Revista da Misericórdia #40

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Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso Rua da Misericórdia, 171, 4780-501 Santo Tirso t. + 252 808 260 | f. + 252 808 269 santacasa@iscmst.pt www.misericordia-santotirso.org www.facebook.com/MisericordiaSantoTirso



editorial

REAGIR À PANDEMIA

por José dos Santos Pinto Provedor

É redundante referir que vivemos tempos difíceis, quer para o indivíduo, quer para as famílias, quer para as comunidades locais, quer para a sociedade no geral. Esta perceção não se aplica só à conjuntura do nosso país, mas à dos outros países do mundo. Na verdade, as dificuldades atravessam transversalmente todas as faixas etárias. Porém, algumas, pela sua fragilidade intrínseca, encontram-se em situação de maior vulnerabilidade para as enfrentar. Nesse sentido, importa relembrar a dedicação e o empenho que os funcionários da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso demostram para com os nossos utentes. A bondade não cresceu por acaso nos seus corações. Foi semeada por pequenos atos de amor, gestos de simpatia, um sorriso, uma meiguice, uma palavra de incentivo… As necessidades emocionais, de amor, carinho e atenção, são possivelmente as mais difíceis de satisfazer. Com efeito, estas requerem que ponhamos em harmonia o nosso querer com o querer dos outros.

Foi com este sentimento de entrega que reagimos à pandemia e compreendemos ser necessário combater não só o vírus, mas também os prejuízos destrutivos que frequentemente o acompanham. É, por isso, legítimo reconhecer e louvar todos os funcionários da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso que diariamente REAGEM e enfrentam esta terrível pandemia da COVID-19, sem mágoa, sem revolta, mas sim com paixão, sincera e verdadeira, em prol da segurança dos nossos utentes. É verdade que tudo tem um preço, todavia o que faz sentido na AÇÃO é o sentimento do dever cumprido. Somos Misericórdia!


SUMÁRIO /// ATUALIDADES / ENTREVISTA A ALBERTO COSTA PRESIDENTE CÂMARA MUNICIPAL DE SANTO TIRSO P.06 / “É PRECISO” CELEBRAR 135 ANOS P.12 / ASSEMBLEIAS GERAIS ORDINÁRIAS APROVAÇÃO RELATORIO DE ATIVIDADES 2019 E PLANO ATIVIDADES 2021 P.14 / PLANO ATIVIDADES E ORÇAMENTO 2021 P.16 / (RE)AGIR PARA (RE)QUALIFICAR P.20 / REABILITAÇÃO DO BAIRRO DA MISERICÓRDIA P.24 / MARIAS SEM MEDO NA ESTAÇÃO DE METRO DA CASA DA MÚSICA P.25 / VAMOS SAIR DISTO… P.26 / REAPRENDER A CELEBRAR P.28 /// RECURSOS HUMANOS / (RE)AGIR COM CONHECIMENTO E EM SEGURANÇA! P.31 / WIN-WIN TREINAR A RESILIÊNCIA P.32 /// AÇÃO SOCIAL E COMUNIDADE / REAGIR ESTRATEGICAMENTE P.34 / MULHERES DE AZUL EXPOSIÇÃO P.36 / REAGIR E ACOLHER O CENTRO DE DIA P.40 /// SAÚDE / NOVA UCC “COMENDADOR ALBERTO MACHADO FERREIRA” P.42 / PILATES CLÍNICO CORPO, MENTE E RESPIRAÇÃO P.44 /// AÇÃO EDUCACIONAL / TENHO 5 ANOS COMO VEJO O COVID? P.46 /// CULTURA / UMA HISTÓRIA QUE SE REPETE REGISTOS DA GRIPE ESPANHOLA EM 1918 P.48 / MÚSICA EM TEMPOS DE CONFINAMENTO P.52 / CINEMA VIAJAR ATRAVÉS DA SÉTIMA ARTE P.54 / POEMAS P.56 /// REVELAÇÕES / TESTEMUNHOS P.58


2010/CEP.3635

PROPRIEDADE IRMANDADE DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DE SANTO TIRSO // DIRETORA CARLA MEDEIROS // SECRETARIADO AVELINO RIBEIRO // COLABORADORES ALBERTO TEIXEIRA // CARLA NOGUEIRA // CÉU MACHADO // DIANA ALVES // JOÃO LOUREIRO // JOANA BRANDÃO // JOSÉ PINTO // LILIANA SALGADO // LOURENÇO EIRÓ // Mª JOÃO FERNANDES // MARGARIDA PEREIRA // MARTA RIBEIRO // MIGUEL DIAS // NUNO SELEIRO // SARA A. SOUSA // SUSANA MOURA // TIRAGEM 1000 EXEMPLARES // EDIÇÃO DEZEMBRO 2020 // DEPÓSITO LEGAL 167587/01 PERIODICIDADE SEMESTRAL // IMPRESSÃO NORPRINT // DESIGN SUBZERODESIGN Obs: a Revista da Misericórdia obedece ao novo acordo ortográfico.


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ENTREVISTA A ALBERTO COSTA PRESIDENTE CÂMARA MUNICIPAL DE SANTO TIRSO

“Sou um grande defensor do trabalho em rede” Alberto Costa é um rosto familiar em Santo Tirso, não só como presidente da Câmara Municipal ou anteriormente como elemento do executivo da autarquia, mas também devido ao seu percurso profissional e pessoal. Apaixonado pela cidade desde sempre, vê este período que vivemos numa oportunidade de se promover o espírito de entreajuda entre todas as frentes. O slogan é simples e direto, “todos cuidamos de todos” e tem subjacente a ideia que se deve continuar a trabalhar com o objetivo do desenvolvimento e crescimento do concelho. Se a pandemia obrigou a redefinir prioridades com vista a garantir a saúde pública, também mostrou que é possível estabelecer novas prioridades e acreditar no crescimento e no bem-estar da sua população. Nasceu em Santo Tirso. Ter vivido toda a sua vida aqui influenciou a sua personalidade, a sua forma de estar e o seu percurso pessoal e profissional? Se pudesse descrever numa frase o encanto, ou aquilo que distingue Santo Tirso do resto da área metropolitana, o que diria? Naturalmente todos nós somos influenciados pelo contexto onde crescemos. Eu tive a sorte de crescer no seio de uma família muito unida, em que sempre houve grande partilha e entreajuda, pelo que a família sempre teve um papel fundamental na minha vida. Quis o destino que crescesse em pleno centro de Santo Tirso, na Rua Dr. Joaquim Augusto Pires de Lima, junto à Praça Camilo Castelo Branco. E depois, ainda muito novo, acabei por encontrar uma segunda família, a dos

Bombeiros Voluntários Tirsenses. Posso dizer que as duas fizeram de mim o homem que sou hoje. Tenho muito orgulho no percurso que fiz dentro dos bombeiros, devo-lhes muito. Como poderá imaginar, aos meus olhos Santo Tirso será sempre especial, é a minha cidade. Penso que, hoje em dia, o seu encanto passa por conseguir aliar a modernidade à tradição e conseguiu construir-se um percurso em que as duas caminham lado a lado. Temos um importantíssimo património arquitetónico religioso em que o Mosteiro de São Bento é, porventura, o grande ex-libris mas temos também um projeto ímpar que é o Museu Internacional de Escultura Contemporânea. Nem de propósito, os dois estão, precisamente, situados lado a lado.


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Assumiu a presidência da Câmara de Santo Tirso em junho Quem me conhece sabe que o rigor nas contas é uma questão de 2019. Que balanço faz deste ano? Quais as dificuldades muito importante. Temos feito um grande esforço no sentido de e os desafios com que se depara Santo Tirso? poder ter as contas equilibradas. Apresentamos este ano um O balanço é bastante positivo e estamos a falar, como todos resultado líquido de 2,9 milhões de euros, um aumento de 9,3 sabemos, de um contexto muito atípico. Quando o atual por cento nas receitas em relação a 2018, assim como uma executivo tomou posse em 2013, o país vivia ainda em período poupança corrente das mais altas de sempre, cerca de sete de crise económica, pelo que a preocupação foi criar milhões de euros. A previsão para o próximo ano é que a amortecedores sociais que pudessem ajudar as famílias. dívida municipal caia para o valor mais baixo de sempre no Chegamos a 2020 com uma situação completamente distinta, ciclo autárquico 2017-2021 e que a poupança aumente de crescimento económico, mas a pandemia veio alterar o também para um valor histórico. Vamos continuar nesta cenário por completo. Penso que o desafio passará por trajetória de rigor. conseguir continuar a imprimir a dinâmica de desenvolvimento destes Acha que existirá sempre uma “O desafio passará por conseguir últimos anos, reforçando alguns dos perspetiva/ leitura dos factos antes continuar a imprimir a dinâmica apoios sociais, como temos vindo a pandemia COVID-19 e pós COVID? fazer. Apresentamos recentemente as Este acontecimento mudou o rumo de desenvolvimento destes últimos Grandes Opções do Plano e de tudo? anos, reforçando alguns dos apoios Orçamento para o próximo ano que A pandemia obrigou-nos a fazer sociais” reflete o reforço da trajetória iniciada alguns ajustes à trajetória e a redefinir em 2013, com a aposta na coesão prioridades. Naturalmente, muitos dos social e na captação de investimento. nossos esforços durante este ano de Ao mesmo tempo, vamos ainda aumentar o investimento em 2020 foram canalizados para o combate à pandemia, mas não infraestruturas para incorporar um conjunto de projetos perdemos o foco do nosso objetivo. Comprometemo-nos com estruturantes para o município. Estamos a falar, por exemplo, um novo ciclo de desenvolvimento para o município e estamos da implementação do Plano de Mobilidade Urbana a cumpri-lo sem desculpas. Sustentável, cuja zona de intervenção vai abranger um conjunto de ruas muito significativas do centro da cidade, do Centro de Artes Alberto Carneiro, na Fábrica de Santo Thyrso, ou da criação do Parque do Verdeal, em Vila das Aves e São Tomé de Negrelos, para nomear apenas alguns.


