OPINIÃO
D. Capoulas I, o desastrado LUÍS MARQUES E5
PESSOAS > Jorge Reto é o novo diretor da Google Cloud Portugal
Rússia: um gigante militar e um anão económico PAUL DE GRAUWE
Ansiedades ultracostistas
Search & Selection
E35
E39
> Dicas 6 mandamentos para a gestão de conflitos E35
FRANCISCO LOUÇÃ E5
ECONOMIA Novo recorde no imobiliário em 2018
IMOBILIÁRIO & EMPREGO
COMO AS FINTECH COBRAM COMISSÕES ABAIXO DOS BANCOS
Banca ainda só pagou 17% dos resgates
E12
TEMPO DE REFORMA COM SAÚDE EM QUEDA A idade legal de aposentação sobe todos os anos e a esperança de vida com saúde nem por isso. Até 2060 pode pode cair para dois anos e oito meses (homens) e um ano e um mês (mulheres) E6
Intervenção no BES pode custar, num cenário-limite, €8790 milhões
Despacho infeliz
N
o âmbito das Comemorações do Dia Internacional da Felicidade, a secretária de Estado da Saúde decidiu associar-se a esta efeméride com a assinatura de um despacho cujo objetivo é o de “pôr em prática um plano de ação com medidas concretas dirigidas à melhoria dos indicadores de bemestar das pessoas que trabalham nos organismos e entidades do Serviço Nacional de Saúde”. Para tal, constituiu um indispensável grupo de trabalho do qual se espera uma inevitável “proposta” de plano de ação que
“Ordenado mínimo é miserável”
E14
Após os incêndios de 2017, pode haver falta de matéria-prima e a solução passará pelas compras de biomassa a Espanha. E19
Michael Ash Professor na Universidade de Massachusetts nos EUA
“Bancos armazenam gasolina sem regras contra fósforos”
MAIS APP, MAIS TEMPO PARA MIM
Bancos sobem valor cobrado por transferências e pagamentos, num mercado onde nascem startups financeiras com encargos baixos ou nulos para os clientes. Qual o segredo destas empresas? E8
E37
Mais simples, mais digital.
ILUSTRAÇÃO HELDER OLIVEIRA
As centrais do Fundão e Viseu serão inauguradas já no final do ano
Será possível que um membro do governo do Ministério da Saúde precise de mais estudos para descobrir as causas de infelicidade dos seus trabalhadores?
Bruno Bobone Presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa (CCIP)
Entre 2013 e 2017, os bancos contribuíram com €1049 milhões para o Fundo de Resolução. Mas ainda há cerca de €5000 milhões por pagar. E10
Vão ser investidos €412 milhões em 11 centrais de biomassa florestal
7 de abril de 2018 www.expresso.pt
Manuela Ferreira Leite
> Número de casas vendidas pode crescer 30% e chegar às 200 mil > Dados do 1º trimestre permitem antever melhor ano desde, pelo menos, 2009 E23
Portugal preparado para aplicar sanções à Ryanair
Expresso 2371
atinja o objetivo de melhoria de bem-estar no tradicional prazo de 60 dias após tão relevante decisão. Será possível que um membro do governo do Ministério da Saúde precise de mais estudos para descobrir as causas de infelicidade dos seus trabalhadores? Todos sabem a situação dos salários, dos horários, das carreiras, da escassez dos meios humanos e financeiros, da organização dos serviços, todos, menos a secretária de Estado?! Mas para nos tranquilizar quanto aos custos de tão incompreensível grupo de trabalho, determinou que os seus elementos não recebam qualquer remuneração adicional face ao que recebem nos seus lugares de origem, mas que serão dispensados das funções que desempenhavam. E não tem custos?! Tudo neste despacho é supérfluo e desconcertante face ao problema sério que finge querer tratar. Verifiquei a data do despacho. Não era 1 de abril.
