Perfil nutricional de idosos institucionalizados no município de Nova Petrópolis-RS

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1(3): 7-14

Agosto 2023 Unisinos

ISSN: 2764-6556

doi.org/10.4013/issna.2023.31.2

Perfil nutricional de idosos institucionalizados no município de Nova Petrópolis-RS

Nutritional profile of institutionalized elderly in the city of Nova Petrópolis-RS

RESUMO

AUTORAS

Tamara Cristina Melz* tami.cristi@hotmail.com

Nutricionista. Graduada pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos- São Leopoldo. Mestranda do PPG Nutrição e Alimentos pela mesma instituição. [*] Autora correspondente.

Bruna Pontin bpontin@unisinos.br

Nutricionista. Mestre em Cardiologia (PPG em ciências da Saúde: Cardiologia do Instituto de Cardiologia, Porto Alegre.

FLUXO DA SUBMISSÃO

Submissão: 04/05/2023

Aprovação: 12/07/2023

CONTATO DA REVISTA

Universidade doVale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Instituto Tecnológico em Alimentos para a Saúde – itt Nutrifor. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei. CEP: 93022-750, São Leopoldo, RS, Brasil.

Contato principal: Prof. Dr. Cristiano Dietrich Ferreira. Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Alimentos. E-mail: revistappgna@ unisinos.br.

DISTRIBUÍDO SOB

O envelhecimento é caracterizado por alterações fisiológicas que podem influenciar na alimentação, estado nutricional e qualidade de vida de idosos. Método: Estudo transversal com idosos residentes em uma Instituição de Longa Permanência de Idosos (ILPI) no município de Nova Petrópolis – RS, através da Mini Avaliação Nutricional (MAN), avaliação antropométrica, índice de massa corporal (IMC), ingestão alimentar e quantidade de medicamentos. Resultados: A maioria dos indivíduos foram considerados eutróficos (IMC médio 24,3 Kg/m²), apresentaram eutrofia na avaliação de circunferência muscular do braço e desnutrição nos parâmetros de dobra cutânea triciptal e circunferência do braço. Segundo a MAN, metade dos participantes estavam sob risco de desnutrição. Os macronutrientes estavam adequadamente distribuídos e a média calórica diária foi de 1586 calorias. A ingestão de fibras e líquidos ficou abaixo do recomendado.

RESUMO GRÁFICO

Palavras-chave: idosos; saúde do idoso institucionalizado; avaliação nutricional; polifármacos; nutrição do idoso.

| 7 | INOVAÇÃO
EM
3 - Nº 1 | AGOSTO 2023
E SUSTENTABILIDADE
SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS | V.
TÉCNICO
ARTIGO

APLICABILIDADE

A aplicabilidade envolve o conhecimento gerado sobre o processo de envelhecimento e alterações relacionadas. Ainda hoje a desnutrição é altamente prevalente em idosos, que os predispõem a enfermidades que acentuam as desordens nutricionais, além de piorar a qualidade de vida e aumentar o risco de mortalidade. Entende-se que identificar o perfil nutricional destes indivíduos poderá embasar novas condutas relacionadas ao cuidado desta população, além de servir como referencial para futuras pesquisas que tenham a mesma temática.

[1] Introdução

Oenvelhecimento populacional é uma realidade em progressão no Brasil. Em 2017 havia 30,2 milhões de idosos no país, sendo 56% do sexo feminino e 44 % do sexo masculino (IBGE, 2018). Na população idosa, a preocupação decorre das múltiplas alterações próprias do envelhecimento, e os idosos passam a necessitar de cuidados especializados. Assim, as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) surgem como alternativa de cuidado. As ILPIs, filantrópicas ou privadas, foram criadas objetivando garantir aos idosos seus direitos, defender sua dignidade e atender suas necessidades com atenção integral (ANVISA, 2005). Conforme o estudo das condições sociodemográficas e epidemiológicas dos idosos residentes em ILPIs registradas no Censo do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), realizado por Duarte et al. (2017), no Brasil haviam 1.451 instituições cadastradas, com um total de 45.868 idosos residentes nessas instituições.

O envelhecimento é caracterizado por alterações fisiológicas importantes que podem influenciar na alimentação do idoso. A alimentação adequada é fator determinante do estado nutricional e tem impacto significativo na qualidade de vida do indivíduo. O estado nutricional inadequado aumenta as chances de desordens nutricionais e o risco de morbimortalidade por diversas doenças. No Brasil, pesquisas têm sido realizadas objetivando traçar o perfil nutricional dos idosos institucionalizados. A desnutrição é um achado de alta prevalência, fator que comprovadamente está relacionado à deterioração da saúde e da qualidade de vida desses indivíduos (PAZ; FAZZIO; SANTOS, 2012).

Assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar o perfil nutricional de idosos residentes em uma ILPI no município de Nova Petrópolis – RS. Até o momento, nenhuma pesquisa semelhante foi realizada no Lar de Idosos Lydia Braun, localizado neste município. [2

] Materiais e métodos

Este estudo transversal foi realizado com 14 idosos residentes no Lar de Idosos Lydia Braun, que pertence

ao Hospital Nova Petrópolis (Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas) e está localizado no município de Nova Petrópolis - Rio Grande do Sul. Foram incluídos homens e mulheres com idade igual ou superior a 60 anos e que aceitaram participar desta pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos os indivíduos que não aceitaram participar do estudo ou que, por algum motivo, não tiveram condições de serem avaliados fisicamente para determinação do estado nutricional. A coleta de dados dos prontuários e a avaliação antropométrica foi realizada pela pesquisadora.

A avaliação do estado nutricional foi realizada através de diferentes protocolos, descritos a seguir. Foi aplicada a MAN, que é um formulário composto por 6 perguntas de triagem e 12 de avaliação global (VELLAS et al., 2006).

Os dados sobre medicações em uso foram coletados através de consulta em prontuário. A avaliação antropométrica foi realizada pela manhã, em jejum alimentar de 8-12 horas e após micção.

O peso foi aferido com o paciente descalço, com vestes leves, utilizando-se balança digital da marca Plenna com capacidade para 130 kg. Para indivíduos acamados, impossibilitados de ficar em pé, foi utilizada a fórmula de Chumlea (1985) para estimar o peso corporal.

Para a aferição da altura utilizou-se o estadiômetro da marca Cescorf, estando o indivíduo descalço e em posição ereta, calcanhares juntos, ombros relaxados e cabeça no plano horizontal (olhar para frente). Para indivíduos acamados, na impossibilidade de ficarem de pé, a altura foi estimada pela fórmula adaptada de Chumlea (1985).

Após a obtenção do peso e altura, foi calculado o IMC. Para os critérios de avaliação do estado nutricional segundo o IMC, aplicaram-se os pontos de corte de acordo com Lipschitz (1994).

A medida da circunferência do braço (CB) foi realizada conforme descrito por WAITZBERG (2009) e classificada nos percentis de adequação do estado nutricional segundo gênero e idade, conforme preconizado por Blackburn e Thornton (1979). Para a dobra cutânea triciptal (DCT) e dobra cutânea subescapular (DCSE) utilizou-se o plicômetro clínico da marca Cescorf e o método de aferição conforme descrito no protocolo CDC

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(2007). Para a classificação da DCT foram usados os pontos de corte conforme Blackburn e Thornton (1979).

A combinação das medidas de DCT e CB também possibilitou determinar a circunferência muscular do braço (CMB), medida considerada útil no diagnóstico do estado nutricional proteico. Os pontos de corte para adequação do estado nutricional segundo a CMB foram de acordo com Blackburn e Thornton (1979).

Para a avaliação da ingestão dietética dos participantes, foi aplicado registro alimentar de 24 horas, cujo preenchimento ficou a cargo dos cuidadores. A quantidade ingerida de calorias, carboidratos, lipídeos, proteínas, fibras, líquidos e micronutrientes (cálcio, ferro, sódio, potássio e vitamina C) foi calculada utilizando-se a tabela brasileira de composição química de alimentos (TACO, 2011) e os rótulos de alimentos. Os valores de ingestão encontrados para todos os nutrientes avaliados foram comparados com as recomendações dietéticas de ingestão (RDI) para gênero e faixa etária, por meio das estimativas do requerimento médio estimado (EAR) ou, na ausência deste, da ingestão adequada (AI) (DRI, 1997; DRI, 2000; DRI, 2001; DRI, 2005; DRI, 2005).

Na análise estatística, as variáveis quantitativas foram descritas por média e desvio padrão ou mediana e amplitude interquartílica. As variáveis qualitativas foram descritas por frequências absolutas e relativas. Para comparar médias, a Análise de Variância (ANOVA) one-way foi aplicada. Em caso de assimetria, o teste de Kruskal-Wallis foi utilizado. A associação entre a polifarmácia e o estado nutricional foi avaliada pelo teste qui-quadrado de Pearson. O nível de significância adotado foi de 5% (p≤0,05) e as análises foram realizadas no programa SPSS versão 21.0.

