1(3): 22-30
Agosto 2023 Unisinos
ISSN: 2764-6556
doi.org/10.4013/issna.2023.31.4
1(3): 22-30
Agosto 2023 Unisinos
ISSN: 2764-6556
doi.org/10.4013/issna.2023.31.4
Anna Clara Blum* annaclarablum@gmail.com
Graduanda em Ciências Biológicas (Bacharel), Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo. [*] Autora correspondente.
Rochele Cassandra Rossi rochelecr@unisinos.br
Professora do Programa de Pós- graduação em Nutrição e Alimentos, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo.
Submissão: 03/05/2023
Aprovação: 05/07/2023
Universidade doVale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Instituto Tecnológico em Alimentos para a Saúde – itt Nutrifor. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei. CEP: 93022-750, São Leopoldo, RS, Brasil.
Contato principal: Prof. Dr. Cristiano Dietrich Ferreira. Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Alimentos. E-mail: revistappgna@ unisinos.br.
A camomila (Matricaria chamomilla L.) é uma planta medicinal pertencente à família Asteraceae. O presente estudo possui a finalidade de avaliar o impacto dos métodos de secagem, liofilização e secagem convencional, em relação as propriedades bioativas da planta. As amostras foram coletadas em uma horta no município de São Leopoldo e realizou-se análises botânicas e análises químicas utilizando extratos hidroalcóolicos obtidos das flores. Nesta pesquisa, pode-se observar que os métodos de secagem, em estufa de ar circulante e liofilização, impactaram negativamente no teor de compostos bioativos e na atividade antioxidante, em relação a planta in natura. A secagem em estufa apresentou menor impacto em relação a liofilização. A análise cromatográfica possibilitou a identificação e quantificação do biomarcador apigenina-7-O-glicosídeo.
Palavras-chave: Matricaria chamomilla L.; planta medicinal; secagem; liofilização; potencial bioativo.
Os métodos de secagem são pouco explorados em relação a avaliação da manutenção dos compostos bioativos das plantas medicinais, como a camomila. O conhecimento acerca dos métodos de secagem é importante para saber se o que estamos ingerindo, de fato, está cumprindo a função medicinal desejada.
Acamomila (Matricaria chamomilla L.) é uma planta herbácea, anual, monoica, aromática, medicinal, pertencente à ordem Asterales e a família Asteraceae. As raízes são fusiformes e finas, o caule é cilíndrico, ereto e fortemente ramificado, sendo o glabro estriado, as folhas têm filotaxia alterna, com segmentos regulares, longas e estreitas, extremamente recortadas, sendo bi a tripinatissectas, a inflorescência é em capítulos. A planta mede cerca de 20 a 60 cm de altura. (CASTRO; CHEMALE, 1993; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015; BABOSA; JUNIOR, 2019; ANVISA, 2019).
A planta tem origem no norte da Europa, podendo também ser encontrada no norte da África na região do mediterrâneo, na Ásia ocidental e nos Estados Unidos. No Brasil, a espécie foi introduzida pelos imigrantes europeus a mais de 100 anos, especialmente na região sul. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015; SANTOS., 2020; MIHYAOUI, 2022; BARBOSA; JUNIOR, 2019). Segundo os dados da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná (2021), a cidade de Mandirituba, na região metropolitana de Curitiba no Paraná, é uma das maiores produtoras de camomila do Brasil, em 2020 foram produzidas 280 toneladas da planta medicinal. Devido ao seu potencial medicinal, a camomila é amplamente conhecida no mundo, sendo utilizada há séculos na medicina tradicional, principalmente como calmante, anti-inflamatória, antisséptica, antiespasmódica, antibacteriana, antifúngica, sedativa e auxiliando na melhora de doenças como distúrbios intestinais, problemas respiratórios, contusões musculares, dores reumáticas, cólicas, alivia a tensão nos olhos e serve como atenuante de gases. Geralmente a parte da planta utilizada são as flores, na forma de chás, infusões, compressas ou pomadas, tinturas e inalações (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015; ALVES, 2013; JARDIM, 2016; ANVISA, 2016; MIHYAOUI, 2022). Suas propriedades medicinais se devem a presença de 120 componentes químicos identificados como metabólitos secundários, onde se destacam 36 flavonoides e 28 terpenoides, como α -bisabolol, o camazuleno e a apigenina (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015; ALVES, 2013; JARDIM, 2016).
