Impacto do isolamento social durante a pandemia da COVID-19 nas práticas alimentares e tempo de...

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Dezembro 2022 Unisinos ISSN: 2764-6556 AUTORES

doi.org/10.4013/issna.2022.21.4

Impacto do isolamento social durante a pandemia da COVID-19 nas práticas alimentares e tempo de tela em crianças

Impacts of social isolation during the covid-19 pandemic in eating habits and screen time in children

RESUMO

Rafaela Arruda Zanelatto rafa-zanelatto@hotmail.com

Curso de Nutrição, Universidade Vale do Rio dos Sinos – Porto Alegre (RS)

Paula Dal Bó Campagnolo* pcampagnolo@unisinos.br

Curso de Nutrição e Programa de PósGraduação em Nutrição e Alimento, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Porto Alegre (RS). [*] Autor correspondente

Submissão: 04/08/2022 Aprovação: 11/10/2022

CONTATO DA REVISTA

Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Tecnológico em Alimentos para a Saúde – itt Nutrifor. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei. 93022-750, São Leopoldo, RS, Brasil.

Contato principal: Prof. Dr. Juliana de Castilhos. Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Alimentos. E-mail: revistappgna@unisinos.br.

DISTRIBUÍDO SOB

O isolamento social decorrente da pandemia do COVID-19 resultou em mudanças na rotina das famílias. O objetivo do estudo foi investigar o efeito do isolamento social nas práticas alimentares e no tempo de tela em crianças durante a pandemia. Trata-se de um estudo transversal, realizado com 75 crianças. Aplicou-se um questionário online com perguntas sobre o período de isolamento, práticas alimentares e tempo de tela. Com relação a utilização de telas, mais de 57,3% passaram a utilizar celular/tablet/computador por mais de 4h/dia. Foi observado pelos pais/responsáveis um aumento no consumo de biscoitos recheados, chocolates/bombons, balas/chicletes, feijão/lentilha, entre outros. De acordo com os resultados do estudo, conclui-se que essa pandemia possui relação direta com as modificações dos hábitos alimentares das crianças.

Palavras-chave: consumo de alimentos; comportamento alimentar; infecções por coronavírus

Os resultados desse estudo servem de alerta para os profissionais da saúde que acompanham 34 crianças em idade escolar que recente passaram por um período grande de isolamento social 35 provocado pela pandemia da COVID-19. Os impactos observados nos hábitos alimentares das 36 crianças, além dos aspectos psicológicos e emocionais descritos recentemente na literatura 37 devem ser cuidadosamente avaliados para que intervenções precoces e efetivas sejam 38 planejadas e implementadas. 39 40

RESUMO GRÁFICO

RESUMO GRÁFICO

FLUXO DA SUBMISSÃO
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ARTIGO TÉCNICO
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43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 Pandemia do COVID-19 Isolamento social Suspenção das aulas Pais em trabalho remoto Aumento das principais refeições em casa, mas nem sempre no formato de refeição familiar Diminuição da participação das crianças nas compras dos alimentos Aumento da particiação das crianças no preparo das refeições Aumento do consumo dae guloseimas, embutidos, feijão/lentilha e frutas secas Aumento no tempo em que as crianças passavam em frente as telas Amostra 75 crianças entre 2 a 10 anos de ambos os sexos
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APLICABILIDADE

Os resultados desse estudo servem de alerta para os profissionais da saúde que acompanham crianças em idade escolar que recente passaram por um período grande de isolamento social provocado pela pandemia da COVID-19. Os impactos observados nos hábitos alimentares das crianças, além dos aspectos psicológicos e emocionais descritos recentemente na literatura devem ser cuidadosamente avaliados para que intervenções precoces e efetivas sejam planejadas e implementadas.

