Utilização de probióticos na profilaxia e no manejo da candidíase vulvovaginal: revisão sistemática

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Dezembro 2022

Unisinos ISSN: 2764-6556

doi.org/10.4013/issna.2022.21.1

Utilização de probióticos na profilaxia e no manejo da candidíase vulvovaginal: revisão sistemática

The use of probiotics in the prevention and treatment of vulvovaginal candidiasis: systematic review

RESUMO

AUTORES

Sofia Bedinote Madalozzo*

sofia.madalozzo@hotmail.com

Nutricionista. Mestranda em Nutrição e Alimentos (PPG Nutrição e Alimentos, UNISINOS). [*] Autor correspondente

Bruna Pontin bpontin@unisinos.br

Nutricionista. Mestre em Cardiologia (PPG em Ciências da Saúde: Cardiologia do Instituto de Cardiologia, Porto Alegre)

FLUXO DA SUBMISSÃO

Submissão: 19/08/2022

Aprovação: 11/10/2022

CONTATO DA REVISTA

Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Tecnológico em Alimentos para a Saúde – itt Nutrifor. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei. 93022-750, São Leopoldo, RS, Brasil.

Contato principal: Prof. Dr. Juliana de Castilhos. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Alimentos. E-mail: revistappgna@unisinos.br.

DISTRIBUÍDO SOB

A candidíase vulvovaginal (CVV) é uma infecção genital feminina frequente que afeta 75% mulheres e que ocorre pelo menos uma vez nas suas vidas. As manifestações clínicas mais comuns são dor em queimação, além de prurido e irritação da vulva, com desconforto que pode levar a disúria e dispareunia em casos mais graves. Eritema vulvar e vaginal, edema e fissuras também são comumente encontrados. Os estudos demonstram que a utilização de probióticos orais associados a terapia medicamentosa convencional pode reduzir sinais e sintomas de CVV em mulheres adultas. O objetivo desse trabalho foi revisar sistematicamente na literatura os efeitos dos probióticos na prevenção e no manejo da candidíase vulvovaginal.

Palavras-chave: probióticos; candida albicans; candidíase vulvovaginal; candidíase vaginal; fungo vaginal

RESUMO GRÁFICO

| 1 | INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS | V. 1 - Nº 2 | DEZEMBRO 2022
REVISÃO

APLICABILIDADE

Os apontamentos trazidos nos resultados e discussão trazem a luz novas perspectivas de tratamentos adjuvantes a candidíase vulvovaginal.

[1] Introdução

Acandidíase vulvovaginal (CVV) é uma infecção genital feminina frequente que afeta 75% mulheres e que ocorre pelo menos uma vez nas suas vidas. Dentre todos os casos, estima-se que aproximadamente 50% das mulheres são infectadas pela segunda vez e que 5% sofram de candidíase recorrente, que é quando ocorre quatro ou mais episódios em um ano (CAMPINHO; SANTOS; AZEVEDO, 2019). A maioria dos casos (90%) ocorre por Candida Albicans (C. Albicans), um hospedeiro comensal ou patógeno naturalmente presente na vagina, e o tratamento usual é feito com antifúngicos orais ou tópicos. Estima-se que a CVV seja a segunda infecção vaginal mais comum, ficando atrás apenas da vaginose bacteriana (GIL et al., 2010; SOBEL, 2007).

Todas as mulheres possuem espécies de Candida no trato vulvovaginal, porém só se tornarão patogênicas quando ocorrer alteração do meio e houver proliferação exacerbada deste microrganismo na microbiota vaginal (FIDEL, 2002). Dentre os fatores de risco associados a CVV estão gravidez, diabetes, uso de contraceptivos orais com alta dose de estrogênio, além do uso de preservativos, espermicidas (DOVNIK et al., 2015a), antibióticos (DE HOLANDA et al., 2007) e dispositivo intrauterino (BARRENETXEA ZIARRUSTA, 2002). Ademais, relações sexuais e uso de roupas íntimas sintéticas justas também são fatores de risco (DOVNIK et al., 2015a).

Os sintomas da CVV são inespecíficos e podem estar associados a outras doenças, tais como vaginose bacteriana e gonorreia. As manifestações clínicas mais comuns são dor em queimação, além de prurido e irritação da vulva, com desconforto que pode levar a disúria e dispareunia em casos mais graves. Eritema vulvar e vaginal, edema e fissuras também são comumente encontrados (DOVNIK et al., 2015a). Além disso, a CVV e a CVV recorrente (CVVR) afetam a qualidade de vida e a saúde mental e sexual dessas mulheres (BLOSTEIN et al., 2017).

