendendo a cantar e a tocar para fazer mais coisas no canal dele”, explica Patrícia. Referência em eventos e casamen-
que está desenvolvendo uma área que muitas pessoas têm dificuldade, é um estímulo a mais para essa criança”. A professora e a cantora andam juntas como ela diz: “Eu sinto o mesmo orgulho de ver um aluno evoluindo e de ver a minha evolução pesso-
Por Carla Baldutti
Bares e restaurantes sempre foram lugares tradicionalmente conhecidos por oferecer serviços onde a clientela pode saborear comidas e bebidas variadas. Estabelecimentos que proporcionam apresentações musicais ao vivo, conseguem sair na frente no quesito preferência. Sabemos que a música serve como algo que anima, dá um colorido diferente no ambiente em que estamos. Existe uma frase que diz “sem a música a vida seria um erro”. Bares com música ao vivo sabem que a música atrai sempre muitos fregueses. Em Juiz de Fora, um restaurante levou isso a sério e resolveu investir e criar um espaço para um segmento esquecido - a música instrumental. A casa não investe no mainstream e não tem apresentações em nenhum outro dia, mas as noites de segunda-feira se tornaram um acerto. Há 10 anos o restaurante Brasador percebeu uma demanda diferente na cidade. Juliano Botti é músico, e mesmo contra a opinião de muita gente passou a investir no estilo instrumental e autoral, trazendo instrumentistas estrangeiros e nacionais para a noite juiz-forana. Com isso, o proprietário criou um festival de música permanente, que acontece toda semana. Por dois anos parecia que não daria certo, mas como o Sessions valoriza os músicos, virou um selo cultural que abrange o concerto ao vivo de músicos, produção de mídias e promoção constante de valores para artistas e público. O projeto já deu origem a produtos, parcerias e valores. O segredo está na filosofia de que a arte tem que ser reconhecida e ter suporte para ser realizada em toda a sua trajetória e não somente quanto atinge algum tipo de reconhecimento, por isso o espaço não cobra couvert do público e investe em músicas próprias.
Conceito de café, pub e dinning Tudo começou com a proposta de criar “o conceito casual dinning e confort food, em um ambiente único, inspirado nos pubs ingleses, nos dinners americanos e
cafés europeus, com objetos garimpados em diversos lugares do mundo”, como é explicado no website do restaurante. O ambiente valoriza cultura inclusive na decoração, com objetos trazidos de vários espaços que possibilitam a apreciação da música. Tudo é conectado. E o ambiente aconchegante permite usufruir dessa arte. O especialista em marcas e experiências do Brasador, Gabriel Gopesh Ferreira, conta sobre a proposta inicial de um restaurante que servisse mais que pratos, “que alimentasse o corpo, a mente e a alma”. Segundo Gabriel, “o Brasador surgiu porque nosso fundador é um artista, e junto com seus irmãos enxergou há 14 anos que havia uma escassez no mercado de um restaurante vibrante na cidade”. A partir daí, a música veio junto, como Gabriel conta: “Nos envolvemos com tudo que há de legal e positivo no mundo. Quando alcançamos a sustentabilidade desse conceito passamos a ampliar nossas opções do cardápio, e a música faz sentido nesse ponto. Quando a mente encontra essa conexão de respeito com a vida, nossos sentidos ficam mais aguçados”. O Sessions foi pensado para valorizar o primeiro dia da semana, e apresentar os músicos instrumentais que por conta da cultura contemporânea imediatista foram perdendo espaço. Nascido das apresentações e registros das segundas-feiras da matriz em Juiz de Fora, o selo abriga e apresenta artistas e projetos especiais, em duas versões uma aqui e outra em Volta Redonda. Eles apostam num público de alto nível e de bom gosto acreditando que “A arte é alimento de pessoas legais, interessantes e produtivas e o suporte necessário para sua execução, por vezes, independe do sucesso e da fama”, como conta o produtor Sérgio Meirelles.
