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A voz da experiência
Com perseverança e muito trabalho diário, revendedor Antônio
Pessoa, de 91 anos, multiplicou seu patrimônio ao longo dos anos no Vale do Aço. Hoje, a administração dos postos é de responsabilidade dos filhos Frederico e Marco Antônio
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Nascido no distrito de Santana dos Ferros, no Vale do Rio Doce, Antônio Pessoa Magalhães pode se orgulhar das várias atividades que exerceu na vida: ajudou seu pai a cuidar de um armazém, foi motorista de caminhão e trabalhou como corretor de imóveis, entre outras. Mas foi na Revenda de combustíveis que ele encontrou sua verdadeira paixão. Proprietário de 12 postos nas cidades de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo, ele transferiu para os filhos o gosto pela atividade e hoje, aos 91 anos, tem mo - tivos de sobra para se orgulhar da bela história que construiu e do fato de empregar centenas de pessoas no Vale do Aço.
O empresário saiu de Santana de Ferros no começo dos anos 1940 para morar com os pais em Coronel Fabriciano, onde começou a trabalhar. Transportou madeira em uma serralheria e foi contratado da Usiminas. O início na Revenda se deu em 1960, quando surgiu a oportunidade de se associar a um amigo. De lá para cá, os estabelecimentos foram se multiplicando até a família se tornar uma das mais bem-sucedidas no ramo na região.
À primeira vista, pode parecer ter sido fácil, mas não foi. “Conheci um senhor chamado Jair Gonçalves, que montou um posto e me chamou para ser sócio. Tive de vender meu caminhão, minha casa e outras coisas para me juntar a ele. Logo depois, surgiu uma oportunidade de comprar um terreno em Coronel Fabriciano. Fiz um empréstimo e, em seguida, montei meu primeiro posto, que ficava num lote pequeno”, recorda.
O segredo para o êxito obtido ao longo do tempo foi justamente a perseverança com que encarou as muitas horas de trabalho por dia e a dedicação à atividade. Além disso, ele aprendeu aos poucos a lidar com os órgãos fiscalizadores e a elevada carga tributária cobrada pelo governo à época.
Hoje, quem administra os estabelecimentos são os filhos Marco Antônio, de 57, e Frederico, dois anos mais novo – a irmã Jane preferiu seguir outro caminho. Foi por meio do longo contato com o negócio do pai que eles aprenderam o ofício e encontraram soluções para as dificuldades surgidas no dia a dia.
O primogênito dos filhos de Antônio diz que, desde muito novo, frequentou os diversos postos administrados pelo pai: “Estudávamos em Coronel Fabriciano e, na época das férias, íamos aos postos ver como era o trabalho. Aos poucos, meu pai foi nos colocando para fazer pequenos serviços, como calibrar pneus e lavar carros, até nos tornarmos frentistas. Em seguida, ocupamos o lugar do gerente que estava em férias e entramos de vez para a administração”.
Engana-se, contudo, quem pensa que Antônio está distante da Revenda. Sempre que pode, ele se dirige aos postos para avaliar o serviço. A ocasião é oportuna para que o empresário passe o tempo conversando com funcionários e motoristas que vão abastecer seus carros. “O que mais me dá prazer no trabalho é ver o posto cheio e saber que os clientes são bem atendidos”, afirma.
Trof Us
O legado de seis décadas de dedicação à atividade é traduzido em uma sala repleta de troféus mantida em um dos estabelecimentos. Antônio é constantemente homenageado pela Shell pela seriedade, boa relação com os parceiros e amizade com os clientes. Em algumas ocasiões, a empresa enviou-lhe réplicas dos carros da Ferrari e da McLaren para serem expostas nos postos.
Um dos principais desafios enfrentados nos mais de 60 anos de atividade na Revenda foi lidar com as constantes mudanças nas normas envolvendo combustíveis e as exigências dos órgãos fiscalizadores, que se tornaram cada vez mais rigorosos no que diz respeito ao check-list diário e à segurança nas pistas de abastecimento.
“A legislação muda o tempo todo. Quando comecei a trabalhar, havia o antigo CNP. Hoje, temos a ANP. O CNP impunha um horário de abertura e fechamento dos postos e por quanto deveríamos comprar e vender o combustível. A partir do governo Collor, com a abertura do mercado, tivemos de nos reinventar, aprender a trabalhar de um jeito diferente. E nosso pai foi nossa referência nesses anos todos”, afirma Marco Antônio.
Ainda segundo ele, o maior desejo dos herdeiros é continuar administrando os negócios com competência, sempre com base nos ensinamentos do pai. “É algo que está no sangue da gente. Nascemos dentro do posto, e não havia jeito de não darmos continuidade ao negócio. E ele ainda puxa nossa orelha quando fazemos algo errado. É a voz da experiência”, conclui.