Revista da Misericórdia #41

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editorial

20 anos


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Vinte anos. É uma data realmente especial. E enquanto ia pensando o que escrever a propósito, encontrei o mote ao folhear a Revista nº 1 da Misericórdia, então impressa na Tipografia Nova, em Santo Tirso. Tanta evolução de então para cá! Assinei, enquanto Provedor, o “Estatuto” editorial da primeira edição, que terá sido distribuída em Junho de 2001. Realço parte do “Estatuto” que escrevi e foi ratificado em reunião da Mesa Administrativa: (…) “Não se encontra sujeito a qualquer corrente ideológica ou credo político, o que não o impede de expressar a sua opinião, sempre que julgue oportuno e com total respeito pela diferença de opinião dos outros: tudo fará para não entrar em polémicas estéreis, seja qual for o tema ou o assunto.”(…) E assim sempre aconteceu. Vinte anos passados, o balanço só pode ser positivo. Hoje ninguém tem dúvidas de que a edição da “Revista da Misericórdia” é um exemplo de sucesso. Discutir internamente para que em conjunto sejam apontados caminhos e soluções, só revela o espírito verdadeiramente democrático intrínseco à instituição, prevalecendo uma voz, a da união dos Diretores, dos Colaboradores e da Mesa Administrativa. Construir seja o que for dá muito trabalho. É necessário dedicação, empenho e total entrega à causa em que se acredita e se defende diariamente. Não se pense, por isso, que a história e o património imaterial que a “Revista da Misericórdia” representam foram construídos unicamente com o contributo dos dirigentes que pela Santa Casa desfilaram. Aliás, passar por tal estrutura ultrapassa qualquer cargo e presença nos corpos sociais da instituição. Foram, assim, bem mais os que por aqui passaram. Foram afinal todos os que, enquanto elementos institucionais ativos, se preocuparam em debater e participar na imagem que a Revista projeta. Sem esquecer os que desinteressadamente colaboraram em todas as temáticas que foram abordadas. Houve uma mudança radical entre a primeira e a última revista publicadas, na forma e no conteúdo.


Ao revê-las, logo ocorre a ideia do sociólogo e filósofo polaco, expressa na frase “A mudança é a única permanência e a incerteza a única certeza”. Nunca, como nas últimas décadas, se falou e se escreveu tanto sobre a mudança, ao ponto de se banalizar a ideia de que tudo muda e tudo é feito de mudança, como se nada permanecesse. Estamos perante um problema de perceção: só olhamos o que muda e esquecemo-nos do que persiste. É como se estivéssemos numa dobra do tempo. É como se entre o tempo cronológico e o tempo de cada um de nós existisse um desfasamento tal que se torna impossível conciliar os dois. Mas foi possível. Com a visão para compreender cada momento vivido, a ambição de querer transformá-lo e a audácia de o ter feito. Até hoje terá, porventura, sido prestada mais atenção aos movimentos sociais locais e aos da própria instituição, em detrimento das mudanças sociais, económicas e tecnológicas que ocorreram em sociedades mais avançadas. Será preciso, por isso, ser mais abrangente e plural. Se fizermos só o que sabemos, nunca seremos nada além do que já somos. O tempo e a sua inexorabilidade são o expoente máximo desta realidade. O terceiro setor está a alterar-se de hora a hora. É urgente criar futuro. Fica um desafio à “Revista da Misericórdia”: tornar-se vanguardista através da criatividade e da inovação, do pensar fora da caixa, de espelhar de minuto em minuto o que se passa também no contexto social nacional e internacional, de incentivar ambientes de trabalho colaborativos e solidários, de aproximar todos os saberes que interajam e criem ligações mesmo que inesperadas e improváveis, de fomentar a diversidade. Considerar que os primeiros vinte anos foram de consolidação do seu espaço. E que os próximos vinte se tornem um lugar ímpar de conhecimento e de descoberta, com um simbolismo que resista à passagem do tempo, tornando-se relevante. E assim será sempre um motivo de celebração.


SUMÁRIO /// ATUALIDADES / ENTREVISTA A FILIPA GODINHO - ARTISTA PLÁSTICA DE SANTO TIRSO P.06 / SUSTENTABILIDADE - UM DESAFIO PERMANENTE P.14 / WEBINAR - IFRRU PARA REABILITAR P.15 / RELATÓRIO E CONTAS 2020 P.16 / O IMPACTO DA COVID-19 NAS MISERICÓRDIAS - A RECONSTRUÇÃO DO FUTURO COM A ECONOMIA SOCIAL P.20 / DIÁLOGO COM A COMUNIDADE P.24 / SUSTENTABILIDADE, O QUE MUDOU COM A PANDEMIA? P.24 / SUSTENTABILIDADE, O QUE MUDOU COM A PANDEMIA? P.28 / CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL P.32 / A MISERICÓRDIA E O AMBIENTE P.36 / GESTOS QUE POUPAM P.38 /// FORMAÇÃO/GRH / LOUVOR AO LÍDER INCOMPLETO P.40 / 3º SETOR - DIFERENCIAÇÃO NA GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES DA ECONOMIA SOCIAL P.42 /// AÇÃO SOCIAL E COMUNIDADE / PLANEAMENTO E ARTICULAÇÃO SOCIAL P.43 / SUSTENTABILIDADE - MOBILIZAR VONTADES PELO QUE NOS É COMUM P.44 / SEMANA DA INTERCULTURALIDADE P.46 / UNIÃO PARA SUPERAR VICISSITUDES P.48 /// SAÚDE / ESPERANÇA P.49 / ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL - RECOMENDAÇÕES P.50 /// AÇÃO EDUCACIONAL / PEQUENOS GESTOS PARA UMA FAMÍLIA SUSTENTÁVEL P.54 /// CULTURA / O FUTURO DO SETOR TÊXTIL RUMO À CIRCULARIDADE P.56 / FAÇA VOCÊ MESMO - ECONÓMICO E SUSTENTÁVEL P.58 / OS IRMÃOS EM REVISTA P.60 / O CONDE S. BENTO E A URBANIZAÇÃO DE SANTO TIRSO P.62 / POEMA P.66 /// REVELAÇÕES MARTA FERREIRA P.68


2010/CEP.3635

Obs: a Revista da Misericórdia obedece ao novo acordo ortográfico.

PROPRIEDADE IRMANDADE DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SANTO TIRSO // DIRETORA CARLA MEDEIROS // SECRETARIADO AVELINO RIBEIRO // COLABORADORES BETHANIA PAGIN // CARLA GONDAR // CARLA NOGUEIRA // CÁTIA MAGALHÃES // CÉU MACHADO // GRAÇA LOURENÇO // HUGO ASSOREIRA // HUGO MARTINS // IDALINA MACHADO // ILÍDIO OLIVEIRA // JOÃO LOUREIRO // J. LUIS CRISTINO // JOSÉ PINTO // JULIANA MOREIRA // LILIANA SALGADO // MARGARIDA COELHO // Mª AMÉLIA FERREIRA // MIGUEL DIAS // NUNO LUCAS // NUNO OLAIO // SARA A. SOUSA // SÍLVIA MONTEIRO // SUSANA FONSECA // SUSANA FREITAS // SUSANA MOURA // VASCO FERREIRA // TIRAGEM 1000 EXEMPLARES // EDIÇÃO JUNHO 2021 // DEPÓSITO LEGAL 167587/01 PERIODICIDADE SEMESTRAL // IMPRESSÃO NORPRINT // DESIGN SUBZERODESIGN

A edição desta Revista, para além de versar sobre o tema SUSTENTABILIDADE, também comemora 20 anos de vida. Criando a ligação a um passado que se faz presente, este número inclui imagens e ilustrações de capas anteriores, ligadas ao artigo em referência. A criatividade no design também pode promover a circularidade e ser re-imaginada…


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ENTREVISTA A FILIPA GODINHO ARTISTA PLÁSTICA DE SANTO TIRSO

UM OLHAR GENEROSO Filipa Godinho é uma artista plástica de Santo Tirso, onde viveu quase toda a sua vida, mas que se mudou para o Porto há cinco anos. Tem um sorriso bonito e sempre presente no rosto e mesmo quando menciona circunstâncias menos boas, há um brilho e uma vivacidade na forma entusiasmante que fala das coisas. É de facto uma apaixonada pela vida e pelas pessoas. Resiliência é uma palavra nunca mencionada na nossa entrevista, mas depois de ler sobre ela, conversar e conhecê-la melhor, sentimos que é o que melhor a define. Isso e a sua generosidade nas ações e no tempo que dedica ao trabalho e às pessoas. Atenta ao mundo, vive em constante aprendizagem, onde as preocupações ambientais fazem parte do seu dia-a-dia pessoal e profissional. Filipa Godinho tem 37 anos e um significativo percurso nas artes, tendo-se dedicado e vivido do seu trabalho artístico em desenho, pintura, escultura e cerâmica durante vários anos. A sua obra esteve já exposta em várias galerias, museus e bienais nacionais e internacionais. Paralelamente foi professora, na última década foi mãe duas vezes, desdobrando-se desde cedo entre serviços educativos artísticos vários. Trabalhou cerca de 10 anos em Serralves e nos últimos 18 meses na Casa da Arquitetura, onde atualmente exerce a função de coordenadora do serviço educativo. É possível viver da arte? Sim, é possível, mas não é fácil. Implica coragem e persistência, não é uma vida estável. Quando se tenta viver da

arte não se conta com um ordenado fixo, ou seja, se tivermos gastos regulares estamos sempre dependentes do que vendemos para os colmatar. Não temos nunca uma tranquilidade absoluta, o que provoca bastante ansiedade. Sobretudo quando se começa, e este começo pode demorar anos, décadas… Este nível de sacrifício, que vem cheio de frustração muitas das vezes, só se consegue superar com uma enorme paixão. Se a paixão for maior que o medo, sim, é


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possível viver da arte. Claro que isto é uma visão um pouco romântica que só se segura com prudência, contenção nos meses melhores e resistência nos piores. Eu gosto de fazer muitas coisas e foi sobretudo por isso que não fiquei demasiado tempo a viver só da arte, mas estava a resultar, na verdade acho que se apenas me interessasse o dinheiro ganhava mais se me tivesse mantido assim, bem feitas as contas. Mas, para mim, torna-se um isolamento que me perturba, em excesso não me faz bem, preciso de contactar com pessoas e criar dentro desses contactos, conversar muito, pensar junto, ter desafios e oportunidades para ser criativa. O atelier é um lugar demasiado meu, demasiado cheio de mim, e isso cansa-me. Talvez um dia o atelier seja outro e consiga enchê-lo doutras coisas, ou talvez eu mesma seja outra e já me canse, acredito que caminho para isso. Gosto de sonhar que um dia volto a dedicar o meu tempo laboral todo ao atelier, planeio isso como quem planeia as férias de uma vida. Há-de ser trabalho e, como sempre, o trabalho de atelier é muito duro, mas avanço quando sentir que vai ser, sobretudo, prazer. Tem de ser esse o motor. Paralelamente enveredou por outros caminhos, o ensino foi uma das áreas a que esteve ligada durante alguns anos. Comecei aos 23 anos e dei aulas em dezasseis escolas, desde o ensino básico (1º ciclo) ao ensino superior. O ensino em Portugal está longe de ser satisfatório para quem acredita na importância do ensino artístico. Tem curtos tempos de trabalho com muita contenção de gastos, salas pouco preparadas para a parte artística e depois as direções das escolas não querem largar os programas antigos e são também pouco recetivas a

novas sugestões. É rara a escola onde dá para fazer coisas mais experimentais. O que vi, na maioria, foram escolas cheias de professores muito cansados, que não arriscam para não serem questionados e evitarem trabalhos. O que é o inverso do que devíamos ensinar, é um péssimo exemplo, com isto as crianças crescem a perceber que o que dá muito trabalho não se faz, o que demora muito, o que suja, o incerto, o que não se sabe se resulta, o desvio, são para evitar. E com isto de repente percebemos que estamos a deixá-las de fora da experiência criativa, ensinamos na prática que devemos procurar receitas simples para todos os problemas, embora na teoria os tentemos convencer do oposto pedindo-lhes genialidade. Eu acredito num ensino mais honesto, com trabalho expandido e multidisciplinar, ligado por eixos capazes de cruzar as famílias, os alunos, os docentes e a comunidade. A experiência é a forma mais direta e primária para aprender, aprende-se fazendo, vendo, imitando, testando, sentindo. Como mãe sou muito atenta ao que a escola consegue dar aos meus filhos e tento perceber como posso complementar. Na verdade, o que sinto que devo fazer é dar-lhes o básico, que a escola não dá, o contacto com a natureza, a liberdade de escolha e de opinião, ouvi-los muito, questioná-los mais ainda, dar lugar à subjetividade deles. Mas isto é o papel de qualquer educador, o de ouvir, compreender e orientar a subjetividade de cada um para que se satisfaça em harmonia com o todo. Há ferramentas que devemos adquirir, claro, mas o pensamento industrial e economicista ainda predomina, a competitividade, e isso afasta-nos da missão maior. Somos todos, queiramos ou não, educadores. Somos todos responsáveis pelo que mostramos a quem nos vê, e quem está com crianças devia perceber que o


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mundo das crianças não é o mesmo dos adultos, exige muito mais ar, ideias, sonhos, tempo.

bem, é uma questão de ego. A pegada ecológica de um artista que produza muito, grande e duradouro é terrível. O planeta está cheio de objetos, a maior parte deles não são arte, é certo, Enquanto professora, como é que envolvia os seus alunos são só coisas inúteis que rapidamente se reduzem a lixo para a questão dos recursos de forma sustentável? quando já saciaram um desejo qualquer que entretanto Como Professora sempre fui adepta da ideia de que com passou. Mas os artistas são, muitos deles, e é desses que falo, pouco se pode fazer muito. Adoro, ainda hoje, pegar em coisas criadores de objetos. Ora se isto não vier com responsabilidade avulsas e improvisar-lhes um uso, transformá-las. Quando as só estamos a tornar o mundo num lugar ainda mais cheio de pessoas me dizem que não conseguem produzir por não terem coisas que o terá dificuldade em engolir. Por isso acho tão materiais, eu sinto-me automaticamente desafiada a resolver perfeita a música enquanto arte. A imaterialidade seduz-me. isso com coisas que se encontram por todo o lado, é só olhar Há, sobretudo desde os anos 60, cada vez mais artistas a com atenção. Estamos, infelizmente, trabalhar sobre o conceito da rodeados de objetos que podemos imaterialidade. Claro que se utilizar para criar, desde o cartão de pensarmos na poluição que os dvds Podemos pintar com café, desenhar embalagens, que é o meu favorito. trouxeram há umas décadas atrás com carvão, desenhar na areia, Estou a lembrar-me que uma vez fiz concordaremos que não foi nada de esculpir com papel, com tecidos, uma peça de teatro numa escola do amigável em termos ecológicos, mas com comida, não há limites. 1º ciclo na qual todas crianças há muitos artistas hoje preocupados construíram cabeças enormes de com isso. O ativismo na arte tem animais feitas de cartão. Todas as explodido no dobrar do milénio no personagens e o cenário foram feitos com cartão e agrafador, que diz respeito às questões ambientais. Se os artistas eram depois pintados com guache preto que desenhava alguns vistos como seres rebeldes e irresponsáveis, há cem anos atrás, detalhes e foi das construções mais bonitas que fiz numa acho que agora estamos a assistir a uma realidade quase escola, a custo quase zero. Podemos pintar com café, desenhar inversa. Acho que os artistas estão a tentar exprimir as com carvão, desenhar na areia, esculpir com papel, com preocupações do nosso tempo e essa é uma das mais fortes e tecidos, com comida, não há limites. Os estudantes de arte, relevantes. Tentam ser responsáveis, apontar o dedo aos sobretudo os mais velhos, sonham sempre em produzir obras problemas, propor modos de estar e de produzir em harmonia enormes, gigantes, e preocupam-se muito com a durabilidade, com a natureza. O que eu tentei sempre passar aos meus ainda há muito a vontade de que as criações perdurem além alunos foi o poder da mensagem e a responsabilidade que ela da vida do artista e o imortalizem. Na verdade, se pensarmos nos traz. Podemos tomar escolhas e só dentro desse jogo de