Este projeto foi submetido ao Comitê de Ética da

Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, que o aprovou através do parecer nº 1.360.257.

[3] Resultados

Dos 16 idosos institucionalizados, 14 aceitaram participar do estudo, sendo majoritariamente mulheres (n=10). A média de idade dos sujeitos desta pesquisa foi de 84,9 ± 6,2 anos e o número médio de medicamentos ingeridos diariamente foi de 6,26, sendo que a maioria utilizava mais de 6 medicamentos (n=8).

Em termos de estado nutricional, a maioria dos indivíduos foi considerado eutrófico no momento da coleta de dados, sendo que o IMC médio foi de 24,3 ± 4,2 Kg/ m2. No entanto, 35% da amostra (n=5) apresentou baixo peso. Outros parâmetros antropométricos também foram utilizados para classificar o estado nutricional destes idosos. Quanto à CB, observou-se que 8 idosos (57%) foram considerados desnutridos e 11 (79%) apresentaram algum grau de desnutrição quando a DCT foi avaliada. Este último resultado é importante, visto que a DCT é uma das medidas rotineiramente utilizada na prática clínica para monitoramento do estado nutricional, inclusive de idosos, e é considerada útil para determinação da reserva de tecido adiposo. No entanto, no que diz respeito ao estado nutricional, segundo a CMB, a maioria dos residentes (n=10; 71,4%) foi considerada eutrófica. Por fim, a determinação do escore da MAN permitiu observar que a metade dos idosos avaliados foram considerados em risco de desnutrição e 2 já apresentavam desnutrição. Os dados referentes às características da amostra e ao estado nutricional estão descritos na tabela 1.

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TABELA 1 Caracterização da amostra.
1 2 Variáveis n=14 Idade (anos) – média ± DP 84,9 ± 6,2 Gênero – n(%) Feminino 10 (71,4) Masculino 4 (28,6) Número de medicações – média ± DP 6,26 ± 2,17 Número de medicações – n(%) <6 6 (42,9) ≥ 6 8 (57,1) IMC (kg/m2) – média ± DP 24,3 ± 4,2 Classificação do IMC – n(%) Baixo peso 5 (35,7) Eutrofia 5 (35,7) Excesso de peso 4 (28,6) CB (% de adequação) – média ± DP 89,0 ± 10,0
Tabela 1 – Caracterização da amostra

Legenda: DP: Desvio padrão; IMC: Índice de Massa Corporal; CB: Circunferência do braço; DCT: 4

LEGENDA: DP: Desvio padrão; IMC: Índice de Massa Corporal; CB: Circunferência do braço; DCT: Dobra cutânea triciptal; CMB: Circunferência muscular do braço; MAN: Mini Avaliação Nutricional.

Dobra cutânea triciptal; CMB: Circunferência muscular do braço; MAN: Mini Avaliação Nutricional. 5 6

Dados sobre a ingestão alimentar estão descritos na tabela 2. Observa-se que os participantes consumiam, em média, 1586 calorias diariamente, adequadamente distribuídas em termos percentuais de macronutrientes. No entanto, o consumo proteico, quando avaliado a partir da relação gramas de proteína por quilograma de peso corporal, apresentou-se elevado. Ainda, a mediana da ingestão de fibras e a média de ingestão hídrica ficaram abaixo da recomendação.

A ingestão média de potássio também ficou aquém do esperado, visto que a ingestão adequada (AI) é de 4700mg/dia tanto para homens quanto para mulheres idosas. Por fim, o consumo dos micronutrientes avaliados

foi considerado adequado segundo gênero e faixa etária. A ingestão alimentar não foi associada a nenhum dos parâmetros de avaliação do estado nutricional.

A tabela 3 apresenta a associação entre o consumo alimentar e a MAN. Não houve diferença significativa entre a ingestão de calorias, macronutrientes, micronutrientes e água e o estado nutricional dos indivíduos avaliados.

