Poluição do ar e Diabetes Mellitus tipo 2: uma opinião

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1(3): 49-51

Agosto 2023 Unisinos

ISSN: 2764-6556

Poluição do ar e Diabetes Mellitus tipo 2: uma opinião

doi.org/10.4013/issna.2023.31.7

Air pollution and Type 2 Diabetes Mellitus: an opinion

RESUMO

AUTORAS

Morgana Aline Weber* morgana_aline@hotmail.com

Programa de Pós-graduação Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale. [*] Autora correspondente.

Daiane Bolzan Berlese daianeb@feevale.com

Programa de Pós-graduação Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

FLUXO DA SUBMISSÃO

Submissão: 07/05/2023

Aprovação: 09/07/2023

CONTATO DA REVISTA

Universidade doVale do Rio dos Sinos - UNISINOS. Instituto Tecnológico em Alimentos para a Saúde – itt Nutrifor. Av. Unisinos, 950, Cristo Rei. CEP: 93022-750, São Leopoldo, RS, Brasil.

Contato principal: Prof. Dr. Cristiano Dietrich Ferreira. Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Alimentos. E-mail: revistappgna@ unisinos.br.

DISTRIBUÍDO SOB

O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica não transmissível, sendo uma das principais causas de morbidade no mundo, com projeção de aumento substancial nas próximas décadas. Estudos sugerem que a poluição do ar também é um fator de risco para o DM tipo 2, e que pode agravar desfechos clínicos negativos, inclusive com o aumento do risco de morte. Caso tais evidências se confirmem, se torna de extrema importância que medidas sejam tomadas a fim de diminuir a poluição do ar, uma vez que se trata de um fator de exposição controlável. Tal fator merece atenção, visto que, por meio da sua diminuição, conseguiremos baixar os índices do DM2, que é um grande problema de saúde pública mundial.

APLICABILIDADE

Palavras-chave: Diabetes Mellitus; material particulado; saúde pública.

O artigo tem como objetivo estimular uma reflexão sobre os impactos da poluição do ar sobre o DM tipo 2. Estudos sobre possíveis relações entre poluição do ar e a incidência de doenças crônicas não transmissíveis devem ser incentivados.

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ARTIGO DE OPINIÃO

[1] Desenvolvimento

ODiabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica não transmissível (DCNT) caracterizada por níveis anormalmente altos de glicose no sangue, resultado de um comprometimento da ação da insulina e/ou secreção de insulina. É uma das principais causas de morbidade em todo o mundo e espera-se que aumente substancialmente nas próximas décadas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2023).

Segundo a International Diabetes Federation em 2021 foi estimado que 537 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos de idade viviam com diabetes no mundo. Se tais tendências atuais persistirem, o número de pessoas com diabetes em 2045 no mundo pode ser superior a 783 milhões. No mesmo ano, o Brasil ocupava a sexta colocação entre os países com maior número de portadores do DM, aproximadamente 15,7 milhões de pessoas, com uma projeção de atingir 23,2 milhões até 2045.

A Sociedade Brasileira de Diabetes aponta que o aumento da prevalência do diabetes está associado a fatores como a rápida urbanização, transição epidemiológica e nutricional, estilo de vida sedentário, maior incidência de excesso de peso e crescimento e envelhecimento populacional.

Evidências acumuladas sugerem que a poluição do ar também é um fator de risco para o diabetes mellitus tipo 2 e pode afetar seus resultados clínicos, incluindo o aumento do risco de morte (WU et al., 2021).

A poluição do ar é uma ameaça importante, evitável e controlável para a saúde das pessoas, o bem-estar e a realização do desenvolvimento sustentável. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (2021) a cada ano, estima-se que a exposição à poluição do ar cause 7 milhões de mortes prematuras e resulte na perda de milhões de anos de vida saudáveis.

Os poluentes atmosféricos de maior preocupação para a saúde humana são as partículas em suspensão no ar. As emissões não filtradas da combustão contêm concentrações significativas de partículas ultrafinas, finas e grandes. O material particulado (MP) refere-se a partículas inaláveis, compostas de sulfato, nitratos, amônia, cloreto de sódio, carvão negro, pó mineral ou água. Segundo a Organização Mundial da Saúde, seus tamanhos podem ser diferentes e geralmente são definidos por seu diâmetro aerodinâmico. Os riscos à saúde associados a partículas de diâmetro igual ou menor que 10 e 2,5 micra (μm), MP10 e MP2,5, respectivamente, são de especial relevância para a saúde pública. Tanto o MP2,5 quanto o MP10 são capazes de penetrar profundamente nos pulmões, mas o MP2,5 pode entrar até mesmo na corrente sanguínea, sucedendo principalmente em impactos cardiovasculares e respiratórios, além de afetar outros órgãos.

Estudos sugerem um aumento de 6% a 49% na mortalidade estava relacionado a cada incremento de 10 μg/m3 na concentração ambiente de MP2,5. Além disso, essa exposição à poluição também estaria ligada a níveis mais elevados de glicose no sangue em jejum, HbA1c e à avaliação do modelo homeostático de resistência à insulina, além de poder causar inflamação sistemática, aumentar o estresse oxidativo e prejudicar a função endotelial (RAJAGOPALAN; BROOK, 2012; YANG et al., 2020).