O tratamento da CVV tradicionalmente envolve o uso de agentes tópicos ou orais, que podem ser administrados a curto ou a longo prazo, dependendo do caso. O tratamento de curto prazo ou o tratamento oral de dose única são eficazes para o tratamento de 90% dos

casos não complicados. As terapêuticas mais utilizadas são os azóis locais por até 3 dias e em geral os sintomas desaparecem 2 ou 3 dias após o início da terapêutica. Vários agentes locais com efeitos semelhantes estão disponíveis, incluindo fluconazol, clotrimazol, butoconazol e miconazol. Os agentes que são usados em curto prazo contêm doses mais altas de medicamento antifúngico, permitindo concentrações mais altas para efeito inibitório mais duradouro (DOVNIK et al., 2015b). Já nos casos de mulheres saudáveis que são assintomáticas, não é necessário fazer o tratamento (AGUIN; SOBEL, 2015; SOBEL, 2007).

Nos últimos anos, diversos estudos avaliaram a relação do uso de antibióticos e antifúngicos na CVV e pesquisadores observaram que o uso destes fármacos se associou com casos de CVV de repetição (FIDEL, 2002; SOBEL, 2007),. O tratamento mais comum é o antifúngico, o qual pode levar a disbiose vaginal, causando assim, mais casos de repetição de CVV. Além disso, a Candida pode se tornar resistente às drogas utilizadas para o seu tratamento (POUPET et al., 2019). Assim, devido a elevada taxa de recorrência de candidíase vulvovaginal e aumento da resistência aos antifúngicos tradicionalmente usados no manejo desta condição, pesquisas têm sido conduzidas com o intuito de avaliar métodos terapêuticos alternativos, incluindo o uso oral de probióticos (DAVAR et al., 2016; GONÇALVES et al., 2016; RUSSO et al., 2019; VLADAREANU et al., 2018),. Embora haja muitos pontos que ainda sejam deconhecidos sobre o efeito dos probióticos à saúde humana, alguns estudos tem apontado que a sua utilização pode ser útil no manejo e na profilaxia da CVV (RUSSO et al., 2019). No entanto, permanecem incertas quais cepas e quais dosagens seriam necessárias para o manejo desta condição. Desta forma, o objetivo desta pesquisa foi revisar sistematicamente na literatura quais são os microrganismos probióticos com potencial efeito na prevenção e no manejo da candidíase vulvovaginal, bem como identificar dosagem e forma de administração mais efetivas.

[2] Metodologia

Esta revisão sistemática foi conduzida de acordo com as recomendações do “Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analysis” (PRISMA), emitido em 2009 (ANEXO A).

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[2.1] Critérios de elegibilidade, fontes de informação e busca

Para a seleção dos estudos, uma busca sistemática da literatura foi realizada nas seguintes bases de dados: PubMed, Biblioteca Regional de Medicina (Bireme), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (Medline) e Scielo. Para delimitação da pesquisa, foram utilizados os seguintes termos: Candidiasis, Vulvovaginal OR Candidiasis, Genital OR Candidiasis, Genital Vulvovaginal OR Genital Candidiasis OR Genital Vulvovaginal Candidiasis OR Infection, Vaginal Yeast OR Infections, Vaginal Yeast OR Monilial Vaginitis OR Moniliasis, Vulvovaginal OR Vaginal Yeast Infection OR Vaginal Yeast Infections OR Vaginitis, Monilial OR Vulvovaginal Candidiasis OR Vulvovaginal Candidiasis, Genital OR Vulvovaginal Moniliasis OR Yeast Infection, Vaginal OR Yeast Infections, Vaginal AND Probiotics. Foram considerados elegíveis para inclusão nesta revisão sistemática ensaios clínicos randomizados que tenham avaliado o efeito do uso de probióticos na prevenção e no manejo da Candidíase Vulvovaginal, conduzidos em mulheres adultas (acima de 18 anos de idade). Ainda, foram incluídos estudos publicados nos últimos 10 anos (23 de julho de 2011 a 23 julho de 2021) nos idiomas inglês, português ou espanhol, independente do formato de publicação (impresso, online ou em progresso).

