Influência da temperatura de armazenamento no rendimento de descascamento de arroz

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ARTIGO TÉCNICO

1(1): 18-23 Maio 2022 Unisinos ISSN: 2764-6556

doi.org/10.4013/issna.2022.11.3

AUTORES Eloisa Backes da Silveira * eloisabackessilveira@gmail.com

Influência da temperatura de armazenamento no rendimento de descascamento de arroz Influence of storage temperature on rice shelling yield

Graduanda do Curso de Nutrição, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - São Leopoldo (RS). [*] Autor correspondente.

Angela Cristina Mello dos Santos angelacrimello@gmail.com Graduanda do Curso de Nutrição, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - São Leopoldo (RS).

Júlia Ribeiro de Souza juliardesouza.2002@gmail.com Aluna do curso técnico em Química, Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha - Novo Hamburgo (RS).

Mariana Klein mariana.mariklein@gmail.com Aluna do curso técnico em Química, Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha - Novo Hamburgo (RS).

Valmor Ziegler valmorziegler12@unisinos.br Professor do Mestrado Profissional em Nutrição e Alimentos, Universidade do Vale do Rio dos Sinos - São Leopoldo (RS).

RESUMO As condições de armazenamento do arroz influenciam diretamente no rendimento do descascamento e por conseguinte interferem em seu valor agregado. Deste modo, o estudo buscou compreender os efeitos da temperatura de armazenamento sobre o rendimento de engenho. O estudo foi um comparativo entre três cultivares do IRGA-RS: IRGA 424, IRGA 431CL e IRGA 424RI, em que as amostras Palavras-chave: foram submetidas a diferentes temperaturas Arroz; temperatura de (15, 20, 25 e 30°C) de armazenamento durante armazenamento; rendimento 150 dias e em seguida foi avaliado o seu rende descascamento dimento de engenho. Observou-se que nas temperaturas mais baixas houve maior rendimento de grãos descascados inteiros e polidos inteiros, nas três cultivares, contudo, a cultivar IRGA 431CL destacou-se por apresentar o maior aumento de marinheiros ao longo do armazenamento, principalmente na temperatura de 30°C.

FLUXO DA SUBMISSÃO

RESUMO GRÁFICO

Submissão: 21/02/2022 Aprovação: 24/03/2022

CONTATO DA REVISTA Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Tecnológico em Alimentos para a Saúde – itt Nutrifor. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei. 93022-750, São Leopoldo, RS, Brasil. Contato principal: Prof. Dr. Valmor Ziegler. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Alimentos. E-mail: revistappgna@unisinos.br.

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APLICABILIDADE O rendimento de engenho é um parâmetro de qualidade relevante para o setor industrial do arroz, e os resultados deste estudo demonstram que o controle das condições de armazenamento dos grãos é essencial para minimizar perdas e propiciar rendimentos de grãos com maior valor agregado.

[1] Introdução

tação e rotulagem. O arroz é classificado em Grupos, Subgrupos, Classes e Tipos em função da apresentação, processo de beneficiamento, dimensões do grão e qualidade, respectivamente. A qualidade do arroz é definida em função dos limites máximos de tolerância de grãos quebrados e defeituosos, variando dos Tipos 1 ao 5, sendo o 1 considerado de maior qualidade, e o Tipo 5 de menor qualidade. O arroz beneficiado e polido, por exemplo, é o mais valorizado comercialmente, pois representa 70% do arroz consumido no Brasil (DOMENE et al., 2021), visto que possui características sensoriais mais agradáveis aos consumidores. O limite de grãos quebrados para o arroz Tipo 1 é de 7,5% em peso, e o limite de marinheiros é de 10 grãos a cada 1.000 g. Considerando, que o período de armazenamento e suas condições podem influenciar o metabolismo dos grãos e deste modo alterar o rendimento de descascamento, este estudo objetivou estudar o efeito do binômio temperatura e tempo no beneficiamento do arroz, tendo como parâmetros o teor de marinheiros, teor de grãos descascados integrais e teor de grãos inteiros polidos.