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Considera que a sua formação e experiência profissional Sente que há uma consciência cívica do que deve ser feito nas áreas social e da proteção civil constituem uma pelo bem comum? mais-valia neste período em que têm sido postas em Não me parece que haja falta de sensibilidade por parte da prática uma série de medidas restritivas para o bem população para a importância de cumprir as medidas de comum? Tem de haver um diálogo concertado e contínuo combate à Covid-19, o que acontece é que se trata de um entre forças de segurança e a proteção civil? Sempre foi equilíbrio difícil. Por um lado temos que reduzir os riscos de assim, ou esta relação tem sido aprofundada fruto das contágio da Covid-19 e, por outro, garantir condições para o circunstâncias? desenvolvimento da atividade económica e a manutenção dos Acredito que a minha formação ajudou muito na definição da postos de trabalho. estratégia que acabámos por montar logo no início da pandemia. O nosso foco foi, naturalmente, conseguir dar uma Decorridos cerca de seis meses da 1ª vaga, dada a resposta eficaz em termos de saúde pública. Desde muito experiência adquirida e a certeza de que haveria uma 2ª cedo, ficou claro que todos íamos ter que cuidar de todos e os vaga, o que considera que poderia ter sido alterado em bons resultados foram mérito de um termos de planeamento e preparação? conjunto de pessoas e de instituições Não me parece que tenha havido um “O contributo do terceiro setor que foram fundamentais. Desde logo, problema de planeamento, houve foi tem sido fundamental durante a todos os presidentes de Junta, o ACES uma mudança de paradigma. Na pandemia que estamos a viver” Santo Tirso/Trofa, o Centro Hospitalar do primeira vaga a resposta que se deu foi Médio Ave, o delegado de saúde fechar tudo e colocar toda a população pública, as forças de segurança (PSP, GNR e Polícia em casa. Nesta segunda vaga percebeu-se que isso não seria Municipal), os agentes de proteção civil, a Segurança Social, mais possível, por causa da economia. Naturalmente, torna-se as paróquias, as farmácias do concelho, a ACIST, o Conselho muito mais difícil conciliar a manutenção da atividade Empresarial Estratégico, entre tantos outros. económica com o controlo da pandemia. Posso garantir que o Eu sou um grande defensor do trabalho em rede a todos os planeamento não tem sido descurado, a nível concelhio e a níveis, no caso concreto desta pandemia penso que não há nível distrital tem havido uma grande articulação entre todos. verdadeiramente outra maneira de ser bem-sucedido porque Aliás, nesta segunda vaga, criou-se uma resposta a nível ninguém controla todos os fatores sozinho, está sempre distrital. Em Santo Tirso, por exemplo, o Mosteiro de Santa dependente do outro. O vírus não se propaga sozinho, e por Escolástica está preparado para, a qualquer momento, isso todos nós desempenhamos um papel determinante uma funcionar como Centro Distrital de Retaguarda para doentes vez que as nossas ações têm consequência na transmissão. não Covid-19, em caso de necessidade.


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O terceiro setor tem cada vez mais peso na economia nacional. Como perspetiva o relacionamento deste setor com os outros agentes económicos pós 2ª vaga e qual a preponderância que este pode ter na inversão do atual estado de crise, tanto ao nível social, como económico? Como temos estado a ver, o contributo do terceiro setor tem sido fundamental durante a pandemia que estamos a viver. Aliás, este contexto veio evidenciar a importância do trabalho que este setor desenvolve e que, até agora, era muitas vezes invisível. Penso que pelo peso que representa no emprego e na produção de riqueza, a economia social assume-se como um setor de grande relevância económica e social, cujo potencial se encontra ainda por explorar em toda a sua extensão. As IPSS (Instituições Particulares de Solidariedade Social) são um apoio importante das populações em áreas que vão desde o social, passando pela educação e saúde. Dada a conjuntura nacional e o facto de muitas delas terem como única fonte de rendimento as comparticipações do Estado, considera haver perigo de algumas cessarem atividade por falta de recursos e meios financeiros? O que pode ser feito? Podemos fomentar e apelar à responsabilidade social dos outros agentes económicos no apoio às entidades do setor social? Desde o início da pandemia, o Governo tem vindo a rever os apoios concedidos às IPSS e ao setor social. No início estas instituições não estavam incluídas nos apoios previstos para as empresas, mas entretanto houve uma portaria extraordinária que permitiu a equiparação. Acredito que o Governo está


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ciente da importância do terceiro setor, e empenhado em encontrar formas de garantir que as IPSS continuam a ter condições de fazer o seu trabalho até porque sabe que este é absolutamente vital para a sociedade e que, em muitos casos, substitui o próprio Estado. É evidente o receio da necessidade de mais medidas restritivas e mais confinamento. Tem estado em campo a acompanhar este trabalho e pela sua experiência, como perspetiva os próximos meses? Serão, certamente, meses difíceis, ainda estamos longe de ter vencido este combate. E depois falta ainda perceber, a médio prazo, o impacto da pandemia na economia. A vacina será certamente uma grande ajuda. Mas neste momento o essencial é controlar os contágios no imediato e assegurar que conseguimos evitar o colapso do Serviço Nacional de Saúde. A Câmara de Santo Tirso decidiu estender as medidas de apoio social e económico até ao final do ano. Equacionam ter de prorrogar o prazo? Que consequências daí podem advir para os projetos futuros do município? Logo em março, quando foi decretado o primeiro Estado de Emergência, decidimos avançar com um conjunto de apoios económicos e sociais que, numa primeira fase estavam previstos até ao final de julho e que foram, entretanto, alargados, até ao final de dezembro. Estamos a falar, por exemplo, do Programa Municipal de Emergência Social através do qual a Câmara apoia no pagamento da renda da casa ou das faturas da água e da luz, ou ainda de medidas como a suspensão do pagamento das taxas da Feira Semanal

de Santo Tirso, as rendas dos estabelecimentos comerciais propriedade do Município, ou a isenção de taxas e licenças referentes às esplanadas dos estabelecimentos ligados à restauração bem como da exploração de publicidade. Temos já previsto no Orçamento para o próximo ano um reforço dos apoios sociais. Em todo caso, estamos, a cada momento, a reavaliar as medidas implementadas e prolongaremos ou tomaremos, mesmo, medidas adicionais, caso se venha a verificar necessário. Vivemos tempos de incerteza com várias empresas em lay off, com o comércio com um decréscimo significativo da sua atividade. A conjuntura em Santo Tirso está sob controlo? Naturalmente, a situação é difícil para todos mas acredito que Santo Tirso vai continuar a crescer, até pela competência demonstrada pelos nossos empresários. É de louvar a forma como muitos deles, literalmente, de um dia para o outro, conseguiram adaptar os seus negócios às necessidades do mercado, produzindo, por exemplo, máscaras e outros equipamentos de proteção individual, ou mesmo zaragatoas. Isto só vem demonstrar aquilo que temos vindo a realçar: o nosso tecido empresarial é, cada vez, mais diversificado e tem hoje o “know how” para conseguir transformar as crises em oportunidades. A Câmara continuará a fazer o que lhe compete, apoiar as pessoas e as empresas.


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É fundamental promover o espírito de entreajuda. Desde o início que o nosso mote tem sido: Todos Cuidamos de Todos. Acredito que muito mais do que um slogan, será uma das lições que vai ficar de toda esta crise. Temos de fomentar o espírito de entreajuda, de colaboração, de trabalho em equipa. Só assim conseguiremos ultrapassar as adversidades. Precisamos de contar com a ajuda de todos para o Município de Santo Tirso poder continuar a evoluir e podermos, todos, continuar a orgulharmo-nos do nosso concelho. • POR CARLA NOGUEIRA (JORNALISTA)

A frase motivadora que impulsiona a Misericórdia de Santo Tirso rumo ao futuro próximo é: “Perante a adversidade só há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e vencer.” São palavras muito presentes no quotidiano dos portugueses, dos tirsenses. Quais são os grandes desafios a curto prazo? O que é que temos/podemos todos fazer?


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“É PRECISO” CELEBRAR 135 ANOS

Mais um ano de vida, desde 1885. Este ano diferente. A cumprir distanciamentos socais entre outras medidas de prevenção da pandemia. Mas 135 anos não podiam passar ao lado de uma comemoração. E assim foi, mesmo que atípica e diferente de todos os anos contados até hoje, não deixou de ser sentida e vivida por toda a Família Misericórdia. Assim, fiel ao seu instituidor, este dia de aniversário começou logo pela manhã, com a habitual homenagem da Mesa Administrativa ao Conde de S. Bento, onde depositaram uma coroa de flores no seu jazigo. Seguiu-se a Missa de Aniversário, celebrada pelo segundo ano consecutivo na Capela da Misericórdia. A presença de participantes foi limitada, mas assegurou-se a transmissão direta na rede social Facebook para que este momento pudesse ser partilhado com todos aqueles que não puderam comparecer ativamente nesta celebração festiva (os utentes puderam assim assistir em direto, nas respetivas valências), marcada por um arco-íris colocado no chão, desde a entrada da Capela até aos degraus do altar, como símbolo de esperança a apontar para a nossa vida, trabalho e famílias. Numa alusão à frase que marcou o 1º semestre do ano: “Vai ficar tudo bem”. Durante a eucaristia foram ainda benzidas umas pequenas medalhas comemorativas do 135º aniversário tendo sido posteriormente oferecidas a todos os Colaboradores, Órgãos Sociais e Utentes da Instituição.

E não esquecer que, conforme foi lembrado pelo Grupo dos Pequenos Cantores da Misericórdia, através da música de Miguel Gameiro, É PRECISO: “(...)É preciso Abrir os braços em par Voltar de novo a abraçar E sentir o calor É preciso Seguir que o caminho é em frente Fugir não é coisa da gente É preciso estender a mão É preciso Dar o melhor que nós temos Todo o amor é de menos É preciso levantar do chão.”


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ASSEMBLEIAS GERAIS ORDINÁRIAS APROVAÇÃO RELATORIO DE ATIVIDADES 2019 E PLANO ATIVIDADES 2021

Ao abrigo dos estatutos e durante o ano corrente, a Assembleia Geral Ordinária da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso reuniu duas vezes no Auditório “Centro Eng. Eurico de Melo”:

- No dia 24 de novembro, pelas 17h30, para apreciação e votação do Plano de Atividades e Orçamento para 2021. Foi igualmente aprovado por unanimidade pela Assembleia de Irmãos ali presente.