Com o objetivo de prolongar a durabilidade das
plantas medicinais, uma das técnicas de conservação mais antigas e utilizadas até hoje é a secagem ou desidratação, considerando que a água é o fator que mais contribui para a deterioração. Ao se remover a água, evita-se a ocorrência de reações químicas e o crescimento de microrganismos. Desta forma, a desidratação atua prolongando a durabilidade, facilitando o transporte, o armazenamento e, além disso, em plantas medicinais pode prolongar a estabilidade dos compostos bioativos. Dentre as técnicas de desidratação, as mais relevantes atualmente são a secagem em estufa e a liofilização. (GUERRA et al. , 2015; PINELA, 2012).
A estufa é um equipamento que acumula e contém o calor no seu interior, mantendo constante durante o período de secagem desejado, para eliminara a água através da evaporação. As estufas mais indicadas para secagem de plantas são aquelas que possuem a circulação de ar no seu interior de maneira a homogeneizar o aquecimento, evitando que haja partes da planta com diferentes percentuais de água (SUTILLE et al. , 2007; JUNIOR et al. , 2020). Porém, altas temperaturas podem alterar a quantidade e qualidade dos princípios ativos. Portanto, é importante considerar os limites de temperatura, velocidade do ar e tempo de exposição do material, pois esses fatores são essenciais para que não haja danificação do material. No geral, temperaturas entre 40 e 60 °C são as mais indicadas para secagem (JUNIOR et al. , 2020). Este método sendo malconduzido pode afetar a qualidade dos produtos, quimicamente e fisicamente, alterando características nutricionais, farmacológicas e organolépticas (GUERRA et al. , 2015).
Os processos de conservação de alimentos, temperos e chás, vem sendo aprimorado durante décadas. Na atualidade, um dos potenciais aliados na manutenção dos compostos bioativos nas plantas medicinais é o processo de desidratação por liofilização, o qual se estaca por preservar a aparência, o aroma e cor de diversos alimentos e plantas (GUERRA et al. , 2015; PINELA, 2012; OLIVEIRA, 2019).
Com base no exposto acima, o presente estudo possui a finalidade de avaliar o impacto dos métodos de secagem, liofilização e secagem convencional, em relação a conservação dos compostos bioativos da M. chamomilla .
Coletou-se as amostras da planta M. chamomilla, no dia 17 de agosto de 2022 (Figura 1), no período da manhã das 9h às 11h, na horta que faz parte do projeto PASEC (Programa de Ação Socioeducativa na Comunidade) da Unisinos, localizada nas coordenadas lat -29.726139° lon -51.190181°, na Escola Santa Marta, Bairro Arroio da Manteiga em São Leopoldo/ RS. O material foi armazenado em pote plástico até ser levado no início da tarde ao Laboratório de Nutracêuticos da Universidade do Vale do Rio dos Sinos em São Leopoldo, onde realizou-se as análises químicas.
A espécie vegetal foi identificada macroscopicamente utilizando os parâmetros descritos na Farmacopeia Brasileira, 6ª edição (2019). A análise foi realizada no laboratório de Taxonomia Vegetal da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.
Para construção da exsicata coletou-se o espécime em período fértil. As amostras foram levadas ao laboratório, as quais foram colocadas entre camadas de jornal, prensadas e levadas à estufa. Após o período de secagem, foi retirada a planta seca com cuidado. A montagem da exsicata foi realizada em cartolina utilizando a costura como técnica para prender o material ao papel. Juntamente com a exsicata foi anexada uma ficha de identificação. A mesma foi encaminhada ao Herbário PACA (Porto Alegre- Colégio Anchieta), localizado no campus Unisinos -São Leopoldo, para tombamento.
Para as análises químicas, coletou-se cerca de 600 g de flores para produzir os extratos da planta in natura, seca em estufa e liofilizada.
