Março/2022 - No 138 - ano XIV - www.revistadoavisite.com.br
ESPECIAL
A FORÇA DA
Mulher NO AGRONEGÓCIO
BALANÇO 2021:
Avicultura de corte brasileira atinge novos recordes NUTRIÇÃO ANIMAL:
Arroz como alternativa para reduzir custos de produção
Influenza Aviária: os reais perigos dos novos surtos de H5N1 Com o crescimento de casos da cepa H5N1 em todo o mundo, aumenta a preocupação em manter o Brasil livre da enfermidade. A Revista do AviSite
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Sumário
Editorial
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Eventos e As mais lidas do AviSite
Caro leitor,
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Matérias primas
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Destaques AviSite: Profissionais, Empresas & Instituições
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Aviagen se destaca no mercado avícola brasileiro e celebra 15 anos de aquisição dos ativos da Agroceres Ross
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BRF tem lucro líquido de operações continuadas de R$ 964 milhões no 4tri21
A avicultura de corte brasileira atingiu algumas marcas inéditas em 2021. Principalmente, incrementou a produção de carne de frango e, mesmo tendo atingido novo recorde na exportação do produto, garantiu maior oferta interna, assegurando com isso aquele que é, aparentemente, um novo patamar na disponibilidade per capita de carne de frango. Isto, sem perder a competitividade frente às demais carnes. As vendas de carne de frango para o mercado internacional (considerando todos os produtos) totalizaram 4,6 milhões de toneladas em 2021, maior volume já registrado pelo setor em um único ano. Segundo a ABPA, o número superou em 9% o total exportado pelo Brasil em 2020, quando foram embarcadas 4,23 milhões de toneladas. A receita das exportações de material genético e ovos férteis do Brasil cresceram 26,7% em 2021. Ao todo, foram efetuadas vendas que geraram receitas totais de US$ 147,7 milhões no ano passado, contra US$ 116,5 milhões em 2020. Para falar sobre estes números, a Revista do AviSite traz nesta edição um balanço detalhado sobre alojamento de matrizes de corte, produção de pintos de corte, produção, exportação e disponibilidade de carne de frango e, por fim, a disponibilidade per capita aparente de carne de frango. A reportagem de Capa destaca o crescimento de casos da cepa H5N1, da Influenza Aviária, em todo o mundo, que aumenta a preocupação em manter o Brasil livre da enfermidade. Para complementar, Eduardo Conte fala, na editoria Ponto-Final, como o aumento dos casos de Influenza Aviária no mundo torna os cuidados com biosseguridade cada dia mais necessários.
Ponto-Final
E mais: Estudos da Embrapa mostram que o arroz pode complementar ou substituir o milho na ração animal. Março é o mês das mulheres e a Revista do AviSite preparou um especial para reforçar a importância fundamental das mulheres no agronegócio. Boa leitura.
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Aumento dos casos de Influenza Aviária no mundo torna os cuidados com biosseguridade cada dia mais necessários Luiz Eduardo Conte
Mundo Agro Editora Ltda. Rua Erasmo Braga, 1153 13070-147 - Campinas, SP Publicação Trimestral nº 138 | Ano XIV | Março/2022
Os informes técnico-empresariais publicados nas páginas da Revista do AviSite são de responsabilidade das empresas e dos autores que os assinam. Este conteúdo não reflete a opinião da Mundo Agro Editora.
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A Revista do AviSite
EXPEDIENTE
Glaucia Bezerra
Publisher Paulo Godoy paulo.godoy@mundoagro.com.br Redação Glaucia Bezerra (MTB 80373/SP) imprensa@mundoagro.com.br José Carlos Godoy jcgodoy@avisite.com.br Comercial Natasha Garcia, Paulo Godoy e André Di Fonzo (19) 3241 9292 | (19) 98963-6343 comercial@mundoagro.com.br
Diagramação e arte Gabriel Fiorini gabrielfiorini@me.com Internet Gustavo Cotrim webmaster@avisite.com.br Administrativo e circulação financeiro@avisite.com.br
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Publieditorial
Balanço, fechamento 2021
Soluções da Agrosys garantem maior produtividade para fábricas de ração
Apesar das pedras no caminho, avicultura de corte brasileira chegou a novos e inéditos resultados em 2021
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Capa Influenza Aviária: os reais perigos dos novos surtos de H5N1
Arroz é alternativa viável para reduzir custos de produção de suínos e aves
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Nutrição Animal
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46 Nutrição Animal
Saúde Animal
Superdosagem de fitase proporciona bons resultados para combater miopatias em frangos de corte
Impactos da ocorrência de Bronquite, Laringotraqueíte e Influenza Aviária na produção avícola brasileira
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Saúde Animal
Manejo
União Europeia sanciona lei que bane uso indiscriminado de antibióticos e estimula o bem-estar na criação animal
Fatores que afetam o conforto e a viabilidade dos pintinhos desde a incubadora até o alojamento
Mulher
A FORÇA DA
Nutrição Animal Conceitos de imunonutrição aplicados a avicultura
Terceira geração de selênio: L-SeMet, OHSeMet ou Zn-SeMet, quais são as diferenças?