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escolhas é que faz sentido falar de arte. Eu não sou completamente ecológica no meu trabalho, mas tendo a ser e gosto de pensar que tudo que faço é efémero. Tenho levado o meu trabalho a tamanhos cada vez mais pequenos, materiais cada vez mais sensíveis e frágeis, e adoro pensar que é possível que vivam tanto como eu. É bom, eu acho, que tudo passe sobre o planeta, e nada fique, para que a vida seja renovada sempre. Lugares de Afetos Filipa Godinho tem uma mini horta em casa, onde planta com os filhos legumes, ensina-os e sensibiliza-os sobre as questões de uma alimentação equilibrada, de boas práticas ambientais. Esta é uma preocupação bem presente na sua vida, nomeadamente no que diz respeito ao consumismo. Há muitos jogos e brinquedos que são feitos numa combinação de materiais ou objetos que são recuperados e potenciados numa nova vida. Este olhar de constante transformação esteve sempre presente no seu percurso de vida. A sua curiosidade fê-la sempre encontrar novas fórmulas. Tem uma mini horta em casa. A sensibilização ambiental nos mais pequenos ainda vai num ritmo muito lento? Eu acho que os mais novos estão bastante sensíveis à urgência na nossa mudança de hábitos. Ter uma horta é, para crianças que crescem na cidade como as minhas, uma experiência quase laboratorial, infelizmente, claro que seria muito melhor se tivessem terreno e assistissem a tudo de modo menos artificial e condicionado. Acho que são os adultos que ainda precisam de ser convencidos sobre a mudança necessária, são

esses que estão acomodados e sentem uma enorme preguiça e resistência à mudança. Estes miúdos têm a tarefa difícil não só de fazer mudar o mundo, que não é coisa pouca, como de fazer mudar os pais. Espero que consigam, admiro-os muitos. Admiro mesmo a nova geração de miúdos transformadores que aí anda. Sinto-me otimista quando os vejo. Como gere o seu trabalho criativo? Eu trabalho no atelier em pesquisas que são muito pessoais, às vezes até biográficas, são preocupações minhas. Algumas vezes encaro-as como experiências, pesquiso soluções de representação, outras vezes são parte do meu processo para resolver os meus problemas. Depois há outro lado, que é quando apesar de não entrarem no atelier o processo envolve mais gente. Recebo de vez em quando encomendas e, quando o trabalho me interessa, acabo por me dedicar também a isso. Embora o faça cada vez menos, porque preciso menos e porque cada vez me sinto menos movida para isso. Só quando acho que vai ser algo mesmo especial, prazeroso. Aceitar estes pedidos/encomendas não é castrar ou adulterar um pouco a parte criativa? Depende. Quando são pedidos muito objetivos, como retratos, por exemplo, é castrador e afeta a médio prazo a autoestima. E eu já fiz muitos, sem ter completamente percebido que isso me estava a levar por um caminho que nunca imaginei que iria fazer. A verdade é que gosto de me perder no jogo de captura de um rosto, há um processo de caça através do desenho que eu adoro, mas a seguir a isso vem a expectativa e quando se começa a tentar agradar aos outros já se perde o prazer da


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criação livre. É preciso ir alternando entre encomendas e trabalho próprio. Idealmente, fundir ambas, que seria o ideal, pois faz-se sempre o que se quer e como se quer. Mas não nos enganemos, acho que em nenhum trabalho se faz sempre tudo que se quer e como se quer, ceder não é mau se for em consciência. Muitas vezes fiz coisas de que gostava menos para depois poder fazer outras de que gostava muito. Nunca fiz nada de que não gostasse, talvez tenha sido sorte ou então talvez seja apenas teimosa. Rostos Marcantes Há cinco anos foi inaugurada em Santo Tirso uma exposição importante para Filipa Godinho, algo que descreve como muito pessoal e íntimo. Com o título “1562/1563” apresentou quadros de doze rostos de pessoas que foram, e são, ainda, companhia dos pais na Casa de Repouso de Real, valência da Misericórdia de Santo Tirso. Os seus pais foram para esta instituição muito novos, tinham 60 anos, e Filipa Godinho queria que se integrassem o mais rapidamente possível com as pessoas que lá estavam e que fizessem amizades. Então decidiu fazer um projeto para apresentar à Santa Casa da Misericórdia e à Câmara Municipal de Santo Tirso e depois às famílias das pessoas envolvidas. O seu pai era Professor de Educação Visual e também Escultor, e pensou que um trabalho artístico desta envergadura o poderia animar. Fotografou os utentes, numa sessão fotográfica em que houve toda uma produção da imagem dos mesmos, muitos foram ao cabeleireiro, compraram roupa nova, foi um momento único e especial para todos, nomeadamente para Filipa Godinho que

sentiu que este projeto os fez sentir acarinhados. Doze pinturas, doze rostos pintados em 3 meses. Este trabalho acabou por influenciar, deixar uma marca? Na altura não tive noção disso, mas sim, foi um momento de viragem. A minha vontade era de fazer aquilo para os meus pais e, claro, para os utentes mas acabou por ser o início de um caminho que ainda hoje está aberto. Tenho recordações preciosas desses momentos, e muitas saudades de algumas das pessoas retratadas que lamentavelmente entretanto já faleceram. Já me ocorreu voltar a desenvolver um projeto de cariz social como esse, foi muito motivador e emocionante. Frequentemente chegava à exposição e via gente chorar. Foi muito forte para muita gente. Foi um trabalho diferente do que já tinha feito...e que entretanto teve continuidade. Acho que fui levada por um processo que teve início aí, mas ao mesmo tempo senti que havia um potencial de fazer o bem, porque quando as pessoas me pediam retratos eu percebia que era mesmo importante para elas o segurar daquelas imagens. A grande questão que está na base do retrato é a questão da memória, e isso interessa-me muito. Fui fazendo retratos pontuais e de repente as pessoas foram gostando cada vez mais, eu fui aprendendo a fazer melhor, e nunca mais se fechou esse caminho…e eu tentei fechá-lo algumas vezes. É engraçado porque enquanto estudante eu achava que ia ser uma criadora muito mais minimalista, mais conceptualista; as minhas teses de fim de curso, de mestrado, não tinham nada de figurativo, não tinham nada a ver com o mundo no qual eu


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depois entrei e do qual nunca consegui sair completamente. Mas está a mudar, acho que estou noutra fase. Até porque a minha relação com a memória e com as imagens também está a mudar e isso vai refletir-se nisto.

lutar para sair não consegue. Mas quando relaxa de repente sai e nem se percebeu como. Talvez compliquemos demasiado as coisas.

Como é a sua relação com as peças. Existe uma ligação Disse na altura que “a vida é uma contínua metamorfose” e afetiva com as suas obras? “todos os momentos devem ser valorizados e superados”. Tenho com algumas, e essas não vendo. No geral tento que Ainda pensa assim? vão para pessoas especiais, não precisam de ser próximas, mas Eu acredito na impermanência de tudo. As coisas nunca são preciso de sentir que aquele objeto vai ser valorizado de uma como foram há uns minutos, estão sempre a mudar. Acho que forma parecida com o valor que lhe dou, como quem entrega quanto mais rápido tomarmos consciência disso menos uma coisa pessoal e faz questão que a entendam. Claro que frustrações teremos, porque viver acreditando que as coisas nada disto se controla verdadeiramente, mas as peças das são previsíveis, duradouras e estáveis é quais gosto muito chego a ficar uma ilusão; pelo menos é essa a verdadeiramente triste, dias, semanas, Eu acredito na impermanência aprendizagem que eu tenho tido. Penso quando vendo. Tenho uma ou outra que de tudo. As coisas nunca são que lutar contra essa impermanência é vendi há anos e que ainda hoje penso uma luta perdida. nelas com arrependimento. Mas sei que como foram há uns minutos (...) Sobre a superação, não sei bem o que não está certo, o correto é libertar. é. Sei o que significa continuar. Sei como se faz, insiste-se, espera-se quando não se consegue O que é que a move e a inspira? andar, avança-se quando se consegue. Acho que sabemos Os meus filhos, sempre, todos os dias. Tento estar atenta aos sempre pouco sobre o que está a acontecer na nossa vida, e seus interesses e o que querem conhecer, experimentar, o que menos ainda na vida dos outros. Se tudo correr bem, penso lhes dá prazer. Os pais devem ajudar os filhos a agirem de hoje diferente do que pensava quando disse essa frase. Talvez acordo com o que são e sentem, ou seja, a serem eles próprios, superar seja isso, ou seja, se uma tentativa de resolver um a descobrir qual o caminho a seguir para serem felizes e problema não funcionar para o atravessar, tenta-se de outro estarem bem consigo e com os outros. Mas eu acho que os modo, e de outro, até conseguir. Mas por vezes é quando filhos também nos ajudam a descobrir-nos, dão-nos a deixamos de pensar nisso que o problema desaparece. Estou a oportunidade de nos reavaliarmos, devolvem-nos informação lembrar-me da imagem da criança que fica presa numa grade, preciosa sobre nós. É simbiótico, crescemos juntos. Eu sou acontece muito, um braço, a cabeça, enfim, enquanto estiver a muito alimentada pela luz dos meus filhos e apesar de saber


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que a base disso é a do amor, sei também que há algo mais selvagem e natural nesta relação e que me ultrapassa, eu preciso deles para sobreviver na mesma medida em que preciso de sobreviver para eles. Não conheço nada mais poderoso que isto. O que mudou depois de ter tido cancro? Tudo mudou, não há regresso. Muda a relação com o corpo, com o tempo, com os amigos, com a família, com o trabalho, com a vida em si. Pode-se pensar que se vai ter um ano diferente e volta tudo a ser como era antes e que vamos continuar a vida tal como estava quando isso aconteceu. Mas não é verdade. Sei que sou outra, sinto-me diferente e o mundo de certa forma também me parece outro, porque mudou o modo como o vejo. É como se estivesse a usar uns óculos novos que me mostram o que não via antes. Por muito que explique acho que é uma mudança muito pessoal e intransmissível. E agora como gere o seu tempo? A minha prioridade são sempre os meus filhos. Divido o meu tempo entre eles e o trabalho, algumas amizades e o atelier. Durmo pouco e tento gerir tudo com o equilíbrio possível. Consigo ir ao cinema, ter tempo para passeios a pé quase todos os dias, brincar com eles, conversar muito, e envolvo-os sempre nos meus projetos. Por exemplo, eles ajudaram a esculpir o busto que fiz recentemente. Estiveram horas com as mãos na peça, foram fazendo coisas que eu depois fui corrigindo quase até ao final, quando depois já não podiam mesmo alterar nada. Prefiro deixar um trabalho para ser feito à

meia-noite, quando eles estão a dormir, do que retirar tempo de estar com eles, preciso desse tempo, aliás, é para que ele exista que eu trabalho, mal corria se depois não o aproveitasse. Como é a sua casa? Tem muitos quadros e cerâmica? Mudei de casa este mês e nesta casa vou tentar não ter imagens em lado algum. Preciso de um intervalo de imagens. Vamos todos viver numa casa limpa de pinturas por uns tempos. Vamos ver quanto tempo dura. É uma casa com muitos brinquedos, música, livros e gatos. Há trotinetes, muita fruta, chocolates, sempre alguns balões pelo chão e o atelier ao fundo. Não me posso nunca queixar de falta de animação. O que é que mais teme, que a assusta? Ver as pessoas quem gosto doentes, e a ideia de não assistir o suficiente à vida dos meus filhos. O que faz dar umas valentes gargalhadas? No bem e no mal estou sempre a tentar sorrir, mas o que me faz dar umas gargalhadas valentes são os disparates dos meus filhos e das minhas amigas mais loucas e queridas, as Leonildas, que é um nome que veio da quarentena entre um grupo de amigas. E eu própria, claro, quando sou ridícula, o que acontece muito. Que balanço faz deste ano, de viver sobre o espectro COVID? O COVID trouxe o medo. De repente tememos perder toda a gente e percebermos que somos muito frágeis. A mim fez-me


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trabalhar mais em casa e valorizar o meu espaço. A relação com o trabalho também mudou. Trabalhar à distância é algo que as instituições deveriam adotar nem que fosse algumas vezes por semana porque permite um nível de esforço diferente, menos desgastante e mais focado. Eu aprendi muito sobre a minha fragilidade em 2020, e sobre a dos outros. Além do covid lidei com um cancro na mama e terminei o ano com a perda do meu pai. O covid, que foi gigante, no meu ano foi só mais uma coisa entre tantas, não o vivi tão intensamente por estar a viver outras situações intensas, mas condicionou-me porque me fechou. Teria sido mais fácil se tivesse sido possível ter gente perto. Costuma acompanhar o trabalho de arte alheio? Gosto de acompanhar e estou atenta. Em todas as exposições que vou encontro sempre aprendizagens, e mesmo discordando, fazem-me pensar. Espero que isso aconteça sempre, porque acho que mais que um lugar de deslumbramento, o museu, a galeria ou o atelier de alguém deve ser o lugar de questionamento, de confronto com a diferença. Dá-nos a possibilidade de pensar diferente, crescer um bocadinho, ampliarmo-nos.

Nesta nova casa, vai ter espaço para ter o seu novo atelier? Sim, o meu atelier é maior que o meu quarto e de preferência maior que a sala. É a parte mais importante. Para mim a casa podia não ter quarto, mas nunca podia não ter atelier. Ali tenho tudo, cabe tudo: passado, presente, futuro, o possível, o impossível, é um mundo maior que este. Qual é a sua memória mais antiga? O parque D. Maria II, em Santo Tirso. Aquele parque é na verdade muito antigo e há muitos anos sofreu obras. No passado era muito denso, tinha muitas árvores, era mais romântico. Lembro-me de ser muito pequenina e andar lá a dar de comer aos patos. Recordo-me também da sensação de estar ao colo do meu pai e do meu avô, de sentir o braço à volta do corpo. Curiosamente, tenho a minha história mais ligada aos homens da família do que às mulheres e nesta memória que me ocorre este colo era de dois grandes pilares da minha infância. Tenho muitas saudades de ambos. Especialmente do meu pai, claro. É a minha memória mais antiga mas mais recente, é omnipresente. • POR CARLA NOGUEIRA (JORNALISTA)


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SUSTENTABILIDADE UM DESAFIO PERMANENTE

O Homem é um ser eminentemente social. O meu estado de espírito e dos elementos da Mesa Administrativa, assim como do Diretor Geral é que nos sentimos motivados e empenhados em fazer uma gestão para que de uma forma sustentada possamos proporcionar investimentos com qualidade e adequados às necessidades dos novos desafios. Contamos com o profissionalismo e sentido de dever de todos os funcionários, impondo regras que vão desde a compreensão e coordenação à cordialidade, de modo a potenciar os seus conhecimentos aperfeiçoando o seu caráter. Assim, sentem-se mobilizados e comprometidos nos diversos serviços, rentabilizando os resultados e, simultaneamente, construindo um clima fraterno privilegiando a qualidade do ser e do fazer. Quando nos regemos por princípios de verdade, espírito de missão e a vontade de bem-fazer, o desenvolvimento sustentável assegura-nos o crescimento social e económico sem esgotar os recursos para o futuro. • POR JOSÉ DOS SANTOS PINTO (PROVEDOR)

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WEBINAR IFRRU PARA REABILITAR

O IFRRU 2020 trata-se de um Instrumento Financeiro para apoio à Reabilitação e Revitalização Urbanas, incluindo a promoção da eficiência energética. Foi criado no âmbito do Portugal 2020 pelo Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos. Dirige-se à reabilitação integral dos edifícios com idade igual ou superior a 30 anos, destinados à habitação, equipamentos de utilização coletiva, ou atividades económicas como comércio, serviços ou turismo. Entre outros espaços, devem estar localizados em zonas industriais abandonadas. Os critérios definidos para este apoio financeiro foram naturalmente conciliados com a vontade de requalificar um dos antigos espaços da unidade fabril tirsense “Arco Têxteis”, adquirido pela Misericórdia de Santo Tirso para requalificar e converter em mais um equipamento de apoio à Comunidade. Assim, no espaço de um ano, foi possível remodelar o interior e colocar em funcionamento uma nova Unidade de Cuidados Continuados de Longa Duração, designada “Comendador Alberto Machado Ferreira”. Para partilhar e testemunhar esta experiência, considerada de sucesso, o diretor geral da Instituição, Dr. João Loureiro, marcou presença no Webinar “IFRRU - Uma Oportunidade para Reabilitar”.

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O evento foi organizado pelo Banco Santander Portugal, em parceria com a União das Misericórdias Portuguesas e a partilha desta experiência sustentável teve como público-alvo as Misericórdias inscritas neste encontro que decorreu no dia 14 de abril, através da plataforma Zoom. • POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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RELATÓRIO E CONTAS 2020

Os temas das nossas revistas publicadas em 2020 foram “COmVIDa” e “REAGIR”. “COmVIDa” foi a principal preocupação do primeiro semestre do ano passado. Depois de dois meses de normalidade, fomos apanhados pela pandemia e por uma crise sanitária que levou todo o nosso foco nos quatro meses seguintes. Acresceu a tudo isto o impacto económico-financeiro inerente ao confinamento e ao encerramento das nossas clínicas. Foi neste contexto COVID que toda a família Misericórdia demonstrou comprometimento e determinação em proteger vidas. “Reagir” tem como definição “Responder de uma certa maneira a um acontecimento: Resistir, Lutar” e foi desta forma que encarámos o segundo semestre. Reorientamos as nossas táticas para ir de encontro à estratégia traçada para este ano. No nosso Plano de Atividades e Orçamento tínhamos assumido os seguintes compromissos: • Reabilitar o Bairro da Misericórdia; • Das 8 moradias de tipologia T2 e 2 moradias de tipologia T1, 4 moradias de tipologia T2 estarem no mercado de arrendamento, bem como serem iniciados todos os processos tendentes ao início das obras de mais 2 moradias de tipologia T1 e 2 moradias de tipologia T2; • Dar continuidade às obras de remodelação da Casa

de Repouso de Real e do Leonor Beleza, nomeadamente nas casas de banho e nos espaços comuns; • Desenvolver, no Edifício do antigo Liceu, um estudo económico e de mercado, a fim de avaliar o potencial imobiliário deste edifício; • Ter em funcionamento a nova Unidade de Cuidados Continuados, no último trimestre de 2020, no antigo edifício da ARCO Têxteis: uma Unidade com capacidade para 36 camas, sendo 34 objeto de contratualização com a A.R.S. – Norte, ficando 2 camas para negociação com privados, nomeadamente seguradoras. Todos estes objetivos foram atingidos. A instituição, antes do final do ano, atingiu o patamar dos 400 colaboradores, serviu cerca de 2500 utentes dia, tendo um encargo com remunerações de €5.068.767.65 e um investimento de €2.778.345,00, afirmando-se como um elemento fulcral da economia local. O ano em análise será um marco na História da humanidade e consequentemente da nossa Misericórdia, mas é também o confirmar do espírito inquieto, empenhado, solidário e comprometido de todos quantos levaram, nestes tempos difíceis, a que tenhamos cumprido com a nossa Missão, Visão e Valores.


