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R$ 4,90
arquitetura | decoração | design | engenharia
ano 05 | junho/2010
o poder da
luz
projeto luminotécnico da arquiteta Elenir Deluca valoriza a decoração ao realçar os objetos com a incidência de feixes de luz
/editorial
Euforia e realismo Arquivo Mundi Editora
Amanda Marques, Amauri Alberto Buzzi, Ângela Ferrari, Carla C. Back, Daniela P. Garcia, Danielle Fuchs, Jorge Luiz Strehl, Margareth Volles, Maurilio Bugmann, Odete Campestrini, Patrícia Serafim, Sidnei dos Santos, Silvana Silvestre e Valter Ros de Souza
Expediente
CONSELHO EDITORIAL
/Editor-Executivo: Sidnei dos Santos 1198JP (MTb/SC) - sidnei@mundieditora.com.br /Editora-Assistente: Gisele Scopel /Repórteres: Beatriz Roberta Alves Gaviolli e Mariana Tordivelli /Gerente de Arte e Desenvolvimento: Rui Rodolfo Stüpp rui@mundieditora.com.br /Projeto Gráfico: Ferver Comunicação /Foto de Capa: Daniel Zimmermann /Editora-Chefe: Danielle Fuchs danielle@mundieditora.com.br /Gerente Comercial: Eduardo Bellidio 47 3035.5500 - eduardo.bellidio@mundieditora.com.br /Gerente-Geral Comercial: Denilson Mezadri 47 3035.5500 - denilson@mundieditora.com.br /Diretor-Executivo: Niclas Mund niclas@mundieditora.com.br /TIRAGEM: 3.000 exemplares
DIRETORIA /Presidente: Amauri Alberto Buzzi /Vice Pres. para Assuntos Estratégicos e Materiais: Clemar Fernandes de Souza /Vice Pres. para Assuntos da Indústria Imobiliária: Valter Luiz Torresani /Vice Pres. para Assuntos de Rel. Trabalhistas e Sindicais: Adalberto José da Silva /Vice Pres. para Assuntos de Obras Públicas: Jorge Luiz Strehl /Vice Pres. para Assuntos de Economia e Estatística: Guilherme Augusto Mattos Voltolini /Vice Pres. para Assuntos da Administração: André Marin d´ Iglesias Y Vieira /Vice Pres. Para Assuntos de Loteamento: Ricardo Vasselai /Diretor para Assuntos de Relações Intersindicais: Maurílio Schmitt /Diretora Administrativa: Margareth Volles /1º Secretário: Luciano Raymundi Filho /2º Secretário: Roberta Silva Silveira /1ª Tesoureira: Eunice Marly Hohl Silveira /2º Tesoureiro: Marco Aurélio Eichstaedt; //Conselho Fiscal /Efetivos: Renato Rossmark Schramm, Marcos Rischbieter, Nilton Speranzini /Suplentes: Valdir Damião Maffezzolli, Alziro Luiz Estevam, José Roberto Antunes Santos //Delegados Representantes /Efetivos: Jorge Luiz Strehl, Amauri Alberto Buzzi /Suplentes: Renato Rossmark Schramm, André Marin d´ Iglesias Y Vieira /Diretores: Giovani Isensee, Valter Ros de Souza, Jader Roney Tomazi, Carlos Alberto Ramos Schmidt, Leonardo Reges Marini da Cunha, Márcio Rogério Bruschi
O momento bom deve ser comemorado, mas é preciso planejar o crescimento da infraestrutura Vivemos momentaneamente um período que sinaliza muitas coisas positivas: linhas de crédito para maioria das atividades, habitação ao alcance de todos – quem diria? –, jogos da Copa do Mundo com possibilidades de mais um título, enfim, um período de relativa euforia. Nesse momento, no qual, ao mesmo tempo, se comemoram resultados, devem-se manter as expectativas com o realismo devido, analisando o nosso ambiente com mais dinâmica e, assim, percebermos que haverá um momento em que será necessário frear as ambições por conta da falta de condições acumuladas por falta de investimentos em infraestrutura, educação e saúde.
Boa leitura! Amauri Alberto Buzzi Presidente do Sinduscon Blumenau
/sumário Fotos Daniel Zimmermann
/iluminação Da concepção ao acabamento, a iluminação é parte fundamental na busca do conforto e da beleza em obras residenciais, comerciais, industriais e nos projetos paisagísticos.
/patrimônio histórico
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Empresa restaura construção enxaimel centenária para transformar em museu da indústria têxtil.
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/projeto comercial Homenagem ao Santa Ifigênia /quarto de criança Diversão segura e organizada /decoração Feng Shui busca a harmonia nos ambientes /design Especialista italiano fala sobre esta importante ferramenta /feira de Milão As tendências em design que vêm da Europa /sustentabilidade Automação e respeito ao meio ambiente /gastronomia Um chef formado nos restaurantes australianos /clic Alto Padrão /dicas Alto Padrão
/10 /18 /20 /23 /24 /28 /34 /36 /38
Esclarecimento As fotos da capa e da página 20 da edição 39 da revista Alto Padrão, sobre a escolha correta do aparelho de TV (Conforto na sala de TV), são de projetos executados pela empresa BTV Áudio e Vídeo.
/projeto comercial
“Como ficou bonito...” Bistrô une rusticidade e sofisticação e faz referência ao famoso viaduto de São Paulo Fotos Danile Zimmermann
Móveis robustos aliados a cores reconfortantes e um toque especial na iluminação transformaram o espaço frio e vazio em um ambiente rústico e, ao mesmo tempo, sofisticado. Para o arquiteto responsável pela obra do Bistrô Sta. Efigênia, Fabiano Koball, esse foi o principal desafio, já que o local estava bastante danificado, tinha pé direito alto e o excesso de luz externa não combinava com a proposta do novo estabelecimento. Com o intuito inicial de atender os alunos da escola HGA Educação Continuada, a obra ganhou novos horizontes e o atendimento foi ampliado para o público em geral. Inaugurado no início de 2010, o empreendimento surpreende pelos belos 10
espaços e o clima extremamente convidativo para um delicioso café, almoço ou jantar. A madeira de demolição vinda de Pomerode foi um dos materiais mais utilizados para compor os ambientes. Durante a obra, uma minimarcenaria foi montada no próprio local e os móveis – como mesas, balcões de atendimento e recepção – foram produzidos ali mesmo, todos sob medida. Na entrada do pequeno restaurante, as placas de madeira que cobrem a fachada e a escada de acesso dão uma dica do perfil do lugar. Cores envolventes como marrom e vermelho-escuro aquecem o ambiente central do bistrô, além de darem a sensação de um pé direito mais baixo.
