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Daninhas causam prejuízos de R$ 9 bilhões ao ano

DANINHAS

PREJUÍZO DE R$ 9 BILHÕES POR ANO

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Vitor Muller Anunciato Roque de Carvalho Dias

roquediasagro@gmail.com

Leandro Bianchi

leandro_bianchii@hotmail.com Engenheiros agrônomos, mestres e doutorandos em Proteção de Plantas – UNESP - Botucatu

Samara Moreira Perissato

Engenheira agrônoma, mestra e doutoranda em Agricultura – UNESP - Botucatu samaraperissato@gmail.com

As plantas daninhas são um problema global e a resistência a herbicidas é crescente a cada ano. As perdas têm exigido maiores in vestimentos por parte dos agricultores para minimizar os prejuízos na lavou ra. No Brasil, são 50 casos de resistência que envolvem 28 espécies e oito modos de ação.

Somente no cultivo de soja, o cus to anual com uso de herbicidas é de R$ 4,2 bilhões. O impacto total das dani nhas na cultura, levando em consideração também a matocompetição, chega a R$ 9 bilhões por ano.

O Brasil é um grande produtor e ex portador de culturas em termos globais, com 77,8 milhões de ha (8,9% do terri tório nacional) em 2018. Com o objetivo de obter 85,7 milhões de hectares em 2029, é uma das maiores potências agrícolas do mundo.

A área plantada no Brasil represen ta 3,4% do total global.

Batalha

A matocompetição é comum e sempre vai existir, pois há períodos em que a cultura tem a habilidade de competir com as plantas daninhas sem que ocor ra prejuízo econômico - esse período é conhecido como anterior à interferên cia, e se não manejado adequadamente as plantas daninhas podem inviabilizar a produção de soja.

Em um cenário em que os agricul tores estão cada dia mais pressionados pelo mercado para conseguirem altas produtividades, o espaço para as plantas daninhas vem diminuindo, porém, com um custo elevado.

Segundo uma pesquisa realizada pela Embrapa liderada pelo Dr. Fernando Ade gas, o custo médio do controle de plantas

João Leonardo Fernandes

daninhas não resistentes em 2017, utili zando-se duas aplicações de glyphosate pós-emergência e uma para dessecação, foi estimado em R$ 120,00 por hectare.

Em um cenário de infestação por azevém (L. multiflorum) resistente ao glyphosate, além do glyphosate, é ne cessário adicionar um graminicida (inibidor da ACCase), aumentando o custo médio para R$ 177,65/ha.

Se a infestação é de buva (Erigeron sp.), o uso de um latifolicida, como o 2,4- D, se faz necessário, aumentando o custo médio para R$ 170,50/ha.

Em áreas infestadas por capim amar goso (D. insularis), uma planta daninha mais difícil de se controlar que o azevém requer o uso de graminicidas tanto na pós-emergência quanto na dessecação, e deve ser intercalada com herbicidas de contato, como o glufosinato, aumentan do o custo médio de manejo para até R$ 318,35/ha.

No entanto, em cenários de infestação mista, o manejo da resistência a herbi cidas é complicado, porque as opções de herbicidas são reduzidas. Por exem plo, infestações de buva e azevém requerem herbicidas seletivos para o culti-

vo durante a fase vegetativa da soja, sendo a flumioxazina e a trifluralina as principais opções, enquanto na desseca ção devem ser exploradas outras opções para controle de buva e azevém. O custo médio de controle, nesse cenário, pode chegar a R$ 197,55 /ha.

Já em um cenário pior, e infelizmen te comum, se a infestação é de buva e amargoso, o custo de controle pode che gar a R$ 386,65/ha, ou seja, R$ 266,65/ ha mais caro, comparado a um cenário sem resistência.

Essas estimativas não consideram a possível ocorrência de resistência múltipla de L. multiflorum e D. insularis a gramini cidas ou Erigeron sp. aos latifolicidas, cenários em que o custo do manejo é mais caro e restrito em relação às opções alter nativas de herbicidas disponíveis.

Principais culturas atingidas

Todas as culturas estão suscetíveis a danos por plantas daninhas, mas al

gumas grandes culturas, como soja, milho, arroz, trigo e algodão são as que possuem maior potencial para prejuízos relacionados ao controle de plantas da ninhas, pois além de serem as mais produzidas e estarem presentes em várias partes do Brasil, também têm em co mum basear-se muito no controle químico.

No entanto, o uso contínuo desses produtos e a alta pressão de seleção le varam ao surgimento de plantas daninhas resistentes a herbicidas, e essas são as que apresentam maior prejuízo, pois como já mencionado, aumentam o cus to de produção excessivamente.

Hoje, existem 51 espécies de plan tas daninhas relatadas como resistentes a herbicidas no Brasil, das quais 17 en volvem resistência cruzada e múltipla, e resistência a herbicidas inibidores a mais de um sítio de ação.

Os inibidores da ALS (ex: nicosulfu ron), ACCase (ex: clethodim) e EPSPs (ex: glyphosate) são os grupos herbici

Fernando Adegas das com mais casos de resistência. Soja, milho, arroz, trigo e algodão apresen tam 30, 12, 10, 9 e 8 casos, respectivamente, ocorrendo principalmente em lavouras de culturas transgênicas resis tentes a herbicidas das regiões sul e centro-oeste do País.