- No dia 22 de junho, pelas 17h30, para apreciação e votação do Relatório e Contas do Exercício de 2019, inicialmente marcado para 30 de março mas adiado devido à situação de pandemia. Sendo aprovado por unanimidade, foi ainda submetido à apreciação da Assembleia Geral de Irmãos um Voto de Louvor dirigido aos Colaboradores da Instituição, proposto pela Mesa Administrativa, pelo profissionalismo, dedicação e entrega no âmbito da pandemia COVID-19, sendo que transcrevemos o conteúdo do mesmo:

Ambas as reuniões cumpriram com todas as medidas de proteção e segurança no âmbito das orientações da DGS, salvaguardando igualmente o distanciamento social.

“VOTO DE LOUVOR – Na sequência das medidas de prevenção, contenção e segurança relativas à pandemia do COVID-19, emitidas pelas Instituições Nacionais e Internacionais, que teve o seu início na primeira quinzena de março último, foi deliberado registar um voto de louvor a todos os colaboradores da instituição que, de forma altamente profissional e altruísta, bem como elevado espírito de dedicação e entrega que se entende digna de realce – quantas vezes em detrimento das suas famílias -, se mantiveram no exercício das suas funções de forma exemplar e motivadora.”

Tanto o Plano de Atividades 2021 como o Relatório e Contas do Exercício de 2019 encontram-se disponíveis para consulta em www.misericordia-santotirso.org. • POR CARLA MEDEIROS (DEP COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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PLANO ATIVIDADES E ORÇAMENTO 2021

“Perante a adversidade só há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e vencer.” Cada novo ano é um desafio, mas 2021 terá contornos incaracterísticos. Por um lado esperamos que seja retomada alguma normalidade; por outro, há que enfrentar e combater as repercussões económicas e sociais da pandemia. É com este espirito resiliente que aqui projetamos o ano de 2021. Começamos por recordar e reiterar o afirmado em Planos de Atividades anteriores, ou seja, numa estrutura organizada e da nossa dimensão, os instrumentos de gestão, como este, têm pilares basilares e que devem contemplar um horizonte temporal alargado. O desenvolvimento de novos projetos e investimentos exige um conjunto de meios e burocracias que se prolongam no tempo, muitas vezes, para além dos 12 meses do ano. Algumas propostas feitas neste documento podem ser a continuidade ou conclusão de projetos iniciados em anos anteriores. Para já, é certo que a instituição cresceu em número de valências (Nova Unidade de Cuidados Continuados) e colaboradores, consequentemente este orçamento fará repercutir tal facto. O crescimento institucional implica maior responsabilidade social, não só com a comunidade que nos rodeia mas também com os nossos utentes, colaboradores e respetivas famílias.

Os tempos que vivemos exigem maior responsabilidade social, exigindo cada vez mais de nós. É necessário apostar em atividades geradoras de fundos que possam vir a ser canalizados para o setor social. No que concerne ao Património, iremos dar continuidade à remodelação e reabilitação do Bairro da Misericórdia. Estavam projetadas 8 moradias de tipologia T2, 2 moradias de tipologia T1. Destas, 4 moradias de tipologia T2 já estão no mercado de arrendamento, projetando-se para 2021 a colocação de mais 2 moradias de tipologia T2 e 2 moradias de tipologia T1. Continuaremos as obras de remodelação da Casa de Repouso de Real, que esperamos concluídas no ano em causa. Estaremos, como sempre, atentos a projetos a que possamos concorrer com vista a atenuar o nosso investimento. No Edifício do antigo Liceu, está em desenvolvimento um estudo económico e de mercado que prevê a construção de 32 apartamentos para colocação no mercado de arrendamento. Estes serão repartidos pelas seguintes tipologias: • T1 – 4 apartamentos, • T2 – 10 apartamentos, • T3 – 18 apartamentos. Esperamos em 2021 poder concorrer ao Fundo Rainha D. Leonor para obras de remodelação e recuperação da nossa Capela. Dado o elevado número de projetos classificados em 2019, sem enquadramento orçamental, o Conselho de Gestão


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do Fundo procedeu à repescagem dessas candidaturas para 2020, não tendo aberto assim qualquer concurso. Na área da Saúde, com a conclusão da “Nova Unidade de Cuidados Continuados”, passamos a ter em funcionamento 34 camas de Média Duração e Reabilitação, 34 camas de Longa Duração e Manutenção e duas para negociação com privados, nomeadamente seguradoras. Esperamos poder dar início a uma nova tipologia da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, mais concretamente uma unidade piloto de autonomia e promoção da saúde, com capacidade para 30 utentes. Mais de 55 mil entidades, 260 mil trabalhadores e um contributo de 3,8% para o Produto Interno Bruto (PIB), são alguns dos números que mostram quanto vale a economia social – terceiro setor em Portugal. Infelizmente, os dados mais recentes são relativos a 2010, a primeira vez que se efetuou um estudo sobre o impacto do chamado setor social ou terceiro setor na produção de riqueza. Este setor representa 5,5% do emprego total remunerado e responde por 4,6% do total das remunerações pagas na economia nacional. Calcula-se em mais de 14 mil milhões de euros os recursos financeiros mobilizados pela economia social, que vale 2,8% da produção nacional e 2,4% do pagamento da despesa de consumo final. Outro dado a reter é a percentagem da população que faz trabalho voluntário e que representava 11,5%.

Continuaremos disponíveis para apoiar o Estado na implementação das suas políticas sociais e de saúde, responderemos a qualquer projeto ou desafio, desde o social, educação, saúde e cultura, sempre com um espírito de inovação e empreendedorismo, procurando dar resposta às necessidades da comunidade que servimos. Estaremos abertos e recetivos para qualquer projeto desde o social ao lucrativo, a ser desenvolvido por nós ou em parceria, como IPSS ou mediante outra entidade legalmente constituída para o efeito. Tal como consta no nosso Compromisso, a Misericórdia pode prosseguir, de modo secundário ou instrumental, outras atividades, a título gratuito ou geradoras de fundos, para garantir a sua sustentabilidade económico-financeira, por si ou em parceria, que possa trazer um retorno financeiro para ser investido no setor social. Um dos pilares da estratégia institucional e do desenvolvimento deste setor são os colaboradores, estes assumem um papel basilar, são o principal capital institucional. É pois fundamental continuar a aprofundar a aposta na gestão de recursos humanos. O espírito de serviço à comunidade leva-nos a ter um olhar atento à cultura do nosso concelho e é com este espírito que pretendemos concluir a remodelação e renovação do Auditório do Centro Eng.º Eurico de Melo. Esta infraestrutura possui 267 lugares sentados.


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PLANO ATIVIDADES E ORÇAMENTO 2021

O nosso Grupo Coral e Grupo de Pequenos Cantores manterão a divulgação do nome da nossa instituição e do concelho de Santo Tirso, dentro e fora do país. Não podemos deixar de reiterar o apelo à necessidade de encontrar mecenas que ajudem a financiar esta atividade.

RENDIMENTOS 2021 Outros Rend. Ganhos € 853.500,00 Subsídios à Exploração € 3.808.500,00

Como sempre, estaremos disponíveis para dinamizar atividades e eventos nas nossas estruturas (Auditório, Sala Multiusos, Facebook, Instagram, Revista, etc.). A aposta na melhoria contínua, o foco em quem servimos, a inquietude na busca da excelência, sem perder de vista a necessária sustentabilidade institucional, exige de todos nós uma rigorosa política de contenção de custos, num desafio permanente ao profissionalismo, à transparência e à capacidade de sacrifícios de todos os colaboradores desta Santa Casa. NOTAS: Rendimentos = € 8. 337.000,00 Gastos = € 9.007.800,00 Resultado Líquido do Período = -€ 670.800,00 Gastos de Depreciação e Amortização = € 707.000,00 CASH FLOW = € 36.200,00 • POR JOÃO LOUREIRO (DIRETOR GERAL)

Outros Rend. Ganhos 10% Subsídios à Exploração 46%

Juros e Rend. Similares € 500,00 Prest. Serviços € 3.674 500,00

Juros e Rend. Similares 0% Prest. Serviços 44%


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GASTOS 2021 Juros e Gastos Similares € 2.800,00

Gastos de Depreciação e Amortização € 707.000,00

Custo Merc. Vend. Mat. Cons. € 844.500,00 Fornecimentos Serviços Externos €1.562.900,00

Gastos e Perdas de Financiamento € 8.600,00

Gastos C/ Pessoal € 5.882.000,00

Juros e Gastos Similares 0,03% Gastos e Perdas de Financiamento 0,10%

Gastos C/ Pessoal 65,30%

Gastos de Depreciação e Amortização 7,85%

Custo Merc. Vend. Mat. Cons. 9,38% Fornecimentos Serviços Externos 17,35%


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(RE)AGIR PARA (RE)QUALIFICAR

Na conjuntura social e económica que o país atravessa, torna-se premente uma estratégia de sustentabilidade financeira que implica a diversificação de fontes de rendimento. A ideia vulgarizada que as Misericórdias possam servir de intermediárias entre doadores e os beneficiários finais (numa altura em que até o acesso a financiamentos comunitários encontra-se dificultado), contraria a necessidade eminente de criação de valor. Essa criação de valor, ou de receitas, irá permitir um equilíbrio financeiro em várias valências, essencialmente socais, uma vez que as comparticipações da Segurança Social têm-se manifestado insuficientes nos últimos anos. Refletida no Plano de Atividades 2021 surge a estratégia da Misericórdia de Santo Tirso rentabilizar o seu património imobiliário, operacionalizando a frase-chave que sustenta o Plano do próximo ano: “Perante a adversidade só há três atitudes possíveis: enfrentar, combater e vencer.” Assim, no edifício onde funcionou o primeiro Hospital da Misericórdia (1891) encontra-se em desenvolvimento um estudo económico que perspetiva a construção de 32 apartamentos para colocação no mercado de arrendamento, repartidos pelas seguintes tipologias: • 4 Apartamentos T1; • 10 Apartamentos T2; • 18 Apartamentos T3.

