Revista da Misericórdia #38

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Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso Rua da Misericórdia, 171, 4780-501 Santo Tirso t. + 252 808 260 | f. + 252 808 269 santacasa@iscmst.pt www.misericordia-santotirso.org www.facebook.com/MisericordiaSantoTirso



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editorial

gerir


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Por muito estranho que pareça, a única entidade que, estando em gestão, não pode “gerir”, na sua plenitude, é o Governo. Com efeito, a Constituição da República Portuguesa limita a ação de um Governo – cujo programa não tenha sido ainda aprovado ou que se encontre demitido – à prática dos atos estritamente necessários para assegurar a gestão dos negócios públicos. Donde se infere que “gerir os negócios públicos” não é governar coisa que se veja. O fabrico de utensílios e ferramentas, a sua troca, a moeda, colocados no calendário inexorável dos negócios, representam a evolução humana do conceito de gerir desde a Antiguidade. O Banco mais antigo do mundo sobreviveu mais de dois séculos, tendo sido fundado setecentos anos antes da nossa era. Moisés, legendariamente “salvo” em 1592 a.C. do rio Nilo, seguiu uma turba durante quarenta anos errando pelo deserto, formou uma Tribo e descobriu um propósito, antes de chegar à Terra Prometida. Isso é gerir! O nosso Mosteiro de S. Bento era regido por um Abade, eleito, que desempenhava as funções empresariais/corporativas de um CEO. Competia-lhe assegurar aos monges tudo o que lhes era necessário, prover cada um dos ofícios de uma parte dos rendimentos anuais e supervisionar a manutenção dos imóveis. Representava, no exterior, a sua comunidade, estando investido dos poderes necessários para outorgar todos os atos públicos e particulares. Podia até ser demitido, como aconteceu com Eborico, Abade de Dume, que caiu “como homem em uma fraqueza da carne, de que só a Deus tinha por testemunha”. Diante do Concílio, X de Toledo, “confessou-o com muitas lágrimas pedindo penitência dele”. E os


congregados, com lástima e compaixão, privaram-no da Administração. Quanto ao “diretor-geral”, o cellerarius, diz a Regra franchisada pelos nossos frades: deve ser “um homem muito equilibrado e com um grande sentido de Deus, abnegado e humilde, uma vez que tem que se ocupar de tudo sem se outorgar a si próprio uma consciência de poder e de autossuficiência. Leal com o Abade, cortês e compreensivo com os irmãos.” Exemplificado o conceito com Moisés e a sua tribo e com o nosso Mosteiro Beneditino, passemos – the last but not the least – à Irmandade e Santa Casa de Misericórdia de Santo Tirso. O seu Compromisso, no artigo décimo sexto, impõe que “O exercício de qualquer cargo nos Órgãos Sociais é gratuito”. Isto é, as pessoas, os negócios, os departamentos, os projetos e os processos têm obrigatoriamente de ser administrados de forma voluntária, sem qualquer remuneração que não seja mitigar a sua sede de fé com o trabalho, a responsabilidade e a canseira correspondentes ao apelo lançado no sermão da montanha pregado aos pobres por Nosso Senhor Jesus Cristo! Como compaginar esta imposição estatutária com a necessidade de uma Gestão profissional, diria mesmo, empresarial? Gerindo as exceções e ignorando as atividades que parecem estar conformes às expectativas, focado nos resultados. Em gestão, tudo é relativo, menos a confiança. A confiança ou existe ou não existe. O copo da confiança não pode estar meio cheio, porque o que o completaria seria sempre a dúvida. Put first things first! Distinguir claramente as prioridades e agir em função delas.


SUMÁRIO /// ATUALIDADES / ENTREVISTA A MANUEL DE LEMOS - PRESIDENTE DA UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS P.06 / PLANO ATIVIDADES 2020 P.12 / 134 ANOS AO SERVIÇO DA COMUNIDADE P.16 / REPRESENTAÇÃO NO DESFILE DAS ASSOCIAÇÕES P.18 / BÊNÇÃO DA 1ª PEDRA - NOVA UNIDADE DE CUIDADOS CONTINUADOS P.20 / GERIR A QUALIDADE P.22 / EMPREENDER, SABENDO GERIR! P.24 / SERÁ QUE SOMOS NÓS QUE GERIMOS O NOSSO TEMPO, OU É ELE QUE NOS GERE A NÓS? P.28 / GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS - OS RESULTADOS SÃO AS PESSOAS P.31 / O DESAFIO DA GESTÃO DOS DADOS PESSOAIS P.33 /// AÇÃO SOCIAL E COMUNIDADE / GERIR CUIDADOS INFORMAIS P.35 / GERIR EMOÇÕES… COM PELOS À MISTURA! P.36 / GERIR... A FAMÍLIA! P.40 /// FORMAÇÃO / GÉNERO, IGUALDADE E CIDADANIA DESCONSTRUÇÃO… REFLEXÃO… P.42 /// AÇÃO EDUCACIONAL / AJUDAR A GERIR... EMOÇÕES P.44 /// SAÚDE / GERIR, O ANTAGONISMO P.46 / GERIR SORRISOS P.48 /// CULTURA / PALESTRA “O AMOR É” COM JÚLIO MACHADO VAZ P.50 / MARIAS SEM MEDO P.52 / POEMAS P.56 /// REVELAÇÕES ROSA MARIA DE FREITAS P.58


Obs: a Revista da Misericórdia obedece ao novo acordo ortográfico.

PROPRIEDADE IRMA NDA DE DA SA NTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SA NTO TIRSO // DIRETORA CA RL A MEDEIROS // SECRETARIADO AVELINO RIBEIRO // COLABORADORES A LEX A NDRA CA RVA LHO // A NA A LVA RENGA // A NA LUÍSA CA RVA LHO // A NDREIA BERRONES DE MACEDO // A NY TA // A NTÓNIO JORGE RIBEIRO //CA RL A NOGUEIRA // CÉU MACHA DO // JOÃO A BREU // JOÃO LOUREIRO // JOA NA MOREIRA // LILIA NA SA LGA DO // MA NUEL A CA RNEIRO // MA RIA JOÃO FERNA NDES // MA RTA RIBEIRO // MIGUEL DIAS // RAQUEL SILVA // SA RA A LMEIDA E SOUSA // SILVIA RIBEIRO // SUSA NA MOURA // TIRAGEM 1100 EXEMPL A RES // EDIÇÃO DEZEMBRO 2019 // DEPÓSITO LEGAL 167587/01 PERIODICIDADE SEMESTRA L // IMPRESSÃO NORPRINT // DESIGN SUBZERODESIGN

2010/CEP.3635


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ENTREVISTA A MANUEL DE LEMOS PRESIDENTE DA UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS

Já diz o ditado que quem corre por gosto não cansa e esta Francesa pela Universidade Sourbonne e Economia pela expressão aplica-se na perfeição a Manuel de Lemos. Com Universidade Phoenix, nos Estados Unidos. Quando não tem um vasto currículo na área da solidariedade e diversas de viajar para o estrangeiro a sua semana divide-se entre Porto atividades no seu percurso profissional, divide-se e Lisboa onde exerce a sua principal atividade profissional: atualmente entre a consultoria e a presidência da União consultoria empresarial. das Misericórdias (já no seu 4ª mandato) e, mais recentemente, na Confederação Internacional das O Dr. Manuel de Lemos tem um vasto currículo e uma vida Misericórdias. Sustentabilidade, rentabilização de recursos, dedicada à solidariedade e ao setor social. Vê o seu voluntariado, saúde, auditorias são as palavras chave. trabalho como uma missão? Sempre com um sorriso nos lábios fala, com entusiasmo, Claro que sim, pois se não existisse essa noção de das misericórdias e do trabalho a ser desenvolvido para cumprimento de uma missão, todas as pessoas que se dedicam melhorar as suas dinâmicas. à área da solidariedade, já tinham Preparar o futuro é o grande desistido. As pressões são muitas, as desafio e para isso contam com o dificuldades constantes e, como tal, “As misericórdias são manifestações trabalho de campo que tem sido tem de haver um espírito ancorado da comunidade e é normal que tragam feito para alcançar esse em valores em que acreditamos. crescimento. Todos os dias há vitórias e perdas, com elas a sua própria realidade” mas regra geral o balanço é sempre Manuel de Lemos nasceu no Porto, muito positivo e gratificante. mas os seus pais são minhotos. Tem 2 filhos e tem como passatempo colecionar miniaturas de É uma pessoa que tenta passar discreta, prefere que as carros. Embora diga que tem muito orgulho em ser português, pessoas se concentrem mais no trabalho do que a pessoa por outro lado afirma-se, igualmente, como um cidadão do que está por detrás? mundo. E a este propósito cita um provérbio chinês: “Quem Sim, não gosto muito de aparecer, ser o centro dos holofotes. anda por toda a parte, por toda a parte aprende”. Trabalhou, (ri-se) Eu acredito muito nas pessoas, mas as instituições são viajou e conheceu vários países ao longo da sua vida, mas o mais importantes, embora sejam as pessoas que fazem as Porto é o seu refúgio, o local onde gosta sempre de voltar. Da instituições. infância guarda boas memórias, nomeadamente de Santo Tirso onde costumava passar os verões. É licenciado em Direito, mas também tem formação superior em línguas e Literatura


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Ser presidente da União das Misericórdias é de todas as funções já exercidas, talvez a mais desafiante e arriscada. Concorda? Costumo dizer que trabalhar nas misericórdias é como aquele velho slogan da Coca-cola, “primeiro estranha-se depois entranha-se”. O desafio e a aventura é que muitas vezes trabalhamos sem rede. Acreditamos que aquele é o caminho, passamos por estradas muito estreitas em que do outro lado está a possibilidade de ajudar as pessoas, que para nós é isso que é fundamental. Tem a fasquia muito elevada a nível de objetivos? Não se pode ser comedido quando se fala em solidariedade em Portugal? Temos de ter a fasquia muito elevada por causa da missão. Mas devemos perceber que isto não é uma corrida de cem metros, é sim uma maratona, ao longo da qual temos objetivos que vamos alcançando aos poucos, com a finalidade de chegar ao fim, chegar lá... é uma política de pequenos passos, mas de grandes conquistas, talvez a maior de todas que é ajudar os outros.

