Edson Cruz Poemas
Sambaquis S贸 um ser at么nito feito um deus absorto em meu rosto gotas de um mar morto
Solo un ser at贸nito como un dios absorto en mi rostro hay gotas de un mar muerto
Palimpsesto toda poesia já escrita não se equipara a toda poesia inscrita a poesia jaz
Palimpsesto toda poesía ya escrita no se equipara a toda poesía inscrita la poesía yace
Tombo anuros de etimologia obscura mergulhos em tanques imundos sapos coaxando ali tudo à revelia de mim apupos n’alma
Caída anuros de etimología oscura zambullidas en estanques inmundos sapos croando allí todo se rebela contra mí injurias en el alma
Insígnia habito este mundo ave do paraíso sem pernas rascunho que não pousa nunca
Insignia habito este mundo ave del paraíso sin piernas borrador que no posa nunca
Feitiço algo assim tão inatural que chega a ser outra natureza algo sim não mais factício por demais tal coisa feita que de tão artifício vira arte vira livro vira ofício
Hechizo algo así tan innatural que llega a ser otra naturaleza algo sí no más facticio por demás tal cosa hecha que de tan artificio se convierte en arte se convierte en libro se convierte en oficio
Gonfotérios na Paulista quando os helicópteros tomarem os céus de assalto e não houver espaço para mais arranha-céus arranharem a nervura dos pés de Júpiter sairei pela Paulista nu e mijarei na vitrine de todas as lojas de roupas masculinas quando Hollywood invadir a tela de meu micro e não houver mais tempo para que o ouvido escute o soar das libélulas em cópula me tornarei um vírus paraguaio e sedento a infectar jovens virgens e sardentas quando tudo que criamos der em nada e meus sonhos mais malucos couberem num grão de chip Made in India vestirei minha máscara de gonfotério e sairei por aí a procurar alfaces cultivados em bacias d’água tudo isso farei ao som de um mantra tão exótico que a solidão dos seres vibrará em uníssono supersônico e arrasará o que ainda restar de escombros e sonidos
Megaterios en la Paulista cuando los helicópteros tomen los cielos de asalto y no haya espacio para más rascacielos arañen los nervios de los pies de Júpiter saldré por la Paulista desnudo y mearé en la vitrina de todos los negocios de ropas masculinas cuando Hollywood invada la pantalla de mi computadora y no haya más tiempo para que el oído escuche el sonar de las libélulas en cópula me tornaré un virus paraguayo y sediento a infectar jóvenes vírgenes y pecosas cuando todo cuanto creamos se vuelva nada y mis sueños más locos quepan en un grano de chip Made in India vestiré mi máscara de megaterio y saldré por allí a conseguir lechugas cultivadas en tazones de agua todo eso haré al son de un mantra tan exótico que la soledad de los seres vibrará a un supersónico unísono y arrasará con lo que todavía quede de escombros y sonidos
Linguagem outeiro criado de acúmulos tegumentos enrijecidos essências exteriorizadas depósito antiqüíssimo de coisas que não deterioram plástico cheio de esperma restos que não evaporam interiores de madrepérola coisas não transformadas em objetos de adorno palavras não específicas lamelibrânquios lâmina branca de sentidos forno onde se calcina a cal da memória fábrica de desmundos mijos de civilizações tudo que o tempo não esquece nem se envaidece
Lenguaje otero creado de cúmulos tegumentos enrigidecidos esencias exteriorizadas depósito antiquísimo de cosas que no deterioran plástico lleno de esperma restos que no evaporan interiores de madreperla cosas no transformadas en objetos de adorno palabras no específicas lamelibranquios lámina de sentidos horno donde se calcina la cal de la memoria fábrica de desmundos meos de civilizaciones todo lo que el tiempo no olvida ni envanece
Ouriço nenhum mulato negro índio nem esta nódoa nativa, mula das índias ocidentais nada com a cor de piche melhorada em pixels neca de pepitas douradas nenhures nonada zero em exercer exercitar se excitar nulo deste aguadouro viscoso seiva preciosa de vida escoada a conta-gotas chega deste papo besunto arranjo de flores tardias aulas, estórias, assuntos assuntos a luz dos dias chega de aulas de história realidade feliz que não chega chega.
Erizo ningún mulato negro indio ni esta mancha nativa, mula de las indias occidentales
nada de color de brea mejorada con pixeles nada de pepitas doradas en ninguna parte, nadería cero en cuanto a ejercer ejercitarse excitar nulo de este alquitrán viscoso savia preciosa de vida filtrada a cuentagotas llega de esta conversación pringosa arreglo de flores tardías clases, rumores, asuntos asuntos a la luz de los días llegan de la clases de historia realidad feliz que no llega llega.
