ARTIGO TÉCNICO
1(1): 8-17 Maio 2022 Unisinos ISSN: 2764-6556
doi.org/10.4013/issna.2022.11.2
AUTORES Victória Freitas de Carvalho [1] Ana Beatriz Cauduro Harb [2] Adriana da Silva Lockmann [3] Estela Scariot [4] Ramona Vidori [5] Caroline Buss [6] Denise Zaffari [7] * [1] Bacharel em Nutrição, Curso de Nutrição, Universidade do Vale do Rio do Sinos - Porto Alegre (RS) - vic.carvalho99@ gmail.com. ORCID: orcid.org/0000-0003-0825-9992. [2] Professora do Curso de Nutrição, Universidade do Vale do Rio do Sinos - Porto Alegre (RS) - anaharb@unisinos.br. ORCID: orcid.org/0000-0003-4407-5314. [3] Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre - Porto Alegre (RS) e Nutricionista, Responsável Técnica do Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul – Porto Alegre RS - adriana.lockmann@bancodealimentosrs.org.br. ORCID: orcid.org/0000-0003-0982-0059. [4] Mestre em Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre Porto Alegre (RS) - estela_scariot@hotmail.com. ORCID: orcid. org/0000-0002-2675-0614. [5] Bacharel em Nutrição, Curso de Nutrição, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre - Porto Alegre (RS) - nutricionistaramonavidori@ gmail.com. ORCID: orcid.org/0000-0002-3320-7273. [6] Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre - Porto Alegre (RS) - carolinebuss@ufcspa.edu. br. ORCID: orcid.org/0000-0002-0916-3127. [7] Professora do Programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Nutrição e Alimentos, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - São Leopoldo - RS e Coordenadora do Projeto Social Banco de Alimentos/Unisinos, Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Porto Alegre (RS) - zaffari@unisinos.br. [*] Autor correspondente. ORCID: orcid.org/0000-0003-4342-0083.
FLUXO DA SUBMISSÃO Submissão: 08/03/2022 Aprovação: 04/04/2022
Associação da qualidade da dieta de idosos com variáveis sociodemográficas econômicas, antropométricas e de saúde Association of diet quality in the elderly with socio-demographic, economic, anthropometric and health variables
RESUMO A alimentação de idosos pode se alterar pelo envelhecimento, provocar riscos nutricionais e aumentar o risco de comorbidades e mortalidade. Métodos: Estudo transversal que avaliou a associação entre a qualidade da dieta (QD) de 59 idosos com variáveis sociodemográficas, econômicas, antropométricas e de saúde. Resultados: Palavras-chave: Boa QD foi encontrada em 83,1% dos idosos Nutrição do Idoso. Idosos. e, destes, 91,8% sem perda de massa magra, Estado Nutricional. 34,7% eutróficos e 57,1% com excesso de peso. Comportamento Alimentar. Não houve associações entre a QD com o sexo, renda, risco cardiovascular, Índice de Massa Corporal e circunferência da panturrilha. Entre os idosos ativos, 91,9% tinham boa QD e houve associação significativa entre estas variáveis, quando comparados com os idosos sedentários.
CONTATO DA REVISTA Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Tecnológico em Alimentos para a Saúde – itt Nutrifor. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei. 93022-750, São Leopoldo, RS, Brasil. Contato principal: Prof. Dr. Valmor Ziegler. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Alimentos. E-mail: revistappgna@unisinos.br.
DISTRIBUÍDO SOB
APLICABILIDADE A aplicabilidade envolve o conhecimento gerado sobre a QD dos idosos vinculados ao Banco de Alimentos do RS. A QD, embora tenha sido adequada na grande maioria, os idosos ativos apresentaram melhor QD, quando comparados com os sedentários. Os resultados deste trabalho trouxeram informações para o planejamento e execuções de ações de educação em saúde, como prática de atividade física orientada, dinâmicas de educação alimentar e nutricional e outras que possam contribuir na melhoria da qualidade de vida desta população.
