Jornal de Estudo - Novembro/2017

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Jornal de

estud

Foto: Facebook Femmenino

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFJF | Juiz de Fora | Novembro de 2017 |

Drag queens assumem papel de resistência contra o preconceito Polêmica envolvendo a drag Femmenino traz à tona debates sobre homofobia e questões de gênero p. 4 e 5

CIDADE E REGIÃO

POLÍTICA

ESPORTE

Projeto do Parque Estadual Serra Negra da Mantiqueira promete ser grande atrativo turístico, mas divide opiniões.

Militantes lutam por alternativas de subsídio público para baratear passagens de ônibus em Juiz de Fora.

Conheça a história de quatro atletas que vêm se destacando no cenário esportivo local e internacional.

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COMPORTAMENTO

ESPECIAL

Com o crescente abandono de químicas de alisamento, cabelos crespos e cacheados se tornam sinônimo de luta e resistência negra. p. 14

II Congresso Internacional sobre Competências Midiáticas reúne pesquisadores e movimenta a Facom ao lado da Conferência de Mídia Cidadã. p. 15 e 16

p. 12 e 13

Foto: Facebook Observatório

Foto: Júlia Garcia

p. 6 e 7


Editorial

Esporte que vai além O Brasil pode não ser o pai legítimo do futebol, mas o adotou de tal maneira que, quem vê de fora, jamais ousa questionar a relação. A modalidade esportiva, une pessoas tanto na torcida pelos muitos times espalhados pelo país, quanto na prática, que vai desde a quadra mais moderna e equipada, localizada no condomínio mais luxuoso da cidade, ao campinho de terra batida na comunidade carente, com traves de chinelo e garrafa pet improvisando a bola. O brasileiro nutre um amor inquestionável pelo futebol, mas dá espaço também a outras modalidades esportivas. Já na infância, entramos em contato com os mais variados tipos durante as aulas de educação física, na escola. Vôlei, basquete, handebol, tênis de mesa, queimada... Uma imensa lista de atividades. Praticar esportes é importante não só para a saúde, mas também para auxiliar na formação de indivíduos mais sociáveis, estimular o trabalho em equipe, desenvolver e aperfeiçoar

habilidades e até mesmo promover a integração de pessoas com algum tipo de deficiência. No entanto, muitas das crianças que têm contato com o esporte dentro da escola, não encontram fora do ambiente escolar a oportunidade de dar continuidade a essa prática, por falta de recurso. Para amenizar problemas desse tipo, programas de incentivo ao esporte são muito importantes. Principalmente nas comunidades mais carentes, com campinho de terra batida, traves de chinelo e “bola de garrafa pet”, citados no início do texto. Através do estudo: Prática de Esporte e Atividade Física (Pnad), realizado no ano de 2015, e divulgado pelo IBGE em maio deste ano (2017), constatou-se que para cerca de 118,6 milhões de brasileiros o governo deveria investir mais em práticas de atividades físicas ou esportivas. Entre essas pessoas, 91,1% acreditam que o investimento deve ser destinado ao público em geral, enquanto para 8% a prioridade desse investimento deve

ser para formação de atletas. O estudo mostrou ainda que 62,1% da população nacional com 15 anos de idade ou mais são sedentários, ou seja, não praticam qualquer tipo de esporte ou atividade física. Idade próxima à mesma em que se encerra a fase escolar, incluindo as aulas de educação física. É importante se atentar a esta realidade e se mover (no sentido literal da palavra) para mudá-la. Programas que incentivam a prática ao esporte, auxiliam diretamente na construção de uma sociedade com menos diferenças. É através deles que muitas crianças são retiradas das ruas, onde têm contato direto com o mundo das drogas e da criminalidade. Para os deficientes, um incentivo deste tipo pode representar a única chance de um recomeço. É no esporte que muitos encontram o gosto pela vida, se sentem verdadeiramente parte de algo maior e adquirem certa autonomia sobre suas atividades no dia a dia. É ali que eles se superam a cada novo dia e se orgulham ao desco-

brir que são capazes de coisas que até mesmo os médicos chegaram um dia a duvidar. Projetos que permitem aprender e desenvolver habilidades, além de formar cidadãos de bem, sociáveis e com a saúde em dia, também podem revelar talentos capazes de levar a modalidade escolhida como uma verdadeira profissão e um dia vir a defender as cores da bandeira nacional em competições de nível internacional. Em Juiz de Fora, existem alguns projetos que visam esse tipo de incentivo não só para crianças, como para adultos, idosos e também pessoas com deficiência, além de atletas que levaram o nome da cidade para todo o país e para o mundo através de competições importantes, como Olimpíadas, Pan Americanos e Copa do Mundo. É importante que se use essa paixão nacional pelo futebol para que, através dela e também das outras modalidades, se construa uma sociedade menos violenta e mais inclusiva.

Artigo

Viva a sociedade alternativa

Por Júlia Garcia A cultura é instrumento de resistência, engrandece um povo. A produção musical durante a ditadura, por exemplo, mesmo amplamente censurada, enfrentava de forma velada (ou não) o sistema. Chico Buarque, Raul Seixas, Gilberto Gil, Caetano Veloso. Artistas que, com a música, bateram de frente com o regime militar. E o governo sabia da força desse confronto. Muitos deles foram presos, interrogados, torturados. Mas resistiram, e suas músicas ecoam até hoje como lembrete de uma época obscura e dolorida. Contudo, seus álbuns também nos lembram que é possível enfrentar o sistema e lutar pelo exercício pleno dos direitos e da cidadania. Mas parece que o governo se esqueceu – ou se lembrou – da força avassaladora da cultura. Em 2016, para cortar gastos, Temer chegou a extinguir o Ministério da Cultura, que viraria Secretaria Nacional de Cultura, subordinada

ao Ministério da Educação. Sob protestos, Temer recuou. Entretanto, entre a crise do Ministério da Cultura e o estímulo ao setor, há um enorme caminho. Não parece haver, ainda, interesse em tais investimentos. Afinal, como vimos na ditadura, a cultura é instrumento de resistência e reivindicações. Porém, nem tudo está perdido. Fugindo das produções mainstream, guiadas pela lógica de mercado, estão os produtos independentes. Cinema, música, literatura. Há um circuito alternativo para cada área artística. É necessário difundir essas produções independentes, mostrar ao público que há alternativas, possibilidades. E, mais do que consumir, hoje o espectador é capaz também de produzir. É aí que entram eventos como o Primeiro Plano - Festival de Cinema de Juiz de Fora e Mercocidades, que, neste ano, teve como tema o cinema de resistência.

O evento terminou dia 28 de outubro e apresentou vários curtas e longas durante a semana. Dentre a Mostra Regional, da qual participavam apenas produções de Juiz de Fora, e a Mostra Mercocidades – além das sessões de longa-metragem – foram exibidos diversos filmes independentes aos quais dificilmente o público teria acesso na grande tela. E não era preciso pagar nada para ver toda essa produção – todas as sessões foram gratuitas. Além disso, aconteceram exibições na praça CEU, na Zona Norte da cidade, democratizando ainda mais o acesso à cultura. E o fomento não é apenas ao consumo. O Primeiro Plano também incentiva diretores, atores e roteiristas de Juiz de Fora e região, muitos ainda universitários, a enviarem seus filmes ao evento. É um estímulo completo à cultura.

É esse estímulo que falta ao Brasil. Sem cultura não há avanço, pensamento crítico, movimento. Além do mais, é um deleite. Quem não gosta de assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro? Algo tão prazeroso também pode ser mecanismo de luta, crítica, desenvolvimento. Onde estão os incentivos, então? Juiz de Fora possui considerável produção e fomento, mas como é em outras regiões do Brasil? É preciso dar armas ao povo, armas que não machucam, que transcendem o tempo e o espaço. Como as músicas da ditadura. Isso tudo é possível através da cultura. Como disse o filósofo e escritor argelino Albert Camus, conhecido por obras como a peça “Calígula” e o romance “O Estrangeiro”, “sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro.”

expediente Jornal Laboratório da Faculdade de Jornalismo da UFJF, produzido pelos alunos da disciplina de Técnica de Produção em Jornalismo Impresso Reitor Profº Dr. Marcus David Vice-Reitora Profª Drª Girlene Alves da Silva Diretor da Faculdade de Comunicação Social Prof. Drº Jorge Carlos Felz Ferreira Vice-Diretora Profª. Drª. Marise Pimentel Mendes

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Coordenador do Curso de Jornalismo Integral Profª Ms. Eduardo Leão Chefe do Departamento deMétodos Aplicados e TécnicasLaboratoriais Profª. Drª. Maria Cristina B. de Faria Professoras Orientadoras Profª. Drª. Janaina de Oliveira Nunes Profª. Drª. Marise Baesso Monitoria Leticya Bernadete Ruth Gonçalves

Repórteres Bernardo Medeiros, Camilla Marangon, Felipe Frederico, Giulia Prata, Júlia Garcia, Karina Gomes, Lisandra Queiroga, Luisa Furlan, Matheus Moreira, Tasso Guimarães, Victor Faria, Viviane Dalathezi Edição e Diagramação Júlia Garcia Viviane Dalathezi Endereço Rua José Lourenço Kelmer, s/n, Campus Universitário - Bairro São Pedro 36036-900 Contato mergulhodiario@gmail.com facebook.com/mergulhodiario (32) 2102-3612


´ POLITICA

novembro 2017

Após reajuste, debate sobre transporte coletivo aumenta em Juiz de Fora

Foto: Felipe Frederico

Para os manifestantes, o subsídio público seria uma boa alternativa para baratear custos. Próxima reunião está marcada para o mês de dezembro

Aumento da tarifa gerou revolta e ampliou discussão sobre o transporte coletivo na cidade

Por Felipe Frederico No início de outubro deste ano, a tarifa de ônibus de Juiz de Fora sofreu um aumento de 12,7%, subindo de R$ 2,75 para R$ 3,10. A mudança causou insatisfação por parte da população, e, dois dias após o reajuste, um grupo de manifestantes ocupou a Câmara Municipal em protesto contra a alteração. A ocupação durou pouco menos de um dia e só terminou mediante um acordo feito com o presidente da Casa, Rodrigo Mattos (PSDB). O acerto previa reuniões entre representantes do movimento, da Prefeitura e da Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) para discutir o aumento da tarifa e buscar soluções para melhorar a situação do transporte público de Juiz de Fora.

Dificuldade no financiamento do transporte Com o assunto transporte coletivo em pauta na cidade, é preciso se perguntar se existem melhores alternativas para financiar o transporte público que não sejam as tarifas, como acontece em algumas cidades na Europa. Para o economista Guilherme Ventura, as gratuidades oferecidas pelo sistema são um problema, na medida em que pessoas que podem pagar o transporte não o fazem, e isso aumenta o preço das tarifas para os demais usuários: “O próprio financiamento via tarifas precisa passar por reformulações também. Algumas dependem de legislação, inclusive federal. Por exemplo, existe uma gratuidade mui-

to grande no sistema independentemente da renda do usuário. Então, pessoas acima de 65 anos, independente da renda, pobre ou rico, deixam de pagar só por causa da idade. Isso é uma dificuldade, já que muita gente que poderia pagar o transporte urbano facilmente, não paga. A mesma coisa acontece com outros tipos de gratuidade. E é simples, se menos pessoas pagam, fica mais caro para o restante dos usuários.” Uma das representantes dos manifestantes nas reuniões com a prefeitura, Lays Perrut critica a falta do subsídio público: “Na reunião o secretário disse que tem muitas fraudes nas gratuidades, e que eles estão implementando um sistema de biometria para poder solucionar esse problema. É muito fácil falar que vai aumentar o deficit do setor público. Só que isso é uma lei, e não pode reverberar pra um ônus para a população. Tem que ter um subsídio da prefeitura, do setor administrativo da cidade. Não dá para colocar tudo em cima do trabalhador. Isso é muito claro.” Dentre as alternativas para financiamento, Lays cita a possibilidade de utilizar os impostos para subsidiar o transporte coletivo: “O que a gente busca nessas reuniões é ver como a gente pode baratear o custo do transporte. Além disso, pensar outras formas alternativas de financiamento, como sair algum subsídio da prefeitura para que isso possa acontecer. Algum tipo de imposto, como uma taxa no iptu, e isso cairia mais em cima

dos ricos, dependendo de uma porcentagem. As pessoas mais ricas que pagama mais iptu, pagariam mais e assim em diante. Isso ajudaria muito a custear o transporte.”