O

arroz é um cereal proveniente de plantas da família Poaceae, pertencentes ao gênero Oryza (NUNES, 2021). É o terceiro cereal mais produzido no mundo, atrás apenas do trigo e do milho (STATISTA, 2021). Trata-se de um ingrediente tradicional da cesta básica brasileira, sendo o Brasil o maior produtor de arroz fora da Ásia, tendo produzido no ano de 2020 cerca de 11 milhões de toneladas (FAO, 2022). Em 2018, o país contribuiu com 1,5% da produção mundial do grão, com um total de 11,7 milhões de toneladas colhidas em uma área de 1,9 milhão de hectares (SILVA, WANDER e FERREIRA, 2021). A produção de arroz concentra-se, principalmente, nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Antes de ser comercializado, o arroz passa por um processo de beneficiamento, que inclui etapas de limpeza, descascamento, separação da casca e dos marinheiros, brunimento, homogeneização e classificação. O descascamento, etapa que separa a semente da casca, é realizado em um descascador que possui roletes de borracha que giram em sentidos opostos, fazendo com que o grão, ao passar por entre os roletes, sofra um processo de torção e seja separado da casca. O resultado é o arroz integral, que não possui casca, mas conserva a camada de aleurona. Os grãos que não são descascados durante o processo são conhecidos como “marinheiros”. O brunimento/polimento é a etapa que produz o arroz branco/polido, pois remove, por abrasão, a camada de aleurona do grão (EIFERT, 2009). As condições de armazenamento influenciam diretamente no rendimento do descascamento, podendo influenciar na resistência ao processo de descascamento, aumentando o número de grãos quebrados, tornando-se necessário separá-los dos que permanecem íntegros (SHAD; ATUNGULU, 2020). Logo, altos níveis de marinheiros e quebrados são considerados prejudiciais para a produção do arroz, pois a sua ocorrência representa menor eficiência do descascamento ou resulta em um produto com menor valor agregado. A Instrução Normativa nº 6 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de 16 de fevereiro de 2009 (MAPA, 2009), estabelece os parâmetros de classificação do arroz quanto à qualidade e identidade do grão, técnicas de amostragem, o modo de apresen-

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[2] Materiais e métodos O Arroz utilizado foi obtido em parceria com o Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), foram estudadas as cultivares IRGA 424, IRGA 424RI E IRGA 431CL, as quais foram produzidas no município de Cachoeirinha/ RS, Brasil, na safra 2020/21, colhidas mecanicamente, com aproximadamente 22% de umidade e submetidas à secagem estacionária com ventilação forçada de ar, em temperatura ambiente. Em seguida as amostras foram transportadas ao Instituto Tecnológico em Alimentos para a Saúde (itt Nutrifor) da UNISINOS em São Leopoldo/RS onde foram acondicionadas em sacos de polietileno (capacidade de 5kg cada saco) e armazenadas em câmaras de armazenamento nas temperaturas de 15°C, 20°C, 25°C e 30°C, com variação média de 1°C. Para cada temperatura, o armazenamento foi realizado em triplicata e, a cada 30 dias, as amostras eram homogeneizadas e uma alíquota era coletada para a realização do descascamento. O descascamento foi realizado em um engenho de provas Suzuki, modelo MT2012 por um período de 30s a 45s. Em seguida foram separados os marinheiros, então os grãos descascados foram submetidos ao polimento

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por 50s no mesmo equipamento. Durante esse processo foi determinado o teor de marinheiros, o teor de grãos descascados integrais e o teor de grãos inteiros polidos e os resultados foram expressos em percentual (%). Os resultados foram avaliados utilizando a análise de variância (ANOVA) e as médias foram comparadas utilizando o teste de Tukey a um nível de significância de 95% para a avaliação das diferentes cultivares sobre cada condição de armazenamento.

