COMUM_AFETO
AUH0545 - Aprendendo com os Bens Comuns (2021) Miguel da Cruz Mermejo I nºUSP: 10751824
A proposta de instalação “comum_afeto” busca mobilizar a memória e a história do circuito de sociabilidade LGBTQIA+ que o Largo do Arouche integra historicamente na área central de São Paulo. O movimento social identitário organizado e autogerido luta para que o imaginário LGBTQIA+ - com seus próprios códigos, saberes, afetos e performances - seja oficialmente reconhecido como patrimônio imaterial. Essa demanda corresponde à luta pelo direito à cidade e às memórias e às práticas de um território delimitado por subjetividades. A diversidade sexual ainda não é tida como um tema a ser incorporado em determinadas políticas públicas, “o que tem impedido o acesso a direitos sociais amplos, como memória e patrimônio cultural” (SCIFONI e BEUCLAIR, 2021, p.72).
Compreendendo bem comum para além dos recursos naturais e produções sócio-culturais de um povo, como uma relação interpessoal de cooperação, propõe-se a instalação de uma contra-cartografia afetiva, que evidencia o mapeamento da sociabilidade LGBTQIA+ não presente na cartografia oficial da cidade. Idealmente, este mapeamento seria tecido coletivamente, in-loco, em conjunto com o movimento autogerido já atuante no território. Dado o período pandêmico, alternativamente, mergulhou-se nas produções de trabalhos e projetos já realizados. O mapeamento no movimento de luta contra-hegemônica insere-se como umas das etapas presentes na linha de prática da co-governança e co-gestão das cidades, lógica presente na leitura e construção da cidade como um bem comum.
CO-GESTÃO_CO-GOVERNANÇA “(...) Uma abordagem extensiva que concebe toda a cidade como um bem comum, um recurso compartilhado que pertence a todos os seus habitantes e deve ser co-administrado e co-nutrido”. The Co-Cities Report, 2020. Tradução livre do autor. modelagem testagem
cheap talking* mapeamento
prototipagem
prática
Reprodução de Commoning City. *De tradução literal “conversa fiada”, cheap talking insere-se na prática da teoria dos jogos - estudo de modelos matemáticos que no século 21 se aplica a uma ampla gama de relações comportamentais - como uma rede de diálogo sem custos, não vinculativa e não verificável.
“O largo do Arouche não é apenas mais um logradouro público paulistano; ele é um lugar que compõe a memória da experiência LGBTQIAPD+ na cidade de São Paulo, reunindo a um só tempo histórias de migrantes brasileiros e de sujeitos periféricos em busca de acolhimento, encontro e possibilidade de ser. Neste sentido, ele é patrimônio cultural ligado aos grupos sociais que lutam por direitos como a liberdade de orientação sexual e identidade de gênero. (...) Entretanto, (...) ainda hoje, muitos não se veem representados na memória nacional, como é o caso dos grupos LGBTQIAPD+”. (SCIFONI e BEUCLAIR, 2021, p.71). Modelo 3D produzido na disciplina AUH0240 História da Urbanização e do Urbanismo III (2020). Mariana de Florio e Miguel Mermejo.
A instalação “comum_afeto” implanta-se no passeio que interliga as duas ilhas centrais das sete que constituem o Largo do Arouche, em uma das faces cegas que o histórico Mercado de Flores constitui em relação à área interna do Largo. Trata-se de um painel que centralmente mobiliza a contracartografia produzida por Murilo Perdigão em seu Trabalho Final de Graduação intitulado “ATLAS: Presença-ausência LGBTQIA+ no Centro Novo de São Paulo”, FAU-USP-2020, remontando marcos da apropriação LGBTQIA+ histórica do Largo. Conta ainda com exemplares do livreto “Arouche – uma Fotobiografia”, presos em pequenos tirantes. Lançado em 2019, o Livreto foi tecido a partir de um processo participativo entre coletivos e frequentadores.
Entre as 90 fotos publicadas ao longo das 64 páginas, há rostos, corpos e poses intercalados com depoimentos e textos assinados por coletivos, como Stronger e Arouchianos, que narram a história do Largo, bem como sua importância para o circuito LGBTQIA+. Julio Dojcsar, um dos coautores do livreto, evidencia seu valor documental enquanto mostra “da resistência de pretos, pobres e periféricos que buscam o lugar para simplesmente ser” (Folha de São Paulo, 29/10/2019). O painel conta ainda com o ensaio produzido no escopo desta disciplina, a fim de promover o debate, o conhecimento e a potencialidade das práticas da co-gestão e da co-governança reivindicando o direito à cidade como um bem comum.