Música e gastronomia Para quem participa a experiência é uma ótima oportunidade. “Conheci o Brasador quando inauguraram uma franquia em Volta Redonda. E tão logo soubemos do projeto Sessions iniciamos um conta-
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Foto: Carla Baldutti
Foto: Carla Baldutti
Foto: Carla Baldutti
Por Carla Baldutti
Foto: Carla Baldutti
ESPORTE 2018 junho
CULTURA
Sérgio Meirelles - produtor do Sessions Brasador
Lucky & Crazy - músicos que se apresentam no projeto
to a fim de participarmos desse projeto que valoriza o músico”, relata o músico Giliade Lima. Para ele, a importância do projeto é a divulgação e difusão da música de qualidade, sobretudo da música instrumental. “Foi muito gratificante ter participado! Estamos acertando um show em JF”, salienta. O pianista Luiz Cláudio Ribeiro (Cacáudio) destaca que o projeto “é interessante por valorizar bons músicos de Jazz e atrai um público específico do viés da música instrumental”. Ele ainda lembra que a segunda-feira atrai os músicos que trabalham mais aos finais de semana e podem ter mais uma opção de trabalho num local onde são profissionalmente respeitados, além de encontrar e ouvir outros músicos. Com isso, “a segunda-feira virou o dia do Jazz na cidade, num espaço bacana, com atendimento bom, com bebida e comida de qualidade”. O contrabaixista Lula Ricardo, que já se apresentou várias vezes no Sessions Brasador, acredita que é um projeto que venceu pela persistência e que o público já se acostumou com o dia. “Os shows não ficaram restritos ao jazz tradicional até mesmo porque seria complicado ter tantas atrações, então abre-se o ‘leque’ o que acaba diversificando para o público”. Ele acredita que o projeto tornou-se referência por ser dos poucos que abrem espaço para a música instrumental com constância. “Já passaram pelo Brasador músicos com projeção nacional e até internacional e vários desses shows tinham grupos ou artistas da cidade fazendo a abertura, o que acaba criando um meio de interação entre os músicos”, afirma Lula. Ele ainda destaca como vantagem de se apresentar nesse espaço, a produção musical e o público excelentes. O selo ainda produz os artistas Chadas Ustuntas, Fabiano de Castro, Advar Medeiros, Zezinho da Guitarra, Alexandre Scio e Juliano Botti. Além disso, gera produtos como os CDs: Translação; Hoje; Solaris; Outros Rios. A marca ainda tem um Photobook com imagens das apresentações, e vai lançar o documentário “Ze-
zinho da Guitarra: A música é a minha vida”. Para se apresentar no local, os artistas devem se cadastrar no site do evento que está com edital aberto até dia 31 de julho de 2018, para avaliação da equipe sob os seguintes quesitos: avaliação artística e sinergia; engajamento e release; produção e imagem; relações passadas e comprometimento. Quem for selecionado vai se apresentar no segundo semestre de 2018. Além dos músicos, o público aprova a experiência de alta gastronomia com música de qualidade como afirma o professor de idiomas Hosseyn de Andrade Shayani: “O Projeto Sessions Brasador é bem inovador em sua concepção. O segredo é o ótimo atendimento de todos”. Quem também frequenta é o músico Filipe Torres que considera o Sessions: “Um projeto ousado que leva cultura no início da semana, que somado com a deliciosa comida do Brasador é a garantia do sucesso”. A marca investe em divulgação nas redes sociais e mantém seu site sempre atualizado com matérias, fotos, notícias, além da programação mensal. O conteúdo pode ser conferido no endereço eletrônico www.sessions.com.br Para quem quer conhecer o espaço antes de conferir pessoalmente, existe a possibilidade de ter uma experiência. O Restaurante Brasador SteakHouse apresenta o Tour Virtual 360º onde o palco do projeto Sessions é exibido por completo em 360 graus, o que permite conhecer o ambiente em todos os seus ângulos. Você pode acessar através do site www.brasador.360app.com.br Neste mês o Sessions Brasador completa 500 apresentações e passou a atuar como um selo de artistas da cidade. A comemoração vai ser no dia 25 com o lançamento do DVD do Documentário de “Zezinho da Guitarra”. Haverá a exibição do filme, e em seguida, o espetáculo do guitarrista juizforano. A música ao vivo é somente na segunda-feira, mas o restaurante funciona de segunda a segunda, de 11h00 a 01h00, na Rua Machado Sobrinho, 146, bairro Alto dos Passos.