|
8
|
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS
|
V. 1 - Nº 1
|
MAIO 2022
| CARVALHO ET AL | ASSOCIAÇÃO DA QUALIDADE DA DIETA DE IDOSOS COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS ECONÔMICAS, ANTROPOMÉTRICAS
RESUMO GRÁFICO
[1] Introdução
do envelhecimento e aos aspectos econômicos e sociais, aumentam a prevalência de doenças cardíacas, dislipidemias, hipertensão, diabetes e vários tipos de câncer (BATISTA et al, 2008; BRASIL, 2014). Por outro lado, a desnutrição também é prevalente na população idosa, gerando, do mesmo modo, diversos prejuízos na qualidade de vida (OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2010). A depleção nutricional pode ocorrer pela insuficiente ingestão energética, por alterações metabólicas, má digestão e/ou absorção, além de um possível aumento na excreção de nutrientes essenciais (SERGI et al., 2017; TEK, KARACIL-ERMUMCU, 2018). Importante salientar que a qualidade da dieta dos idosos no nosso meio é, ainda, pouco conhecida. Araújo et al., (2021), a partir de uma revisão integrativa da literatura, avaliaram 18 estudos transversais, sendo dois de base populacional. Nestes estudos, os instrumentos utilizados para a realização da avaliação da qualidade da dieta incluíram Questionário de Frequência Alimentar (44,4%), Recordatório Alimentar de 24 horas (33,3%) e Índices Dietéticos (ID), desenvolvidos para avaliar a qualidade da dieta de uma população segundo os guias dietéticos (22,22%). Os resultados deste estudo sinalizaram que a alimentação dos idosos foi considerada monótona, com pouca variação e, portanto, com tendência à inadequação. Além disso, foram observados padrões alimentares não saudáveis, ricos em alimentos processados, com alta densidade calórica; inadequados em proteínas, vitaminas e minerais, principalmente vitaminas A, D, E, piridoxina, tiamina, cálcio, magnésio, zinco e cobre e, ainda com elevado teor de sódio. Diante este contexto, e considerando a vulnerabilidade socioeconômica dos idosos vinculados às Instituições cadastradas no Banco de Alimentos do Rio Grande do Sul (RS), (a grande maioria aposentados, em situações
O
envelhecimento humano é um fenômeno global estando ligado a inúmeros fatores, como a transição demográfica que compreende a redução das taxas de mortalidade e a queda nas de natalidade, além do aumento da expectativa de vida da população (MIRANDA et al., 2016; SOUZA, 2010). O número de idosos tem aumentado consideravelmente, sendo previsto um aumento de 22% até o ano de 2050 (OPAS, 2015). A qualidade da alimentação dos idosos pode sofrer alterações devido aos processos fisiológicos causados pelo envelhecimento e por fatores econômicos e sociais, o que pode levar a riscos nutricionais (KAC et al., 2007; DONINI et.al., 2013; DUARTE, 2007; KABURAGI et al., 2011; COSTA et al., 2021). Além disso, ocorre a redução da absorção de nutrientes, que pode estar relacionada à polifarmácia e à presença de patologias. O elevado consumo de alimentos ultraprocessados e o baixo nível de atividade física, colaboram, também, para desfechos negativos que podem levar à má nutrição, à piora da qualidade de vida e aumentar o risco de ocorrência de comorbidades e de mortalidade (BRASIL, 2011). O estado nutricional pode ser um preditor da qualidade de vida dos idosos (NASABIAN et al., 2017). A relação entre a má nutrição e o aumento da expectativa de vida aumenta a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), gerando comprometimento da qualidade de vida dos idosos (GOULART, 2011). No Brasil, os fatores de risco associados às DCNT incluem o sedentarismo, o baixo consumo de frutas e vegetais e a ingestão de alimentos com altos teores de gordura e açúcar (BRASIL, 2011; IBGE, 2011; IBGE, 2020). Esses hábitos alimentares, associados aos fatores fisiológicos
|
9
|
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS
|
V. 1 - Nº 1
|
MAIO 2022
| CARVALHO ET AL | ASSOCIAÇÃO DA QUALIDADE DA DIETA DE IDOSOS COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS ECONÔMICAS, ANTROPOMÉTRICAS
de vulnerabilidade social e afiliados a Associações Comunitárias), este estudo teve o objetivo de avaliar a associação entre a qualidade da dieta (QD) destes idosos com variáveis sociodemográficas, econômicas, antropométricas e de saúde.