Wu et al., (2021), em sua análise sistemática evidenciam a crescente carga global de diabetes mellitus tipo 2 atribuível à poluição por material particulado, de 1990 a 2019. A prevalência de doenças devido à exposição à poluição por material particulado foi maior entre idosos e pessoas em países com baixo e médio índice sociodemográfico, mostrando-se um grande problema de saúde pública.

Em um estudo de coorte prospectivo com um total de 21.075 participantes na China, foi constatado que a exposição a longo prazo ao MP2,5 foi positivamente associada a um risco aumentado de DM tipo 2, e quantificaram que 13,54% dos pacientes diabéticos foram atribuídos à exposição prolongada a MP2,5. Mulheres, idosos e residentes rurais podem ser mais suscetíveis ao DM tipo 2 devido a essa exposição (LIU et al., 2023).

Por tais evidencias levantadas são de fundamental importância a investigação dessa possível relação para que assim, mais políticas públicas possam ser implementadas, tendo em vista um futuro mais sustentável.

O desenvolvimento sustentável se faz necessário para evitar riscos à saúde associados a exposições ambientais adversas decorrentes do desenvolvimento insustentável das cidades. Segundo estudo realizado por Sohrabi; Zietsman; Khreis (2020) a poluição do ar ambiente é o maior fator de risco ambiental para a saúde humana e é responsável por níveis consideráveis de mortalidade em todo o mundo.

Para diminuir tais impactos, no ano de 2015, a Organização das Nações Unidas lançou a agenda 2030, e que agora se encontra na reta final, com 17 objetivos de desenvolvimento sustentável para o mundo. Investigar a relação da poluição do ar sua com o diabetes é ter um olhar para dois importantes objetivos, sendo eles: o objetivo 3 (assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades) e o objetivo 11 (tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis). Dentro do objetivo número 3 uma das metas é até 2030, reduzir substancialmente o número de mortes e doenças por produtos químicos perigosos, contaminação e poluição do ar e água do solo; entre outras. Já no objetivo número 11, como uma das metas até 2030 está reduzir o impacto ambiental negativo per capita das cidades, inclusive prestando especial atenção à qualidade do ar, gestão de resíduos municipais e outros.

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MELLITUS TIPO 2: UMA OPINIÃO

Tento em vista o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para a redução de doenças crônicas, algo fundamental para a melhoria da saúde pública, é de total importância que assuntos como esse sejam debatidos e pesquisados, para que se encontre uma forma de diminuir a incidência de doenças que podem ter suas causas controladas, bem como estabelecer as relações do impacto do ambiente sobre à saúde humana.

REFERÊNCIAS

INTERNATIONAL DIABETES FEDERATION. IDF Diabetes

Atlas. 10. ed. Bruxelas. 2021. Disponível em: https:// diabetesatlas.org/idfawp/resource-files/2021/07/IDF_ Atlas_10th_Edition_2021.pdf Acesso em: 18 mar. 2023.

LIU, C. et al. Effect of long-term exposure to PM2.5 on the risk of type 2 diabetes and arthritis in type 2 diabetes patients: Evidence from a national cohort in China. Environ Int. 2023 Jan; 171:107741. doi: 10.1016/j. envint.2023.107741. Epub 2023 Jan 6. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/ pii/S0160412023000144?via%3Dihub Acesso em: 17 mar. 2023.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DE SAÚDE. OPAS. Novas Diretrizes Globais de Qualidade do Ar da OMS visam salvar milhões de vidas da poluição atmosférica. 2021. Disponível em: https://www.paho.org/ pt/noticias/22-9-2021-novas-diretrizes-globais-qualidade-do-ar-da-oms-visam-salvar-milhoes-vidas-da Acesso em: 24 abr. 2023

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. OMS. Air pollution is responsible for 6.7 million premature deaths every year. Geveva: World Health Organization; 2021. Disponível em: https://www.who.int/teams/environment-climate-change-and-health/air-quality-and-health/health-impacts/types-of-pollutants Acesso em: 18 mar. 2023.

RAJAGOPALAN, S.; BROOK, R. D. Air pollution and type 2 diabetes: mechanistic insights. Diabetes . 2012 Dec;61(12):3037-45. doi: 10.2337/db12-0190. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30706081/ Acesso em: 17 mar. 2023

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Diretriz Oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes. 2023. Disponível em: Índice – Diretriz da Sociedade Brasileira de Diabetes – Ed. 2023 Acesso em: 08 maio 2023.

SOHRABI, S; ZIETSMAN, J; KHREIS, H. Burden of Disease Assessment of Ambient Air Pollution and Premature Mortality in Urban Areas: The Role of Socioeconomic Status and Transportation. Int J Environ Res Public Health. 2020;17(4):1166. Published 2020 Feb 12. doi:10.3390/ijerph17041166

WU, Y. et al. Estimates of Type 2 Diabetes Mellitus Burden Attributable to Particulate Matter Pollution and Its 30Year Change Patterns: A Systematic Analysis of Data From the Global Burden of Disease Study 2019. Front Endocrinol (Lausanne). 2021 Aug 13;12:689079. doi: 10.3389/fendo.2021.689079. Disponível em: https:// www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8414895/#B9 Acesso em: 17 mar. 2023.

YANG, B. et al. Ambient air pollution and diabetes: A systematic review and meta-analysis. Environ Res. 2020 Jan; 180:108817. doi: 10.1016/j.envres.2019.108817. Epub 2019 Oct 12. PMID: 31627156. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31627156/ Acesso em: 17 mar. 2023

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