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COMPORTAMENTO
2018 junho
Intercâmbio Internacional: preparativos e experiências
PNL é a nova ferramenta para sucesso das empresas
Fazer um intercâmbio pode parecer um sonho distante, porém pode ser mais fácil do que se imagina. E o que não faltam são oportunidades Por Carol Cadinelli
Candidatar-se é o primeiro passo para tornar o sonho do intercâmbio possível. Atualmente, a UFJF possui o PIIGRAD, que envia, em média, 70 alunos para fora do país todos os anos. O Programa é uma iniciativa da Diretoria de Relações Internacionais (DRI) da UFJF, que trabalha para estabelecer e manter parcerias com universidades de diversos lugares do mundo. O edital do PIIGRAD costuma ser lançado nos meses de outubro e novembro e é aberto a quase todos os alunos de graduação da UFJF. A bolsista da DRI Renata Paschoalim explica: “[o processo do PIIGRAD] tem alguns pré -requisitos como ter entre 20% e 80% do curso - você não pode ser calouro e tem que voltar pra cumprir um período aqui na UFJF. Isso é necessário porque o que vai ser avaliado é a sua participação aqui na Universidade”. Essa participação é avaliada na primeira fase do processo, através de documentos que o aluno deve enviar à DRI - entre eles, cópia do histórico escolar, certificados de participação em projetos de pesquisa, de extensão e em eventos. Todos esses documentos são avaliados e geram pontuação no processo seletivo, de acordo com o edital. Após a avaliação da documentação, já na segunda fase do processo, o aluno deve mandar um vídeo para a DRI justificando a escolha da universidade e argumentando o motivo de ele merecer representar a universidade no exterior. O vídeo também é avaliado e entra no
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A importância de pesquisar
Bianca em visita à cidade de Castelo Branco, vizinha de Covilhã, sua casa por dez meses durante o intercâmbio
esquema de pontos. Essa pontuação final, que é soma das duas fases, dá origem a uma ordem de classificação que é a ordem para a terceira fase, na qual o aluno deve comprovar a proficiência no idioma pedido pela universidade de destino. Essa proficiência é comprovada através de testes oficiais do idioma, que o aluno deve procurar fazer junto a escolas de idioma ou a universidades licenciadas. Após a terceira fase, o processo pela UFJF acaba. O aluno deve, então, esperar até receber a carta de aceite vinda da universidade de destino para continuar os processos burocráticos de forma independente. O visto e outras burocracias De acordo com o agente de viagens Guilherme Guimarães, o visto é a primeira coisa a ser pesquisada após o momento do aceite - em muitos casos, como vistos para Portugal, o processo de solicitação do visto pode demorar mais de um mês e deve ser iniciado o
quanto antes. Em oposição a Guilherme, o estudante de Engenharia da UFJF Álvaro Salles, conta que o visto teve de ser a última coisa a ser resolvida, no seu caso. Ele vai para Chennai, na Índia, pelo PIIGRAD, e os processos consulares são bastante diferentes dos feitos para países da Europa, por exemplo. Porém, o estudante comentou que aproveitou o tempo para resolver outros detalhes da viagem: “Eu estive pesquisando mais as passagens e o seguro de viagem ultimamente, além da acomodação e dos detalhes como as questões de bagagem. Com tudo resolvido e passagens compradas, a Embaixada Indiana pede que a gente aplique para o visto em torno de 10 dias antes da partida, por causa de políticas de imigração entre os países”. O estudante deve buscar saber também sobre as passagens e o seguro viagem, e Guilherme alerta: “O brasileiro não tem a cultura de entender a importância do seguro, mesmo que ele seja obrigatório para alguns países. Muitos estudantes viajam sem o seguro e Foto: Arquivo pessoal
A candidatura pela UFJF
correm o risco de serem deportados, além de ficarem sem assistência em caso de acidentes ou de doenças”. Os relatos apontam para a necessidade de se conhecer não só os processos burocráticos em geral, mas também as especificidades do destino escolhido. Esses detalhes incluem não só as questões financeiras e de passagens, mas também o aspecto cultural do país.