de atividade física (caminhada, natação, vôlei, pilates, hidroginástica etc.), foi considerada quando essa atividade era realizada, pelo menos, 1 vez na semana. O risco cardiovascular foi avaliado pela circunferência abdominal (CA) e a massa magra pela circunferência da panturrilha (CP). Os valores considerados adequados para CA (sem risco), de acordo com a Federação Internacional de Diabetes (2006), são ≥90 cm para homens e ≥80 cm para mulheres. Em relação à CP, os valores utilizados como pontos de corte para homens foram 33 a 34 cm e para as mulheres 31 a 35 cm (PAGOTTO et al.). O presente estudo foi aprovado pelo CEP da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, sob o Parecer n° 4.614.012. A análise estatística foi realizada através do programa SPSS versão 21.0. As variáveis quantitativas foram descritas por média e desvio padrão e as categóricas por frequências absolutas ou relativas. Para avaliar as associações entre as variáveis, os testes qui-quadrado de Pearson e exato de Fisher foram utilizados. O nível de significância adotado foi de 5% (p<0,05).
[2] Metodologia Este estudo transversal utilizou dados secundários de indivíduos de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 60 anos que participaram de grupos de convivência em Instituições atendidas pelo Banco de Alimentos do RS. As informações coletadas incluíram variáveis, sociodemográficas, econômicas, antropométricas, dados de saúde e a QD, avaliada pelo Índice de Qualidade da Dieta dos Idosos (IQD-I) (GOMES; SOARES; GONÇALVES, 2016). O IQD-I é um índice que avalia as frequências de consumo semanal de cada grupo de alimentos, a partir da aplicação prévia de um Questionário de Frequência Alimentar. A pontuação total do IQD-I pode variar de 0 até 33 pontos, sendo uma maior pontuação sugestiva de maior frequência de consumo de alimentos mais saudáveis e menor frequência de consumo de alimentos não saudáveis. A pontuação total do IQD-I é dividida em tercis, com a seguinte classificação: 1° tercil (menor pontuação, baixa qualidade da dieta); 2° tercil (qualidade intermediária da dieta) e 3° tercil (maior pontuação, boa qualidade da dieta) (GOMES; SOARES; GONÇALVES, 2016). A renda familiar foi categorizada pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), a partir de critérios que estimam a classe social da população brasileira de forma decrescente de A até E. Os dados de saúde foram autorrelatados e a prática
1
[3] Resultados Foram analisados dados de 59 idosos, com média de idade de 70,4 anos, 89,8% mulheres, 81,4% da cor branca e 39% viúvos. No que diz respeito à renda e a escolaridade, 49,2% foram classificadas na categoria B e 37,3% possuíam ensino médio completo. Sobre o estilo de vida e saúde, 76,3% não fumavam, 62,7% praticavam alguma atividade física, 88,1% e 76,3% usavam algum tipo de medicação e tinham alguma comorbidade, respectivamente. Na tabela 1 estão descritas as características sociodemográficas da amostra.
Tabela 1- Caracterização sociodemográfica TABELA 1da amostra.