Terá dito num discurso e citando o sociólogo norte-americano Daniel Bell: “O Estado-Nação tornou-se demasiado pequeno para resolver os grandes problemas e ao mesmo tempo demasiadamente grande para resolver os pequenos”. Continua a partilhar desta opinião? Como fazemos para ultrapassar esta limitação? Sim, continuo a concordar e essa realidade é muito evidente na União Europeia (UE), se a olharmos como um grande Estado Nação que coordena as nossas vidas e que é o Banco Central Europeu que acaba por nos condicionar a todos; verificamos que se tornou demasiado grande para perceber, às vezes, as nossas particularidades, porque cada um vive no seu casulo. Vivemos em espaços muito pequenos, utilizamos poucas palavras por dia. O Estado Nação parametriza muito e isso é muito evidente em Portugal, em que é notório que há 3 ‘Portugais’, o grande Portugal metropolitano de Porto/Lisboa, depois há o Portugal do litoral e depois existe o do interior. O do interior é desertificado, envelhecido, pobre. O do litoral é empreendedor, vive muito do seu dia-a-dia, tem um grande mercado cosmopolita, urbano com políticas muito específicas. Ora, a parametrização até se vê na forma como o Estado estabelece um padrão de contrapartida ou comparticipação,


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pois não faz diferença se um idoso é do litoral ou do interior. E as misericórdias são manifestações da comunidade e é normal que tragam com elas a sua própria realidade.

Nós temos uma obra das misericórdias que nos manda cuidar dos enfermos, acresce que hoje Portugal é dos países na Europa e no mundo com mais idosos e onde se envelhece mais depressa, o que originou as alterações no próprio perfil da Mas é possível ter o Governo como parceiro e trabalhar em saúde no nosso país. A barreira entre a segurança social e a parceria? saúde é muito mais ténue. Hoje a saúde não são só os Nós somos o maior parceiro do Estado e temos sido também o hospitais, são os cuidados de saúde primários e os cuidados maior parceiro dos governos. Às vezes não é uma relação fácil, continuados. Atualmente os jovens não conseguem, nem começa com alguma desconfiança, insegurança, mas o nosso sabem, cuidar dos seus idosos por uma razão muito simples: percurso, a nossa maneira de estar é de não transportarmos depois da reforma há mais de um terço da vida que vai para dentro das nossas relações as trazendo sucessivamente nossas opções pessoais. Nas nossas fragilidades. É inevitável que os “A imaginação de cada provedor e de relações com o governo, primeiro ministros da saúde e os estão os nossos valores, aquilo em responsáveis das misericórdias se cada comunidade é essencial para o que acreditamos, mas sobretudo a aproximem e é isso que temos feito. desenvolvimento da economia social. nossa missão, que é cuidar das Este percurso que estamos a fazer Existem misericórdias que criam gado, pessoas. Quando os governantes tem de ser aberto, sério, baseado outras têm colégios privados, ou lares são sérios, e na esmagadora no diálogo e numa abordagem privados, ou produzem vinho e azeite.” maioria são-no completamente, permanente. Se calhar há 20 anos independentemente das suas não passava pela cabeça dos ideologias, acabam por perceber provedores da Misericórdia de que na hora da verdade quem está do lado deles é o Santo Tirso terem Unidades de Cuidados Continuados, mas já movimento das misericórdias. vamos na segunda, e isso é inevitável. Sempre demonstrou disponibilidade para trabalhar com o Governo e acarinhou a necessidade das misericórdias estarem ligadas à saúde através da criação de unidades de Cuidados Continuados e hospitais de proximidade, por exemplo. A área da saúde continua a ser uma aposta das misericórdias?

É presidente da União das Misericórdias Portuguesas, correspondendo a um universo de 388 misericórdias ativas que apoiam diretamente 165 mil pessoas e que nalguns casos a sustentabilidade é difícil. Há que ser acima de tudo um bom gestor?


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A sustentabilidade é o maior problema. O maior desafio é cumprir a nossa missão bem, mas para o fazer precisamos de recursos e isso obriga a que o Estado nos comparticipe de forma justa, pois somos os principais intérpretes das políticas públicas sociais. Nós temos uma ideia do que é esse valor justo e entendemos que se situe entre os 50 e os 60%, em média, do custo das respostas sociais; mas neste momento temos um apoio que ronda apenas os 38-40%. Não podemos pôr em causa a nossa sustentabilidade, mas se a colocássemos não era por isso que as misericórdias desapareciam, mas o que acabaria era a ajuda às pessoas e os empregos, em sede de cooperação. E como melhorar a sua sustentabilidade? Aumentando a comparticipação pública e dinamizando a economia social. A imaginação de cada provedor e de cada comunidade é essencial para o desenvolvimento da economia social. Existem misericórdias que criam gado, outras que têm colégios privados, ou lares privados, ou produzem vinho e azeite. Estas são áreas diversificadas de atividade que originam receitas próprias. Queremos torná-las competitivas para que as pessoas optem por aquilo que as misericórdias fazem, porque tem um símbolo de qualidade.

Qual será o grande desafio para as misericórdias na próxima década? O objetivo das misericórdias é o mesmo de sempre: cumprirem a sua missão e ajustarem-se à nova época. No âmbito da União das Misericórdias vamos criar um departamento de envelhecimento para gerir melhor as infraestruturas que dispomos, não as vendo como unidades estanques mas como um todo, de forma a darmos apoio desde o momento em que as pessoas se reformam, aquilo que se chama a vida ativa, para fazer aprendizagem ao longo da vida, tendo um envelhecimento ativo até ao momento que estejam mais condicionadas. Temos muito know how nesta área, e será de aproveitar esse conhecimento nas misericórdias. Vamos também apostar na formação das pessoas; pedimos ao Estado que nos desse mais acesso aos fundos comunitários no que diz respeito às áreas da formação. E o voluntariado é uma área a apostar? A questão de voluntariado é muito importante na área social. O que acho é que em Portugal precisamos de rever as leis de voluntariado nomeadamente na abordagem que fazemos sobre este tema. A questão do voluntariado tem de ser debatida no futuro, mais do


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que criar um estatuto. É importante olhar o voluntariado de outra forma, não como uma competição com os profissionais, mas como uma complementaridade de esforços. Já existem estruturas nesta área, mas o que tem de mudar é a visão e a postura da sociedade em relação a este tema e depois aplicar.

Afirmou em entrevista que a entrada das misericórdias no capital do Montepio foi um passo importante no futuro da sustentabilidade das mesmas. Acho que não compreenderam o que eu disse, penso que era importante a criação de um banco de economia social. Do século XVII ao XIX todas as misericórdias tinham um banco de Foi criado um gabinete de auditorias para avaliar estas economia social e retomar essa tradição seria interessante. No dificuldades. Qual é o ponto de situação, o que falta ainda passado muitas misericórdias tiveram caixas económicas e ser feito? ainda hoje há uma que tem uma caixa económica que é a Este departamento foi criado para ajudar as misericórdias, para Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo que é o que elas olhassem para dentro delas, verificando as suas maior banco dos Açores. dificuldades e mais valias. Temos Ter um banco capaz de financiar cerca de 50 auditorias realizadas e as entidades de economia social, algumas delas tanto quanto quando elas estão em dificuldade “É inevitável que os ministros da saúde sabemos não foram ou quando estão a fazer e os responsáveis das misericórdias se implementadas, mas foram investimentos, é o que considero aproximem e é isso que temos feito” importantes para algumas importante. Por isso era importante mudanças introduzidas. Há mais que o Montepio não fosse só uma misericórdias a pedirem para mutualidade e que todas as serem auditadas. No outro dia, um provedor dizia-me que se instituições da União das Misericórdias tivessem uma aplicasse o resultado da auditoria, teria 26 funcionários a mais, participação simbólica. Estamos a falar de mil euros por cada mas como as circunstâncias o ajudaram, de certa forma misericórdia, não estamos a falar de nenhuma fortuna. conseguiu aplicar algumas das sugestões, pois alguns funcionários reformaram-se, conseguindo-se assim ajustar as equipas. Por outro lado, conseguiram aplicar novos métodos de trabalho e reorganizaram os horários conforme sugerido. Disse-me todo satisfeito que chega ao final do mês com as pessoas satisfeitas porque conseguiu aumentar alguns salários e a casa ficou mais equilibrada.


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NUMA FRASE Filme “A Vida é Bela” de Roberto Benigni Livro “As Memórias de Adriano” de Marguerite Yourcenar Lema Uma máxima de São Lucas: “O que governa se comporte como quem serve” Defeito Desarrumação Qualidade Isso compete aos outros que o digam Passatempo Sou colecionador de miniaturas de automóveis Viagem Tenho passado a vida a viajar; mas continuo a ficar encantado com o Douro. Lembro-me sempre de uma frase do Miguel Torga que diz que o Douro “é um excesso da natureza” Santo Tirso Traz-me sempre muito boas memórias da minha infância em que passava sempre 15 dias em Santo Tirso

Porto É o meu refúgio; é o sítio onde gosto sempre de voltar Misericórdias Uma paixão Desejo Que possamos todos viver num mundo melhor e mais justo • POR CARLA NOGUEIRA (JORNALISTA)


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PLANO ATIVIDADES 2020

“É difícil dizer o que é impossível, porque o sonho de ontem é a esperança de hoje e a realidade de amanhã.”

Esperamos assim que, em final de 2020, possamos ter no mercado de arrendamento 6 moradias de tipologia T2 e duas moradias de tipologia T1.