[2.4]
Para a desidratação do material vegetal, utilizou-se as técnicas por liofilização e desidratação em estufa de ar circulante, conforme descrito a seguir:
[2.4.1] Processo de desidratação por liofilização
Cerca de 200 g da amostra da camomila in natura (flores) foram submetidas ao congelamento a -35 °C por 3 dias. Para a liofilização, foi utilizado o liofilizador da marca Liotop (modelo L-108), a -50 °C e vácuo parcial de 38 μmHg, durante 48 horas. Após o fim do processo, a amostra foi armazenada em embalagem de polietileno laminada.
[2.4.2] Processo de desidratação em estufa de ar circulante
Cerca de 200 g da amostra da camomila in natura (flores) foram submetidas secagem em estufa de ar circulante (Marca Solidstell) a 40 °C por 48 horas. Após o fim do processo, a amostra foi armazenada em embalagem de polietileno laminada.
Pesou-se 5 g de flores da camomila in natura em placas de Petri e levou-se para estufa a 105 °C por 48 h. Após esse período, retirou-se as placas de Petri da estufa, esperou-se esfriar, e realizou-se pesagens até peso constante.
Para o preparo dos extratos da camomila in natura, seca em estufa e liofilizada, pesou-se 5 g da amostra vegetal em um becker e adicionou-se 50 ml de solução hidrometanolica 10% (v/v). Deixou-se em banho de ultrassom por 45 minutos a 35 °C e, após, filtrou-se o extrato, transferiu-se para um balão volumétrico de 100 ml e completou-se o volume. O extrato foi dividido em tubos falcon e congelados a -18 °C para as análises posteriores.
As análises químicas realizadas foram: a quantificação de compostos flavonoides totais, quantificação de compostos fenólicos totais, atividade antioxidante - pelo método de captura do radical livre DPPH e quantificação do teor de apigenina-7-O-glicosídeo. As análises foram realizadas no Instituto Tecnológico de Alimentos para a Saúde (Itt Nutrifor), no Laboratório de Nutracêuticos da Universidade do Vale do Rio dos Sinos em São Leopoldo.
O conteúdo de flavonoides totais foi determinado através do método espectrofotométrico descrito por Zhishen et al. (1999), utilizando cloreto de alumínio. A absorbância foi lida em um comprimento de onda 510 nm. A quantificação de flavonoides totais dos extratos foi realizada por meio de curva padrão preparada com catequina. O resultado foi expresso em miligrama de equivalente de catequina (ECAT) por grama de massa seca (mg ECAT/g).
Realizou-se através do método espectrofotométrico utilizando Folin-Ciocalteau, conforme proposto por Meda et al. (2005) e Singleton et al. (1999). A absorbância foi lida em um comprimento de onda 760 nm. A quantificação de fenóis totais dos extratos foi realizada por meio de uma curva padrão preparada com ácido gálico e os resultados foram expressos em mg de equivalentes de ácido gálico (EAG) por grama de massa seca (mg EAG/g).
[2.7.3] Atividade antioxidante - captura do radical livre DPPH
A determinação da atividade antioxidante pelo método de DPPH foi realizada de acordo com o método descrito por Brand-Willians, Cuvelier e Berset (1995). Em um tubo de ensaio (triplicata), foi pipetado 100 μL de cada extrato. Adicionou-se 3,9 mL de solução de DPPH 0,1 mM. A mistura foi deixada no escuro por 30 minutos, à temperatura ambiente. O controle foi preparado da mesma forma, sem o extrato, utilizando metanol para correção da linha base. A absorbância foi lida em um comprimento de onda de 515 nm. Os resultados foram expressos em micromol de equivalente trolox (ET) por grama de matéria seca (μmol ET/ g).
[2.7.4] Quantificação do teor de apigenina-7-O-glicosídeo
A quantificação do teor de apigenina-7-O-glicosídeo nos extratos foi realizada conforme a metodologia descrita pela Farmacopeia Brasileira, 6ª edição (2019). Utilizou-se um Cromatógrafo Líquido de Alta Eficiência (CLAE) da marca SHIMADZU, com coluna ZORBAX SB-18 (C18 250 x 4,6 mm e 5 μm) e pré-coluna ZORBAX SB-18 4-POCK (C18 4,6 x 12,5 mm e 5 μm), ambas da Agilent Technologies. A fase móvel foi composta de: (a) água e ácido fórmico (99,5:0,5) e (b) álcool metílico e ácido fórmico (100:0,08). O volume de injeção foi de 20 μL, o fluxo de 0,6 mL/min e o comprimento de onda de 340 nm, O padrão utilizado foi apigenina-7-O-glicosídeo, da marca Sigma Aldrich. Para a análise do teor de apigenina-7-O-glicosídeo nos extratos foi construída uma curva analítica do padrão, contento 7 pontos, nas concentrações na faixa de 30 a 70 μg/ml. As concentrações de apigenina-7-O-glicosídeo quantificadas nos extratos foram expressas em mg/100 mg.