informe-se em santandertotta.pt
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Expresso, 7 de abril de 2018
ECONOMIA
BANCA Serviços Bancos sobem preço de transferências e pagamentos, num mercado povoado por startups financeiras com encargos baixos ou nulos para os clientes
Cada comissão a seu dono Textos Isabel Vicente
e Maria João Bourbon Ilustração Helder Oliveira
O
s bancos portugueses estão a aumentar as comissões pelos serviços prestados aos clientes — e muitos até começam a cobrar por serviços que antes eram gratuitos. Numa altura em que startups tecnológicas entram no negócio bancário, oferecendo serviços e produtos com encargos reduzidos para os clientes, os maiores bancos fazem o movimento contrário: regra geral, atualizaram os preçários durante os dois últimos anos. E em 2018 a política de aumentos continua. O BPI vai passar a cobrar a partir de junho €1 por cada transferência interbancária na internet. Anteriormente não o fazia. Já o Novo Banco vai carregar ainda mais nas comissões a partir do segundo semestre. Um dos exemplos está nas transferências entre diferentes instituições, que sobem de €3,5 para €5,5. Em março, o Santander atualizou o preçário para transferências e pagamentos e na Caixa Geral de Depósitos há alterações a partir de maio nas transferências dentro de Portugal, na Europa e fora. No BCP, as comissões aumentaram há dois anos, estabilizaram o ano passado mas o banco não descarta um aumento de alguns serviços este ano. Em todos os bancos existem nuances que podem levar a uma descida destas taxas, consoante a relação do cliente com a instituição e os montantes que este tem ou transaciona. Uma realidade diferente da que é vivida em muitas startups, conhecidas como fintech, que usam novas tecnologias para oferecer produtos e serviços financeiros. Muitas não pedem comissões pelos serviços prestados (transferências, pagamentos, gestão de finanças pessoais, entre outros) ou, quando o fazem, cobram um valor reduzido. É o caso da Revolut. Nesta empresa que disponibiliza serviços bancários no espaço económico europeu, os pagamentos, levantamentos e transferências são gratuitos — salvo algumas exceções. Nos levantamentos, por exemplo, apenas começam a cobrar uma comissão de 2% quando estes ultrapassam os €200 por mês (ou €400/mês para clientes premium). Já nas transferências além-fronteiras cobram 0,5% a partir do patamar dos €5000 por mês. “Cobramos taxas muito pequenas em diferentes produtos ou serviços, alguns deles sem impacto no utilizador”, explica Pablo Viguera, diretor-geral da empresa para a Península Ibérica, referindo as comissões interbancárias que os comerciantes pagam quando os clientes
usam Visa ou Mastercard, as subscrições premium (que permitem aos utilizadores acederem livremente a vários serviços, mediante uma mensalidade de €7,99) e contas para empresas. Mas atenção: nem todas as fintechs têm o mesmo modelo de negócio. A Easypay, portuguesa que permite às empresas receber pagamentos numa única plataforma, cobra sempre pelos seus serviços — e, em alguns casos, mais do que a banca tradicional. É o caso do Multibanco, onde os bancos não podem cobrar comissões de levantamentos ou pagamentos. A empresa liderada por Sebastião de Lancastre cobra €0,69 nos pagamentos. “Todas as nossas soluções e produtos têm uma comissão associada”, realça, mostrando-se surpreendido com casos de outras empresas de tecnologia na área financeira “que praticam preços abaixo de preço de custo, suportando prejuízos elevadíssimos nos primeiros anos de atividade”.
Mais digital, menos custos A capacidade de muitas fintechs cobrarem comissões reduzidas (ou nulas) está associada ao seu ADN. Segundo António Bernardo, sócio-administrador da consultora Roland Berger, a “simplicidade da sua oferta” e o “modelo de serviço totalmente digital” permite-lhes “otimizar a estrutura de custos”, reduzindo custos administrativos, de operações e de distribuição. O facto de assentarem em novas tecnologias e ferramentas inovadoras dá “ao utilizador aquilo que ele procura em termos de experiência” (usabilidade, preços apelativos, transparência) e tornam-nas mais ágeis e rápidas para se adaptarem às novas regulações, acrescenta Sérgio Pereira, diretor-geral da ComparaJá, fintech de comparação de produtos fi-
A RENTABILIDADE FUTURA DAS FINTECHS DEPENDE “SOBRETUDO DA CAPACIDADE DE GARANTIR UM CRESCIMENTO RÁPIDO DA SUA BASE DE CLIENTES”
nanceiros e telecomunicações. Pelo contrário, os grandes bancos “não investiram diretamente em tecnologia e inovação (apenas o estão a fazer recentemente e de forma indireta)”, acrescenta. E têm os chamados “legacy issues”, que advêm do facto de “serem empresas grandes” com “número elevado de colaboradores permanentes” e “sistemas operativos baseados em tecnologias desatualizadas e muito complexas”. Além disso, várias destas startups concentram, nesta fase, a sua atividade em serviços ou produtos específicos da atividade bancária, “escolhendo aqueles que são mais rentáveis para o negócio”, aponta João Machado Mota, presidente da Associação FinTech e InsurTech Portugal (AFIP). Alguns bancos já perceberam que a disrupção do negócio não está apenas em digitalizar, mas em simplificar e oferecer uma experiência melhor ao cliente. A abertura de conta à distância, possível em Portugal desde junho, é mais um passo dado pelos bancos para transformar a experiência do utilizador, angariando novos clientes e negócio através de canais digitais. O objetivo último é reduzir as suas estruturas pesadas e rentabilizar cada cliente.