Foto: Arquivo pessoal
A perspectiva de conhecer uma outra cultura e de se integrar em um ambiente completamente diferente do de casa é uma das coisas que faz com que o sonho de muitos jovens seja fazer um intercâmbio internacional. As expectativas ficam lá no alto quando se pensa na ideia de se mudar para outro país, conhecer novas pessoas e ter uma vida completamente diferente. Ao se ver diante da possibilidade real de fazer um intercâmbio, porém, muitos se assustam com a complexidade aparente do processo. “Esse negócio de intercâmbio deixa a gente doido, mas depois é uma delícia”. O comentário é da estudante de Jornalismo da UFJF Bianca Colvara, que está há oito meses em Portugal, na cidade de Covilhã. Bianca foi para o intercâmbio através do Programa de Intercâmbio Internacional de Graduação (PIIGRAD) da UFJF. A parte sobre ‘deixar doido’ é um comentário sobre toda a burocracia do processo, que pede do aplicante, em média, 20 documentos diferentes, variando de país para país: “Depois de ser aprovada na UFJF, você tem um monte de coisa que tem que fazer. Passaporte, carta de aceite, visto … O visto é mais difícil, porque pedem muita papelada que a gente nunca ouviu falar antes”. Contudo, é possível diminuir a confusão na hora de aplicar para o intercâmbio. Para isso, basta conhecer o máximo possível sobre o processo de seleção e sobre os trâmites consulares pelos quais o intercambista deve passar antes de viajar.
Guilherme, à direita, em palestra de orientação para o intercâmbio, promovida por sua agência de viagens
“A Índia, essencialmente, é um país de muita cultura, muitos valores, tudo totalmente diferente do que a gente está acostumado aqui no Brasil”, comenta Álvaro sobre o destino escolhido. “Além disso, a minha pesquisa proporcionou também a visão que todo mundo já tem, pelo menos na Exatas, que a Índia é um país de grande desenvolvimento nessa área, de grandes empresas de tecnologia, baseadas na cidade de Chennai e em algumas vizinhas. Então, foi uma escolha que, apesar de alguns considerarem excêntrica, foi correta para a minha área e a minha carreira”. A pesquisa é, com certeza, parte importante da preparação para o Intercâmbio. De acordo com Bianca, “você sente o baque cultural todos os dias. Gente diferente, costumes diferentes, palavras diferentes - mesmo aqui, que é o mesmo idioma. Aqui, até a carga horária é diferente. E aí tem um outro lance, que é um tratado que padronizou os cursos aqui. Você faz três anos de graduação e depois você pode entrar para o mestrado integrado. E aí a graduação me parece muito básica, e o mestrado é que aprofunda. O que eu não esperava era isso. Então eu falo pra galera, pesquisa muito! Pra você saber o que exatamente é e para onde você está indo”. A experiência do intercâmbio “A experiência do intercâmbio, por si só, realmente te faz crescer muito e acho que ela impacta na vida, como um todo”, comenta Guilherme, após ter vivido três intercâmbios e agenciado outros incontáveis. “Se a pessoa está indo para o intercâmbio dessa forma, aberta a ter experiências, a sair da zona de conforto, é muito enriquecedor. Quanto mais você viaja e conhece, mais você percebe o quanto você é pequeno, e mais você respeita o outro, e tudo, e começa a relativizar as coisas de uma boa forma”. Álvaro, por sua vez, conta estar ansioso para viajar: “Eu espero voltar muito diferente do que estou indo. São muitas possibilidades de aprendizado, experiências completamente diferentes e muita gente nova para conhecer”. Ele viaja ainda em junho, e planeja conhecer mais cinco cidades além de Chennai, onde vai morar e estudar. Para Bianca, “é inacreditável estar em Portugal”. Ela conta: “Às vezes eu ando na rua, e é uma realidade paralela. Pra mim, o intercâmbio é isso, é pura magia”. A intercambista fica no país até o final de julho.