Caracterização sociodemográfica da amostra
2 Variáveis
Amostra Total N=59 Média ± DP
Idade (anos)
70,4 ± 6,6
Sexo
n (%)
Feminino
53 (89,8)
Masculino
6 (10,2)
Estado civil Casado Solteiro
20 (33,9) |
10
Divorciado
7 (11,9)
|
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS
|
V. 1 - Nº 1
|
MAIO 2022
9 (15,3)
| CARVALHO ET AL | Sexo n (%) ASSOCIAÇÃO DA QUALIDADE DA DIETA DE IDOSOS COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS ECONÔMICAS, ANTROPOMÉTRICAS
Feminino
53 (89,8)
Masculino
6 (10,2)
Estado civil Casado
20 (33,9)
Solteiro
7 (11,9)
Divorciado
9 (15,3)
Viúvo
23 (39,0)
Cor da pele Branco
48 (81,4)
Não branco
11 (18,6)
Grau de instrução Analfabeto/ Fundamental I incompleto/ Primário incom-
5 (8,5)
pleto Fundamental I completo/ Fundamental II incompleto/ Pri-
11 (18,6)
mário completo (4 anos) / Ginásio incompleto Fundamental completo/ 1ºgrau completo/ Médio incom-
7 (11,9)
pleto/ Ginásio completo (8 anos) / Colegial incompleto Médio completo/2ºgrau completo/ Superior incompleto/
22 (37,3)
Colegial completo (11 a 12 anos) / Superior incompleto Superior completo
14 (23,7)
Tabagista Não
45 (76,3)
Sim
3 (5,1)
Ex tabagista
11 (18,6)
Prática de atividade física Não
22 (37,3)
Sim
37 (62,7)
Uso de medicamentos Não
7 (11,9)
Sim
52 (88,1)
Presença de comorbidades Não
14 (23,7)
Sim
45 (76,3)
Classificação ABEP A
1 (1,7)
B1
9 (15,3)
B2
|
11
INOVAÇÃO C1 E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS
C2
20 (33,9)
|
|
V. 1 - Nº 1
|
MAIO 13 2022 (22,0)
13 (22,0)
Sim
52 (88,1)
| CARVALHO ET AL | Presença de comorbidades ASSOCIAÇÃO DA QUALIDADE DA DIETA DE IDOSOS COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS ECONÔMICAS, ANTROPOMÉTRICAS
Não
14 (23,7)
Sim
45 (76,3)
Classificação ABEP A
1 (1,7)
B1
9 (15,3)
B2
20 (33,9)
C1
13 (22,0)
C2
13 (22,0)
D/E
3 (5,1)
3 4
FONTE: ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa
ABEP = Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa
5
O excesso de peso foi observado em 61,1% dos idosos, sendo 6destes 47,5% classificados com obesidade. A média da CA foi 95,6 cm e 74,6% apresentaram risco cardiovascular. Em relação à CP, a média encontrada
7
foi de 37,4 cm e 93,2% apresentaram CP adequada em relação ao sexo. A tabela 2 apresenta os dados das medidas antropométricas.
Tabela 2 – Resultados das medidas antropométricas TABELA 2 Resultados das medidas antropométricas
8 Variáveis
Amostra Total N=59 Média ± DP
CA (cm)
95,6 ± 10,5
CP (cm)
37,4 ± 3,3
IMC (kg/m2)
29,6 ± 4,4 n (%)
Risco cardiovascular Sem
15 (25,4)
Com
44 (74,6)
Perda de massa muscular pela CP – n (%) Sem
55 (93,2)
Com
4 (6,8)
Classificação do IMC Baixo peso Eutrofia
19 (32,2)
Sobrepeso
8 (13,6)
Obesidade 9
4 (6,8)
|
12
28 (47,5)
|
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS
|
V. 1 - Nº 1
|
MAIO 2022
Perda de massa muscular pela CP – n (%) | CARVALHO ET AL | Sem DA QUALIDADE DA DIETA DE IDOSOS COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS ECONÔMICAS, 55 (93,2) ASSOCIAÇÃO ANTROPOMÉTRICAS
Com
4 (6,8)
Classificação do IMC Baixo peso
9 10
4 (6,8)
Eutrofia
19 (32,2)
Sobrepeso
8 (13,6)
Obesidade
28 (47,5)
LEGENDAS: CA – Circunferência abdominal; CP – Circunferência da panturrilha; IMC – Índice de Massa Corporal.
CA – Circunferência abdominal; CP – Circunferência da panturrilha; IMC – Índice de Massa
11IQD-ICorporal. O sinalizou 83,1% dos idosos (84,9% mulheres e 66,7% homens) com boa QD e não foram encontradas associações entre a QD com o sexo e a renda familiar. 12 13
A figura 1 apresenta o resultado da qualidade da dieta da amostra total e por sexo.