[1] Introdução

Apandemia do COVID-19, também conhecido por coronavírus (SARS-CoV-2), tem alterado a rotina da maioria das famílias. O primeiro caso surgiu na cidade de Wuhan, China, em dezembro de 2019 e até o dia 19 de outubro de 2021, foram contabilizados em torno de 242 milhões de casos e 4,91 milhões de óbitos, ocorrendo uma média de 409.761 novos casos por dia no mundo (WIKIPÉDIA, [s.d.]). Nesta mesma data o Brasil possuía 21,7 milhões de casos confirmados, sendo 20,9 milhões recuperados e 604 mil mortos. Já o Rio Grande do Sul tinha em média 625 novos casos por dia (MINISTÉRIO DA SAÚDE, [s.d.]). Em relação a vacinação, o Brasil já atingiu 88% da população imunizada com a primeira dose da vacina e 81% da população completamente vacinada, ou seja, 4 doses da vacina contra o COVID-19 (OUR WORLD IN DATA, [s.d.]).

Com o rápido desenvolvimento e transmissão da doença, algumas restrições sociais foram propostas em cada país. No Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs o isolamento social dos casos suspeitos e o distanciamento social, técnicas essenciais para diminuição no número de casos (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 2020). Desse modo, houve o fechamento do sistema escolar, do comércio, das empresas e dos serviços governamentais, além de todos os outros serviços considerados não essenciais. As empresas mudaram o trabalho de seus funcionários para o modo online, o que acabou influenciando a população a ficar em casa (SÁ; et al, 2021). Com isso, a rotina das famílias com crianças exigiu maior empenho dos pais ou responsáveis, uma vez que necessitavam conciliar o trabalho remoto e a aprendizagem dos filhos (MARQUES; et al, 2020).

Com todas as mudanças do cotidiano, um estudo feito na Espanha indicou o aumento ou o aparecimento de reações emocionais, apontando que o confinamento afetou o bem-estar das crianças. As reações mais predominantes foram: irritabilidade, dificuldade de concentração, desânimo e desinteresse (ERADES; MOLARES, 2020).

Em relação a organização do tempo durante o isolamento social, um estudo brasileiro demonstrou a mudança da rotina nas famílias. Os pais ou responsáveis relataram que o nível de atividade física diminuiu, visto que as crianças pararam de sair de casa. Além disso, informaram que o sono, as atividades escolares e os hábitos alimentares se modificaram drasticamente neste período (SÁ; et al, 2021).

Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi investigar qual o efeito do isolamento social nas práticas alimentares e tempo de tela em crianças de 2 a 10 anos de idade durante a pandemia da COVID-19, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

[2] Metodologia

Trata-se de uma pesquisa descritiva e transversal, que teve como característica o método quantitativo e qualitativo. Responderam à pesquisa os responsáveis por crianças de 2 a 10 anos, de ambos os sexos, matriculadas no ensino infantil ou fundamental, que estavam frequentando a escola e passaram a estudar online durante o período de isolamento social e que residiam na Região Metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.

Os dados foram coletados virtualmente através de um questionário feito a partir do Google Forms. O link do formulário foi enviado via WhatsApp e colocado no perfil das redes sociais da pesquisadora. Também foi repassado de mãe para mãe e colocado em grupos de pais ou responsáveis. Dessa forma, foi utilizado a metodologia snowball ou “Bola de Neve” como ferramenta para a pesquisa. Segundo Goodman (1961), um indivíduo é selecionado e, posteriormente, indica outras pessoas que de seu convívio para também participarem da pesquisa. Os dados foram coletados entre maio e julho do ano de 2021.

O questionário foi divido em 4 partes: (1) Dados de identificação; (2) Comportamento da família no período de isolamento social; (3) Práticas alimentares e Tempo de tela; (4) Consumo Alimentar. Cada grupo de questões tem um objetivo. A identificação teve o intuito de informar a idade da criança, escolaridade e número de

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pessoas que moram com ela. O isolamento teve o objetivo de mostrar como foi o período entre março e outubro de 2020, no qual as atividades presenciais, incluindo as escolares, estavam muito restritas. O grupo das práticas alimentares e tempo de tela buscou identificar a mudança do comportamento da criança e da família durante a pandemia. Por fim, a categoria de consumo de alimentos procurou conhecer as mudanças que ocorreram no período de isolamento social em relação hábitos alimentares dos participantes, de acordo com a percepção dos pais/responsáveis. Além disso, ao final do questionário foram realizadas duas perguntas abertas sobre os impactos positivos e negativos relacionados ao isolamento social.