Este pensamento reflete o estado de inquietude permanente vivido nesta instituição. Ainda no âmbito do Património, continuaremos as obras de O ano de 2020 será para nós mais um grande desafio. remodelação da Casa de Repouso de Real e estaremos, como Já é certo que a instituição crescerá, em número de sempre, atentos a projetos a que possamos concorrer com vista valências, de colaboradores e em orçamento. a atenuar o nosso investimento. Era dito no Plano de Atividades e Orçamento para o ano de 2019 que, numa estrutura organizada e da nossa dimensão, os Avançaremos com obras de remodelação no Lar Dra. Leonor instrumentos de gestão, como estes, Beleza, nomeadamente nas casas de têm pilares basilares e que devem banho e nos espaços comuns. contemplar um horizonte temporal “A aposta constante na qualidade alargado. Esperamos poder concorrer ao Fundo dos serviços prestados, a busca da O desenvolvimento de novos projetos Rainha D. Leonor, para obras de excelência para quem nos procura e investimentos exige um conjunto de remodelação e recuperação da nossa meios e burocracias que se Capela. é o nosso desiderato.” prolongam no tempo, muitas vezes, para além dos 12 meses do ano. No Edifício do antigo Liceu, iremos Neste contexto, algumas das desenvolver um estudo económico e atividades para este ano são a continuidade e/ou a conclusão de mercado, a fim de podermos avaliar o potencial imobiliário de projetos iniciados em anos anteriores. deste edifício. No entanto, manteremos a abertura de poder abraçar qualquer Iremos dar seguimento à remodelação e reabilitação do projeto desde o social ao lucrativo, explorado por nós ou em Bairro da Misericórdia. parceria, como IPSS ou mediante a constituição de uma outra Estão projetadas, para já, 8 moradias de tipologia T2, 2 entidade. moradias de tipologia T1. Destas, 4 moradias de tipologia T2 estarão no mercado de arrendamento ainda este ano. O estado social exige cada vez mais de nós e, tal como consta No próximo ano, serão objeto de concurso as 2 moradias de no nosso Compromisso, a Misericórdia pode prosseguir, de tipologia T1 e mais 2 moradias de tipologia T2. modo secundário ou instrumental, outras atividades, a título


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gratuito ou geradoras de fundos, para garantir a sua sustentabilidade económico-financeira, por si ou em parceria, que possa trazer um retorno financeiro para ser investido na área social e na Educação. O crescimento institucional implica maior responsabilidade social, não só com a comunidade que nos rodeia mas também com os nossos utentes, colaboradores e respetivas famílias. Cada vez mais, é necessário apostar em atividades geradoras de fundos que possam vir a ser canalizados para o setor social.

É também neste espírito que pretendemos proceder à remodelação e renovação do Auditório do Centro Eng.º Eurico de Melo. Esta infraestrutura possui 267 lugares sentados, sendo o maior auditório do concelho. O nosso Grupo Coral e Grupo de Pequenos Cantores continuarão a ser um divulgador do nome da Misericórdia e do concelho de Santo Tirso, dentro e fora do país. Não podemos deixar de apelar à necessidade de encontrar mecenas que ajudem a financiar esta atividade. Como sempre, estaremos disponíveis para dinamizar atividades e eventos nas nossas estruturas (Auditório, Sala Multiusos, Facebook, Instagram, Revista, etc.).

Na área da Saúde, esperamos ter em funcionamento, no último trimestre de 2020, a nova Unidade Nas organizações do Terceiro Setor, “ Assim, a sustentabilidade passa de Cuidados Continuados. No os colaboradores são um alicerce também pela forte valorização dos antigo edifício da ARCO Têxteis, estratégico para a sua recursos humanos.” esta nova Unidade de Cuidados sustentabilidade. Continuaremos e Continuados terá a capacidade de aprofundaremos a aposta na gestão 36 camas, sendo 34 objeto de de pessoas, bem como na contratualização com a A.R.S. – Norte, ficando 2 camas sustentabilidade organizacional. para negociação com privados, nomeadamente Os colaboradores são o capital primordial e a seguradoras. sustentabilidade assenta na humanização da organização, por isso, as suas necessidades e interesses terão, cada vez Estamos cientes de que teremos de estar sempre disponíveis mais, de ser considerados no desenvolvimento da para apoiar o Estado na implementação das suas políticas atividade diária da organização, bem como no seu plano sociais e de saúde. Reiteramos a nossa disponibilidade para estratégico. Assim, a sustentabilidade passa também pela responder a qualquer projeto ou desafio, desde o social, forte valorização dos recursos humanos. educação, saúde e cultura, sempre com espírito de inquietude, procurando satisfazer as necessidades da comunidade que servimos.


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PLANO ATIVIDADES 2020

A aposta constante na qualidade dos serviços prestados, a busca da excelência para quem nos procura é o nosso desiderato.

Rendimentos € 7.475.700,00

A Misericórdia de Santo Tirso desenha a sua visão estratégica direcionada para a melhoria da qualidade dos serviços prestados à comunidade através da atualização do modelo de gestão organizacional, potenciando a melhoria contínua junto dos seus colaboradores, parceiros e entidades envolvidas na sua ação, de modo a ser reconhecida como entidade local preponderante na intervenção social e áreas afins.

Outros Rend. Ganhos 883.300,00

Juros e Rend. Similares 600,00 Prest. Serviços 3.511.000,00

Subsidios à Exploração 3.080.800,00

Outros Rend. Ganhos 12%

Subsidios à Exploração 41%

Juros e Rend. Similares 0% Prest. Serviços 47%


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Gastos € 8.072.200,00 Gastos e Perdas de Financiamento 8.900,00

Gastos de Depreciação e Amortização 632.300,00

Outros Gastos Perdas 7.400,00

Custo Merc. Vend. Mat. Cons. 681.000,00 Fornecimentos Serviços Externos 1.391.800,00

Gastos C/ Pessoal 5.350.800,00

Gastos e Perdas de Financiamento 0.11%

Outros Gastos Perdas 0.09%

Gastos C/ Pessoal 66.29%

Gastos de Depreciação e Amortização 7.83%

Custo Merc. Vend. Mat. Cons. 8.44% Fornecimentos Serviços Externos 17.24%

Notas: Rendimentos = € 7.475.700,00 Gastos = € 8.072.200,00 Resultado Líquido do Período= - € 596.500,00 Gastos de Depreciação e Amortização = € 632.300,00 Cash Flow = € 35.800,00 • POR JOÃO LOUREIRO (DIRETOR GERAL)


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134 ANOS AO SERVIÇO DA COMUNIDADE

No dia 3 de julho de 2019 a Misericórdia de Santo Tirso esteve de parabéns, comemorou 134 anos de vida, de história e de serviço à comunidade. Cumprindo a tradição, logo pela manhã, a Mesa Administrativa colocou uma coroa de flores junto ao jazigo do Conde S. Bento (nosso instituidor e primeiro Irmão Benemérito). Seguiu-se uma Eucaristia às 11h00, celebrada pelo Pe. Luís Mateus, este ano celebrada na Capela da Misericórdia, reunindo os Órgãos Sociais, Irmãos, Colaboradores, Utentes (crianças e séniores), Voluntários, e Comunidade que se juntou a nós com muita alegria. O Coro de Pequenos Cantores também marcou presença, animando a eucaristia com as suas vozes. A celebração deste dia culminou com um almoço convívio organizado por colaboradores, fomentando o espírito de partilha e união institucional. Que continuemos ao longo dos anos vindouros “a peregrinar e a fazer caminho” no bem cuidar do próximo. • POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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REPRESENTAÇÃO NO DESFILE DAS ASSOCIAÇÕES

Pelo terceiro ano consecutivo, este ano coincidindo com o dia 14 de julho, os colaboradores da Misericórdia marcaram presença no desfile das Associações do Concelho de Santo Tirso. Cumprindo com a tradição, pretendendo dar visibilidade à missão da ISCMST através da representação de diferentes categorias de profissionais (identificadas através dos diferentes fardamentos), registou-se a simpática participação de 35 colaboradores de 9 diferentes valências: Jardim de Infância, Casa de Repouso de Real, Lar José Luiz d’Andrade e Lar Dra. Leonor Beleza, SAD, Centro Comunitário de Geão, Casa Abrigo, Clínica de Fisiatria e Unidade de Cuidados Continuados. Viveu-se assim mais um fim de tarde de convívio, num espírito de equipa e dupla comunhão: interna e externa, voltada para a comunidade do concelho. • POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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BÊNÇÃO DA 1ª PEDRA NOVA UNIDADE DE CUIDADOS CONTINUADOS

O dia 28 de outubro de 2019 ficará marcado para a história da Misericórdia como a data em que decorreu a cerimónia de Bênção da primeira pedra da Nova Unidade Cuidados Integrados que irá ser construída no antigo edifício da fábrica “Arco Têxteis”, dando-lhe nova vida. O primeiro momento da cerimónia decorreu pelas 11h30 na Sala Multiusos, onde o Provedor da Misericórdia, Sr. José Pinto, apresentou um breve discurso de boas vindas aos convidados. Para além dos Órgãos Sociais, Diretores da instituição, entidades ligadas à construção do edifício, entre outros, marcaram presença no evento o presidente da Câmara Municipal de Santo Tirso, Dr. Alberto Costa, o presidente da União de Freguesias, Dr. Jorge Gomes, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, Dr. Manuel de Lemos e presidente do Secretariado Regional do Norte da UMP, Professora Dra. Amélia Ferreira. A ARS Norte fez-se ainda representar através das Enfermeiras Paula Duarte e Isabel Moura. O ato de bênção foi conduzido pelo Pe. Luís Mateus, Capelão da instituição, e em representação do Sr. Bispo da Diocese. Este novo equipamento que terá capacidade para 36 camas, perspetiva-se que seja inaugurado em final de 2020. • POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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GERIR A QUALIDADE

Desde 2010 a Misericórdia de Santo Tirso obteve a certificação do Sistema de Gestão da Qualidade que implementou nas 11 valências sociais: Lar “José Luiz d’Andrade” e Centro de Dia, Lar “Dra. Leonor Beleza”, Casa de Repouso de Real, Serviço de Apoio Domiciliário, Centro Comunitário de Geão e Cantina Social, Jardim de Infância “Comendador Abílio Ferreira de Oliveira” (creche e pré-escolar), Casa de Abrigo “D. Maria Magalhães” e Centro de Emergência. A terminar uma década da sua implementação, fazemos uma reflexão sobre o percurso traçado e as suas vicissitudes. Efetivamente, a fase inicial foi a mais trabalhosa, mas também a mais gratificante, dado que as mudanças de procedimentos foram notórias e com efeitos práticos. Não obstante alguma burocracia inerente à estrutura documental, verificou-se uma uniformização dos procedimentos, que clarificou as práticas profissionais e a comunicação entre valências. A transição para a nova versão da Norma ISO 9001:2015 aconteceu em 2018, constituindo um marco importante para o Sistema de Gestão da Qualidade, que numa fase de maturidade, aproveitamos para rever e flexibilizar procedimentos, numa perspetiva de melhoria contínua e de avaliação do contexto que rodeia a organização, valorizando o planeamento estratégico. Presentemente, temos que projetar o futuro: introduzir ferramentas informáticas, que possam facilitar a monitorização dos objetivos e dos indicadores de realização, para sermos mais eficazes na prestação de serviços e dedicarmo-nos à humanização dos cuidados aos utentes. • POR LILIANA SALGADO (DIRETORA DE SERVIÇOS SOCIAIS E QUALIDADE)


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EMPREENDER, SABENDO GERIR!