FIGURA 1 Resultado da qualidade da dieta na amostra total e por sexo (p=0,26)*
(*) Teste exato de Fisher
No grupo de idosos com QD intermediária, 90% apresentaram risco cardiovascular. Os idosos com boa QD, 91,8% não apresentaram perda de massa magra, 34,7% eram eutróficos e 57,1% tinham excesso de peso.
|
Não foram encontradas associações entre o IQD-I com risco cardiovascular, IMC e CP. A tabela 3 apresenta a associação das medidas antropométricas com o IQD-I.
13
|
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS
|
V. 1 - Nº 1
|
MAIO 2022
| CARVALHO ET AL | ASSOCIAÇÃO DA QUALIDADE DA DIETA DE IDOSOS COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS ECONÔMICAS, ANTROPOMÉTRICAS
14
Tabela 3 - Associação das medidas antropométricas TABELA 3 com o IQD-I
Associação das medidas antropométricas com o IQD-I
15 Variáveis
Qualidade
Boa
p
da dieta in-
qualidade da dieta
termediária
n=49
n=10 Risco cardiovascular – n (%)
0,426*
Não
1 (10,0)
14 (28,6)
Sim
9 (90,0)
35 (71,4)
Perda de massa magra pela CP – n
1,000*
(%) Não
10 (100)
45 (91,8)
Sim
0 (0,0)
4 (8,2)
Classificação do IMC – n (%)
0,285**
Baixo peso
0 (0,0)
4 (8,2)
Eutrofia
2 (20,0)
17 (34,7)
Sobrepeso
3 (30,0)
5 (10,2)
Obesidade
5 (50,0)
23 (46,9)
16
LEGENDAS: CP – Circunferência da panturrilha; IMC – Índice de Massa Corporal
17
CP – Circunferência da panturrilha; Índice de MassadeCorporal (*) Teste exato deIMC Fischer–(**) Teste Qui-quadrado Pearson
18
* Teste exato de Fischer
19 os **Teste de Pearson boa QD Entre idosos Qui-quadrado ativos, 91,9% apresentaram e foi encontrada associação significativa entre estas 20 quando comparados com os idosos sedentários. variáveis, A figura 2 apresenta os resultados da QD e da atividade física.
seus respectivos estudos. A amostra deste estudo foi predominantemente feminina (89,8%), bem como do estudo de Gomes et al. 2016, realizado na cidade de Pelotas, RS, que investigou fatores associados à baixa QD de idosos. Resultado semelhante também foi encontrado em um estudo conduzido por Assumpção et al. 2014, realizado em Campinas, SP que analisou a qualidade da alimentação associada a dados sociodemográficos de 1509 idosos desta região onde a prevalência do gênero feminino foi de 57%. Sobre a QD dos idosos, este estudo apontou 83,1% com boa qualidade e 16,9% com qualidade intermediária. Os homens mostraram pior QD, quando comparados as mulheres e, embora este resultado não tenha apresentado significância estatística, foi encontrado em outros estudos (FREISLING et al., 2013; FERNANDES, et al., 2017). As mulheres tradicionalmente possuem uma preocupação maior com a saúde, além de terem maior cuidado com a alimentação e possuírem um
[4] Interpretações Os resultados deste estudo sinalizaram que a prática de atividade física foi associada com boa QD, ou seja, idosos ativos apresentaram melhor QD, quando comparados com aqueles sedentários. Outros trabalhos com a população idosa também encontraram desfecho semelhante, com a prática de atividade física associada a melhor QD (FREISLING et al., 2013; ROBINSON, 2018). Em relação à idade dos idosos, a média foi de 70,4 anos. Dados semelhantes foram encontrados por Assumpção et al., (2014) e Glidden et al., (2019) em
|
14
|
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS
|
V. 1 - Nº 1
|
MAIO 2022
| CARVALHO ET AL | ASSOCIAÇÃO DA QUALIDADE DA DIETA DE IDOSOS COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS ECONÔMICAS, ANTROPOMÉTRICAS
FIGURA 2 Resultados da qualidade da dieta e da atividade física (p=0,03)*
(*) Teste exato de Fisher