[2.2] Seleção dos estudos e processo de coleta de dados

Os estudos identificados através da estratégia de busca foram avaliados de forma independente por dois pesquisadores e discordâncias quanto à exclusão ou inclusão foram resolvidas em consenso. A fase inicial de seleção dos artigos incluiu análise de título e resumo, seguida de leitura na íntegra dos estudos que preenchiam os critérios de elegibilidade. Com o objetivo de facilitar a coleta de dados e determinar a inclusão e exclusão dos estudos com maior confiabilidade, os dados dos estudos foram tabulados em planilha de Excel que incluía referência, ser ou não randomizado, amostra, tratamento utilizado, controle/placebo utilizado, duração da intervenção, variáveis analisadas e desfechos.

[3] Resultados

A revisão sistemática inicialmente gerou um total de 13 artigos. Após análise de título e resumo, 4 artigos foram selecionados para leitura na íntegra, sendo que 1 deles foi excluído. Assim, fazem parte dessa revisão sistemática 3 pesquisas. A Figura 1 apresenta as etapas de seleção dos artigos.

Todos os artigos incluídos nesta pesquisa são randomizados. Os anos de publicação variaram entre 2016 a 2019. O número amostral variou de 48 a 93 participantes. O microrganismo predominantemente utilizado nos estudos foi Lactobacillus acidophilus (2 estudos). O tempo de intervenção variou de 90 a 180 dias. Nenhum estudo relatou efeitos colaterais associados a terapêutica implementada. Os resultados encontrados estão sintetizados na Tabela 1 em ordem cronológica.

[3.1] Uso de Probióticos e Recorrência de CVV

Nessa revisão sistemática dois estudos avaliaram a recorrência de CVV com o uso de probióticos. Davar et al. 2016 utilizaram 1 dose de 150 mg fluconazol + 2 cápsulas contendo um mix de Lactobacillus acidophilus, Bifidobacterium bifidum e Bifidubacterium longum e observaram que a frequência de recorrência de CVV foi significativamente maior no grupo placebo (35,5%) do que no grupo tratado (7,2%; p=0.01). Já no estudo de Russo et al. 2019, houve 100% de recorrência no grupo placebo vs 29,2% no grupo que utilizou probióticos. O tratamento consistia em duas fases: na 1ª fase foi utilizado Clorimazol 100mg por 7 dias + 2 cápsulas de RESPECTA® (Lactobacillus 5X5X109 UFC/Cap, incluindo Lactobacillus acidophilus GLA-14 e Lactobacillus rhamnosus HN001 + 50mg lactoferrina bovina RCX ™) por 5 dias. Nos 10 dias consecutivos, as mulheres do grupo tratado foram orientadas a reduzir a dose para 1 cápsula ao dia. Por fim, após 6 meses, ocorreu a 2ª fase do estudo, na qual todas as mulheres ingeriram 1 cápsula de RESPECTA® por 10 dias.

[3.2] Uso de Probióticos, Sinais e Sintomas de CVV

[2.3]

Risco de viés e avaliação da qualidade de evidência

Os ensaios clínicos foram avaliados individualmente quanto à qualidade metodológica (risco de viés) seguindo a ferramenta da Cochrane RoB 2.0 (Revised Cochrane risk-of-bias tool for randomized trials) (STERNE et al., 2019).

Dois estudos avaliaram os sinais de sintomas de CVV e o uso de probióticos. Os principais sinais e sintomas avaliados foram inchaço, coceira e corrimento vaginal. Vladareanu et al. 2018 encontraram melhora significativa da vermelhidão e inchaço nos 45 e 90 dias com o uso de probióticos quando comparado ao placebo. Neste estudo foi utilizado 1 cápsula de Lactobacillus plantarum P17630 (5x109 UFC/Cap) durante 15 dias, com pausa nos 15 dias subsequentes, totalizando 3 ciclos de 90 dias. RUSSO et al. 2019 também

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Nenhum estudo relatou efeitos colaterais associados a terapêutica implementada. Os 109 resultados encontrados estão sintetizados na Tabela 1 em ordem cronológica. 110 111 112

FIGURA 1

Diagrama de fluxo dos estudos incluídos na análise

Identificação

Estudos identificados no banco de dados de buscas (n = 13)

Estudos excluídos por: Duplicata (n=3) Tratamento Local (n=2) Análise de microbiota (n=2) Outros motivos (n=2)