COMPORTAMENTO
2018 junho
Líderes identificam perfil comportamental dos funcionários para gerar resultados em equipe
tar mais o tempo durante as horas de As empresas buscam constante- trabalho, porque começam a entenmente fazer com que suas equipes se der como isso influencia na sua quatornem cada vez mais eficazes e co- lidade de vida”, complementa Leão. esas. Para isso, pensar em melhorias Uma empresa ou qualquer organina comunicação entre os membros e zação é um conjunto de indivíduos. departamentos de uma organização Parece óbvio, mas, na prática, não é ajuda a demonstrar mais segurança e bem assim. Muitas empresas, através empatia entre funcionários, clientes e de suas lideranças, parecem querer colaboradores. Para desenvolver capa- dissociar as pessoas e isso traz prejucidade de vendas, negócios, convenci- ízos para ambas. Um dos principais mento de clientes e superar obstáculos problemas das organizações está exanas empresas com potencial criativo tamente no relacionamento entre as e inovador, o mercado tem buscado pessoas e a comunicação entre elas. oferecer ferramentas de Programação A PNL não é apenas sobre como se Neurolinguística (PNL) como alterna- melhorar como pessoa, ela é projetativa para conquistar esses objetivos. da para melhorar também a relação Grandes empresas como BMW, Di- líder e colaboradores, promovendo ners Club, American Express, Fiat e mais sintonia com entre a equipe. Coca-Cola passaram a adotar a PNL O coach integral sistêmico e anacomo parte do processo de capacita- lista de perfil comportamental Diego ção de seus funcionários. A BMW, por Ceciliano, sócio da empresa carioca exemplo, modelou os padrões de co- Acrilzano, comenta como as ferramunicação dos vendedores responsá- mentas e métodos da Programação veis pela maior parte de suas vendas. Neurolinguística estão mudando o seu Depois de avaliar os comportamentos dia a dia. “Uma comunicação ruim de bem-sucedidos deste grupo, as habili- parte da liderança com o colaborador dades foram ensinadas para todas as limita a capacidade de crescimento pessoas de vendas da organização. do funcionário, suas metas e seus obEssa diversidade de empresas que jetivos. O que a PNL faz é o rompiestão incorporando a PNL em suas mento com experiências negativas que atividades apresenta evidências de as pessoas já viveram e reprograma que essa ferramenta o modo de pensar, pode ser usada por tanto do líder quanpequenos e grandes to do colaborador”. empreendedores, “Eu comecei a ter coA PNL foi inino setor público nhecimento de mi- cialmente concebipotencialidades da como ferramenta e por autônomos. nhas Para Bárbara na empresa. Eu passei para terapias e por Leão, master prac- a reconhecer os meus isso é regularmente titioner e trainer em dons...” utilizada para curar PNL do Instituto fobias, diminuir a Valéria Malta Você, as empresas ansiedade, reduzir têm adotado esse o stress e superar método devido a neuroses. No ensua capacidade de compreender cada tanto, a capacidade de identificar as pessoa, de forma individual, e des- maneiras que as pessoas estão pencobrir talentos, o que gera grandes sando e sentindo influenciam a caparesultados e sucesso coletivo. “Até cidade de comunicação interpessoal e pouco tempo atrás o foco das empre- torna a PNL ideal para o mundo dos sas era em treinamento técnico para negócios e é por isso que Ceciliaseus empregados, de aprendizado no tem buscado aplicar essas ideias teórico sobre as funções. Na área de também na empresa de sua família. pessoas, a ideia era só desenvolver “Na Acrilzano, como analista de lideranças e buscar melhorias na ges- perfil comportamental, eu busco identão com foco na empresa somente. A tificar as emoções e os sentimentos PNL tem a