em função do tempo e da temperatura de armazenamento estão apresentados na Tabela 2. No início do armazenamento, o rendimento de grãos descascados inteiros, variou de 77,96 a 79,27% entre as três cultivares estudadas. Após 150 dias de armazenamento, observa-se uma redução no rendimento de grãos descascados inteiros em todas as condições estudadas, sendo que para a cultivar IRGA 424, o rendimento foi de 71,75% (15°C) e 68,43% (30°C), para a cultivar IRGA 424RI, o rendimento foi de 70,25% (15°C) e 68,02% (30°C) e para a cultivar IRGA 431CL, o rendimento foi de 56,33% (15°C) e 51,53% (30°C), demonstrando que o aumento da temperatura de armazenamento apresenta efeito prejudicial para o rendimento de grãos descascados inteiros, o que representa perda econômica para os engenhos de descascamento de arroz. Os resultados do teor de grãos polidos inteiros em função do tempo e da temperatura de armazenamento estão apresentados na Tabela 3. Observa-se que o teor de grãos inteiros polidos seguiu o mesmo comportamento dos grãos descascados inteiros, com os maiores rendimentos observados nas temperaturas mais baixas (15 e 20°C), quando comparado as temperaturas de 25 e 30°C. Destaca-se que a cultivar IRGA 431CL foi a que apresentou as maiores reduções no rendimento de grãos inteiros polidos, passando de 71,48% (inicial) para 52,38% e 47,04%, respectivamente nas temperaturas de 15 e 30°C, após 150 dias de armazenamento. Os resultados deste estudo confirmam alguns achados de outros pesquisadores. Shad e Atungulo (2020) verificaram que o armazenamento, durante 16 semanas, em altas temperaturas, como 40 ºC, reduziu em 17% o

[3] Resultados e interpretações Os resultados de teor de marinheiros em função do tempo e da temperatura de armazenamento estão apresentados na Tabela 1. No início do armazenamento, o teor de marinheiros variou de 1,73 a 1,88%, entre as três cultivares estudadas, e observou-se crescimento significativo no teor de marinheiros ao longo do armazenamento em todas as condições estudadas. A temperatura de armazenamento apresentou efeito significativo (P < 0,05) ao final de 150 dias de armazenamento, em ambas as cultivares, verificado pelo maior teor de marinheiros, quantificados nas temperaturas de 25 e 30°C, quando comparado aos grãos armazenados na temperatura de 15°C. Apesar deste comportamento ser observado nas três cultivares estudadas, a cultivar IRGA 431CL destacou-se por apresentar o maior aumento no teor de marinheiros, passando de 1,88% (inicial) para 27,30 e 32,07%, respectivamente nas temperaturas de 15 e 30°C, aos 150 dias, destacando-se a diferença de 4,77 pontos percentuais entre as temperaturas de 15 e 30°C. Os resultados do teor de grãos descascados inteiros

TABELA 1

Teor1.de Marinheiros (%) cultivares de arroz, em função e dadetemperatura Tabela Teor de Marinheiros (%)de detrês três cultivares de arroz, em função do tempodo e datempo temperatura armazenamentode armazenamento Cultivar IRGA 424

IRGA 424RI

IRGA 431CL

Temperatura (°C) Inicial 15 A 1,87 ± 0,21 d* 20 A 1,87 ± 0,21 d 25 A 1,87 ± 0,21 d 30 A 1,87 ± 0,21 d

30 A 3,80 ± 0,21 c A 4,26 ± 0,55 c A 3,88 ± 0,42 c A 4,07 ± 0,48 c

Tempo de armazenamento (dias) 60 90 A 4,11 ± 0,26 c A 4,73 ± 0,10 bc A 4,23 ± 0,53 cd A 4,78 ± 0,55 c A 4,78 ± 0,30 c A 4,94 ± 0,27 c A 4,63 ± 0,05 c A 4,56 ± 0,36 c

120 A 6,25 ± 0,77 b A 7,49 ± 0,77 b A 6,80 ± 0,09 b A 7,04 ± 0,14 b

150 B 10,42 ± 0,36 a AB 11,54 ± 0,77 a A 13,46 ± 0,88 a A 13,56 ± 0,26 a

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A 1,73 ± 0,13 d A 1,73 ± 0,13 d A 1,73 ± 0,13 e A 1,73 ± 0,13 d

A 2,54 ± 0,15 cd A 2,46 ± 0,07 d A 2,82 ± 0,05 d A 2,90 ± 0,54 cd

A 2,67 ± 0,41 cd A 2,54 ± 0,23 d A 2,45 ± 0,12 d A 2,73 ± 0,78 d

A 4,09 ± 0,85 c A 4,99 ± 0,28 c A 4,76 ± 0,04 c A 4,33 ± 0,09 c

A 6,93 ± 0,36 b A 7,08 ± 0,01 b A 7,50 ± 0,00 b A 7,63 ± 0,06 b

B 12,81 ± 0,29 a AB 13,82 ± 0,51 a A 14,18 ± 0,20 a A 15,11 ± 0,18 a

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A 1,88 ± 0,15 d A 1,88 ± 0,15 e A 1,88 ± 0,15 e A 1,88 ± 0,15 e