Estudos adicionais identificados em outras fontes de dados (n =0 )

Elegibilidade

Estudos após análise de título e resumo (n = 4)

Estudo excluído, pois apenas avaliou a microbiota vaginal (n =1 )

Inclusão

Leitura na íntegra e incluídos nessa pesquisa (n = 3)

Figura 1 - Diagrama de fluxo dos estudos incluídos na análise 113 114 115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139

Fonte: elaborada pelo autor 140

FONTE: elaborada pelo autor

avaliaram sinais e sintomas de CVV, como corrimento vaginal e coceira. No que diz respeito a coceira, em 3 meses 70,8% das mulheres que foram tratadas com probióticos não apresentaram este sintoma vs 8,3% no placebo. Em 6 meses, a grande maioria das mulheres (83,3%) do grupo tratado com probióticos não apresentou coceira, ao passo que todas as mulheres do grupo placebo tiveram o sintoma. Considerando o corrimento vaginal, nos 6 meses 70,8% das mulheres utilizando o tratamento com probióticos não tiveram corrimento vs 20,8% do placebo.

A Figura 2 ilustra de maneira sumarizada a avaliação quanto à qualidade metodológica (risco de viés) dos ensaios clínicos. O estudo de Vladareanu et al. 2018 apresentou risco de viés, pois há incompleta descrição dos resultados, logo o estudo foi classificado como sendo de alto risco. Os estudos de Davar et al. 2016 e Russo et al. 2019 foram classificados como de baixo risco de viés.

[4] Interpretações

O objetivo deste trabalho foi revisar sistematicamente na literatura os efeitos dos probióticos na prevenção e no manejo da CVV, identificar a forma de administração mais eficaz para o manejo desta condição, além de determinar a dosagem e as cepas de probióticos consideradas eficazes e descrever possíveis efeitos colaterais.

Este trabalho possibilitou o reconhecimento dos principais microrganismos probióticos que vem sendo estudados para a profilaxia e manejo da CVV, sendo eles Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus rhamnosus, Bifidobacterium bifidum e Bifidubacterium longum, variando o tempo de tratamento entre 90 a 180 dias. Todos os estudos utilizaram probióticos em cápsulas por via oral como forma de administração, nas seguintes dosagens: Lactobacillus plantarum P17630 5x109 UFC/cap, Lactobacillus acidophilus 7,5X109 UFC/cap,

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2

Autor e ano Amostra (n), média de idade

DAVAR et al. 2016 (DAVA R et al., 2016)

n=59 (28 grupo tratado; 31 grupo placebo)

Idade média grupo tratamento=2 8 anos; Idade média grupo placebo=31 anos

VLADA REANU et al. 2018 (VLAD AREAN U et al., 2018)

n=93 (52 grupo tratado; 41 grupo placebo) Idade média dos grupos= 33 anos

RUSSO, F. C. et al. (RUSSO et al., 2019)

n=48 (24 grupo tratado; 24 grupo placebo)

Idade média grupo tratamento=3 4,3; Idade média grupo placebo= 36,5;

TABELA 1

Características dos ensaios clínicos selecionados

Intervenção Controle / Placebo Tempo de seguimento Desfecho(s) avaliado(s)

1 dose de 150mg fluconazol + 2 capsulas ProDigest (Lactobacillus acidophilus -7,5 X 109 UFC/Cap + Bifidobacterium bifidum - 6X 109 UFC/Cap + Bifidubacterium longum - 1,5 X 109 UFC/Cap ) por 10 dias

1 cápsula de Lactobacillus plantarum P17630 (5x109 UFC/Cap) por 15 dias e pausa subsequente de 15 dias; Total: 3 ciclos em 90 dias

150mg fluconazol + 2 cápsulas placebo

1ª fase: Clorimazol 100 mg por 7 dias + 2 cápsulas RESPECTA® (Lactobacillus 5X109 UFC/Cap incluindo Lactobacillus acidophilus GLA14 e Lactobacillus rhamnosus HN001 + lactoferrina bovina RCX ™ (50 mg) por 5 dias. Nos 10 dias subsequentes,

receberam 1 cápsula por dia. 2ª fase: após 6 meses todas as mulheres ingeriram 1 cápsula de RESPECTA® por 10 dias.