O empreendedor é aquele que consegue dar resposta a um conjunto de várias grandes questões: Onde Estamos? Quem Somos? O que podemos fazer? O que queremos? O que fazemos? Desta forma, qualquer organização pode identificar problemas, necessidades, as suas forças e fraquezas, os constrangimentos da envolvente, para depois definir objetivos, medidas e ações a desenvolver num dado quadro cronológico e orçamental, mas também pessoal, coletivo e motivacional. Empreender não é, obrigatoriamente, criar empresas. E este tem sido um erro de muitos que abordam o tema, centrando-o apenas na constituição formal de um negócio por conta própria. Pode haver empreendedores que nunca cheguem a ser empresários, e alguns destes, muito pouco empreendedores. Por conta própria ou de outrem, podemos empreender! Como podemos empreender no campo do associativismo juvenil, das juventudes partidárias, dos movimentos cívicos informais, do voluntariado médico ou da humanização hospitalar. No desporto, na cultura, na saúde, na ação social. Nos organismos públicos e nas entidades privadas. Aliás, o empreendedorismo social é um conceito que tem vindo a suscitar, nos últimos anos, uma crescente atenção. Não é propósito das linhas do texto que aqui se apresenta uma abordagem teórica, antes sistemática, importando apenas contextualizar que esta discussão emergiu nos debates teóricos internacionais na década de 90 do século XX, sendo alvo de uma grande diversidade de escolas e conceitos, sustentada nas

matrizes de diferentes realidades, apontando-se aqui a trilogia das abordagens anglo-saxónicas e das escolas que marcam o contexto europeu e latino-americano, onde o Brasil assume um papel importante. Aliás, o VII Congresso Português de Sociologia, realizado em 2012, no Porto, teve o tema na sua ordem de trabalhos. Ainda algo recentemente, no âmbito do XIV Encontro Nacional de Sociologia Industrial, das Organizações e do Trabalho, Emprego e coesão social: da crise de regulação à hegemonia da globalização, que decorreu em Lisboa (26 e 27 de Maio de 2011), vários oradores procuraram chegar a conclusões sobre o aparecimento e reforço do conceito, e da crescente profissionalização da gestão do terceiro setor, incluindo a organização das estruturas de apoio voluntário, nas últimas, sobretudo, duas décadas. No trabalho Empreendedorismo social: contributos teóricos para a sua definição, desenvolvido no âmbito do Congresso acima identificado, e produzido pelos investigadores Cristina Parente, Mónica Santos e Rosário Rito Chaves, da Cies-IUL, estes acabam por concluir que muito do “discurso” empreendedor no setor social resulta da apropriação do conceito de empreendedorismo pelo empreendedorismo social, o que se prende com a migração de características associadas àquele, mas num espaço cuja finalidade não é a da acumulação da riqueza ou lucro, mas, acrescento, a otimização de recursos e uma organização portadora de fluidez. Existe, hoje, um quadro institucional, legal, académico e até político, com enquadramento para reforçar a prática do Empreendedorismo Social, e que começa pelo


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EMPREENDER, SABENDO GERIR!

aparecimento de novas práticas de gestão nas significar, tão somente, para começar, responder, desde logo, cooperativas, fundações, mutualidades, associações, às questões que aqui se colocam, questões misericórdias, das entidades agregadores e congregadoras, intraempreendedoras, facilitadoras do “como gerir”: como a União das IPSS e das Misericórdias, e atualmente, com muito mais especificidade, levando ao aparecimento Onde Estamos? do IES - Instituto de Empreendedorismo Social, que, por Diria que vivemos um tempo em que os conceitos valem, já, sua vez, gera a primeira Social Business School - primeira mais que as marcas, em que a visão e o sentido superam a escola de negócios focada em Inovação e posse e o interesse, num mundo de microtendências e de Empreendedorismo Social (ponto de partida para um detalhes diferenciadores, de metacompetências, mais do caminho dedicado à Inovação Social na criação de soluções improvável que da lógica, de prevalência das emoções, da de negócio sustentáveis, oferecendo resiliência face às dificuldades e às um portefólio de formação, incertezas, da formação do ser e da investigação e consultoria, apostando trabalhabilidade, do networking ou do “A gestão é muito mais na excelência e numa forte rede de trabalho em rede e do poder das que a administração dos parceiros para inspirar, formar, apoiar multidões anónimas e das redes sociais, dados, da informação e, até, e ligar organizações e pessoas, de do trabalho colaborativo e das parcerias. do conhecimento. É, hoje, todos os setores de uma economia o campo da inteligência convergente e socialmente circular). Quem Somos? Para gerir, temos que apurar forças e competitiva.” Prevê-se que, como indicam alguns fraquezas. A Carta de Vida Relacional especialistas e autores, haja uma cada vez (assim designo esta ferramenta de auto mais forte correlação entre a variável conhecimento do empreendedor e das “inovação” nos sujeitos e o caráter empreendedor da organizações) é composta por seis variáveis. Nas duas organização, isto é, se as práticas de RH forem fomentadoras primeiras, competências e insuficiências, faz-se uma da inovação podemos fazer uma antevisão do capital adaptação da teoria das múltiplas inteligências de empreendedor do indivíduo, levando a uma maior Gardner, permitindo que se construa, posteriormente uma probabilidade da organização ser mais passível de inovar em base de conhecimentos, outras habilidades e atitudes e, novas áreas e serviços. ainda, um vasto campo de melhorias. Aqui se elencam Assim, tanto nas organizações empresariais, com fins lucrativos, competências/insuficiências verbais e linguísticas, lógicocomo nas organizações sem fins lucrativos, empreender, pode matemáticas, musicais e rítmicas, espaciais, corporais,


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intrapessoais, interpessoais, naturalistas e espirituais. Nas intolerâncias e valores, avaliam-se os princípios que permitem a construção da nossa missão pessoal, da nossa cultura de relacionamento. Nos interesses e paixões, avaliamse os dados mais próximos relacionados com carreira, empresa, setor, dados financeiros, por um lado, mas ainda os relacionados com o lazer e bem-estar, afetividade, tempo, mobilidade, diversão, sonhos… O que podemos fazer? É importante que para além do nosso nível de domínio do conhecimento técnico, valorizemos as nossas viagens, leituras, preferências musicais, os filmes de eleição. Ser empreendedor. Este tem um potencial de outras habilidades e de atitude que ultrapassa o sentido da avaliação meramente técnica. O empreendedor é uma figura matricial com pessoas e histórias dentro. Até com histórias de ajuda, de voluntariado, de doação. A gestão é muito mais que a administração dos dados, da informação e, até, do conhecimento. É, hoje, o campo da inteligência competitiva. Conhecer novas áreas do saber, partilhar a mudança e o seu processo, às vezes doloroso, mas conquistador de “músculo” emocional, é um desafio. Ampliar o leque das nossas respostas comportamentais, relacionais, técnicas e de gestão é um desafio permanente. O que queremos? Vontade e decisão apontam-se, como indispensáveis à vivência empreendedora, e não só. Importa ser capaz de recolher,

analisar e organizar informação, comunicar ideias e informação, planear e organizar atividades, resolver problemas, usar técnicas e elementos matemáticos, usar tecnologia, trabalhar com os outros e/ou em equipa, ser ousado e criativo, criar cenários. Mas acima de tudo o querer “vestir a camisola” e ter espírito voluntário. Identificar problemas, definir objetivos, traçar quadros de medidas, planos de ação, modelos de responsabilidade, um racional orçamental e uma cronologia de acontecimentos. O que fazemos? O desafio atual das organizações é trabalhar com foco nos resultados, pois os limites orçamentais que lhes são impostos, inviabilizam o negócio em função de erros estratégicos e decisões lentas. Deveremos, assim, integrar a gestão dos processos com as estratégias da organização, para a alinhar com os objetivos propostos, em termos de execução, resultado e impacto. De acordo com noções fundamentais na gestão de um qualquer “negócio”, termina-se com uma abordagem necessariamente intraempreendedora, transversal, de aplicação numa escala micro organizacional – que a gestão apurada ou high tech nunca esqueça a base local ou interna, a proximidade, a mudança, o pormenor, fatores paladinos de um nível high touch difícil de imitar, altamente diferenciável! Estas, sim, as bases de uma lusitana economia da simplicidade e do afeto! • POR JOÃO ABREU (DIRETOR DA ACADEMIA DAS EMOÇÕES; DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR NAS ÁREAS DO EMPREENDEDORISMO, COMUNICAÇÃO E COMPORTAMENTO)


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SERÁ QUE SOMOS NÓS QUE GERIMOS O NOSSO TEMPO, OU É ELE QUE NOS GERE A NÓS?

Estamos numa era acelerada, em que o nosso tempo é sempre mais urgente do que o de quem nos rodeia. No trabalho, em casa e na vida social esquecemo-nos muitas vezes de gerir o nosso tempo da melhor forma, o que nos leva a ter altos níveis de stress e a estar muitas vezes desfocados do que realmente importa. Há quatro tópicos relacionados com este tema que me interessam particularmente e sobre os quais me tenho debruçado nos últimos anos. Nem toda a gente pode ser um (bom) gestor. Acreditamos, enquanto sociedade, que se trabalharmos arduamente e tivermos formação adequada na área podemos gerir. Não acredito, porque acho que gerir vai muito para além da formação e que esta competência está diretamente relacionada com a capacidade de nos relacionarmos de forma empática. Gerir não pode ser só processual, gerir implica conhecermos as pessoas que nos rodeiam, gerir implica sermos equilibrados nas diferentes áreas da nossa vida, gerir implica um olhar crítico e um reagendamento constante de prioridades. E a verdade é que nem toda a gente consegue ter esta combinação de fatores. No meu percurso profissional fui ouvindo muitas vezes que “ou se é um bom empreendedor ou se é um bom gestor”. Isto porque o empreendedor é visto como alguém apaixonado por uma causa, por fazer acontecer e o gestor é a pessoa que o chama à terra e racionaliza as suas ideias. Acredito que se possa haver uma combinação das duas identidades, mas acredito ainda

mais que um bom gestor não se faz sozinho, sem uma equipa. Um dos segredos de gestão está na qualidade do tempo. As constantes interrupções a que somos sujeitos, pelo “ruído” contextual que muitas vezes nos é imposto, levam-nos a perder o foco e a desviar a atenção. Não podemos eliminar estes fatores, mas podemos decidir quanto tempo investimos em cada uma das nossas tarefas para podermos ser mais efetivos na conclusão dos nossos objetivos. Digo muitas vezes que um dos segredos do sucesso é a organização, e a gestão eficaz da nossa agenda é fundamental. Dedicar tempo ao planeamento diário ou semanal e avaliar os resultados desse plano é a única forma de aumentarmos a nossa produtividade e melhorarmos a nossa performance. Temos, no entanto, que contemplar tempo para interrupções ou tarefas inesperadas, assim como para pausas (que aumentam a produtividade), para os índices de stress não aumentarem quando não atingimos as métricas propostas. Quando nos comprometemos com o planeamento fica mais claro sabermos qual o caminho e quanto tempo o vamos demorar a trilhar. Isto permite-nos dizer mais facilmente que não ao que não estava planeado e conseguimos eliminar distrações, conseguindo assim uma maior produtividade.