Nanquim palavra que não se faz ludo em configurações sutis na pele luminosa que não prefigura realidades transcendentes espaços paralelos superpostos palavra que não lavra universos numerados até o fim páginas que se desdobram infinitas são rastros de tinta em si restos de tinturaria de tipos lixos disfarçados de nanquim
Tinta china palabra que no se hace juego en configuraciones sutiles sobre la piel luminosa que no prefigura realidades trascendentes espacios paralelos superpuestos palabra que no labra
universos numerados hasta el final pĂĄginas que se despliegan infinitas sin rastros de tinta en sĂ restos de tintura tipogrĂĄfica residuos disfrazados de tinta china
Lágrimas oceânicas Portugal quanto de tua riqueza é o sumo de nossas tristezas? Ano Bom Arzila Ormuz Azamor Ceuta Flores Agadir Safim Tanger Acra Angola Mogador Aguz Cabinda Cabo Verde Arguim São Jorge da Mina Fernando Pó Costa do Ouro Portuguesa Zanzibar Melinde Mombaça Moçambique Guiné Portuguesa Macassar Quíloa São Tomé e Príncipe Mascate Fortaleza de São João Baptista de Ajudá Socotorá Ziguinchor Bahrain Paliacate Alcácer-Ceguer Bandar Abbas Cisplatina Ceilão Laquedivas Maldivas Baçaim Calecute Cananor Chaul Chittagong Cochim Cranganor Damão Bombaim Dadrá e Nagar-Aveli Damão Mangalore Diu Goa Hughli Nagapattinam Coulão Thoothukudi Salsette Masulipatão Surate Nagasaki Timor-Leste
São Tomé de Meliapore Mazagão Malaca Molucas Guiana Francesa Nova Colônia do Sacramento Bante Macau Brasil Portugal Oh sal que corrói a pele de nossas almas.
Lágrimas oceánicas Portugal ¿Cuánto de tu riqueza es el jugo de nuestras tristezas? Ano Bom Arzila Ormuz Azamor Ceuta Flores Agadir Safim Tanger Acra Angola Mogador Aguz Cabinda Cabo Verde Arguim São Jorge da Mina Fernando Pó Costa do Ouro Portuguesa Zanzibar Melinde Mombasa Mozambique Guinea Portuguesa Macassar
Quíloa São Tomé y Príncipe Mascate Fortaleza de São João Baptista de Ajudá Socotorá Ziguinchor Bahrain Paliacate Alcácer-Ceguer Bandar Abbas Cisplatina Ceilão Laquedivas Maldivas Baçaim Calecute Cananor Chaul Chittagong Cochim Cranganor Damão Bombaim Dadrá e Nagar-Aveli Damão Mangalore Diu Goa Hughli Nagapattinam Coulão Thoothukudi Salsette Masulipatão Surate Nagasaki Timor-Leste São Tomé de Meliapore Mazagão Malaca Molucas Guayana Francesa Nueva Colonia del Sacramento Bante Macao Brasil Portugal Oh sal que corroe la piel de nuestras almas.
Flor-de-lótus se no hoje contemplamos o ontem o que dizer do amanhã que nos almeja? se no tanque afogamos a rã o que fazer da morte que nos beija? se no vôo a libélula se espanta o que escrever com o sangue que goteja?
Flor de loto ¿si en el hoy contemplamos el ayer qué decir del mañana que nos anhela? ¿si en el estanque ahogamos la rana qué hacer con la muerte que nos besa? ¿si en el vuelo se espanta la libélula qué escribir con la sangre que gotea?
Sopro
assim como não há eu vejo assim como não dá ensejo assim e só assim desejo
Soplo
así como no hay yo veo así como no da oportunidad así y sólo así deseo
Sinal verde tantos anos se arrastaram já não me lembro de minha infância será que a tive, ou foi um sonho? tudo se resume a uma noite noite de escolha e enfrentamento ali, me fiz na solidão azul do nascimento “se não quer ir ao culto que fique aí, sozinho!” fiquei ali, e ainda estou... em casa escura e sobressaltada por sombras e faróis relampejando abandonado de deuses e de afetos não dormi, como não durmo agora não fugi, como nem posso embora ali, a vontade de meu eu se impôs minha porção de dor se amarelou permaneci na infinitude do possível e assim abraço o totem de vida que sutil me resta na contingente luz verde que se revela aceito humilde e resignado o gentil açoite da morte que me espera.
Señal verde tantos años se arrastran ya no me acuerdo de mi infancia ¿la tuve o fue un sueño? todo se resume en una noche noche de elección y enfrentamiento allí, me hice en la soledad azul del nacimiento “¡si no quiere ir al culto que siga allí, solo!” seguí allí, y todavía estoy… en casa oscura y sobresaltada por sombras y faroles relampagueando abandonado por dioses y afectos no dormí, como no duermo ahora no escapé, como no puedo aunque allí, la voluntad de mi yo se impuso mi porción de dolor amarilleó permanecí en la infinitud de lo posible y así abrazo el tótem de vida que sutil me resta en la contingente luz verde que se revela acepto humilde y resignado el gentil azote de la muerte que me espera.