Três luminárias pendentes, bastante robustas, com 1,1 metro de diâmetro, especificamente para esse ambiente, contribuem para a redução espacial e ganham destaque na visão geral. Os pilares da estrutura foram revestidos com tijolos decorativos, também vindos de demolição, que receberam tratamento especial para evitar o desgaste natural. Para dar ênfase ao material, os pilares ganharam arandelas artesanais que emitem feixes de luz. De acordo com Koball, a estrutura da luminária é bastante simples, mas dá um charme especial aos elementos. No piso, ele optou por deixar o que já existia, mesmo um pouco danificado, para valorizar o antigo.
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Homenagem ao viaduto Criado para ser um espaço tranquilo e diferenciado, o projeto incluiu uma pequena sala de estar equipada com TV e DVD, para quem prefere algo mais descontraído. Nesse ambiente, uma plotagem faz homenagem ao viaduto de São Paulo que virou música de Adoniran Barbosa e dá nome ao bistrô. Nele, é possível perceber os detalhes que influenciaram a decoração. Seguindo para o elevado, um jardim vertical, revestido com placas de xaxim e cascata dá um ar bucólico ao ambiente. Um poço de iluminação destaca o espaço mais reservado. Aqui, a escolha foi utilizar
iluminação embutida no gesso e o piso de cimento queimado. O guarda-corpo em vidro não bloqueia a visão dos clientes que ocupam o espaço. Um dos empecilhos para a proposta do espaço era a luz externa que entrava pela fachada de vidro temperado. Para sanar o problema, com o auxílio de um designer, toda a área foi coberta com uma plotagem preta, desenhada com arabescos, mais uma referência ao Viaduto Santa Ifigênia. Assim, o lugar ficou mais reservado e aconchegante. Com controles individuais, a casa permite criar cenas diferentes de iluminação, de acordo com a
ocasião. Mas é durante a noite que o charme das luzes se destaca na paisagem. Em especial no deck, que compõe a área externa. Esse foi um dos primeiros itens a serem pensados com o intuito de se sobressair no horizonte urbano. Construído também em madeira de demolição, pontos de iluminação em volta dele valorizam o espaço. “É um convite extra para que as pessoas entrem e também amplia a oferta de lugares no restaurante”, afirma o arquiteto.
Ficha técnica Projeto arquitetônico: arquiteto Fabiano Koball Área construída: 367m² Início da obra: agosto de 2009 Término da obra: dezembro de 2009
Móveis em madeira de demolição e plotagem com foto do viaduto paulista compõem a decoração do restaurante
/projeto comercial Fotos Daniel Zimmermann
Intimista
O profissional
A escolha pelo preto nos banheiros foi para deixar o lugar mais intimista, já que masculino e feminino dividem o mesmo espaço. Um biombo de arabescos divide os lavatórios que, no lugar de pias, receberam baldes colocados em uma estrutura de madeira coberta com vidro. No lugar da cerâmica, a tinta epox branca reveste a parte interna dos sanitários. Para tornar o restaurante mais amplo, alimentos e materiais de limpeza ganharam espaço no subsolo, onde são armazenados separadamente com toda segurança exigida. A cozinha é pequena, mas ficou funcional e prática com a ajuda de uma chef que deu as dicas das necessidades. AP
Fabiano Koball é arquiteto formado pela Universidade Regional de Blumenau (Furb). Sua atuação se concentra em projetos arquitetônicos institucionais (educacionais: prédios para salas de aula, laboratórios para os mais variados usos, biblioteca, ambulatório universitário, etc), residenciais e comerciais. Também faz projetos para reformas em geral e projetos de móveis. arquiteto@fabiano.arq.br www.fabiano.arq.br (47) 9985-9525 Bistrô Sta. Efigênia Rua Antônio da Veiga, 69 (47) 3234-1152
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Jardim vertical traz a natureza para dentro do restaurante. No banheiro (à esquerda), o preto cria um cenário intimista
/especial
E fez-se a luz Projeto luminotécnico valoriza os ambientes, os objetos de decoração e facilita as atividades propostas para o local Fotos Daniel Zimmermann
Mariana Tordivelli mariana@mundieditora.com.br
A técnica que estuda a luz e seus efeitos vem se destacando. A especialista em iluminação da Novara, Ana Paula Floriani, acredita que isso se Luzes que iluminam detalhes podem fazer dá por causa da influência que a luz exerce sobre muito por um simples ambiente. Projetos lumi- as funções fisiológicas das pessoas. Para ela, a notécnicos conferem novas versões do mesmo luminotécnica vai muito além do projeto elétrico espaço e proporcionam aconchego resultante da de um ambiente, do quadrado no teto com uma iluminação ideal. lâmpada no centro.
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O proprietário da Imperial Luminárias, Hans Bethe, aprofunda ao afirmar que uma boa iluminação não significa níveis excessivos de aclaramento, mas, sim, uma distribuição uniforme. “Dessa forma, evita-se que ocorram ofuscamento e fadiga visual, geralmente ocasionada pela adaptação constante da retina às variações de aclaramento e penumbra”, explica.
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Percepção visual O resultado da matemática que soma tonalidade da luz, tipo de iluminação, distribuição e outros elementos é chamado de clima de cor. “É o estado de ânimo, a sensação fisiológica e psicológica criada pela luz”, diz Ana Paula. Ela acrescenta que cálculos matemáticos e softwares definem a quantidade de lâmpadas e luminárias necessárias em uma obra. A avaliação é feita considerando o tamanho das aberturas e a quantidade de luz natural que incide na obra. O clima de cor também é determinado pela coloração da lâmpada. O gerente comercial da Blumenau Iluminação, Renan Medeiros, ensina que a luz amarela age em nossos fotossensores e acalma os sentidos. Medeiros indica o uso das nuances amareladas em quartos, salas e ambientes que chamam para o relaxamento. Por outro lado, em ambientes que necessitam de mais luminosidade, como cozinha e áreas de serviço, deve-se usar luz branca.