1 cápsula placebo durante por 15 dias e pausa subsequente de 15 dias; Total: 3 ciclos em 90 dias

Principais Resultados

6 meses CVV recorrente Do 1º ao 4º mês não houve recorrência de CVV no grupo probiótico, apenas no 5º e no 6º mês com 1 caso em cada mês (3,6%). Já no grupo placebo, houve 2 casos de CVVR no 1º mês (6,5%), 3 casos (9,6%) no 2º mês, 2 casos (6,5%) no 3º mês, nenhum caso no 4º e 5º mês, já no 6º mês foi observado 4 casos (12,9%). O grupo probiótico apresentou menor recorrência de CVV do que o grupo placebo em análise que compara o início e o final do estudo.

Não houve efeitos adversos durante o estudo.

Fonte: elaborada pelo autor

1ª fase: Clorimazol 100 mg por 7 dias + 2 cápsulas placebo por 5 dias. Nos 10 dias consecutivos receberam 1 cápsula por dia. 2ª fase: após os 6 meses todas as mulheres ingeriram 1 cápsula placebo por 10 dias.

90 dias Sinais (vermelhidão vaginal, inchaço, coceira) e sintomas (coceira, sentimento de queimação vaginal, dor na relação sexual e disúria)

6 meses corrimento vaginal, coceira, taxa geral de cura e taxa de recorrência

Houve melhora significativa dos sinais de vermelhidão em ambos os grupos: o tratamento foi mais eficaz do que o placebo nos dias 45 e 90 (p=0,0006; p=0,001 respectivamente). O mesmo ocorreu com os sinais de inchaço nos dias 45 e 90 (p=0,0002; p=0,0002 respectivamente). Não houve efeitos adversos durante o estudo.

**Coceira**

Em 3 meses: remissão da coceira em 70,8% das mulheres do grupo tratado vs 8,3% no grupo placebo (p<0,01).

Em 6 meses: remissão total da coceira em 83,3% das mulheres do grupo tratado vs 0% no grupo placebo (p<0,01).

**Corrimento Vaginal**

Em 1 semana: ausência de corrimento vaginal em ambos os grupos

Durante a 2a semana e 1º mês (após o término do uso de antifúngico): algumas mulheres tiveram corrimento vaginal nesse período, porém não houve diferença entre os grupos.

Em 3 meses: 66,7% no grupo tratado não tiveram corrimento vs 8,3% no grupo placebo (p=<0,01).

Em 6 meses: 70,8% no grupo tratado não tiveram corrimento vs 20,8% no grupo placebo (p=<0,01).

**Taxa Geral de Cura** Na 2ª fase, no grupo tratamento houve remissão dos sintomas coceira e corrimento. A taxa da de melhora no 3º mês foi de 66,7% no grupo tratado vs 8,3% no placebo (p<0,01) e no 5º mês foi de 70,8% no grupo tratado e 0% no placebo (p<0,01).

**Taxa de Recorrência**

Em 3 meses: a taxa de recorrência foi de 33,3% no grupo tratado vs 91,7% no placebo (p<0,01).

Em 6 meses: a taxa de recorrência foi de 29,2% no grupo tratado vs 100% no placebo (p<0,01).

Não houve efeitos adversos durante o estudo.

FONTE: elaborada pelo autor

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Tabela 1 – Características dos ensaios clínicos selecionados

Bifidobacterium bifidum 6X109 UFC/cap, Bifidubacterium longum 1,5X109 UFC/cap e Lactobacillus 5X109 UFC/cap Lactobacillus acidophilus GLA-14 e Lactobacillus rhamnosus, de forma isolada ou combinada e na maioria dos estudos, acompanhados da terapia médica convencional. Nenhum estudo incluído nesta revisão utilizou as mesmas dosagens nem a mesma formulação de probióticos. Em relação a recorrência de CVV, RUSSO et al. concluíram que o uso de probióticos (Lactobacillus acidophilus GLA-14, Lactobacillus rhamnosus HN001) associado a antifúngico e lactoferrina bovina RCX™ reduziu significativamente a taxa de recorrência de CVV, porém esse resultado se mostrou tardio. É possível que os autores tenham chegado a esta conclusão visto que os resultados só apareceram após pelo menos 45 dias de intervenção com probióticos. Esta conclusão dos autores não surpreende, visto que há evidências na literatura que descrevem que os probióticos podem levar 8 a 16 semanas para reconstruir a microbiota(RIBEIRO et al., 2020). Já DAVAR et al. 2016 demonstraram que a utilização de probióticos associado a antifúngicos azólicos pode ser eficaz para diminuir a taxa de recorrência de CVV. Por fim, estes dois grupos de pesquisadores apresentaram resultados importantes sobre o uso de probióticos no mesmo tempo de estudo, porém com posologia, medicações e cepas de probióticos diferentes.

