TENDÊNCIAS
Em busca do tesouro perdido... com GPS
NUNO BOTELHO
Calcorreiam quilómetros e quilómetros em busca de simples caixas. Tudo pelo prazer da procura. Conheça os “geocachers”, os exploradores modernos. TEXTO DE MARIA JOÃO BOURBON
À
s 20h30, um grupo de quatro bicicletas já se encontra reunido junto à entrada principal da Igreja do Santo Condestável, em Campo de Ourique. A igreja iluminada serve de ponto de referência às várias bicicletas que vão chegando, acompanhadas pelos seus donos. Uns cumprimentam-se ao reencontrar velhos companheiros de ‘viagem’, outros apresentam-se ao organizador do evento, Gustavo Vidal. Geocachers é como se intitulam, numa referência explícita à sua atividade de eleição: o geocaching, palavra que surge da união entre geografia e caching (o processo de esconder uma cache, que, em campismo, remete para o esconderijo destinado a guardar provisões e mantimentos). Nesta noite de sexta-feira, cerca de 15 ciclistas — aos quais se juntam mais 14 ao longo do percurso — preparam-se para partir na Lisbon Night Geo-Bike Tour, que já vai na sexta edição. Pedalando pela capital — Marquês do Pombal, Miradouro de São Pedro de Alcântara, Largo do Chiado... até à Praça do Co-
Como tornar-se um geocacher 1. Entrar em www.geocaching.com e registar-se (conta gratuita ou Premium Member) 2. Clicar em “Hide & Seek a Cache”, colocar a morada ou código postal da zona onde quer encontrar uma cache e clicar em “Search” (pesquisar) 3. Escolher uma geocache, ver as suas coordenadas e escrevê-las no seu GPS 4. Sair de casa e ir à descoberta, com a ajuda do GPS 5. Ao encontrar a cache, assinar o livro de registos e deixar a cache como a encontrou. Se esta tiver objetos para troca no seu interior, poderá trocar um deles por um seu 6. Partilhe a sua experiência online, através de texto e/ou fotografia
O TESOURO A CACHE A DESCOBRIR PODE SER DE VÁRIOS TAMANHOS E FEITIOS. VALE TUDO NESTA CAÇA AO TESOURO DOS TEMPOS MODERNOS
mércio —, os participantes vão cumprindo desafios, sobretudo fotográficos, que constituem a prova simbólica de que alcançaram determinado local. Estes 34 geocachers são apenas uma pequena amostra do universo do geocaching em Portugal e no mundo. Desde o momento em que o norte-americano Dave Ulmer escondeu a primeira caixa, no ano 2000 (que motivou a fundação da Groundspeak, empresa que gere o geocaching), até à atualidade contam-se mais de 1,4 milhões de caches escondidas e encontradas por mais de quatro milhões de pessoas. Em Portugal, apenas a 2 de fevereiro de 2001 se assinala o seu nascimento, com o registo de “Alfa Romeo Abandonado”, cache que acabou por desaparecer com a remoção do carro pela Câmara Municipal de Lisboa. Sob o lema “pesquisa — descobre — partilha” e partindo da tecnologia GPS e das potencialidades da Internet, cada pessoa é convidada a sair e partir à descoberta. O computador é só a ferramenta inicial para se localizar as caches e suas coordenadas GPS. Depois, é partir na “caça ao tesouro” com o GPS (“a extensão do nosso braço direito”) e, quando as encontrar, partilhar a experiência, quer no livro de registos que se encontra no seu interior quer no site Geocaching.com. Ir à descoberta (ou esconder e registar novas caches no site) é aquilo que motiva os geocachers, nos quais se inclui Nuno Veríssimo, fundador da Geocacher Zone, que gere a revista “GZ” e uma loja com artigos exclusivos para esta atividade. O tesouro destas “cachadas varia de pessoa para pessoa. Para uns, é encontrar a cache, para outros esta é apenas um pretexto, o importante é o percurso e a envolvente”. Isaac, 50 anos, inclui-se no último grupo. Para ele, o tesouro desta atividade “é poder relaxar e libertar-se da adrenalina do dia a dia”. Já João, 32 anos, descobriu o geocaching por acaso, enquanto passeava com amigos em Monsaraz. “Durante a caminhada encontrámos um tupperware. Só ao abrir descobrimos o que era, porque estava lá um papel com as regras do jogo”, explica durante o evento, acompanhado pela sua bicicleta laranja desmontável. n 79