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Nutrição Animal
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NO AGRONEGÓCIO
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Eventos Março Congresso de Ovos 22/03 a 24/03 – Ribeirão Preto/SP www.congressodeovos.com.br/ Abril 22º Simpósio Brasil Sul de Avicultura 05/04 a 07/04 – Chapecó/SC www.nucleovet.com.br/simposio/avicultura Agrishow 2022 25/04 a 29/04 – Ribeirão Preto/SP www.agrishow.com.br Maio 38ª Conferência FACTA 10/05 a 12/05 – Campinas/SP www.facta.org.br Junho 13ª edição do Simpósio Técnico da ACAV 06/06 a 08/06 – Florianópolis/SC www.simposioacav.com.br 6ª Favesu Feira de Avicultura e Suinocultura Capixaba 08/06 e 09/06 - Venda Nova do Imigrante/ES www.favesu.com.br Simpósio Goiano de Avicultura 09/06 e 10/06 – Goiânia/GO www.agagoias.com.br Agosto Congresso Mundial de Avicultura 07/08 a 11/08 – Paris/França www.wpcparis2020.com SIAVS Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura 09/08 a 11/08 – São Paulo/SP www.siavs.com.br Outubro 7º Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio 26/10 e 27/10 – São Paulo/SP www.mulheresdoagro.com.br
As + lidas do AviSite
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Custo de produção do frango surpreende ao atingir novo e inesperado recorde Que o custo havia aumentado em relação ao mês anterior já se sabia. O que não se sabia (nem se imaginava) é que ele atingiria um novo recorde histórico, ultrapassando os picos anteriores, registrados em maio e agosto de 2021. De acordo com o levantamento mensal da Embrapa Suínos e Aves, em janeiro de 2022 o custo de produção do frango atingiu a marca, inédita, dos R$5,51/kg, valor que significou aumento mensal de 5,76% e anual de 20,31%. Leia na íntegra:
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BRF capta R$ 5,4 bilhões em processo de follow-on A BRF captou R$ 5,4 bilhões em processo de oferta subsequente de ações (follow-on). Os recursos serão utilizados para fortalecer a estrutura de capital da empresa e para investimentos estratégicos para o alcance da Visão 2030, estabelecida pela empresa em 2020. Como primeiro resultado positivo desta oferta de ações, a Standard & Poor’s elevou a nota de crédito da BRF para “BB” em escala global e “brAAA” em escala nacional, com perspectiva estável. Esta avaliação leva em consideração o reforço da estrutura financeira da BRF com o follow-on, bem como o fortalecimento de sua governança pela publicação recente de sua Política Financeira. Leia na íntegra
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Carne de frango foi o oitavo maior gerador da receita cambial brasileira em 2021 Com uma receita 25% superior à de 2020 e um valor – US$6,954 bilhões – que correspondeu a, praticamente, 2,5% da receita obtida pelo Brasil em 2021 com as exportações, a carne de frango foi o oitavo maior gerador da receita cambial do País no ano que passou. Notar que a carne de frango subiu uma posição na pauta cambial (9º lugar em 2020) e, mesmo assim, teve sua participação no total reduzida em 6,67%. Isto ocorreu porque outros produtos tiveram desempenho excepcional no ano. Casos, por exemplo, do minério de ferro (+72,99%), do petróleo (+55,31%) e dos produtos de ferro e/ou aço (+101,29%). Leia na íntegra
Novembro 34ª Reunião CBNA Aves, Suínos e Bovinos 09/11 e 10/11 – Campinas/SP www.cbna.com.br Aves & Suínos 360º - Summit 2022 Hotel Pullman – Vila Olímpia/SP www.avesesuinos360.com.br
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+ em: www.avisite.com.br e em nossas redes sociais
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Matérias-primas Milho registra aumento de 16,5% no primeiro bimestre
Farelo de soja apresenta leve retração no primeiro bimestre
O preço do milho voltou a apresentar evolução no primeiro bimestre de 2022. No período o preço médio do insumo, saca de 60 kg, interior de SP, alcançou cotação de R$100,71, equivalendo a aumento de 16,5% sobre a média alcançada pelo produto no mesmo período do ano passado, quando a cotação média atingiu R$86,44. Em relação ao mesmo período de 2020, o aumento supera os 88,5%.