Debate em Juiz de Fora O argumento da Prefeitura utilizado para justificar o reajuste, no texto do decreto, foi de que “a atualização do preço da passagem é o único meio capaz de assegurar a continuidade, boa qualidade dos serviços públicos prestados aos usuários e o equilíbrio econômico-financeiro do sistema”. Em contrapartida, os manifestantes queriam a apresentação dos documentos da licitação dos ônibus e da tabela que indicou as justificativas para o aumento da tarifa. Já aconteceram duas reuniões entre as partes, na sede da Settra. A principal pauta discutida foi em relação à planilha de cálculo tarifário da passagem de ônibus. O documento mostra os dados que justificam o reajuste na tarifa, de R$2,75 para R$3,10, sancionado pelo prefeito Bruno Siqueira (PMDB). Membro da Marcha Mundial das Mulheres, Laiz Perrut participou da reunião e falou sobre os objetivos dos manifestantes: “Nosso objetivo foi traçar o planejamento de como vai funcionar essa comissão. Então a gente vai analisar junto com alguns professores, todos os documentos que a Prefeitura ofereceu para nós, para poder começar a falar dos números, e depois, discutir uma questão

mais ampla de todo o sistema de transporte público da cidade.” Ainda segundo Laiz, os representantes da Prefeitura e da Settra foram receptivos e aceitaram a conversa: “Eles se mostraram muito abertos a participar, a colaborar. O secretário se mostrou a disposição para disponibilizar outros dados que a gente precise também, e os professores da UFJF estão bastante empenhados para acompanhar a situação, para dar uma base mais técnica, mais especializada na área. Então eu acho que vai correr tudo muito bem.” Após as manifestações, a Settra divulgou uma nota oficial dizendo estar à disposição para o “diálogo com a comunidade”: “A Settra/PJF reforça seu compromisso com a transparência de todo o processo de atualização da tarifa e sua permanente disposição para o diálogo com a comunidade sobre o tema. Todos os documentos entregues aos estudantes são públicos para toda a população. Dessa maneira, dentro de um espírito democrático, a Settra entende que o objetivo de todos é comum: garantir o bom funcionamento do sistema de ônibus na cidade com uma tarifa entre as mais baixas do estado e do país.” Por outro lado, os manifestantes criticam o transporte, que não se mostra tão eficiente como deveria: “O transporte público de Juiz de Fora hoje não é eficiente como deveria. A gente teve uma licitação recentemente que deveria ser uma coisa boa, mas quem ganhou foram as empresas que já estavam aqui. Tem alguns avanços como a digitalização do processo, mas isso não pode trazer pro usuário um ônus. A gente sabe que não tem nenhum tipo de subsídio. Tudo sai do bolso do usuário”, disse Laiz. A próxima reunião para debater o reajuste está marcada para o mês de dezembro. Mesmo assim, segundo os próprios manifestantes que estavam nos encontros, é muito difícil que aconteça alguma mudança em relação aos preços a curto prazo: “Isso não acontece de forma rápida. Serão necessárias várias conversas para mudar alguma coisa de fato. É um projeto a longo prazo”, afirmou Laiz.

mobilidade na capital mineira Em Belo Horizonte, o preço da passagem de ônibus é mais caro que em Juiz de Fora - R$ 4,05. Porém, existem outras formas de se utilizar o transporte na cidade, como explica a estudante de medicina, Cíntia Ribeiro: “Aqui eu uso muito pouco o ônibus em si. A melhor opção, na maioria das vezes, é o metrô. A passagem é bem mais barata. Custa só R$1,80, e é muito mais rápido. Não tem trânsito e tem pontos em quase toda a cidade.”

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cidade e regiao

novembro 2017

Polêmica envolvendo drag queen em Juiz de Fora traz à tona onda de conservadorismo e manifestações homofóbicas

Foto: Lisandra Queiroga

Papel de personagem que era caricato é ressignificado, ganha novos espaços e visibilidade em um país onde uma pessoa LGBTI é morta a cada 25 horas

Donatela Araújo é interpretada pelo estudante de Administração da UFJF, Cesar Dornelas. Ela foi criada em março do ano passado. O estudante sentia a necessidade de se expressar artisticamente e assim surgiu Donatela

Por Lisandra Queiroga e Luisa Furlan

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A arte drag Cada drag é uma personagem pensada com todos os detalhes por quem a interpreta. Serve como uma outra realidade. “Drag é também você viver uma outra vida com base no seu imaginário, na sua fantasia, é uma construção”, afirma Franklin Xavier. Por

Lucy é interpretada pelo Lucas Gonçalves, aluno da Faculdade de Comunicação da UFJF. A personagem fez a primeira aparição em uma festa na Reitoria em 2015

Foto: acervo pessoal

A polêmica envolvendo a Femmenino, obrigação, mas pelos preconceitos existentes que participou de um vídeo sobre Dia das na sociedade. “A homofobia está aí, está latenCrianças no Colégio de Aplicação João te, está gritando sempre, mas quando as pesXXIII da UFJF e acabou soas são mais próximas é um provocando uma moção preconceito mais sutil”, conde repúdio na Câmara Brasil é líder mundial em ta o psicólogo Franklin XaMunicipal de Juiz de Fora, mortes de LGBTI, superan- vier, de 24 anos que criou a traz à tona a importância do países em que há pena de drag Sabrina Sasha por caudas drag queens neste morte para essa população. sa de seu Trabalho de Conmomento em que maniclusão de Curso (TCC) com festações de LGBTI Fobia temática Mulher transgênese espalham pelo país, Relatório do Grupo Gay ro: “Surgiu como proposta que vive ondas de conserembora hoje eu da Bahia acadêmica, vadorismo e contrárias faça alguns shows e presenaos direitos humanos. ças vips em festas. Criei na Femmenino popularizou-se nacionalmente faculdade, não foi com o intuito de fazer a porque, no vídeo, questionou a tradicional arte drag como ator transformista de show”. família brasileira, formada pelo homem e a A forma de lidar com a homofobia varia. Cemulher, o que levou a milhares de comensar Dornelas, estudante de Administração da tários contra e a favor nas redes sociais. UFJF, 23 anos e também drag queen Donatela, No Brasil, a cada 25 horas, uma pessoa disse que não costuma perceber, mas quando LGBTI é morta. Segundo dados de relatório nota algum incômodo, mostra para as pessoas feito pelo Grupo Gay da Bahia, foram 347 que elas são homofóbicas. “Então, acabo conmortes em 2016. Esses números garantiram seguindo o que eu queria, não da forma como a liderança no ranking mundial de assassieu queria, mas incomodei.” Já Lucas Gonçalnatos a esse grupo, ficando na frente de paves, 22 anos, estudante de Comunicação tamíses do Oriente Médio em que existe a pena bém na UFJF, que em 2015 deu vida à drag LU de morte para pessoas LGBTIs. Minas GeCY, age de uma maneira mais didática e tenta rais, que tem cerca de 1,01 morte por milhão entender o outro: “É saber lidar e tentar semde habitantes, está abaixo da média nacional pre levar a informação para as pessoas entende 1,69 por milhão de habitantes e da méderem também”, e acrescenta: “mas quando dia da região Sudeste de 1,17 por milhão eu estou montada é quando nada me abala”. de habitante. Esse relatório foi elaborado a partir de notícias veiculadas na mídia traTempos de opressão, mas também dicional e na internet, além de relatos. Isso de luta pela diversidade porque, no Brasil, não existem dados governamentais para crimes de ódio. Eles acabam Toda essa polêmica envolvendo a drag sendo subnotificados e, por isso, é muito Femmenino atentou para reacender debates difícil fazer uma contagem dos casos. Para antigos na Câmara Municipal. “Essa questão agravar essa questão, em 73% dos casos, a foi muito importante para voltar o debate do vítima não é identificada. Plano Municipal de EduPara debater quem são as cação, a famosa ideologia 347 pessoas LGBTI drag queens e como elas foforam assassinadas no de gênero, com a escola ram ressignificadas ao longo sem partido, que é um rolê Brasil em 2016 das décadas dando visibilique não é de hoje e já hadade às questões de gênero, via sido colocado lá na Câo Jornal de Estudo ouviu Relatório do Grupo mara”, criticou o estudante três drags, que comentam o Gay da Bahia Lucas Gonçalves. Ele estaseu papel hoje na sociedade. va na Câmara dos VereaA homofobia, infelizmente, dores no dia que tentaram acaba acompanhando a arte drag, não por votar pela primeira vez a moção de repúdio e

relatou: “O negócio não passou porque esta- isso, cada drag tem um estilo e uma história. Franklin teve uma incentivadora ao monva lotado de LGBTs e foi muito complicado.” Sobre ter uma drag queen, como a Fem- tar a sua drag Sabrina, a amiga Priscila, que menino, representando a UFJF, Lucas acha inclusive escolheu o nome da personagem. interessante: “É legal porque a gente está em Ela inspirou não só a drag, mas também o momentos complicados, tempos difíceis, de TCC dele. Ela era a mulher transgênero de opressão mesmo. Então ter essa pessoa que é quem ele falava. Priscila cometeu suicídio LGBT e trabalha com essa arte dentro de uma antes de Franklin apresentar o trabalho. Ele instituição, representando a imagem dessa nem gosta do nome da drag, mas não pensa instituição é muito bom.” Femmenino é o em mudá-lo. “Eu tenho Sabrina como uma nome usado pelo estudante Nino de Barros, grande homenagem a ela, uma forma de deixá -la viva.”, explica Franklin. que realiza todos os prograApesar dos problemas, mas “Na hora do lanche!”, “A homofobia vem hoje nenhum dos três, nem da Imagem Institucional da UFJF. Diante de tanta polê- de uma forma mais sutil Cesar, Lucas ou Franklin, mica e repercussão do caso, do que antigamente, não pensa em abandonar a arte drag. Ela acabou se tornanNino preferiu não dar mais entrevista sobre o assunto. é que ela deixou de existir, do uma importante maneira Já Cesar Dornelas con- mas hoje o preconceito de expressão. Lucas relata “além de ser uma arte, ta como se sente tendo está de uma forma mais que, é um hobby. Também é uma uma drag como porta voz sutil do que antes” coisa muito pessoal e muito da instituição onde estuda: íntima. Eu tento trabalhar “É saber que a gente está isso na minha drag tansendo vista, é saber que a Franklin Xavier to na estética, quanto nas gente é respeitado. A genperformances”. Para César, te se sente acolhida. Mesmo sabendo como é a realidade do Campus, Donatela representa toda sua expressão arcomo é a realidade de cada bicha dentro tística: “Entendendo arte como expressão da da sala de aula, ainda assim, a gente não se nossa subjetividade, aí já fica bem amplo. Para sente excluída. A gente sabe que se resolver mim, é fundamental (me montar) porque é fazer barulho e resolver procurar ajuda, vai ali que eu concentro toda minha expressão ter suporte ali e quem vai tentar solucionar.” artística.” Algumas vezes, faltam até palavras Para Cesar, essa questão destaca a diver- para explicar, como foi o caso de Franklin: sidade que existe dentro da Universidade: “Ser drag para mim é transcendental, é “Atenta para questões óbvias, como a de que uma coisa que não sei muito explicar, mas nós somos capazes de fazer qualquer coisa. é um dos melhores âmbitos da minha vida.” Nós não temos que ser melhor do que ninguém, nós somos igual a todo mundo, a gente ‘A busca pela igualdade continua’ tem as mesmas capacidades que todo mundo que se empenha e faz alguma coisa. Então, é A definição do dicionário para drag queen importante para a população LGBT a visibi- é um homem que se veste de mulher, usando lidade, e eu acho que é importante também roupas exóticas e maquiagem carregada, como para o resto da sociedade porque acaba des- diversão ou a trabalho. Mas ser drag vai muito construindo. Quem não tem informação, além. É uma forma de arte e um ato político. ao ver aquilo, talvez busque se informar so- Existem várias versões de como surgiu a arte bre o assunto que pauta a população LGBT.” drag. “Em geral, o mais comum é que se oriEm 2015, em uma ocupação da Reitoria da ginou no teatro shakespeariano, quando apeUFJF, Lucas Gonçalves deu vida a sua Drag nas homens podiam atuar, e papéis femininos LU CY: “Na época, eu estava muito ligado a eram desempenhados por eles. Em uma outra gênero, estava estudando um pouco sobre isso. Aí fiquei super interessado e decidi fazer. Foi a primeira vez que saí de casa montada. Já tinha feito algumas coisas em casa, mas ainda não era minha personagem. Ela foi nascer nessa festa, com nome, tudo bonitinho.” Com esses relatos, percebe-se que a universidade tem sido um espaço de fomentação de ideias, de diversidade e estímulo a arte. É o que reforça o diretor da Imagem Institucional da UFJF, Márcio Guerra: “Para a Universidade, fica cada vez mais a certeza de que nós estamos no caminho certo. Nós não vamos retroceder de forma alguma, pelo menos não nessa gestão. Muito pelo contrário, nós vamos seguir cada vez mais em frente na luta por esse espaço de diversidade e de liberdade de expressão. A gente recebeu uma Moção de Repúdio e dezenas de apoio. Então o caminho está certo, não tenho dúvidas disso.”


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cidade e regiao

Foto: acervo pessoal

2017 novembro

página do Facebook, sendo descrito como “canalhice que estão fazendo com as nossas crianças”. A publicação teve mais de 900 mil visualizações e 15 mil compartilhamentos. Depois de toda repercussão, a Femmenino postou um vídeo em sua página no Facebook, respondendo algumas perguntas. A maioria dos comentários lidos por ela tem características de discurso de ódio. Para finalizar, a artista afirmou: “O assunto ‘drag queen ataca crianças’ não vai ser mais pauta aqui na página, a gente vai continuar trabalhando e fazendo o que a gente gosta, que é arte.”