[4] Discussão

Este foi o primeiro estudo que avaliou e comparou a ingestão alimentar e o estado nutricional dos idosos

| 10 | INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS | V. 3 - Nº 1 | AGOSTO 2023 | MELZ & PONTIN | PERFIL NUTRICIONAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS NO MUNICÍPIO DE NOVA PETRÓPOLIS-RS Número de medicações – média ± DP 6,26 ± 2,17 Número de medicações – n(%) <6 6 (42,9) ≥ 6 8 (57,1) IMC (kg/m2) – média ± DP 24,3 ± 4,2 Classificação do IMC – n(%) Baixo peso 5 (35,7) Eutrofia 5 (35,7) Excesso de peso 4 (28,6) CB (% de adequação) – média ± DP 89,0 ± 10,0 Classificação da CB – n(%) Desnutrição moderada 3 (21,4) Desnutrição leve 5 (35,7) Eutrofia 6 (42,9) DCT (% de adequação) – média ± DP 72,6 ± 22,9 Classificação da DCT – n(%) Desnutrição grave 7 (50,0) Desnutrição moderada 2 (14,3) Desnutrição leve 2 (14,3) Eutrofia 2 (14,3) Obesidade 1 (7,1) CMB (% de adequação) – média ± DP 95,2 ± 11,7 Classificação do CMB – n(%) Desnutrição moderada 2 (14,3) Desnutrição leve 2 (14,3) Eutrofia 10 (71,4) Classificação da MAN – n(%) Normal (24 a 30 pontos) 5 (35,7) Sob risco de desnutrição (17
pontos) 7 (50,0) Desnutrido (<17 pontos) 2 (14,3) 3
a 23,5

Tabela 2 – Dados referentes ao consumo alimentar

TABELA 2

Dados referentes ao consumo alimentar.

Dados apresentados por média ± desvio padrão, exceto para fibras totais e ferro, os quais estão 10 descritos como mediana e intervalo interquartílico (P25-P75). 11

Dados apresentados por média ± desvio padrão, exceto para fibras totais e ferro, os quais estão descritos como mediana e intervalo interquartílico (P25-P75). LEGENDA: VET: valor energético total; CHO: carboidrato; PTN: proteína; LIP: lipídio; Kcal: quilocalorias; g: gramas; g/Kg: gramas por quilo de peso corporal; mg: miligramas; ml: mililitros; L: litros. * AMDR: Faixa de Distribuição Aceitável de Macronutriente; ** EAR: requerimento médio estimado; *** AI: Ingestão Adequada; $ Inclui a água contida em alimentos, bebidas e água para beber.

Associação entre o consumo alimentar e a Mini Avaliação Nutricional

3

entre o consumo alimentar e a Mini Avaliação Nutricional (MAN).

Dados apresentados por média ± desvio padrão, exceto para fibras totais e ferro, os quais estão

descritos como mediana e intervalo interquartil (P25-P75).

Dados apresentados por média ± desvio padrão, exceto para fibras totais e ferro, os quais estão descritos como mediana e intervalo interquartil (P25-P75). LEGENDA: VET: valor energético total; CHO: carboidrato; PTN: proteína; LIP: lipídio; Kcal: quilocalorias; g: gramas; g/Kg: gramas por quilo de peso corporal; mg: miligramas; ml: mililitros.

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Associação
TABELA
Variáveis n=14 Valores de referência (> 70 anos de idade) VET (Kcal) 1586 ± 369CHO (%) 47,1 ± 5,3 45-65%* PTN (%) 20,2 ± 2,6 10-35%* PTN (g/Kg) 1,40 ± 0,53 0,8 g/kg LIP (%) 32,7 ± 4,8 20-35%* Fibras totais (g) 12,2 (8,4 – 14,7) 30g (homens) e 21g (mulheres)*** Cálcio (mg) 1033 ± 202 1000 mg** Ferro (mg) 10,1 (6,6 – 18,6) 6 mg (homens) e 5mg (mulheres)** Sódio (mg) 1166 ± 264 1200mg*** Potássio (mg) 1755 ± 319 4700mg*** Vitamina C (mg) 154,6 ± 39,6 75 mg (homens) e 60 mg (mulheres)** Ingestão hídrica (ml) 1042 ± 329 3,7L (homens) e 2,7L (mulheres)***$ 9
7 8
12
13
14 15 Variáveis MAN p Normal Sob risco de desnutrição Desnutrido VET (Kcal) 1693 ± 393 1471 ± 402 1721 ± 3,7 0,543 CHO (%) 44,6 ± 3,4 48,8 ± 6,4 47,1 ± 5,4 0,438 PTN (%) 20,2 ± 2,3 19,8 ± 3,1 21,8 ± 0,5 0,646 PTN (g/kg) 1,45 ± 0,63 1,25 ± 0,50 1,80 ± 0,32 0,379 LIP (%) 35,2 ± 2,5 31,4 ± 5,6 31,0 ± 5,9 0,451 Fibras totais (g) 12,4 (8,3 – 19,3) 12,3 (0 – 13,8) 10,3 (8,6 – 12) 0,776 Cálcio (mg) 1154 ± 60,1 934 ± 238 1072 ± 184 0,175 Ferro (mg) 6,6 (5,4 – 28) 11,3 (6,4 – 23,0) 11,8 (9 – 14,6) 0,820 Sódio (mg) 1107 ± 380 1206 ± 205 1171 ± 221 0,837 Potássio (mg) 1788 ± 423 1758 ± 305 1661 ± 153 0,908 Vitamina C (mg) 159,7 ± 48,0 155,0 ± 42,1 140,3 ± 5,6 0,863 Ingestão hídrica (ml) 1160 ± 357 900 ± 282 1250 ± 353 0,273 16
Tabela 3 (MAN)
17
18