O farelo de soja (FOB, interior de SP) voltou a apresentar forte evolução no início desse ano, atingindo valor recorde em fevereiro. Com isso, o primeiro bimestre voltou a se aproximar do valor médio obtido no mesmo período do ano passado. O preço médio alcançou valor de R$2.837,00 a tonelada, significando queda ínfima de 0,3% sobre o apontado para o mesmo período de 2021, aquando a cotação média atingiu R$2.846/t. Na comparação com o mesmo período de 2020, o aumento supera os 113,4%.
Valores de troca Milho/Frango vivo
Valores de troca Farelo/Frango vivo
No frango vivo (interior de SP) o preço médio acumulado no primeiro bimestre alcançou R$4,91 kg, atingindo valorização anual próxima de 12,5%. Assim, com a maior valorização na cotação do milho em relação ao frango vivo, o avicultor permaneceu absorvendo perdas no poder de compra. Neste ano foram necessários 341,7 kg de frango vivo para se obter uma tonelada de milho, considerando-se a média mensal de ambos os produtos. Este volume representa queda de 3,5% no poder de compra em relação ao primeiro bimestre de 2021 quando a tonelada do milho “custou” 329,9 kg de frango vivo.
Com a maior valorização do frango vivo no decorrer do ano, houve melhora no poder de compra do avicultor. Nesse ano foram necessários 577,6 kg de frango vivo para adquirir uma tonelada do insumo, significando melhora de 12,8% no poder de compra do avicultor em relação ao mesmo período de 2021 quando 651,6 kg de frango vivo foram necessários para obter uma tonelada do produto. A relação aponta piora expressiva na comparação com o mesmo período de 2020 quando foram necessários apenas 414,8 kg, significando perda de 28,2% no poder de compra.
Preço médio Milho
Preço médio Farelo de Soja
2021 2022 JANEIRO Janeiro FEVEREIRO Fevereiro Março MARÇO Abril ABRIL Maio MAIO Junho JUNHO Julho JULHO Agosto AGOSTO Setembro SETEMBRO Outubro OUTUBRO Novembro NOVEMBRO Dezembro DEZEMBRO
120 120 100 100 80 80 60 60 40 40 20 20 00
3,500 3,500 3,000 3,000 2,500 2,500 2,000 2,000 1,500 1,500 1,000 1,000 0,500 0,500 0,000 0,000
2021 2022
Mínimo
Média Jan-Fev
Máximo
Mínimo
Média Jan-Fev
Máximo
90,50
100,71
104,50
2.570,00
2.837,00
3.040,00
Fonte das informações: www.jox.com.br
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R$/tonelada FOB, interior de SP
Janeiro JANEIRO Fevereiro FEVEREIRO Março MARÇO Abril ABRIL Maio MAIO Junho JUNHO Julho JULHO Agosto AGOSTO Setembro SETEMBRO Outubro OUTUBRO Novembro NOVEMBRO Dezembro DEZEMBRO
R$/saca de 60 kg, interior de SP
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Exportação
Exportação de carne de frango tem seu melhor fevereiro da história Acompanhando esse bom desempenho, o preço médio de fevereiro apresentou ligeira recuperação (+0,61%) em relação ao mês anterior. E embora ainda permaneçam aquém do que foi alcançado no último trimestre de 2021, os US$1.726,18 por tonelada ficaram mais de 18% acima do que foi registrado em fevereiro do ano passado.
E
m fevereiro, o Brasil exportou, em média, 17.882 toneladas diárias de carne de frango in natura, volume menor que as 17.987 toneladas diárias alcançadas um ano antes. Mesmo assim, o volume total embarcado no mês aumentou quase 5% em relação a fevereiro de 2021.
O volume exportado somou 339.751 toneladas, resultado que também representou incremento de quase 7% sobre o mês anterior (317.727 toneladas em janeiro de 2022) e o melhor fevereiro de toda a história das exportações do setor.
O efeito desses dois desempenhos foi um resultado ainda mais expressivo na receita cambial. Pois ela superou os US$586 milhões, aumentando mais de 7% em relação ao mês anterior e perto de 25% em comparação a fevereiro de 2021. No acumulado do primeiro bimestre, o volume embarcado aumentou perto de 11%. Mas como o preço médio registra valorização próxima de 18% a receita cambial do período é quase 31% superior.