Em relação ao IMC, 47,5% dos idosos foram classificados com obesidade. Um estudo realizado na cidade de Cruz Alta, RS também encontrou um percentual elevado de idosos com excesso de peso (59%) (ROSA et al., 2016). Quando se analisou o grupo de idosos com qualidade intermediária da dieta, 50% apresentaram obesidade. No estudo de Freisling et al., 2013, o IMC acima de 30kg/m2 foi associado com uma dieta de pior qualidade. O risco cardiovascular, mesmo não tendo apresentado significância estatística, foi presente em 74,57% dos idosos, sendo 90% naqueles com qualidade da dieta intermediária. Um estudo, realizado com 37 idosos institucionalizados avaliou o risco nutricional e os resultados sinalizaram que 86,4% e 57,1% dos sexos feminino e masculino, respectivamente, apresentavam risco cardiovascular (FÉLIX; SOUZA, 2009). Um estudo sueco, com 3607 idosos, demonstrou que a CA foi relacionada com hábitos alimentares inadequados, aumentando, assim, o risco de desenvolvimento de Síndrome Metabólica (SIERRA-JOHNSON, et al., 2008). Algumas limitações devem ser consideradas neste estudo. O seu delineamento transversal, além do número pequeno de idosos estudados pode ter reduzido a possibilidade de associação de algumas variáveis. Além disso, as variáveis que foram autorreferidas, principalmente, para a pontuação do IQD-I podem ter apresentado um viés de memória e, consequentemente, de informação (LIMA-COSTA; BARRETO, 2003).
maior conhecimento relacionado com alimentos, alimentação e nutrição (KIEFER et al., 2005). A boa QD foi predominante no grupo de idosos das classes sociais com maior escolaridade e poder aquisitivo. Esses achados vão ao encontro de resultados encontrados em outros estudos realizados com a população idosa (HIZA et al., 2013; SHATENSTEIN et al., 2013; FERNANDES, et al., 2017). Os idosos com menor poder aquisitivo apresentaram QD intermediária sendo que este aspecto impacta diretamente na escolha e disponibilidade de alimentos. O padrão alimentar mais saudável é mais dispendioso, quando comparado aos padrões onde a predomina o consumo de alimentos com alta densidade calórica, ricos em gordura e açúcar (CLARO; MONTEIRO, 2010). Nesse estudo, 88,1% dos idosos utilizavam alguma medicação e 76,3% apresentavam alguma patologia e, mesmo assim, boa parte da amostra demonstrou possuir uma boa QD (83,1%). Esses achados se assemelham aos dados encontrados no estudo de Gomes et al. (2016). Uma possível explicação pode estar relacionada com a presença de comorbidades que estimula o idoso e a família a consumirem uma alimentação mais saudável, visando a melhoria da qualidade de vida. Neste estudo, não foi encontrada associação entre tabagismo e QD, o que difere de resultados de outros trabalhos onde o tabagismo foi associado com piores escores de QD (FREISLING et al., 2013; ASSUMPÇÃO et al., 2014).
|
15
|
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS
|
V. 1 - Nº 1
|
MAIO 2022
| CARVALHO ET AL | ASSOCIAÇÃO DA QUALIDADE DA DIETA DE IDOSOS COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS ECONÔMICAS, ANTROPOMÉTRICAS
[5] Conclusão A boa QD foi encontrada em um grande número de idosos e, aqueles ativos, apresentaram melhor QD quando comparados com os sedentários. Importante salientar que o estilo de vida, no envelhecimento, pode auxiliar na manutenção da saúde, na prevenção de doenças crônicas, na melhoria da qualidade de vida e na redução da mortalidade.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, T. D.C. Qualidade da dieta de pessoas idosas no Brasil. Estud. Interdiscipl. Envelhec., v. 26, n.2, p. 7-34, abr. 2021. Disponível em: https://www.seer.ufrgs.br/ RevEnvelhecer/article/viewFile/70383/65736. Acesso em: 25 jan. 2022.
CLARO, R. M.; MONTEIRO, C. A. Renda familiar, preço de alimentos e aquisição domiciliar de frutas e hortaliças no Brasil. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 44, n. 6, p. 1014-1020, dec. 2010. DONINI, L. M. et al. Anorexia and Eating Patterns in the Elderly. PLOS ONE, v. 8, n. 5, p. 3–10, 2013.