Para análise estatística dos dados utilizou-se o software PAST. Foi realizado o teste de normalidade e seguida pela análise de variância (ANOVA) e aos pares pelo Teste de Tukey, ambos com nível de significância de 5% (p < 0,05).
Observou-se capítulos com cerca de 10 a 17 mm de diâmetro e a parte central cônica possuindo diâmetro de 3 a 10 mm, seu interior é oco rodeado por flores
amarelas sendo tubulares, não possuía páleas. De 12 a 17 flores periféricas, liguladas com coloração branca. Os capítulos maduros e secos, com flores claramente voltadas em direção ao pedicelo. O invólucro na cor verde formado por 2 a 3 séries de brácteas oblongo-lanceoladas, tricomas glandulares bisseriados na face abaxial, imbricadas e com ápices obtusos e margem hialina. As flores marginais eram dispostas em apenas uma série, com o tubo da corola reto e curto, sendo ligeiramente amarelado, e possuindo até 1,5 mm de comprimento; na altura da abertura da lígula (bem desenvolvida) é comprimido, tridentada, oblongos ou longo-ovalada, com 7 a 10 mm de comprimento e até 2 a 3 mm de largura, contendo quatro nervuras longitudinais os marcando, possuindo raramente uma ou duas nervuras paralelas mais curtas. O estilete é composto por dois ramos papilosos. As flores do centro são perfeitas, em grande número, com até 2,5 mm de comprimento, com tubo reto e limpo pentalobado, os lobos são iguais e agudos, dilatando-se a partir de uma forte constrição, onde é possível visualizar uma grande densidade de
tricomas glandulares. Em relação as partes férteis da flor, apresenta cinco estames epipétalos e sinânteros e o ovário ínfero, estilete idêntico o das flores liguladas. Fruto tipo aquênio, ovoide, apresentando de três a cinco listras longitudinais.
Após a análise observou-se que a amostra corrobora com todos os parâmetros descritos na 6ª edição da Farmacopeia Brasileira (ANVISA, 2019).
Levou-se a exsicata ao Herbário PACA, a qual foi armazenada na coleção botânica (Figura 2). A mesma recebeu o número de tombamento 119349 e está disponível para visualização no site speciesLink, que é um sistema de dados com informações de espécies integrantes de coleções de diversas partes do mundo o mesmo possui objetivo de fomentar a pesquisa e a educação, além de auxiliar na criação de políticas públicas para incentivar a conservação e uso de forma sustentável da biodiversidade (CRIA, 2021).
A amostra in natura apresentou uma perda de 22,33% de umidade. Honorato (2014) analisou a influência de diferentes temperaturas de secagem em estufa com ar circulante (40 °C, 50 °C, 60 °C) de folhas da M. chamomilla em relação a redução de massa e verificou que na maior temperatura e tempo estudados, 60 °C por 60 min, houve redução de massa de 73,99%, havendo uma alta perda de umidade em comparação com as outras amostras em variáveis diferentes (tempo e temperatura). Muñoz (1993) relata que após a colheita as plantas podem apresentar quantidade de água variável dependo da parte da planta em questão. As sementes e frutos secos podem apresentar cerca de 5 a 10%, as folhas de 60 a 90%, as raízes de 70 a 85% e as flores e frutos carnosos de 80 a 90%. Considerando que as inflorescências da camomila são pequenas e delicadas e as folhas possuem uma área maior e são muito ramificadas, o que pode acumular um teor maior de umidade e explicar a maior perca de água em relação as flores após a secagem. Na literatura não há pesquisas que analisem diretamente a perda de umidade por dessecação das flores in natura da camomila.