Este projeto imobiliário contará com um novo conceito urbano, proposto por “Ricardo Azevedo Arquitecto” (ver realidades virtuais nas páginas 21-23) onde se irá manter a fachada do edifício principal e respetiva capela, rentabilizando também o espaço exterior para habitações. Implicará um investimento financeiro na ordem dos 6 milhões de euros, sendo que parte do financiamento poderá ser garantido através da permuta dos terrenos urbanizáveis da via panorâmica de Santo Tirso. As soluções inovadoras são urgentes, a requalificação do património uma necessidade, a conservação no tempo das nossas raízes serão uma certeza, nunca esquecendo a nossa história que é também a história de todos os tirsenses. • POR JOÃO LOUREIRO (DIRETOR GERAL)


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REABILITAÇÃO DO BAIRRO DA MISERICÓRDIA

O Bairro da Misericórdia representa o lote de pequenas moradias situadas ao longo da Rua da Misericórdia, inaugurado em 1957 pelo então provedor Américo Nogueira Gonçalves. Este projeto demorou 3 anos a ficar concluído, sendo que a sua génese remonta ao ano de 1954 e à necessidade sentida pela vila de Santo Tirso de ter ao dispor dos tirsenses um “bairro”. Foi a Mesa Administrativa, liderada pelo provedor António Maria Lopes, que deu o primeiro passo na direção da concretização desta obra, conforme pode ler-se na ata de 29 de janeiro de 1954: “ (…) Foi muito discutido este assunto por se reconhecer que se prestaria um grande serviço a vila na construção de um bairro de pelo menos trinta casas ou possivelmente sessenta em dois lotes (...). Resolveu-se oficiar neste sentido ao Excelentíssimo Senhor Director Geral de Urbanização, pedindo-lhe as plantas e mais esclarecimentos, dentro das normas estabelecidas, para se levar a efeito a referida construção, bem como a comparticipação do Estado, de acordo com a promessa de Sua Excelência o Ministro das Obras Publicas quando da sua visita a este Hospital e ao Pavilhão Cirúrgico em mil novecentos e cincoenta e does.”

Com o passar do tempo, estas moradias foram-se naturalmente degradando, dando origem, gradualmente nos últimos anos, a algumas obras de requalificação. Conforme referido no Plano de Atividades 2021, encontra-se em curso a fase final da reabilitação do Bairro da Misericórdia onde estão projetadas 8 moradias de tipologia T2, e 2 moradias de tipologia T1. Destas, quatro moradias já se encontram no mercado de arrendamento e recentemente habitadas. Assim, no dia 23 de setembro de 2020, pelas 19h30 e na presença de cada um dos locatários, procedeu-se à bênção destas residências, cerimónia presidida pelo Capelão da Misericórdia, o Pe. Luís Mateus. A representação institucional foi assinalada pelo Provedor, José dos Santos Pinto, e pelo Mesário, Duarte Gonçalves, contando ainda com a presença da Diretora de Serviços Sociais, Liliana Salgado. De forma a concluir este projeto, para o ano de 2021 perspetiva-se a conclusão da reabilitação de mais duas moradias de tipologia T2, bem como 2 moradias de tipologia T1 para colocação no mercado de arrendamento. • POR CARLA MEDEIROS (DEP. COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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MARIAS SEM MEDO NA ESTAÇÃO DE METRO DA CASA DA MÚSICA

No âmbito da Semana pelo Combate à Pobreza e Exclusão Social que decorreu entre os dias 12 e 18 de outubro, a Misericórdia de Santo Tirso aliou-se à Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN Portugal) e levou à Estação de Metro da Casa da Música a exposição Marias Sem Medo. Marias Sem Medo, enquanto iniciativa da Casa Abrigo D. Maria Magalhães, procurou alertar para outros rostos da exclusão social: as vítimas de violência doméstica. Relembrando que a problemática da violência doméstica não está contida na esfera pessoal e familiar, mas que tem uma dimensão macrossocial. Que as histórias de violência se fazem de agressões - físicas, psicológicas, sexuais… - mas também de omissões e privações. Que as experiências abusivas têm impacto maior no acesso à saúde, educação, emprego, cultura e à vida em sociedade. Que as mulheres vítimas de violência doméstica se encontram amplamente limitadas na participação cívica e no exercício da cidadania. E que até os caminhos de autonomização, longe do agressor, se fazem, muitas vezes, de desenraizamento, marginalidade e exclusão em prol de um bem maior: a segurança. Sensibilizar para mobilizar. Para que as vítimas de violência doméstica sejam realmente vistas pela sociedade: na amplitude do seu problema e na amplitude dos seus direitos. • POR MARIA JOÃO FERNANDES (COORDENADORA TÉCNICA DA CASA ABRIGO DMM)

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VAMOS SAIR DISTO…

Nós estamos aqui há algumas dezenas de milhares de anos. Mas se a origem da Terra fosse um dia, nós estaríamos no último segundo. Já passamos por muito, e já fizemos com que o planeta passasse por muito. Fruto da nossa evolução, criamos comunidades, colaboramos, inventamos a língua, a escrita e com isso aumentamos cada vez mais o nosso conhecimento. Fixámo-nos. Começámos a fazer trocas comerciais. Até chegar ao dia de hoje, existiram senhores feudais e escravatura, perseguições religiosas, incompreensão. E doenças. Muitas doenças. Nos últimos séculos as cidades cresceram, surgiu a indústria, a iniciativa privada, começou a “luta de classes” entre trabalhadores e donos de negócios.

Com a internet passamos a estar mais próximos. Claro que tem os seus pontos negros, mas afinal o que é que não tem um lado negro? Nunca tivemos tanta informação na ponta do dedo, tantos museus, tanta arte, e tanto bom conteúdo… a escolha é nossa. Chegados ao dia de hoje, como tantas outras vezes, vivemos um momento histórico. Mas mesmo assustados, fechados nos países, nas casas, nunca tivemos tantas condições como hoje para ultrapassar este momento. E vamos fazê-lo.

“E é com essa capacidade coletiva que vamos sair disto e partir para outra. Diferentes, com muito a mudar, mas são esses momentos que definem a História.“

Começamos a ter melhores condições de vida. Ter uma casa de banho era uma miragem há 100 anos, e George Orwell falava de Paris e de Londres nos anos 30 como cidades imundas, cheias de sem abrigo. Mesmo na aldeia dos meus avós, era adolescente quando ia de férias e a casa de banho continuava a ser uma miragem. Fizemos muitas “asneiras” pelo caminho. Criamos a bomba atómica, mas melhoramos significativamente a mortalidade infantil e erradicamos mais doenças do que as que conheço.

Se calhar nunca como hoje, o mundo foi um pouquinho tão igual como deveria ser em muitos momentos do passado.

Hoje, Estado e iniciativa privada, colaboradores e donos de empresas, ricos e pobres, estão do mesmo lado. Cada um no seu ínfimo papel, uns a produzir, outros a gerir, outros a decidir, outros a se voluntariar. Todos, sem exceção têm uma missão, seja tomar conta das crianças que serão os decisores de amanhã, ou garantir uma melhor vida aos que já viveram mais alguns anos do que a maioria. Seja abrir uma loja, seja enviar encomendas, seja aprender um pouco mais, seja… bom, já perceberam.


Todos estamos a aprender, sem exceção. Fui à Amazon, e ao digitar “como combater uma pandemia” não retornou resultados, a não ser de ficção. Todos estamos a ter momentos de impaciência, de dúvida, de medo. Todo o ser humano é assim. Não é uma questão de mérito ou justiça ultrapassarmos isto. É uma questão de capacidade, e de cooperação. E foi exatamente essa capacidade que nos trouxe até aqui. E é com essa capacidade coletiva que vamos sair disto e partir para outra. Diferentes, com muito a mudar, mas são esses momentos que definem a História. • POR NUNO SELEIRO (CEO DA EMPRESA MARKETING ASSERBIZ)


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REAPRENDER A CELEBRAR

Uma das consequências da Pandemia que estamos a viver tem sido a impossibilidade de promovermos festas e celebrações, devido ao impedimento já bem conhecido dos ajuntamentos de pessoas. Estávamos habituados a juntar-nos com outras pessoas por ocasiões festivas e datas significativas, algo fundamental para o desenvolvimento da vida social. Nestes tempos tão exigentes, quantas vezes deixámos de celebrar datas importantes, de visitar pessoas de quem gostamos, ou simplesmente de convivermos com os amigos? O facto de não podermos estar fisicamente com os outros, em festas e encontros, levou-nos a cancelar, alterar, ou até reinventar festas de aniversário, primeiras comunhões, casamentos, festas escolares, jantares de amigos, e tantas ocasiões para celebrarmos as nossas vidas. A celebração de marcos significativos da nossa história tem uma importância humana vital. Permite sabermos novidades da vida uns dos outros, pondo a conversa em dia. Leva-nos a agradecer as coisas boas, os sucessos alcançados e a reconhecer o que de positivo damos e recebemos. Leva-nos também a agradecer os dons que Deus nos dá, a alegria da sua bondade, através de tantos acontecimentos que nos tornam mais felizes. Também celebramos datas importantes, para fazer memória de outras pessoas notáveis, que foram marcantes no nosso crescimento, em quem reconhecemos valores e qualidades que queremos continuar a imitar. Essas memórias podem ser de familiares já falecidos, de pessoas que caminham connosco, de santos ou ainda de datas importantes do nosso passado.

Repentinamente, deixámos de poder festejar essas datas e acontecimentos, como costumávamos fazer, desde sempre! Como tantas outras coisas que tivemos que reaprender com criatividade, também as celebrações passaram a ter menos pessoas, a ser ao ar livre, online, ou até mesmo a serem inviabilizadas, por não cumprirem as “normas” vigentes. De facto, surgiu um valor maior que exige todos os cuidados de contacto mútuo, não nos deixando celebrar como gostaríamos. Porém, é importante, diria mesmo essencial, que continuemos a encontrar formas alternativas de celebrar aquilo e aqueles a quem damos valor. Para os mais novos, celebrar um aniversário é uma alegria! É um dia que se deseja antecipadamente, com expectativa e ansiedade. Não só porque todas as atenções se centram no aniversariante, mas também (e sobretudo) porque se juntam a ela, para festejar, todas as outras pessoas queridas para si. À medida que vamos crescendo, a vontade de festejar o aniversário parece diminuir. Porém, chegados a uma idade mais avançada, também os avós gostam de aproveitar o seu dia de anos para congregar à sua volta os filhos e os netos. Então, a alegria de celebrar o aniversário não tem idade, parecendo estar mais relacionada com a maneira de ser da pessoa e a sua forma de olhar a vida. Temos assistido à tristeza de tantas crianças e jovens, e até dos mais idosos, por não poderem reunir-se em festa com os seus familiares e amigos. Já nem a simples tradição de muitas escolas em levar um bolo para a turma no dia do aniversário é possível…



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REAPRENDER A CELEBRAR

Para um Cristão, celebrar a Eucaristia é um momento de comunhão e de festa, onde a comunidade crente se junta em volta do altar, para agradecer a Deus a vida e a salvação. Celebrar em comunidade é reconhecer e agradecer a pessoa que somos, a todas as outras pessoas que amamos e que nos ajudaram a ser quem somos hoje. E, neste tempo de pandemia, quantas Eucaristias foram canceladas, ou passadas para a modalidade online, além de tantas pessoas que se viram privadas da sua presença nas Igrejas.