Os dados foram organizados no Microsoft Word, versão 2019, e analisados por meio de estatística descritiva no programa SPSS versão 19.0. Os resultados foram apresentados por meio de tabelas sob a forma de percentuais. A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), da Universidade Vale do Rio Dos Sinos – UNISINOS do Rio Grande do Sul. Desse modo, todos os procedimentos que foram realizados nesse estudo estão em acordo com as determinações institucionais e a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que diz respeito das diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Os pais ou responsáveis que aceitaram participar da pesquisa, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a coleta de dados foi individual.

[3] Resultados

A amostra foi composta por 75 pais/responsáveis de crianças. Com relação a faixa etária, 58,7% das crianças encontravam-se na faixa etária de 6 anos ou mais e 41,3% na faixa etária até 5 anos. A maioria das crianças estudava no ensino fundamental (52%) e em escolas privadas (66,7%) no ano de 2020. Grande parte das mães (78,7%) e dos pais (65,3%) havia cursado o ensino superior completo. Além disso, 41,3% das famílias entrevistadas eram compostas por até 3 pessoas na casa, sendo 1 criança menor de 10 anos (56%). (Tabela 1).

A Tabela 2 apresenta os resultados relativos ao período de isolamento social das crianças e pais e/ou responsáveis. Em relação à rotina de trabalho dos pais, 33,3% das mães passaram a trabalhar em home office, porém a maioria dos pais (40%) continuou trabalhando presencialmente. Somente 4% dos pais não estavam saindo de casa durante este período. Entre os pais que saiam, 60% realizavam somente atividades essenciais fora de casa. Em comparação com as crianças, 18,7% permaneceu em casa e, das crianças que saiam de casa, 50,7% estavam saindo de 1 a 2 vezes na semana.

Em relação às práticas alimentares e tempo de tela, a Tabela 3 evidencia a mudança da rotina das famílias

em comparação com os períodos antes e durante o isolamento social. O local de compra mais frequente de frutas e vegetais antes (73,3%) e durante (61,3%) o período de isolamento social permaneceu sendo o supermercado. O percentual de famílias que realizava as principais refeições em casa aumentou durante o período de isolamento social (de 72% para 100%). Antes da pandemia, 72% das crianças costumavam realizar as principais refeições junto com a família e durante o período de isolamento social esse percentual aumentou para 82,7% (Tabela 3).

Com relação à participação da criança na compra dos alimentos, 50,7% das famílias tinham esse hábito antes da pandemia e, durante o período de isolamento social essa prática reduziu para 17,3%. Sobre o envolvimento das crianças no preparo dos alimentos, 32% participavam desde momento durante a pandemia. Porém, mais da metade (50,7%) das crianças passaram a se envolver na hora da preparação dos alimentos durante a pandemia (Tabela 3).

Antes do início do isolamento social, 33,3% das crianças utilizavam telas durante 2h/dia e 4% mais de 4 horas por dia. Durante o período de isolamento social, o percentual de crianças que utilizavam telas mais do que 4h por dia aumentou para 52%. Antes da pandemia, 48% das crianças consumiam alimentos quando estavam na frente de algum eletrônico. No entanto, durante o isolamento social, esse percentual aumentou para 57,3%. (Tabela 3).

Na tabela 4 estão apresentados os dados referentes a alteração na frequência de consumo de alimentos durante o período de isolamento social. Segundo a percepção dos pais/responsáveis, foi observado aumento de consumo de biscoitos recheados, chocolates, balas, bombons, chicletes ou gelatinas (46,7%), embutidos (40%), feijão/lentilha (36%) e frutas frescas (34,7%). Os alimentos que apresentaram redução de consumo foram frutas frescas (12%), verduras/legumes (12%) e bebidas adoçadas (12%).

Entre os pais/responsáveis que participaram do estudo, 42,6% relataram que perceberam impactos negativos causados pelo isolamento social na rotina do seu filho, incluindo o consumo de alimento (25%); a falta de convívio com familiares e amigos presencialmente (21,87%); o aumento de horas em frente das telas (15,62%); a ansiedade (15,62%) e o aumento da irritabilidade (15,62%). Por outro lado, aspectos positivos foram relatos por 61,3% dos pais/responsáveis, que mencionaram maior contato com membros da casa (57,14%) e melhora da qualidade da alimentação (7,14%).