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SERÁ QUE SOMOS NÓS QUE GERIMOS O NOSSO TEMPO, OU É ELE QUE NOS GERE A NÓS?

Gerir pessoas é uma das tarefas mais complicadas. As pessoas são um mundo sem fim, e quando juntamos pessoas com objetivos diferentes numa mesma equipa pode ser muito complicado o processo de gestão. Digo muitas vezes que ser professor é uma das profissões mais difíceis do mundo: têm que ensinar um currículo a alunos com um perfil completamente distinto, têm um horário e métricas para cumprir (que não contempla interrupções ou tarefas inesperadas) e têm que ensinar todos os alunos num ritmo constante dando resposta a necessidades diferentes. Se olharmos para uma sala de aula um professor tem que gerir horários, conteúdo e ainda personalidades que estão em desenvolvimento constante, estimulando ao mesmo tempo o pensamento crítico de todos eles. Este processo pode ser verdadeiramente esgotante! Isto acontece também em pequenas, médias ou grandes organizações, que lidam com desafios diários e onde dar resposta a todas as idiossincrasias nem sempre é possível por questões de performance e de gestão do tempo. Têm surgido vários modelos de gestão de recursos humanos e de equipas nos últimos anos, mas acredito que o segredo de todos eles é colocar as pessoas no centro da gestão, percebendo o que têm a dizer sobre o assunto. Mas nem sempre é fácil e existem modelos de governance verdadeiramente complicados que atrasam o desenvolvimento e o crescimento de muitas organizações.

Ser gestor na vida. Preocupamo-nos muito com a gestão da nossa vida profissional e continuamos a abdicar de sermos bons gestores da nossa vida – porque na verdade só temos uma. Prejudicamos constantemente o nosso tempo de lazer porque não fazemos uma boa gestão da nossa agenda global. Quanto tempo dedicamos ao nosso sono? Quanto tempo dedicamos às nossas relações? Quanto tempo dedicamos a nós próprios? Um bom gestor é alguém que equilibra estas dimensões e que garante, assim, a sustentabilidade. É alguém que combina uma boa gestão do tempo, com o investimento em atividades que aumentam a sua qualidade de vida, com a preocupação pela humanização dos contextos e pelo investimento na inteligência coletiva. Se vos pedir para pensar num bom gestor provavelmente vão pensar em alguém muito bem-sucedido profissionalmente, alguém ligado ao valor económico. Mas um bom gestor não é aquele que tem muito dinheiro, é aquele que sabe exatamente onde o vai aplicar para ter um impacto maior, e isto só é possível se houver um entendimento macro sobre as dimensões referidas anteriormente. • POR JOANA MOREIRA (DIRETORA DE PROGRAMAS DO IES – SOCIAL BUSINESS SCHOOL)


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GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS OS RESULTADOS SÃO AS PESSOAS

As Instituições são as suas pessoas – lugar-comum, pensamos de imediato. Nada mais acertado, sabemos. Gerir Recursos Humanos ou Gerir Pessoas com qualidade é tarefa prima que distingue as organizações de excelência das restantes. A resposta está nos líderes (os superiores, os intermédios, as chefias diretas), no fundo, os responsáveis por assegurar que são garantidas as condições de base para o desenvolvimento do máximo potencial dos colaboradores. Debrucemo-nos, então, sobre eles. Ser um Líder Multiplicador ou tornar-se num, parece ser a chave para o sucesso. Antes de mais, interessa perceber o que o distingue.

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É possível fazer e conseguir mais com os mesmos recursos, desde que se esteja disponível a transferir para os colaboradores a responsabilidade de pensar, ou seja, desde que se lidere como um “Multiplicador”. Os “Líderes Multiplicadores” conseguem promover a inteligência coletiva das equipas com base em cinco áreas: (1) Talento – Tendem a aproximar os colaboradores procurando encontrar talento(s) em todos. Entendem que, em todos os níveis, há colaboradores que detêm conhecimentos ou competências que os líderes não evidenciam, competências traduzidas em tarefas nas

Líder Diminuidor

Líder Multiplicador

- Subvaloriza e “subutiliza” os colaboradores, desaproveitando a sua criatividade e o seu talento.

- Valoriza e promove uma cultura de “inteligência organizacional” (independentemente das suas capacidades individuais), a partir da qual os colaboradores não só se sentem como se tornam mais capazes.

- Acredita que a inteligência é elitista, rara e estática, que ou se tem, ou não adianta tentar desenvolvê-la.

- Acredita que a inteligência está em permanente desenvolvimento e, por isso, pode ser potenciada.

- Cria um ambiente de tensão que oprime as competências e o pensamento individual.

- Cria um ambiente intenso que exige o melhor pensamento e trabalho dos colaboradores.

- Dá direções nas quais mostra o quanto sabe.

- Cria oportunidades de os colaboradores pensarem “fora da caixa”.

- Decide de forma centralizada e abrupta.

- Decide após debates rigorosos entre os membros da equipa.

- Atribui os resultados ao seu envolvimento.

- Reconhece e investe no sucesso dos outros.


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GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS OS RESULTADOS SÃO AS PESSOAS

quais são excecionalmente bons ou em que são bons espontaneamente (muitas vezes sem que lhes seja pedido ou que sejam pagos para tal). Promovem um ciclo vicioso de atração, crescimento e oportunidade, porque atentam às competências individuais e cruzam-nas com as oportunidades adequadas. (2) Cultura – São explícitos na “permissão” que dão aos seus colaboradores para pensar, falar e agir autónoma e racionalmente. Por norma, propiciam um ambiente de trabalho exigente, mas compensam-no com a tolerância que têm ao erro (erro como oportunidade) e com a perceção que têm de que o conhecimento se adquire com o tempo. Desta forma, criam ambientes nos quais os indivíduos têm possibilidade de progredir. (3) Estratégia – Sabem que as grandes ideias derivam de tempos de necessidade e mudança. Neste sentido, levam os seus colaboradores a pensar para lá do que já sabem: colocam questões desafiantes que impelem para a ação. As pequenas vitórias dos membros da equipa aumentam o seu sentimento de confiança e as suas expectativas de autoeficácia, colocando em perspetiva problemas que de outra forma poderiam parecer inultrapassáveis. (4) Tomada de decisão – Envolvem e comprometem os colaboradores no processo de decisão, promovendo discussões rigorosas e aprofundadas. Ao permitirem que estes se pronunciem, apresentem e considerem diferentes possibilidades, abrem espaço a um maior entendimento

sobre o(s) assunto(s) em questão e aumentam a probabilidade de comprometimento dos colaboradores com as ações necessárias. (5) Execução – Vêem-se como orientadores e não como “heróis”, ou seja, promovem o trabalho independente, permitindo que os seus colaboradores sejam responsáveis e reconhecidos pelo seu próprio sucesso. Delegam tarefas e/ou decisões, apostando na flexibilidade e na autossuficiência dos colaboradores que identificam como capazes de levar a cabo os desafios propostos. “Líderes Completos” são um mito. “Líderes Incompletos” não são “Líderes Incompetentes”, são aqueles que conhecem as suas potencialidades e se permitem circundar de outras pessoas com potencial diferente e diferenciador que os completam nas suas decisões (desta forma mais eficazes). Só com “Líderes Multiplicadores” se consegue atingir a excelência operacional: o grande desafio que é resultado da excelência nos processos de gestão. • POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)


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O DESAFIO DA GESTÃO DOS DADOS PESSOAIS

À gestão de dados pessoais e a toda a dinâmica de tratamento que envolve a aplicação dos vários diplomas legais e regulamento que fundamentam o seu cumprimento, podemos e devemos aplicar o conceito de gestão, especialmente se optarmos por um conceito que aposte em tirar o melhor proveito da estrutura operacional da nossa organização aliado ao uso eficiente e coerente das novas tecnologias e elementos humanos para que estes sejam, no âmbito das suas funções e capacidades, regidos pelo superior interesse e respeito pelos direitos dos vários titulares de dados com os quais a Instituição articula.

O respeito pela privacidade, dignidade e autonomia dos titulares deverá ser constante para que nunca seja esquecida a premissa da licitude do tratamento e o princípio que toda a atividade de tratamento de dados deverá ser concebida para servir os interesses dos titulares de dados. Independentemente dos cenários aos quais possamos assistir ao nível da utilização das redes sociais ou de outras formas de tratamento de dados com as quais somos confrontados na nossa vida quotidiana, em que a exposição da vida privada assume um caráter de variável constante, o lema institucional deverá ser o de respeitar os seus titulares de dados no âmbito dos direitos que lhes assistem, gerir os “Tendo em consideração a quantidade fins de tratamento e zelar pelo de dados pessoais recolhidos e tratados escrupuloso cumprimento das pela Instituição (...) devemos olhar com obrigações legais às quais estamos particular preocupação para os dados de subordinados.