Saiba mais... Drag queen - consiste na arte em que o homem se caracteriza como mulher Transgênero - é a pessoa que a identidade de gênero não é a mesma que o sexo biológico Cisgênero - é a pessoa que se identifica com o sexo biológico Travesti - Ainda existem divergências na definição, mas geralmente é um homem que se identifica como feminino, porém não se incomoda com o sexo biológico. Termo utilizado mais comumente na América Latina, Espanha e Portugal. Identidade de gênero - é o gênero pelo qual a pessoa se reconhece. Sexo Biológico - Relacionado com as genitálias do nascimento

“Quando eu estou montada é quando nada me abala.”, contou Lucas Gonçalves

Foto: acervo pessoal “Hoje é bem complicado ainda, porque eu sou um garoto muito afeminado. Na verdade, eu uso muita coisa do universo feminino e isso incomoda as pessoas”, disse Franklin Xavier Foto: Lisandra Queiroga

versão, afirma-se que o termo é um acrônimo para DRessed As a Girl (vestido como menina em tradução livre)”, como explica a professora do Departamento de Ciências Aplicadas à Educação da UFMG e doutora em Antropologia, com ênfase no estudo da arte drag, Anna Paula Vencato. Ela ainda completou, falando sobre as mudanças ocorridas nessa arte: “Hoje Relembrando a polêmica o fazer drag se associa mais ao entretenimento LGBT e menos à cena teatral, nos anos 1990 O vídeo “Na Hora do Lanche - Dia das especialmente. Hoje algumas drags transitam Crianças”, que tem pouco mais de quatro mipelo mercado do entretenimento não voltado nutos de duração, causou toda essa confusão. a LGBTs, mas muito mais na cena pop ou alEle foi publicado no canal do Youtube TV UFJF ternativa do que em meios mais tradicionais.” e também na página do Facebook da instituiAtualmente, a arte drag vem ganhando ção. A partir disso surgiram diversas críticas destaque na grande mídia. No cenário munà Universidade e ao Colégio João XXIII, local dial, existe o reality show estadunidense Ru onde o vídeo foi gravado, principalmente por Paul’s Drag Race, que já está em sua nona ter uma drag queen interagindo com crianças. temporada. “Desde a primeira temporada até O caso saiu das redes sociais, foi do Conselho a última, vemos uma mudança total de invesTutelar ao Ministério Público e parou na Câmara timentos. Na estrutura do programa, percebedos Vereadores de Juiz de Fora. Aqui na cidade se a valorização, o reconhecimento daquilo”, existe uma lei municipal explica Cesar. “E isso também que proíbe a discussão acaba motivando as bichas que sobre gênero dentro das “Foi muito importante (a estão lá, as manas que estão lá vendo aquilo e fale: ‘vejo a pos- polêmica) para voltar o escolas. Um conselheiro sibilidade de fazer isso também. debate do plano munici- tutelar acionou o Ministério Público Federal, Se eles podem, eu também pospedindo providências pal de educação, a famosa so.’ E, no Brasil, vem vindo novamente a cultura da arte drag ideologia de gênero, com a em relação ao caso. Já na Câmara, uma Moção que estava parada há um bom de Repúdio ao Colégio Escola Sem Partido que é tempo”, completa o estudante. No Brasil, nomes como Gloria uma questão que não é de e à Universidade foi, Groove, Ikaro Kadoshi, Amanda hoje, já foi colocado lá na primeiramente, decretada e depois retirada. Sparks, e é claro a cantora Pabllo Mas uma semana deCâmara” Vittar, estão cada vez mais copois, foi aprovada no muns nos holofotes. Pabllo teve Lucas Gonçalves plenário por dez votos seu primeiro sucesso, intitulado a sete e uma abstenção. Open Bar, divulgado em seu caA maioria dos estunal do youtube em 2015. Mas no dantes, tanto da UFJF, quanto do João XXIII, carnaval deste ano despontou com o hit “Todo demonstrou apoio ao artista drag Femmenino Dia”. Desde então, vem lançando sucessos e e ao ato das duas instituições. Também demonsrealizando parcerias com diversos cantores. traram apoio o Diretório Central dos EstudanFranklin opina sobre a representatividade que Pabllo trás: “Ela traz uma visibilida- tes (DCE), a Ordem dos Advogados do Brasil de muito grande para a comunidade, ela traz (OAB), o Governo do Estado de Minas, o Fórum uma aceitação muito forte. Ela proporciona de Pró-Reitoria de Extensão Nacional, Sindicaque a arte drag seja mais respeitada. As pes- to dos Servidores Técnicos-administrativos da soas identificam que eu sou uma drag, que UFJF (Sintufejuf), a Associação dos Professo. eu não sou travesti e nem trans. Elas con- res do Ensino Superior (Apes), e muitos outros Em nota, a UFJF informou que a instituição fundem muito ainda, mas entendem que eu tem compromisso com uma educação pública, sou uma drag. É muito bom passar em um democrática, de qualidade e inclusiva, tanto na lugar e ver que estão ouvindo uma queen educação superior quanto na educação básica. cantar. Isso é incrível e isso não tem preço.” Em sua página no Facebook o vereador Lucas nos conta sua opinião sobre ter uma André Mariano (PSC), um dos autores da drag de tanto sucesso na mídia atualmente: moção de repúdio, fala em vídeo que se ba“Há tempos, a gente não via, ainda mais nesseou na lei municipal que proíbe a discussão se cenário brasileiro. Quando a gente via uma sobre a diversidade de gênero nas escolas. E drag na mídia era algo mais cômico, mais caalerta os pais para que fiquem atentos, pois,

para ele, essa discussão cabe à família e não à escola. Sobre a retirada da moção de repúdio, o vereador explica que foi uma decisão temporária, para que a direção do colégio explicasse o porquê da atividade, e garante que não foi por pressão dos manifestantes presentes na Câmara, mas sim porque outros vereadores e a mesa diretora pediram. Tentamos entrar em contato com o vereador para entrevista, mas não tivemos retorno. A parte que criou toda polêmica do vídeo foi o trecho em que a drag queen Femmenino diz que não existe brinquedo para meninos e meninas, fazendo alusão que gênero é algo construído pela sociedade e não inerente ao ser humano. Em meio a sua fala, uma das crianças diz que essa segregação de brinquedos é preconceito, e Femmenino solta seu bordão: (toma) “toma família brasileira”, remetendo à família tradicional brasileira, ou seja, aquela conservadora e cheia de preconceitos, contra pluralidades e diversidades. O vídeo ganhou repercussão nacional, e um trecho dele foi compartilhado pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) em sua

Foto: Leo Barbosa

Sabrina Sasha ganha vida por meio do psicólogo, Franklin Xavier. A personagem foi uitilizada na apresentação de TCC dele

ricato. Acho importante ter, mas também com a consciência de que não é só isso. Não é só ter a drag queen na grande mídia, mas também fazer o que for possível para a gente ser emancipado mesmo. E não é pelo capital que vamos conseguir. É através dos movimentos. Drag é arte, arte é de fato um ato político. Tem muitas outras questões que a gente tem que tocar.” Portanto é necessário avaliar esse destaque com cuidado: “Evidentemente publicidades geram impactos que geram visibilidade positiva ou negativa e que podem gerar lucros. Boa parte dos programas de TV ou de outras mídias jogam com essa ideia”, explica a professora Anna Paula Vencato. E completa: “De qualquer maneira, hoje essa visibilidade traz à cena pública a existência de sujeitos que antes estavam restritos aos espaços de sociabilidade LGBT, o que é importante. Mas isso não quer dizer que isso tenha relação direta de uma proposta politizada da mídia.” Esse fato é mais notável se considerada a onda conservadora que o mundo está passando. Sobre esse momento, Lucas pondera: “Nosso papel, enquanto minoria, isso eu falo em relação a todas, não só LGBT, mas a própria questão da mulher, pessoas negras, acho que é a gente criar uma unidade e tentar quebrar tudo isso, a gente não se calar e fazer o que for possível. Se tiver ato, a gente estar lá”. Assim, pode-se dizer que a arte drag vem conquistando novos espaços, mas ainda existem muitas barreiras a serem derrubadas. A busca pela igualdade continua.

“Quando eu comecei a me montar eu coloquei pra Donatela tudo que eu sinto de falta de arte, tudo que eu percebo como arte, tudo que é referência pra mim quanto arte.”, relatou Cesar Dornelas

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CIDADE E REGIao

novembro 2017

Projeto de um novo Parque Estadual na região divide

A criação do Parque Estadual Serra Negra da Mantiqueira é um projeto do Instituto Estadual de F

Segundo o IEF, juntamente com o PE do Ibitipoca a ocorrência do PE Serra Negra da Mantiqueira com atrativos turísticos altamente relevantes, em uma área onde o flu de transformar a região em um dos principais destinos de ecoturismo e turismo no

Lima Duarte Olaria

Arte: Tasso Guimarães

egra da ual Serra N d a st E e u Parq

a Mantiqueir

Rio Preto Área do Parque situada entre a divisa dos quatro municípios

Cidades A cidade de Lima Duarte já possui em seu território o Parque Estadual do Ibitipoca e, segundo o presidente da Câmara Municipal, Mário Júnior, a população de Lima Duarte, mais especificamente a da região de Monte Verde, em sua grande maioria são favoráveis ao Parque Serra Negra da Mantiqueira: “Se aqui já existe um parque e a cidade está sen-

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Santa Bárbara do Monte Verde

do a favor leva a crer que o parque está sendo bom para o desenvolvimento”, completou, indagando sobre qual seria a situação da região de Conceição do Ibitipoca e a área do Parque caso ele não existisse. Em Olaria, na audiência pública no dia 23 de outubro, o Presidente da Câmara Municipal, Eduardo Rezende, e outros vereadores se posicionaram contrários ao projeto do Parque, sendo aplaudidos pela população

presente. Eduardo, dentre outras questões deu dois exemplos para sustentar seu posicionamento. O primeiro foi o da cidade de Carrancas-MG, em que os proprietários de terras juntos com o IEF, a Prefeitura e as universidades federais fizeram a exploração e conservação. “Não precisou o estado vir e tomar as propriedades”, afirma. E o segundo, foi o do Parque de Caxambu, onde considerou que o Estado pode passar a administração para a iniciativa privada: “não estou falando que isso vai acontecer não, mas isso pode acontecer com a Serra Negra da Mantiqueira”, completou. O Prefeito Luiz de Oliveira disse só vai se posicionar a favor do Parque se acontecer mais debates e convocou a força política da cidade para levar as indagações ao Governo do Estado. A Câmara Municipal de Rio Preto não quis se posicionar sobre o assunto, mas, em geral, a maioria dos vereadores é contrária ao Parque e uma moção de repúdio à proposta foi assinada em reunião. Já o prefeito Inácio Ferreira através de sua assessoria disse: “Queremos o melhor para a cidade e a administração vai trabalhar para que a população tenha voz nesse processo”. Para o Presidente da Associação de Moradores e Amigos da Serra do Funil, Marcelo Dantas, falta esclarecimentos para a população da zona rural. Desse modo, a associação em reunião com a comunidade vem se mostrando contrária à forma que estão querendo implantar o Parque. “A gente quer que esse pessoal da área de preservação ajude a comunidade com outras formas de preservação como a RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural)”, afirmou. Em relação a cidade de Santa Bárbara do Monte Verde, a vice-presidente da associa-

ção de Três Cruzes e proprietária de terra, Aline Nacarat, esteve na audiência pública e disse que em levantamento conjunto com as comunidades do Funil e de Encruzilhada são ao todo 250 famílias que serão atingidas diretamente com o projeto do Parque. Segundo ela, os proprietários podem fazer o manejo sustentável, explorar e preservar o meio ambiente, e vão se reunir para proteger a Serra Negra quantas vezes for necessário. “Nós somos proprietários que hoje sobrevivemos da pequena produção sem incentivo. Se tirar essas pessoas dali vão levar para onde?”, indagou. As associações planejam auxiliar esses produtores rurais para que eles possam fazer as Reservas Privadas de Preservação Natural (RPPN) e continuar com o domínio e a posse da suas terras protegendo a Serra Negra da Mantiqueira.

Foto: Tasso Guimarães

A proposta de criação do Parque Estadual Serra Negra da Mantiqueira (PESNM) está na quinta, de seis fases para a aprovação ou não do projeto de unidade de conservação. Esta quinta fase da proposta do Instituto Estadual de Florestas (IEF), para tornar parte da região da Serra Negra uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, constitui-se de uma consulta pública, através de reuniões com as instituições de interesse e audiências públicas, já que a área proposta para o PESNM envolve diversos moradores da região. Desta forma, posteriormente será estabelecido os elementos quanto a tomada de decisão e o andamento do processo. O Parque Estadual Serra Negra da Mantiqueira, caso venha ser aprovado, será localizado a 95 km de Juiz de Fora entre os municípios mineiros de Lima Duarte, Olaria, Rio Preto e Santa Bárbara do Monte Verde. Com área total de 6.800 hectares e mais de 79 quilômetros de perímetro, a proposta do parque tem como objetivo a preservação de áreas estratégicas para a conservação da biodiversidade, especificamente da fauna e flora ameaçadas de extinção e endêmicas, bem como a proteção de importantes mananciais, como divulgou o IEF em seu Estudo Técnico. Contudo, a área planejada para o PESNM e sua zona de amortecimento (área ao redor de uma unidade de conservação - Lei nº 9.985/2000, do SNUC) está localizada entre algumas comunidades rurais desses municípios, como Criciúmas (Olaria), Monte Verde (Lima Duarte), Funil e Encruzilhada (Rio Preto) e Três Cruzes (Santa Bárbara do Monte Verde) e há uma forte oposição quanto ao Projeto em questão, por conta da possibilidade de desapropriações de terras.

Fotos: Márcio Lucinda

Por Tasso Guimarães

Proprietário faz questionamentos sobre o projeto


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CIDADE E REGIao

2017 novembro

e a opinião nas comunidades dos municípios envolvidos

Florestas que envolve as cidades de Lima Duarte, Olaria, Rio Preto e Santa Bárbara do Monte Verde IEF EXPLICA Para tirar algumas dúvidas frequentes pela população o Gerente de Criação e Implantação de Áreas Protegidas do IEF, Paulo Scheid, respondeu algumas questões em entrevista aqui editada para melhor entendimento. Quais são os fatores, que colocam o projeto do parque como algo importante? IEF: Este projeto possui muitas justificativas, tanto do ponto de vista ambiental quanto do ponto de vista socioeconômico. A região está entre as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade, tanto na avaliação Nacional quanto na Estadual; A região possui papel importante na produção de água, uma vez que faz parte do complexo serrano da Mantiqueira; A área contribuirá para a manutenção da variabilidade genética da fauna/flora dos ecossistemas da região; Contenção das degradações e ameaças pela mineração, monoculturas e turismo desordenado; Guarda o maior remanescente de fragmento da floresta atlântica continua da região do Circuito Serras de Ibitipoca; Ocorrência de espécies raras, endêmicas, novas e ameaçadas de extinção; Possibilidade de aumentar a geração de emprego e renda através do turismo ecológico sustentável; Criar alternativa de expansão turística no circuito Serras do Ibitipoca; Quase inexistência de moradores no perímetro proposto para instituição da UC; Aumento do ICMS Ecológico para os municípios. Como esse projeto vai interferir na vida dos moradores? IEF: Esta é uma dúvida que foi bastante levantada em todas as audiências, por mais que tenhamos frisado diversas vezes que as zonas de amortecimento trazem restrições especificamente quanto à impossibilidade de implantação de loteamentos, ou seja, o parcelamento do solo abaixo de 2 hectares, algo que já não é permitido em zonas rurais. Além disso, houve um grande anseio das pessoas em saber onde seria a futura zona de amortecimento do parque, mas, conforme também explicamos o IEF tem tratado das zonas de amortecimento no momento em que é elaborado o plano de manejo da unidade, que é um estudo mais detalhado e aprofundado da região, onde também há participação das comunidades. Algo que é muito disseminado de forma errônea é que o raio de 10 quilômetros no entorno de uma unidade de conservação é considerado zona de amortecimento. Na verdade, a legislação atual (Resolução CONAMA 428/10) diz que, para fins de licenciamento ambiental e para empreendimentos de significativo impacto ambiental, é considerado um raio de três ou dois quilômetros no entorno das unidades de conservação, para que o IEF possa se manifestar quanto a estes empreendimentos, e possa sugerir medidas mitigadoras e condicionantes ambientais, visando minimizar os impactos ambientais do empreendimento na região, beneficiando tanto o próprio parque quanto a sua região de entorno. Sobre a questão da desapropriação, como o IEF pensa nessa comunhão entre o parque e os moradores da região?

uxo turístico é real e crescente, somados a um plano estratégico de desenvolvimento sustentável, possui o potencial o meio rural de Minas Gerais.