[4] Discussão

O presente estudo evidenciou o efeito do isolamento social nas práticas alimentares e no tempo de tela de crianças durante a pandemia da COVID-19. Foi obser-

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ensino superior completo. Além disso, 41,3% das famílias entrevistadas eram compostas por 77 até 3 pessoas na casa, sendo 1 criança menor de 10 anos (56%). (Tabela 1). 78

Tabela 1 80

TABELA 1

Dados de identificação dos entrevistados

Dados de identificação dos entrevistados 81

Variáveis n (%) Idade da criança até 5 anos 31 (41,3) 6 anos ou mais 44 (58,7)

Nível educacional da criança ANTES do início da pandemia

Ensino infantil 36 (48,0) Ensino fundamental 39 (52,0)

Classificação da escola

Privada 50 (66,7) Pública 25 (33,3) Escolaridade da mãe

Ensino Médio incompleto 5 (6,6)

Ensino Superior incompleto 11 (14,7) Ensino Superior completo 59 (78,7)

Escolaridade do pai

Ensino Médio incompleto 7 (9,3) Ensino Superior incompleto 19 (25,4) Ensino Superior completo 49 (65,3) Número de pessoas na casa (considerando a criança participante) 3 31 (41,3) 4 28 (37,3) 5 ou mais 16 (21,3)

Número de crianças na casa (considerando a criança participante) 1 42 (56,0) 2 21 (28,0) 3 ou mais 12 (15,9) 82

A Tabela 2 apresenta os resultados relativos ao período de isolamento social das crianças 83 e pais e/ou responsáveis. Em relação à rotina de trabalho dos pais, 33,3% das mães passaram a 84 trabalhar em home office, porém a maioria dos pais (40%) continuou trabalhando 85 presencialmente. Somente 4% dos pais não estavam saindo de casa durante este período. Entre 86

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(66,7%)
Grande
das
havia cursado o 76
no ano de 2020.
parte
mães (78,7%) e dos pais (65,3%)
79

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os pais que saiam, 60% realizavam somente atividades essenciais fora de casa. Em comparação 87 com as crianças, 18,7% permaneceu em casa e, das crianças que saiam de casa, 50,7% estavam 88 saindo de 1 a 2 vezes na semana. 89 90

Tabela 2 91 Período de isolamento social 92

TABELA 2

Período de isolamento social

Variáveis n (%)

Rotina de trabalho da mãe durante a maior parte do período de isolamento

Home office 25 (33,3)

Trabalhando fora de casa 11 (14,7)

Trabalhando de forma mista (presencial e online) 22 (29,3)

Não estava trabalhando 15 (20,0) Não se aplica* 2 (2,7) Rotina de trabalho do pai durante o período de isolamento

Home office 23 (30,7)

Trabalhando fora de casa 30 (40,0)

Trabalhando de forma mista (presencial e online) 17 (22,7)

Não estava trabalhando 3 (4,0) Não se aplica* 2 (2,7)

Os adultos estavam saindo de casa?

1-2 vezes na semana 22 (29,3)

3-4 vezes na semana 25 (33,3) Mais de 5 vezes na semana 25 (23,3) Não estava saindo 3 (4,0)

As saídas eram essenciais

Sim 60 (80,0) Não 15 (20,0)

As crianças estavam saindo de casa?

1-2 vezes na semana 38 (50,7)

3-4 vezes na semana 16 (21,3)

Mais de 5 vezes na semana 7 (9,3)

Não estava saindo 14 (18,7)

*Não possui contato com o familiar 93 94

Em relação às práticas alimentares e tempo de tela, a Tabela 3 evidencia a mudança da 95 rotina das famílias em comparação com os períodos antes e durante o isolamento social. O 96 local de compra mais frequente de frutas e vegetais antes (73,3%) e durante (61,3%) o período

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97 de isolamento social permaneceu sendo o supermercado. O percentual de famílias que realiza