Expediente iluminado Os níveis adequados de iluminância no ambiente de trabalho concorrem para manter a qualidade do produto, menores perdas de material, menor riscos de acidentes causados pela fadiga visual devido a longos períodos sob má iluminação. Segundo Hans, um bom projeto de iluminação deve sempre levar em consideração o tipo de atividade desenvolvida no ambiente. Indústrias, por exemplo, devem respeitar as normas técnicas e buscar a produtividade com segurança. Ao desenvolver projetos luminotécnicos em ambientes comerciais, Hans conta que são observados, inicialmente, o tipo de atividade, a existência de normas para o setor, a localização, a vizinhança e a concorrência. “Posteriormente, analisa-se o ambiente em particular, o produto comercializado, a circulação das pessoas e o perfil da clientela”, explica.
Luz do futuro Por ser econômico e trabalhar com o mínimo de eletricidade, Ana Paula Floriani acredita que o LED é a grande promessa para o futuro em termos de fonte de luz. “Os LEDs ainda estão se modernizando. Alguns tipos encontrados no mercado ainda não satisfazem as expectativas do consumidor no que diz respeito à luminosidade e durabilidade”, diz a especialista. O mercado já dispõe de luminárias acopladas a LEDs de alta potência, os chamados Super LEDs – que podem ser miniaturas de luminárias com alto poder luminoso. Os LEDs orgânicos ou transparentes são aplicados em vidros e têm dupla função: durante o dia, coletam energia que alimentam baterias e, durante a noite, são emissores de luz.
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/especial Daniel Zimmermann
Cenários de luz Pelo comando de um simples controle remoto, o ambiente projetado pela arquiteta Elenir Deluca se transforma completamente. O cliente optou pela automação e dimerização da sala, onde quatro pontos centrais de iluminação contrapõem os efeitos dos dimmers. A arquiteta conta que marcou o eixo de circulação e colocou pontos de luz no chão para moldar o cenário, de acordo com a vontade do
cliente. “Outro efeito que gosto de aplicar é o de enfatizar objetos de decoração com um feixe de luz”, diz. O pendente sobre a mesa de jantar foi escolhido pelo cliente e pela arquiteta. Segundo Elenir, a mobília e a decoração do espaço já são modernas e, para quebrar um pouco esta impressão, optou por um lustre com design clássico.
Bem iluminado A razão pela qual não escolhemos a mesma iluminação para uma igreja, um local de trabalho ou um salão de baile é digna de estudo. O resultado disso é uma boa iluminação, que: • Economiza energia; • Favorece a produtividade; • Destaca e realça formas; • Cria harmonia nos espaços; • Transforma espaços depressivos em estimulantes e dinâmicos; • Valoriza a arquitetura; • Destaca determinado produto.
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Sustentável Para Ana Paula, a iluminação está evoluindo muito tecnologicamente. Ela acrescenta que existe a constante preocupação com a sustentabilidade, dessa forma, procura-se integrar luz natural com artificial para se obter uma construção energeticamente eficiente. “Além do mais, a combinação favorece o conforto visual”, completa a especialista. Aliar sustentabilidade com clima de cor em um projeto luminotécnico não encarece a obra. A sócia-proprietária da Lights On, Barbara Lebrecht, garante que a luminosidade perfeita pode ser planejada mesmo com baixo orçamento. Trabalhos com gesso e pontos de luz embutidos conferem discrição e conforto ao cenário, por exemplo. “A sobriedade da iluminação serve para destacar os elementos da decoração. A luz é apenas coadjuvante. Deve ser discreta, agradável e aconchegante”. O momento de moldar o cenário é quando o mapa da fiação está sendo definido. Na ocasião, Barbara sugere que cliente e equipe de engenharia, arquitetura ou decoração trabalhem juntos. Uma iluminação equilibrada deve combinar luz geral com difusa, que evidencie uma escultura ou um quadro na parede. O clássico lustre sobre a mesa de jantar afere outro ponto de iluminação, entretanto, segundo Barbara, os modelos mais simples são os indicados. Ambientes com diversos elementos de decoração pedem iluminação clean. O inverso se aplica em espaços minimalistas, que podem ter ao menos uma peça conceito, como um lustre de cristais, por exemplo. “O importante é não super iluminar o ambiente; é distribuir com bom senso os pontos de luz”, informa. Para simplificar o ascende e apaga dos circuitos independentes, novos sistemas de automação e dimerização permitem fazer interessantes combinações entre si. Com a ajuda de um especialista, é possível graduar a intensidade das lâmpadas e, assim, criar uma variedade de cenas para diferentes usos. AP
/quarto infantil
Diversão organizada Para facilitar a vida dos pais e permitir a alegria dos filhos, projetos de quartos infantis solucionam problemas corriqueiros
Fotos Daniel Zimmermann
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Brinquedos, tênis, livros e DVDs. Ao entrar em um quarto de criança, estes são apenas alguns dos muitos itens que podem ser encontrados espalhados pelo chão, cama e escrivaninha. Cansada de ter a sala bagunçada ou quarto da filha, a arquiteta Ana Lúcia Sandrini Candemil teve a ideia de transformar o quarto de hóspedes no cantinho do brinquedo. O projeto arquitetônico desse espaço foi minuciosamente estudado para que nenhum detalhe fosse esquecido. Além da praticidade e funcionalidade do espaço, a arquiteta utilizou materiais e acessórios ideais para as brincadeiras de criança. Ana Lúcia considerou também que a filha e os amigos podiam desfrutar daquele espaço sem preocupar-se com a bagunça ou sujeira, típicas dessa fase da vida. A arquiteta explorou o espaço de forma que fosse possível guardar e organizar brinquedos, bonecas, DVDs, livros de história e carrinhos de boneca. De acordo com Ana Lúcia, o ponto de partida para ambientar espaços infantis deve ser o perfil da criança. “Sempre pesquiso o jeito e as preferências da criança. Isso facilita o projeto como um todo. O projeto de um quarto é muito mais do que uma simples combinação de cores, formas e conceitos. Cada detalhe funciona como um atrativo específico, instigando a criança a desenvolver melhor seus sentidos e sua capacidade de concentração”, define. Para projetar o quarto de brinquedo da filha de cinco anos, Ana compôs o cenário com elementos fáceis de manusear e limpar. A ideia do quarto não foi apenas