No que tange os sinais e sintomas, Vladareanu et al. 2018 afirmam que o uso de probióticos pode ser uma terapia alternativa para o manejo dos sinais e sintomas relacionados a CVV. RUSSO et al. 2019, através do uso de antifúngico combinado com Lactobacillus acidophilus GLA-14, Lactobacillus rhamnosus HN001 e lactoferrina bovina RCX™ observaram maior remissão dos sinais e

sintomas de coceira e corrimento vaginal nas mulheres tratadas e descreveram que os seus resultados podem estar relacionados aos potenciais efeitos antiinflamatórios e imunomoduladores de lactobacilos e lactoferrina utilizados de forma combinada.

O provável mecanismo que envolve a utilização de probióticos no manejo e profilaxia de CVV ainda não está totalmente elucidado. Há evidência de que várias espécies do gênero Lactobacillus apresentam atividade anti-Candida, provavelmente por inibição direta, por competição por sítios de adesão ou produção de metabólitos secundários, e por inibição indireta, por estimulação do sistema imunológico de seu hospedeiro. No entanto, os mecanismos de inibição desses probióticos em espécies de Candida ainda não foram completamente esclarecidos, uma vez que este efeito está relacionado a mais de uma via de inibição. Recente revisão bibliográfica descreve que diversos estudos in vitro e in vivo têm sido desenvolvidos visando elucidar os mecanismos de ação dos probióticos. Esses estudos têm se concentrado em ensaios de inibição de C. Albicans, incluindo análise de atividade antimicrobiana, capacidade de aderência, formação de biofilmes, filamentação e interferência em genes de virulência(SANTOS et al., 2019). Por fim, nenhum dos estudos incluídos neste trabalho relatou efeitos colaterais indesejáveis com o uso de probióticos, este resultado era esperado visto que a suplementação de probióticos em adultos é segura(SUEZ et al., 2019).

Esta pesquisa apresenta limitações. Primeiramente, apenas 3 artigos atenderam os critérios de elegibilidade. Além disso, a escolha dos probióticos, suas dosagens e o tempo de tratamento não foram uniformes entre as investigações, bem como os instrumentos de avaliação

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FIGURA 2 Ferramenta da Colaboração Cochrane para avaliação do risco de viés FONTE: elaborada pelo autor

dos desfechos também não foram os mesmos. Por exemplo, Vlandareanu et al. 2018 utilizaram a escala de 1 a 4 (1= sem sintomas, 2= sintomas suaves, 3= sintomas médios, 4= sintomas severos) para definir a gravidade dos sintomas, já RUSSO et al. 2019 apenas determinaram apenas a presença ou ausência dos sintomas. Por este motivo, não foi possível a realização de uma metanálise.

[5] Conclusão

Embora não seja possível determinar quais são os probióticos mais efetivos para o manejo da CVV e a profilaxia da recorrência desta condição, nem qual a dosagem correta e qual o tempo de tratamento mais eficaz, este estudo identificou os principais microrganismos probióticos utilizados para tratar esta condição, sendo eles: Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus plantarum,

Lactobacillus rhamnosus, Bifidobacterium bifidum e Bifidubacterium longum. Aparentemente, a sua prescrição por via oral (cápsulas) por um período de 3 meses a 6 meses auxilia no manejo da CVV e na profilaxia da recorrência desta condição. Ainda, é provável que a utilização de múltiplos probióticos de maneira combinada seja mais efetiva. Não há relatos de efeitos adversos associados ao uso de probióticos no tratamento de CVV. Décadas de ensaios clínicos forneceram base para ampla gama de probióticos (cepa única ou misturas de múltiplas cepas), porém determinar a cepa ou mistura de probióticos mais apropriada para o manejo de cada condição clínica, em cada paciente, é um enorme desafio que envolve muitos fatores. Desta forma, ressalta-se a necessidade de mais estudos que auxiliem a determinar qual a dosagem e a combinação mais efetivas (cepa única ou mistura de múltiplas cepas) de probióticos no manejo da CVV.

REFERÊNCIAS

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