A 3,12 ± 0,13 d A 4,13 ± 0,34 d A 3,65 ± 0,28 d A 3,85 ± 0,55 de

A 3,61 ± 0,16 d A 4,10 ± 0,29 d A 4,57 ± 0,08 d A 4,08 ± 0,71 d

A 8,73 ± 0,78 c A 9,42 ± 0,27 c A 8,93 ± 0,61 c A 10,22 ± 0,02 c

A 16,21 ± 0,26 b A 17,75 ± 0,06 b A 17,27 ± 0,13 b A 19,74 ± 0,91 b

C 27,30 ± 1,01 a B 29,54 ± 0,30 a AB 30,60 ± 0,24 a A 32,07 ± 0,10 a

* Para cada cultivar,(*) médias aritméticas simplesaritméticas de três repetições ± desvio padrão,±seguidas por diferentes minúsculas Para cada cultivar, médias simples de três repetições desvio padrão, seguidas letras por diferentes letrasna mesma linha e maiúsculas na mesma coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey (P < 0,05). minúsculas na mesma linha e maiúsculas na mesma coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey (P < 0,05)

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TABELA 2 Teor de grãos descascados inteiros (%) de três cultivares de arroz, função dotrês tempo e dadetemperatura Tabela 2. Teor de grãos descascadosem inteiros (%) de cultivares arroz, em funçãode doarmazenamento tempo e da temperatura de armazenamento. Cultivar IRGA 424

IRGA 424RI

IRGA 431CL

Temperatura (°C)

Inicial

Tempo de armazenamento (dias) 60 90

30

120

150

15 20 25 30

A 79,27 ± 0,50 a A 77,67 ± 0,38 ab A 77,54 ± 0,10 ab A 79,27 ± 0,50 a A 77,38 ± 0,36 b A 77,13 ± 0,10 b A 79,27 ± 0,50 a A 77,64 ± 0,21 b A 77,06 ± 0,25 b A 79,27 ± 0,50 a A 77,25 ± 0,54 b A 77,11 ± 0,11 b

A 77,34 ± 0,35 b A 77,09 ± 0,38 b A 76,93 ± 0,33 b A 77,30 ± 0,40 b

A 74,85 ± 0,44 c A 71,75 ± 0,71 d A 74,82 ± 0,69 c AB 69,89 ± 0,24 d A 75,25 ± 0,13 c AB 69,69 ± 0,59 d A 75, 21 ± 0,01 c B 68,43 ± 0,61 d

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A 78,26 ± 0,78 a A 78,26 ± 0,78 a A 78,26 ± 0,78 a A 78,26 ± 0,78 a

A 78,27 ± 0,01 a A 77,90 ± 0,42 a A 77,38 ± 0,50 a A 78,03 ± 0,34 a

A 78,11 ± 0,27 a A 78,28 ± 0,04 a A 78,29 ± 0,21 a A 78,19 ± 0,57 a

A 77,47 ± 0,92 a A 76,50 ± 0,40 ab A 76,88 ± 0,09 a A 77,13 ± 0,29 a

A 75,21 ± 0,22 b A 70,25 ± 0,23 c A 75,04 ± 0,02 b AB 69,45 ± 0,78 c A 74,04 ± 0,62 c AB68,61 ± 0,37 c A 74,58 ± 0,04 b B 68,02 ± 0,26 c

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A 77,96 ± 0,28 a A 76,47 ± 0,09 b A 77,96 ± 0,28 a A 75,27 ± 0,80 b A 77,96 ± 0,28 a A 76,66 ± 0,44 ab A 77,96 ± 0,28 a A 75,86 ± 0,31 ab

A 76,03 ± 0,11 b A 75,70 ± 0,27 b A 75,21 ± 0,02 b A 75,68 ± 0,92 b

A 72,37 ± 0,58 c A 71,74 ± 0,22 c A 72,75 ± 0,70 c A 71,39 ± 0,62 c

A 64,55 ± 0,14 d A 56,33 ± 0,62 e A 65,14 ± 0,05 d AB 53,88 ± 0,76 e A 65,17 ± 0,17 d B 51,74 ± 0,99 e B 63,39 ± 0,61 d B 51,53 ± 0,41 e