O extrato de camomila in natura apresentou o maior teor de flavonoides totais, possuindo uma média de 1,15 mg ECAT/ g., em relação aos demais extratos, o extrato de camomila seca em estufa de ar circulante apresentou uma média de 0,09 mg ECAT/ g. e o extrato de camomila liofilizada com 0,06 mg ECAT/ g. Através do gráfico 1 é possível observar claramente a diferença do teor dos compostos flavonoides entre os tratamentos.
GRÁFICO 1
Teor de flavonoides totais das flores de M. chamomilla.
Borgo et al. (2010) avaliaram a influência dos processos de secagem no rendimento de flavonoides extraídos de Baccharis articulata (Lam.) Pers. Concluíram que a maior concentração de flavonoides foi encontrada nas amostras submetidas a secagem em estufa com circulação de ar, sendo significantemente superior a concentração presente nas folhas secas na temperatura ambiente. Sugere-se que a energia térmica envolvida no processamento da estufa tenha permitido a ruptura de estruturas internas, o que propiciaria maior extração de compostos químicos, durante o processo de obtenção de extratos. Em contrapartida Martinazzo et al. (2007) relataram em seu estudo que a associação das variáveis de secagem (temperatura e tempo) pode resultar na diminuição do teor dos princípios ativos por alguns serem termossensíveis. Além disso há fatores que podem influenciar na secagem dos vegetais dentre eles a difusividade efetiva do calor depende das características do ar de secagem e as propriedades físico-químicas da amostra relacionado a espécie e a variedade. No presente estudo com a camomila foi utilizada uma temperatura ideal para secagem em estufa de plantas medicinais que variam de 40 °C a 60 °C, mesmo assim houve uma significativa diminuição do teor de flavonoides.
Honorato (2014), em estudos utilizando as folhas da camomila, concluiu que a temperatura e o tempo de secagem possuem efeito negativo na manutenção de flavonoides, sendo que a medida que houve o aumento da temperatura e/ou tempo, gerou uma redução na concentração desses compostos. Em sua conclusão as folhas de M. chamomilla em secagem a 40 °C durante 30 minutos em estufa com circulação de ar, obteve o maior teor de flavonoides em relação as amostras submetidas ao aumento das variáveis tempo e temperatura. Entretanto, não há registro na literatura sobre a análise dos impactos de secagem (secagem em estufa de ar circulante e liofilização) no teor de flavonoides utilizando as flores da M. chamomilla
A camomila in natura apresentou o maior teor de compostos fenólicos totais em relação aos demais extratos, possuindo média de 1,13 mg EAG/ mL, seguida do extrato de camomila seca em estufa de ar circulante com 0,98 mg EAG/ mL, e com menor teor de compostos fenólicos o extrato de camomila liofilizada com 0,605 mg EAG/mL. Através do gráfico 2, é possível comparar as médias dos extratos e observar a diferença entre o extrato de camomila.
LEGENDA: *Média aritmética de três repetições ± desvio padrão, seguido por diferentes letras minúsculas diferem entre si pelo teste Tukey (P < 0,05).
FONTE: Autoria própria, 2022
Segundo Angelo e Jorge (2007) os compostos fenólicos são estruturas químicas amplamente encontradas no reino vegetal que possuem alto potencial medicinal apresentando propriedades anti-inflamatória, antioxidante, antimicrobiana, dentre outras. Sotiropoulou et
LEGENDA: *Média aritmética de três repetições ± desvio padrão, seguido por diferentes letras minúsculas diferem entre si pelo teste Tukey (P < 0,05).
FONTE: Autoria própria, 2022
al. (2020) verificaram que o extrato de camomila aquoso aquecido a 80 °C apresentou maior teor de compostos fenólicos totais em comparação ao extrato a 100 °C, e o extrato obtido a 25 °C. Sendo assim é possível concluir que a temperatura de extração influenciou no teor de compostos fenólicos totais da amostra analisada. Tanikawa (2021), mencionou em seu estudo que o processo de liofilização pode diminuir ou degradar a presença de algumas classes de compostos bioativos das plantas, como os compostos fenólicos e outros voláteis.