Populações tradicionais A socióloga Beatriz Souza, que acompanha todo o processo conversando diretamente com as populações rurais envolvidas, aponta que essas comunidades tradicionais tem o direito, caso reconhecido, de permanecer com seu modo de vida, “é um direito internacional, a Organização Internacional do Trabalho considera população tradicional como populações do campo, mas essas populações tem que se reconhecer, e ao conversar com eles a gente vê que eles são nascidos e criados na roça e mantem tradições dos pais e dos avós, e a gente busca colocar essas populações tradicionais no debate. Buscar o diálogo para rever a proposta do parque e que ela realmente comece conversando com as populações desses lugares, de uma forma que elas sejam menos atingidas pelas mudanças”.

o do PESNM durante audiência pública em Olaria

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Estudo Tecnico Para concretização do Parque Estadual Serra Negra da Mantiqueira, o IEF junto com diversas parcerias desenvolveu um Estudo Técnico sobre as características da região pretendida. Na questão turística, a localização estratégica entre as capitais Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte e a demanda já existente pelos atrativos turísticos do Parque Estadual do Ibitipoca, coloca o projeto do Parque com um grande potencial de visitações. Através dos estudos foram destacados aspectos negativos que ocorrem na região da Serra Negra que podem comprometer o meio ambiente e que desta forma faria necessário a criação de uma Unidade de Preservação, são eles: •Pecuária em regiões de campos naturais, •Queimadas dos campos naturais, •Captura de pássaros, •Invasão biológica, •Mineração de areia nas encostas da Serra, •Supressão de vegetação florestal e colheita de madeira em diversas localidades, •Coleta de Líquens, Orquídeas, Bromélias e Velosiáceas, •Turismo desordenado, •Caça de animais silvestres, •Coleta ilegal de Palmito-jussara, •Abertura de novas áreas para a agropecuária Para ter acesso a todo o Estudo realizado do projeto do Parque Estadual Serra Negra da Mantiqueira é só entrar no site do IEF, ief. mg.gov.br/areas-protegidas/consulta-publica.

IEF: O Parque é uma categoria de Unidade de Conservação de Proteção Integral de posse e domínio públicos. Desta maneira, as áreas particulares que estejam dentro dos limites do parque deverão ser de posse e domínio públicos, conforme disposto na Lei Federal nº 9.985/00 (artigo 11, parágrafo 1º). Para tal, essas áreas deverão passar por um processo de regularização fundiária, onde é realizada a avaliação da área/propriedade/benfeitorias, e posteriormente o Estado faz a negociação, para então realizar a indenização ao proprietário que será desapropriado. No caso específico da área proposta para criação do Parque Estadual Serra Negra da Mantiqueira, tivemos a preocupação de deixar as propriedades com uso consolidado fora dos limites do parque, tanto pelo ponto de vista socioeconômico, pois não há interesse em realizar desapropriação em áreas que já possuem atividades agropecuárias consolidadas, como pelo ponto de vista ambiental, já que as áreas que já encontram-se antropizadas e com uso consolidado não possuem grande relevância para conservação direta dos recursos naturais. Existem algumas propriedades ou parte de propriedades que estão dentro dos limites propostos para a criação do parque, mas, nestes casos, estas áreas não possuem usos consolidados, não estão ocupadas com residências, e são essencialmente áreas de florestas, as quais já possuem restrições legais por estarem localizadas no bioma Mata Atlântica, ou devido a outras imposições da Lei Estadual nº 20.922/13. Porque os moradores não estão gostando do projeto? É falta de informação ou tem outra forma de se fazer, como eles mesmos apontam? IEF: Existem muitos fatores que estão levando os moradores a não gostarem do projeto. Existe sim a falta de informação, e neste sentido, o IEF falhou um pouco e não conseguiu transmitir da forma como desejávamos a informação necessária e de fácil compreensão às pessoas que moram mais próximas à área proposta para a criação do parque, apesar de ter realizado reuniões prévias com as principais comunidades envolvidas e diversas reuniões, todas elas realizadas antes das audiências públicas. Pelas repetidas colocações e manifestações que constatamos nas audiências, também acreditamos que estejam sendo disseminadas informações equivocadas na região, o que dificulta ainda mais os esclarecimentos e faz com que as pessoas tenham receio do parque, ou acreditem que a unidade vá trazer coisas ruins para a região. Caso o parque venha a ser instituído como será a relação do Estado, via IEF com esses moradores? IEF: Inicialmente, gostaria apenas de ressaltar que não existem residências nos limites atuais propostos para a criação do parque, ou seja, os moradores das comunidades estariam na região de entorno, ao redor do parque. A relação do IEF com os moradores terá um viés de conscientização e sensibilização quanto à importância de conservação dos recursos naturais e socioculturais, orientação aos produtores rurais quanto à legislação ambiental, desenvolvimento de atividades de educação ambiental, e até mesmo ser uma referência na região para outras demandas relacionadas ao IEF, como o fomento florestal, recuperação de nascentes e áreas degradadas, formação e capacitação de brigadas voluntárias, orientação aos visitantes, dentre muitas outras possibilidades. O IEF e comunidade deverão ser parceiros na manutenção da Serra Negra enquanto patrimônio ambiental da região. Qual será o próximo passo visto que a população não está contente com o projeto? Ele vai ser modificado? IEF: Depois da realização das audiências públicas, iremos nos reunir internamente para definir os próximos passos do projeto, considerando a grande rejeição do mesmo junto às comunidades locais, apesar de também termos tido vários posicionamentos favoráveis à criação do parque. Em relação à possíveis modificações no projeto, a equipe técnica já vinha realizando diversas reuniões com vários moradores da região, e fazendo ajustes e refinamentos nos limites propostos para o parque, com o intuito de minimizar ao máximo os possíveis conflitos gerados. Estes ajustes nos limites podem ser realizados a qualquer momento, mas também iremos avaliar internamente se tais alteração nos limites originais serão significativas ao ponto de descaracterizar a proposta inicial e inviabilizar a criação da unidade.

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cidade e regiao

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Rede de Vizinhos Protegidos auxilia a Polícia Militar na prevenção de crimes em Juiz de Fora e região Os moradores formam um sistema de câmeras vivas, ou seja, recebem orientação da PM para a adoção de estratégias de proteção mútua Por Karina Gomes Foto: Karina Gomes

O Programa de Rede de Vizinhos Protegidos tem sido uma estratégia adotada por moradores de Juiz de Fora para prevenir e combater crimes na região. Implantado em janeiro de 2011 pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) na cidade, o projeto tem como intuito unir a vizinhança para que as pessoas se protejam mutualmente. A ação, criada inicialmente pela 9ª Companhia Especial do 34º Batalhão de Belo Horizonte/MG, é uma iniciativa da PMMG, mas depende da colaboração de toda a população envolvida. O Estado abrange mais de 50 mil famílias nesta iniciativa. Na Rua Marechal Floriano Peixoto, o projeto foi implementado há cerca de um mês. A iniciativa partiu da moradora Patrícia Le Mond, por conta do alto índice de roubos registrados na área. “Tomei conhecimento da Rede Vizinho Protegido por meio do meu irmão, que implantou no bairro dele. Na época, o sentimento de insegurança e os assaltos às residências na rua dele eram constantes. Por mais cuidado que todos tivessem com instalação de alarmes e câmeras, a insegurança predominava. Depois de implantar a RVP, os moradores de lá passaram a se reunir com mais frequência, as viagens de férias não eram mais motivos de grandes transtornos”, comentou Patrícia. Para ela, a ação resgata tradições antigas, nas quais os vizinhos se conheciam bastante e se ajudavam. “É importante essa união entre as pessoas e a constante troca de informações para melhorar a segurança e resgatar aquele sentimento de amizade e apoio mútuo entre os vizinhos”, comentou. Ainda de acordo com Patrícia, que é síndica de um condomínio em sua rua, diversas medidas já fazem parte da rotina dos participantes do programa: “Não andar na rua distraído com o celular na mão, não deixar a porta aberta, ao entrar ou sair da garagem aguardar o fechamento completo do portão para então se deslocar, melhorar a iluminação e criar regras para entrada de pessoas em suas residências, além da comunicação no grupo do WhatsApp”, enumerou. Para que a rua finalize o processo de entrada nessa proposta, falta apenas a solenidade de entrega das placas, que são sinalizadores de que o local faz parte da Rede. A vizinha Rosemar Alvarenga, que também faz parte da ação na Rua Marechal Floriano Peixoto, revelou que o projeto tem diversos pontos positivos, mas que há pontos de melhoria. “A maioria dos delitos acontecem de madrugada e, nesse horário, é quase impossível que tenha alguém vendo qualquer coisa

Os moradores participantes recebem a placa e devem colocá-la na frente da residência

na rua. Precisamos de um patrulhamento mais efetivo, visto que na nossa região acontecem atualmente muitas infrações”, disse. A moradora considera também a necessidade da implantação de uma base da PM nessa rua. Há ainda casos de pessoas que não ficaram satisfeitas com o resultado e se desvincularam do programa. A moradora do bairro Bairu, Rosângela Leão, é um exemplo disso. Ela deixou de fazer parte do projeto há quatro anos, mas manteve algumas orientações em conjunto com os vizinhos de seu prédio, como o grupo no aplicativo de conversas. “Não estava percebendo a vigilância pelos guardas. Às vezes chegava tarde em casa e não via nenhum deles passar em frente ao condomínio. Adotamos outras medidas que ajudam a coibir os crimes, como a construção de grades maiores”, disse. Para Rosângela, uma das motivações para sair da rede foram os compromissos demandados aos moradores participantes, como frequência a reuniões e comunicação constante com grande número de vizinhos. Alguns deveres fazem parte da rotina dos moradores que aderem à Rede de Vizinhos Protegidos, para que a colaboração seja de todas as partes envolvidas e as ações sejam efetivas. “A Polícia Militar realiza uma conscientização para que as pessoas se interessem pelo programa. A partir de então, são feitas reuniões, nas quais são enumeradas as atitudes que os cidadãos devem tomar para dificultar a ação dos infratores, além de criar um vínculo entre essa região e a PM”, explicou o assessor de comunicação da 4º Região de Polícia Militar (RPM), major Marcellus Machado.

Ações da PM diminuem o registro de violência em Minas Gerais

nos mesmos meses, o registro foi de 55.795 (3.431 a mais). Conhecer e ter contato frequente com moradores ou comerciantes da mesma rua faz com que todos estejam a par do que está acontecendo na propriedade de cada um, e ajuda cada vizinho a ser uma “câmera humana” da região. “Uma das ações é a criação de um grupo no WhatsApp, no qual o único assunto a ser tratado é o monitoramento da região. Se alguém avisar que vai viajar, por exemplo, é importante se atentar aos movimentos na residência, e entrar em contato com a PM para o caso de ações suspeitas no local”, esclareceu o major Marcellus Machado. De acordo com major Marcellus Machado, a PM aceita sugestões e apoia iniciativa de vizinhanças que enxergam melhorias na Rede. A instituição procura, espontaneamente, representantes de regiões com os maiores índices de criminalidade para a adoção dessas medidas, porém, elas podem ser feitas em qualquer área da cidade. “Nós monitoramos os locais com maiores incidências de ocorrências para iniciarmos as ações preventivas. Mas o projeto é aberto a toda a população juiz-forana, e quanto mais adeptos tiver o projeto, melhor será para a diminuição de crimes em toda a cidade”, ressaltou. Para introduzir a ação em determinado bairro ou rua, basta procurar uma Companhia da PM em Juiz de Fora mais perto de sua região e solicitar uma reunião com os residentes interessados.

Por conta dessas e diversas outras medidas adotadas pela PM, o balanço apresentado pela 4ª RPM em julho deste ano foi positivo. Os dados apontaram a diminuição de 14,94% de crimes como estupro consumado, estupro de vulnerável, homicídio consumado e tentado, roubo, sequestro e cárcere privado, comparando o primeiro semestre de 2017 ao mesmo período do ano anterior. No Atlas da Violência anual, publicado em junho pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Juiz de Fora está na 152ª posição no ranking das cidades menos violentas do Brasil. O levantamento tem como base o número de homicídios e de mortes violentas com causa indeterminada em municípios com mais de 100 mil habitantes. Os dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) mostram queda nas ocorrências em Minas Gerais como um todo no primeiro semestre do ano. Segundo os números divulgados também em junho, a redução foi de 6,1% nos crimes violentos de janeiro a maio, em comparação com os primeiros cinco meses do ano anterior. Belo Horizonte registrou uma diminuição ainda maior: 12,9%. Os roubos tiveram proporções semelhantes, já que abaixaram para 6,1% no Estado, registrando a maior queda dos últimos seis anos, segundo a Sesp, e 12,8% na capital. Ao todo, em Minas, foram feitas 52.364 ocorrências, que representam cerca de 346,4 por dia. Em 2016, ^

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Dicas da PM para aumentar a seguranca da sua rESIDENCIA

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Crie um grupo no aplicativo “WhatsApp” com os vizinhos

Avise sempre quando for passar um grande tempo fora de casa

Cadastre-se no programa “Celular Seguro”, da PM

Monitore atividades suspeitas em residências vizinhas

Por lá, trate apenas de assuntos de monitoramento da região e transmissão de avisos importante. Evite mensagens de “bom dia”, correntes, entre outros temas que fazem com que informações relevantes se percam na conversa.