Sambaqui em meu samba sarnambi cabem todos os restos: é meu recanto de desterras chão de joão-ninguém depositório de meus erros todos os ossos sem nome todos os nomes sem boca todas as bocas à míngua. o que fazer então com as palavras? depositá-las aqui vomitá-las como se vomita uma língua.
Sambaqui aquĂ en mi samba sarnambi caben todos los dolores: es mi retiro de destierros suelo de don nadie depositario de mis errores todos los huesos sin nombre todos los nombres sin boca todas las bocas sin tino. ÂżquĂŠ hacer entonces con las palabras? depositarlas aquĂ vomitarlas como se vomita una lengua.
Parabolês
Cidade imaginária a busca principia e se finda no coração na longa jornada, dia a dia, se oficia e ao final nos brinda com a claridão no meio do caminho de minha vida viajante que sou por sendas selváticas ouço falar de cidade tão querida com dadivosos tesouros e benefícios enfáticos sua existência – nutriente da procura leva-me adiante em ofício tão errático encontrá-la, amacia o ferro-vida que perdura habitá-la, ultrapassa o mundo-lida já tão lábil desposá-la, é a felizcidade em tessitura se até aqui nada me havia sido fácil agora verei do que realmente o laço é feito em nada me adiantou ter sido hábil tal estrada abriga horrores em seu leito terríveis desertos, terra inóspita e dardejante falta-me ar, me dá sede, a derrota arde-me no peito corpo em espírito antes tão flamejante arrefece exausto e amedrontado foge – chega de tempestades e sol escaldante!
queria eu estar nesta hora que consome a reviver instantes da memória lugares que vivi e o deleite que me some porém, o sábio mestre da vitória com hábeis meios de uma melodia soa o canto que nos leva à glória aquele que conhece o caminho – o guia presença que em si é a ênfase do tesouro disciplina o ser e as almas fugidias em meio ao sofrimento vislumbro o ouro a imensidão do desejo em seu oásis a alegria reluzente, as dores em sumidouro o cansaço esvanece – um desenho a lápis os contornos da dor desaparecem na fumaça tudo esqueço, retornar ou desistir – jamais! sob meus pés a exuberância se enlaça revela-se íntegra uma cidade tão fantástica o paraíso em delícias nos perpassa o guia, com sua voz sonora e dramática diz que não, estávamos no meio da jornada a cidade é imaginária, pura névoa carmática
Ciudad imaginaria la búsqueda comienza y termina en el corazón en la larga jornada, día a día, se oficia y al final nos brinda con la claridón en el medio del camino de mi vida viajero que soy por sendas selváticas oigo hablar de una ciudad tan querida con dadivosos tesoros y beneficios enfáticos su existencia – nutriente de la búsqueda me impulsa adelante en oficio tan errante encontrarla, suaviza la vida de hierro que perdura habitarla, excede el mundo de lucha ya tan lábil desposarla, es la felicidad en tesitura si hasta aquí nada me había resultado fácil ahora veré que realmente el lazo está hecho en nada me favoreció haber sido hábil tal calle abriga horrores en su lecho terribles desiertos, tierra inhóspita y asaeteante me falta el aire, me da sed, la derrota arde en mi pecho cuerpo en espíritu antes tan flamígero se enfría exhausto y amedrentado huye –¡llegada de tempestades y sol escaldante! quería yo estar en esta hora que consume
reviviendo instantes de la memoria lugares donde viví el deleite que me sume pero, el sabio maestro de la victoria con los hábiles medios de una melodía tañe el canto que nos lleva a la gloria aquél que conoce el camino –el guía presencia que en sí es un énfasis de tesoro disciplina el ser y las almas huidizas en medio del sufrimiento vislumbro el oro la intensidad del deseo en su oasis la alegría reluciente, los dolores en el sumidero el cansancio desvanece –un diseño a lápiz los contornos del dolor desaparecen en la humareda todo olvido, retornar o desistir– ¡jamás! debajo de mis pies una exuberancia se enlaza se revela íntegra una ciudad tan fantástica el paraíso en delicias nos sobrepasa el guía, con su voz sonora y dramática dice que no, estábamos en el medio de la jornada, la ciudad es imaginaria, pura niebla kármica A vasta nuvem há muitas espécies de flores árvores, ervas em série e tamanhos
EDSON CRUZ (Ilhéus, BA) é poeta, editor do site MUSA RARA (www.musarara.com.br) e coordenador de Oficinas Literárias. Graduado em Letras pela Universidade de São Paulo - USP. Seu livro mais recente de poemas, Ilhéu (Editora Patuá, 2013) foi indicado para o Prêmio Portugal Telecom de 2014. Antes,lançou Sortilégio (poesia), em 2007, pelo selo Demônio Negro; como organizador, O que é poesia?, pela Confraria do Vento/Calibán; em 2010, uma adaptação do épico indiano, Mahâbhârata, pela Paulinas Editora. Em 2011, foi contemplado com Bolsa de Criação da Petrobras Cultural com o livro Sambaqui, pela Crisálida Editora. Email: sonartes@gmail.com