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Atualidades

RENDIMENTOS

JUROS REND. OBT. 0%

Verifica-se um aumento dos Rendimentos em 6.44% (€481.478.88), devido ao seguinte: • Diminuição da rubrica Prestação de Serviços em 4.55% (€155.710.30), essencialmente resultante do período de pandemia (com encerramento de março a maio das Clínicas e Jardim de Infância), diminuição atenuada pela entrada em funcionamento, em novembro, da nova Unidade de Longa Duração e Manutenção; • Aumento da rubrica Subs. à Exploração em 28.90% (€824.455.24), principalmente relacionado com a atribuição de donativo e entrada em funcionamento, em novembro, da nova Unidade de Longa Duração e Manutenção; • Diminuição da rubrica Outros Rendimentos e Ganhos em 15.78%, pela alteração da contabilização dos donativos, (ver explicação do aumento dos Subs. à Exploração), que passaram para a conta subsídios à exploração.

SUBS.Á EXPLORAÇÃO 46%

4 000 000,00

2019 2020

3 000 000,00 2 000 000,00 1 000 000,00 0,00

BT .

6,44%

ND .O

481 478,88

RE

7 953 842,64

S

7 472 363,76

RO

TOTAL

HO S

-0,51%

AN

-7,08

JU

1 388,94

G

1 396,02

ES

JUROS REND. OBT.

D. E

-15,78%

Õ

-187 258,98

EN

999 545,67

RS

1 186 804,65

VE

OUT. REND. E GANHOS

UT .R

0,00%

RE

0,00

O

0,00

ÃO

0,00

Ç

REVERSÕES

RA

28,80%

O

824 455,24

S

3 686 721,07

PL

2 862 265,83

O

SUBS.Á EXPLORAÇÃO

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS 41%

EX

-4,55%

RV IÇ

-155 710,30

BS .Á

3 266 186,96

SE

3 421 897,26

SU

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

OUT. REND. E GANHOS 13%

DE

DIF. %

ÃO

DIF.

TA Ç

2020

ES

2019

PR


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Atualidades

RELATÓRIO E CONTAS 2020

GASTOS 2019

2020

DIF.

DIF. %

C.M.V.M.C.

685 690,44

793 636,09

107 945,65

15,74%

F.S.E.

1 295 346,61

1 461 721,06

166 374,45

12,84%

GASTOS C/ PESSOAL

5 063 839,88

5 068 767,65

4 927,77

0,10%

AMORT.

618 166,60

728 600,86

110 434,26

17,86%

PROVISÕES

258 008,01

459 176,09

201 168,08

77,97%

OUTROS GAST. PERDAS

98 798,74

111 724,45

12 925,71

13,08%

JUROS E GASTOS SIM.

2 963,46

5 383,00

2 419,54

81,65%

TOTAL

8 022 813,74

8 629 009,20

606 195,46

7,56%

Os Gastos apresentam um aumento de 7,56% (€606.195,46), devido essencialmente ao seguinte: • Rubrica de Gastos c/ Pessoal manteve-se praticamente inalterada, apesar da atualização do salário mínimo nacional e consequente repercussão ponderada nos diversos escalões da instituição. O absentismo durante o período de pandemia, compensou essa atualização de salários; • Aumento de 15,74% (€107.945.65) na rubrica C.M.V.M.C., principalmente relacionado com os aumentos de gastos relacionados com higiene e segurança, resultantes da situação de pandemia; • A rubrica F.S.E. aumentou em 12,84%, essencialmente derivado de rendas no montante de €172.861,07 de contrato renting. As restantes rubricas: aumento no Gás

(€4.241.56), diminuição na Eletricidade (€3.915,28), aumento na Comunicação (€8.753.44), aumento nas Deslocações e Transporte (€697.38), aumento nos Seguros (€2.702.68), o aumento na Conservação de Prédios (€2.005.01) e Ferramentas e Utensílios (€17.703.68), diminuição na Água, Saneamento e Resíduos (€5.308.98) e aumento nos Encargos com Utentes (€7.801.87). Não podemos deixar de realçar a exigente e rigorosa política de gestão, onde é desafiado permanentemente o profissionalismo, empenho, transparência e capacidade de sacrifício de todos os colaboradores da instituição, nomeadamente nas rubricas acima referidas onde se verificaram poupanças significativas. OUTROS GAST. PERDAS 1% PROVISÕES 5% AMORT. 8%

JUROS E GASTOS SIM. 0% C.M.V.M.C. 9%

F.S.E. 17%

GASTOS C/PESSOAL 59%


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6 000 000,00

2019 2020

4 500 000,00 3 000 000,00 1 500 000,00

REAL VS ORÇADO Pese embora o rigor orçamental com que foi elaborado o documento para 2020, a situação pandémica em que o país mergulhou a partir de março alterou as contas, afetando significativamente a receita, com a diminuição das prestações de nossos utentes/clientes e exponenciando os CMVMC e FSE´s., conforme referenciado anteriormente.

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.C

.

0,00

Resultados MEIOS LIBERTOS

2020

Provisões

459 176,09

Amortizações

728 600,86

Resultado Liquido

-675 166,56

Meios Libertos

512 610,39

Meios Libertos de €512.610,39 • RESULTADO LIQUIDO DO PERÍODO: €675.166,56 • AMORTIZAÇÕES: €728.600,00 • PROVISÕES: €459.176,09

INVESTIMENTO No ano de 2020 foi feito um investimento de €2.778.345,00 com destaque para a conclusão da reabilitação do edifício e aquisição de equipamento para abertura da Unidade de Longa Duração e Manutenção no total de €2.196.007,51. O último quadriénio apresenta assim um total de investimento de €5.164.577,77. • POR JOÃO LOUREIRO (DIRETOR GERAL)


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O IMPACTO DA COVID-19 NAS MISERICÓRDIAS A RECONSTRUÇÃO DO FUTURO COM A ECONOMIA SOCIAL

O aparecimento, em 2020, da CoVID-19, trouxe desafios que ninguém esperava e para os quais não havia receitas preparadas a nível mundial, nacional e, naturalmente, local. As Misericórdias Portuguesas, através de tentativas, erros e correções, fizeram um trabalho que deixará para sempre a memória de 2020 em todos nós.

A 1 de junho de 2020, o Presidente da República considerou que “as Misericórdias agigantaram-se” durante a pandemia de CoVID-19. “Agigantaram-se porque foram apanhadas de surpresa, como fomos todos, pela pandemia, e tiveram de ir respondendo dia a dia, inesperadamente, de modo imprevisto, a desafios alguns deles impensáveis, com o apoio dos autarcas”. De facto, a pandemia de CoVID-19 colocou em A pandemia de CoVID-19 trouxe desafios novos e destaque o trabalho das instituições particulares de extraordinários para as instituições solidariedade social, sendo nelas do Setor Social e, em particular, de realçar o papel nuclear das para as Misericórdias. Estes Mulheres que são a grande força Ficaram suspensas dimensões de vida desafios exigiram respostas do “cuidar” nas Misericórdias. tão elementares como a proximidade complexas, de caráter dinâmico, entre nós, o impedimento da visitação, imaginativas e, também elas, A 15 de dezembro de 2020, o o convívio, o contacto físico que inovadoras. Desenvolvemos novos Bispo do Porto Exa. Reverendíssima expressa os afetos. E ficou em risco a modelos de trabalho, novos D. Manuel Linda, enviou uma hábitos, valores e, acima de tudo, mensagem de agradecimento às sustentabilidade das instituições! identificaram-se poderosas armas Santas Casas da Misericórdia da contra a crise trazida pela Diocese do Porto pelo seu trabalho pandemia: solidariedade, compaixão e resiliência. “assinalável e insubstituível” que “exprime a caridade mais Relacionaram-se com a imposição de medidas determinadas pura e ronda mesmo o heroísmo” em tempo de pandemia. pelas Autoridades de Saúde, as quais levaram à suspensão durante largos períodos de muitas das respostas oferecidas no O início de 2021 marcou o princípio do fim da pandemia de âmbito da saúde e ação social; houve limitação do acesso às CoVID-19. Graças ao trabalho científico pioneiro e aos unidades das Santas Casas como, por exemplo, restrição de esforços no plano político foi possível disponibilizar visitas, elaboração e instituição de diversos planos de vacinas a ritmo acelerado. Hoje, os nossos mais vulneráveis contingência, etc. Ficaram suspensas dimensões de vida tão estão vacinados contra a CoVID-19. Antes de os benefícios da elementares como a proximidade entre nós, o impedimento da vacinação atingirem uma escala que permita levantar todas as visitação, o convívio, o contacto físico que expressa os afetos. E restrições, a sociedade ainda se depara com o risco da ficou em risco a sustentabilidade das instituições! emergência de novas variantes, que dão origem à transmissão



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O IMPACTO DA COVID-19 NAS MISERICÓRDIAS A RECONSTRUÇÃO DO FUTURO COM A ECONOMIA SOCIAL

mais rápida do vírus. Contudo, tendo em conta todas essas O Secretariado Regional do Porto envolve 21 Misericórdias, premissas, cientes destas mudanças – e da necessidade de nos com 5848 colaboradores diretos e apoiam 22684 pessoas adaptarmos a uma “nova normalidade” – vão as Santas Casas, por dia (Fonte: Quem Somos nas Misericórdias 2020). A com tranquilidade e dedicação ao próximo, preparar um “novo solidariedade tão comum nos portugueses, em particular normal” de responsabilidade Institucional, instituindo uma no Norte, respondeu de modo rápido envolvendo centenas capacidade de resposta já demonstrada e que permite ter de instituições da área social, sem as quais a pandemia confiança na construção de um futuro sustentável pósteria afetado de modo muito mais marcado as populações -pandemia! pobres, envelhecidas e doentes. Perante a situação pandémica, as Às Misericórdias do limitações impostas pela Saúde Secretariado Regional do Porto Pública, a necessidade de criar são devidas palavras de Agradecimento muito especial porque as condições de adaptação, agradecimento e Misericórdias do Secretariado Regional reorganização, coragem e reconhecimento pela resiliência do Porto criaram – entre si – uma rede esperança, o que fazer quando o e compromisso que, em de intervenção face a necessidades que futuro parece ser tão incerto e conjunto, assumiram na eram dificilmente ultrapassadas no início difícil? A CoVID-19, deixou-nos resposta rápida aos desafios com problemas imediatos e graves desconhecidos com que se da pandemia. de saúde, mas as maiores confrontaram diariamente, com consequências negativas não são um sentido de comunidade ainda não totalmente conhecidas ao nível das relações sociais como nunca existiu ao nível da União das Misericórdias e familiares, da economia, do emprego, do ensino, da Portuguesas. E na sua capacidade de adaptação a novas segurança, entre outros. normas e orientações, que surgiam na confluência da saúde e da ação social, impostas às respostas de cada uma das As Misericórdias estiveram à altura do desafio no cumprimento instituições. Os valores e princípios orientadores são inspirados da sua Missão e dos seus Valores. Defenderam os mais nas catorze obras de Misericórdia de proteção e promoção da vulneráveis que estavam à sua guarda, mantiveram o apoio em humanidade. A sua atuação baseia-se no respeito pela proximidade dos que tiveram que cumprir o confinamento, não dignidade humana, ética, humanização dos serviços prestados, deixaram ninguém para trás. Cumpriram com o que delas era criatividade, inovação e qualidade. esperado.


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Agradecimento muito especial porque as Misericórdias do Secretariado Regional do Porto criaram – entre si – uma rede de intervenção face a necessidades que eram dificilmente ultrapassadas no início da pandemia. Todos partilharam humildemente o desconhecimento. Acima de tudo, colocaram os utentes no centro da atuação, na defesa das suas vidas e integridade física e mental. E, agora, em período já de maior acalmia pós-pandemia assumem a recuperação e a reestruturação de espaços, procedimentos, lutando pela sustentabilidade. A resposta e o compromisso das Misericórdias não foram acompanhados por equivalente resposta no apoio às nossas Santas Casas. A paragem da atividade, os gastos acrescidos significativamente em EPIs, a necessidade (e dificuldade) de recrutamento de novos elementos, criaram situações de dificuldades na sustentabilidade financeira, para as quais muitas das instituições tiveram parco apoio dos órgãos de poder local. Contudo, assumiram os gastos no cumprimento do que era delas esperado. Se continuarmos a intervenção conjunta, tirando partido da nossa excelência de servir em proximidade, da capacidade de exercício da solidariedade e dos nossos valores, estaremos em condições de relegar para o passado as restrições vividas ao longo dos últimos 18 meses e seguir em frente, numa trajetória sólida de recuperação. E será esta a resposta de qual o melhor caminho, no âmbito da sustentabilidade, que implica “construir pensando no futuro”.

Controlado este desafio, lamentando perdas e atrasos, partimos melhor preparados para enfrentar a reconstrução do futuro! Oxalá que no final de 2021, dotada a Humanidade das armas necessárias para a mitigação da pandemia, permita que, com a mesma esperança e empenho, as Misericórdias construam um futuro sustentável. Há a certeza de que o presente e o futuro após a pandemia não voltarão a ser os mesmos. O primeiro passo a dar será sermos resilientes e capazes de transformar as adversidades em oportunidades ultrapassando dificuldades e obstáculos. Não é mais do que cumprir com os valores de já cinco séculos da história das Misericórdias. • POR MARIA AMÉLIA FERREIRA (PRESIDENTE DO SECRETARIADO REGIONAL DO PORTO – UMP | PROVEDORA SANTA CASA MISERICÓRDIA DE MARCO DE CANAVESES)


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Atualidades

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DIÁLOGO COM A COMUNIDADE

Muitos já escreveram sobre o fim do papel no que respeita à comunicação. Há alguns anos, jornais e revistas tiveram de lidar com o enorme desafio que a era digital impunha e em discussão estava o eventual fim das edições impressas. Contudo, ainda há pouco tempo, um jornal nacional com muitos anos de existência retomou a versão impressa, ao fim de largos meses de publicação unicamente digital. Hoje, após um período de ‘explosão’ da internet, começámos a assistir a uma convivência mais ou menos serena entre o digital e o analógico. Os meios conversam entre si de modo a tirar proveito das suas melhores potencialidades, com conteúdos produzidos em função dos públicos a alcançar. Esta regra vale para órgãos de comunicação social e também para outras áreas de atuação, das empresas às organizações do setor social e solidário. O digital oferece, sem dúvida, diversas vantagens. A rapidez de propagação e a possibilidade de uma minuciosa monitorização do impacto do que é divulgado são alguns exemplos das vantagens da internet. Por outro lado, numa era digital muito condicionada pelas grandes empresas que operam na área dos conteúdos (Google, Facebook etc), ‘viralizar’ ou mesmo alcançar novos públicos é cada vez mais difícil, a não ser que se recorra a conteúdos patrocinados. Acresce que o imediatismo da informação exige leitores informados e alguma atitude crítica que nem sempre está presente. Apesar das suas inúmeras vantagens, a comunicação digital não deve ser encarada como uma solução milagrosa.