Em caso de viagens ou quando os moradores planejarem passar um longo período fora da residência, comunique aos vizinhos. Assim, eles ficarão atentos às movimentações no local ou ações suspeitas.

Essa é a iniciativa da Polícia Militar que visa identificar os donos de celulares roubados. No site da PMMG, é possível preencher os dados do aparelho para facilitar a identificação e o contato nesse tipo de ocorrência.

De acordo com o major Marcellus Machado, os moradores devem ficar atentos à presença constante de pessoas suspeitas na rua. Caso não sejam conhecidas da vizinhança, a PM pode ser contactada para uma maior vigilância do local.


ECONOMIA

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Bairro São Pedro cresce e atrai investimentos Localização da UFJF permite o aumento de empreendimentos imobiliários e impulsiona o comércio local nesses períodos, o movimento cai em cerca de 30%”. Dono do restaurante Saldoce, que fica em frente ao portão da UFJF, há pouco mais de 20 anos, Daniel Batista conta que o início foi difícil, mas, aos poucos, foi melhorando, especialmente depois da primeira década: “A partir de 2008, mais ou menos, percebemos que a Universidade teria um crescimento e dobramos o nosso tamanho”. Ele explica que a escolha pela proximidade foi estratégica, ainda que, no começo, o restaurante ficasse há alguns metros da atual localização. Sobre os clientes, ele enfatiza: “A gente tem uma rotatividade boa. O bairro cresceu muito, tem muitas empresas, moradores. Hoje atendemos tanto ao público da Universidade, quanto o bairro em si”.

Foto: Bernardo Medeiros

Investimentos

Restaurante Saldoce é opção para público da UFJF, trabalhadores e moradores da região

Por Bernardo Medeiros

do para o comércio local. Mas Luiz Fernando alerta: “Também, deve-se destacar que, associado ao alto adensamento populacional, a falta de planejamento urbano contribui para uma multiplicação de problemas estruturais como a deficiência de equipamentos públicos para atender a população crescente”.

Foto: Bernardo Medeiros

A região do Bairro São Pedro é uma das que registra maior crescimento populacional em Juiz de Fora. Com isso, é também alvo de investimentos crescentes, desde os mais simples até grandes empreendimentos, como a construção do Bahamas Mix, que deve gerar dezenas de empregos. A localização da UniUFJF versidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a abertura de diversos condomínios são fatores O ensino da Universidade atrai muitas pesque ajudam a explicar essa ampliação da área. soas de outras cidades. As formas de ingresso No entanto, especialistas alertam que o incha- Sistema de Seleção Unificada (SISU) e Proço da região também traz problemas, como a grama de Ingresso Seletivo Misto (PISM) - fafalta de planejamento, que reflete diretamente vorecem isso. E muitos desses estudantes escono trânsito. lhem morar perto do local. De acordo com o Censo de 2000, a Região Natural de São João del-Rei, o estudante Urbana de São Pedro tinha pouco mais de 10 de Comunicação da UFJF, Pedro Augusto Fimil habitantes, mas a realidade atual é ainda gueiredo, veio para Juiz de Fora para estudar maior, como explica o coordenador do Labona Universidade. Inicialmente, ele morava no ratório de Demografia e EsBairro Bandeirantudos Populacionais da UFJF tes, mas decidiu (LADEM), Luiz Fernando “A população do bairro é mudar para São Soares de Castro: “Segundo pela procomposta por uma parce- Pedro o IBGE, o Censo Demográximidade, tendo fico de 2010 registrou uma la de universitários que nele mais comodidade e população de 16.400 habitanmoram, mas nem todos re- menos gastos com tes, sendo que 73% deste total censeados em Juiz de Fora e passagem de ônitêm idade entre 15 e 64 anos. bus. Sobre os serÉ importante, também, destasim em sua cidade de origem. viços apresentados car que a população do bairro A presença dessa população no local, ele afirma: é composta por uma parcela flutuante impacta de forma “Eu julgo que são de estudantes universitários e atensignificativa o número de re- excelentes que nele moram, mas nem dem às minhas todos recenseados em Juiz de sidentes, contribuindo para necessidades. Só os Fora e sim em sua cidade de bancos que talvez sua dinâmica econômica” origem. A presença dessa ponão tenham todos. pulação flutuante impacta de Não tem o Bradesforma significativa o número Luiz Fernando Soares co, por exemplo, e de residentes no bairro, conacaba me prejuditribuindo para sua dinâmica cando. Tirando isso, tem mercados por pereconômica”. Se for considerar toda a Cidade to, barbeiro, farmácias, açougue, opções para Alta, os números são ainda mais expressivos. lanches, lojas de roupa. Eu passo semanas sem De acordo com o Censo de 2010, essa região ter que ir no Centro e comprar alguma coisa. É somava quase 39 mil moradores, contribuinbem raro eu ter que fazer isso”.

A expansão na região do Bairro São Pedro faz com que atraia muitos investidores. Os investimentos em construções de empreendimentos na área devem chegar a R$ 37 milhões, conforme divulgado pela Prefeitura durante o ano. Uma delas é a do Bahamas Mix São Pedro. Com investimentos de R$ 15 milhões e previsão de inauguração para ainda este ano, a 21ª loja do grupo em Juiz de Fora deverá contribuir com muitos empregos e descentralizar o comércio no Centro da cidade. Comércio local Sérgio Costa de Paula, do Sindicomércio, justifica os investimentos: “A Universidade O aumento populacional tem grande impacabriu espaço. E o bairro tornou-se residência to na economia, que cresce em diversos setores, de muitos estudantes. Hoje, por conta da Cidacomo explica o superintendente do Sindicato de Alta ter avançado do Comércio de Juiz de Fora bastante em comér(Sindicomércio/JF), Sérgio ela começou a Costa de Paula: “Além de “Além de um comércio cio, receber investimenum comércio varejista bem varejista bem diversificado, tos imobiliários muidiversificado, materiais de to grandes. Pessoas construção, supermercados, materiais de construção, estão se mudando há uma agência bancária, que supermercados, há uma para Cidade Alta, o certamente vai atrair outras. agência bancária, que certa- que veio a fortalecer Tem muito tipo de comércio estrutura”. de interesse atrativo”. mente vai atrair outras. Tem todaHáessatambém inDono do Mercado Commuito tipo de comércio de vestimentos da Panprove, Luiz Didres está no gea Empreendimencomércio nessa região há 28 interesse atrativo” tos, com o intuito de anos e conta sobre a evoluconstruir um posto ção: “O comércio cresceu Sérgio Costa de Paula de combustíveis e muito, talvez quatro vezes um centro comermais, até pela população do cial, com previsão de aporte inicial de R$ 5 bairro ter crescido bastante nesse tempo”. Ele milhões, e da MRV Engenharia, na construtambém falou sobre o movimento em época de ção de empreendimentos residenciais na reférias ou de greve da Universidade: “Tem muigião, com investimentos de R$ 17 milhões. to estudante, funcionário que vem aqui. Então

Comércio da região vem crescendo para atender moradores e comunidade acadêmica

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CULTURA

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Crowdfunding: uma alternativa pa

O crowdfunding, também chamado de financiamento coletivo é mais uma ferramenta que surgiu na interface da internet. A plataforma colaborativa é uma oportunidade encontrada para viabilizar projetos de várias áreas (esporte, tecnologia, cultura e etc) . O termo crowdfunding surgiu em 2006. A ação acontece através de sites onlines, representando uma forte tendência colaborativa de produção e consumo. A dinâmica funciona através de trocas, que variam em cada projeto e em cada tipo de doação. As campanha podem ser flex (o dinheiro que for arrecadado fica para quem criou a campanha) ou tudo ou nada (se não conseguir o valor sugerido, o dinheiro volta para as mãos dos incentivadores do projeto). Por Victor Faria Os artifícios para exercer arte no Brasil surgem a partir de ideias e inovações do mercado. As crises econômicas que resultam em cortes de gastos tendem a prejudicar nacionalmente o cenário cultural. Os investimentos no setor são cortados, editais de leis são suspendidos e os artistas são os mais afetados. Diante desse cenário, buscar o financiamento coletivo tem sido uma das alternativas para artistas e grupos concretizarem seus projetos. O crowdfunding ou financiamento coletivo é uma proposta oferecida por algumas plataformas da web. Uma delas, o Benfeitoria, surgiu em 2011 como um site que aposta na maneira colaborativa de financiar ideias de diversas áreas. “Você estipula metas financeiras que deseja alcançar, define um prazo para a arrecadação (de 1 a 90 dias) e propõe diferentes faixas de colaboração financeira. Cada pessoa colabora com o quanto quiser/ puder e, para cada faixa de colaboração, é oferecida uma recompensa em troca. Essa recompensa pode ser simbólica, pode ser produto ou uma experiência”, explica a assessora do Benfeitoria sobre o processo e funcionamento do financiamento na plataforma. O Catarse que também começou em 2011 é outra plataforma referência para realização do crowdfunding, que já viabilizou quase 6.000 projetos de artistas, designers, pesquisadores, gamers, cientistas, empreendedores e ativistas, somando 71 milhões de reais investidos em ideias. Só em categorias ligadas à cultura - literatura, fotografia, cinema e vídeo, teatro e dança, músicas, artes e quadrinhos - são mais de 3.000 campanhas beneficiadas. Mais de 50% dos

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projetos ligados à área cultural conseguem sucesso em suas campanhas no Catarse. Projetos relacionados a outros segmento não obtém tanto engajamento, as campanhas de ciência e tecnologia, design e moda e gastronomia não chegam a ter 30% das campanhas finalizandas com sucesso. No Benfeitoria propostas ligadas a arte e cultura também são as que mais recebem apoio, representando um terço dos projetos financiados. A plataforma define o crowdfunding como um conceito que vai além dos objetivos financeiros. “Acreditamos que o financiamento coletivo é uma oportunidade para viabilizar projetos porque, mais do que levantar recurso financeiro, é uma ótima forma para construir comunidade, engajar pessoas, divulgar o seu projeto e muito mais”

Tendência no cenário cultural de JF Em Juiz de Fora, muitos trabalhos artísticos foram e ainda são realizados graças à Lei Municipal Murilo Mendes de Incentivo a Cultura. Mas, no dia 18 de outubro a Funalfa anunciou que a lei seria suspensa em 2017, tendo o próximo edital previsto para sair somente em março de 2018. O superintendente da Funalfa, Rômulo Veiga alega que o não cumprimento do prazo ocorre por motivos financeiros e também para uma reformulação do edital. Segundo ele, “a atual crise econômica impede que a Lei seja aplicada da maneira que deveria. Além disso, fizemos um levantamento que mostra irregularidade nos editais da lei”. Ainda que a prefeitura afirme que a lei irá retornar no ano que vem, diante da situação econômica do país muitos artistas e produtores culturais temem o seu fim e buscam novas alternativas. O ator e diretor, Felipe Moratori já foi beneficiado pela Lei Murilo Mendes algumas vezes, com projetos de livros autorais e espetáculos teatrais. Mas ele destaca que o cenário atual de incertezas quanto às leis de incentivo foi um dos fatores que o fizeram recorrer ao financiamento coletivo: “A gente está em um período complicado para a arte, então já havíamos pensado em estratégias para sobreviver sem depender muito do poder público, por isso optamos pelo Foto: Victor Faria crowdfunding”, diz. A campanha que ainda está em andamento é para viabilizar um trabalho autoral da Cia Sala de Giz. O espetáculo “Terra sem acalento” tem como proposta inicial abordar temas relacionados à tragédia socioambiental ocorrida na cidade de Mariana (MG), em 2015. A cantora e compositora Uiara Leigo tem oito anos de carreira e já gravou dois CDs. O último intitulado “Meu Canto em segredo” foi lançado em 2015, sendo um projeto apoiado pela Lei Municipal de Incentivo Cultura - Murilo Mendes. No final de 2016, Uiara identificou no crowdfun-

Foto: Victor Faria

O que E´ Crowdfunding?

Foto: Divulgação Facebook/Obey!

Financiamento coletivo possibilita que artistas de Juiz de Fora tenham

Banda Obey Igor Santos - Vocal Ge Alvarenga - Baixo/Vocal Douglas Rodrigues - Guitarra Marcel Melo - Guitarra Lipe Tedeschi - Bateria Projeto: Finalização do CD Campanha: Finalizada, 132% do valor foi arrecadado Modo: Flex Meta: 4.500 Recompensas: CD, adesivo, pôster, camisa, pocket show e etc.