Este caminho de gestão de recursos, tecnologias, práticas e procedimentos não é simples, nem é feito de linhas retas. Ele apresenta-se sinuoso, cheio de dúvidas e toda a equipa saúde e de informação clínica.” institucional deverá apostar Tendo em consideração a numa aprendizagem contínua, quantidade de dados pessoais sintonizada e interessada para recolhidos e tratados pela que haja uma consolidação e incremento de boas práticas Instituição, e não descurando a importância dos mesmos nesta área. quanto à sua classificação, devemos olhar com particular preocupação para os dados de saúde e de informação clínica. Antes de mais, o princípio primordial que deverá reger a recolha e tratamento de dados deverá assentar nos princípios Com a entrada em vigor da Lei nº58/2019, de 08 de Agosto, o da transparência e proporcionalidade, aliados à estreita tratamento de dados de saúde deve reger-se pelo princípio da necessidade de utilização dos dados de acordo com o objetivo necessidade de conhecer a informação e quer este diploma que se encontra subjacente à sua recolha. A minimização de legal quer o Regulamento Geral de Proteção de Dados, dados impõe-se e prevalece! apelam à responsabilidade dos profissionais que tratam e

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O DESAFIO DA GESTÃO DOS DADOS PESSOAIS

legislação que envolve o tratamento de dados, não esquecendo a importância que a gestão de processos e procedimentos assume para que tal seja uma realidade e que permita a contínua consciencialização de todos os colaboradores desta Instituição para as temáticas da privacidade e proteção de dados. • POR SÍLVIA RIBEIRO (ENCARREGADA DE PROTEÇÃO DE DADOS)

tenham acesso a dados relativos a esta área, estejam sujeitos à obrigação de sigilo. Esta obrigação abrange não só os profissionais de saúde mas todos aqueles que no contexto de acompanhamento tenham acesso a estes dados. É importante que tenhamos consciência que estes dados devem estar protegidos contra a exposição e acesso indevidos para que os titulares de dados sejam capazes de confiar que a informação pessoal e confidencial que lhes diz respeito serve apenas uma finalidade concreta e que é tratada com o devido rigor. O mesmo rigor deverá ser aplicado ao nível das relações laborais, com especial enfoque para os sistemas de controlo de assiduidade. Por tudo isto, e sendo tudo isto um pequeno apontamento, é importante que todos continuemos conscientes, empenhados e sensíveis para a necessidade de cumprir e respeitar a


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GERIR CUIDADOS INFORMAIS

Na nossa comunidade, a generalidade das famílias nem sempre está preparada para apoiar os seus familiares que necessitam de cuidados. As transformações pessoais, profissionais e sociais estão tão intensamente presentes nas suas vivências, que o medo e a insegurança começam a constituir-se como fatores dificultadores do processo de cuidar, pelo que se torna relevante encontrar estratégias que tornem esta tarefa o mais ajustada possível, de modo a que as famílias, preservando a sua integridade e bem-estar, sejam capazes de superar as sucessivas dificuldades com que se deparam no seu papel de cuidadoras. O sucesso na prestação de cuidados informais não passa por uma mera postura passiva de ficar à porta de entrada a observar o que acontece, mas, por se tratar de uma área de enorme complexidade que implica intervenção, é preciso subir a escada! Devemos reagir individualmente a toda esta conjuntura adversa? O problema é que, dados os escassos mecanismos ao dispor dos cidadãos para agirem, não é fácil poder apurar os problemas no seu contexto natural, apesar de este ser sempre o centro de qualquer processo. É complexo mapear e demonstrar a nossa solidariedade, pois, naturalmente, não é fácil entrar no seio das famílias. Não são voluntários nem estagiários, são familiares e amigos, com proximidade e envolvimento diferente, idades díspares e geografias distantes, que apoiam e protegem com apego. São braços que garantem o aconchego, 24 sobre 24 horas, numa

luta sem fim à vista, ancorados em sentimentos que conciliam amor, dedicação e cumplicidade; simplesmente porque a pessoa é importante para eles. O controlo dos cuidados, transversal a várias etapas da vida, poderá ser o espelho da sociedade contemporânea? Houve um período em que se viveu uma espécie de letargia humana e social, porém, ao contrário do que muitas vezes transparece, o trabalho das famílias tende a ter contornos notáveis em contexto domiciliário. É precisamente essa capacidade de sorrirem e de se erguerem perante o embate com o lado menos bom da vida, que nos surpreende, nos comove e nos faz sentir pequenos. Recordamos a dedicação e o trabalho incrível daqueles que poderiam criar uma espécie de diário de bordo da sua própria história de vida e continuam a ser permeáveis aos ventos de mudança, como se toda a família estivesse unida por um forte laço, um tesouro grandioso a ser cuidado com todo o amor e, na perda de um dos elementos, os outros sofrem profundamente o impacto. Há imensos livros sobre o luto, de forte praxis, mas parecem ter pouca importância para quem passa por isso. • POR MANUELA CARNEIRO (TÉCNICA SUPERIOR DE SERVIÇO SOCIAL DO LAR DRA. LEONOR BELEZA)


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GERIR EMOÇÕES… COM PELOS À MISTURA!

O amor e a fidelidade da presença de um animal, não é algo para desistirmos à medida que envelhecemos, muito pelo contrário! Está comprovado cientificamente, que ter um animal “em casa” melhora a qualidade de vida de pessoas idosas ou em situação de dependência, sobretudo se viverem numa unidade residencial. Maioritariamente, são pessoas que apresentam problemas de saúde, fragilidades sociais e emocionais. Muitas vezes, não se sentem amadas, têm dificuldade em comunicar com outras pessoas e acabam tendo um sentimento de solidão, isolamento e pouca ocupação durante o dia. Foi com base na certeza científica, de que a presença de um animal, ajuda os idosos a permanecerem de boa saúde, tanto física quanto psicologicamente, que o Lar Dr.ª Leonor Beleza adotou uma Gata, arriscando e desafiando o que seria o desconhecido e imprevisível na gestão diária de um animal numa Unidade de Grandes Dependentes. De nome Beleza, assim batizada pronta e espontaneamente por todos, pelo macio, olhar meigo e andar sereno, desde o primeiro dia que despertou as mais variadas emoções positivas em utentes, familiares e colaboradores. Assumimos, no entanto, que a decisão de adoção da Beleza não foi um processo fácil. A pergunta era: Serão os gatos adequados a idosos num lar residencial? Hoje, o Lar Dr.ª Leonor Beleza, está em condição de afirmar um “Sem dúvida sim”.

… pelo Contacto. O contacto físico, sem ser o da prestação de cuidados, é algo que as pessoas mais velhas ou frágeis podem sentir falta. Os animais de estimação são, na sua maioria, seres afetuosos que podem ser acariciados, tocados ou abraçados. Tocar na Beleza tem ajudado a reduzir o stress e a manterem uma sensação de bem-estar.


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… pela Estimulação Cognitiva. Muitos residentes são grandes dependentes e, por isso, não se interessam ou não conseguem permanecer em atividades, ou noutras formas de ocupação do tempo. A televisão, um dos entretenimentos de eleição, é de natureza passiva. A Beleza atrai a atenção de todos, fornecendo-lhes estímulo através da visão, toque, olfato e audição. …pela Reminiscência. Ver um cão ou um gato traz de volta memórias de situações passadas. E para os idosos, a lembrança dos velhos tempos é muito positiva. A maioria, assim que viu a Beleza, lembrou-se dos seus animais de estimação. Boas lembranças, emotivas e carregadas de muito carinho. … por ser um Facilitador Social. Os animais de estimação aumentam o contacto social e a capacidade dos idosos interagirem satisfatoriamente com os outros. Os utentes passaram a ter um tema para conversarem entre si. Partilham nomes, raças, alimentação, acontecimentos vividos com os seus animais de estimação. Expressam preocupações. Partilham emoções comuns. … pela Comunicação. Os idosos sem capacidade de comunicação verbal têm desenvolvido gestos, expressões faciais, sinais manuais, entre outros, para tentarem que a Beleza entenda as suas indicações. Também tem estimulado a linguagem das pessoas que, por exemplo, permaneciam muito tempo em silêncio. Têm utilizado mensagens simples e claras para comunicarem com a gata.

… pela Condição não Julgada. Cães e gatos demonstram o seu carinho de todo o coração, independentemente da idade, físico, saúde mental ou personalidade da pessoa. A Beleza interage com cada um dos residentes, aceitando-os e respeitando-os tal como são. No seu tempo, no seu espaço, nas suas formas de estar e interagir. Os contactos surgem de forma natural e espontânea.


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GERIR EMOÇÕES… COM PELOS À MISTURA!

… pela Capacidade de Autocontrole. A presença de animais de estimação ajuda a que os idosos desenvolvam a capacidade de controlarem as suas próprias emoções. Aprendem a regular o seu estado emocional porque compreendem os seus efeitos. Se um idoso estiver nervoso, ou tiver um tom de voz forte ou se relacionar de maneira desadequada com o animal, este pode deixar de interagir e afastar-se. Os idosos e colaboradores aprendem que é mais

positivo um relacionamento com respeito e emoções positivas, como alegria e serenidade. … por Atrair a Atenção Diariamente vemos a Beleza a atrair a atenção de todos, graças aos seus movimentos e exibições de jogos e carinho. Tem motivado os idosos e despertado o seu interesse. Seguem-na com o olhar. … pelos Jogos Os idosos e pessoas dependentes têm poucas oportunidades para “brincarem”. Um animal de estimação afetuoso pode ajudá-los a libertarem os seus instintos mais divertidos. A Beleza, por todos os momentos e travessuras criadas, tem permitido que os utentes se concentrem no presente e esqueçam, mesmo que por momentos, o presente mais doloroso. … pelos Risos Os idosos, por todas as suas dificuldades, nem sempre têm oportunidade ou motivos para rir. A Beleza tem feito sorrir. Pelo referido, torna-se evidente que a presença da Beleza, por si só, tem imensos efeitos positivos nos utentes. Referimos, no entanto, que o Lar Dr.ª Leonor Beleza, por ser uma Unidade de Grandes Dependentes com utentes com vários comprometimentos clínicos, nomeadamente respiratórios, preocupa-se em seguir as orientações da equipa médica. A Beleza tem permanecido em espaços comuns, corredor e sala


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O Lar Dr.ª Leonor Beleza sente-se, por isso, imensamente grato por ter sido escolhido pela Beleza para sua família! Agradece aos colaboradores, que de coração, acarinham, alimentam e higienizam o seu espaço. Só assim seria possível a gestão diária de um animal de estimação num Lar Residencial. Ao Dr. Ricardo Baptista, que enquanto veterinário, e de forma voluntária, prestou todos os cuidados clínicos necessários para que a Beleza pudesse partilhar em segurança os espaços com os utentes. À Direção da Misericórdia, por permitir que o Lar Dr.ª Leonor inovasse e introduzisse nos seus planos de intervenção a Terapia Assistida por Animais. • POR ANA LUÍSA CARVALHO (COORDENADORA DO LAR DRA. LEONOR BELEZA)

de convívio, espaços amplos e ventilados, afastada dos quartos, salvaguardando-se assim a situação clínica de cada utente. Por tudo isto, desde que a Beleza pousou as patas no Lar Dr.ª Leonor Beleza, que os dias na casa cresceram em horas felizes. São imensos os momentos de carinho e de grande felicidade vividos por todos. Assim como é evidente a melhoria da qualidade de vida dos utentes e o estado de bem-estar geral.


