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Entrevista a Pol Espargaró

‘Pensávamos que isto era impossível’

Um dos homens em destaque nesta temporada de MotoGP é Pol Espargaró. Aproveitando os progressos da KTM, para os quais contribuiu significativamente, o piloto tem estado mais regularmente na luta pelos lugares cimeiros, estando ainda a falhar-lhe a primeira vitória pelo construtor de Mattighoffen.

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O Motorcycle Sports entrevistou em exclusivo Pol Espargaró antes do GP de Aragão de MotoGP. O piloto da Red Bull KTM cumpre a sua última época ao serviço da equipa, num ano em que já passou por bons e maus momentos e no qual não tem sido fácil para ninguém ser constante. A trajetória da KTM, a presente temporada e também o futuro foram temas abordados nesta entrevista que fizemos a Pol Espargaró e que pode ler nas próximas páginas.

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Motorcycle Sports (MS): Esta tem sido uma época de altos e baixos praticamente para todos. O Marc Márquez não está presente. Achas que a ausência dele melhorou a competição deste campeonato? Pol Espargaró (PE): ‘Bem, não sabemos o que o Marc estaria a fazer esta temporada. Decerto que estaria a lutar pelo título, mas é difícil saber onde ele poderia estar com estas mudanças de pneus, este campeonato de altos e baixos. Mas seguramente o Marc seria forte como sempre. Mas decerto que com o Marc fora das corridas sinto que vários pilotos sentiram que sem o Marc talvez fosse possível ganhar o título. E isto também faz muitos pilotos cometerem erros e cair nas corridas. Acho que o Marc, ao estar de fora, traz alguma confiança a muitos pilotos, mas estes pilotos também cometem muitos erros e caem muito com o excesso de confiança. No fim, seguramente tudo está mais competitivo sem o Marc e tudo está mais renhido’. MS: Muitos pilotos, ou quase todos os pilotos, se queixaram sobre os pneus. O que pensas das escolhas da Michelin? PE: ‘É muito difícil, porque a Michelin está a tentar, mas as condições deste ano são muito diferentes. Especialmente porque o momento em que vamos às corridas é muito diferente; é difícil saber que tempo vai haver nos sítios a que vamos porque é a primeira vez que estamos a competir lá - por exemplo, aqui em Aragão normalmente não é tão ventoso, mas é bastante quente. Mas agora está muito frio e ventoso, e o vento também é muito frio. Em Valência vai ser muito semelhante, em Misano também enfrentámos condições semelhantes, em Barcelona esteve muito frio. É sempre um compromisso entre pneus e condições de pistas. E as condições de pista este ano foram bastante diferentes de outros anos. Por vezes colocamos a culpa nos pneus porque são difíceis de entender, mas as condições também não os estão a ajudar a trabalhar e a escolherem o pneu correto a cada fim de semana porque este ano as condições são bastante diferentes’. loto a experimentar a RC16. Se alguém te dissesse no pódio em 2018 e a lutar por vitórias este ano, o que lhe dirias? PE: ‘Que seriam loucos, que seriam mesmo loucos. A sede na Áustria sempre pensou que seríamos capazes de fazer o que estamos a fazer depois de três anos e meio, mas dentro da fábrica pensávamos que isso era impossível. Mas quando começas a lutar por algumas vitórias e por pódios vês que os outros não são extraterrestres e vês que não há heróis aqui no campeonato. Todos os que trabalham no duro e com a moto adequada faz o que o

piloto ou o construtor quiser. Acho que a maior mudança depois das primeiras corridas foi o acreditar. Começámos a acreditar que estávamos no mesmo nível dos outros construtores e isso traz-nos muitos bons resultados. Ainda temos esta sensação de podermos alcançar resultados muito bons no fim do ano se não existirem mais erros. É uma sensação incrível lutar pelo que estamos a lutar agora’.