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Elevado faz as vezes de casinha de bonecas. Embaixo, a ‘garagem’ dos carrinhos ajuda a manter o quarto em ordem e o ambiente divertido
A arquiteta
montar um local para agrupar os brinquedos, mas criar espaços alegres, agradáveis, seguros e funcionais. No espaço de brincar – que leva tons de lilás – foi colocado um sofá-cama, com design diferenciado, para quando ela recebe as amigas. Além disso, aparelhos de DVD, TV, garagem para os carrinhos das bonecas e um elevado para a casinha de bonecas garantem a diversão. “Um dos diferenciais é que o quarto transmite personalidade, o que criou um espaço muito particular, com os objetos que mais a agradam”, explica Ana Lúcia. O ambiente foi criado de forma funcional. A madeira branca foi suavizada com lâmina de bambu. O sofá-cama é de camurça, prático e fácil de lavar. Nas paredes, a arquiteta optou por utilizar tinta em esmalte sintético, que é lavável. “Todos os material são ‘à prova de criança’. A madeira, por exemplo, não arranha e não descasca. Tive a preocupação também com a segurança das crianças na hora de brincar”, afirma. Ana garante que ter optado pelo quarto de brinquedo foi a melhor solução para a bagunça e para as brincadeiras da filha. “No espaço, a Beatriz pode soltar a imaginação. Ela pode brincar com as amigas sem se preocupar com a bagunça, pois tudo tem o seu lugar e elas mesmas podem guardar”, finaliza. AP Ana Lúcia Sandrini Candemil é arquiteta e urbanista formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e se especializou em design de interiores. Contato (47) 9982-8411 Prateleiras garantem a organização de bonecas, livros e bichos de pelúcia 19
/decoração
O poder dos elementos naturais Ciência milenar oriental aliada à física quântica proporciona alinhamento de energias na busca pelo ambiente perfeito A ciência natural de harmonizar ambientes conhecida como Feng Shui é uma arte milenar chinesa que tem como princípio equilibrar as energias, favorecendo a prosperidade e o bom desenvolvimento das relações estabelecidas no local, sejam profissionais ou pessoais. Segundo a consultora e engenheira civil Raquel Pereira Reis, Feng Shui se traduz por Vento – Água. “Os orientais se utilizam desta metáfora para explicar a fluidez da supra-energia (Chi) nos seres humanos e no espaço. Essa energia invade espaços, circula, se expande, se infiltra e se move de forma contínua, da mesma maneira que o vento e a água”, explica Raquel. No Ocidente, o assunto é encarado por alguns como algo místico e transcendental, espiritual ou religioso. Porém, o advento da física quântica, que veio à tona no Século 20 com Albert Einstein, o mais memorável físico de todos os tempos, fez com que os conceitos acerca do assunto tivessem grande mudança. Para Einstein, energia e matéria eram dois elementos interligados. Essa visão mudou a maneira de se ver o Universo, que passou a ser descrito como algo dinâmico, indivisível, cujas partes estão essencialmente interrelacionadas. “Estes novos conceitos podem ser comparados às antigas tradições místicas orientais”, salienta a consultora de Feng Shui. Segundo a teoria de Einstein, mesmo em repouso, um objeto possui energia armazenada. Desde os planetas, estrelas, montanhas, animais, seres humanos, até casas, objetos, pedras e água possuem a mesma energia interligada. Ela pode se apresentar em forma de feixe, luz, partículas ou ondas. Essas formas de energia podem ser comparadas à teoria chinesa dos cinco elementos ou cinco movimentos, base do Taoísmo da medicina oriental e do Feng Shui Tradicional. Por meio do Feng Shui é possível manipular e transformar as energias do ambiente, utilizando 20
formas e elementos. Com o auxílio de ferramentas específicas como a bússola Luo Pan e dados como data de construção do imóvel, direção eletromagnética e data de nascimento das pessoas envolvidas, a consultora faz uma análise do ambiente e estabelece o Diagnóstico do Clima EnergéticoAmbiental e a recomendação de tratamento estabelecido no Relatório Técnico de Feng Shui. Por isso, não basta dispor os objetos sem critérios, somente a análise do local poderá dizer qual o melhor lugar para cada elemento e como eles vão influenciar os
moradores. Segundo Raquel, o ambiente é responsável por 33% da influência sobre a vida das pessoas. Por isso, é essencial saber como colocar objetos e manipular as aberturas e fechamentos de portas e janelas para que energias benéficas possam fluir e as nocivas sejam amenizadas. Nessa filosofia milenar, formas e materiais podem ajudar no equilibrio do ambiente. O Feng Shui alia simetria e proporção e busca o conforto, a beleza e a integração com a
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Cores, formas e disposição dos objetos são cuidadosamente estudadas para facilitar a fluidez das energias positivas
natureza. “As interações entre o ser humano e o imóvel também devem ser consideradas, combinando-se, assim, os aspectos conscenciais que o imóvel pode trazer (desafios e aprendizados)”, afirma a consultora. Os cinco elementos e seus ciclos são um dos aspectos mais importantes do Feng Shui. Todas as curas usadas envolvem esses elementos. “Quando precisamos diminuir a energia de fogo, por exemplo, podemos usar água para apagá-lo ou controlá-lo”, explica.
Fotos Daniel Zimmermann
Vidro, madeira e metal se harmonizam nos móveis que compõem a decoração da cozinha desse apartamento
Os ciclos Ciclo de Geração: mais conhecido como ciclo produtivo. Cada elemento gera ou produz outro. Assim, água gera madeira (regamos plantas com água), madeira gera fogo (ocorre a queima), fogo gera a terra (transforma madeira em cinzas), terra gera metal (retiramos o metal da terra), metal gera água (metal se liquefaz em água). Ciclo de Enfraquecimento: o ciclo contrário ao ciclo de geração. Ao mesmo tempo em que madeira queima gerando fogo, ela perde suas próprias energias. Ciclo de Controle: também conhecido como ciclo destrutivo. Aqui vemos que um elemento pode controlar o outro, ou seja, pode exercer sua influência. Água apaga o fogo, o fogo derrete o metal, metal corta a madeira, a madeira (árvore) retira substâncias da terra e a terra suga a água, ou a terra suja a água.
