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A segunda viagem

Por Edgard Abbehusen

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Ser pai de segunda viagem é uma aventura tão bonita e intensa quanto a primeira viagem

Jamais aceitei romantizar o fato de ter sido pai muito cedo, apesar de ter sido uma das minhas experiências mais intensas, edificantes e até hoje mais bonitas. Letícia é o meu maior orgulho. Foi com ela a minha paternidade de primeira viagem e embarquei nesse mundo tão denso e dramático, mas também tão amável e prazeroso, que é cuidar e participar. Ser presente para o meu maior presente da vida, como costumo dizer o significado que o nascimento dela tem para o meu coração.

Treze anos depois eu sou convidado pelo tempo e pelo amor a embarcar em uma nova jornada: a segunda viagem. No meio de uma pandemia, em um ano tão complexo e tão difícil para tantos, Mateo chegou em casa quase de surpresa em um final de domingo de um final de junho ‘obedecendo às regras do isolamento social’, brinca a sua mãe, a minha amada Jéssica.

Mamãe Jéssica com o Papai Edgar, no primeiro ensaio fotográfico do pequeno Mateo

Fotos divulgação

Lembro que acordei no dia seguinte ainda abatido pela tensão, me olhei no espelho e pensei: agora eu vou falar com ‘meus filhos’ para as pessoas. Foi o meu primeiro pensamento. Filhos no plural. Duas vidas, dois amores. Meu pai dizia que um filho sempre parecerá perdido aos olhos dos pais, não importa a idade que tenham. É a sensação de proteção. A divina sensação de querer mostrar um caminho e querer se fazer presente.

Pensei em tudo. Em como começar a criar um filho ao lado de uma filha já adolescente. Como seria essa experiência vivenciando os dois extremos de uma paternidade. A primeira saída com as amigas de Letícia, os primeiros foto divulgação passos de Mateo. O primeiro namoradinho de Letícia e as aventuras e descobertas do mundo aos olhos de Mateo. Tudo acontecendo ali diante dos meus olhos e diante da minha responsabilidade. Pensei também na pandemia. Nas suas consequências e como aquilo afetaria o meu trabalho e, obviamente, a minha nova vida. Pensei no meu processo de desconstrução do machismo, que ainda precisa de muito estudo, leitura, entendimento e vontade de escutar.

As primeiras vinte e quatro horas após o nascimento de Mateo passou tudo isso na minha cabeça preocupada. Um filme sobre passado, presente e futuro. Eu comecei a querer identificar onde errei com Letícia para tentar acertar com Mateo. E buscar os acertos com Letícia para repeti-los com Mateo. Uma confusão que só o tempo foi capaz de reorganizar no meu coração. É que não basta ser pai. É preciso querer ser.

Sua filha Letícia presente em todos momentos

De pai para filho!

Quando penso em meu pai, meu coração é só amor e gratidão por tudo o que ele me proporcionou. E não estou falando de bens materiais. Estou falando de afeto. De abraço. Do carinho que ele demonstrava, do jeito dele. Quando penso no futuro, quero ser presença nos pensamentos dos meus filhos como o meu pai é presente no meu.

Se você é pai e chegou até aqui agora, neste texto, pense nisso. Participe da vida dos seus filhos. Seja parceiro da sua companheira na criação dos seus filhos ainda que a relação tenha terminado. Nenhum bem material, nenhuma viagem ou presente vai compensar a falta de afeto. Queira ser pai. De todo o coração. Com todas as forças. Do seu jeito, mas queira ser e seja PAI.

Edgard Abbehusen, jornalista, escritor e palestrante. É criador de textos, frases e crônicas autorais que tocam o coração de muitas pessoas. Atualmente lançou o seu livro ‘Acredite na sua capacidade de superar’, que já conquistou uma legião de leitores.

@edgardabbehusen

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