Para comunicar com a comunidade, por via digital ou analógica, uma das primeiras reflexões a fazer é sobre os caminhos que queremos seguir. Para onde vamos? Esta é a primeira pergunta. E para termos resposta, importa ter presente quem somos e de onde viemos. As Misericórdias nasceram das comunidades para servir essas próprias comunidades. Qualquer caminho que se queira seguir deve ter sempre presente que as pessoas estão em primeiro lugar. E é nesta premissa que reside a principal fonte de sustentabilidade das instituições. Sim, porque sustentabilidade não é um exclusivo de contas, nem de orçamentos. Mais que isso, reside na maneira como conseguimos gerir da melhor forma possível todos os nossos recursos e, no caso das instituições de solidariedade, os recursos são – também e principalmente - as pessoas e o afeto que colocamos nas relações com utentes, famílias, trabalhadores, fornecedores, irmãos, parceiros, voluntários, patrocinadores, beneméritos etc. É certo que a nossa essência está intimamente ligada à imagem do irmão da Misericórdia de Florença, com o rosto coberto a ajudar um aflito: “fazer o bem sem olhar a quem”. Contudo, os tempos obrigam-nos a inverter esta lógica. Fazer bem em primeiro lugar, mas também divulgar o trabalho que as equipas desenvolvem no terreno para concretizar em ações a missão institucional. É através desse diálogo constante que vamos fortalecendo a nossa presença na sociedade. Se soubermos mostrar quem somos e o que fazemos teremos certamente mais pessoas engajadas na mesma


REVISTA #11

causa. Trata-se de inspirar para a solidariedade, para o bem-fazer, para a coesão social, sob pena de definharmos aos poucos. Sensibilizar para a nossa causa e atrair pessoas para este movimento é uma das melhores maneiras de garantir, a médio e longo prazo, a nossa permanência. As Misericórdias têm sabido adaptar-se aos tempos. Numa história de séculos, repleta de desafios, este é apenas mais um e a comunicação é seguramente uma ferramenta importante. Mas se de alguma forma é relativamente simples perceber quem somos e de onde viemos, saber para onde vamos obriga a uma reflexão mais profunda, que aponte caminhos sem colocar em causa a nossa identidade. Há muitos anos que trabalho como editora de um jornal que acompanha o trabalho das Santas Casas. O ‘Voz das Misericórdias’ é um projeto editorial com quase 40 anos e, no âmbito das funções que desempenho, também sei que a sustentabilidade económica tem um peso determinante. Começa nos custos de produção e distribuição. Gráfica e correio concentram a maior parte das nossas despesas com fornecedores de serviços. Ao mesmo tempo, sei dos ‘apelos’ dos anunciantes que preferem anúncios digitais porque é tremendamente mais fácil monitorizar o impacto das suas campanhas de publicidade. Mesmo assim, quando somos questionados sobre uma eventual passagem a um formato exclusivamente digital, a resposta pode não ser fácil. Por um lado, a questão é: para onde vamos? O que leva inevitavelmente o pensamento para as


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Atualidades

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DIÁLOGO COM A COMUNIDADE

pessoas que apoiamos: vamos mesmo excluir pessoas que não diferentes que se complementem, assegurando desta forma têm acesso a internet? Quando um projeto editorial tem já que a nossa mensagem chega eficientemente aos mais tantos anos de existência, qualquer mudança de grande diferentes públicos. envergadura deve ser refletida tendo em conta os seus públicos e não apenas os números. Mas para que este diálogo com a comunidade cumpra a sua Quererá isto dizer que não deve ser efetuada uma alteração? função, há algo que é especialmente determinante, seja digital Não, de todo. As soluções são inúmeras e o caminho deverá ser ou não. Além das inúmeras competências técnicas que vão da sempre pautado pelo diálogo entre o digital e o analógico, programação à fotografia, passando pela produção de textos, a onde há uma imensidão de comunicação apenas funcionará possibilidades editoriais que se tiver resposta para todas as merecem ser ponderadas, tendo perguntas aqui elencadas. As Parabéns, equipa! Continuem o bom como balizas três pressupostos: equipas têm de conhecer muito trabalho (...) Das capas extravagantes quem somos, que caminhos bem a história e a atualidade das queremos seguir e os instituições, mas também as aos textos mais técnicos ou de opinião, investimentos (a curto e médio estratégias para o futuro. tudo são descobertas quando a revista é prazo principalmente) necessários. folheada. Dito isto, quando olho para o No que respeita à primeira ideia trabalho que a Santa Casa da (quem somos), não podemos Misericórdia de Santo Tirso tem perder de vista que as Misericórdias não são meios de desenvolvido nesta área, coloco-me nos sapatos de uma comunicação social, nem blogs ou canais como tantos que observadora atenta que deseja continuar a aprender. As pululam na internet. Temos uma missão muito bem ferramentas de comunicação são inúmeras, dialogam entre si e definida e compromissos que dela resultam. Temos revelam um fio condutor comum a todas. Nas redes sociais, públicos específicos com quem queremos dialogar e os acompanhei com alguma atenção a comunicação com o tipos de comunicação devem ser escolhidos em função exterior durante o surto de Covid-19 no Lar Dra. Leonor disso. Beleza. As características a destacar são as mesmas que observo em tudo o resto: transparência, rigor e E se a nossa missão passa sobretudo pelo diálogo com as profissionalismo, sem perder de vista os afetos, tão importantes comunidades, as decisões de gestão relacionadas com a em casas como as Misericórdias. comunicação devem acautelar cenários mistos, com soluções


MIX REVISTAS

Para o fim, deixo o mais importante. A revista completa 20 anos. Parabéns, equipa! Continuem o bom trabalho e saibam que em Lisboa há uma pessoa a celebrar sempre que vê um envelope de Santo Tirso. Das capas extravagantes aos textos mais técnicos ou de opinião, tudo são descobertas quando a revista é folheada. Pois, porque tatear a textura dos papéis é algo que muitos ainda apreciam. Além disso, um qualquer link pode ser apagado ou esquecido, enquanto o formato impresso continuará em cima da mesa a provocar a curiosidade do leitor. • POR BETHANIA PAGIN (EDITORA DO JORNAL VOZ DAS MISERICÓRDIAS E RESPONSÁVEL PELO GABINETE DE COMUNICAÇÃO E IMAGEM DA UNIÃO DAS MISERICÓRDIAS PORTUGUESAS)


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SUSTENTABILIDADE, O QUE MUDOU COM A PANDEMIA?

A pandemia da Covid-19 colocou em cheque e trouxe vários desafios para as diversas economias mundiais, mas mais importante que isso, fez com que o tema da Sustentabilidade se tornasse num dos mais importantes do momento. O Conceito de Sustentabilidade foi introduzido inicialmente em 1987 em Estocolmo pela WCED (World Commission on Environment and Development), uma comissão formada por membros da ONU. Aqui foi divulgado o relatório Brundtland um documento que alertava para as consequências ambientais negativas do desenvolvimento económico e da globalização, oferecendo soluções para os problemas decorrentes da industrialização e do crescimento populacional. Este relatório deu-nos a definição de Desenvolvimento Sustentável que ainda hoje vigora, “Desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades, garantindo o equilíbrio entre o crescimento económico, o cuidado com o ambiente e o bem-estar social”. Analisando esta definição percebemos que a Sustentabilidade está alicerçada em 3 pilares: • Económico, relacionado com a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. A economia deve considerar a questão social e ambiental.

• Social, engloba as pessoas e as suas condições de vida como educação, saúde, violência ou lazer. • Ambiental, refere-se aos recursos naturais do planeta e a forma como são utilizados pela sociedade, comunidades ou empresas. Podemos assim subdividir a Sustentabilidade em vários tipos consoante o pilar onde estão assentes, mas que devem coexistir de modo a que se atinja uma sustentabilidade plena. Assim temos: • Sustentabilidade ambiental – Compreende a preservação e manutenção do meio ambiente, cujo principal objetivo é garantir que as necessidades das gerações futuras não sejam prejudicadas pelo uso indiscriminado dos recursos naturais da atualidade. • Sustentabilidade empresarial – Com o crescente grau de consciencialização dos consumidores no que toca às questões ambientais, as empresas têm incluído no seu planeamento estratégico a sustentabilidade como responsabilidade social. Aqui as ações são regidas pela preservação do meio ambiente e na procura de uma melhoria da qualidade de vida das pessoas. • Sustentabilidade social – É baseada na redução da desigualdade entre os povos, com a manutenção de uma vida digna e com garantia das necessidades básicas do ser humano, como a saúde, a edução e a identidade cultural. • Sustentabilidade económica – Baseia-se num modelo de gestão sustentável. Isto implica uma gestão


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SUSTENTABILIDADE, O QUE MUDOU COM A PANDEMIA?

adequada dos recursos naturais que têm como objetivo o crescimento económico, o desenvolvimento social e a melhoria da distribuição da riqueza.

As iniciativas e tendências que já se vinham a identificar, nos últimos anos, ganharam agora maior senso de urgência e a sustentabilidade é, cada vez mais, apontada como um pilar estratégico para a reconstrução da economia global. Com base nos pilares de desenvolvimento sustentável é À medida que cada vez mais empresas e negócios se possível desenvolver ações nos âmbitos pessoal, apercebem de que a sua sobrevivência e crescimento, a comunitário e global e estes são capazes de minimizar os longo prazo, depende da obtenção de um impactos negativos provocados pelo homem. Num mundo equilíbrio inteligente entre rentabilidade e harmonia em que as expectativas da entre todos os intervenientes, muitas sociedade em relação às empresas organizações têm tentado Muitas vezes as soluções dos são crescentes, e o conceito de desenvolver iniciativas no âmbito da nossos problemas poderão estar propósito ganha cada vez mais sustentabilidade, que impactam relevância, a incorporação dos todos os seus “stakeholders”. na porta ao lado, poupando aspetos sociais e assim tempo, dinheiro e o ambientais na estratégia das Na ACIST procuramos que haja uma ambiente. organizações ganha cada vez mais forte aposta na Sustentabilidade por relevância e constitui-se como parte das empresas. Se a uma vantagem competitiva. sustentabilidade ambiental já fazia parte da preocupação de grande parte dos empresários O papel das empresas na sociedade e o seu e já eram adotadas várias medidas nesse sentido, como propósito passa agora a ser uma questão por exemplo, a reciclagem e o uso de energias limpas, a crítica na criação de valor, a longo prazo, e atrai cada pandemia da Covid-19 veio chamar a atenção para a vez mais a atenção de investidores e dos necessidade de as empresas se focarem no bem-estar seus “stakeholders”. A perspetiva de um ambiente dos seus colaboradores e da comunidade onde estão empresarial mais colaborativo, consciente e com o inseridos. desígnio de acrescentar valor para todos Exemplo disso são iniciativas como a campanha os “stakeholders” será uma vantagem competitiva natalícia “Compre no Nosso Comércio” em que houve no futuro. um claro apelo à comunidade tirsense para que centrasse o consumo no comércio tradicional do


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nosso concelho, permitindo assim, de algum modo, minimizar o impacto desta crise. Esta iniciativa contou com o forte apoio de algumas empresas e instituições como a Irmandade e Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso que ao presentearem com tickets oferta os seus colaboradores permitiram que fosse injetado no comércio tradicional vários milhares de euros. Esta iniciativa de sustentabilidade empresarial e social, inédita no nosso concelho, servirá certamente de alavanca para ações cada vez mais impactantes na economia concelhia, levando ao crescimento do comércio e da indústria da nossa comunidade. É desígnio da ACIST dar a conhecer e facilitar a aproximação entre o tecido empresarial e as Instituições do nosso concelho. Muitas vezes as soluções dos nossos problemas poderão estar na porta ao lado, poupando assim tempo, dinheiro e o ambiente.

Em resumo é urgente a necessidade das empresas, dos governos e da sociedade investirem cada vez mais em Sustentabilidade, só assim conseguiremos garantir o bem-estar das gerações atuais e futuras. BIBLIOGRAFIA Porto Business School, “Com a COVID-19 a sustentabilidade ganha um novo significado”, https://www.pbs.up.pt/pt/artigos-e-eventos/ artigos/a-sustentabilidade-ganha-a-partir-da-pandemia-da-covid-19-um-novosignificado/ Lisboa Capital Verde 2020, “Sustentabilidade, o que é isto?”, https:// lisboagreencapital2020.com/noticias/sustentabilidade-o-que-e-isto/ •

POR HUGO ASSOREIRA (PRESIDENTE ACIST - ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DE SANTO TIRSO)


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CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

O que é, afinal, a sustentabilidade, para além de ser, hoje, uma palavra repetidamente presente nos mais variados discursos, documentos e circunstâncias, de que já todos ouvimos falar, mas cujo significado nem todos somos capazes de expressar ou compreender? A palavra deriva do vocábulo “sustentável”, que provém do latim sustentare (que significa sustentar, defender, favorecer, apoiar, conservar, cuidar, manter, proteger). O termo é, frequentemente, relacionado com o meio ambiente, especialmente associado ao controle da poluição, mas a sua abrangência vai, hoje, muito para além desse enquadramento. Ao longo do século XX, abriram-se novas “frentes” para a sustentabilidade, alargando-se ao campo económico e ao campo social, numa luta global por um planeta sadio em que as pessoas possam encontrar as condições necessárias para a sua sobrevivência, promovendo a qualidade de vida das gerações actuais e garantindo que não se compromete a possibilidade de as gerações futuras também lhe poderem aceder. A partir da Revolução Industrial, criou-se a ideia de que o progresso da humanidade se alcançaria através da passagem de uma condição inicial de penúria cultural e ignorância para uma outra, de “civilização”, através de um modelo único e universal que garantiria o desenvolvimento, assente em estratégias de sair de uma economia baseada na agricultura para outra de cariz industrial.

A 2.ª Guerra Mundial (tempo de terror, medo e frustração) e o período que se lhe seguiu constituíram um marco para a difusão das teorias do desenvolvimento e assistiu-se a uma grande evolução económica e social nos países industrializados e capitalistas, que se reflectiu na alteração da organização e estrutura das sociedades. Acreditava-se que o crescimento económico seria a solução para os problemas que assolavam as comunidades. A fome, a pobreza e a miséria seriam resolvidas com o desenvolvimento da capacidade produtiva que, consequentemente, levaria ao aumento do emprego e do consumo. Não foi exactamente assim. O modelo único e universal não teve a adesão e o sucesso esperados. O sistema produtivo e as alterações nas sociedades ocidentais desenvolvidas afastaram-se da “visão” inicial: a mecanização e o desenvolvimento técnico libertaram mão-de-obra da agricultura e da indústria (sectores primário e secundário) e a intensa procura de serviços e bem-estar pessoal levaram a um forte crescimento do sector terciário. O bem-estar tornou-se, mesmo, um dos principais objectivos das sociedades ocidentais, visando a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento de novas formas de lazer. Isso levou a um aumento do consumo, estimulado pela publicidade. As empresas adoptaram o princípio de produzir mais para consumir mais e utilizaram os media e


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o marketing para incentivar o público a adquirir os seus produtos. O crescimento económico apareceu, frequentemente, associado ao surgimento de sociedades de consumo e abundância (de que decorrem alguns perigos e graves problemas ambientais, uma vez que aumenta a produção de lixo – “use e deite fora” – e a poluição), mas também a grandes desigualdades e à geração de franjas marginalizadas, os «excluídos», que vivem em situação de pobreza e sem usufruir das comodidades destas sociedades. A rápida delapidação dos recursos naturais, os impactos que a actividade humana reflecte nos ecossistemas e na biosfera, os elevados níveis de desigualdades sociais e de pobreza que enfrentamos e a falta de ética de gestão corporativa são inimigos de um modelo de desenvolvimento capaz de assegurar às gerações futuras as oportunidades e a qualidade de vida de que as actuais (ainda) gozam. Está, por isso, cada vez mais presente na sociedade a consciência de que se impõe (e urge) a adopção de um novo modelo de desenvolvimento. Como escrevia, há dias, no Jornal EXPRESSO, o Reitor da Universidade de Coimbra, Professor Amílcar Falcão, “a sustentabilidade é a resposta para o desafio das nossas vidas: o de deixarmos um Mundo mais justo e seguro, a nível ambiental, económico e social, para as gerações futuras.

Da erradicação da pobreza e da fome à protecção da vida terrestre e da vida marinha, da promoção da saúde e da educação de qualidade à acção climática, importa agir o quanto antes”. Também o Papa Francisco, no dia 8 de Maio, na Sala Regia, no Vaticano, afirmou, perante os cerca de 500 participantes da Conferência Internacional «A Doutrina Social da Igreja: das raízes à era digital”, promovida pela Fundação Centesimus Annus, depois de recordar a Carta Encíclica ‘Laudato Si’ (publicada há 4 anos), reconheceu haver “sinais de um aumento da consciência sobre a necessidade de cuidado com a casa comum” (citando, como exemplos, “o crescente investimento em fontes de energia renovável e sustentável” e “os novos métodos de eficiência energética”) e afirmou que o apelo “para sermos mais solidários como irmãos e irmãs e a uma responsabilidade compartilhada pela casa comum, torna-se cada vez mais urgente”. Noutro passo, referiu que “mudar o modelo de desenvolvimento global, abrindo um novo diálogo sobre o futuro do nosso planeta” é a tarefa que está diante de nós. O sector da Construção Civil (responsável por impactos relacionados com o consumo de matériasprimas e de energia e também por 50% dos resíduos sólidos gerados pelas actividades humanas) torna-se, por isso, particularmente importante, na abordagem deste novo paradigma, exigindo a adopção de novas práticas baseadas em conceitos coerentes com a


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CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

sustentabilidade, como o consumo consciente de matérias-primas e recursos naturais, o reaproveitamento de resíduos e a minimização de desperdícios. Neste contexto, tem-se assistido, nos últimos anos, a uma profunda alteração de processos e métodos construtivos, com a integração de diversas variantes na conceptualização de soluções técnicas, privilegiando a iluminação natural, a utilização de fontes alternativas de energia ou de tecnologias inteligentes para regular a ventilação, a acústica e a climatização dos edifícios. Passos significativos foram, também, dados na organização dos estaleiros de obras e na gestão eficiente dos resíduos, quer da construção, quer da demolição, facilitando a sua triagem e separação, de modo a possibilitar a reutilização e a reciclagem, com encaminhamento dos restantes a locais apropriados de vazadouro e despejo. Na Misericórdia de Santo Tirso, temos procurado desenvolver acções concretas, no sentido de garantir a sustentabilidade da Instituição, mas também que as iniciativas, no âmbito da construção, sejam, em si próprias, testemunhos de sustentabilidade. Assim: - No que respeita à sustentabilidade da Instituição, todos têm, certamente, consciência de que os últimos anos têm sido marcados por fortes reduções nos apoios


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enquadramento das acções de reabilitação de património, de que são exemplos mais recentes as intervenções nas casas do Bairro da Misericórdia e no edifício do ARCO, onde foi instalada a nova Unidade de Cuidados Continuados;

do Estado e também dos particulares. A conjuntura económica a tanto tem obrigado e os efeitos da pandemia, em particular, têm sido especialmente gravosos. Ora, não fica fácil gerir uma casa onde as receitas se vêem reduzidas e as despesas substancialmente aumentadas. Impõe-se, por isso, encontrar fontes de financiamento alternativo, que assegurem os fluxos financeiros que a procura da melhoria permanente da qualidade de vida dos utentes e a vasta actividade reclamam. A Misericórdia possui um vasto património, mas tem de ser mantido, gerido e cuidado. Cumpre, por isso, identificar as «peças» que podem ser intervencionadas e colocadas em posição de rentabilidade, ainda que à custa de algum investimento inicial. Tal tem sido o

- No que respeita à sustentabilidade das intervenções, importa assinalar a implementação de sistemas tecnológicos que asseguram a eficiência energética (com redução de consumos de electricidade e o recurso a painéis solares e fotovoltaicos), o isolamento térmico e acústico de paredes, os sistemas inteligentes de climatização e aquecimento de águas, a gestão de resíduos de construção e demolição, a gestão dos próprios resíduos domésticos, soluções técnicas que possibilitem a poupança de água, etc., com evidente melhoria da qualidade de vida dos utentes e trabalhadores. Por outras palavras, estamos, de facto, e com empenho, a promover o desenvolvimento e a satisfazer as necessidades do presente, minimizando a afectação de recursos, a pensar nas gerações futuras. Renovando, recuperando, construindo. Estamos no futuro. Estamos com o futuro. Com sustentabilidade. • POR J. LUÍS CRISTINO (ENG. CIVIL / UP, CONSULTOR TÉCNICO DA MISERICÓRDIA)

O autor escreve segundo as regras do antigo acordo ortográfico.