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/decoração
Fotos Daniel Zimmermann
Os cinco elementos Madeira Cor: verde Formas: cilíndricas e retangulares Materiais: plantas vivas, flores, árvores, tecidos com estampas florais, colunas e pedestais, papel, papelão, móveis de madeira Metal Cores: branco, cinza, prateado, dourado, cromado, cobre Formas: redonda, cilíndrica, esférica, oval Materiais: objetos de metal, aparelhos elétricos, eletrônicos, relógios, sinos, moedas Fogo Cores: vermelho, rosa, salmão, berinjela, roxo Formas: pontiagudas, triangulares, piramidais Materiais: velas, luminárias, lareiras, artigos de couro, lã. Pinturas de animais ou pessoas, estampas de animais, materiais sintéticos, plásticos
Água Cores: azul, preto, verde-escuro Formas: sinuosas Materiais: a própria água, espelhos, vidros, transparências
Fonte: Raquel Pereira Reis
A profissional
Terra Cores: amarelo, bege, ocre, laranja, marrom Formas: quadradas, baixas Materiais: argila, barro, tijolo, pedras, cristais, granito, mármore, cerâmica, paisagens nos quadros, tecido algodão
A Luo Pan (ao lado) é uma ferramenta para aplicação do Feng Shui. Acima: formas redondas, branco, sinos e espelho representam o elemento metal, que ameniza a energia negativa
Raquel Pereira Reis é engenheira civil formada pela Universidade Regional de Blumenau (Furb). Atualmente, trabalha como consultora de Feng Shui Tradicional, desenvolvendo ambientes residenciais, comerciais e industriais. Fez vários cursos de especialização e atua com ênfase na Escola Estrelas Voadoras e Pa Chai, através da diretriz do Mestre Joseph Yu. Também fez cursos internacionais com Cate Bramble, considerada a maior autoridade científica de Feng Shui no mundo, para ministrar cursos avançados. Raquel Pereira Reis Rua Weingarten, 69 - Ponta Aguda (47) 3322-0056 | (47) 9923-7727 www.fengshuitradicional.com.br
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/design
Identidade e valor agregado Especialista italiano fala do design como ferramenta fundamental na busca pelo diferencial nos produtos Daniel Zimmermann
Quem entende o design apenas como uma preocupação estética do produto desconhece as potencialidades dessa ferramenta. Essa é a opinião do arquiteto italiano e PhD em design de móveis, Francesco Zurlo, do Instituto Poli.Design, que participou do workshop promovido pelo Senai de Blumenau. O especialista defende o uso do design como estratégia das empresas para criar identidade e agregar valor aos produtos. Para Zurlo, que é diretor do máster em Design Estratégico do Instituto Poli.Design, a área de design também deve estar relacionada a aspectos como imagem corporativa, percepção do produto, fabricação e ponto de vendas. Ele cita como exemplo os arquitetos brasileiros Fernando e Humberto Campana, que exportam para a Europa graças às ações de design. “Eles não são atentos apenas à função do produto, mas também contam uma história sobre o que criam. É como se fosse construída uma marca dos irmãos Campana”, explica o especialista. De acordo com as pesquisas realizadas pelo arquiteto, o design como estratégica está amparado em três fundamentos: a comunicação, ou seja, a pesquisa de mercado e a identificação de tendências; o desenvolvimento de produtos em si e a ampliação do valor agregado com a oferta de serviços, como atendimento e logística. O especialista ressalta que os produtos que não agregam valor por meio do design não apresentam diferenciais e sofrem com a concorrência de produtos mais baratos, como os produzidos na China. “O mercado ocidental é focalizado na funcionalidade, mas também quer uma história sobre o produto que emocione. Esse é um modo de se diferenciar, pois quem escolhe aquela marca está disposto a pagar qualquer preço”, afirma. Segundo Zurlo, o designer não é apenas uma pessoa que trabalha sozinha; o design é uma atividade desempenhada em equipe. Para que os resultados sejam alcançados, o arquiteto acredita que todas as pessoas do grupo agregam valor ao produto. “A criatividade somada estimula a interpretação das pesquisas de mercado. A confiança acrescida ao grupo estimula e traz motivação ao ambiente de trabalho”, aponta.
PhD italiano falou sobre as aplicações do desing para agregar valor aos produtos
Referência Referência internacional em design, o Instituto Poli.Design – criado em 1999 – é ligado ao Consorzio del Politécnico de Milão, o centro industrial da Itália. Sua atribuição central é fazer a ligação entre universidades e empresas. O Consorzio del Politécnico foi criado em 1863 e congrega universidades e centros de estudos e pesquisas em diversas áreas industriais. AP 23
/design
As tendência que vêm de Milão Arquiteta fala sobre as novidades apresentadas no Salão Internacional de Móveis Fotos Divulgação
O último grito do cenário moveleiro acontece no Salone Internazionale do Móbile (ISaloni), em Milão, na Itália. O evento aconteceu em abril e apresentou tendências, inovações e tecnologias vindas de todos os cantos do mundo. A arquiteta Daniela Schmitt foi, pelo segundo ano consecutivo, conferir os cinco dias de feira e conta que, assim como no vestuário, Milão é uma 24
cidade que dita moda no design mobiliário. Para Daniela, a feira é um dos melhores eventos do segmento, onde se encontram muitas novidades. “O mercado da arquitetura, principalmente a de interiores, tende a seguir o que surge em Milão e em outros grandes centros. Portanto, o profissional da área que busca manter-se atualizado com os novos produtos, designs e acabamentos, deve
ter como prioridade o acompanhamento desses eventos”, declara. A cada dois anos, o evento conta com a Eurocucina – segmento da feira voltado exclusivamente para as novidades em cozinhas e eletrodomésticos. O banheiro também foi destaque. Inovações na área foram apresentadas paralelamente no Salone Internazionale del Bano.