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Destaques AviSite: Profissionais, Empresas & Instituições
Foto: Reprodução internet
Agroceres JBS Brasil anuncia Gilberto Xandó Multimix investe como novo presidente em nova unidade fabril em Quatro Pontes (PR)
Gilberto Xandó, presidente da JBS Brasil
G Ricardo A. Ribeiral é diretor superintendente da Agroceres Multimix
Q
uatro Pontes, região oeste do estado do Paraná, foi escolhida pela Agroceres Multimix para instalar sua nona fábrica de produtos de nutrição animal. Atualmente a empresa conta com oito fábricas instaladas nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Com um investimento próximo de 100 milhões de reais, o novo complexo fabril da Agroceres Multimix terá uma área construída de 65 mil m², com uma capacidade total de produção acima de 40 mil toneladas/ mês. “A empresa vem crescendo muito na região Sul do Brasil e a necessidade de uma fábrica para atender melhor esse mercado já fazia parte do nosso planejamento estratégico. Faltava apenas definir o melhor local”, afirma Ricardo A. Ribeiral, diretor superintendente da empresa.
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ilberto Xandó assumiu, em janeiro, a presidência da JBS Brasil. Sua nomeação como novo presidente foi realizada em novembro de 2021, em uma reformulação do comando global da empresa. Para assumir o posto, ele renunciou ao cargo de membro do Conselho de Administração da JBS.
Em substituição a Xandó, o Conselho de Administração da companhia elegeu Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo como membro independente. Ex-diretor de Política Econômica do Banco Central do Brasil, Araújo é engenheiro, mestre e doutor em Economia com forte experiência no mercado financeiro e político-econômico.
Primato atinge faturamento histórico de R$ 1 bilhão
C
om 24 anos de história, a Primato Cooperativa Agroindustrial atingiu, em dezembro de 2021, a marca de 1 bilhão de reais em faturamento, meta que estava estipulada para 2023, resultado da solidez da cooperativa, impulsionada pela confiança dos cooperados e dedicação de todos os colaboradores. “Todos trabalhamos diariamente para
atender nossos cooperados e clientes com excelência, e para isso treinamos, nos especializamos, inovamos e desenvolvemos em todos os aspectos da cooperativa. Queremos continuar essa caminhada em busca do Projeto ‘Somos Coop 2033’, certos de que em 2022 atingiremos resultados maiores e melhores”, ressalta Anderson Sabadin, presidente da Primato.
Cobb-Vantress anuncia Paulo Magro na gerência de Vendas no Pacto Andino
O
médico-veterinário Paulo Magro foi nomeado gerente de Vendas da Cobb-Vantress na região do Pacto Andino. Formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), ele atua na área comercial da Cobb-Vantress no Brasil desde 2016. Essa medida faz parte da estratégia de expansão da companhia em toda a América do Sul. “E este crescimento inclui um trabalho de cooperação com os clientes, além de um atendimento cada vez mais próximo em todos estes países”, afirmou o executivo. O desafio é contribuir com os clientes da região neste momento de recordes nos custos de produção. “A estratégia é ajudar nossos clientes a serem cada vez mais eficientes, oferecendo produtos e serviços que auxiliem no desempenho, reduzindo o impacto dos preços elevados. Seguindo nesta linha, temos um pacote genético que pode contribuir com avicultores de toda a América do Sul, com produtos capazes de auxiliar o produtor com alta performance”, disse Magro. Paulo Magro é gerente de Vendas da Cobb-Vantress na região do Pacto Andino
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Destaques AviSite: Profissionais, Empresas & Instituições
Ceva Sounds inicia 2022 debatendo a Doença de Gumboro
N Tharley Carvalho, gerente de Marketing Aves Ciclo Curto da CEVA
Brasileiro ex-BRF capta US$ 100 milhões para ‘frango de planta’
os mesmos moldes de 2021, o Ceva Sounds, a cada episódio, traz informações relevantes para a cadeia de produção avícola, seja no formato entrevista ou mesa redonda, sobre os mais variados temas voltados para a saúde e o bem-estar animal para a avicultura no Brasil e no mundo. “Neste ano o projeto iniciou com
um bate-papo com o Gerente de Serviços Veterinários da CEVA para América Latina, o Dr. Luiz Sesti, uma autoridade em sanidade avícola e reconhecido mundialmente, para tratar da Doença de Gumboro”, afirma o gerente de Marketing Aves Ciclo Curto da CEVA, Tharley Carvalho.