proposta de trabalhar com que impulsionam cada um dos nossos o foco total no ser humano e muitas funcionários, principalmente os que vezes o que impede o funcionário de trabalham na área de vendas. Nós dar o melhor dele para a empresa não reprogramamos as crenças e valoestá na capacidade técnica, mas na res dos nossos colaboradores e eles sua inteligência emocional”, explica. passam a gerar melhores resultados Em um mundo que estava se tor- para toda a equipe”, afirma o coach. nando individualista demais, a ProA representante da equipe de vengramação Neurolinguística parece ser das da Acrilzano, Valéria Malta, conta a alternativa para grandes conquis- que desde quando a empresa começou tas empresariais. “É impressionante a contar com as ferramentas de PNL os resultados que nós temos com as implantadas por Diego Ceciliano sua empresas que adotam a PNL no seu vida profissional ganhou um novo estíquadro formativo. Os funcionários mulo. “Eu comecei a ter conhecimento passam a vestir a camisa da empre- de minhas potencialidades na empresa. sa, a ver claramente os seus propó- Eu passei a reconhecer os meus dons, sitos para a organização e a aprovei- passei a perceber os talentos de outras Por Tarick Cardoso
pessoas que trabalham em nossa equipe e assim começamos a partilhar nossos conhecimentos para atingir nossos resultados, o que gerou benefícios para a empresa e minha satisfação pessoal”. O empresário juiz-forano Fernando Martins conta que sua experiência com a Programação Neurolinguística trouxe primeiro os benefícios para sua vida pessoal e que isso gerou resultados em sua vida profissional. “A frase que gostamos de usar é a que ‘diz que o mundo muda quando você muda’. A PNL nos ajuda a entender como nossos comportamentos estão vinculados às crenças e valores que temos e como alguns paradigmas criados por nossa mente causam bloqueio em nossas relações interpessoais. Com essa ferramenta eu pude perceber quais barreiras emocionais existiam em minha vida e, consequentemente, passei a perceber quais as barreiras existentes também nas vidas das pessoas que estão ao meu redor”. Para Sérgio Reis, membro da Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística (SBPNL), esta ferramenta consegue desenvolver essas habilidades interpessoais graças à utilização de técnicas que permitem uma maior confiança e presença do indivíduo, possibilitando o controle de emoções, agir sob pressão e manter a calma durante momentos de conflitos e crises. “A PNL melhora a relação e o entendimento dos outros auxiliando em relacionamentos e recuperando o diálogo de forma significativa, ampliando a percepção dos fatos sobre diversos contextos. Ela gera empatia”.
Entenda o que é PNL A “Programação” refere-se à maneira como organizamos nossas ideias e ações a fim de produzir resultados. A PNL trata da estrutura, da experiência humana subjetiva, de como organizamos o que vemos através dos nossos sentidos. Também examina a forma como descrevemos isso através da linguagem e de como agimos, intencionalmente ou não, para produzir resultados. A parte “Neuro” da PNL reconhece a ideia fundamental de que todos os comportamentos nascem dos processos neurológicos da visão, audição, olfato, paladar, tato e sensação. Percebemos o mundo através dos cinco sentidos. “Compreendemos” a informação e depois agimos. Nossa neurologia inclui não apenas os processos mentais invisíveis, mas também as reações fisiológicas, as ideias e acontecimentos. A parte “Linguística” do título indica que usamos a linguagem para ordenar nossos pensamentos, nossos comportamentos e para comunicarmos com os outros. Na academia, a linguística se refere ao estudo cientifíco da linguagem. (Fonte: SBPNL)
Ilustração: Tarick Cardoso.