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A MISERICÓRDIA E O AMBIENTE

Apesar de todas as outras preocupações e prioridades vividas no atípico e inesperado ano 2020, a Misericórdia de Santo Tirso procurou não descurar a sua consciência ambiental, prosseguindo com os seus contínuos cuidados na preservação do meio ambiente, abrangendo na sua agenda uma gradual aposta em estratégias relacionadas com a sustentabilidade ambiental já evidenciada em anos recentes: • Reabilitação da valência Lar José Luiz d’Andrade com a substituição de caixilharia (janelas e portas) e aplicação de capoto de modo e melhorar o isolamento do edifício e consequentemente a eficiência energética; reabilitação da valência Casa de Repouso de Real com renovação da caixilharia existente (portas e janelas) de modo e melhorar o isolamento do edifício e consequentemente a eficiência energética; reabilitação da valência Lar Dra. Leonor Beleza com renovação da caixilharia existente (portas e janelas) de modo e melhorar o isolamento do edifício e consequentemente a eficiência energética; medida a ser prevista para outras valências mas que devido aos elevados custos associados, apenas poderá ser expandida de forma bastante gradual e de acordo com as maiores necessidades de cada edifício; • Constante consciencialização dos hábitos de consumo, alertando para o impacto ambiental e económico da utilização eficiente de energia através de iniciativas de sensibilização dirigidas a utentes e colaboradores;

• Criação de Grupos de Trabalho na área dos consumos (constituídos por representantes das diferentes valências/serviços), procurando a racionalização da utilização de energia promovendo boas práticas e comportamentos mais sustentáveis junto de colaboradores e utentes; • Renovação gradual de equipamentos tecnológicos com a aposta crescente em materiais e tecnologia “verde”; • Substituição progressiva de lâmpadas incandescentes por lâmpadas de baixo consumo; • Instalação de sensores de temporizadores e sensores de presença; • Aplicação de redutores de fluxo de água nas torneiras, chuveiros e autoclismo; • Consciencialização para a utilização do papel e outros materiais descartáveis de forma mais consciente; • Preservação e limpeza de matas da instituição procurando prevenir incêndios e contribuindo no equilíbrio da fauna e da flora, bem como procurando diminuir a poluição ambiental; • Utilização de Sistema de Gestão de Resíduos fazendo a devida separação de materiais para reciclagem e resíduos biológicos; • Registo no SILiAmb (Sistema Integrado de Licenciamento do Ambiente), desde 2007, para controlo de resíduos onde são validados guias eletrónicas de recolha de resíduos hospitalares, óleos alimentares, embalagens, vidro, papel e cartão,


REVISTA #10

Atualidades

plástico e componentes perigosas retiradas de equipamentos; • Em 2019, a instituição foi mesmo distinguida com o 1º lugar no concurso “Amarelo Por Um Sorriso” (prémio atribuído no valor de 862,50€), promovido pela RESINORTE, relacionada com a entidade com maior quantidade de plástico e metal entregue. A instituição acredita que esta aposta contínua em políticas de sustentabilidade ambiental conduzirá não apenas a benefícios ambientais, como também a proveitos económicos, socias e culturais tanto a curto como a médio e longo prazo. • POR HUGO MARTINS (DEP. MANUTENÇÃO DA ISCMST)


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Atualidades

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GESTOS QUE POUPAM

Em todas as áreas podemos adotar comportamentos que promovam a sustentabilidade evitando o desperdício e rentabilizando recursos que por definição, são escassos. Queremos, de uma forma simples, partilhar gestos que poupam, gestos que fazemos todos os dias e por tão rotineiros que são, não percebemos que no final de 1 mês ou no final de 1 ano, representam centenas, senão milhares de euros gastos sem qualquer utilidade. Neste novo normal que a Pandemia nos obrigou a viver, que todos nós desconhecíamos até então, o teletrabalho veio para ficar, e com ele, parte dos custos do nosso trabalho foram transferidos dos empregadores, diretamente para o nosso bolso. Gestos que poupam, podem ser aplicados no local de trabalho, em casa, no jardim, ou em qualquer local onde esteja, você pode ser o catalisador da mudança, de uma mudança positiva! Vivemos hoje na era digital, onde praticamente tudo consome energia, utiliza consumíveis e de forma direta ou indireta “gasta” o Nosso Planeta. Toda a tecnologia que nos rodeia não é diferente, e por isso, gestos que poupam devem ser cultivados e massificados por todos nós. De seguida, damos nota de alguns gestos que poupam na área tecnológica e que de tão simples que são, temos a certeza que todos vão ter um papel ativo na sua adoção.

Gestos que poupam a energia…. Desligar o computador no final do dia de trabalho; Desligar o monitor quando desliga o computador; Desligar a impressora todos os dias, principalmente as impressoras de grandes formatos; Reduzir o brilho do monitor até se sentir confortável (até poupa os seus olhos…); Gestos que poupam o ambiente…. Impressão só quando necessário/imprescindível; Impressão em rascunho por defeito e privilegiar o preto; Impressão de e-mails apenas a preto; Impressão em papel de rascunho (que não contenha no verso dados sensíveis); Privilegiar o envio de forma digital em detrimento da impressão; Utilização de plataformas digitais para redução do papel e do seu armazenamento; Gestos que poupam o espaço…. Confirme se o que está a guardar no seu computador, há mais de 2 anos sem ser utilizado, necessita mesmo… (otimize os recursos que tem); Não duplique ficheiros em todos os locais, faça apenas uma cópia de segurança… Gestos que poupam, são gestos que nos poupam….a todos! • POR SUSANA FREITAS, NUNO LUCAS E ILÍDIO OLIVEIRA (DEPARTAMENTO INFORMÁTICA ISCMST)


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Formação/GRH

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LOUVOR AO LÍDER INCOMPLETO

Uma liderança eficaz associa múltiplas competências: técnicas, cognitivas (concetuais, estratégicas), relacionais (sociais) e de liderança pessoal (contenção, temperança, ...) e encontrá-las numa só pessoa é tarefa quase impossível. Portanto, assim que um líder (re)conhece e aceita as suas forças e as suas fraquezas, pode e deve procurar rodear-se de outros que as complementem.

Assim sendo, uma liderança eficaz requer um líder que garanta:

O ano de 2020 constituiu a prova mais recente e impactante de como, cada vez mais, as decisões são tomadas enquadradas em conjunturas globais e de incerteza, cujas forças (financeira, social, política, tecnológica e ambiental) mudam rápida e, por vezes, drasticamente. De tal forma que, ninguém consegue sozinho estar em cima de todos os contextos.

Aporte correto de competências de relacionamento interpessoal, nomeadamente: - criar e desenvolver relações intra e interorganizacionais; - escutar com intenção genuína de perceber; - explicar o ponto de vista do próprio, suas interpretações e conclusões; - desenvolver uma rede de pessoas confiáveis que possibilita o suporte de iniciativas ou a discussão aberta de problemas; - assegurar a gestão do distanciamento psicológico aos níveis social, temporal, espacial e experimental (requer ajustes mediante as circunstâncias, potenciando a eficácia das decisões ao atentar à “floresta” e/ou à “árvore”, no momento certo).

É tempo de contrariar o mito do líder completo: aquele está no topo e reúne em si mesmo todas as competências. Voltemo-nos então para o “Líder Incompleto”, aquele que reconhece o(s) momento(s) em que deve permitir que aqueles que na equipa melhor conhecem as circunstâncias sejam peça primordial no processo de tomada de decisão. A distribuição de liderança deve ter em conta competências facilitadoras (criam as condições para motivar e sustentar a mudança) e competências orientadas para a criatividade e para a ação (produzem o foco e a energia necessários para provocar a mudança).

Capacidade de perceber o contexto em que a entidade e os colaboradores operam (a forma como estudamos o contexto, aquilo a que damos atenção, determina a perceção que construímos do mesmo).

Visão: capacidade de criar uma imagem atrativa do futuro que proporciona aos colaboradores sentido de propósito relativamente ao seu trabalho. Competências de desenvolvimento e execução: processo criativo que permite passar do mundo abstrato das ideias para o mundo concreto da implementação,


REVISTA #38

desenvolvendo novas formas para transpor a visão do futuro numa realidade diária. As competências elencadas são interdependentes. Porém, nenhum líder consegue ser igualmente excecional em todas elas (tipicamente, é bom numa ou duas competências). Mas não confundamos: líderes incompletos não são líderes incompetentes. Os primeiros conseguem identificar com clareza as suas melhores competências e têm a capacidade de determinar como e com quem trabalhar em equipa de forma a potenciar as suas forças e colmatar as suas limitações. Mesmo os líderes mais talentosos beneficiam da aplicação construtiva e criativa de inputs de (outros) profissionais de referência. Líderes que não se façam rodear de diversidade e complementaridade correm o risco de lhes escaparem competências essenciais para a sobrevivência da sua organização neste Mundo complexo e em permanente mudança. • POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)


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Formação/GRH

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3º SETOR DIFERENCIAÇÃO NA GESTÃO DE ORGANIZAÇÕES DA ECONOMIA SOCIAL

A Sustentabilidade do 3º Setor depende intrinsecamente da profissionalização crescente das práticas de gestão existentes nas organizações que o compõem. A Misericórdia de Santo Tirso, Organização da Economia Social, oferece uma multiplicidade de serviços e respostas à comunidade, sendo considerada uma Grande Empresa por contar com cerca de 400 colaboradores/as. Consciente da importância da especialização e da diferenciação daqueles/as que ocupam cargos de coordenação/gestão, a instituição investe de forma consistente e criteriosa na formação dos/as mesmos/as. Desta feita, destacamos a participação de 6 coordenadoras de valência no Curso de Gestão de Organizações da Economia Social (duas edições), promovido pela CASES (Cooperativa António Sérgio para a Economia Social), com o objetivo de capacitar as organizações do setor social para a melhoria da qualidade dos serviços prestados. Entre o final do ano 2020 e primeiro semestre de 2021, no decurso de 147 horas de formação, distribuídas por 8 módulos, foram tratados os temas “Economia Social”, “Gestão Estratégica”, “Gestão de Recursos Humanos”, “Contabilidade e Fiscalidade”, “Gestão Financeira”, “Marketing e Comunicação”, “Gestão de Projetos” e “Ética e Responsabilidade Social”.

As ações contaram com formadores/as com habilitações e experiência profissional comprovada nas temáticas abordadas, concretamente na área da economia social, com conhecimentos relevantes acerca do setor e dos tipos de organizações que o integram. As nossas participantes tiveram a oportunidade de usufruir de uma abordagem abrangente, testando os conteúdos de forma prática. Potenciar a melhoria dos procedimentos e das competências de gestão dos/as nossos/as profissionais (dirigentes/quadros técnicos) é apostar em boas práticas e sustentabilidade. E porque a Misericórdia de Santo Tirso, como qualquer todo, é maior do que a simples soma das suas partes, fica o desafio às participantes para partilha dos conhecimentos adquiridos, promovendo o efeito multiplicador. • POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)


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PLANEAMENTO E ARTICULAÇÃO SOCIAL

Ação Social e Comunidade

Precisamos de virar a página. Aprender com as vicissitudes da vida, das marcas deixadas pelo COVID para nunca “baixar as armas” na proteção dos mais fragilizados, mas avançar… Não ficarmos tolhidos pelo receio do que virá depois da Pandemia. Ainda no meio de muitos afazeres para garantir as condições de segurança em relação ao COVID nas valências sociais – testes regulares e vacinação aos colaboradores e utentes – temos que repor a normalidade possível, para o bem da saúde física e mental de todos. Iniciamos as Reuniões de Planeamento e Articulação Social para olharmos nos olhos de cada participante e partilhar vivências, anseios e projetos. Este arranque serviu para realizarmos um balanço do período COVID e das suas consequências nas respostas sociais da Misericórdia – na orgânica e nos utentes. Objetivos: • Refletir e partilhar as iniciativas/intervenções/ /constrangimentos; • Apresentar linhas de atuação/projetos futuros; • Afinar e uniformizar procedimentos; • Rentabilizar recursos humanos e materiais; • Fomentar a articulação entre valências; • Reforçar a identidade institucional.

Para além das vantagens estratégicas, estes momentos de trabalho são sempre agradáveis, onde se estabelece uma interação muito positiva entre os elementos da equipa técnica das valências sociais. Retomar estas dinâmicas coletivas cria alguma estranheza no início, quando estávamos formatadas para uma dinâmica mais individualizada e centrada na própria valência. Voltar ao conceito de Unidade e Identidade da Misericórdia terá que ser um caminho a percorrer de novo. Mas com a participação e envolvimento de todas será um caminho prazeroso pela articulação social e melhoria contínua. • POR LILIANA SALGADO (DIRETORA DE SERVIÇOS SOCIAIS E QUALIDADE)


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Ação Social e Comunidade

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SUSTENTABILIDADE MOBILIZAR VONTADES PELO QUE NOS É COMUM

Na resposta ao desafio para falar de sustentabilidade económica, social e ambiental enquanto organização de combate à pobreza e exclusão social implica falar em primeira instância do bem-estar das pessoas e das suas comunidades locais de pertença, bem como do atual modelo de desenvolvimento económico que deve dar resposta a este primado. Implica igualmente falar de emprego digno e no respeito pela biodiversidade dos ecossistemas naturais, recursos estes finitos, sem esquecer uma atenção particular às alterações climáticas e às suas consequências múltiplas que podem daí advir se não for dedicado um verdadeiro empenho dos Estados a nível global. Como se sustenta o equilíbrio do bem-estar das pessoas e uma economia competitiva e inclusiva com preocupações ambientais? Muito se tem falado dos três vértices deste triângulo por estarem intrinsecamente associados, mas o que tem sido feito na prática? E o que é necessário fazer? Para conciliar estas três preocupações fala-se em crescimento justo, sustentável e inclusivo, é isso que está acontecer? O que deve mudar e o que depende de cada um fazer? Esta crise sanitária, económica e social trouxe a descoberto um crescimento do desemprego, das desigualdades entre os que tem poucos recursos, com trabalhos precários, trabalhadores sazonais dependentes do turismo, da restauração e em todos os setores mais fustigados. A pobreza no trabalho exige salários dignos e adequados acompanhados de proteção social. As crianças e os jovens de meios desfavorecidos que não puderam acompanhar a escola digital requerem a implementação de medidas que impeçam que as crianças

pobres se tornem em adultos pobres. A par do reforço da Garantia da Juventude, a Comissão Europeia adotou uma proposta de recomendação do Conselho da União Europeia (UE) que estabelece uma Garantia Europeia para a Infância para promover a igualdade de oportunidades às crianças em risco de pobreza ou exclusão social. Encontramo-nos ainda em pandemia do COVID 19 e na necessidade de pensar a transição de medidas de emergência para medidas estratégicas de recuperação da crise social e económica, num contexto de um novo quadro de fundos europeus plurianual 2021-2027, como uma oportunidade de investimento social na melhoria das condições de vida. O Pilar Europeu dos Direitos Sociais aponta para três metas a atingir em 2030, presentes no plano de ação, apresentadas na Cimeira Social do Porto em Maio de 2021 nos domínios do emprego, das competências e da proteção social: • Pelo menos 78 % da população entre os 20 e os 64 anos deverão estar empregadas até 2030. O objetivo de emprego para toda a população em idade ativa, incluindo os grupos excluídos e marginalizados do mercado de trabalho: jovens NEET, minorias étnicas, imigrantes, pois importa que seja um emprego digno e inclusivo, que se preocupe em diminuir as disparidades salariais entre homens e mulheres. • Pelo menos 60 % de todos os adultos devem participar anualmente em ações de formação. Com uma experiência de anos de formação profissional é importante que esta acrescente valor e se adeque ao mercado de trabalho e à real economia do país sem esquecer a aquisição de