Tabela 3 115

TABELA 3

Práticas alimentares e tempo de tela antes e durante o período de isolamento social por conta da pandemia do coronavírus

117

Práticas alimentares e tempo de tela antes e durante o período de isolamento social por conta 116 da pandemia do coronavírus

Variáveis Antes do período de isolamento social n (%)

Principal local de compra de frutas e vegetais

Durante o período de isolamento social n (%)

Feira/fruteira 19 (25,3) 23 (30,7) Supermercado 55 (73,3) 26 (61,3) Tele-entrega 1 (1,3) 4 (5,3)

Local de realização das refeições principais (almoço/janta)

Em casa 54 (72) 75 (100)

Fora de casa 21 (28) 0 (0) Refeições principais em família (almoço/janta)

Criança come junto com família 54 (72,0) 62 (82,7)

Criança não come junto com a família 21 (28,0) 13 (17,3)

A criança participa na hora da compra dos alimentos?

Sim 38 (50,7) 13 (17,3) Não 37 (49,3) 62 (82,7)

A criança participa na hora da preparação dos alimentos?

Sim 24 (32,0) 38 (50,7) Não 51 (68,0) 37 (49,3)

Qual o tempo médio de tela que seu filho utilizava por dia? (computador, vídeo game, tablet, celular)

Até 2h/dia 57 (76,0) 18 (24,0) 3 à 4h/dia 15 (20,0) 18 (24,0) Mais de 4 horas por dia 3 (4,0) 39 (52,0)

A criança consome alimentos enquanto está na frente da tela (computador, vídeo game, tablet, celular)?

Sim 36 (48,0) 43 (57,3) Não 39 (52,0) 32 (42,7) 118

Na tabela 4 estão apresentados os dados referentes a alteração na frequência de consumo 119 de alimentos durante o período de isolamento social. Segundo a percepção dos 120 pais/responsáveis, foi observado aumento de consumo de biscoitos recheados, chocolates, 121 balas, bombons, chicletes ou gelatinas (46,7%), embutidos (40%), feijão/lentilha (36%)

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e frutas

balas, bombons, chicletes ou gelatinas (46,7%), embutidos (40%), feijão/lentilha (36%) e frutas 122 frescas (34,7%). Os alimentos que apresentaram redução de consumo foram frutas frescas 123 (12%), verduras/legumes (12%) e bebidas adoçadas (12%). 124 125

Tabela 4 126

TABELA 4

Alteração na frequência de consumo de alimentos durante o período de isolamento social a partir da percepção dos pais/responsáveis

Alteração na frequência de consumo de alimentos durante o período de isolamento social a 127 partir da percepção dos pais/responsáveis 128

Feijão ou lentilha (Não considera feijão pronto enlatado e feijoada):

Aumentou 27 (36,0) Reduziu 7 (9,3) Não modificou 41 (54,7)

Frutas frescas (Não considera suco de frutas, frutas em calda ou cristalizadas e sucos prontos com sabor de frutas):

Aumentou 26 (34,7) Reduziu 9 (12,0) Não modificou 40 (53,3)

Verduras e/ou legumes? (Não considera batata, mandioca e aipim):

Aumentou 21 (28,0) Reduziu 9 (12,0) Não modificou 45 (60,0)

Alimentos embutidos como salame, presunto, mortadela, linguiça, salsicha, nuggets de frango ou hamburguer

Aumentou 30 (40,0) Reduziu 7 (9,3)

Não modificou 38 (50,7)

Bebidas adoçadas como refrigerantes, suco de caixinha ou em pó, xarope de groselha ou sucos de frutas com açúcar

Aumentou 21 (28,0) Reduziu 9 (12,0)

Não modificou 45 (60,0)

Massa Miojo ou outra marca de macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados

Aumentou 22 (29,3)

Reduziu 6 (8,0)

Não modificou 47 (62,7)

Biscoito recheado, chocolates, balas, bombons, chicletes ou gelatina

Aumentou 35 (46,7)

Diminuiu 5 (6,7)