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Arquitetura no ar A arquiteta conta que as novidades do ISaloni vão muito além da feira em si. Lembra que a cidade inteira se “veste” para a feira e que vários eventos de arte, design, arquitetura e moda acontecem ao mesmo tempo. “A cidade respira arquitetura e esse é o grande charme de todo o evento. Caminhar pelas ruas de Milão no final da tarde pode trazer surpresas muito agradáveis, além de contribuir com a busca de tendências e conhecimento”, afirma Daniela.
Novidades Segundo a arquiteta, a principal tendência observada na feira é a laca de alto brilho acompanhada por variações de acabamentos foscos, lâminas e outros materiais, como o vidro. Em termos de cores, as variações da tonalidade cinza Fendi aparecem tanto nas paredes, quanto nos móveis e tecidos. Nas cozinhas, a arquiteta observou que o inox continua em alta, tanto nas bancadas, quanto nos eletrodomésticos. De acordo com Daniela, os perfis mais finos e discretos estão cada vez mais integrados aos outros ambientes sociais, no entanto, as cozinhas ficam embutidas em painéis que as isolam. AP
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/sustentabilidade
Economia com qualidade Prédio de 23 andares e 46 apartamentos leva automação e respeito ao meio ambiente para o Litoral Divulgação
Um prédio que ofereça conforto, segurança e praticidade. Partindo dessa ideia, a FG Empreendimentos desenvolveu, em parceria com a Engetel Automação e Segurança, um edifício de acordo com as técnicas modernas e reconhecidas de construção sustentável, buscando menores impactos ambientais e economia de recursos. O conceito de sustentabilidade esteve presente desde a execução das obras. Houve monitoramento da qualidade da água e do ar, reaproveitamento e destinação correta de resíduos sólidos, controle de ruídos, da poluição sonora e da procedência dos materiais utilizados. “Baseados em projetos da região e visando às necessidades de cada cliente, a FG buscou um conceito inovador de arquitetura arrojada”, afirma a arquiteta responsável pelo projeto 28
Vanessa Schmidt. O prédio, localizado na Avenida Atlântica, no Centro de Balneário Camboriú, tem 23 andares – dois apartamentos por andar, com três suítes três ou quatro vagas na garagem. Segundo o engenheiro responsável pela implantação do sistema de automação da obra, Rafael Belli Krapp, da Engetel, o Le Classic é um dos prédios mais automatizados de Santa Catarina. O edifício possui vários sistemas que contribuem com a segurança, conforto e praticidade dos moradores. “Procuramos recursos que contribuíssem para a economia de energia e preservação do meio ambiente. Isso envolve, desde a origem da madeira utilizada na obra, até o melhor aproveitamento da luz natural, do vento, entre outros”, explica. Entre as características do prédio, o engenheiro
destaca o sistema de alarme de incêndio e iluminação de emergência inteligente; sistema de áudio e vídeo para área de lazer, inclusive home cinema 7.1 com blu-ray e resolução full HD; sistema de vídeo-porteiro colorido (primeiro equipamento IP instalado no Brasil – tecnologia italiana); sistema de controle de acesso com impressão digital para controlar a entrada da garagem e de visitantes; aspiração central de pó e medição remota do consumo de água e gás dos apartamentos. Além disso, a Engetel implantou um sistema integrado de gerenciamento de edificações. “Esse software permite acionar a iluminação da área de lazer, ar condicionado à distância, além de monitorar o nível da caixa d’água, gerador do prédio e bombas da piscina”, explica Krapp.
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A automação está presente em todas as áreas de uso compartilhado, como na sala de jogos, e ajuda a usar os recursos racionalmente
O sistema de vídeo-porteiro do Le Classic conta com o primeiro equipamento do tipo instalado no Brasil
O home cinema, com tecnologia de ponta em som e imagem, é um dos destaques das áreas de lazer do prédio
Investindo em sustentabilidade Em relação aos investimentos, uma obra sustentável não é mais cara do que qualquer que priorize a qualidade. “A obra sustentável é uma obra de qualidade, portanto, o preço que se paga é por esse padrão. A vantagem da construção sustentável é que, com as estratégias adotadas, principalmente para uso racional de água e consumo inteligente de energia, em pouco tempo,
ou seja, em média três anos, há retorno do diferencial de investimento aplicado”, garante o engenheiro. Para Krapp, ainda existem muitas distorções do conceito inteligente e sustentável. O engenheiro acredita que muitas soluções acabam tornando-se muito mais prejudiciais ao meio ambiente. “É preciso analisar vários fatores
como, por exemplo, quais recursos da natureza são utilizados na fabricação de um novo produto e quanto de CO2 (dióxido de carbono) será necessário emitir no transporte para que o produto chegue até o local de instalação. Plástico, ferro e outros materiais também saem da natureza e as pessoas, às vezes, focam apenas na economia de energia elétrica”, observa. AP 29
/patrimônio histórico
Paredes históricas Casa centenária está sendo restaurada para abrigar museu que preservará história da indústria têxtil Fotos Daniel Zimmermann
Gisele Scopel gisele@mundieditora.com.br Buscar a história incrustada em cada tijolo e reviver os passos dos desbravadores dessa terra. Esse é o trabalho que está sendo realizado na casa centenária em frente à Cia. Hering e que, por muitos anos, atendeu às necessidades dos trabalhadores da empresa. Tombada pelo Patrimônio Histórico de Santa Catarina, em 2002, a estrutura está sendo restaurada e adaptada para receber o Museu Hering, ação que também comemora os 130 anos da empresa. O rico acervo deve estar à 30
disposição para apreciação do público a partir de setembro deste ano. De acordo com o arquiteto responsável pelo projeto de restauração e gerenciamento da obra, Jonathan Carvalho, da Ornato Arquitetura, uma equipe multidisciplinar tem trabalhado em conjunto para adequar o espaço expositivo do museu. São arquitetos, engenheiros e museóloga responsáveis pela compatibilização das necessidades hidráulica, elétrica, de telefonia, paisagismo, acessibilidade, luminotécnica e mobiliário expositivo. A casa tem 446,37m² e fica na entrada da sede da empresa, no Bairro Bom Retiro.