Identificação e momento de controle

As plantas daninhas são identificadas por características morfológicas como formato de folhas, hábito de cres cimento e inflorescências.

O grande “X” da questão na identi ficação das plantas daninhas é identificá-las quando essas são plântulas de até quatro folhas, pois esse é o estágio de desenvolvimento em que elas apresen tam maior facilidade de controle pelos herbicidas.

Deve-se sempre prezar por contro lar as plantas daninhas antes que essas produzam sementes, portanto, mesmo quando a área estiver em pousio deve - -se optar por realizar cobertura vegetal das mesmas com adubação verde ou, se deixar a vegetação espontânea cres cer, deve-se realizar o controle periódico da mesma, evitando a produção de sementes.

É importante que o agricultor con siga, antes de tudo, mapear e identificar as plantas daninhas existentes em sua lavoura e, assim, adotar os ingredien tes ativos com os mecanismos de ação mais efetivos.

Isto é fundamental, já que a esco lha de diferentes modos de ação dentro do mesmo ciclo da cultura pode auxiliar na redução das plantas daninhas resistentes.

Todas as regiões de produção agríco la do Brasil são afetadas pelas daninhas, o que muda são as espécies que podem ser mais adaptadas em algumas regiões do que outras. Por exemplo, o azevém é uma planta daninha muito comum e que traz grandes problemas para a re gião sul do Brasil, enquanto em outras regiões essa planta não apresenta gran de significância.

O mesmo ocorre com vassourinha de botão (Spermacoce sp.), um grande proble ma na região centro-oeste do Brasil e que não é tão problemática em outras regiões. Já outras plantas, como capim amargoso e buva, estão mais adaptadas a várias re

giões do Brasil, podendo ser um problema mais comum.

Formas de controle

O controle deve se basear no manejo integrado de plantas daninhas (MIPD), estratégia que integra diferentes méto dos, cada um auxiliando o outro e diminuindo a capacidade infestante das daninhas e de competição das mesmas.

As estratégias são compostas por ba sicamente três pilares: o primeiro é a utilização de defensivos que apresentem mais de um modo de ação para o mesmo alvo biológico (planta daninha) dentro do ciclo da cultura; o segundo compre ende o controle e cuidados com a sementeira, com ferramentas (controles químicos, físicos ou biológicos) que re duzam a possibilidade de germinação, o número de novas plantas daninhas por metro quadrado, como por exemplo a pa lhada, muito utilizada como barreira física, evitando a germinação de algumas espécies; e, por fim, o terceiro pilar seria o monitoramento da área, para efetivar o controle das plantas daninhas nas me lhores condições de aplicação dos defensivos e nos estádios mais suscetíveis.

Técnicas e produtos inovadores

Atualmente, muito vem sendo pesquisado sobre como diminuir a dependência do controle químico de plantas daninhas, porém, muitas técnicas desenvolvidas não apresentam eficiência no manejo opera cional, quando comparadas ao controle químico. Isso faz com que elas não se jam adotadas, pois vão na contramão de algumas práticas tradicionais.

O grande risco da não adoção des sas técnicas é minar cada vez mais a eficiência do controle químico, e sem alternativas, pois o desenvolvimento de novas moléculas é muito dispendioso e deman da muito tempo, podendo ser um recurso que pode não estar disponível tão facilmente.

Portanto, o uso consciente do con trole químico é essencial, e a adoção de outras técnicas de manejo devem ser re pensadas.

Direto ao ponto

Existem diversos erros que podem ser cometidos no controle das plantas daninhas e alguns podem ser associa dos com a técnica adotada, como no controle químico, por exemplo, em que é necessário verificar o volume de apli cação e adequá-lo com a recomendação do fabricante do produto fitossanitário, realizando a calibração e regulagem do pulverizador.

Dessa forma, ajustam-se também a velocidade de cada aplicação e as espe cificações de vazão/pressão de trabalho.

A presença de resíduos (material or gânico) e partículas em suspensão na água também pode prejudicar a qualidade da calda do produto no momento da apli cação.

Isso porque podem ocorrer rea ções químicas entre os materiais orgânicos presentes na água e as moléculas dos herbicidas, por exemplo, compro

Mauro Rizzardi

metendo a aplicação e a eficácia do defensivo agrícola.

Outro erro bastante comum é a não verificação das condições climáticas ide ais no momento da pulverização, podendo ocorrer perdas por evaporação ou até mesmo deriva, não atingindo a eficácia esperada, pois as condições estavam fora do limite recomendado.

É necessário respeitar as distâncias mí nimas recomendadas e também utilizar bicos de pulverização específicos e adequados, com gotas mais grossas, por exemplo, que resistem à deriva.

Acertos

Selecionar os produtos a serem utilizados com base nas plantas da ninhas recentes na área, buscar alterar o modo de ação dos mesmos e verificar a calibração do pulveriza dor, fonte de água e condições climáticas no momento da pulverização são etapas fundamentais para se obter um controle químico eficiente das plan tas daninhas.

Mas, ignorar o uso de outros métodos de controle de plantas da ninhas também é um erro que pode ser evitado, assim como buscar di ferentes tipos de coberturas mortas, manejar o pousio, evitar a deposição de sementes no banco de semen tes do solo são conceitos que devem ser almejados, aumentando-se o es pectro de controle das plantas daninhas.

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