Não modificou 35 (46,7) 129

Entre os pais/responsáveis que participaram do estudo, 42,6% relataram que perceberam 130 impactos negativos causados pelo isolamento social na rotina do seu filho, incluindo o consumo 131 de alimento (25%); a falta de convívio com familiares e amigos presencialmente (21,87%); o 132 aumento de horas em frente das telas (15,62%); a ansiedade (15,62%) e o aumento da 133

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vado que recaiu sobre as mães a mudança do trabalho para o formato home office e que as principais refeições passaram a ocorrer em casa, embora nem sempre em formato de refeições familiares (adultos e crianças no mesmo horário). A participação das crianças na compra dos alimentos reduziu em decorrência do período de isolamento social, mas aumentou a participação no momento da preparação dos alimentos. Os pais identificaram aumento no consumo de guloseimas, embutidos, feijão/leguminosos e frutas frescas e também relataram aumento do tempo em que as crianças passavam em frente as telas.

Desde o começo do isolamento social a rotina familiar passou por grandes mudanças. Com a modificação do trabalho das mães, que passaram do formato presencial para o remoto, coube a elas a responsabilidade de conciliar o cuidado doméstico, a educação infantil e o emprego. Dessa forma, a mulher se viu sobrecarregada com diversas atividades, uma vez que a criança demanda tempo e atenção para a realização de atividades (FABBRO; HELOANI, 2010). Além disso, a incerteza em relação ao tempo de duração dessa situação, contribuiu para o aumento da ansiedade, estresse e cansaço extremo (SCHMIDT; et al, 2020).

Considerando a condição normal da rotina diária, a maioria das crianças acima de 2 anos de idade passavam a maior parte do tempo em Escolas de Educação Infantil ou Fundamental, na qual a alimentação era realizada pelos responsáveis locais. Porém, com a chegada do COVID-19, as escolas de todos os níveis educacionais fecharam e, consequentemente, os pais/responsáveis passaram a ser os encarregados pelas refeições. Em princípio, essa mudança favoreceria a realização das refeições junto da família. Todavia, o presente estudo observou que a maior parte das famílias realizavam as refeições em diferentes horários. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, um ambiente agradável, sem distrações e junto da família para realização das refeições, são fatores que influenciam o prazer pelo ato de comer (BRASIL, 2012).

O Guia Alimentar para População Brasileira afirma que um ambiente apropriado é um lugar limpo e tranquilo, o qual não possui quantidade ilimitada de alimento. Além de evitar os aparelhos eletrônicos na hora da refeição, também é importante não realizar refeições na mesa de trabalho, em pé ou em meios de transporte. Comer em companhia é um momento único para fortalecer laços com a família, amigos ou colegas. Para as crianças e adolescentes, especialmente, é o momento de aprenderem bons hábitos alimentares e valorizarem o momento da refeição (BRASIL, 2014).

Um estudo realizado com 71.740 crianças e adolescentes verificou que pelo menos metade dos participantes realizava refeições junto dos pais/responsáveis quase todos os dias ou todos os dias. Os adolescentes que relataram realizar as principais refeições com companhia

apresentaram menor prevalência de obesidade. Sendo assim, as refeições junto com pais/responsáveis tendem a fornecer uma alimentação mais adequada, com alimentos saudáveis e melhor bem-estar psicossocial das crianças e adolescentes (SILVA; et al, 2020).

Envolver a criança nas tarefas, principalmente na compra e nas preparações dos alimentos, favorece o convívio entre os membros da família e o conhecimento de novos alimentos e formas de preparo (BRASIL, 2012; BRASIL, 2014). No presente estudo, foi observado que houve uma diminuição da participação da criança na compra dos alimentos durante a pandemia, seja em feiras ou supermercados, devido ao isolamento social imposto no estado. Entretanto, quanto ao preparo de refeições existiu um crescimento da participação infantil. A presença da criança junto à pessoa que prepara os alimentos desperta um interesse maior pela comida, além de interagir de forma positiva com os alimentos apresentados e encorajar a experiência de provar e conhecer novos alimentos (LINDSAY; et al, 2012).