Segundo Carvalho, o primeiro passo é fazer um estudo aprofundado para avaliar as características da construção e os costumes daqueles que construíram a casa. O material farto e bem cuidado ajudou a desenvolver o trabalho. Após essa fase, os materiais utilizados na restauração seguem a mesma composição dos originais. A casa de três andares construída na técnica enxaimel – que encaixa esteios e contraventamentos de madeira entre si e tem os espaços preenchidos com tijolo, típico dos colonizadores alemães – estava em bom estado de conservação. As telhas em forma de rabo de castor ou escama
ALTOpadrão Fotos Daniel Zimmermann
Concepção gráfica de como ficará a obra depois de concluída
de peixe passaram apenas por um tratamento de lavação e aplicação de produto hidrofugante. As que precisaram ser substituídas foram conseguidas na própria empresa, que guardava algumas remanescentes. Na parte interna, o reboco à base de cal foi substituído por novo, também à base de cal, assim como o acabamento. No piso térreo, o teto tipo saia e camisa, tipologia com influência europeia, bastante usado no Brasil colonial, destaca o capricho e o zelo dos antepassados. Após a análise das patologias, o sótão recebeu uma manta metálica que oferece proteção térmica, acústica e contra infiltrações. A forração em madeira cambará tem coloração diferente para se diferenciar da parte original. As madeiras foram tratadas e as esquadrias reformadas. No piso, permaneceu o tabuado de original em canela-preta. O subsolo revela curiosidades do final do Século 19. O alçapão que ligava a parte externa à parte mais baixa da construção e por onde se passavam os alimentos que eram armazenados, para não precisar descer com o peso, permanece intacto e mostra o modo de vida da época. A parede de pedras, erguida como muro de contenção, parece um ornamento. O piso de ladrilho hidráulico traz um charme especial. Com o intuito de mostrar os arcos que compõem a sustentação da casa, um dos cantos do subsolo foi deixado exposto para se observar a parte mais próxima ao solo, inclusive com os tijolos à vista.
Estrutura bem conservada ajudou no projeto de restauração, que deixará à mostra os arcos de sustentação da obra centenária
Áreas de contemplação Ao redor da casa, um projeto paisagístico trará ainda mais beleza à construção centenária. Um deck que se estende por uma das laterais ajudará a ampliar a belíssima visão da casa em estilo enxaimel. Foi preciso desbastar o barro para instalar o deck que ganhará uma iluminação especial debaixo da estrutura. Ao lado, mais um espaço feito em pedras portuguesas, também conhecidas como petit pavê, será destinado à observação. Somente o subsolo e o térreo serão destinados para a exposição permanente do acervo do museu. No sótão, ficará a parte administrativa do empreendimento cultural. A parte museológica contará com a tecnologia das luminárias de fibra ótica, que não aquecem. Também será instalada a automação luminotécnica com dimerização e a possibilidade de criar cenas pré-programadas para cada situação. Para Jonathan, é muito gratificante ver empresas que valorizam e incentivam a preservação do patrimônio histórico.“Por ser particular, eles poderiam simplesmente demolir sem dar importância. Mas, fizeram um bem enorme para toda a cidade”, afirma o arquiteto. Com a restauração, a empresa pretende incentivar a visita de crianças e desenvolver o interesse na educação com um novo conceito museológico, já que tudo estará ao alcance dos visitantes. 31
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A antiga fechadura está preservada na entrada principal da casa. No porão, a parede de pedras construída para segurar o barranco ao lado da construção
“Aos mais novos da família, aqueles a quem é destinado o escrito, quero lembrar: cuidem do bem que vos foi legado pela memória destes e lembrem-se, o homem não vive só do pão. Procurai também o alto, para que o materialismo não atropele o espírito. Finalizo com as já tão usadas palavras de Goethe: o que herdaste de teus pais, trabalhe-o para merecer”. Gertrud Gross Hering
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Logo que chegam da Alemanha, em 1880, os irmãos Hermann e Bruno Hering fundaram a Companhia Hering, com a produção de camisetas de malha de algodão. A empresa instalou-se na Rua XV de Novembro, que ainda se chamava Wurststrasse (Rua da Linguiça). Em 1883, a empresa mudou-se para o Bairro Bom Retiro e esta é a data provável da construção da casa que está sendo reformada. Foi construída praticamente à mão e a madeira foi serrada com equipamento anterior aos engenhos de água. Inicialmente, a casa serviu de refeitório – kosthaus, casa de refeição – e biblioteca para os funcionários. Em 1960, a casa tornou-se sede da Associação Recreativa, com restaurante e jogos de mesa. De 1988 a 1993, funcionou como posto de atendimento do Banco de Crédito Nacional (BCN). Permaneceu fechada até 2000, quando foi restaurada pela primeira vez. Em 2002, foi tombada como Patrimônio Histórico do Estado de Santa Catarina e agora está sendo restaurada e adaptada para sediar o museu com exposição permanente de equipamentos e instrumentos têxteis e um espaço cultural. AP Fotos Daniel Zimmermann
Pensamento histórico
A frase é citada no Livro “Nach 75 Jahren” (após 75 anos) escrito por Gertrud Gross Hering. Gertrud Walli Tony Hering, filha de Hermann Hering, nasceu em 6 de maio de 1879, em Dresden, Alemanha. Imigrou para Blumenau em 23 de junho de 1880 com apenas um ano. Casou em 1º de maio de 1906 com Richard Gross e faleceu em 7 de março de 1968, com 89 anos.