Modelo de negócio sustentável? A sustentabilidade do modelo de negócio de várias fintechs tem vindo a ser questionada exatamente pelo facto de o custo que têm com os clientes não compensar as receitas geradas. Há quem defenda que esta é uma estratégia para ganhar volume e negócio nos primeiros anos de atividade. A rentabilidade futura destes operadores depende, “dada a sua oferta gratuita, sobretudo da capacidade de garantir um crescimento rápido da sua base de clientes (por exemplo, 300 mil um ano após o lançamento)”, explica António Bernardo. Ideia partilhada por outros responsáveis que trabalham neste setor. “No curto prazo, não queremos abdicar do crescimento em prol de margem e rentabilidade”, acrescenta o diretor-geral da ComparaJá. O objetivo é agarrar os clientes numa fase inicial para atingir uma rentabilidade futura. Mas no médio e longo prazo a história já é outra. Para o presidente da AFIP, o sucesso destas startups está intimamente ligado a uma de duas opções. Quando estas empresas ganharem dimensão, terão de começar a aumentar as comissões dos seus produtos ou “a alargar a atividade a novos serviços” — como seguros, cartões de crédito, entre outros — para conseguirem manter-se no mercado de forma autónoma. Mas há também casos de outras que têm um objetivo diferente: alavancar o negócio para depois serem vendidas. ivicente@expresso.impresa.pt
Inovação dita convivência forçada
Acelerar inovação e fazer frente às grandes tecnológicas que entram no sector financeiro torna conveniente parcerias entre bancos e fintechs
Os bancos portugueses não podem perder o comboio da digitalização e, em certa medida, já acordaram para a necessidade de uma nova abordagem na oferta de serviços e produtos bancários. Como olham os bancos para as fintechs no futuro é a grande questão. O Expresso contactou os maiores bancos do sistema — CGD, BCP, Santander, BPI, Novo Banco, Crédito Agrícola e Montepio (CEMG) — para perceber qual a sua relação com as startups tecnológicas e a conclusão aponta para uma inevitabilidade de parcerias na conjugação de interesses comuns. No futuro, porém, as aquisições de fintechs por parte da banca podem ser uma necessidade para fazer frente à verdadeira ameaça no sector: os gigantes tecnológicos (como a Amazon), grandes distribuidores (como a Sonae) e operadores de telecomunicações (Altice, Vodafone, etc.). Segundo a Roland Berger, a nível mundial, a banca reagirá a esta ameaça com aquisições. Para o BCP, “tipicamente olha-se
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ECONOMIA
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TIPOS DE FINTECH Neobanks ^^^^São entidades bancárias totalmente digitais, com infraestrutura e licença bancária, que concorrem com os bancos tradicionais. Têm uma oferta simples e digital e uma estrutura de custos otimizada, não tendo balcões ou agências e empregando um número mais reduzido de pessoas. Os neobanks garantem uma oferta bancária gratuita para as operações do dia a dia como pagamentos e gestão de finanças pessoais. Muitos funcionam numa lógica de banca aberta, integrando e distribuindo soluções de outros parceiros. O BNI Europa e os alemães N26 e Fidor são exemplos de neobanks. Operadores de serviços financeiros ^^^^São empresas ou startups que disponibilizam produtos ou serviços em áreas específicas dos serviços financeiros, autonomizando áreas de negócio da banca tradicional com as quais concorrem. Através das novas tecnologias e da utilização dos dados dos consumidores, estão focadas em reinventar a experiência financeira dos clientes. Incluem-se nesta categoria fintechs internacionais como a Lending Club (empresa de empréstimos pessoa a pessoa) e a Transferwise (transferências internacionais) e, a nível nacional, outras como a Ebury (pagamentos internacionais para empresas)e a Pagaqui (pagamentos para particulares). Fornecedores de soluções financeiras ^^^^São empresas que fornecem soluções tecnológicas e digitais aos bancos tradicionais, para permitirem uma nova experiência bancária em áreas específicas como pagamentos (como a Paykey), gestão de finanças pessoais (Meniga) ou poupanças (Chip). Ao contrário dos neobanks e dos operadores de serviços financeiros, são parceiros dos bancos tradicionais, pois é para estes que desenvolvem as suas aplicações ou soluções. Em Portugal, a ItsCredit (da empresa portuguesa IT Sector) foi criada para desenvolver soluções tecnológicas para a banca na área do crédito. Fornecedores de soluções transversais ^^^^São empresas que disponibilizam tecnologia específica aos bancos tradicionais para ajudar a redesenhar os processos bancários numa lógica digital. Nesse sentido, são parceiras e não concorrentes das instituições financeiras tradicionais. As fintechs Loqr, que desenvolve sistemas de identificação e autenticação digital, e James, que aplica algoritmos avançados para otimizar a gestão de risco de empréstimos, são dois exemplos de origem portuguesa.