ASSUMPÇÃO, D. et al. Qualidade da dieta e fatores associados entre idosos: estudo de base populacional em Campinas. Cad. Saúde Pública, v. 30, n. 8, p. 1680-1694, ago. 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csp/a/ GvYJTsqHCDcqpqGtJLXQTkH/?lang=pt. Acesso em: 28 Mai. 2021.
DUARTE, A. C. G. Avaliação nutricional: aspectos clínicos e laboratoriais. São Paulo: [s.l.], 2007. FELIX, L. N.; SOUZA, E. M. T. Avaliação nutricional de idosos em uma instituição por diferentes instrumentos. Rev. Nutr., Campinas, v. 22, n. 4, p. 571-580, ago. 2009.
BATISTA, A.S. et al. Envelhecimento e Dependência: Desafios para a Organização da Proteção Social Envelhecimento e Dependência. Ministério da Previdência Social, [S. l.], v. 28, p. 160, 2008. Disponível em: http://sa.previdencia. gov.br/site/arquivos/office/3_081208-173354-810.pdf. Acesso em: 29 mai. 2021.
FERNANDES, D. P. D. S. et al. Evaluation of diet quality of the elderly and associated factors. Archives of Gerontology and Geriatrics, MGi, v. [s.i], n. [s.i], p. 1-23, maio 2017. FREISLING, H; KNAZE, V.; SLIMANI, N. A. Systematic Review of Peer-Reviewed Studies on Diet Quality Indexes Applied to Old Age: A Multitude of Predictors of Diet Quality. Nutrition and Health, New York, v. 2, n. 1, p. 365-381, fev. 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil 2011-2022. Departamento de Análise de Situação de Saúde. [S.l: s.n.], 2011. Disponível em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/biblioteca/ plano-de-acoes-estrategicas-para-o-enfrentamento-das-doencas-cronicas/. Acesso em 28 maio 2021.
GOMES, A. P.; SOARES, A. L. G.; GONÇALVES, H. Baixa qualidade da dieta de idosos: estudo de base populacional no Sul do Brasil. Ciênc. Saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 21, n. 11, p. 3417-3428, 2016.
BRASIL. Ministério da Saúde. Guia Alimentar para a População Brasileira. 2. ed. [S.l.: s.n.], p. 1-158, 2014. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed. pdf. Acesso em: 05 Abr. 2021.
GLIDDEN, R. F. et al. A participação de idosos em grupos de terceira idade e sua relação com satisfação com suporte social e otimismo. Bol. Acad. Paul. Psicol., v. 39, n.97, p. 261-275, 2019. GOULART, F. A. A. Doenças crônicas não transmissíveis: estratégias de controle e desafios e para os sistemas de saúde. Organização Pan-Americana da Saúde/ Organização Mundial da Saúde, p. 96, 2011.
COSTA, J. R. N. et al. Fatores associados ao estado nutricional em adultos e idosos: revisão integrativa. Rev Interd., v. 13, n. 2021. p.1-11, fev. 2001.
|
16
|
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS
|
V. 1 - Nº 1
|
MAIO 2022
| CARVALHO ET AL | ASSOCIAÇÃO DA QUALIDADE DA DIETA DE IDOSOS COM VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS ECONÔMICAS, ANTROPOMÉTRICAS
HIZA, H. A. et al. Diet quality of Americans differs by age, sex, race/ethnicity, income, and education level. Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, [S.I], v. 113, n. 2, p. 297-306, 2013.
OLIVEIRA, P. A.; OLIVEIRA, A. C. B. Sistema Nervoso, Transtornos mentais e comportamentais. In: MAGNONI, Daniel; CUKIER, Celso; OLIVEIRA, Patrícia Amante de. Nutrição na Terceira Idade. São Paulo: Sarvier, p. 208-219, 2010.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009: Análise do Consumo Alimentar Pessoal no Brasil. Rio de Janeiro: [s.n.], p. 1-150. 2011. Disponível em: https://biblioteca. ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv50063.pdf. Acesso em 27 maio 2021.