Apesar do teor de fenólicos ter sido mais baixo no presente estudo, é importante ressaltar que com a utilização do método de liofilização foi possível conservar as características sensoriais da planta, como a cor, o aroma e os aspectos físicos. Além disto, outra vantagem é o prolongamento da durabilidade do produto. Em contrapartida, o gasto de energia e tempo deste processo gera alto custo e consequentemente torna-se um produto com valor comercial mais alto (RIBEIRO, 2012; OLIVEIRA, 2019).
do radical livre DPPH
O gráfico 3 compara as médias dos extratos, através dele é possível observar a diferença da atividade antioxidante - DPPH entre o extrato de camomila in natura, extrato de camomila liofilizada e extrato de camomila seca em estufa. O extrato de camomila in natura apresentou maior atividade antioxidante relação aos demais extratos avaliados.
A amostra desidratada através da secagem em estufa apresentou maiores valores de DPPH quando comparada com a liofilização. Tanikawa (2021), mencionou em seu
LEGENDA: *Média aritmética de três repetições ± desvio padrão, seguido por diferentes letras minúsculas diferem entre si pelo teste Tukey (P < 0,05).
FONTE: Autoria própria, 2022
estudo que algumas enzimas como a peroxidase e a polifenoloxidase, podem acabar rompendo os constituintes celulares gerando a liberação de compostos bioativos o que podem ocasionar o aumento das propriedades antioxidantes.
Coelho et al. (2012) observaram em seus resultados que o extrato metanólico de camomila demonstrou uma atividade antioxidante frente ao radical DPPH significativa. Tendo em vista que os compostos fenólicos fazem partes dos principais grupos antioxidantes nas plantas, a atividade antioxidante é assegurada pelas propriedades redox as quais permitem que eles se comportem como redutores ou doadores de hidrogênio. Além disso, as substâncias presentes na camomila como lactonas sesquiterpênicas, contribuem para o seu potencial antioxidante. Agatonovic-Kustrin et al. (2015), verificaram em seu estudo os extratos das flores e folhas da camomila são uma rica fonte de α-bisabolol e o camazuleno.
O extrato in natura apresentou a maior concentração de apigenina-7-O-glicosídeo (0,25 mg/100 mg), seguido do extrato de camomila seca em estufa de ar circulante (0,20 mg/100 mg) e o extrato liofilizado (0,17 mg/100 mg). Avula et al. (2014), obtiveram resultados semelhantes ao realizar a análise simultânea de nove compostos fenólicos por UHPLC-UV-QTOF/MS, dentre eles, a apigenina-7-O-glicosídeo. Foram testadas 28 amostras comerciais de camomila na forma de capsulas e sachês de chá, onde os resultados obtidos para apigenina-7-O-glicosídeo variaram de 0,2 a 323 mg/100 mg, corroborando com os resultados obtidos no nosso estudo.
A apigenina e seus derivados glicosídeos, como a apigenina-7-O-glicosídeo, são encontrados nos extratos das inflorescências de camomila e são importantes compostos responsáveis pelas atividades anti-inflamatória e antioxidante da planta. Segundo a Farmacopeia Brasileira, a apigenina-7-O-glicosídeo é um biomarcador da espécie vegetal M. chamomila L. (ANVISA, 2019; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015).
As propriedades bioativas das plantas medicinais se devem pela presença de moléculas bioativas na sua composição. Os métodos de secagem exercem grande influência na composição e estabilidade desses compostos. Neste trabalho, pode-se observar que os dois métodos de secagem estudados impactaram negativamente no teor de compostos bioativos e na atividade antioxidante havendo uma diminuição, estatisticamente significativa, em relação a planta in natura. A análise cromatográfica possibilitou a identificação e quantificação do biomarcador apigenina-7-O-glicosídeo e demostrou que os métodos de secagem também afetam significativamente o teor deste composto. Na secagem convencional observou-se o menor impacto na manutenção das moléculas bioativas que do que através no processo de liofilização. Como a pesquisa é a primeira analisando os impactos de secagem (secagem convencional e liofilização) nas propriedades bioativas da camomila (Matricaria chamomilla L.), os resultados obtidos darão suporte científico para posteriores pesquisas e para o uso desta planta na medicina tradicional.
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