Claro que não é a mesma coisa! Claro que preferimos todos sorrir, dançar e abraçar-nos. Mas, ainda que tenhamos que conformar-nos com que essa natural expressão afetiva não seja viável, há muitas outras formas de nos tornarmos presentes, de sermos “presente” para os outros. Os meios tecnológicos permitem-nos hoje vencer as distâncias e criar momentos de verdadeira comunhão com os outros. Tenho descoberto que há uma grande vantagem nos “encontros” online: podemos ver a cara das pessoas, coisa que não acontece ao vivo, por causa da máscara!

Torna-se então crucial encontrar novas formas de celebrar as datas significativas das nossas famílias, das nossas escolas, das “Continuemos a teimar, com nossas equipas, da nossa Igreja, das criatividade, em descobrir nossas empresas e do nosso país. Porque também estamos a valorizar que modos novos e alternativos muito do que somos se deve a essas de fazer festa!“ comunidades de amigos às quais pertencemos. Apesar das limitações atuais e das restrições impostas pela pandemia, não devemos deixar de celebrar, de fazer memória e de agradecer, pois temos, sem dúvida, muitas razões para o fazer. Assim, mesmo sem a presença física, continuemos a procurar modos alternativos de encontro e celebração. Que seria de nós sem a possibilidade de reconhecermos as virtudes que nos moldam, os princípios que herdamos, os comportamentos que imitamos, as pessoas que amamos, os dons que agradecemos!

Celebrar é uma necessidade humana básica e vital. Permite-nos viver agradecidos pelo que vamos dando e recebendo uns dos outros e das nossas comunidades de pertença. Continuemos a teimar, com criatividade, em descobrir modos novos e alternativos de fazer festa! •

POR LOURENÇO EIRÓ, SJ (INSTITUTO NUN’ALVRES)


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(RE)AGIR COM CONHECIMENTO E EM SEGURANÇA!

Durante todo o ano de 2020, foram múltiplas as iniciativas (in) formativas internas para capacitação dos/as colaboradores/as na abordagem à situação única com que todos/as nos deparámos e que, por ser extraordinária, exigiu e exige medidas extraordinárias – a COVID-19. Paralelamente a este esforço, já no início da 2ª vaga, a Misericórdia de Santo Tirso acedeu ao convite das Forças Armadas Portuguesas, em colaboração com o Ministério do Trabalho, Emprego e Solidariedade Social, para receber uma Ação de Formação no âmbito da Pandemia COVID-19. Assim, no dia 13 de outubro, recebeu representantes daquela entidade no auditório do Centro Eng.º Eurico de Melo, onde decorreram duas ações com a duração de 3h/ação para que fosse possível abranger o maior número de colaboradores (de todas as categorias profissionais), cumprindo as normas de distanciamento social impostas pela DGS. Estes momentos formativos tiveram como objetivo o reforço dos conhecimentos sobre medidas de proteção e cuidados gerais, nomeadamente, circuitos e movimento nas instalações, equipamentos de proteção individual, higiene e limpeza, entre outros pontos de interesse. A Misericórdia de Santo Tirso agradece particularmente ao Regimento de Cavalaria n.º 6 (Braga) do Exército Português a disponibilidade para partilha de informação e apoio na disseminação e sedimentação de conhecimentos no âmbito da Pandemia COVID-19. • POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)

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WIN-WIN TREINAR A RESILIÊNCIA

Ouvimos falar em treino físico e aceitamos como válido o quanto é fundamental tratar do corpo, mantermo-nos em forma, para melhor conseguirmos enfrentar as adversidades e aproveitar os momentos bons da vida. Aceitamos esta certeza de uma forma inquestionável. Podemos questionar o grau de compromisso necessário, razoável e exequível, mas não questionamos a validade. A bem de todos/as, também cada vez menos se questiona o papel da inteligência emocional quer na competência de avalizar o que de bom acontece, quer na capacidade de nivelar contrariedades e ser mais eficaz a confrontar adversidades. Numa era de permanentes e rápidas mudanças não é novidade que a resiliência está no Top das competências individuais. Mas como manter a calma e o discernimento quando parece que o teto está prestes a cair-lhe em cima? Comece por perguntar a si mesmo: Haverá alguma possibilidade deste acontecimento vir a trazer-me algo de bom? Este questionamento consciente, que pode parecer primário, permite que foque a sua atenção numa característica indissociável de qualquer acontecimento ou circunstância: a incerteza do resultado final. E assim inicia o processo de relativizar a carga excessivamente negativa que o/a assolou no momento inicial.

Efetivamente, este (novo) modo de pensar pode ser treinado. Comece de imediato, com situações de vida pouco críticas, para que esteja bem treinado na sua utilização quando algo de maior suceder: Seja claro relativamente ao que classifica como algo negativo e porquê. Por exemplo, se não cumpriu um objetivo profissional, que impacto real isso teve? Questione-se: Haverá algum cenário possível em que isso se possa tornar em algo de bom no futuro? O simples ato de ponderar esta hipótese conduz a um autodomínio emocional diferente, onde considera a potencial oportunidade para lá da evidente ameaça. Finalmente, pergunte a si mesmo o que pode fazer em função de um cenário futuro positivo, ou seja, de que forma pode transformar o evento “negativo” em algo que lhe venha a trazer satisfação e auto-reconhecimento. Pode parecer um exercício teórico relativamente simples, mas difícil de colocar na prática. O truque está em iniciar o processo: vai descobrir o poder real que detém. Experimente! • POR SARA ALMEIDA E SOUSA (RESPONSÁVEL DE RECURSOS HUMANOS)



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REAGIR ESTRATEGICAMENTE

A reação da Instituição à Pandemia tem que ser ponderada e analisadas todas as circunstâncias adversas e vantajosas, internas e externas. Das maiores crises poderão surgir oportunidades, novas necessidades, novos desafios. Cabe a todos colaboradores da Misericórdia, mas principalmente às hierarquias, avaliar os constrangimentos e potencialidades do seu serviço e da instituição na sua globalidade, para que possamos REAGIR e evoluir na melhoria contínua dos serviços prestados aos clientes e comunidade. Em jeito de balanço, cada valência/serviço identificou as forças e fraquezas internas e as oportunidades e ameaças externas, que foram cruzadas com todos os serviços, num objetivo unificador de desenhar uma matriz geral da instituição, a fim de conduzir à definição de um novo Plano Estratégico. Este Plano Estratégico será definido para o período temporal 2021-2023, pela gestão de topo, tendo por base a análise do contexto realizada pelas valências/serviços. Destacam-se algumas das seguintes Forças (internas) e Oportunidades (externas) que deveremos potenciar e explorar para benefício da organização: Forças • Reconhecimento da solidez da instituição; • Qualificação dos serviços prestados; • Complementaridade/flexibilidade das respostas e serviços; • Capacidade de adaptação a novos contextos; • Espírito empreendedor e inovador.

Oportunidades • Valorização dos serviços diferenciados; • Aumento da procura de respostas alargadas e complementares; • Descentralização das competências sociais; • Linhas de financiamento; • Aumento da esperança de vida; • Novos meios de comunicação. Todavia, não poderemos descuidar a atenção às fraquezas (internas) e às ameaças (externas), que poderão prejudicar o nosso desempenho organizacional. Fraquezas • Dependência excessiva de financiamento público; • Peso da rúbrica RH no total de custos; • Necessidades de modernização de algumas estruturas; • Colaboradores com idades avançadas; • Necessidades de atualização informática. Ameaças • Conjuntura socioeconómica de crise; • Financiamento público abaixo do custo médio; • Financiamentos comunitários demasiado exigentes e burocráticos; • Diminuição da capacidade económica das famílias; • Serviços concorrenciais do setor público e privado; • Expectativas desfasadas dos clientes; • Diminuição da taxa da natalidade.


Na tomada de consciência do contexto que nos rodeia será mais fácil definir um plano de atuação ajustado à realidade, sem forjar expectativas e definir as linhas estratégicas de intervenção da organização, sem grandes desvios ou riscos. Estaremos preparados para iniciar um novo Plano Estratégico 2021-2023 com metas ambiciosas, mas reais, sempre com esperança num futuro promissor na concretização da nossa missão institucional. • POR LILIANA SALGADO (DIRETORA DE SERVIÇOS SOCIAIS E QUALIDADE)


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Ação Social e Comunidade

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MULHERES DE AZUL EXPOSIÇÃO

Mulheres de Azul “Pássaros engaiolados pensam em gaiolas. Pássaros livres pensam no azul infinito. Eu e os pássaros temos sonhos comuns. Sonhamos com o voo e com a imensidão do céu azul”. Rubem Alves

Falamos de COVID-19 mas sem esquecer outras realidades potencialmente pandémicas: a violência doméstica. De facto, no atual contexto, considerando todos os desafios e riscos acrescidos para as vítimas de violência doméstica, os números e as histórias que nos chegam, a celebração do Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres reveste-se de maior importância. Este ano, para sinalizar a data, a Casa Abrigo D. Maria Magalhães apresentou um trabalho fotográfico sobre os voos das suas utilizadoras. Em tons de azul. Em exposição na Biblioteca da Câmara Municipal de Santo Tirso, entre 23 de novembro e 07 de dezembro, Mulheres de Azul procurou retratar a forma como cada uma dessas mulheres se vê e aquilo que hoje as define como pessoas; procurou captar um momento particular da sua história pessoal, que se faz de mudança e de oportunidade.