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COMPORTAMENTO
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A ciência narrativa dos desenhos animados Pesquisas revelam novas formas de ver e fazer animação
A representatividade nos desenhos animados
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Ao mesmo tempo que pesquisadoras como Laís e Laryssa problematizam as questões de gênero nos produtos
Laryssa apresenta parte de sua dissertação em congresso na Espanha, em abril de 2018
da chamada ‘cultura pop’, os próprios produtos têm trazido mudanças nas abordagens que dão às questões sociais. A designer Arantxa Araújo, de 24 anos, é fã de desenhos animados desde a infância e comenta que as mudanças feitas nos últimos anos são muito perceptíveis mesmo para o público não especializado no assunto: “Antigamente, [desenho animado] tinha um traço de deboche, e hoje em dia é feito de forma humanizada, e realmente representando, através não só de pontualidades, mas através do desenvolvimento das personagens. Representatividade que mostra a importância das pessoas como pessoas, e não de forma cartunificada”. Arantxa, que se identifica como pessoa não binária, se sente muito mais representada por personagens atuais do que personagens de sua infância, e conta que esse sentimento fez com que ela retomasse o gosto pelos desenhos animados e quadrinhos: “O meu desenho favorito hoje é Steven Universo, eu acho que eles fazem uma representação muito cuidadosa de diversas minorias - principalmente da comunidade LGBT, inclusive das pessoas não binárias. As personagens são muito bem construídas, e de forma humanizada. Quando a Stevonnie [personagem não binária originada da fusão entre os personagens Steven e Connie] apareceu pela primeira vez, eu não conseguia acreditar! É muito bom ter um desenho tanto pra pessoas mais velhas se verem representadas, quanto pras crianças verem desde novas que aquilo é natural” Por sua vez, a estudante de doutorado em Teatro e Performance Cristina Pop-Tiron, de 27 anos, conta que não via, na infância, personagens de desenhos animados nas quais quisesse se espelhar: “Na minha infância, eu não me lembro de personagens femininas que eu admiras-
se e pensasse ‘nossa, eu quero ser como ela!’. Fico muito feliz de perceber quwe, hoje em dia, as meninas têm em quem se espelhar - eu mesma, já adulta, me vejo em personagens de desenhos. Acho que é muito importante que as crianças vejam representações de meninas que não são o estereótipo, que são independentes e aventureiras. Os desenhos animados ensinam o subconsciente, especialmente o das crianças; a TV não é só um passatempo.” A importância das pesquisas “Como o nosso objeto é consumido por crianças, eu fico refletindo como esses produtos têm um espaço muito grande no desenvolvimento da criança - pra mim foi, pros meus amigos foi”, comenta Laryssa. “A gente não percebe o quanto esse conteúdo é formador, tão formador quanto a escola, a igreja, a família. A mí-
dia forma, não só informa, especialmente quando você é criança. Esses meios são muito potentes”. Pesquisas em animação e quadrinhos têm ganho cada vez mais espaço no meio acadêmico exatamente por percepções como a de Laryssa, que dialoga com as conclusões atingidas por Laís durante a produção de sua dissertação: “Muita gente não pensa o que está consumindo, e foi esse o movimento que eu fiz no meu trabalho. Pensar o que eu estava consumindo. E eu acho que saber fazer a análise do que está sendo dito é muito importante, porque todo conteúdo tem uma base política e ninguém produz cinema fora do contexto da sociedade. É muito importante entender e debater qual é essa mensagem que está ali, porque a cultura pop é consumida em momentos de lazer. Ela não está te doutrinando, como se