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#38

GERIR... A FAMÍLIA!

Como é de conhecimento geral, a população está cada vez mais envelhecida, no entanto será que se envelhece melhor?! Pode-se constatar que viver mais poderá conduzir a períodos de maior vulnerabilidade e incapacidade, levando à necessidade de apoio, em casa. As pessoas idosas tendem a permanecer na sua residência, o maior tempo possível, visto não quererem abandonar a sua casa, os seus bens e como é referido por alguns idosos, atribuem aos lares uma conotação negativa. Deste modo e na existência da necessidade de prestar apoio, recorrem ao Serviço de Apoio Domiciliário. Desta forma, os cuidados assegurados em contexto domiciliário são frequentemente assegurados, maioritariamente, pelos cuidadores informais. No passado dia 05 de Novembro, comemorou-se no Serviço de Apoio Domiciliário da Misericórdia de Santo Tirso, o Dia do Cuidador Informal. Inicialmente, delineamos o perfil do cuidador informal, sendo a amostra de 36 utentes. Salienta-se que os cuidados prestados são maioritariamente assegurados por mulheres (58%), a idade média apresentada é de 66 anos de idade. Os cuidadores informais são na totalidade familiares do utente, nomeadamente Filho(as) representados por 53%, conjuges por 36%, ou outra relação de parentesco 11%. Constatou-se ainda que 81% dos cuidadores informais residem com os idosos a quem prestamos apoio.

De seguida, apresentamos as opiniões de alguns dos cuidadores informais do SAD, que espelham a realidade de muitas casas.


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Ação Social e Comunidade

ASPETOS POSITIVOS DE SER CUIDADOR INFORMAL •

“Poder tratar do paciente na sua casa, em condições de conforto”;

“Evitar deslocar-se diariamente ao Hospital ou SNS por pequenas queixas”;

“Poder ajudar quem sempre nos ajudou”;

“Tratar o paciente de maneira afetuosa”;

“Aprender mais em cuidar dos outros”;

“Olhar para o meu pai e ver que está feliz”;

“Conhecimento de toda a situação e necessidades exigidas”;

“Poder estar sempre na companhia da minha esposa”;

“Não ter ter nada mais que lhe possa fazer”;

“Saber que no caso da doença ser ao contrário, ela me faria o mesmo”;

“Aprendi com o domicílio a cuidar melhor da higiene do meu marido”;

“Aprendi a comunicar melhor com ele, devido à doença de não poder falar”. •

POR ANDREIA BERRONES DE MACEDO (COORDENADORA DO SERVIÇO DE APOIO DOMICILIÁRIO)


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Formação

#38

GÉNERO, IGUALDADE E CIDADANIA DESCONSTRUÇÃO… REFLEXÃO…

Foi com este mote que o Centro Comunitário de Geão promoveu, no passado dia 24 de Outubro – Dia Municipal para a Igualdade, um momento de análise e partilha sobre questões relacionadas com Género, Igualdade e Cidadania, dirigido a técnicos/as do Concelho de Santo Tirso com intervenção social em vários domínios: Núcleo Local de Inserção (NLI), Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), Grupo Temático da Violência Doméstica – Rede Social, Equipa Multidisciplinar de Assessoria aos Tribunais (EMAT) e Equipa Técnica da Casa Abrigo. Esta ação que integrou o Programa da “Semana pelo Combate à Pobreza e Exclusão Social” promovida pela EAPN, Porto, contou com a colaboração da Associação Plano i, Dr.ª Ana Luísa Abreu, na dinamização da mesma. A palavra género diz respeito a representações sobre a feminidade e a masculinidade, construídas ao longo dos tempos pelas diferentes sociedades, e que estão associadas às expetativas que foram sendo criadas sobre o que é expectável a mulheres e a homens. Deste modo, falamos em género quando nos referimos a um conjunto de crenças partilhadas pela sociedade, sobre o feminino e o masculino e que são independentes da realidade concreta de cada ser humano, homem ou mulher – das suas capacidades e aspirações; da sua individualidade física e emocional – e que, enquanto preconceitos, condicionam a vida de uns e de outros, restringindo as suas escolhas, os seus percursos e projetos de vida.

Contrariar e eliminar os preconceitos de género implica considerar mulheres e homens na sua diversidade física, psicológica e social assumindo que umas e outros integram o que, nos habituámos, a designar por feminino e masculino. Implica também reconhecer que estas dimensões não são inalteráveis nem de origem biológica, antes decorrem de processos de socialização, (re)construindo-se e (re)fazendo-se ao longo do tempo e do percurso de vida de cada indivíduo. A definição de identidades sexuais ou de género também pode ser questionada: porque é que utilizamos os termos “homem” e “mulher” e reduzimos os corpos a tal, assim como a redução dos géneros ao masculino e feminino?


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Formação

e social, é importante uma intervenção que responda a questões como “Igualdade, Inclusão, Participação”. A comunidade deve querer ser natural, livre nas suas opções sem correr o risco, sem o medo de ser apontado, julgado, e assim, seremos de facto uma sociedade respeitadora da diferença do outro. Fica o desejo de que: Junt@s seremos + Igualdade e Desenvolvimento no Combate à Pobreza e Exclusão Social. “Caminhar apesar da distância, Vencer apesar dos obstáculos, Sonhar apesar das desilusões, Sorrir apesar das angústias, Acreditar acima de tudo!” (Autor desconhecido) • Somos todos/as iguais com as nossas diferenças e com o direito de viver em sociedade e ser respeitados/as. Os olhares, as críticas, não deveriam incomodar, mas ainda estão lá, não deixaram de existir. Assim, é importante considerar o papel fundamental que cada um/a pode ter na mudança da sociedade e na disseminação de boas práticas relacionadas com este tema, bem como a responsabilidade no apoio a populações identificadas como vulneráveis/ausência de privilégios. Sem que fiquem comprometidas as possibilidades de resposta a problemáticas com que os/as técnicos/as se deparam nas relações humanas associadas às intervenções diárias, e que sirvam de base a todo o processo de mudança organizacional

POR SUSANA MOURA (COORDENADORA DO CENTRO COMUNITÁRIO DE GEÃO)


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Ação Educacional

#38

AJUDAR A GERIR... EMOÇÕES

Os sentimentos e emoções estão presentes nas nossas vidas desde que nascemos, eles fazem parte da natureza humana e não podemos deixar de os sentir. Expressar as emoções e os sentimentos na infância, sejam positivas ou negativas, é algo que todas as crianças devem fazer. É papel do educador ajudá-las a saber “gerir” e “expressar” as mesmas, a partir de uma educação emocional positiva, baseada numa relação de compreensão, confiança e carinho. • POR ALEXANDRA CARVALHO (COORDENADORA DO JARDIM DE INFÂNCIA)


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Ação Educacional


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Saúde

#38

GERIR, O ANTAGONISMO

No dicionário da língua portuguesa, gerir tem como definição fazer a gestão de; administrar; exercer o controlo de; ter gerência sobre; dirigir; governar; resolver com eficácia; ter acesso a; utilizar (meios, recursos).

estabeleçamos objetivos que se coadunem com uma boa gestão. Não é fácil, aliás o maior problema será mesmo ser pró-ativo sem que os nossos pares, as pessoas que nos rodeiam, não vejam esta atitude de forma errada e interesseira. O problema reside exatamente na confusão que existe entre pró-atividade e protagonismo. Atrevo-me a dizer que estas Esta definição permite-nos, sem qualquer problema ou palavras são antagónicas e não sinónimas. Um líder não quer dificuldade, identificar o conceito da palavra gerir. Mas, o que protagonismo, quer que a sua equipa vença, que ultrapasse o dicionário não define, e só a experiência nos vai ensinando, obstáculos, que atinja os objetivos definidos, sem que o mesmo é que gerir é algo difícil, e mais difícil o é nos dias de hoje. tenha necessidade de se “expor”. Ser líder, saber gerir é reconhecer que o seu papel é Para se fazer uma boa gestão, proporcionar condições para que temos obrigatoriamente de ser os outros possam singrar no mundo “Um líder não quer protagonismo, quer pró-ativos, temos de “vestir a do trabalho. Tenhamos sempre que a sua equipa vença, que ultrapasse camisola”, sabemos que é inerente presente esta frase que nos dá obstáculos, que atinja os objetivos à função o estar acordado de algum alento: “Nunca serás madrugada a “organizar criticado por alguém que faça definidos, sem que o mesmo tenha mentalmente” o próximo dia de mais do que tu”. necessidade de se expor.” trabalho, tentando prever cenários e soluções para que o dia que se Efetivamente, é difícil nos dias de avizinha seja rentável e proveitoso. hoje gerir, fazê-lo com “alma e coração”, mas com o cérebro sempre a comandar. É difícil O primeiro obstáculo encontrado é: Como agradar a todos, lutar com uma sociedade “morna e indiferente” que nos tenta ou a alguns, sendo justos e equitativos com os que engolir num marasmo social, formatado para uma inércia colaboram connosco? Ser justo e equitativo implica geral. Surge-me outra frase no pensamento: “Quando não te distribuir o bom e o mau de igual forma por todos. conseguirem manipular, vão tentar manipular os outros para que pensem mal de ti”. Esta é a verdadeira prova de fogo dos Sejamos persistentes e resilientes e lutemos sem desistir por líderes, pois a coragem de cada um não se mede pelas vezes aquilo que achamos ser o melhor na tarefa que temos e pelas em que caímos, mas sim pelo tempo que nos demoramos a pessoas com quem trabalhamos. Sejamos pró-ativos, levantar.