Num trabalho de representação e de identidade, combinando a fotografia com a cianotipia, a mulher fotografada foi convidada a intervir na composição e impressão da sua imagem, acrescentando-lhe elementos que dizem de si. Libertas dos seus pesados testemunhos de violência e iluminadas pelos novos projetos, sonhos e perspetivas… Expondo não tanto as fragilidades e circunstâncias que as trouxeram à Casa Abrigo, mas as forças que reconstroem e levam daqui. Num resultado único e irrepetível, que materializa e incorpora beleza na sua atuo-imagem. Sempre em azul. Azul do que nos transcende e do que nos excede. Azul do céu, do mar e da imensidão. De azul sereno. De azul esperança. • POR MARIA JOÃO FERNANDES (COORDENADORA TÉCNICA DA CASA ABRIGO DMM)

FOTOGRAFIAS ANA ALVARENGA


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Ação Social e Comunidade




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Ação Social e Comunidade

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REAGIR E ACOLHER O CENTRO DE DIA

Em período de grandes desafios, o Centro Comunitário de Geão, abraça uma nova causa – a reabertura do Centro de Dia da Misericórdia de Santo Tirso. Após cerca de 7 meses encerrado por imposição da situação epidemiológica, e consequente confinamento dos utentes, que de repente tiveram mesmo de ficar fechados em casa, sem contacto presencial entre eles, sem contacto com os utentes das outras respostas sociais, sem contacto com os/as colaboradores/as, sem atividades, sem convívio e lazer, sem estimulação física e cognitiva, torna-se fundamental REAGIR e encontrar alternativas, respostas, soluções para que possam retomar as rotinas, as partilhas e os afetos com quem também faz parte das suas vidas.

Temer o futuro pode ser uma forma de não enfrentar o presente, mas não é o caminho. Já lidar com a angústia causada pelo incerto, é um desafio que o Centro Comunitário de Geão, enquanto resposta de intervenção social e comunitária e que pressupõe a inclusão social de pessoas vulneráveis, abraçou. Na impossibilidade de reabrir o Centro de Dia acoplado ao Lar José Luiz d’Andrade, o Centro Comunitário de Geão, REAGIU, reorganizou-se, reinventou-se, e o dia 12 de outubro de 2020 ficará marcado na sua história de intervenção para e com a Comunidade. Assim o dia 12 de outubro de 2020 Foi dia de voltar… dia de receber… Com sorriso nos olhos e esperança renovada…


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Ação Social e Comunidade

Hoje já somos 10 elementos e a cada dia renovamos a esperança num novo dia. Mesmo com o distanciamento físico e o cumprimento de todas as regras impostas pela DGS, temos uma certeza… o importante é estar, é fazer, é partilhar afetos, é REAGIR... O importante é (re)tomar… (Re)tomar o caminho… • POR SUSANA MOURA (COORDENADORA CENTRO COMUNITÁRIO DE GEÃO)

Foi dia de reencontros, de partilha, de afeto, de alegria… Mesmo que noutro local, mesmo com rostos diferentes, foi bom retomar, foi bom voltar a ter rotinas, a ter um objetivo diário, a ter reencontros. Ao longo dos dias, apesar dos medos que se colocam, a confiança foi crescendo com a certeza que vamos superar, porque afinal o importante é voltar.. o importante é REAGIR…


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Saúde

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NOVA UCC “COMENDADOR ALBERTO MACHADO FERREIRA”

A nova Unidade de Cuidados Continuados de Longa Duração “Comendador Alberto Machado Ferreira” iniciou a sua atividade no dia 9 de novembro de 2020. A resposta da instituição na área da RNCCI (Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados) teve o seu início há 10 anos atrás, sendo que com a abertura desta nova unidade, a oferta foi duplicada. Com capacidade para 36 camas, este novo equipamento na área da saúde resultou da requalificação do antigo edifício da Fábrica do Arco, obra que cumpriu com a calendarização prevista, após bênção da primeira pedra em cerimónia realizada a 28 de outubro de 2019.

Antigo edifício dos serviços de assistência da Arco Têxteis

Representando mais um investimento ao serviço da comunidade, esta nova valência contou com o apoio do Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbanas – IFRRU 2020 sendo um complemento à oferta da Unidade de Cuidados Continuados de Média Duração “Eng.ª Luisa Dores Costa” que se encontra em funcionamento desde 2010. No contexto atual, a Misericórdia vai de encontro às necessidades da população que serve, esperando igualmente dar um contributo de relevo para a situação pandémica da saúde em Portugal. • POR MARTA RIBEIRO (COORDENADORA DA SAÚDE)

Fachada principal da UCC de Longa Duração


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Saúde


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Saúde

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PILATES CLÍNICO CORPO, MENTE E RESPIRAÇÃO

Lutamos tanto pela liberdade… E hoje, livres, vivemos completamente prisioneiros dos nossos atos, das nossas escolhas, muitas vezes erróneas. Escolhemos o egoísmo, a tecnologia, o comodismo, a agressão ao planeta e o consumismo desmedido. Todos os atos têm consequências, e hoje, vivemos a consequência deles. Perante todas as adversidades que a vida nos apresenta (constantes desafios e obstáculos), o mais certo que temos é a luta constante para ultrapassarmos as nossas dificuldades e atingirmos as nossas metas, sendo isto apenas possível de alcançar em virtude de uma elevada capacidade de persuasão. Devemos explorar o que realmente somos, de modo a vislumbrar as capacidades que o nosso corpo nos proporciona. A atividade física, num formato mais peculiar de auto-conhecimento, auto-ajuda, inter-ajuda e em classe, são uma mais valia para um aumento da autoestima associada a uma otimização postural. Falamos, pois, de Pilates Clínico. Diferente de outras atividades ou desporto, o Pilates Clínico tem a filosofia de conquistar os objetivos de cada praticante com resultados surpreendentes, proporcionando bem-estar, paz de espírito, harmonia e um corpo e mente sã. Ao tornarmos o nosso corpo flexível, ganhamos espaço para atingirmos novos objetivos, ajudamos a mente a criar espaço para adquirir novos conhecimentos, novas formas de ver o que nos rodeia, relaxamos e focamo-nos no que realmente é importante.

O objetivo do Pilates Clínico é dirigir a atenção para o corpo, para a mente e para a respiração. A sua finalidade não é fazer a postura, mas sim, aumentar a flexibilidade gradualmente. Segundo Joseph Pilates “Realize seu exercício com o mínimo de esforço e o máximo de prazer.” Como sabemos, o ser humano tem a capacidade de absorver tudo o que o rodeia, por vezes da forma mais destrutível possível. Nesse sentido, o Pilates Clínico instrui-nos para uma “absorção mental” e para um auto- controlo de assimilação daquilo que nos fará aumentar a auto-estima. Resume-se a uma sequência básica e lógica, que trabalhada de forma contínua e correta torna-se numa mais valia neste confinamento provocado pela atual Pandemia. Sequência essa que engloba: Controlo Mental <> Controlo Postural <> Controlo Respiratório Praticar Pilates Clínico é muito mais do que fazer posturas em cima de um tapete, é uma filosofia de vida. • POR DIANA ALVES E JOANA BRANDÃO (FISIOTERAPEUTAS NA ISCMST)



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Ação Educacional

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TENHO 5 ANOS COMO VEJO O COVID?

Este ano não vem o Pai Natal...é muito velhinho e pode apanhar o vírus e ficar doente...é melhor não termos prendas este ano e ele vem para o ano...

Na nossa escola estamos na nossa sala só com os nossos amigos e não podemos estar com os meninos das outras salas

(Maria Zita)

(Leonor) Não se pode andar nas ruas sem máscara e temos que lavar as mãos muitas vezes

O coronavírus passeia pelo corpo das pessoas

(Petra)

(Sara)

Este vírus é muito forte e perigoso (Maria Francisca)

O vírus é vermelho e verde (Lucas)

Tenho muitas saudades das pessoas do infantário porque não nos podemos ver (Maria Almeida)

Este vírus deixa as pessoas doentes e têm que ir para o hospital (Diogo)

Fico triste porque não podemos estar todos juntos…tenho muitas saudades das pessoas da minha família (Francisca)

• POR MARGARIDA PEREIRA (EDUCADORA DE INFÂNCIA SALA 5 ANOS)



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Cultura

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UMA HISTÓRIA QUE SE REPETE REGISTOS DA GRIPE ESPANHOLA EM 1918

Encontrando-se Portugal nos primeiros anos de uma jovem república que tanto entusiasmo trouxe para a concretização de novos projetos e “velhas aspirações locais” para os tirsenses, estando o país a sair da Primeira Grande Guerra Mundial que teria o seu fim em novembro de 1918 e Santo Tirso, através da sua Misericórdia, a construir o novo hospital então designado “Hospital Conde S. Bento”, eis que “a comunidade local seria novamente colocada à prova com o aparecimento dos primeiros casos de gripe espanhola, em setembro, que rapidamente se estenderam a todas as freguesias e se tornaram uma verdadeira epidemia. A Câmara Municipal teve a necessidade de pedir apoio ao Governo Civil que facultou médicos e uma verba pecuniária. Foram montados hospitais de campanha. Todas as fábricas encerraram, existindo 300 operários doentes na Fábrica do Rio Vizela e mais de 900 pessoas na vila de Santo Tirso. Além-rio e Negrelos foram as principais freguesias atingidas. Algumas destas criaram comissões de apoio, como em S. Martinho do Campo com o apoio de Manuel Dias Machado e, em Rebordões, pelo pároco local e por Américo Nogueira Gonçalves. A epidemia foi vencida em novembro.”(1) De facto, os registos desta pandemia, conhecida em Portugal como “Pneumónica”, matou cerca de 40 milhões de pessoas em todo o mundo num espaço de meses. Em Portugal, a Pneumónica (Gripe Espanhola), apareceu em meados 1918 e, em cerca de dois anos, dizimou dezenas de milhares de pessoas. Curiosamente, sendo desconhecida a origem geográfica da doença, teorias apontam que a epidemia se desenvolveu na

Ásia, onde os primeiros casos apareceram nas tropas francesas em abril de 1918, possivelmente contagiados por chineses contratados como auxiliares. A partir de maio espalha-se por Portugal, através da fronteira espanhola com o regresso dos trabalhadores sazonais alentejanos e em Vila Nova de Gaia e Porto a gripe estende-se a todo o Norte do país, levada principalmente por soldados a quem deram licença para regressar às suas regiões. Feiras, romarias e vindimas disseminaram rapidamente a doença, bem como as deslocações para termas e estâncias balneares dos estratos sociais mais elevados.