pensa que os pais ou as escolas fazem. Ela está ali quando você está aberto para receber. E você tem duas opções: ou você analisa e entende o que está acontecendo naquela narrativa, ou você passa batido, absorve um discurso pré-pronto e corre o risco cair em estereótipo.” A literacia do público sobre como lidar com os produtos da cultura pop são a maior importância atribuída pelas pesquisadoras, que afirmaram que vão manter seus temas no doutorado. Contudo, Cristina e Arantxa apontam também as mudanças na forma como se produz animação, não apenas na forma com que se consome. “Eu percebo que as mudanças no conteúdo dos desenhos vêm também de uma demanda social. Quanto mais a sociedade muda, através da análise dos produtos, mais se cria a demanda por produtos melhores”, comenta Cristina. “Eu entendo que as pesquisas fazem um movimento de quebrar a ideia de inocência da animação e dos quadrinhos, e isso é muito positivo. Eu realmente espero que essas pesquisas evoluam e sejam cada vez mais mais vistas, porque através das pesquisas, e de demandas que nascem delas, criamse produtos mais interessantes nesse aspecto”, complementa.
Foto: Arquivo pessoal
A luta travada com nossos pais em nossos primeiros anos de vida por ‘mais cinco minutinhos’ de tevê; a sensação de correr para casa para chegar a tempo do episódio do final da tarde; as brincadeiras e brigas com os colegas na escola pra saber quem seria qual personagem. Essas são lembranças que, em maior ou menor grau, estão presentes na memória da maioria dos adultos de hoje em dia. A geração das décadas de 1980 e 1990 cresceu consumindo desenhos animados e histórias em quadrinhos - e muitos ainda consomem, até hoje. O tempo passou e as crianças cresceram. A visão crítica de mundo, que se constrói ao longo da vida, casada com a permanência do gosto pelas mídias da infância, geram um interesse por entender: ora, já que os desenhos animados foram tão importantes para a nossa formação, como eles contribuem para ela? Foi a partir dessa percepção que a estudante Laryssa Prado escreveu seu projeto de pesquisa de mestrado, que tematiza as representações de gênero na animação nacional. Ela conta que o interesse pelo tema veio atrelado não só ao gosto pela mídia: “Eu gosto muito de animação; na época de escrever o projeto de mestrado, estava descobrindo o feminismo; e gosto muito de crianças. Além disso, eu tenho um irmão de 11 anos, acompanho o crescimento dele e acho muito curioso como ele pensa sobre gênero”. Também com essa percepção, a pesquisadora Laís Roxo escolheu tematizar, em sua pesquisa de mestrado, a representação das mulheres nas histórias em quadrinhos. Laís, que já trabalhava com análise de quadrinhos desde a graduação, optou por abordar as mulheres no mestrado, e conta: “Eu tive muitos embates, porque eu fui como fã, e aí comecei a ver vários problemas. Fui me debatendo com conceitos que, como leitora, nunca tinha percebido - entre eles, o quanto as personagens femininas eram descartáveis, e como o tipo de traço se relacionava com quem eram as personagens na história. Isso é tão embutido que eu não percebia, antes. Eu não deixei de gostar [de quadrinhos], mas comecei a entender e analisar o que estava acontecendo ali”. Tanto Laryssa quanto Laís percebem o crescimento da quantidade de pesquisadores e alunos interessados em seus temas. Ambas comentam que suas aulas, em estágio de docência, geram muita interação por parte dos alunos, e justificam esse interesse pela popularidade de seus objetos entre os jovens, além do crescimento da conscientização em relação a questões sociais em geral - ou seja, não só as questões de gênero, como as de raça e de sexualidade.
Foto: Prêmio Quirino
Por Carol Cadinelli
Laís Roxo discorre sobre os resultados de sua pesquisa