OPAS - Organização Pan-Americana de Saúde. Doenças crônicas não transmissíveis causam 16 milhões de mortes prematuras todos os anos. 2015. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=4766:doencas-cronicas-nao-transmissiveis-causam-16-milhoes-de-mortes-prematuras-todos-os-anos&Itemid=839. Acesso em: 28 maio 2021.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saúde 2019: Percepção do estado de saúde, estilos de vida, doenças crônicas e saúde bucal. Rio de Janeiro 2020. Disponível em: https://biblioteca. ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101748.pdf. Acesso em: 27 maio 2021.
PAGOTTO, V. et al. Circunferência da panturrilha: validação clínica para avaliação de massa muscular em idosos. Rev Bras Enferm. v. 71, n. 2, p.43-50, 2018.
IDF, International Diabetes Federation. Consensus Worldwide Definition of the Metabolic Syndrome 2006.Disponível em: https://www.idf.org/e-library/consensus-statements/60-idfconsensus-worldwide-definitionof-the-metabolic-syndrome.html. Acesso em: 01 abril 2022.
ROBINSON, S. M. Improving nutrition to support healthy ageing: what are the opportunities for intervention? The Proceedings of the Nutrition Society, London, v. 77, n. [s.i], p. 257-264, 2018. ROSA, C. B. et al. Síndrome metabólica e estado nutricional de idosos cadastrados no HiperDia. Scientia Médica, Porto Alegre, v. 26, n. 3, p. 5, 2016.
KABURAGI, T. et al. Nutritional status is strongly correlated with grip strength and depression in community-living elderly Japanese. Public Health Nutrition, v. 14, n. 11, p. 1893–1899, 2011.
SHATENSTEIN, B. et al. Baseline determinants of global diet quality in older men and women. The journal of nutrition, health & aging, [S.I], v. 17, n. 5, p. 419-425, 2013.
KAC, G.; SICHIERI, R.; GIGANTE, D. P. Epidemiologia Nutricional. Rio de Janeiro: [s.n.], 2007. KIEFER, I.; KUNZE, T. R. E. M. Eating and dieting differences in men and women. The Journal of Men’s Health and Gender, [S.I], v. 2, n. 2, p. 194-201, 2005.
SERGI, G. et al. Taste loss in the elderly: possible implications for dietary habits. Critical Reviews in Food Science and Nutrition, v. 57, n. 17, p. 3.684-3.689, 2017.
LIMA-COSTA, M. F.; BARRETO, S. M. Tipos de estudos epidemiológicos: conceitos básicos e aplicações na área do envelhecimento. Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, v. 12, n. 4, p. 189-201, 2003.
SIERRA-JOHNSON, J. et al. Eating meals irregularly: a novel environmental risk factor for the metabolic syndrome. Obesity (Silver Spring), v.16, n. 6, p. 1302-7, jun. 2008.
MIRANDA, G. M. D.; MENDES, A. C.G.; SILVA, A. L. A. O envelhecimento populacional brasileiro: desafios e consequências sociais atuais e futuras. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, p. 507-519, 2016.
SOUZA, E. B. D. Transição Nutricional no Brasil: Análise dos principais fatores. Cadernos UniFOA, Volta Redonda, n. 13, p. 49-53. 2010.
NASABIAN, P. J. et al. Aging human body: changes in bone, muscle, and body fat with consequent changes in nutrient intake. Journal of Endocrinology, v. 234, n.1, p.37-51, 2017. Disponível em: https://www.ncbi.nlm. nih.gov/pubmed/28442508. DOI: 10.1530/JOE-16-060. Acesso em: 27 maio 2021.
TEK, N. A.; KARACIL-ERMUMCU, M. S. Determinants of health related quality of life in home dwelling elderly population: apetite and nutritional status. Journal of nutrition health aging, v. 22, n.8, p.996-1002, 2018. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30272105. DOI: 10.1007/s12603-018-1066-9. Acesso em 25 maio 202.
|
17
|
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS
|
V. 1 - Nº 1
|
MAIO 2022