Pavilhão do Hospital Conde S. Bento (reconvertido posteriormente em Asilo, e requalificado nos anos 80 do Séc. XX num dos espaços do Lar Dra Leonor Beleza)


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Cultura

Em outubro de 1918 também foram impostas medidas profiláticas pela DGS que vieram a revelar-se ineficientes: obrigatoriedade dos médicos informarem a DGS dos casos conhecidos; controlo das migrações; criação de hospitais improvisados e abastecimento das farmácias; organização dos concelhos em áreas médico-farmacêuticas, mobilização dos médicos e apelos à população para formação de “comissões de socorro”. (2)

escassez de recursos humanos provocada pela epidemia, e um voto de louvor a alguns funcionários, conforme transcrição (parcial) do documento:

Na sua fase mais aguda, em outubro, a nota dominante foi o caos. O Comissário Contra a Gripe, Ricardo Jorge, proibiu visitas aos hospitais e anulou a abertura das aulas. Retirou-se de circulação as moedas de tostão (por pensar-se ser meio mais fácil de contágio) e as ruas eram lavadas com cal. A morte foi banalizada. As morgues estavam amontoadas e os funcionários dos cemitérios eram acusados de falta de dignidades nas suas funções. No resto do mundo a pandemia provocou perturbações similares. (2) Voltando a Santo Tirso, mais concretamente ao contexto da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso em 1918, liderada pelo Provedor Domingos Wenceslau Moreira da Silva, a consulta pelo “Livro de Actas da Direcção” permite encontrar a preocupação e a colaboração com a Câmara Municipal de Santo Tirso na cedência de dois pavilhões do Hospital Conde S. Bento, ainda em construção, para acolher os “epidémicos d’este concelho”. A importante ata de 17 de outubro de 1918 reflete ainda as dificuldades internas vividas na época destacando-se a

Sessão de 17 de Outubro de 1918 (…) “Em seguida disse que por motivos de epidemia (…) organizou um projeto d’um orçamento suplementar ao ordinário para o corrente ano económico, incluindo nele também outras verbas indispensaveis aos fins d’esta Misericordia. (…) Disse também que devido a essa epidemia a acumulação de doentes no hospital tem sido excessivamente grande, superior mesmo á lotação, tendo também caído enfermo todo o pessoal do estabelecimento e que em tão graves circunstancias teve de organizar um serviço provisório com pessoal estranho e mesmo sem habilitações.


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Cultura

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UMA HISTÓRIA QUE SE REPETE REGISTOS DA GRIPE ESPANHOLA EM 1918

Será bom referir-se n’esta declaração que os próprios facultativos do estabelecimento também cahiram enfermos o que tudo veio acumular e crear dificuldades para o regular andamento dos serviços, não sendo pois de estranhar que em tal anormal situação houvesse qualquer falta de pessoal sem preparo para os fins a que era destinado. A Direcção reconhece as dificuldades apontadas e manda que sejam louvados pelo zêlo e dedicação que mostraram em tão aflitivas circunstancias os enfermeiros Americo Ferreira e Dona Laura Lucinda Peixoto Corrêa” (…) Finalmente é presente o seguinte expediente:= Um ofício da Camara Municipal d’este concelho, solicitando facultar áquela Camara os dois pavilhões destinados aos asylados do novo hospital para n’ele ser montado um hospital para acudir aos epidemicos d’este concelho. A Direcção resolve gostosamente aceder ao pedido, mediante compromisso da Camara se responsabilizar de quaisquer prejuízos que possam haver.” Conforme se pode verificar, o outono de 1918, na vila de Santo Tirso não foi fácil. Após a Misericórdia ter cedido os dois pavilhões do novo hospital para tratar os doentes com Gripe Espanhola, a ata da reunião de 7 de novembro de 1918 já reflete o decrescimento da pandemia no concelho, ao mesmo tempo que o Presidente da República atribui um subsídio de apoio à epidemia. Também as instalações do “velho hospital” foram desinfetadas com cal, edifício onde funcionou a Biblioteca Municipal bem como os serviços sociais da Câmara Municipal de Santo Tirso. Sessão de 7 de Novembro de 1918

(…) “Um telegrama do Excelentissimo Presidente da Republica, comunicando que vae ser enviada a esta Misericordia um subsidio de três mil escudos. Declara o provedor ter enviado a Sua Exa. o seguinte telegrama:=” Em nome da Santa Casa da Misericordia de Santo Tirso, tenho a honra de apresentar a Vossa excelência o penhor do mais alto agradecimento”. Declara o provedor que pelo decrescimento da epidemia que tantos estragos fez n’esta vila e no nosso concelho, acham-se quasi normalizados os serviços hospitalares de que tratou na sessão anterior e nesse sentido já deu ordens para que seja dispensado algum do pessoal que extraordinariamente estava prestando serviços. (…) Resoluções:= Mandar caiar algumas dependências do velho hospital, desinfetando-as assim da epidemia que grassou. “ (…)


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Hospital Conde S. Bento (quarto privado)

Em termos demográficos, a Gripe Espanhola (ou Pneumónica) terá sido considerada a maior tragédia do século XX. Tirou a vida a personalidades portuguesas, tais como: o famoso pintor Amadeu de Sousa Cardoso, o maestro David de Sousa, o músico António Fragoso e ainda os pequenos Francisco e Jacinta Marto (Pastorinhos de Fátima). Volvidos 100 anos, o mundo do século XXI volta a ver-se confrontado com uma nova pandemia, com uma taxa de mortalidade elevada e imposição de medidas de controlo sanitárias. É caso ou não para recorrermos à expressão “a história repete-se”?

BIBLIOGRAFIA (1) Santo Tirso e a Grande Guerra, Câmara Municipal de Santo Tirso, 2018, p.17 (2) História da Medicina, Medicina Interna, SEQUEIRA Álvaro, Vol.8, N.1, 2001, p. 52-54

POR CARLA MEDEIROS (DEP COMUNICAÇÃO E IMAGEM)


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MÚSICA EM TEMPOS DE CONFINAMENTO

“Traduz estados de alma indizíveis por palavras mas que não podem permanecer em silêncio…” é das melhores definições que encontro para Música.

Quantas vezes aquela “nossa” música nos provocou aquela sensação de conforto que tantas saudades tínhamos…e por vezes nem sabíamos?

Sempre acreditei no poder terapêutico da música, sei lá… tenho a ideia que deveria de ser prescrição obrigatória, de consumo facultativo, não tem efeitos secundários e por inúmeras vezes com resultados comprovados.

E conforto pode ser segurança, vontade de desligar de tudo, certeza, descoberta ou necessidade do indefinível…desde que nos sintamos no nosso espaço, tempo ou momento de conforto.

Vivemos tempos complicados onde jamais a distância foi tão relativa e nunca a vontade foi tão grande. Queremos ser resgatados, devolvidos a um passado que começa a confundir-se com um futuro que nunca mais chega. Precisamos de rasgo onde falta força, de asas para não ficarmos agarrados ao chão, de dança para contrariar a imobilidade, de exercício que nos devolva o sorriso para além da máscara. Quase tanto como a ciência, nunca a Arte e a Música em particular nos foi tão preciosa e portadora do ar que nos falta para respirar. Da mesma forma como choramos, rimos, cantamos, dançamos e vamos mais além de formas diversas também superamos as adversidades de forma diferente. Para diferentes estados de espírito, diferentes formas de reagir. Com a música é exactamente a mesma coisa.

Acredito em Pensar Globalmente e Agir Localmente e para mim seria música para os meus ouvidos, se de alguma forma a listagem diversificada que aqui vos deixo contribuísse para esse efeito. • POR ALBERTO TEIXEIRA (DJ HEARTBEATER)


SUGESTÕES MUSICAIS James: “Getting Away with it All (Live)” Depeche Mode: “Enjoy the Silence (Live)” Martin Roth: “An Analog Guy in a Digital World” Solomon Burke: “Cry for Me” Keith Jarret: “Part II (the Koln Concert)” Muse: “UpRising” Nick Cave: “Push the Sky Away” David Sylvian: “Let Hapiness In” Stephan Bodzin: “Singularity” Tool: ”Pneuma” Mariza: “Melhor de Mim” António Variações: “Erva Daninha Alastrar” Miúda: “Com quem eu Quero” Gift: “5 Minutes of Everything” Ornatos Violeta: “Ouvi Dizer” Balla: “Ao Deus Dará” Capicua: “Medo do Medo” Noiserv: “Bullets on Parade” Ecos da Cave: “Desejo” GNR: “Regresso ao Passado”


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CINEMA VIAJAR ATRAVÉS DA SÉTIMA ARTE

Em tempo de pandemia, e com as restrições de mobilidade, ocupar o tempo livre tornou-se muitas vezes monótono e pouco estimulante. Confesso que encontrei no cinema um excelente escape. Há um poema do Fernando Pessoa que diz “porque sou do tamanho do que vejo e não do tamanho da minha altura” e acho que nunca fez tanto sentido como agora. Ficam algumas sugestões para que em família, ou de forma solitária, possam usufruir de bons momentos. “Uma Vida à sua Frente”, de Edoardo Ponti O que dizer deste filme? O amor é algo único, irrepetível e cada pessoa tem de nós o seu pedaço e nós dela o que houver na mesma medida, quase igual, maior, menor ou nada. E Sophia Loren surge aqui tão bela, marcante, única mesmo com 80 anos, inesquecível. “A Vida Invisível”, de Karim Ainouz Um filme que nos arrebata por tanto desencontro e amor, por tanta beleza. A história, o argumento, as interpretações, a música, o guarda-roupa são maravilhosas. É difícil ficar indiferente. “A Espuma dos Dias”, de Michel Gondry Baseada na obra homónima de Boris Vian. Duas pessoas encontram-se e apaixonam-se e casam-se, mas algo invulgar e inesperado acontece. O filme mostra-nos como um nenúfar pode mudar o amor, destruindo a magia.

“A Forma da Água”, de Giuseppe Tornatore A banda sonora deste filme é simplesmente maravilhosa. O ambiente é tenso e hostil, mas mesmo assim é cenário para uma bela história de amor. O sentimento transforma, inspira, muda, salva, constrói mas também destrói. O amor é quase tudo afinal. “Tristeza e Alegria na Vida das Girafas”, de Tiago Guedes O título é desde logo muito sugestivo. Profundo e poético remete para algo irreal e talvez o seja. Há um momento na vida que é preciso crescer e às vezes é tão difícil e muitas vezes é arriscado fazê-lo. Este é o olhar de uma menina de dez anos sobre a sua vida e a do seu pai. Alerta, a linguagem do urso de peluche, amigo imaginário da menina, poderá chocar as pessoas mais sensíveis. “Gran Torino”, de Clint Eastwood Grande filme, grande lição de como nascem os heróis “A Mula”, de Clint Eastwood É a história de um homem com mais de 80 anos e a sua derradeira tentativa de recuperar a família e sentir-se amado, sentir-se família. “O Milagre da Cela 7”, de Mehmet Ada Oztekin É um filme muito generoso de afetos para toda a família, não aconselhável a corações muito sensíveis, pois são lágrimas asseguradas do início ao fim do filme. Um homem com um atraso mental é injustamente acusado de um crime que não cometeu.