MS: Quais pensas serem as melhores características da moto da KTM? PE: ‘Penso que desde a primeira vez que experimentei a KTM os arranques eram bastante bons, não precisámos de tocar em nada, não sei porquê - bem, sei, porque quem está a fazer a embraiagem é japonês e é bastante bom a fazer isso e os nossos arranques sempre foram incríveis. Depois, seja por que motivo for, a nossa moto tem um rendimento muito bom em travagem - travando a direito, mas especialmente ao entrar na curva com algum ângulo. A nossa moto enfrenta esta parte com um rendimento forte, boa estabilidade, a moto consegue aguentar uma travagem muito tardia entrando muito tarde na curva. Normalmente gosto de pilotar assim e esta moto adequa-se muito bem a mim nessa área’. a lutar até ao fim com o Jack [Miller] não foi possível outra vez. Acho que estivemos muito perto várias vezes, mas nunca alcançando essa vitória. Uma vitória é seguramente importante, mas também é importante aquela pole position e os três pódios deste ano. Não havia forma de conseguirmos estar no pódio e depois desses três pódios estamos muito felizes. Mas claro que gostaria de ganhar antes do fim da temporada, embora pense que vá ser muito difícil’. Mas seguramente que para o quarto, quinto, sexto lugares, todos estamos muito semelhantes. Em resultados há muitos altos e baixos, mas em rendimento em corrida não estamos muito longe desses pilotos. Vai ser questão de não cometer erros e fazer o máximo aos domingos, mas creio mesmo que temos chances de terminar no top cinco. Mas quem está do quinto até ao 11.º no campeonato neste momento pode acabar nessa posição, pelo que vamos ter de lutar por isso’.

MS: A última vez que tiveste três pódios foi em 2013 e ganhaste o campeonato no Moto2. Onde pensas que podes acabar neste campeonato, na tua última época com a KTM? PE: ‘Matematicamente ainda podemos ganhar o título [risos]. Mas é só uma brincadeira, isso é praticamente impossível porque os pilotos que estão na frente são bastante competitivos, com motos muito competitivas, e enfrentaremos algumas corridas em que eles são mesmo fortes. Aquele top três é quase impossível, embora o possamos matematicamente conquistar. MS: Estiveste em Portimão a experimentar a pista. O que pensas da pista e o que pensas que a KTM pode fazer especificamente nessa pista? PE: ‘Gosto mesmo da pista, é um local diferente de outros locais e isto é algo importante quando enfrentas uma nova pista. Decerto que precisamos de ser rápidos, precisamos de dar um espetáculo, mas divertir-nos também é importante. E tenho a certeza que nos vamos divertir muito porque é ao sobe e desce, muito complicada, muito exigente para o piloto que é muito bom. O que é que a KTM vai ser capaz de fazer lá? Não tenho ideia... Seguramente temos o Miguel [Oliveira], que vai lá ter uma prestação muito boa porque tem pilotado muito em Portimão e conhece a pista melhor do que ninguém. Felizmente temo-lo na equipa, por isso para nós será muito importante seguir as trajetórias dele no início e os dados dele. Além disso, tudo começamos do zero, todos os construtores. Testámos lá com o Dani [Pedrosa], como outras equipas com o [Michele] Pirro, [Sylvain] Guintoli e a Aprilia com o meu irmão [Aleix Espargaró]. Todos começamos do zero, não sabemos ao certo, mas felizmente temos o Miguel que tem informação muito clara, conhece muito bem a pista e vai ter uma boa prestação desde o primeiro treino livre, seguramente’.

MS: Vai ser o Miguel e 20 pilotos... (risos) PE: ‘(Risos) Se fosse assim seria bom, porque temos os dados dele para verificar e melhorar’.

MS: Achas que esta temporada está a definir uma nova era para esta classe? Porque temos jovens

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MS: Foste o primeiro a dar um pódio à KTM e o primeiro a obter uma pole position para a KTM. O que te está a faltar para conseguir aquela vitória? PE: ‘Bem, penso que tivemos a hipótese este ano. Na República Checa, mas infelizmente não consegui acabar a corrida e as hipóteses de lutar pela vitória com o meu colega de equipa, Brad [Binder] eram grandes. Na primeira corrida da Áustria também, mas depois houve a bandeira vermelha. E depois na segunda corrida da Áustria

talentos como o Joan Mir, o Fabio Quartararo, até o Brad Binder. Pensas que esta é uma nova era desta classe? PE: ‘Todos os anos entram jovens pilotos na categoria e elevam o nível da categoria. Aconteceu no passado com o Fabio. Seguramente na minha era com o [Marc] Márquez, comigo, pilotos como o [Andrea] Iannone, o Johann [Zarco], estes pilotos que chegaram na mesma altura do que eu. Agora o Brad está a chegar muito forte, com o Fabio e o Joan Mir. No próximo ano também vão chegar novos pilotos como o Jorge Martín, o [Enea] Bastianini, o [Luca] Marini... . Esta classe está sempre em evolução e o nível é sempre cada vez maior. E para os pilotos como eu que estiveram maior parte do tempo no MotoGP é todos os anos um pouco mais difícil e complicado. Os jovens pilotos chegam e arriscam mais. É duro, não é fácil, mas acaba por ser bom porque isto é o MotoGP e é onde os melhores pilotos precisam de estar. E se não és suficientemente bom precisas de sair. Decerto que o próximo ano será ainda mais duro do que este. Sinto na pele o quão rápidos são estes jovens que chegam como o Miguel ou o Brad e o quão difícil é batê-los. Seguramente no próximo ano chegarão mais deles. Veremos’.