* Para cada cultivar,(*) médias aritméticas simplesaritméticas de três repetições ± desvio padrão,±seguidas por diferentes minúsculas Para cada cultivar, médias simples de três repetições desvio padrão, seguidas letras por diferentes letrasna mesma linha e maiúsculas na mesma coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey (P < 0,05). minúsculas na mesma linha e maiúsculas na mesma coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey (P < 0,05)

TABELA 3 Rendimento de grãos inteiros polidos (%) de três cultivares de arroz, em polidos função(%) dodetempo e da temperatura de armazenamento Tabela 3. Rendimento de grãos inteiros três cultivares de arroz, em função do tempo e da temperatura de armazenamento. Cultivar IRGA 424

IRGA 424RI

IRGA 431CL

Temperatura (°C)

Inicial

Tempo de armazenamento (dias) 60 90

30

120

150

15 20 25 30

A 70,97 ± 0,80 a A 68,99 ± 0,76 ab A 68,04 ± 0,00 b A 70,97 ± 0,80 a A 68,42 ± 0,91 b A 67,96 ± 0,05 b A 70,97 ± 0,80 a A 68,72 ± 0,30 b A 67,83 ± 0,18 bc A 70,97 ± 0,80 a A 68,04 ± 0,73 bc A 67,90 ± 0,00 bc

A 68,80 ± 0,02 b A 68,39 ± 0,55 b A 65,34 ± 0,05 c A 68,33 ± 0,04 b AB 66,58 ± 0,44 b AB 63,69 ± 0,45 c A 67,96 ± 0,11 bc B 66,67 ± 0,40 c BC 62,48 ± 0,68 d A 68,61 ± 0,42 b B 66,57 ± 0,27 c C 61,22 ± 0,30 d

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A 71,13 ± 0,67 a A 69,98 ± 0,03 ab A 71,13 ± 0,67 a A 69,29 ± 0,20 ab A 71,13 ± 0,67 a A 69,19 ± 0,59 b A 71,13 ± 0,67 a A 69,58 ± 0,21 b

A 70,20 ± 0,47 ab A 70,27 ± 0,37 ab A 70,00 ± 0,26 ab A 70,30 ± 0,01 ab

A 69,36 ± 0,34 bc A 68,75 ± 0,28 bc A 68,91 ± 0,08 b A 69,14 ± 0,09 b

A 67,74 ± 0,10 c A 67,44 ± 0,35 c A 66,48 ± 0,66 c A 66,61 ± 0,52 c

A 63,65 ± 0,49 d AB 62,50 ± 0,71 d AB 62,45 ± 0,16 d B 61,40 ± 0,28 d

15 20 25 30

A 71,48 ± 0,11 a A 71,48 ± 0,11 a A 71,48 ± 0,11 a A 71,48 ± 0,11 a

A 68,61 ± 0,08 b A 68,13 ± 0,08 b A 68,00 ± 0,13 b A 68,56 ± 0,58 b

A 65,68 ± 0,36 c A 65,14 ± 0,10 c A 65,99 ± 0,22 c A 65,31 ± 0,63 c

A 58,76 ± 0,40 d A 59,07 ± 0,00 d A 59,70 ± 0,55 d A 57,67 ± 0,79 d

A 52,38 ± 0,88 e B 49,79 ± 0,30 e BC 48,39 ± 0,41 e C 47,04 ± 0,05 e

A 69,04 ± 0,87 b A 67,79 ± 0,66 b A 69,70 ± 0,07 b A 68,50 ± 0,25 b

* Para cada cultivar,(*) médias aritméticas simplesaritméticas de três repetições ± desvio padrão,±seguidas por diferentes minúsculas Para cada cultivar, médias simples de três repetições desvio padrão, seguidas letras por diferentes letrasna mesma linha e maiúsculas na mesma coluna, diferem entre silinha peloe teste de Tukey (P < 0,05). minúsculas na mesma maiúsculas na mesma coluna, diferem entre si pelo teste de Tukey (P < 0,05)

teor de grãos descascados inteiros em três cultivares diferentes de arroz, em comparação ao observado nas amostras armazenadas a 20 ºC. Já Souza, Rolim e Silva (2018), armazenando grãos de arroz por 6 meses, não obtiveram diferenças significativas no rendimento de