Luisa Moreira Cantora e compositora Projeto: EP “Todos os sonhos estão no vento” Plataforma: Catarse Campanha: Finalizada, 121% do valor solicitado foi arrecadado Modo: Tudo ou nada Meta/Valor: 8.000 Recompensas: Agradecimento, link para baixar o EP, ingresso para o show de lançamento, exemplar fisico do EP, botton com ilustração da capa, oficnas, aulas de canto, show e etc.

ding um outro método para arrecadar fun- do CD do grupo. Eles argumentam que a dos para o seus projetos. E foi essa ferra- campanha é um processo seguro, “várias menta que possibilitou a gravação do clipe bandas/artistas já conseguiram financiar de “Basta!”, música de trabalho do seu últi- campanhas dessa mesma maneira, o que mo CD. “Para o clipe, a ideia era lançar um traz segurança não só para banda como projeto para abastecer e divulgar o meu tra- também para quem está apoiando.” O fibalho através do audiovisual. “Basta” é uma nanciamento que ainda está em curso premúsica que fala de diversidade. O clipe foi tende arrecadar o máximo do valor pré-esrealizado através de muita sensibilidade e tabelecido. “É a campanha flex! No nosso caso, a oportunidade de gravar o segundo parceria”, comenta. Para Uiara Leigo, o financiamento cole- disco surgiu e nessas horas não dá para deitivo é uma forma de movimentar o cenário xar passar. Enquanto rola o financiamento artístico e independente. Ela acredita no coletivo nós estamos em estúdio gravando. potencial artístico de Juiz de Fora e refor- Aquela correria clássica do “faça você mesça que o crowdfunding é uma maneira do mo” de toda banda independente”, diz o aspúblico valorizar trabalhos de qualidade e sessor Herique Fávero. A opção pelo crowdfunding surgem por também uma forma dos artistas se sentirem apoiados “É muito importante saber que diversos motivos. A cantora e compositotem gente apoiando a sua carreira e apos- ra Luísa Moreira viaja para um intercâmbio em janeiro de 2018 e queria levar um tando no seu trabalho”. trabalho de divulA busca do financiamento coletivo tam“No financiamento coletivo gação autoral para Irlanda. Sem “grabém tem sido uma altodos saem ganhando. O na” o suficiente para ternativa para bandas independentes conseprojeto consegue levantar gravação do EP e já colaborado guirem se firmar no cefundos para acontecer, quem tendo para outros projenário musical. “A graapoiou leva seu prêmio e o tos, ela encontrou vação de um CD para uma banda indepen- site leva a porcentagem dele no financiamento coletivo uma soludente acarreta vários gastos extras. Não é um por disponibilizar o serviço.” ção para viabilizar Banda ETC o seu trabalho. A dinheiro que conseguicampanha do EP ríamos tirar facilmente dos nossos bolsos, então a nossa base de fãs “Todos os sonhos estão no vento” chegou foi importantíssima para finalização desse ao fim com 121% do projeto financiado. nosso trabalho”, conta o guitarrista da ban- “Uma divulgação divertida e um vídeo de qualidade ajudam no sucesso da campada Obey!, Douglas Rodrigues. A banda ETC também optou pelo finan- nha. Assim como a mobilização coletiva, ciamento coletivo para viabilizar o segun- que tende a dar força para que um trabalho


CULTURA

2017 novembro

ra tirar projetos culturais do papel

Foto: Victor Faria

Uiara Leigo Cantora e Compositora Projeto: Clipe da música autoral “Basta!” Plataforma: Catarse Campanha Finalizada, 100% do valor arrecadado Modo: Tudo ou nada Meta: 3.500 Recompensas: Agradecimentos, link do clipe antes do lançamento , CD “Meu canto é Segredo” au tografado”, pulseira, bate papo com a cantora , acústico exclusivo.

Foto: Victor Faria

Foto: Divulgação Facebook/ ETC

Foto: Victor Faria

m uma ferramenta para arrecadar fundos para realização de trabalhos

Felipe Moratori Ator, diretor, professor de teatro e coordenador do espaço Sala de Giz Projeto: “Terra sem acalanto”, espetáculo teatral - Cia Sala de Giz Plataforma: Benfeitoria Campanha: em andamento Modo: Tudo ou nada Meta: 7.550 Recompensa: Agradecimento, aulas de yoiga ou teatro, ingresso, livro de contos, aulas de circo, livro de dramaturgia, semestre de aula, um ano de aula.

Banda ETC (Etcoetera) Felipe Barut - Bateria Vínicius Ferreira - Baixo Eduar Fávero - Vocal e Violão. Projeto: Gravação do segundo CD Plataforma: Catarse Campanha: em andamento Modo: Flex Meta: 30.000 Recompensas: CD e ingresso para evento de lançamento

aconteça”, acrescenta a cantora juizforana. Os meninos da banda Obey também tiveram sucesso e um balanço positivo no final do fianciamento: “Ultrapassamos nossa meta de arrecadação, conseguimos gravar um CD de qualidade com valor investido, aproximando a base de fã e a mídia do nosso trabalho”, conta Douglas. Parte do valor arrecadado durante a campanha de financiamento coletivo fica para o site, porém cada plataforma estipula um valor. “Na Benfeitoria, é o realizador quem define a remuneração que vai destinar à plataforma, de acordo com a sua satisfação em relação ao nosso atendimento e com sua possibilidade financeira. Nós sugerimos uma comissão, mas cada realizador fica livre para definir qual a porcentagem do valor arrecadado que deseja destinar”, informa a assessora da Benfeitoria. Luisa Moreira que usou o Catarse para financiar coletivamente o seu projeto considerou o valor destinado justo e coerente. “O Catarse fica com 13% do valor da campanha. A porcentagem não foi negociada, a própria plataforma já estipula o valor. Eu já sabia da segurança do site e fiquei satisfeita com o suporte oferecido pelo Catarse, então considero o valor destinado ao site bem adequado.” Até hoje quase meio milhão de pessoas já apoiaram algum projeto no Catarse.

Um processo de troca

As recompensas são um grande atrativo para os fãs e incentivadores que apoiam os projetos inscritos nas plataformas. Esse foi mais um motivo que fez a banda ETC investir na ideia. “A escolha pelo financiamento coletivo se deu porque achamos que é um meio justo de monetizar um projeto. Os fãs contribuem previamente com a causa e recebem os prêmios depois.” O ator Felipe Moratori diz que as recompensas da campanha que pretende realizar para mais um espetáculo da Cia de teatro Sala de Giz foram pensadas a partir de algumas estratégias: “Além de camisas e do ingresso do espetáculo, pensamos em proporcionar experiências que pudessem aproximar as pessoas do nosso espaço, onde temos aulas de teatro e yoga. Em uma das categorias de doação, por exemplo, oferecemos uma aula experimental em outra categoria um semestre inteiro de aula.” Já a cantora e compositora, Luisa Moreira diz ter se inspirado em outras campanhas que deram certo para escolher as recompensas que fariam parte do seu projeto. Segundo Douglas Rodrigues, guitarrista da Obey, a banda estabeleceu vários tipos de troca a partir dos valores doado para campanha: “Disponibilizamos o CD antes do lançamento, pocket show, convite para festa de audição do CD, camisas exclusivas e canecas”. No geral, os artistas buscam através das recompensas agradar as pessoas que acreditam nos trabalhos realizados por eles. O crowdfunding é uma via de várias mãos, em que todos os envolvidos podem alcançar os seus objetivos, é o que alega os meninos da banda “ETC”, “No financiamento coletivo todos saem ganhando. O projeto consegue levantar fundos para acontecer, quem apoiou leva seu prêmio e o site leva a porcentagem dele por dispoO financiamento coletivo contribui para a finalização do primeiro CD da banda juizforana Obey! “A banda estava terminando o processo de composição do disco e começa- nibilizar o serviço. Tudo de forma simples. mos a pensar nas opções de gravação, de prensagem e construção do conceito e das artes do cd. Depois disso tudo decidido surgiu naturalmente a ideia de viabilizar os gastos Isso diminui muito a chance de erro/indo cd com a ajuda de quem acompanha a banda e estaria disposto a ajudar, daí veio a opção do financiamento coletivo” diz Douglas Rodrigues, guitarrista da banda. satisfação de alguma das partes”, enfatiza Henrique.

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ESPORTE

novembro 2017

Atletas que construíram suas carreiras em Juiz de Fora

Bia Ferreira, Giulia Aguiar, Felipe Roque e Alexandre Ank. Esses nomes têm conquistado esp importantes e buscam representar cada v Por Giulia Prata

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Foto: Giulia Prata

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O Brasil, conhecido mundialmente como o país do futebol, já revelou inúmeros talentos em modalidades esportivas, propriamente no futebol e em outras categorias, como vôlei, boxe e tênis, por exemplo. Eles saem de todos os cantos do país e Juiz de Fora tem sido uma cidade de grandes promessas do esporte. Todo atleta que pratica alguma atividade física profissionalmente aspira vôos mais altos. Ter o seu trabalho reconhecido é um dos objetivos que move todo o esforço depositado. É claro que aquele que se destaca só dá continuidade ao trabalho por ter talento. Mas esse não garante o sucesso sozinho e precisa ter ao lado uma grande carga de dedicação. O Jornal de Estudo decidiu contar a história de quatro atletas que construíram suas carreiras na cidade mineira e que têm ganhado importância no cenário nacional e, até mesmo, mundial. A seguir, conheça nomes que vêm tendo destaque e têm grandes chances de aparecer ainda mais na mídia.

O peso leve do Brasil - Bia Ferreira

Foto: Giulia Prata

Thiago Aguiar é irmão e treinador de Giulia. Como tenista, ele se orgulha do desempenho da atleta

Sergipe é bicampeão brasileiro, pai e treinador de Bia Ferreira. A filha pretende seguir seuspassos

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Beatriz Ferreira é baiana, de Salvador e se mudou para Juiz de Fora aos 13 anos. Hoje com 24, ela é considerada a grande promessa do boxe brasileiro neste ciclo olímpico que visa as olimpíadas de Tóquio em 2020. Mas, antes de falar do futuro, que tal voltar no passado e descobrir como começou a história dela com o boxe? “Acho que o boxe está no sangue, eu amo o que eu faço”. Essa frase de Bia resume o início de tudo. O pai dela, Raimundo Ferreira, conhecido como Sergipe, era pugilista. Isso fez com que Bia tivesse contato desde cedo com o esporte. “Quando ela tinha 4 anos de idade eu ensinava o boxe para os meninos da rua na garagem da nossa casa. A Bia ouvia o barulho, descia e entrava na brincadeira que acabou ficando séria. Hoje, ela é o peso leve do Brasil”, conta Sergipe que além de pai e fã, é também treinador da boxeadora. Ela luta na categoria até os 60 kg, peso leve e faz parte da Confederação Brasileira de Boxe (CBBoxe). Este ano tem sido promissor para a carreira de Bia, que viajou para quatro países com a responsabilidade de defender o boxe brasileiro, o que ela fez com maestria, trazendo três ouros e um bronze para a coleção de medalhas do nosso país. Segundo ela, “foi um grande presente ser chamada para fazer parte da seleção brasileira. Todo atleta sonha com isso, todos querem defender nossa bandeira lá fora. Isso é muito emocionante, uma sensação única e foi a realização de uma meta”. A baiana já conquistou títulos significativos e um dos mais importantes para ela foi ter sido campeã da América Latina. Mesmo com todo o talento, as coisas não são sempre fáceis para Bia que, em diversas vezes, já pensou em parar de lutar e comenta que “ser atleta no nosso país é muito difícil, tem que gostar muito. Temos que passar por muitas dificuldades”. Porém, Bia deixa transparecer que a magia está na maneira que você lida com as circunstâncias: “o boxe é a minha profissão, sou muito feliz por trabalhar com o que mais gosto, trabalho feliz o tempo todo”. A pugilista que há um pouco mais de uma semana sagrou-se campeã do III International Boxing Tournament “Balkan”, torneio internacional de boxe que aconteceu em Sofia, na Bulgária, está oficialmente de férias. Ela segue treinando, porém com um ritmo menor e retorna em janeiro para os compromissos com a seleção brasileira.


ESPORTE

2017 novembro

a ganham destaque no cenário nacional e internacional

paço na mídia e no cenário esportivo do Brasil. Eles ocupam lugares significativos em rankings vez mais a bandeira brasileira pelo mundo

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É muito comum as pessoas serem influenciadas profissionalmente por alguém da família. Giulia Aguiar é mais um exemplo de que a paixão pelo esporte está no sangue. Ela começou a acompanhar o irmão, Thiago Aguiar, que também é tenista, em torneios quando criança. A paixão surgiu daí e desde os 8 anos de idade a raquete é o instrumento que tem sido o meio de grandes conquistas de Giulia. Aos 16 anos, a carreira da adolescente já é repleta de torneios, entre eles brasileiros, sul-americanos e mundiais. Um dos últimos campeonatos foi os mais importante para ela, o Bahia’s Junior Cup, que fez com que Giulia passasse a integrar oficialmente o ranking mundial de tênis. “Foi muito, muito especial para mim, porque eu queria há bastante tempo fazer parte e conseguir essas últimas vitórias foi muito importante”. O irmão Thiago, que é treinador de Giulia há três anos, explica a importância de ocupar um grupo que, de acordo com ele, é realmente seleto: “Para se ter uma ideia, pelo menos nos últimos 20 anos que nós temos os registros, nunca nenhum juiz-forano ou juiz-forana chegou lá. São 2.700 meninas que integram esse ranking e ela já está na posição de 1.188°, o que quer dizer que ela já deixou mais de 1500 para trás. Ela tem apenas 16 anos, o ranking mundial é até 18, então ela tem potencialidade para crescer muito.” O próximo compromisso da tenista é no final deste mês no Paraguai, onde ela vai disputar dois torneios com o objetivo de virar o ano entre as mil melhores tenistas do ranking. Thiago fala sobre o sentimento e o desafio de ser irmão e, ao mesmo tempo, treinador: “É uma emoção realmente forte. Algo que no início foi difícil separar um pouco. Como a gente fica muito tempo junto, eu tenho que tomar cuidado sempre, agir da maneira adequada e saber em quais horas eu tenho que falar como irmão e em quais horas eu tenho que falar como treinador, o que requer bastante aprendizado. Eu digo que a gente sempre pode aprender e melhorar, mas eu acho que hoje depois de três anos estando com ela, eu consigo trabalhar melhor e separar um pouco mais isso. Mas, no fundo, é um grande orgulho e é uma oportunidade da gente conseguir ajudar com mais carinho ainda, com mais proximidade e, com isso, fazer com que ela se desenvolva e seja mais tranquila, tanto na vitória quanto nas derrotas.” Entre os grandes sonhos de Giulia, está o desejo de se profissionalizar como tenista e de jogar o Wimbledon, torneio de tênis mais antigo do mundo.