para as fintechs como competitivas e colaborativas”. As primeiras “desintermedeiam parte do negócio da banca (meios de pagamento)” e as segundas movem-se “numa ótica de colaboração e complemento à oferta da banca”. É com estas últimas que o BCP equaciona fazer parcerias que tragam mais-valia à sua oferta, “criando um ecossistema de soluções bancárias” que as incluam no futuro. O Santander diz estar “preparado para enfrentar os desafios que trazem estas empresas”, mas destaca a importância de regulação e supervisão idêntica para todos os players do mercado. E o Montepio quer criar as “sinergias possíveis”. Já o Crédito Agrícola considera que a relação será de parceria: os bancos precisam da inovação das fintechs e a maioria “não viverá sem um banco associado”. É também o que conclui o “World Fintech Report 2018”, da Capgemini. “A generalidade dos operadores não tem garantido a massa crítica neces-
sária para se posicionar como challengers [concorrentes] à banca tradicional e gerar valor endógeno, sendo posteriormente adquiridos por outros bancos tradicionais que os capitalizam como incubadoras externas à organização”, adianta a Roland Berger, que trabalha com grandes bancos no processo de disrupção digital. Foi isto que fez o espanhol BBVA com o britânico Atom Bank. Mas alguns bancos europeus — como o hellobank! do BNP Paribas ou o Open Bank do Santander — têm aproveitado para lançar ofertas bancárias próprias e autónomas, seguindo o modelo de negócio das fintechs. A compra destas startups tecnológicas ainda não é uma realidade nos maiores bancos portugueses, embora não descartem essa possibilidade no futuro. Ainda assim, estão atentos ao aparecimento acelerado destes novos atores de serviços financeiros, embora acreditem que as fintechs não são, por si só, uma ameaça ao seu negócio central.
BdP apenas controla fintechs com sede em Portugal “Apenas as instituições de crédito (em especial, bancos) podem receber depósitos do público” em Portugal, sublinha o supervisor
O novo mundo das startups que desenvolvem soluções financeiras inovadoras e começam a ganhar fôlego em Portugal está sob o olhar atento do Banco de Portugal (BdP). Os consumidores que procuram no dia a dia uma experiência bancária mais digital encontram na oferta destas empresas soluções de transferências, operações com cartões, débitos diretos e gestão de finanças pessoais, que não os obrigam a dirigir-se a um balcão ou até a um multibanco. Mais do que isso, são ferramentas de simples e fácil acesso. Convém, porém, que os consumidores saibam que o BdP apenas fiscaliza a conduta das startups tecnológicas que estão sediadas em território nacional. As que, como o neobank alemão N26, atuam em Portugal mas estão sediadas em outros países escapam à fiscalização do supervisor da banca. O BdP é avisado acerca das fintechs que atuam sob a alçada dos seus supervisores de origem (países onde têm a sua sede), mas não tem voto na
matéria sobre o que comercializam. “Em Portugal, todas as entidades que prestam ou pretendam prestar produtos e serviços bancários (incluindo pagamentos) têm de ser previamente autorizadas a exercer essa atividade (designadamente como instituição de crédito, sociedade financeira, instituição de pagamento ou instituição de moeda eletrónica) e encontrar-se registadas no Banco de Portugal”, esclarece o supervisor liderado por Carlos Costa. E acrescenta que é neste âmbito que se “procede à fiscalização da sua conduta, nomeadamente através da realização de inspeções e da análise de reclamações de clientes bancários”. Neste enquadramento é importante que os consumidores saibam que “apenas as instituições de crédito (em especial, bancos) podem receber depósitos do público”. As instituições de pagamento e as instituições de moeda eletrónica também podem disponibilizar a abertura de contas mas apenas para a execução de operações de pagamento.