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grãos descascados inteiros e quebrados, ao comparar o armazenamento resfriado a 8°C e em temperatura ambiente, contudo, com relação ao teor de grãos inteiros polidos, eles observaram que o resfriamento gerou um aumento de um ponto percentual, quando comparado

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a condição não resfriada. Outro estudo, que comparou o armazenamento de grãos de arroz em 15°C e 23°C não observou variação significativa no resultado do rendimento de grãos descascados (VON AHN et al, 2015), no entanto, o armazenamento foi de apenas 3 meses. Katta et al. (2019), verificaram que os grãos de arroz armazenados por 24 meses em temperaturas baixas, ao redor de 5°C, apresentaram rendimento de grãos inteiros descascados cerca de 5% maior do que os grãos armazenados em temperatura ambiente, os resultados também foram positivos ao analisar o teor de grãos inteiros polidos. As alterações no rendimento de descascamento durante o armazenamento podem estar relacionadas com o envelhecimento do grão, visto que neste processo ocorrem reações metabólicas e enzimáticas, as quais são diretamente influenciadas pela temperatura, sendo que temperaturas menores tendem a desacelerar esse conjunto de reações (PARAGINSKI et al., 2014). Essas reações são responsáveis por alterações na estrutura do grão, que neste caso, podem ter ocasionado maior adesão do grão à casca gerando maior número de marinheiros ao longo do armazenamento, sendo mais evidente nas temperaturas mais elevadas. No processo de beneficiamento do arroz, os grãos que prevaleceram com casca retornam ao engenho para serem descascados, contudo o atrito aplicado repetidamente aumenta a possibilidade de quebra do grão (BUGGENHOUT et al., 2013). Deste modo, neste estudo o teor de marinheiros será associado ao teor de grãos quebrados. Dentre as alterações que ocorrem na estrutura dos grãos, está a mudança da matriz proteica em torno dos grânulos de amido, as quais, em menores temperaturas é fortalecida, tornando o grão mais resistente ao processo de beneficiamento (LANG et al., 2018). Por conseguinte,

o maior rendimento de grãos inteiros no armazenamento em temperaturas mais baixas pode estar associado a essa condição estrutural do grão. Variações nos resultados quanto às diferentes cultivares estão ligadas a características próprias da genética das sementes utilizadas e sua adaptabilidade ao ambiente em que foram cultivados (SILVA et al., 2019). Em um cálculo hipotético comparando a melhor (15°C) e o pior (30°C) condição de armazenamento, para o resultado de grãos inteiros polidos, poderia se ter um rendimento cerca de 4% maior, o que representa 40 mil toneladas a cada 1 milhão de toneladas produzidas. Tendo em vista a produção brasileira de arroz de cerca de 11 milhões de toneladas (FAO, 2022), a redução de perdas no beneficiamento poderia ocasionar um menor desperdício e menor demanda por área de produção, ou ainda aumentar a oferta, podendo reduzir o preço ao consumidor.

[4] Conclusão O estudo demonstrou que o armazenamento afeta negativamente o rendimento de engenho do arroz, reduzindo o teor de grãos descascados inteiros e de grãos polidos inteiros, aumentando o teor de marinheiros, principalmente quando armazenados em temperatura elevada (30°C). Quando o armazenamento é realizado em condições de resfriamento (15°C), é possível minimizar as perdas, mantendo os melhores rendimentos de grãos descascados e polidos inteiros. Destaca-se que a manutenção dos mais altos rendimentos de descascamento é essencial para preservar os ganhos no engenho, pois são os grãos com maior valor agregado, além de contribuir para a segurança alimentar da população.

REFERÊNCIAS

BUGGENHOUT, J. et al. The breakage susceptibility of raw and parboiled rice: A review. Journal Of Food Engineering. Heverlee, v. 3, n. 117, p. 304-311, 2013. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.jfoodeng.2013.03.009. Acesso em: 12 jan. 2022.

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INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE EM SAÚDE, NUTRIÇÃO E ALIMENTOS

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