“Enquanto a Guerra Durar”, de Alejandro Amenabar Sob o olhar do ensaísta Miguel Unamuno assistimos à destruição que o fascismo de Franco traz à sua vida e das suas pessoas. Apercebemo-nos que há algumas cedências que são feita, mas perante a intolerância e o assassínio arbitrário, calar é consentir e isso é impensável para quem sempre teve como seus princípio a justiça e a integridade moral. “O Homem Invisível”, de Leigh Whannell Num mundo em que o mal se disfarça das mais diversas formas, como um homem invisível, ou algo do género. Há aqui uma réstia de esperança que a verdade e a justiça possam prevalecer e vencer neste mundo ou pelo menos nesta história. Será? • POR CARLA NOGUEIRA (JORNALISTA)


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POEMAS

Desde 2012 que Anita Sampaio foi uma colaboradora entusiasmada e sempre presente na Revista da Misericórdia, partilhando a sensibilidade artística que sempre manifestou ao longo da vida, aqui refletida em poemas. Deixou-nos em outubro passado, ficando as próximas edições mais empobrecidas com a sua ausência. Mas não esquecendo quem se fez sempre presente, publicamos 2 poemas da sua autoria, fazendo valer uma dedicatória que escreveu aquando ao lançamento do livro NUNCA É TARDE: “Que a leitura da minha poesia divirta…e lhe dê mais cor à vida.“ Assim seja!

AMOR SUBLIME (Às minhas filhas Diana e Liliana, 14.03.2008) Ser tua mãe tenho orgulho Estrela que aperto na mão No meu ventre para ti fui Como anjo em adoração. Pele nua abrigada em mim Depois vestida de emoção Amor puro sem limites Que não espera retribuição. Monte de rocha dura Castelo construído na vida Das ameias sempre espreito “Princesa” de cetim vestida.

CAMINHAR Caminho aberto Calcado pela vida Na busca d’estrelas Numa era perdida Neste mundo de caminhos Com tanta direção Seria bom o escolhido Ter apoio do coração Porque só Deus conhece Nosso fim do caminho Nesta vida de metas Vamos percorrer sorrindo • POR ANYTA


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REAGIR A vida à sua passagem estremece a noite inquieta o dia... destrói e se aconchega reage para te salvares desperta os teus sentidos para não apodreceres semeia e passa porque a terra tem memória e tem passo a vida se expande ou estagna tudo depende da vontade, da persistência e da coragem de cada um.... reagir para perpetuar. • POR CÉU MACHADO (VOLUNTÁRIA NA ISCMST)


O que têm em comum as 3 colaboradoras que aqui se REVELAM nesta edição? A resposta é simples: dentro das suas responsabilidades, competências e diferentes valências onde se integram, em 2020 “perante a adversidade” enfrentaram, combateram e venceram. Ao lado dos utentes, dos colegas e com o espírito de missão e responsabilidade em dizer SIM à Instituição. Tal como aconteceu com a Adelaide, a Gracinda, Fátima e Mónica (Revelações_Revista 39) e com muitos outros(as), igualmente merecedores(as) deste reconhecimento na luta contra o desconhecido, na linha da frente. Apesar de naturalmente espelharem diferentes referências culturais (embora a Mariza seja uma comum opção musical), no que toca às vivências relacionadas com a pandemia sobressai nas 3 colaboradoras o “medo da perda”, os “dias difíceis” e a “determinação”. E uma constante referência da Sílvia Monteiro à GRATIDÃO: a todos os HERÓIS desta Instituição.

NOME SÍLVIA MONTEIRO CATEGORIA PROFISSIONAL ENFERMEIRA ANTIGUIDADE NA INSTITUIÇÃO 10 ANOS

RE VE LA ÇÕES...

Quais são os 3 locais favoritos em Portugal? Douro, Santuário de Fátima e Altura – Algarve. Quais as duas músicas que tem ouvido recentemente? Quem me conhece e comigo trabalha sabe que adoro cantar! Por isso, escolho duas músicas significativas: Meu Amor Pequenino de Mariza e o Avé Maria de Franz Schubert. E o filme que marcou a sua vida? ‘A Culpa é das Estrelas’ de Josh Boone. Um livro para ler antes de dormir? Um livro da obra de Danielle Steel. Prefere praia ou cidade? Prefiro a Praia.


O que mais valoriza no ser humano? A honestidade, o respeito e a responsabilidade. E o que a deixa cheia de orgulho na Misericórdia? Orgulho-me em pertencer a uma Instituição em contínuo crescimento e desenvolvimento, desejando que se mantenha o investimento na área da saúde. Como recorda a 1ª vaga da pandemia, vivida na Misericórdia? Se fechar os meus olhos e concentrar o meu pensamento nos tempos vividos, consigo reviver cada dia, de tão intensas que foram as emoções. Recordo o nome, o olhar e as palavras dos UTENTES, lamentando profundamente a perda de vidas, de Histórias de Vida. Recordo os medos, o sofrimento, as ações discriminatórias, as lágrimas. Recordo, com orgulho, a bravura de todos nós – os COLABORADORES – que num trabalho árduo e conjunto, superamos todas as expectativas! O que mais receou nessa fase? Errar. Errar na Tomada de Decisão e, como consequência, comprometer a Vida de Alguém. Nunca a minha profissão tinha exigido tanto e sob tanta pressão, numa verdadeira luta contra o tempo, como nessa época… E por quem mais receou? Pelo meu filho. Se hoje, o conhecimento científico sobre a doença ainda é insuficiente, na altura, era quase inexistente, pelo que, para o proteger, estive dois meses sem cuidar dele. Sem dúvida, que o seu bem-estar mental e físico foram as minhas maiores preocupações. E o coração de mãe sofreu por tal privação. Que 3 palavras lhe ocorrem quando recorda esses dias difíceis? Coragem, Resiliência e Gratidão. Sente-se hoje uma pessoa diferente? ‘O que não nos derruba, torna-nos mais fortes’! Sinto-me mais forte apesar da noção clara da fragilidade humana. Mas o princípio-base é o de sempre: dar o melhor de mim e, a cada dia, ser melhor pessoa e profissional.


NOME Mª LUÍSA ALBUQUERQUE CATEGORIA PROFISSIONAL AJUDANTE DE OCUPAÇÃO ANTIGUIDADE NA INSTITUIÇÃO 24 ANOS Quais são os 3 locais favoritos em Portugal? Gerês, Porto e Porto Covo. Quais as duas músicas que tem ouvido recentemente? “Jerusalema” e “Quem me Dera” da Mariza. E o filme que marcou a sua vida? “Encontro de Irmãos” com o grande Dustin Hoffmann. Um livro para ler antes de dormir? “Se o Passado não Tivesse Asas“ de Pepetela. Prefere praia ou cidade? Prefiro a Praia. O que mais valoriza no ser humano? A honestidade. E o que a deixa cheia de orgulho na Misericórdia? Ter resposta social aos vários problemas que enfrentamos na nossa época. Como recorda a 1ª vaga da pandemia, vivida na Misericórdia? Recordo com apreensão e ansiedade no futuro. O que mais receou nessa fase? Não conseguirmos dar resposta adequada às situações que iam surgindo. E por quem mais receou? Perder todos os que me são mais queridos entre amigos, familiares e utentes. Que 3 palavras lhe ocorrem quando recorda esses dias difíceis? Solidariedade, perseverança e confinamento. Sente-se hoje uma pessoa diferente? Muito diferente. O facto de estar privada de convívio social e cultural a que estava habituada fez de mim uma pessoa que vê o futuro de outra perspetiva.


NOME ELISABETE FERREIRA CATEGORIA PROFISSIONAL AJUDANTE DE LAR ANTIGUIDADE NA INSTITUIÇÃO 35 ANOS Quais são os 3 locais favoritos em Portugal? Braga, Coimbra e Albufeira pois vivi, e ainda vivo, momentos muito felizes com excelentes recordações. Quais as duas músicas que tem ouvido recentemente? Adoro música!!! As mais recentes que tenho ouvido são “A Chuva” e “Melhor de Mim” da Mariza. E o filme que marcou a sua vida? O filme que marcou a minha vida e não me canso de o rever foi “Mamma Mia”. Um livro para ler antes de dormir? “Memorial do Convento” de José Saramago. Prefere praia ou cidade? Prefiro a praia pois o mar transmite-me paz interior. O que mais valoriza no ser humano? Verticalidade, altruísmo e respeito pelo próximo. E o que a deixa cheia de orgulho na Misericórdia? O que me enche de orgulho na Misericórdia é a constante movimentação de encontrar de forma rápida e digna a solução para ajudar quem mais precisa. Como recorda a 1ª vaga da pandemia, vivida na Misericórdia? A primeira vaga da pandemia na Misericórdia passou por um invasor desconhecido que veio exigir de nós que déssemos e fizéssemos o nosso melhor. Dias muito difíceis, desânimo, cansaço e impotência mas sempre com o espírito de lutar contra o inimigo. Todos unidos abraçamos esta adversidade e foi feito um excelente trabalho na forma como se controlou a propagação. O que mais receou nessa fase? O que mais receei foi a perda. Sendo este vírus desconhecido, sem tratamento e sem prevenção, o desfecho para muitos seres humanos foi, infelizmente, a morte. (cont.)


(cont.) E por quem mais receou? Por quem mais receei foi pelos utentes, por todos os colaboradores e seus familiares e por toda a humanidade. Que 3 palavras lhe ocorrem quando recorda esses dias difíceis? Determinação, coragem e fé. Sente-se hoje uma pessoa diferente? Não. Sinto-me igual ao que fui até então. Constatei o que sempre defendi que nas adversidades devemos estar sempre unidos rumo ao mesmo objetivo mesmo com dificuldades e desânimo, nunca devemos desistir. Devemos sim, dar apoio e força uns aos outros.






TENA, ao seu lado para uma Pele Saudรกvel Absorve

Limpa

Protege



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