Estudos mostram que a pandemia provocada pelo COVID-19 modificou os hábitos alimentares da população (DURÕES; et al, 2020; OLIVEIRA; et al, 2021). Além disso, os aspectos psicológicos e emocionais também foram afetados, principalmente o aumento do stress. Esse esgotamento físico e emocional ocasionou a elevação dos níveis de cortisol no organismo, o que, consequentemente, leva ao aumento de apetite (ABBAS; KAMEL, 2020; MUSCOGIURI; et al, 2020).

O estudo de Scarmozzino (2020), analisou 1932 questionários relacionados ao COVID-19 e hábitos alimentares. Dentre os diversos resultados, foi observado um aumento no consumo de frutas e hortaliças, além do crescente no consumo de “comida afetiva”, como sorvete, sobremesa, salgadinhos e chocolate. Com isso, foi possível observar que o aumento da “comida afetiva” possui relação com a tentativa de controle da ansiedade.

No presente estudo, também se verificou que os alimentos com característica de comida afetiva, como as guloseimas, apresentaram um aumento da ingestão, o que pode estar relacionado à mudança dos aspectos psicológicos e emocionais. Além deles, também foi possível analisar o aumento no consumo de feijão/ leguminosas e frutas frescas, que, possivelmente, está relacionado ao maior tempo em casa.

De acordo com os dados encontrados nessa pesquisa, aumentou muito a prevalência de crianças que passavam mais de 4h por dia em frente às telas, além de mais da metade das crianças consumirem alimentos em frente as telas. Um estudo identificou que crianças que utilizavam aparelhos eletrônicos por mais de 3h/ dia possuíam mais de 50% de chance de serem obesas, quando comparadas com aquelas com menos exposição às telas (SCHMIDT; et al, 2020). E, com a chegada da pandemia, houve um aumento de período em que as crianças ficaram em casa, o que levou a comportamentos

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sedentários, o que pode favorecer o desenvolvimento precoce de doenças crônicas (MCCOY; et al , 2016; ADOLPH; et al, 2017).

Outro aspecto que preocupa em relação ao aumento do tempo exposição às telas, é a qualidade da informação relacionada à alimentação e as propagandas de alimentos ultraprocessados que são exibidos em diferentes formatos de mídia digital (HARRISON, 2005).

Dentre as limitações do estudo, destaca-se a coleta de dados pela internet, já que nem todos possuem acesso a esse meio de comunicação, o que gerou um número relativamente pequeno de respondentes. Além disso, trata-se de uma temática nova decorrente de uma situação atípica em nosso meio e que pode refletir na saúde e desenvolvimento das crianças e que ainda poucas evidências em nosso meio estão disponíveis. Outra limitação é em relação ao dado obtido referente ao consumo de alimentos, uma vez que foi considerado a percepção das mães/pais sobre o aumento ou redução do consumo sem quantificar as porções antes e durante o período de isolamento social. Como trata-se de um estudo transversal, é possível que a informação das quantidades consumidas antes da pandemia tenha sofrido um viés de memória muito grande, já que o presente estudo possui um caráter exploratório e descritivo, a qual os pais estiveram muito próximos das crianças durante o período de isolamento social.

[5] Considerações finais

De acordo com os resultados do estudo, foi possível identificar as mudanças que a nova pandemia do COVID-19 ocasionou no cotidiano das famílias dos entrevistados. Com isso, conclui-se que essa pandemia mostrou relação direta com as modificações nos hábitos alimentares das crianças, além de interferir nos aspectos psicológicos e emocionais, como demonstrado em outros estudos. Notou-se mudanças positivas nos padrões alimentares na população estudada com o aumento do consumo de feijão/leguminosas e frutas frescas. Porém, uma alimentação não saudável, com o aumento do consumo de produtos ultraprocessados, também foi observada, o que pode trazer consequências na saúde e desenvolvimento infantil. Além disso, o presente estudo evidenciou o aumento de horas em frente às telas, devido a brusca modificação da rotina, como o fechamento de escolas e ausência de contato presencial com amigos e familiares.

Diante desses resultados, fica a incerteza do quanto as mudanças ocorridas em decorrência de um período atípico de isolamento social, que se estendeu um período relativamente longo, poderão impactar no futuro dessas crianças. Estudos futuros são importantes para trazerem evidências novas e complementares sobre esse tema.

REFERÊNCIAS

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