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Ação Social e Comunidade

competências digitais, em particular junto dos grupos mais vulneráveis para a transição digital a que estamos assistir. • O número de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social deverá ser reduzido em, pelo menos, 15 milhões até 2030 e pelo menos 5 milhões devem ser crianças. Esta meta em particular de suma importância com o objetivo de reduzir o número de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social em, pelo menos, 15 milhões até 2030 é um retrocesso na ambição da meta estabelecida pela Europa 2020, que era de 20 milhões, especialmente no contexto da pandemia COVID-19. Importa ressalvar que as metas a atingir no Pilar Europeu dos Direitos Sociais só farão sentido se forem vinculativas com caráter obrigatório para o seu cumprimento e, não seja apenas mais uma declaração de princípios correndo o risco de fragilizar a defesa da bandeira da Europa Social. No quadro de financiamento plurianual 2021-2027, em particular o Fundo Social Europeu Mais (FSE+), dotado de um orçamento de 88 mil milhões euros, tem como objetivo o investimento nas pessoas (emprego e proteção social, educação e inclusão social através da erradicação da pobreza; qualificação para a transição verde e digital) continuará a ser o principal instrumento da União Europeia (EU) para apoiar a implementação do Pilar Europeu dos Direitos Sociais e concretizar as três grandes metas propostas: • Pelo menos 25 % dos recursos do FSE+ a nível nacional devem ser canalizados para combater a pobreza e a exclusão social, e desses, pelo menos, 5 % devem ser

investidos em medidas de combate à pobreza infantil, nos Estados-Membros que seja superior à média da UE; devem também utilizar, pelo menos, 3 % da sua quota do FSE+ à ajuda alimentar e à assistência material de base às pessoas mais carenciadas. • Para combater o desemprego dos jovens, os Estados-Membros com taxas elevadas terão de consagrar, pelo menos, 12,5 % dos fundos aos jovens que não trabalham, não estudam nem seguem qualquer formação (NEET). As preocupações da UE com as alterações climáticas manifestaram-se na criação de um fundo específico para as regiões que possam vir a ser afetadas pelos desafios socioeconómicos decorrentes da transição climática: O Fundo para uma Transição Justa. No que respeita ao novo quadro de fundos comunitários, Portugal apresentou o Plano de Recuperação e Resiliência e a sua concretização ajudará a acompanhar em que medida o compromisso político com os objetivos do Pilar Europeu dos Direitos Sociais serão conseguidos. O Núcleo do Porto da EAPN Portugal aproveita para dar os parabéns à Revista da Misericórdia de Santo Tirso pelos seus 20 anos de promoção da inclusão social e por um futuro percurso editorial sustentável e amigo do ambiente e das pessoas. https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/O-9-2021-000025_PT.html https://www.europarl.europa.eu/ftu/pdf/pt/FTU_2.3.2.pdf https://www.portugal.gov.pt/downloadficheiros/ficheiro.aspx?v=%3d%3dBQAAA B%2bLCAAAAAAABAAzNDQzNgYA62SpeQUAAAA%3d • POR GRAÇA LOURENÇO (NÚCLEO DISTRITAL DO PORTO DA EAPN PORTUGAL)


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Ação Social e Comunidade

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SEMANA DA INTERCULTURALIDADE

É cada vez mais evidente a necessidade de refletir e agir com vista à garantia de uma sustentabilidade futura, não só ambiental, económica, mas também social para que possamos melhorar a qualidade de vida de forma que a geração presente esgote os recursos e valores disponíveis das e para as gerações futuras. Só conseguimos uma sustentabilidade efetiva quando temos um verdadeiro conhecimento e consciência do conceito de identidade e pertença, cultura(s), pluralismo e diversidade cultural. Quando procuramos compreender o fenómeno da globalização e a sua relação com migrações, etnicidade, combatendo formas de racismo e xenofobia para promover o diálogo intercultural/inter-religioso e a inclusão. Deste modo, e no cumprimento da sua Missão – Proteção de Grupos Sociais mais Vulneráveis, a Misericórdia de Santo Tirso participou ativamente na Semana da Interculturalidade promovida pela EAPN Portugal, que este ano contou com o apoio institucional do ACM – Alto Comissariado para as Migrações. Esta iniciativa – Semana da Interculturalidade – assinalada desde 2014, tem como objetivo promover o diálogo e a relação entre culturas, mostrando que a interculturalidade é, também, uma forma de combater a exclusão social, valorizando valores como respeito, solidariedade, igualdade, cidadania, não discriminação pela aparência, etnia, género ou nacionalidade, democracia na educação e direitos humanos.

No âmbito deste evento a Misericórdia de Santo Tirso participou com duas iniciativas distintas dirigidas a públicosalvo diferentes: Exposição “Mulheres de Azul”, decorreu no mês de abril na Estação de Metro da Casa da Música A exposição retratou a forma como cada mulher vítima de violência doméstica se vê e aquilo que hoje as define como pessoas. Presente num local de passagem, onde cruzaram diferentes pessoas, teve como objetivo sensibilizar e levar a refletir na identidade de cada um/a e o seu papel na prevenção, desconstrução e combate da violência doméstica, bem como dos valores fundamentais a uma sociedade de respeito, solidária, igualitária, em suma sustentável. Contos Interculturais – Seniores Num período de pandemia em que os seniores, nomeadamente os que se encontram em ERPI’s ficaram privados do contacto com o exterior físico e humano, foi dada a possibilidade, mesmo que à distância, de serem levados a imaginar, a viajar, a recordar, a partilhar crenças e costumes, locais visitados, momentos vividos, pessoas com quem se relacionaram, na construção das suas identidades e no respeito com o/a outro/a enquanto cidadãos/ãs e que atualmente são detentores de sabedoria fundamental à construção da identidade das novas gerações.


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Ação Social e Comunidade

Só quando efetivamente a humanidade for capaz de perceber que somos um bocadinho de todos/as que cruzam nas nossas vidas e respeitar verdadeiramente a interculturalidade é que realmente conseguimos uma verdadeira sociedade igualitária e sustentada. “Pelas casas, ruas e praças hás de me encontrar bailando. Bailando o novo ritmo que nasce do compasso das buscas, indagações, perdas e encontros. (…) Coração tecido com tantos fios, tantos povos, sangue dos mais variados que se cruzam, se misturam, chocam, deslizam, harmonizam (negro, indígena, europeu) nessa mistura e diversidade que sou eu! Eu? No singular? Dentro de mim moram tantos plurais... Encontrar o Outro, a Outra que está além de mim... quando em mim moram tantos outros...” Autor Desconhecido • POR SUSANA MOURA (COORDENADORA DO CENTRO COMUNITÁRIO DE GEÃO)


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Ação Social e Comunidade

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UNIÃO PARA SUPERAR VICISSITUDES

O Setor Social foi sem dúvida muito assolado pelas vicissitudes da Pandemia, mas não podemos dissociar da Saúde, que andou lado a lado, a dar diretrizes para minimizarmos os riscos de contágio e superarmos as consequências nas diferentes respostas sociais. Estivemos sempre em articulação com a Segurança Social, a Direção Geral de Saúde, mais concretamente a Saúde Pública local e ainda a União das Misericórdias Portuguesas. Em novembro 2020, contactada pela UMP, a Misericórdia de Santo Tirso disponibilizou 7 vagas extra-acordo em resposta social. Acolhemos “pessoas que, após alta clínica, permanecem internadas nos hospitais do SNS, por motivos sociais e que comprovadamente careçam de uma resposta de acolhimento residencial, por não poderem regressar ou permanecer nas suas residências, por falta de condições de autonomia e ou inexistência ou incapacidade da família prestar o apoio necessário”. Esses utentes temporários foram acolhidos numa ala distinta, localizada na Casa de Repouso de Real, com serviços autónomos da restante estrutura, garantindo sempre o acompanhamento próximo de uma equipa pluridisciplinar. Passados mais de 6 meses, embora existam ainda questões formais a tratar, consideramos que esta resposta demonstra que as parcerias são efetivas e que as Misericórdias desenvolvem um papel extremamente importante na superação dos problemas sociais emergentes.

Nesta parceria, o Centro Distrital do ISS (e as equipas de Serviço Social dos Hospitais do SNS), sinalizam os candidatos a integrar as vagas disponibilizadas, comparticipando financeiramente o período de acolhimento, deduzindo 80% dos rendimentos do utente e avaliada a possibilidade de comparticipação familiar. Paralelamente e pelos mesmos motivos, ou seja, pela lotação de camas hospitalares por pessoas com alta clínica em tempo de Pandemia (desde março 2020), foi estabelecida uma Parceria com o Centro Hospitalar do Médio Ave, disponibilizando 10 camas para doentes que aguardam vaga para a Rede de Cuidados Continuados ou resolução da sua situação social. Estas duas respostas de acolhimento temporário constituíram assim, meios alternativos de assegurar a sustentabilidade das respostas sociais e ao mesmo tempo responder às necessidades sentidas pela sociedade. A qualificação dos serviços e abertura a novos desafios demonstra que a instituição está preparada para responder às solicitações da comunidade na concretização da nossa missão e a alargar estas parcerias. • POR LILIANA SALGADO (DIRETORA DE SERVIÇOS SOCIAIS E QUALIDADE)


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ESPERANÇA

Neste último ano, vivemos em Esperança! E, aos poucos, os Sonhos tornam-se realidade, numa nova realidade! Recordo a ansiedade do primeiro dia da chegada das vacinas para os utentes e profissionais da nossa Instituição: um raio de Esperança que nos fazia Acreditar que melhores dias seriam possíveis. E Sim! O Sol raiou! Com enorme felicidade, vejo os utentes a voltarem a circular e a conviverem; regressaram os passeios ao exterior demonstrando que o mundo fora do Lar continua a existir e, talvez, ainda mais belo; regressaram as idas emocionadas a Casa e ao Amor da Família que foram tão desejadas; voltou a Celebração da Fé e da Oração; e tanto que ainda há-de vir, contribuindo para uma melhor condição de Saúde, sendo que a Saúde é muito mais do que a ausência de doença. Em nós, os colaboradores, vejo maior tranquilidade no olhar, mais sorrisos e mais afetos. Acreditamos que estamos mais seguros para proteger os utentes e proteger a nossa Família, o nosso amparo. Mas a memória não deixa esquecer o medo e os danos provocados pela primeira vaga da Pandemia na Instituição, e os dias, os meses que se seguiram… tanto refletimos e tanto que aprendemos... Por isso, é tão importante manter os cuidados de proteção individual e coletiva, num árduo trabalho de equipa entre colaboradores, utentes e famílias;

manter o estado de alerta para não recuar! E Sonhar! Porque, sem dúvida, que o Sonho comanda a Vida, em qualquer idade! Grata! • POR SÍLVIA MONTEIRO (ENFERMEIRA NA ISCMST)

REVISTA #39

“A Esperança é o Sonho do Homem acordado.” (Aristóteles)

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#41

ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL RECOMENDAÇÕES

Atualmente, no mundo ocidental, comemos muito e desperdiçamos muito mais! Este fenómeno é próprio de uma sociedade moderna que, sendo de consumo, é também de desperdício.

“As perdas alimentares aumentam as emissões de gás de estufa, uma vez que correspondem a um gasto de recursos utilizados (p.e. água, energia).”1

Alguns factos e números para reflectir…

“Há 815 milhões de pessoas que passam fome em todo o mundo e 1,9 mil milhões sofrem de excesso de peso.” 1

“Cerca de 1/3 dos alimentos produzidos em todo o mundo não é consumido, que corresponde a 1,3 biliões de toneladas por ano que são perdidas ou desperdiçadas.” 1

“São necessários cerca de 2000 a 5000 L de água para produzir os alimentos consumidos, diariamente, por uma pessoa.” 1

“Na União Europeia, aproximadamente 88 milhões de toneladas de alimentos são actualmente desperdiçadas.” 1

“As reservas de água doce são um recurso esgotável, não chegando a 700 milhões de pessoas no mundo.” 1

Só em Portugal, estima-se que o desperdício alimentar seja superior a 1 milhão de toneladas de alimentos. “As perdas alimentares e o desperdício alimentar são responsáveis pela emissão de 8% dos gases de efeito de estufa.” 1

O Desperdício alimentar não é só um problema ético e económico, é também um problema relacionado com a depleção dos recursos naturais.1

“São produzidos 263 milhões de toneladas de carne por ano no mundo, sendo 20% desta quantidade perdida ou desperdiçada.”1 “A produção de alimentos de origem animal é responsável por um uso superior de recursos (p.e. água, solo) e emissões de gases de efeito de estufa face aos alimentos de origem vegetal.”1

Estima-se que, em 2050, a população mundial atinga os 9 biliões de indivíduos.1 Esta tendência de aumento da população acarreta a necessidade de maior disponibilidade alimentar de forma a suprimir as necessidades nutricionais. Desta forma será necessário repensar o padrão alimentar que os portugueses e, de uma forma geral, as sociedades modernas praticam. A sustentabilidade, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), consiste em práticas que permitem garantir os direitos do homem, satisfazendo as necessidades presentes e futuras, sem causar danos


REVISTA #12

irreversíveis no ecossistema e sem comprometer o futuro das gerações vindouras.1 Ao longo dos últimos anos, a FAO tem promovido o debate sobre esta temática, tendo lançado o Ano Internacional das Frutas e Legumes 2021 com objetivo de apelar a uma melhoria na produção alimentar, de forma a esta ser cada vez mais sustentável.2 Associado ao termo “sustentabilidade” encontramos o termo “redução”, e por isso, uma alimentação sustentável é uma alimentação que, entre outros, minimiza ao máximo as perdas e o desperdício alimentar, entendendo-se por perda aquela que ocorre antes de os alimentos chegarem ao consumidor e desperdício quando ocorre depois de os alimentos chegarem ao consumidor.1 Uma alimentação sustentável tem baixo impacto ambiental e contribui tanto para a segurança alimentar e nutricional, como para o estado de saúde da população, quer no presente quer no futuro.1 Um alimento sustentável, é produzido por métodos que respeitam o ambiente e os animais, sendo um produto sazonal (alimento fresco, que se encontra disponível localmente e em condições de maturação adequadas para consumo) e local (adquirido directamente ao produtor, tendo uma cadeia de distribuição curta), não processado, isto é, que minimiza os recursos utilizados na indústria, como a água e combustível, respeitando o ambiente, os produtores, os animais e os consumidores.1


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#41

ALIMENTAÇÃO SUSTENTÁVEL RECOMENDAÇÕES

Na prática, para ter uma dieta sustentável, a Associação Portuguesa de Nutrição1 (APN) desenvolveu algumas recomendações e sugestões que poderão ajudar: • Realizar uma lista de compras e adquirir apenas os alimentos que serão consumidos. • Ocupar 3/4 do prato com alimentos de origem vegetalprodutos de origem vegetal contribuem para a redução expressiva sobre a pegada de carbono, hídrica e ecológica. • Limitar a 1/4 do prato os alimentos de origem animal - as refeições apenas à base de alimentos de origem animal têm maior impacto sobre o ambiente. • Limitar o consumo de carne vermelha (p.e. porco, cabrito, vaca) e processada (p.e. salsichas, hambúrgueres, enchidos) - de entre os vários alimentos, a carne (principalmente a vermelha) é a que requer mais água para a sua produção e emite mais gases de estufa. • Aumentar o consumo diário de leguminosas e utilizá-las em substituição da carne, pescado ou ovos em algumas refeições da semana. • Servir as porções em função da Roda da Alimentação Mediterrânica e em conformidade com as necessidades energéticas e nutricionais de cada indivíduo - adoptar a Dieta Mediterrânica constitui uma das alternativas mais adequadas para modificar hábitos de consumo, de forma a promover uma alimentação mais saudável e sustentável. • Preferir alimentos locais e da época- os alimentos da época têm, geralmente, características nutricionais e organoléticas (p.e. sabor, odor, cor) superiores. Por outro lado, permitem contribuir para a promoção da economia

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local e para a melhoria do ambiente (p.e. utilizam menos cadeias de frio, menos conservantes). Estes alimentos também estão, habitualmente, disponíveis a um preço mais acessível. Consumir pescado nacional, conforme a época e com o tamanho mínimo exigido pela lei. Consumir alimentos oriundos do comércio justo. Utilizar utensílios adequados para servir as refeições (p.e. colheres doseadoras, facas afiadas). Reaproveitar as sobras de outras refeições. Reduzir o desperdício na preparação e confeção dos alimentos. As panelas de pressão permitem cozinhar mais rapidamente e economizar mais energia. Limitar o uso de forno. Ferver a água num jarro elétrico é mais rápido e envolve menos custos energéticos do que aquecê-la numa panela. Manter a panela tapada, enquanto cozinha e desligar o fogão pouco tempo antes do final da cozedura. Preferir embalagens familiares, ao invés de embalagens individuais. Adquirir produtos avulso. Reutilizar embalagens utilizadas (p.e. acondicionar botões, materiais de bricolagem). Minimizar o embalamento (p.e. pão embalado, talheres, bases de tabuleiro). Atentar à data de validade dos produtos e acondicionar na zona frontal os alimentos com a data de fim mais próxima - quando adquire alimentos frescos, com um tempo de vida curto, que não tenciona consumir de imediato, procure adquirir uma embalagem com validade


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maior. Assim, evitará que passe rapidamente de validade. Armazene os produtos por ordem de validade, colocando à frente os produtos com validade mais curta. Acondicionar convenientemente os alimentos (p.e. armazenar em local seco ou no frio). Consumir, em primeiro lugar, os alimentos mais perecíveis. Verificar, frequentemente, a temperatura de refrigeração e congelação - os alimentos devem ser conservados entre 1 e 5º C para maior frescura e longevidade. Fazer compostagem dos resíduos orgânicos e utilizar como fertilizante na horta familiar. Reciclar as embalagens utilizadas. Fazer uma horta familiar ou um canteiro aromático, em caso de falta de espaço.