Em suma, ser líder é algo que nasce com as pessoas, vem desde o berço, não se adquire, é inato. Para estes, mais difícil é o percurso, visto que não conseguem, apesar de todas as vicissitudes, deixar de ser pró-ativos, de ter um papel interventivo, de crítica construtiva. Para estes, não há a possibilidade de não gerir, dado que o desgaste de se ir contra característica tão intrínseca torna infrutífero esse mesmo esforço. Não nos podemos esquecer de que a sorte protege os audazes, mas a sorte também dá muito trabalho. Por conseguinte, quanto mais alimentarmos a nossa coragem e não o nosso medo, mais depressa passaremos a derrubar os muros que nos vão colocando e a construir as tão necessárias pontes para uma boa gestão. • POR MARTA RIBEIRO (COORDENADORA DA SAÚDE)


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Saúde

#38

GERIR SORRISOS

Sorrisos Saudáveis e Brilhantes é pretensão de todos nós. Será possível? Sim, para isso temos que promover a prevenção, bons hábitos de higiene oral e uma alimentação cuidada como parte integrante da saúde em geral.

Selantes de Fissuras nas superfícies mastigatórias, formando uma superfície mais lisa e fácil de higienizar. A aplicação de Flúor, que remineraliza o esmalte, reduz a sensibilidade e previne cáries. Previna!

A Higiene oral impede a entrada de bactérias no organismo, ajuda a ter um sorriso fresco e um corpo saudável. A Saúde oral indica o estado geral da saúde, muitas vezes o primeiro sinal de doença manifesta-se na boca. A Cárie dentária é das doenças mais prevalentes no mundo e causa dor e perda de confiança. É provocada pela ação de bactérias que originam destruição do dente. Doença das gengivas e periodonto (osso) responsáveis pela firmeza dos dentes, é causada pelo depósito de placa bacteriana e tártaro no sulco entre gengiva e dentes, que provoca inflamação crónica que não diagnosticada e tratada torna-se irreversível e os dentes começam a abanar, acabando por cair. O controlo sobre o desenvolvimento das bactérias depende principalmente da higiene oral e da saliva, esta contém enzimas que destroem as bactérias. As visitas regulares ao dentista são fundamentais para manter a saúde oral. Tratamentos preventivos como a remoção da placa bacteriana e tártaro através de uma Destartarizacao (limpeza dentária). Outro tratamento preventivo muito importante é a aplicação de

Não espere sentir Dor para ir ao Dentista. • POR RAQUEL SILVA (GABINETE DE MEDICINA DENTÁRIA, CLÍNICA DE FISIATRIA)



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Cultura

#38

PALESTRA “O AMOR É” COM JÚLIO MACHADO VAZ

O Auditório “Centro Engº Eurico de Melo” quase não foi suficiente para acolher os cerca de 320 participantes que assistiram, com muito entusiasmo, à Palestra “O AMOR É” com o conhecido sexólogo, psiquiatra e autor, o Professor Júlio Machado Vaz. Este evento, organizado pela Misericórdia de Santo Tirso, integrou as comemorações do Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres que o Grupo Temático da Violência Doméstica da Rede Social de Santo Tirso promoveu (e do qual a Instituição integra) e teve como objetivo abordar o amor e as suas dualidades nas relações não violentas. Em representação da Mesa Administrativa marcaram presença o Provedor da Instituição, Sr. José dos Santos Pinto e o Presidente da Mesa da Assembleia Geral, Dr. Joaquim Couto, e os Mesários Dr. Duarte Gonçalves e Prof. Fernanda Torres. Assim, ao mesmo tempo que foi apresentado o novo livro “À Escuta dos Amantes – Memórias e Labirintos de um Ouvidor”, a conversa fluiu num ambiente intimista, muito descontraído e envolvente, contando ainda com a moderação da jornalista da RTP1, Cristiana Freitas. O seu papel foi crucial para orientar a conversa, conduzindo as

perguntas que foram respondidas pelo Professor Júlio Machado Vaz com toda a sua experiência profissional, no seu discurso simples, sábio e bem-disposto. Os temas abordados andaram à volta do amor vivido no dia-a-dia, nas relações difíceis, nos casamentos e no namoro, atualmente muito alimentados pelas novas tecnologias e redes sociais, obrigando a uma adaptação constante a novos modelos de proximidade. Sem dúvida que muito ficou por conversar e perguntar, mas o tempo de duração da Palestra, no dia 20 de novembro, não foi bastante para fazer face ao interesse dos participantes durante o debate. A encerrar o evento decorreu ainda a esperada sessão de autógrafos. A acompanhar a iniciativa, destacou-se ainda a exposição MARIAS SEM MEDO, organizada pela Casa Abrigo “D. Maria Magalhães”, composta por 12 fotos de mulheres nas suas histórias de violência e trajetos de superação. Sem dúvida que a Misericórdia viveu uma noite que ficará orgulhosamente perpetuada na memória daqueles que se envolveram e participaram nesta palestra. • POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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Cultura


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Cultura

#38

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA MARIAS SEM MEDO

No âmbito das comemorações que assinalam o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres decorreu no Centro Eng. Eurico de Melo, entre os dias 21 e 26 de Novembro, a exposição fotográfica Marias Sem Medo. Uma iniciativa da Casa Abrigo D. Maria Magalhães da Misericórdia de Santo Tirso que, pela lente da fotógrafa Ana Alvarenga, nos revela 12 mulheres nas suas histórias de violência e trajetos de superação.

Retratos de uma realidade crua transfigurados de esperança. Com voz, com amor, com perseverança...assim se enunciam novos percursos e futuros. Fotografias Ana Alvarenga • POR MARIA JOÃO FERNANDES (COORDENADORA DA CASA ABRIGO)

Retratos de uma violência que ainda se faz de género. E no feminino. Marias que o nome esconde. Marias que se impõem como número e se revelam na pluralidade de uma realidade tão portuguesa. Marias que representam a transversalidade de idades, condições e estratos sociais e económicos. Marias que simbolizam tantos outros nomes. Uns omissos, outros esquecidos e outros ainda conhecidos pelos holofotes da tragédia. E entre eles, 30 nomes de mulheres assassinadas este ano em Portugal, na sua esmagadora maioria em contexto de violência doméstica, que tanto dizem sobre a importância de continuar a assinalar o Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres. Sem medo porque, nas suas idiossincrasias e singularidades, a coragem se apresenta como denominador comum a todas as mulheres que, mesmo oprimidas pelas suas histórias de vitimação, conseguem procurar ajuda e reescrever novas forças das suas narrativas de medo.


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Cultura

COM FUTURO

COM PERSEVERANÇA

COM FORÇA

COM AMOR


COM VOZ

COM CERTEZAS


COM ESPERANÇA

COM DETERMINAÇÃO


#38

Gerir Saúde

Enquanto o coração não pára Deixo tudo na mão dele Viu-me nascer, crescer e gerir o meu dia a dia A ti agradeço o que sou Não me deixando envelhecer obriga-me até a ser infantil quando me vejo a ter saudades de brincadeiras de menina de fazer raminhos de flores silvestres imaginar um mundo bom sem maldades brutais. Quando quiseres dormir eternamente irei contigo sossegada. Anyta

O balançear da vida A vida, um verdadeiro improviso passamos uma boa parte a aprender e outra não menos importante a desaprender só assim podemos avançar um voo ora tranquilo, ora tempestuoso como gerir tudo isto?! sabemos que controlar pensamentos requer esforço e vontade a vida se apaga em sopros e os vestígios deixados podem alvitrar novos rumos, novos caminhos a vida é assim, uma espécie de tela que para pintar uma nova cor tem que se apagar a anterior este caminhar, é também perceber que aquele que transporta em si apenas o seu amor, transporta muito pouco na vida há que ter tempo para o doar tempo para o perder e toda a vida para o reencontrar o ser Humano vive de constantes encontros e despedidas por isso é um misto de alegria e dor! Céu Machado


Saúde


Quais são os 3 locais favoritos em Portugal? Porto, cidade com vida e encanto, onde há muito para descobrir. Vila do Conde, por ser o meu refúgio nas férias, uma cidade tranquila e saudável. Guimarães, histórica e tradicional, muito visitada por mim por razões familiares. O que a deixa cheia de orgulho no concelho de Santo Tirso? Nem todos os concelhos permitem que se possa viver com tranquilidade e qualidade de vida. Aqui nasci, vivo e trabalho. Uma vivência plena no local que me viu crescer. Parte da minha infância foi passada no Parque Dona Maria II, um local que me traz boas recordações. Não posso deixar de referir os jesuítas que nos dão a conhecer. E na Misericórdia? O crescimento da Instituição desde aqui cheguei até aos dias de hoje e a dedicação e o empenho de todos os colaboradores. Quais as duas músicas que tem ouvido recentemente? Mariza: “Quem me dera” António Zambujo: “Pica do Sete” E o filme que marcou a sua vida? “Jesus Cristo Superstar”. Um musical de 1974 que gostaria de rever. Narra os últimos dias de Jesus do ponto de vista de Judas e Iscariotes. Um livro para ler antes de dormir? Sugiro o livro que neste momento me acompanha: “A Aluna Americana”, de João Pedro Marques. Uma viagem até 1968. Uma época cheia de avanços científicos e sociais. Na música, os Beatles estavam no auge. Um romance que junta um professor universitário, num Portugal ainda fechado, a uma estudante americana que acaba de chegar ao nosso país. Prefere praia ou cidade? O mar e o cheiro a maresia são irresistíveis, mas a azáfama da cidade também me faz falta. Se pudesse escolher a vista de sua casa, como seria? Virada ao mar, pela tranquilidade que as águas nos transmitem. O que mais valoriza no ser humano? Sinceridade e honestidade.

RE VE LA ÇÕES... Como classifica a Gestão da Tesouraria na Misericórdia, ao longo de 30 anos? Que significado lhe atribui? A Instituição cresceu muito ao longo de três décadas, e o setor acompanhou essa evolução. A Tesouraria sempre foi um serviço de responsabilidade e hoje a exigência é ainda maior. É um pilar fundamental em qualquer Instituição, exige total rigor, transparência e transmissão de confiança. Como significado, atribuo a dedicação de uma vida. Tenho o prazer de fazer aquilo que sempre gostei com a responsabilidade que o próprio cargo exige. É com orgulho que ao longo de quase 40 anos prossigo este caminho. NOME ROSA MARIA DE FREITAS CATEGORIA PROFISSIONAL TÉCNICA DE TESOURARIA ANTIGUIDADE NA INSTITUIÇÃO 37 ANOS






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