MS: Falaste do Marini. Pareces saber alguma coisa... PE: ‘(Risos) Estou a falar do que a imprensa diz neste momento. Acho que ele está muito bem na equipa, mas ainda não é nada oficial. E tenho um bom relacionamento com o Tito Rabat, por isso quero que ele esteja na Avintia. Mas parece que vai ser um pouco complicado’.

MS: O primeiro pódio do Álex Márquez fez-te sorrir, sabendo que se um rookie consegue obter um pódio, estarás mais perto de lutar pelo topo em 2021? PE: ‘Não sei... não sei. Oxalá signifique que a moto é boa e goste dela. O Álex fez uma corrida fantástica em Le Mans, a par do Johann e do [Álex] Rins foi um dos únicos o pneu médio na frente, foi muito inteligente. Ninguém teve coragem antes da corrida para os usar porque não tivemos muitas oportunidades para experimentar piso molhado em Le Mans - apenas o FP1. Mas ele fê-lo, a moto rendeu bem, mas o piloto também fez um trabalho muito bem. Tenho a certeza que o nível da moto não é mau, mas tens de juntar tudo para fazer os resultados. Neste momento parece que o Marc é o único capaz de o fazer. É por isso que estou interessado em experimentar a moto para ver o que ele está a fazer diferente dos outros e o que eu sou capaz de fazer’.

MS: Sei que fizeste a maior parte do desenvolvimento da moto. Mas pensas que o Dani Pedrosa deu um pequeno extra para colocar a moto onde está agora? PE: ‘Todos, não apenas o Dani. Quando falamos sobre isto, há muitas pessoas envolvidas no projeto. O Dani seguramente tem sido uma parte importante do desenvolvimento, mas também o Mika [Kallio] pilotou muito tempo esta moto com muito esforço, também com a WP que está a usar uma moto para desenvolver a moto. Em conjunto com o Miguel, o Johann no passado - ele não foi bem-sucedido na equipa, mas deu ferramentas para

O mais recente pódio de Pol Espargaró foi no GP de França, à chuva.

melhorar a moto; mesmo se não foi útil para ele, ele disse-nos os pontos fracos da moto e isto também nos ajudou. Este é um trabalho de equipa e penso que a KTM esteve muito bem ao criar esta construção de equipa desde a fábrica, com a equipa satélite e também com a equipa de testes. Juntos construímos uma boa moto. Seguramente o Dani, mas também o Miguel e agora o Iker [Lecuona], ou o Brad, eu. Todos fazem parte deste projeto e é o que é bonito: todos estão a dar opiniões e é por isso que a moto é pilotável, porque todos estão a tentar melhorá-la’.

MS: Muitos pilotos questionaram a relação entre a Michelin e a KTM. Foi o Fabio, o teu irmão, o Álex Márquez... há alguma coisa na relação entre a Michelin e a KTM este ano que esteja longe das outras equipas? PE: ‘Não, não. Quando começas a fazer bons resultados e a moto começa a render bem e uma nova marca como a KTM começa a ganhar corridas ou a fazer pódios, as pessoas começam a falar. E quando as pessoas estão a falar sobre estas coisas sabes que estás a fazer bem o teu trabalho e tens de estar muito orgulhoso. Porque significa que não entendem por que somos tão rápidos e estão a tentar encontrar explicações com coisas ilegais. Quando isto acontece mostra-te que estás num bom nível. Mas é só conversa, é simplesmente divertido ouvir depois do enorme e duro trabalho que esta fábrica tem feito. De certa forma é um grande desrespeito porque diz que estamos a fazer o que estamos a fazer porque alguém nos deu isto, não porque trabalhámos muito para isto. Esforçámo-nos muito para isto e toda a fábrica trabalhou bastante este inverno para obter estes resultados. É por isso que estamos a obter estes resultados, não por mais nada. Todos estamos a usar os mesmos pneus e graças a isso a categoria é tão nivelada neste momento’.

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