Valor cultural
Jonathan Carvalho, da Ornato Arquitetura, é responsável pelo projeto de restauração
/gastronomia
Paixão por novos sabores Na Austrália, José Campestrini Junior ingressou no mundo da boa cozinha internacional
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Daniel Zimmermann
José Campestrini Junior não teve uma carreira profissional linear. Iniciou duas faculdades: Comércio Exterior e Direito. Mas foi na Gastronomia que encontrou a verdadeira paixão. Morando e estudando, há cinco anos, na Austrália, Junior conheceu e trabalhou nos melhores e mais variados restaurantes daquele país. Ele conta que a vontade de cozinhar surgiu da admiração pelos pratos que o amigo Bruno Margarida – que trabalha no Dado Bier, em Porto Alegre, fazia. “Sempre imaginava que um dia iria cozinhar como ele. Foi a partir disso que tive a ideia de estudar Gastronomia”, confidencia. Aos 21 anos, Junior deixou para trás a família e amigos e foi em busca de seus sonhos e de novos desafios. Durante o tempo em que esteve fora, o chef teve a oportunidade de conhecer novas culturas, paladares e lugares. “Acredito que a fase de adaptação é uma das mais difíceis enquanto se está fora. Mas, se a pessoa está disposta e aberta ao novo, tudo é válido. Cresci muito como pessoa e como profissional”, afirma. Durante esse tempo, Junior trabalhou em oito restaurantes. Ele acredita que a experiência administrativa adquirida na loja dos pais (José e Odete Campestrini) e a fluência em três idiomas foram fundamentais para a aceitação dos chefs da Austrália. “Adaptei-me muito bem. Além de falar italiano, espanhol e inglês com sotaque local, levei na bagagem seis anos de administração na prática da época em que trabalhava com minha mãe. Não posso esquecer também da força de vontade de aprender e aperfeiçoar-me”, aponta. Sem nenhuma experiência acadêmica de gastronomia, Junior foi para outro país começar do zero e conta que foi trabalhando nos restaurantes que teve o maior dos ensinamentos. “O mercado internacional é o mais exigente. Tanto na parte dos alimentos frescos e ingredientes selecionados, como na parte técnica e operacional. Se você não é capaz de desenvolver determinada tarefa, tem outro que sabe e você perde. Lá, você enfrenta desafios diários e está sempre correndo atrás para superá-los”, garante. Especializado em cozinha moderna australiana, Junior aprendeu que cozinhar vai além de preparar a refeição. “O bom cozinheiro é aquele que vai para o trabalho e prepara pratos com consistência e qualidade. Tendo prazer naquilo que está fazendo. Escolhendo ingredientes frescos e de boa procedência, valorizando a individualidade de cada alimento. Saindo do comum e, ao mesmo tempo, criando o seu sabor e diferencial”, define. Outra paixão gastronômica de Junior é o sushi. Fez uma semana de curso em Sidney e ele garante que a tarefa não é nada fácil. “O grande desafio é cortar o peixe. Quando estabilizar-me novamente no Brasil farei um curso de aperfeiçoamento em sushi”, antecipa. De volta ao Brasil – dessa vez para ficar –, Junior pretende seguir novos e desafiadores caminhos. O foco agora é o setor imobiliário. O futuro corretor tem no
Na Austrália, Junior trabalhou em badalados restaurantes e aprendeu as artes da cozinha contemporânea do país
pai seu maior exemplo de sucesso e pretende segui-lo. “Dessa experiência, um dos maiores aprendizados que tive é que os melhores e mais valiosos conselhos foram meus pais que me deram. Eles sempre me disseram para tratar as pessoas como eu gostaria de ser tratado. Aprendi que posso ser e seguir qualquer caminho. Com dedicação e força de vontade, posso desempenhar qualquer função. Hoje, estou indo para o setor imobiliário; amanhã, quem sabe?” Quando decidiu sair do Brasil e procurar compor a própria história, Junior partiu sem uma trajetória definida. Instigado por novos desafios, cinco anos depois e com 26 anos, trouxe na mala muito aprendizado, amadurecimento e tranquilidade. Se fosse para voltar atrás, garante que faria tudo novamente e não mudaria nada. “Se pudesse deixar um aprendizado para quem está indo para a faculdade, como era o meu caso na época, eu diria: viaje! Não existe sensação melhor. Com certeza seria frustrado se não tivesse me permitido dessa maneira. Hoje sou muito feliz e realizado. Ainda tenho muitos passos para dar, mas, com certeza, serão passos mais confiantes e planejados”, finaliza. AP
ODORIZZI
/clic Alto Padrão Fotos Danile Zimmermann
Arcos para cima A Ponte dos Arcos de Indaial foi uma das primeiras do Sul do País construída com a técnica de concreto armado
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ALTOpadrão Danile Zimmermann Fotos Divulgação
À noite, a iluminação torna ainda mais bonita a vista de um dos principais cartões-postais do Vale do Itajaí
Em Indaial, a Ponte Emílio Baumgarten, mais conhecida como Ponte dos Arcos, embeleza o horizonte com sua nobre estrutura. A obra foi iniciada em 1924, graças à reivindicação da população que precisava escoar produtos do comércio e da indústria. Naquele tempo, a cidade estava crescendo e a travessia do rio era feita através de balsas. A necessidade da construção foi fortalecida, pois, próxima à ponte, havia uma estação da Estrada de Ferro Santa Catarina, desde 1909. A Ponte dos Arcos foi uma das primeiras no Sul do Brasil a ser construída com a técnica do concreto armado. Com 175 metros de comprimento, cerca de sete metros de altura e seis metros de largura, o projeto inicial previa os cinco arcos direcionados para baixo. No entanto, em 1925, uma grande enchente destruiu os suportes de madeira que moldavam os arcos. Com isso, o projeto foi mudado e foram construídos para o lado de cima. Inaugurada em outubro de 1926 com uma grande festa, atualmente a obra está com 83 anos. Pela Ponte dos Arcos passam veículos de passeio, motos, bicicletas, pedestres e turistas. AP
Ponte foi construída na década de 1920, uma obra arrojada para a época, que teve que contar com a perícia de escafandristas para assentar os pilares de sustentação
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/dicas de Alto Padrão
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Harmonia na diversidade
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Daniel Zimmermann
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Magneto magneto@hotmail.com (47) 3037-7509
Etnia e bom-gosto espalham-se pelos cômodos da casa da bancária Marli Quarantani Junkes, que não esconde a preferência por motivos africanos. Contudo, para não carregar no estilo tribal, Marli salpica elementos românticos, rústicos e levemente sofisticados com maestria. É nos objetos que refletem diversidade que a bancária busca compor um ambiente agradável.
1) Estátua de resina: R$ 319,00 2) Pote indiano: R$ 349,00 3) Móvel de madeira: R$ 690,00 4) Conjunto de vasos de cerâmica: R$ 157,00 5) Relógio pêndulo: R$ 179,00 Vivenda Decore www.vivendadecore.com.br (47) 3340-5153 6) Elefante de resina: R$ 77,60 7) Lanterna de madeira: R$ 251,55 8) Castiçais de resina: R$ 284,76 9) Abajur Thifanni: R$ 1.214,00 10) Conjunto de vasos de alumínio fundido: R$ 1.010,00
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