moradores da ILPI Lydia Braun. A maioria dos participantes avaliados foi do gênero feminino e a média de idade foi de 84,9 ± 6,2 anos. Assim, a institucionalização parece ser, em grande parte, uma questão feminina, outras pesquisas semelhantes também encontraram predominância de mulheres, possivelmente pela maior expectativa de vida quando comparada à dos homens (SOUZA et al., 2013, MENEGARDO et al., 2020).

Na amostra avaliada, a polifarmácia (definida como o uso de cinco ou mais medicamentos) foi achado importante uma vez que a maioria dos sujeitos (57%) utilizavam seis ou mais medicações diariamente. Observa-se elevado número de fármacos ingeridos diariamente na maioria dos estudos envolvendo idosos. Resultado semelhante foi encontrado por Moser; Hembecker; Nakato (2021), que apontaram a polifarmácia em 57,3% dos idosos, com mediana de consumo de cinco medicamentos.

Outros estudos publicados até o momento também objetivaram avaliar o estado nutricional de idosos residentes em ILPIs. Segundo resultados de Alves e Fortes (2021), ao avaliar 17 idosos, 52,9% (n=6) encontrava-se com magreza, 18,2 % eutrofia e 27,3 % obesidade. Pesquisa realizada em uma ILPI na cidade Curitiba – PR apontou que, dos 82 sujeitos avaliados, 32,90% apresentavam baixo peso, 43,90%, eutrofia e 23,20% sobrepeso, tomando por base os pontos de corte de IMC propostos pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (MOSER; HEMBECKER; NAKATO (2021), sendo o mesmo ponto de corte de Lipschitz (1994), padrão utilizado no presente estudo. Embora o IMC seja um dos parâmetros de avaliação do estado nutricional mais comumente utilizados em pesquisas e na prática clínica, sabe-se que o mesmo não deve ser utilizado de forma isolada, como marcador único, uma vez que não avalia o padrão de distribuição de gordura corporal. Assim, sugere-se que o IMC seja usado em conjunto com outros indicadores como forma de garantir acurácia diagnóstica do estado nutricional (CUPPARI, 2005).

Os dados do presente estudo apontam que mais da metade dos idosos foram classificados como desnutridos segundo a medida da CB. Em contraponto, Oliveira, Lima e Benevides (2020) encontraram menor prevalência de desnutrição (3,0%) ao avaliar 33 idosos residentes em uma casa de acolhida para idosos. Com grau de recomendação e força de evidência B, existem evidências que a medida da CB pode servir como índice marcador da reserva de gordura e massa muscular. A medida diminui com a perda de peso aguda e crônica e pode ser usada para estimar o grau de desnutrição (AMB, 2011).

Neste estudo, algum grau de desnutrição (avaliada através da medida da DCT) esteve presente em aproximadamente 85% dos sujeitos avaliados. Segundo resultados de Santana et al. (2016), ao avaliar 42 idosos através desde mesmo indicador, quase a totalidade (n=31) encontrava-se desnutrida. A DCT visa avaliar, indiretamente, a quantidade de reserva calórica, per-

mitindo estimar as reservas de gordura corporal total.