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A juiz-forana consideradas uma das melhores tenistas do mundo - Giulia Aguiar

O gigante de 20 anos - Felipe Roque Sabe aquela história comum de ter que dar início a exercícios físicos por estar acima do peso? Ela fez com que o juiz-forano Felipe Moreira Roque descobrisse seu grande talento: jogar vôlei. A carreira de Felipe começou na equipe Bom Pastor/UFJF e, segundo ele, foi um início complicado, por ter que conciliar o vôlei com estudo e trabalho. Foi à partir de 2014 que o atleta acredita ter começado a evoluir significativamente. “Eu tive uma evolução muito rápida de 2014 até hoje, acho que a dedicação foi muito importante no processo porque eu não tinha coordenação motora e isso que me fez chegar até aqui”, relata o jogador. Com isso, o Minas Tênis Clube, se interessou pelo talento de Felipe e negociou a sua transferência para o time. Lá dentro, sua evolução tem sido constante e ele exemplifica: “acho que minha maior conquista até hoje foi jogar a Superliga de titular mesmo ainda sendo juvenil. Principalmente porque alcancei essa posição através de trabalho duro”. Hoje, aos 20 anos e com 2,12m, além de defender o Minas, ele também compõe a seleção brasileira sub-21. Este ano, ele foi convocado para representar internacionalmente a seleção brasileira sub-23, que é comandada pelo também juiz-forano Giovane Gávio. “Estar na seleção é a realização de um sonho, poder representar o Brasil pelo mundo é uma experiência indescritível”, confirma Felipe sobre o que muita gente já imagina.

O exemplo de superação do mesatenista paratleta - Alexandre Ank Um nome que já está na mídia há um certo tempo e que promete continuar por um longo prazo é de Alexandre Ank. Que ele é um paratleta com destaque nacional muitas pessoas já sabem. Mas será que todas elas conhecem a história de superação do mesatenista? Aos 17 anos ele sofreu um acidente automobilístico, que fez com que ele ficasse paraplégico e o tênis de mesa foi capaz de reerguer Alexandre. “O esporte é primordial para mim. Desde criança eu pratico esporte jogando futebol, já joguei peteca, vôlei, handebol. Então é algo fundamental na minha vida”, ele ressalta. Porém, inusitadamente, o que fez com que ele se tornasse mesatenista foi a natação, o primeiro esporte que praticou após o acidente. Em uma competição de natação na cidade de Uberlândia, o paratleta acabou substituindo um participante da modalidade tênis de mesa. A sua participação rendeu-lhe o 3º lugar geral, fazendo-o desistir da profissão de nadador e enxergar o tênis de mesa com mais seriedade. Com 13 anos de carreira, depois de conquistar medalhas importantes, Alexandre Ank atualmente é o líder do ranking nacional após conquistar o primeiro lugar individual no Campeonato Brasileiro de Tênis de Mesa. Essas conquistas deram a ele a oportunidade de participar dos campeonatos Sul-americano e Parapan-americano, que vão acontecer do dia 20 a 24 de novembro e do dia 28 de novembro a 4 de dezembro, respectivamente, na Argentina.

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Sonho olimpico: o elemento que os une Quatro histórias únicas, envolvendo modalidades esportivas distintas e personagens ainda mais diferentes, mas que têm um objetivo comum: representar a bandeira brasileira mundialmente. Giulia Aguiar pela pouca idade ainda não idealiza a participação no evento esportivo mais importante do mundo, as Olimpíadas. Mas têm levado o nome do país para altos patamares. Felipe Roque deseja continuar evoluindo e, ao ser questionado sobre o seu grande sonho, não hesita ao responder: “Meu objetivo é poder defender o Brasil em uma olimpíada”. Já para Bia Ferreira e Alexandre Ank, cada passo dado é focado em Tóquio 2020. Bia, no momento é a grande promessa do boxe brasileiro e a cada resultado positivo se aproxima ainda mais do Japão. “Acredito que até 2020 Bia tem muito o que aprender e estes campeonatos europeus vão dar muita experiência para ela”, opina Sergipe. Para Bia, fazer parte desse evento é um sonho e ela deixa claro um dos grandes motivos que a faz desejar tanto esta participação: “quero fazer o boxe feminino ter mais valor no Brasil”. Cada degrau de Alexandre Ank também o aproxima das Paralimpíadas. As competições que ele participa são fundamentais neste ciclo paralímpico. Em cada uma delas, ele soma pontos no ranking que define a sua participação em Tóquio 2020. O sonho é óbvio, conquistar uma medalha paralímpica individual. Quatro personagens, esportes diferentes e histórias de vida e dedicação que mostram que a colheita só é produtiva quando os frutos são bons.

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COMPORTAMENTO

novembro 2017

Mulheres assumem cabelos naturais e quebram padrões estéticos Crespas e cacheadas abandonam químicas de alisamento, desenvolvem e aprimoram técnicas de cuidados capilares e vão em busca de reconhecimento e aceitação Por Viviane Dalathezi e Júlia Garcia

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Falar sobre cabelos é mais do que mostrar cesso de transição e aceitação resolveram expor as tendências de cores, cortes e penteados para suas experiências e compartilhar informações a próxima estação. Se tratando de cabelos casobre técnicas e cuidados. Além dessa troca, há cheados ou crespos então, a discussão pode ir o discurso de empoderamento e reafirmação de muito além do óbvio. Na seção de comportaidentidade. Alguns canais tentam falar não somento desta edição do Jornal de Estudos, vamente com quem está passando pelo momento mos falar sobre como as mulheres negras vêm de transição ou já possui os cabelos naturais, assumindo suas raízes e se valorizando a partir mas também com pessoas que lidam diretada aceitação dos cabelos naturais. mente com crianças pequenas, na tentativa Você leitor já deve ter reparado no crescente de fazer com que essas cresçam empoderadas número de cacheadas e crespas andando pelas e cientes de que não precisam se encaixar em ruas nos últimos anos. Mulheres que durante padrões pré estabelecidos para serem aceitas. muito tempo foram escravas de padrões sociais Esse trabalho é importante pois muitas pessoas historicamente impostos, onde apenas cabelos não encontram apoio dentro de casa ou na roda lisos, sem nenhum fio “desalinhado” e com o de amigos, e a internet vem como aliada para mínimo de volume possível eram considerados não deixá-las passar sozinha por esse momento bonitos. Na tentativa de se encaixarem e serem muitas vezes complicado. aceitas, muitas garotas lançaram (e ainda lanNa mesma pegada, diversas marcas começaçam) mão de produtos químicos que mudam a ram a mudar o discurso padronizado de “cabeestrutura dos fios, abrindo os cachos para redulos domados”, “volume controlado” e começazir o volume ou alisando-os por completo. ram a prestar atenção nas crespas e cacheadas, A estudante Caroline Gerhein é um exemrespeitanto estrutura e formas naturais dos fios. Foto: Júlia Garcia plo dessa realidade e conta que começou a Adelina Barreto, subgerente de uma loja de cosrelaxar os cabelos ainda criança, na tentativa méticos contou que, hoje, praticamente todas as Carolina Lemos assumiu os cabelos quando a transição capilar de controlar o volume sem perder os cachos. marcas vendidas no local têm alguma linha de ainda era pouco discutida Um tempo depois, não satisfeita, entrou na produtos específicas para cachos. Segundo ela, moda da escova progressiva e passou a deixar a procura é crescente e todos os dias surgem os cabelos totalmente lisos. Foi sua mãe quem novidades. a levou no salão para fazer a primeira quími- meses que se seguiram nem tanto...” Luiza con- mos nosso crespo e dizemos que sim, nos aceiA vendedora da mesma loja, Carolina ca. “Fiquei nesse processo dos meus 11 até os tou que foi difícil se acostumar com o cabelo tamos, queremos nos revelar enquanto negros Lemos, também é cacheada e contou que, 15 anos, que foi quando decidi parar e deixar natural após seis anos de química. Mas ela teve e negras, caminhar com nosso corpo negro, além da procura por ativadores de cachos e meu cabelo voltar ao natural”. Carol explicou o apoio de uma amiga da faculdade: “Ela me com nossas características negras, nosso cabelo hidratações, hoje as pessoas buscam também que nem as químicas resolviam os problemas ajudou muito nesse aspecto. A gente começou a carrega nossa história, nossa memória, nossa o pente-garfo para dar volume ao cabelo. de autoestima: “Antes não achava que meu ca- sair mais, e ela adorava meu cabelo. Acabei co- ancestralidade.” “Todo mundo quer cabelo para o alto agora”, belo era certo ou que ele se encaixava, e isso meçando a usar ele mais solto e a me acostumar comenta. Carolina também destaca que as era horrível para mim... Eu nunca me sentia mais com ele. Aprendi a gostar dele como ele é A internet como aliada e o pessoas estão buscando mais informações so100% bem com ele quando alisava. Hoje me mesmo, buscando menos a perfeição.” oportunismo das marcas bre novas técnicas e cuidados com os cabelos, dou super bem com meu cabelo”, afirma. Caroline Gerhein também disse estar satiscomo o “No Poo”, “Low Poo” e “Co-Wash” Nos últimos anos, o crescimento e a rapi- feita com seu cabelo natural e enfatizou a imA partir desse crescente movimento de va- (ver significados abaixo). Ela pesquisa sobre dez da troca de informações através das redes portancia da aceitação como forma de resis- lorização, surgiram diversos blogs e canais no tudo para ajudar os clientes e além disso divigerou um aumento no conhecimento e abriu tencia: “Parar de alisar é se libertar realmente, YouTube com objetivo de discutir o tema. Me- de suas experiências pessoais em uma página os olhos de muitas mulheres que começaram parar de lutar com você mesma e com o que ninas negras e crespas que passaram pelo pro- no Facebook: Coisas de Carol. a nadar contra a corrente e assumir seus ca- há de lindo em cada mulher. Mais que cabebelos, suas raízes, suas origens. Mas, junto a lo, é a essência única de cada uma de nós. (...) isso, surgiu uma segunda dificuldade em suas Várias mulheres já perderam seus cabelos por dicas da especialista vidas: a transição capilar. A transição capilar conta de processos químicos, isso abala a auConversamos com a cabelereira Sandra Aparecida Correa, dona começa no momento em que é tomada a deci- toestima... Então acho que esse movimento de do salão Beleza das Raças, localizado no centro de Juiz de Fora. Sansão de abandonar os processos químicos reali- afirmação da beleza negra como ela é se torna dra deu dicas de cuidados para quem deseja assumir o cabelo natural. zados nos cabelos e termina quando o último importantíssimo para o crescimento da socieDe acordo com ela, uma coisa indispensável tanto durante a transição, quanto depois dela (e para sempre) é manter uma boa rotina de hidratações. São elas que trazem resquício dessa química é redade e combate e resistência ao saúde para os fios e permitem que eles cresçam de maneira saudável, com brilho e matirado através do corte. Aliás, preconceito.” ciez, além de garantir a facilidade nos cuidados do dia a dia. Sandra ainda ressaltou que “Nosso cabelo o corte é a única maneira de Já Luiza acredita que mesmo é importante manter o corte em dia para dar forma ao cabelo. Outra dica para quem está em retirar o alisamento químico. com essa quebra de padrões esé afirmação da transição são as tranças, que ajudam a disfarçar a diferença de texturas comum no períCaroline Gerhein passou téticos ainda há um grande caodo. O salão de Sandra também oferece penteados especiais para as crespas e cacheadas. identidade negra, é pelo processo com tranquiminho a ser percorrido pelas lidade, como ela mesma des- representatividade, negras: “Acho que estamos em tacou: “Foi bem tranquilo. Eu uma espécie de falso empodeé orgulho e é ^ ´ não cortei de uma vez só, eu ramento, não tomamos o poder Glossario voce sabe o que poder. Por isso fui cortando aos poucos até de nada. Aceita-se cabelos cacacheado significa candace? chegar ao ponto de tirar todo assumir o cabelo cheados perfeitos e demoniza-se o resto de química. Quando cabelos crespos. Há um caminho Candace era um título atribuído a crespo é ação decidi deixar meu cabelo naárduo a seguirmos...” bc - Abreviação de “Big Chop” ou “Grande uma espécie de dinastia de mulheres Corte”. É o corte que retira toda a química tural, eu estava muito certa A psicóloga Gilmara Santos política” guerreiras que detinham o poder do presente no cabelo. do porquê eu estava fazendo, Mariosa é negra, crespa e coorreino de Meroé, no sul do Egito, pouco tempo ~ e tinha muito significado.” transicao capilar - Período entre a antes da era cristã, formando uma sociedade Gilmara Santos denadora de formação de uma Se para ela foi tranquilo, organização de mulheres negras decisão de abandonar os processos químicos matrilinear. Em Atos 8, no Novo Testamennem todas têm a mesma sore a retirada de toda a química do cabelo. de Juiz de Fora chamado Canto da Bíblia, o título é citado quando Filipe, o te. Um exemplo é a estudante Luiza Rodrigues, daces. O grupo propõe discussões e transmite Evangelista, encontra uma chefe dos tesouros no poo - Técnica que abole o uso de 20, que começou a usar química nos cabelos conhecimentos relativos a questões raciais e de “Candace, rainha dos etíopes”, cujo nome produtos capilares com sulfatos, petrolatos e aos 11 anos de idade e aos 14 percebeu que ele de gênero através de oficinas, palestras e ronão foi mencionado no texto. Importante essilicones insolúveis em água. começou a cair muito. Depois de alguns anos e das de conversa. As ações do grupo acontecem clarecer que na Antiguidade, o termo Etiópia low poo - Técnica que abole o uso de muitos cortes na tentativa de reparar os danos, em eventos da cidade organizados por elas ou era utilizado para denominar a região onde se produtos capilares com sulfatos e petrolatos. Luiza resolveu voltar ao cabelo natural. Com 17 em outros para os quais elas são convidadas. situavam os povos negros do continente africaanos passou pela transição capilar. “Foi meu pe- Gilmara reafirma a importância da aceitação no, o que poderia se referir à Núbia do sul do co-wash - Método de higienização dos ríodo estético mais difícil. Durante a transição, do cabelo cacheado e crespo não só como uma cabelos com condicionadores apropriados. Egito e ao Sudão. Para saber mais sobre o trabatentei o máximo usar o cabelo escovado, o que questão estética, mas também como uma ação lho realizado pelas Candaces em Juiz de Fora é pente garfo - Pente utilizado para dar me atrapalhou bem quando fiz BC (corte para política: “Quando assumimos nosso cabelo e só buscar por Candaces - Organização de Muvolume, principalmente, aos cabelos crespos retirar toda a química do cabelo). Fiz meu BC deixamos o cabelo alisado, relaxado, estamos lheres Negras e Conhecimento, no Facebook. (o que Carolina segura na foto). em dezembro de 2015, depois de 11 meses em dizendo não ao embranquecimento ao qual sotransição. O momento foi libertador, mas os mos submetidas desde que nascemos. Assumi-

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ESPECIAL

novembro 2017

Educação midiática na formação de uma sociedade democrática

II Congresso Internacional de Competências Midiáticas trouxe resultados e discussões sobre a educomunicação Foto: Camilla Marangon

Por Camilla Marangon O II Congresso Internacional sobre Competências Midiáticas, sediado na Faculdade de Comunicação (Facom) da UFJF, teve representantes de mais de seis países e trouxe importantes discussões sobre educação para as mídias. Alunos da graduação, do mestrado e os professores da faculdade trabalharam em conjunto para que a realização do evento fosse possível. Os participantes tiveram a oportunidade de compartilhar suas pesquisas e trocar experiências. O evento contou com profissionais das áreas de comunicação e educação, e nomes importantes estiveram presentes. Discutir e pesquisar sobre a educação para as mídias é importante no contexto atual em que grande parte das pessoas estão conectados às redes. Cada vez mais cedo, as crianças são inseridas às tecnologias. Aprender a manusear e obter uma reflexão crítica sobre os conteúdos consumidos é fundamental para o empoderamento dos cidadãos. Este estudo possui diferentes denominações, uma delas é Literacia Midiática. A denominação significa ensino e letramento sobre as mídias.