Fontes: 1.Associação Portuguesa de Nutrição. Alimentar o futuro: uma reflexão sobre sustentabilidade alimentar. E-book n.° 43. Porto: Associação Portuguesa de Nutrição; 2017. 2.FAO in Portugal. Reconhecimento global de frutas, vegetais, chá e perda e desperdício de alimentos: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura;2019. http://www.fao.org/portugal/noticias/detail/es/c/1257182/ 3.Associação Portuguesa de Nutrição. Alimentar com consciência: Estratégias a implementar pelo Consumidor para repensar, reduzir, reutilizar e reciclar na alimentação diária. Porto: Associação Portuguesa de Nutrição; 2017. • POR CÁTIA MAGALHÃES LEMOS (NUTRICIONISTA ESTAGIÁRIA | 3364NE – SERVIÇO DE NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DA ISCMST) E CARLA GONDAR (NUTRICIONISTA | 1206N - RESPONSÁVEL PELO SERVIÇO DE NUTRIÇÃO E ALIMENTAÇÃO DA ISCMST)

“RECOMENDAÇÕES DO PRESENTE ATÉ AO FUTURO” “Repense, Reduza, Reutilize e Recicle! Repense o seu consumo, a tornar-se resiliente na redução do desperdício alimentar, na reutilização de alimentos para novas confeções culinárias e na reciclagem dos recursos utilizados. Assim, poderá contribuir para a salvaguarda do planeta e das gerações futuras.” (Associação Portuguesa de Nutrição; 2017)


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Ação Educacional

#41

PEQUENOS GESTOS PARA UMA FAMÍLIA SUSTENTÁVEL

Pensar em sustentabilidade é pensar nos nossos filhos e no legado que lhes queremos deixar para que vivam num planeta mais limpo (ou menos sujo), mais justo e onde todas as espécies podem co-existir. O “click” surgiu na nossa segunda gravidez e desde então fomos dando pequenos passos para contribuir para a sustentabilidade e para reduzir a nossa pegada ecológica como família. Cabe-nos a nós Pais, esta tarefa de educar também para a preservação do ambiente, sobretudo através de exemplos pois, como sabemos, as crianças aprendem por imitação. Se há algumas medidas que não são, de todo, economicamente viáveis, outras há que podem ser imediatas e que adotamos com bastante facilidade. Começamos por uma medida “drástica” e com elevado impacto no ambiente, quando optamos por usar fraldas reutilizáveis quando a Laura nasceu. Além de toda a carga poluente da fabricação de uma fralda, dos perigos dos químicos de que são feitas (no processo de branqueamento por exemplo), estas demoram cerca de 500 anos a degradar-se e, tendo consciência disto, foi relativamente fácil optar pelas fraldas re-reutilizáveis ou biodegradáveis (em casos que não podíamos usar as re-reutilizáveis). Este foi talvez o nosso passo mais radical e o que mais peso teve para a sustentabilidade, sendo também um dos que mais nos motivou para adotar todas as outras medidas. Desenganem-se os que pensam que usar uma fralda reutilizável é um processo muito sujo, igual ao “antigamente”,

pois há agora novos materiais que permitem tornar o processo mais amigável! Com o uso das fraldas veio também o uso de toalhetes de pano em vez das toalhitas embaladas, bem como a adoção de óleos essenciais e cremes naturais. Para os banhos abandonamos as embalagens plásticas e usamos há anos sabonete, e passamos a usar, há cerca de dois anos, sobretudo nas crianças, shampoo e amaciador sólido. Na cozinha fizemos apenas algumas trocas simples: usamos lufa natural em vez de esponja (de plástico), optamos por esfregões de fibras de coco e detergentes amigos do ambiente, mais concentrados e comprados a granel. Para reduzir o uso de plástico, fizemos também duas trocas simples: preferimos comprar manteiga embrulhada em papel, em vez das caixas de plástico e temos filtros de carvão ativado para diminuir o consumo de água engarrafada. Na questão das compras, passamos a comprar apenas o que precisamos, sempre baseados numa lista de refeições que fazemos para toda a semana. Com isto evitamos o desperdício de alimentos e conseguimos equilibrar a nossa dieta. Ainda relativamente à alimentação, aprendemos a “ler rótulos” para evitar comprar alimentos altamente processados ou que causam desequilíbrio nos ecossistemas como é o caso do óleo de palma.


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Ação Educacional

Preferimos comprar a granel, quer seja na feira, ou em mercearias especializadas mas vamos também ao supermercado e usamos sacos de pano e plástico que ainda temos e que vamos usando até ficarem completamente inutilizados! A última medida adotada nesta área foi uma das mais simples: compramos um recipiente de vidro com tampa que usamos para ir à peixaria. Evitamos assim, todas as semanas, dois sacos de plástico e uma caixa de esferovite! Na minha opinião, como família, pensamos nestas medidas pequeninas como um jogo, de como podemos melhorar, sem perder qualidade de vida, ou até mesmo ganhando. É exemplo disto o uso da bicicleta para nos deslocarmos na cidade quando chega o Verão! Os nossos filhos adoravam chegar ao infantário de bicicleta, apesar de me custar pedalar com 20 kg extra de “bagagem”. Claro que continuamos a viajar de avião e a usar o carro e não fazemos tudo o que poderíamos fazer e sentimos que ainda temos por onde crescer nesta área e fazer um bocadinho melhor. Mas, como em tudo, é necessário um equilíbrio e, será sempre mais sustentável muitas famílias fazerem pequenas mudanças ao invés de apenas duas ou três famílias adotarem todas as mudanças. Como se costuma dizer “O Mundo precisa mais de muitos ambientalistas imperfeitos!”. • POR IDALINA MACHADO (MÃE DA LAURA, SALA DOS 3 ANOS DO JARDIM DE INFÂNCIA)


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Cultura

#41

O FUTURO DO SETOR TÊXTIL RUMO À CIRCULARIDADE

Os produtos têxteis têm uma enorme pegada ecológica em todas as fases da sua vida. À medida que mais roupas são produzidas, consumidas e deitadas fora, o modelo linear seguido pela indústria têxtil coloca uma enorme pressão sobre o planeta em recursos, ambiente e clima. Tal resulta do facto do setor têxtil ter conhecido um enorme crescimento nas últimas décadas, essencialmente assente na transformação do modelo de produção e consumo dos produtos de vestuário, que, em muitos casos, passaram de bens duráveis e de qualidade a bens quase descartáveis, seguindo uma tendência que muitos apelidam de fast fashion. Muitas das grandes marcas, que estão hoje presentes em diferentes continentes, e que assentam o seu modelo de negócio numa rotatividade rápida dos produtos que produzem, chegam a ter em loja mais coleções do que os meses do ano (coleções novas podem ser duas por mês, em particular nas marcas dirigidas aos jovens). Trata-se de um setor fortemente assente num modelo económico linear, onde produzir e consumir são os elementos estruturantes, havendo um espaço muito reduzido para a reintegração de materiais e o fomento da circularidade, que é bastante complexa, ao contrário do que muitas vezes se pensa, particularmente se o objetivo for o de utilização das fibras em soluções qualitativamente semelhantes. Para termos uma ideia mais concreta do crescimento do setor, o consumo global de fibras sintéticas aumentou de valores praticamente marginais em 1960, para 60 milhões de toneladas em 2016 e continua a aumentar. O poliéster, uma das fibras mais comuns, é sintético, não-renovável, baseado no petróleo e tem um processo de produção intensivo em termos

de carbono. Atualmente, as fontes fósseis representam cerca de dois terços dos materiais usados pela indústria têxtil. Por outro lado, a produção e consumo global de fibras de algodão mais do que duplicaram, de 10 milhões de toneladas em 1960 para 25 milhões de toneladas em 2010. Neste momento os têxteis são o 4º setor com maior intensidade de utilização de matérias-primas primárias e de água e o 5º setor em termos de emissão de gases com efeito de estufa. Nele é feita uma utilização intensiva de substâncias químicas (cerca de 15 mil), muitas delas perigosas para a saúde (de quem as produz e de quem as usa) e para o ambiente. A nível mundial, apenas cerca de 1% dos têxteis colocados no mercado são reciclados. Segundo dados da Agência Portuguesa do Ambiente, em 2017 foram recolhidas cerca de 200 mil toneladas de resíduos têxteis nos contentores de resíduos urbanos, o que representa cerca de quatro por cento do total de resíduos urbanos produzidos em Portugal. E esta é apenas a ponta do iceberg. Contudo, é possível fazer diferente. Se estendermos nove meses à vida das roupas, reduzimos a pegada de carbono, água e resíduos entre 20 a 30%. Para estender o tempo de vida dos têxteis será fundamental integrar critérios de sustentabilidade, como sejam a durabilidade, a reparabilidade, o potencial de reutilização ou mesmo a redução de libertação de microfibras (fibras sintéticas). Essencialmente apostar na redução da produção e na conceção ecológica (ecodesign) dos têxteis. Esta intervenção é urgente e tem um enorme potencial de eficácia, uma vez que 80% dos impactos ambientais resultantes dos produtos têxteis são estabelecidos na fase de conceção.


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Cultura

Os novos requisitos de design ecológico devem focar-se em: • Desenhar os produtos e os sistemas para vidas mais longas, informando o consumidor do tempo de vida expectável; fabricar produtos têxteis que sejam duráveis, reutilizáveis, facilmente reparáveis e recicláveis; • Assegurar que os produtos são livres de tóxicos e que os materiais usados provêm de fontes sustentáveis e éticas; • Desenvolver normas sobre a libertação de microfibras (fibras sintéticas); • Aplicação da responsabilidade alargada do produtor, que promova prioritariamente a redução e a reutilização/ /durabilidade/reparação. Esta proposta visa contribuir para a transição necessária do atual modelo linear e insustentável (compras constantes; tempo de utilização reduzido; descarte) para um modelo circular (compra apenas do essencial; utilização a longo prazo - pelo próprio ou por outros, fomentando a venda em 2ª mão - reciclagem em upcycling - transformando as fibras recicladas em produtos de qualidade). O Futuro dos Têxteis no Contexto da União Europeia O setor têxtil está identificado como um dos setores prioritários no âmbito do Plano de Ação da UE para a Economia Circular, estando prevista a publicação de uma Estratégia Europeia para a Sustentabilidade dos Têxteis. Segundo a Diretiva Resíduos (já transposta para o direito nacional através do Decreto Lei 102D/2020 de 12 de dezembro) a partir de 1 de janeiro de 2025 a recolha seletiva de têxteis passará a ser obrigatória em todos os países da UE.

Tal representa uma excelente oportunidade para, através da aplicação da responsabilidade alargada do produtor, ser definido um enquadramento que incentive as marcas a investir na durabilidade, reutilização, reparabilidade, não toxicidade, redução da libertação de microfibras e reciclabilidade dos seus produtos e penalize fortemente aquelas que insistam no modelo linear atual. O Papel de Cada Um Pare além das responsabilidades da indústria, dos governos de cada país e da União Europeia, os próprios cidadãos também têm o seu papel para promover a economia circular na área dos têxteis. O passo principal é o da redução, comprando menos e seguindo a lógica de que “menos é mais”. Para além disso podem privilegiar produtos de maior qualidade, duráveis, intemporais, que possam ser usados durante mais tempo, sempre que uma compra seja necessária. Podem também reutilizar o que já têm, renovar as roupas, por exemplo através da criatividade ou recorrendo a repair cafés ou a costureiras (que podem ser mais ou menos profissionais, uma vez que hoje há muitas pessoas que se dedicam a criar peças e dar-lhes nova vida, mesmo de forma informal). Há ainda espaço para a partilha de roupas entre familiares e amigos ou a promoção da troca de roupas entre conhecidos ou em feiras/encontros com esse fim. • POR SUSANA FONSECA (MEMBRO DA DIREÇÃO DA ZERO – ASSOCIAÇÃO SISTEMA TERRESTRE SUSTENTÁVEL)


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#41

FAÇA VOCÊ MESMO ECONÓMICO E SUSTENTÁVEL

Nem todos os detergentes são amigos do ambiente e é importante sensibilizar os consumidores para o impacto ambiental de muitos produtos de uso doméstico. Se cada um de nós contribuir com pequenos gestos, o “menos” irá tornar-se “mais” e o planeta agradece. Após o repto lançado internamente para os colaboradores partilharem atitudes sustentáveis, deixamos 4 sugestões de produtos naturais, amigos do ambiente, que podem experimentar. Não esquecer de identificar a embalagem com o produto, para evitar o envenenamento acidental, ou o acesso indevido por parte das crianças.

INSETICIDA NATURAL PARA PLANTAS DE INTERIOR/EXTERIOR Material Necessário: 50 gr de Sabão (Rosa/ Azul / Natural) 100 ml de Vinagre 1 l de Água 1 pulverizador usado Preparação: Ralar o sabão em pedaços bem pequenos, colocá-lo dentro do pulverizador juntamente com a água e o vinagre. Agitar e pulverizar as plantas/catos/suculentas.

ADUBO NATURAL PARA PLANTAS DE INTERIOR/EXTERIOR Material Necessário: 4 Cascas de Banana 2 Cápsulas de Café (borras) 1,5 L de Água Preparação: Colocar o conteúdo num recipiente e deixar em repouso durante 2 dias. No fim desse tempo, mexe-se a solução e está pronta a regar. É um bom adubo para todo o tipo de plantas. • POR MARGARIDA COELHO (COLABORADORA ISCMST)


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DETERGENTE DE ROUPA LÍQUIDO CASEIRO Material Necessário: 200 gr de Sabão (Coco/ /Marselha/Azul e Branco) 100 gr de Bicarbonato de Sódio 100 ml de Vinagre de limpeza 5 L de Água Preparação: Ralar o sabão em pedaços bem pequenos; Numa panela adicionar 300 gr de água, deixar ferver, adicionar o sabão ralado, e ir mexendo pelo menos 10 minutos. Adicionar mais 500 gr de água e mexer mais 5 minutos. Juntar por fim o bicarbonato de sódio (ajuda a branquear e retirar nódoas, pode optar por colocar diretamente em cima da nódoa) e o vinagre (serve de amaciador). Acrescentar o resto da água (quente de preferência). Deixar repousar algumas horas. Quando estiver frio e o preparado mais duro, mexa bem. Pode também passar a varinha para ficar mais uniforme. Colocar este preparado num recipiente reciclado de detergente. Não deverá encher até cima, tem de ter espaço para agitar antes de cada utilização, que deverá ser semelhante a um detergente normal.

DETERGENTE DE LIMPEZA MULTIUSO CASEIRO Material Necessário: Cascas de Limão ou Laranja Vinagre de Limpeza Água Preparação: Num recipiente de vidro guardar as cascas de limão ou laranja, encher com vinagre de limpeza e deixar repousar 2 semanas. Após esse tempo, fazer uma mistura 50/50 do vinagre com o citrino e a água. Pode utilizar um vaporizador reciclado e utilizar como detergente universal para superfícies e um eficiente anticalcário. • POR JULIANA MOREIRA (COLABORADORA ISCMST)


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#41

OS IRMÃOS EM REVISTA

A primeira Revista da Misericórdia nasceu em junho de 2001. Mas acima de tudo, pensar nesta publicação será remeter-nos a uma viagem cujo limite temporal não se circunscreve a 20 anos. As linhas desta realidade cruzam-se no fio condutor de gerações passadas que muito contribuíram para o presente, e tudo o que se tornou possível criar e alicerçar. No seguimento do Editorial “Vinte Anos”, o ano 2000 foi marcado por uma reorganização institucional em que entre outras medidas, passou por uma nova visão estratégica que privilegiou a aposta na Comunicação e Imagem. Começou a sentir-se necessidade de partilhar o que era realizado internamente a um universo mais alargado, numa fase em que já se entrava na era digital, mas ainda não se vislumbrava o imediatismo das redes sociais. Nesta estratégia de comunicação com o exterior, emerge a consciência de se criar um instrumento de aproximação com os Irmãos, para que estes tivessem um maior envolvimento e conhecimento da dinâmica institucional. Assim, se acreditamos que através desta publicação semestral conseguimos mostrar quem e como somos, de quem cuidamos e qual o caminho que pretendemos seguir, não menos importante será direcionarmos o nosso olhar para aqueles que foram a base da criação desta Revista, os Irmãos da Misericórdia. E como pretendemos continuar a estreitar laços de comunicação e a melhor conhecer quem também faz parte desta família institucional, a comemoração de 20 anos passa por apresentar uma breve caracterização dos Irmãos que

integram a base de dados atual, estudo realizado no âmbito do Departamento de Comunicação e Imagem, através do acolhimento de um estágio de Técnico de Marketing, do IEFP. IRMÃOS ATUAIS Através da análise cuidada aos 811 Irmãos, foram monitorizados dados como Idade, Sexo, Profissões, Localidade, entre outros elementos. Assim, até maio do corrente verifica-se que 53% dos Irmãos pertencem ao Sexo Masculino e 47% representam o Sexo Feminino. Apenas se distanciam em 6%. Quanto à Localidade, e conforme expectável, circunscreve-se a Santo Tirso com 714 residentes. Os restantes, embora distribuídos pelo país, situam-se maioritariamente a norte onde os concelhos do Porto, V. N. Famalicão e Trofa surgem de seguida com 24, 19 e 17 residentes, respetivamente. No que se refere às Idades, verificou-se uma média situada nos 65 anos (350 Irmãos têm idades entre os 60 e os 80 anos). No entanto, com base numa análise pormenorizada às admissões dos últimos 20 anos verifica-se que o nível etário tem vindo a diminuir, ou seja, atualmente o intervalo de idades situa-se entre os 33 e os 47 anos, assistindo-se a uma participação mais ativa de Irmãos mais jovens. As Profissões foram igualmente analisadas. Num universo aproximado a 60 diferentes profissões, as dominantes recaem sobre as seguintes atividades, por ordem decrescente: Professor(a), Empresário(a), Comerciante, Engenheiro(a) e Escriturário(a). Destaca-se ainda um elevado número de Irmãos que se encontram Aposentados.