A CMB é frequentemente utilizada para avaliar as reservas proteicas corporais e, portanto, é considerado marcador importante do estado nutricional. Dados do presente estudo apontaram que a maioria (n=10) dos idosos foi classificada como eutrófica segundo este indicador. Este é um excelente resultado, visto que a depleção das reservas proteicas corporais está associada à desnutrição, diminuição da função imunológica e consequentemente maior morbimortalidade (MAICÁ; SCHWEIGERT, 2008). Achados semelhantes aos encontrados neste estudo também foram descritos por Schmidt et al. (2017), os quais encontraram adequação da CMB em 23 dos 41 idosos institucionalizados.

Em relação ao estado nutricional diagnosticado através da MAN, verificou-se que metade dos idosos estavam em risco de desnutrição (50 %, n=7), 5 (35,7%) estavam bem nutridos e 2 (14,3%) foram considerados desnutridos. Estes achados são semelhantes aos encontrados por Santana et al. (2016), Nunes et al. (2021) e Moser; Hembecker; Nakato (2021) em seus respectivos estudos. A MAN é considerada uma ferramenta diagnóstica útil na determinação do estado nutricional de idosos pois é econômica, prática e de fácil aplicação e inclui no seu contexto tópicos sobre aspectos físicos, mentais e dietéticos. O objetivo desse instrumento é o monitoramento do estado nutricional, permitindo diagnóstico precoce de desnutrição (GIANLUPI; ALVARENGA; FACCENDA, 2015; NUNES et al., 2021).

A análise da ingestão alimentar em termos de distribuição de macronutrientes permite afirmar que os valores encontrados são considerados adequados para a idade. Embora o percentual das calorias diárias provenientes das proteínas tenha sido adequado, o consumo em termos de gramas de proteína por quilograma de peso corporal ficou acima do esperado; no entanto, este achado não foi associado ao estado nutricional. Ainda, a ingestão de fibras, líquidos e potássio ficou aquém do recomendado. A baixa ingestão de frutas e verduras observada entre os sujeitos da pesquisa (2 a 4 porções de frutas e verduras) e a refeição do jantar ser ofertada na forma de lanche podem ser os fatores relacionados à quantidade insuficiente de potássio e fibras ingerida pela amostra. No que tange ao consumo de micronutrientes, pode-se observar adequação frente às estimativas do EAR ou AI segundo gênero e faixa etária. O que pode ter colaborado para este achado é que no momento da coleta de dados, muitos idosos estavam em uso de suplementos nutricionais orais em pó, os quais contêm quantidades importantes de vitaminas e minerais na sua formulação. Além disso, o fato de a instituição ter profissional nutricionista, responsável pela alimentação ofertada, tende a colaborar com a melhor adequação em termos de ingestão nutricional. Nunes et al. (2021), ao avaliar o cardápio por três dias consecutivos de uma ILPI localizada em Diamantina,

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Minas Gerais-MG, encontraram ingestão inadequada de nutrientes como cálcio e ferro. Em relação ao consumo de carboidrato, proteínas e lipídeos, quando comparados às referências da EAR (DRIS) todos estavam de acordo com a recomendação.

Salienta-se que a análise dietética do presente estudo baseou-se nos resultados de um único inquérito dietético aplicado (registro alimentar de 24 horas), o qual foi preenchido pelos cuidadores. Este modelo de inquérito apresenta limitações, já que pode não representar de forma fidedigna o padrão alimentar habitual. No entanto, foi escolhido como opção a ser aplicada neste estudo pois é frequentemente utilizado em pesquisas e não apresenta viés de memória, já que o registro do que foi ingerido é feito logo após a refeição (CUPPARI, 2005).

[5] Considerações finais

Os resultados deste estudo apontam para a alta prevalência de estado nutricional inadequado entre os idosos avaliados, tanto para a desnutrição quanto para a obesidade. Segundo a MAN, metade dos sujeitos da pesquisa foram considerados em risco de desnutrição e dois já estavam desnutridos. Quanto à ingestão alimentar, o consumo de alimentos foi adequado para macronutrientes e micronutrientes, porém ficou aquém do esperado em termos de fibras, potássio e líquidos. Embora a ingestão alimentar não tenha sido associada ao estado nutricional, mais estudos que envolvam número maior de indivíduos são necessários para determinar os fatores que exercem maior influência sobre o estado nutricional de idosos institucionalizados. Além disso, a investigação do estado nutricional deve abranger não somente o déficit, mas também o excesso de peso nessa faixa etária.

REFERÊNCIAS

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BLACKBURN, G. L.; THORNTON, P. A. Nutritional assessment of the hospitalized patients. Med. Ciln. North Am, 1979. p. 1103-1115.

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