Conferência de abertura com o pesquisador espanhol Ignacio Aguaded

Jose Ignacio Aguaded Gomez

Foto: Camilla Marangon

Ignacio Aguaded é o coordenador internacional da Rede Alfamed (Rede Interuniversitária EuroAmericana de Investigação sobre Competência Midiáticas para a Cidadania) e foi o responsável por conduzir a palestra de abertura do evento, trazendo dados sobre as últimas pesquisas realizadas pela rede e discutindo a realidade atual dos cidadãos diante as mídias. Ele é doutor em psicopedagogia, é professor na Universidade de Educação e Comunicação de Huelva, na Espanha, e é editor chefe da revista científica de educomunicação Comunicar. Aguaded conta que existiam diversos grupos que estudavam Competências Midiáticas e a Rede Alfamed foi uma forma de trabalhar colaborativamente, juntando 13 países. “Os meios de comunicação estão muito presentes na vida de todos os cidadãos, mas não existe uma formação para o consumo e seu uso, de maneira que prevalece um consumo muito mecânico, automatizado e massivo. E portanto, a conclusão do estudo realizado recentemente pela Rede, mostra que é preciso uma educação dos meios para a formação em competências midiáticas”, ressaltou. A partir dos resultados os investigadores da Alfamed devem fazer projetos e ações

que trabalhem na prática com a realidade encontrada, promovendo a educação sobre a mídia. A revista da qual faz parte, Comunicar, está realizando um conjunto de atividades vinculada com as competências midiáticas. Um dos projetos chama “Educlips” que consiste em clipes audiovisuais feitos por universitários com objetivo de desenvolver a criatividade e incentivá-los a pensar como utilizar a tecnologia de forma inteligente. Outro projeto desenvolvido é um curso online, aberto e gratuito, visando formar professores em competências midiáticas. “Para construir uma sociedade realmente democrática os cidadãos precisam ser livres, participativos, críticos e inteligentes. É fundamental desenvolver as competências midiáticas”, pondera Ignacio Aguaded. Para alcançar essa sociedade, ele considera imprescindível a formação de educadores e comunicadores conscientes, que saibam manusear as tecnologias e utilizá-las de forma plena. “Inovar a educação é também uma estratégia, porque nossa educação está muito focada no passado. Hoje, o importante não é somente o acesso a informação, mas saber processá-la”, complementa.

Agustin Garcia Matilla

Foto: Camilla Marangon

Agustin Garcia é um dos pesquisadores propulsores da Educomunicação na Espanha, participa de pesquisa na Universidade Carlos III de Madrid e na Universidade de Valladolid, investigando sobre audiovisual e hipermídia, e sobre a televisão pública. Seus últimos estudos apontam que existe um interesse cada vez maior nesse conceito de alfabetização midiática: 60% dos entrevistados consideraram necessário essa formação porque os cidadãos estão pouco formados na educação comunicativa. E entre os profissionais da área, 40% disseram precisar se atualizar devido às mudanças tecnológicas que aconteceram. “É fundamental que levemos em conta a sensibilidade dos receptores das mensagens. O espectador jovem, por exemplo, não aguenta grandes durações de conteúdos audiovisuais. É importante que haja uma estratégia de preparação do consumidor para ver os materiais audiovisuais, é preciso um treinamento para que ele se torne um espectador crítico”, pontua Agustin. Nesse contexto, ele ressalta a importância da formação para todas as idades, ao mesmo tempo em que as produções também precisam se adaptar à

realidade das redes. Devido às transformações no processo comunicacional, o pesquisador aponta que até o conceito de qualidade tem mudado. De acordo com Agustin, a televisão está em crise, a maior parte dos telespectadores tem mais de 50 anos, por isso é preciso pensar em formatos inovadores que atendam às novas gerações. Existem países onde são vinculados informativos especificamente para crianças e jovens, o objetivo é educar essas pessoas criticamente através de grandes temas que podem preocupar o mundo e outros temas próprios da juventude que não estão incluídos na programação normal da televisão. “É importante que os jovens se tornem produtores de televisão que reivindicam uma televisão que pode ser vista também nas redes sociais. O conceito de transmídia nesse contexto se torna essencial porque é preciso pensar em suportes múltiplos, a emissão televisiva é a ponta do iceberg mas tem que se pensar como levar esse programa para as redes, para o impresso e outros meios”, explica Agustin.

Renato Luiz Pucci Junior

Foto: Camilla Marangon

Renato Pucci é doutor em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e pesquisa sobre a ficção e análise televisiva, literacia midiática, interface entre cinema e televisão. Também desenvolve o projeto de pesquisa “A inteligência na TV: as Narrativas de Investigação”. Sobre os produtos midiáticos, ele destaca que é importante que o espectador tenha capacidade de discernir o que fazer e ter faculdade cognitiva para discernir que caminho seguir. As séries são produtos audiovisuais muito assistidos atualmente. Sobre o seriado House, que é um de seus objetos de estudo, Pucci comenta: “é bem articulado, com diálogos racionais, mostra como ocorre um debate de verdade, com uma complexidade muito grande e argumenta-

ção lógica. Um público imenso foi exposto a isso e não sabemos o resultado. Se fosse na vida real, as pessoas não conseguiriam acompanhar e provavelmente se sentiriam entediadas. Mas ao meu ver essa série tem uma construção audiovisual que facilita o acompanhamento e consegue prender a atenção”. Ele sugestiona que falta fazer um questionário para descobrir se a exposição a essa série permite algum tipo de aprendizado em termos de pensamento crítico. “As pessoas deveriam conseguir assistir uma série e realmente entender, ao invés de ficar numa mera impressão de que entendeu. Talvez assim pudessem aumentar as ferramentas cognitivas para que, inclusive, esse conhecimento adquirido possa ser transferido para a vida”, acrescenta Renato Pucci.

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ESPECIAL

2017 novembro

Luta e Cidadania em pauta

Evento na Facom debateu o acesso à informação e cidadania

A XII Conferência Brasileira de Mídia Cidadã foi realizada na Faculdade de Comunicação da UFJF entre os dias 25 e 27 de outubro. O evento reuniu pesquisadores e comunicadores que lutam pela democratização da informação e uma comunicação voltada para a defesa de uma sociedade igualitária. Segundo a professora da Faculdade de Comunicação Cláudia Lahni, que ministra a disciplina Comunicação Comunitária e foi uma das coordenadoras do evento, o tema principal da conferência, “O direito à comunicação na luta por uma cidadania ativa” é pertinente no momento político brasileiro. “Queremos saber de que cidadania estamos falando, uma cidadania ativa e democrática, entendida como exercício de direitos e luta pela manutenção e ampliação desses direitos”, ressalta. Entende-se por mídia cidadã, uma mídia que priorize a pluralidade de vozes e o acesso à informação, além disso, que se preocupe com a inclusão, formação e exercício da cidadania. Uma comunicação representativa se faz essencial em um momento onde o conservadorismo ganha espaço no cenário nacional. Acima de tudo, fazer comunicação comunitária é impedir o retrocesso na luta por espaço e participação política. Na programação do encontro, foram apresentadas mesas de discussão, painéis temáticos e apresentações de pesquisas pertinentes ao tema principal, além de uma mostra de vídeo e exposições fotográficas. Confira alguns nomes que se destacaram na conferência.

Foto: Matheus Moreira e Leo Barbosa

Por Matheus Moreira

Vice-reitora Girlene Alves da Silva esteve presente na palestra de abertura da conferência

Foto: Arquivo pessoal Cicilia Peruzzo

Cicilia Peruzzo Cicilia Maria Krohling Peruzzo formou-se em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas, pela Faculdade de Comunicação Social Anhembi, mestrado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo, doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado na Universidade Nacional Autônoma do México. Em suas pesquisas, se dedicou ao exercício da cidadania e movimentos sociais por meio de uma comunicação comunitária e alternativa. “É importante a gente pensar justamente em uma cobrança dos meios de comunicação para uma postura ética na sociedade, [...] todas as vozes precisam ser representadas, ter um espaço na sociedade sem essa visão de criminalização dos movimentos sociais”. Foi presidente da Intercom de 1999 a 2002, vice-presidente da Federação Lusófona de Ciências da Comunicação e coordenadora do GT Comunicación Popular, Comunitaria y Ciudadana, da Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación, e do GT Comunicação e Cidadania, da Associação Brasileira de Programas de Pós-Graduação em Comunicação. É coordenadora da Rede Confibercom de Revistas Científicas de Comunicação, do Núcleo de Estudos de Comunicação Comunitária e Local e do Fórum de Publicações e Difusão do Conhecimento da Confibercom, além de ser membro do Comitê Acadêmico da Cátedra Luis Ramiro Beltrán de Comunicación para el Bien Vivir, do Ciespal. Segundo Cicilia, a comunicação comunitária participa ativamente na construção da identidade de movimentos sociais, “ela acaba sendo os meios, os canais, os veículos para trazer essas outras vozes, é uma forma de democratizar a informação a partir de outras visões de mundo, por outro lado é uma forma desses meios estarem concretamente ligados às lutas sociais. A gente não pode ver a comunicação comunitária simplesmente como instrumento, porque ela participa de processos de mobilização e nesse sentido ela contribui também para a mudança.”

Bruno Fuser possui graduação em Jornalismo (1981), mestrado em Ciências da Comunicação (1992) e doutorado (1998) também em Ciências da Comunicação pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Pós-doutorado em 2005-2006 na Universidade Autônoma de Barcelona, estágio pós-doutoral na Universidade de Guadalajara em 2011. Coordenou o Núcleo de Pesquisa Comunicação para a Cidadania, da Intercom (2007-2008). Desde 2006 é professor efetivo da Faculdade de Comunicação da UFJF. Nesse ano assumiu a coordenação da área de comunicação da ABAN, Associação dos Amigos, entidade sem fins lucrativos de combate à miséria de Juiz de Fora. Dedica-se a temas como comunicação comunitária e democratização da comunicação, e ao lado da professora Cláudia Lahni, lideraram a organização da XII Conferência Brasileira de Mídia Cidadã. A conferência acontece em um momento político conturbado, onde uma onda de forte conservadorismo varre o país, segundo Bruno “é importante que em momentos de crise política como esse, a gente discuta e que se reúnam pessoas, grupos e entidades que tenham interesse, que defendam a democracia e uma sociedade justa e igualitária. E que defendam que não se percam esses direitos duramente obtidos em décadas de luta.”

Foto: Matheus Moreira e Leo Barbosa

Bruno Fuser

Foto: Matheus Moreira e Leo Barbosa

Adenilde Petrina

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Formada em Filosofia pela UFJF em 1974, Adenilde Petrina Bispo é referência na luta do movimento negro e da periferia em Juiz de Fora. Moradora do bairro Santa Cândida, participou ativamente na luta por direitos como saneamento básico, transporte público e luz elétrica no bairro. Entre 1997 e 2007 atuou na rádio comunitária do Santa Cândida , a Rádio Mega, que dava voz e visibilidade às demandas dos moradores do bairro, da qual foi coordenadora de 2001 até o seu fechamento. Após o fechamento da rádio pela Anatel em 2007 integrou a criação do Coletivo Vozes da Rua, “como a gente não tinha mais a rádio, nós íamos estudar e levar informação para outras pessoas, porque nós entendemos que a gente tinha que fazer comunicação de guerrilha. Somos guerrilheiros”. A luta pela voz da periferia e direito à informação foi reconhecida em 18 de agosto de 2017. Foi concedido à Adenilde Petrina Bispo o título de Professora Doutora Honoris Causa, pelo seu trabalho na luta pela democratização da comunicação. “Nós não vamos continuar fortalecendo essa mídia corrupta, nós vamos criar os nossos meios alternativos de comunicação [...] mostrar como a gente está sendo futilizado por uma classe dominante, e como a mídia é o braço direito dessa classe dominante que não quer que a gente lute pelos nossos direitos. Porque infelizmente a sociedade ainda é dividida em casa grande e senzala, e nós da periferia somos a senzala.”


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