REVISTA #13

OS PRIMEIROS 100 IRMÃOS O estudo despoletou um novo interesse comparativo: caracterizar os primeiros 100 Irmãos inscritos no Livro de Matrículas, os impulsionadores da Misericórdia no séc. XIX. E ao nível da Localidade prevalece uma sintonia entre 1885 e 2021: em 100 Irmãos, 95 residiam no concelho de Santo Tirso, seguindo-se igualmente a cidade do Porto. Quanto ao Sexo, o masculino era o principal, com 96% do universo de inscritos, ficando a representação feminina nos diminutos 4%, numa altura em que o 1º Compromisso era explícito: “ninguém poderá ser admitido irmão sem que preceda proposta escripta e assignada por um irmão do sexo masculino…”. A média de Idades é díspar da atualidade, pois situava-se nos 45 anos. Eram Irmãos mais novos e num total de 16 profissões identificadas, a dominante era Proprietário (43), seguindo-se Negociante (17), Capitalista (6), Escrivão (6) e Advogado (4). Facto importante prende-se com a permanência no tempo de muitos destes primeiros irmãos, imortalizados nesta cidade de Santo Tirso com nomes de ruas, praças e edifícios públicos, tais como: Conde S. Bento, José Bento Correa, Arnaldo Baptista Coelho, Abade Joaquim Pedrosa, José A. Ferreira de Lemos. Mas o tempo agora é outro: atentar aos Irmãos de 2021 e proceder à sua renumeração, o que irá implicar atribuição de novos números em novos cartões. Porque a presente viagem ao passado começou com um fim: o novo Cartão de Irmão. • POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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#41

O CONDE S. BENTO E A URBANIZAÇÃO DE SANTO TIRSO

O processo de urbanização da atual cidade de Santo Tirso possui uma história centenária cujas raízes se encontram no estabelecimento de uma nova ordem política resultante da vitória liberal na guerra civil de 1832/34. A 26 de março entrava em Santo Tirso o exército liberal, tomando as novas autoridades civis posse do mosteiro beneditino e inaugurando um outro período na história local. Após a extinção do couto, o mosteiro benedito acolheu nas suas galerias a Administração do concelho (o representante do Governador Civil), o Tribunal, as escolas primárias e a Câmara Municipal, entre outras instituições, mantendo em funcionamento a Igreja Matriz e o alojamento do pároco. Constituía-se um novo centro do poder local que nos anos seguintes viria a mudar-se para o centro do burgo com as suas novas praças, proporcionadas pela urbanização da vila. A Câmara Municipal seria a última a sair, em 1975, para o edifício construído de raiz pelo arqt. Agostinho Ricca1, na praça 25 de abril. Alberto Pimentel recordava no Santo Thyrso de Riba d’Ave a importância dos monges na criação e desenvolvimento da povoação: «Quando as ordens religiosas foram extinctas, o nucleo da civilização portugueza, creada pelo frade sobre a conquista do guerreiro, produzia copiosos fructos, era já suficiente garantia de futuro prospero»2 e efectivamente o burgo setecentista já se tinha instalado no lugar de Cidnai, onde os monges fomentaram a construção de casas. Os topónimos Taipas, Carvalhais, Picoto, Rãs, entre outros, sinalizavam pequenos núcleos de casas ligados entre si e à Rua Nova de S. Bento e Largo do Cidnai, lugar central onde em 1758 já existiam quarenta e oito casas. O Mosteiro


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promoveria ainda a construção da ponte sobre o rio Ave, a ligação com a estrada do Porto e o desenvolvimento das feiras locais. Este foi um importante legado, recordado pelo saudoso Carlos Faya Santarém nos seus Apontamentos de História Local, que sublinha a continuidade entre o núcleo de população inicial do Cidnai e o posterior crescimento da vila, no período liberal. “Esta terra, ainda há pouco humilde burgo benedictino e hoje transformada em formosa e florescente villa reclinada na margem esquerda do Ave, que com suave murmúrio deriva lentamente a seus pés, […]”3 Nas páginas do Jornal de Santo Thyrso, que iniciava neste número o seu caminho centenário, fazia-se profissão de fé no progresso oitocentista, nos projectos que existiam para a vila e na crença de os concretizar. Quando a 6 de outubro de 1834 tomou posse a comissão municipal já existiam no Cidnai 98 casas. Nos anos seguintes vários executivos municipais encarregar-se-ão de obras e abertura de ruas, mas a urbanização da vila só arrancará verdadeiramente no mandato de Custódio Gil dos Reis Carneiro, com a correção do traçado da estrada de Guimarães, que em 1860 convergirá para o centro da vila, criando-se uma nova praça, o Campo 29 de Março (atual Praça Conde de S. Bento). A demolição de 2 casas no topo sul do Largo de Cidnai permitiu abrir a comunicação entre este espaço e o Campo 29 de Março ampliando o centro urbano e promovendo a construção de outros arruamentos entre o Picoto (atual Praça Camilo Castelo Branco) e o Cidnai. Nestes locais assistiu-se então, desde 1861, a um rápido surto de construções que permitiram moldar o

centro, conforme o conhecemos hoje em dia. Mas seria no mandato de João Justiniano de Sousa Trepa que se concluiria este projecto com a arborização da nova praça e uma nova retificação do trajecto da estrada, o qual permitiria abrir em 1863 a Rua Francisco Moreira, dentro dos terrenos da Quinta de Fora do antigo mosteiro. A ideia da construção de uma nova praça, atual Parque D. Maria II germinaria em 1872, muitas anos antes da sua aparição, devido à necessidade de mais espaço para a feira de gado. Contudo, apenas em 1880, na presidência de Bernardino Santarém se avançou com o projeto, sendo aprovada a planta de Gualter de Freitas Costa para a nova praça em terrenos que a câmara expropriaria a D. Maria da Conceição Soares, proprietária do Mosteiro e das suas terras. As obras para a construção desta importante praça que


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O CONDE S. BENTO E A URBANIZAÇÃO DE SANTO TIRSO

envolveu trabalhos de engenharia (na sustentação do paredão), a construção de vários arruamentos, a sua arborização e loteamento, acabaria por implicar um considerável esforço e força de vontade das entidades envolvidas no processo. As obras estender-se-iam até 6 de agosto de 1883, mas já com a intervenção do benemérito Visconde de S. Bento. Uma data importante para o nosso concelho foi precisamente o dia 27 de fevereiro de 1882, quando a proprietária das casas e terras do antigo mosteiro as vendeu ao Visconde de S. Bento; Manoel José Ribeiro. A sua posse só viria a ter lugar a 12 de abril e poucas semanas depois teria já os seus efeitos na forma como o futuro Conde de S. Bento se envolveria na urbanização de Santo Tirso. António Simões de Almeida tinha-lhe lançado o repto na cerimónia de posse do mosteiro: «N’esta época de transição social […] os sociologos preconisam tres agentes poderosos, a escola, o asylo e o hospital. Esta trilogia tão sympathica, tão cheia de encantos e de poesia, é a creação mais santa, mais proficua e mais bella do nosso seculo, que pela sua evolução torna a instrucção para a vida tão necessaria como o ar que respiramos: o asylo, o albergue e o hospital de momentosa importancia para tolher os ataques da adversidade, amparar os desgraçados da fortuna, os orphãos e os invalidos do trabalho e socorrer aquelles a quem a enfermidade lhe minou o organismo curando-lhe e melhorando-lhe os seus soffrimentos.»4. Este foi o primeiro de muitos reptos lançados pelos conterrâneos do futuro conde e que surtiram repetidamente efeito, uma vez que a 11 de maio cederia algum

terreno à paróquia na Quinta de Dentro; a 1 de junho, cederia ao município os terrenos para construir a variante da estrada distrital nº 8 (o início da Alameda da Ponte e da atual Av. Soeiro Mendes da Maia) e no mesmo mês entregaria as terras para a ampliação da nova praça que viria a ter o seu nome Praça do Visconde de S. Bento (atual Parque D. Maria II) e para a construção das ruas que a limitariam. Mandaria para esta praça uma fonte oriunda da Quinta do Mosteiro para aproveitamento das águas aí existentes. Foi ainda por ação deste benemérito que seria promovida a venda ou aforamento dos terrenos circundantes à praça, acelerando a sua urbanização. No Campo 29 de Março colaboraria na construção do coreto e financiamento da banda formada nesse ano, a 27 de outubro, a qual levaria o seu nome. O impacto do Conde de S. Bento na urbanização de Santo Tirso não estaria completa sem nos referirmos aos terrenos cedidos para a construção do caminho de Vilalva (atual Rua Dr. Carneiro Pacheco). A concretização da trilogia: escola, asilo e hospital viria ele a cumprir em vida com a construção do edifício das escolas primárias em 1886, do Hospital Conde de S. Bento em 1891 e, a título póstumo, do Asilo criado com o seu legado nas instalações do antigo mosteiro beneditino. Soube José Luís de Andrade cumprir o legado do seu tio, o Conde de S. Bento. O seu testamento permitiu dividir a herança do Conde por várias instituições que preservaram e melhoraram o seu património, entre estas destaca-se o acordo celebrado com a Irmandade e Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso, parceiro ideal para prosseguir esta tarefa. O acordo lavrado com o provedor, Dr. Eduardo da Costa Macedo, permitiu o


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Cultura

alargamento da rede viária de Santo Tirso (ampliação das ruas do Norte e do Olival e a conclusão da Av. Soeiro Mendes da Maia). Mas entre os encargos póstumos, o mais duradouro seria a construção nos terrenos da Quinta de Fora do Mosteiro da Fábrica de Fiação e Tecidos de Santo Tirso, histórico estabelecimento da região que contribuiu para a transformação de Santo Tirso com o seu ímpeto económico, atraindo trabalhadores, construindo um bairro operário e constituindo-se como um exemplo para outras indústrias locais. No fundo, Manoel José Ribeiro, brasileiro enriquecido e filantropo abnegado marcou o seu tempo e deixou um legado que ainda se faz sentir nos dias de hoje nas instituições locais, na cidade de Santo Tirso e no exemplo perene que legou às gerações vindouras. A 28 de agosto de

1892 os tirsenses renderam-lhe homenagem em vida, através da ereção de uma estátua no espaço público de Santo Tirso. A iniciativa para a sua construção partiu da Irmandade e Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso que conduziu uma subscrição pública que contou incluso, com doações da comunidade brasileira do Rio de Janeiro e do Pará. A obra, autoria do escultor António Couceiro e da empresa portuense de António Coelho de Sá & Cª, seria um marco na história da cidade e na memória dos tirsenses. Como vaticinaria António Simões de Almeida em 1882: «Eu antevejo um futuro brilhante a esta formosa villa, que pelo signaes de vida e de energia que apresenta e pela poderosa cooperação do snr. Visconde de S. Bento, transformar-se-há dentro em poucos anos n`uma cidade importante, rivalizando com as principaes d`esta fertelissima provincia.». E assim foi. 1. A urbanização de Santo Tirso teve a atenção de vários autores como Alberto Pimentel, Carlos Manuel Faya Santarém, nos Apontamentos de História Local (publicados no Jornal de Santo Thyrso), o P. Francisco Carvalho Correia em várias obras, nomeadamente nos volumes de Santo Tirso, da Cidade e do seu Termo, Câmara Municipal de Santo Tirso, vol. I-VI, 2000-2008. Uma síntese mais recente surgiu pela mão de Conceição Melo, «Da vila a cidade» in Santo Tirso. Das Origens do Povoamento à Atualidade, Santo Tirso, 2013, pp. 263-346. 2. Alberto Pimentel, Santo Thyrso de Riba d’Ave, Club Tirsense, 1903, p.12. 3. Jornal de Santo Thyrso, nº 1, 11 de maio de 1882. 4. Jornal de Santo Thyrso, nº 8, 29 de junho de 1882. • POR NUNO OLAIO (HISTORIADOR DA CÂMARA MUNICIPAL DE SANTO TIRSO) O autor escreve segundo as regras do antigo acordo ortográfico.


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POEMA

Amor e Sustentabilidade de mãos dadas Somos aquilo que estamos dispostos a aprender a nossa vida faz parte de um processo de aprendizagem e evolução responsáveis pelos nossos atos, eles mostram na sua essência quem realmente nós somos por isso falar de sustentabilidade é também falar de amor amor por Nós, pela Natureza e tudo o que fervilha em redor amor pela vida sejamos pessoas conscientes, justas e sobretudo mais responsáveis, amar é partilhar, cuidar é tornar um futuro mais sustentável, por isso que as nossas ações ou intervenções causem o menor dos danos quer a nível do ser o humano quer na Natureza... devemos criar alternativas a... e não esgotá-las, para que possamos garantir um futuro digno às gerações vindouras... este será o nosso legado, a história da nossa passagem, da nossa caminhada... poetas, que cantais o amor e a vida, mostrai o quanto pequenos somos perante a grandeza do Universo cigarras cantai, tornai os dias leves e mansos para o caminho... mel e canela e que o amor nos abrace a cada olhar. • POR CÉU MACHADO (VOLUNTÁRIA NA ISCMST)

sentimentos / // raízes // // prazer // troca // afectos // i sentimentos // emoç // in // raízes // relaçõ // prazer // trocas // pa // afectos // instinto // interior /


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// emoções // alma / relações // tempo as // paixão // presente instinto // reacções ções // alma nterior // espírito ... ões // tempo aixão // presente o // reacções // espírito ... REVISTA #18


Nome: Marta Ferreira Categoria: Animadora Sociocultural Antiguidade: 21 Anos Quais são os 3 locais favoritos em Portugal? Costa Litoral Alentejana pelas praias lindíssimas; Serra da Arrábida pelas paisagens e a cidade do Porto (zona da Ribeira) para um passeio de fim-de-semana.

RE VE LA ÇÕES...

Quais as duas músicas que tem ouvido recentemente? Ouço muita música, mas vou destacar uma que adoro em particular: Mariza, pela voz lindíssima que faz arrepiar. Destaco também a música “Prescrever” do Agir, “tiro o chapéu” a esse músico que teve a coragem de escrever e cantar esta música, mostrando de forma clara a injustiça e desigualdade social que se vive em Portugal neste momento! E o filme que marcou a sua vida? “Os Condenados de Shawshank”, filme nomeado para 7 óscares com Morgan Freeman e Tim Robbins. Fala-nos da história de um homem condenado a prisão perpétua, após 19 anos na prisão descobre o verdadeiro culpado e começa a planear a sua fuga. Lembro-me de ver este filme várias vezes em família. Fala de injustiça, persistência e coragem, mas também de uma forte relação de amizade. Um livro para ler antes de dormir? Neste momento estou a ler “Durante a Queda Aprendi a Voar” de Raul Minh‘alma e recomendo.



Prefere praia ou cidade? Praia, sem dúvida: pelo som do mar, do cheiro a maresia. Transmite paz, calma e energias positivas. O que mais valoriza no ser humano? O caráter, a transparência, humildade e discrição, ser grandioso nas obras sem ter que aparecer. E o que a deixa cheia de orgulho na Misericórdia? O constante crescimento, a procura de melhoria, de abraçar novos projetos procurando a sustentabilidade futura. Como recorda a 1ª vaga da pandemia, vivida na Misericórdia, e especificamente no lar José Luiz d’Andrade? Primeiro que tudo foi uma enorme mudança na forma de estar dos utentes, separados e isolados do exterior, foi terrível para eles e para os seus familiares. O meu principal papel, nesta fase, foi manter o contacto possível, através de chamadas e video-chamadas tentando minimizar esse sofrimento e sossegando os seus corações transmitindolhes esperança! Mas também tive muito medo, também testei positivo para a Covid-19 e foi assustador receber a notícia. Mas como estive sempre assintomática, senti-me muito grata. Infelizmente não foi bem assim com os restantes e os meus pensamentos estavam sempre com eles, e com as verdadeiras heroínas que estiveram na linha da frente a cuidar dos utentes, arriscando a sua própria saúde em prol dos outros. Ser Ajudante de Lar em contexto de pandemia foi muito desgastante física e psicologicamente e todas as homenagens seriam poucas para lhes agradecer! O que mais receou nessa fase? Receei pela saúde e vida de todos, e não termos capacidade de resposta, mas a equipa mostrou que está à altura de grandes desafios! Que 3 palavras lhe ocorrem, ao recordar os dias difíceis vividos ao lado dos utentes, durante o confinamento? Medo por ser algo novo e não saber o que esperar, incerteza no futuro, mas também coragem, vontade de ultrapassar e dar a volta para poder retomar a normalidade o mais rápido possível.

Sente-se hoje uma pessoa diferente? Claro que sim, aprendi a valorizar mais a vida. Quando estás bem e os teus também cada dia é uma bênção! O tema da Revista é “Sustentabilidade”. Que significado lhe atribui enquanto Animadora de uma ERPI? É fundamental garantir a sustentabilidade, de forma a dar continuidade a mais e bons serviços de qualidade e a animação é um deles. Na pandemia os utentes ficaram isolados e privados dos relacionamentos com os seus familiares, e com as atividades reduzidas quase a nada. Por causa disso a sua condição física e mental foi claramente prejudicada, só agora estamos a conseguir ter condições para as retomar, de recuperar toda esta ausência e de compensar os utentes para que se tornem mais saudáveis e felizes! •


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