Manuel Otero toma posse para segundo mandato no IICA
A
Next Gen Foods, startup de frango de planta fundada pelo ex-BRF André Menezes e pelo alemão Timo Recker, acaba de escrever um novo capítulo na indústria global de foodtech. Pouco mais de seis meses após comemorar o maior seed de uma startup de plant based, quando captou US$ 30 milhões, a dona da marca Tindle voltou a quebrar barreiras. A foodtech sediada em Singapura levantou US$ 100 milhões, na maior rodada série A já feita por uma firma do gênero. A rodada contou com a participação da Alpha JWC, gestora de venture capital do Sudeste Asiático, da EDBI e da britânica MPL Ventures. Temasek, GGV Capital, K3 Ventures e Bits x Bites, que já investiam, acompanharam o aporte. O valuation não foi divulgado, mas a startup assegura que o montante supera “bem” a avaliação de US$ 180 milhões do seed.
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Manuel Otero é eleito para segundo mandato
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om forte respaldo dos ministros da Agricultura das Américas e funcionários internacionais, Manuel Otero tomou posse como diretor-geral do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricul-
tura (IICA) para o período 2022-2026. Trata-se do segundo período consecutivo do argentino à frente do organismo do sistema interamericano especializado em desenvolvimento agropecuário e bem-estar rural.
BRF cria joint venture com fundo soberano do governo da Arábia Saudita e domina mercado de frango no país
A
Arábia Saudita pretende se tornar uma referência global de excelência em várias frentes. Para isso, criou o projeto Visão 2030. O ambicioso plano de desenvolvimento contém tanto metas abrangentes — uma delas é saltar da 19ª para 15ª posição entre as maiores economias do mundo — quanto pontuais, como fortalecer a segurança alimentar. Nesse quesito, reduzir a dependência de importações de carne de frango é estratégico. E essa é uma das razões para a formação da joint venture entre o Public Investment Fund (PIF) e a brasileira BRF. Atualmente, a BRF mantém uma fábrica na Arábia Saudita, dedicada ao processamento de matéria-prima fornecida por suas unidades brasileiras. Com a joint venture, ela assumirá o pacote completo da produção de frangos no país, da criação das aves à venda de produtos frescos, congelados e processados. Terá 70% de participação na nova empresa, criada com investimento inicial de US$ 350 milhões. Por meio da Sadia, a BRF já responde por 36,3% do mercado total de carne de frango no Oriente Médio.
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Destaques AviSite: Profissionais, Empresas & Instituições
Pesquisa global de rações da Alltech revela dados e tendências globais para o setor
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pesquisa “Perspectivas do Setor Agroalimentar da Alltech para 2022” destacou dados da pesquisa global de produção de ração. A pandemia de Covid-19 teve grandes impactos no setor agroalimentar, contribuindo para os desafios da cadeia de abastecimento e acelerando a adoção de novas tecnologias e práticas de sustentabilidade ambiental. “Os resultados reforçam nossa confiança e otimismo sobre o futuro do setor”, disse Mark Lyons, presidente e CEO da Alltech. “Vemos a resiliência da agroindústria frente aos desafios da Covid-19, a interrupção da cadeia de abastecimento, e, até mais importante, há evidências de crescimento, modernização e adoção de práticas mais sustentáveis ocorrendo em paralelo.” Mark Lyons é presidente e CEO da Alltech
MCassab Nutrição e Saúde Animal supera aumento de custos e cresce 20% em 2021
O Otto Schumacher é diretor da MCassab Nutrição e Saúde Animal
s vários desafios enfrentados pela cadeia da produção de carnes, ovos e leite, em 2021, não frearam o crescimento da MCassab Nutrição e Saúde Animal. Respaldada por consistente prestação de serviços e completo e moderno portfólio, a empresa cresceu 20% no ano. “Os obstáculos foram muitos, incluindo o aumento de custos em dólar, disparada do câmbio, problemas para importação e recebimento de microingredientes essenciais para a alimentação animal. Todas essas dificuldades tornaram 2021 um ano complexo para lidar”, destaca Otto Schumacher, diretor da MCassab Nutrição e Saúde Animal.
Lucro líquido da Tyson Foods cresce 140%
A
americana Tyson Foods informou que encerrou o primeiro trimestre de seu atual exercício (2022), em 1º de janeiro, com lucro líquido de US$ 1,121 bilhão, 140% mais que em igual intervalo do ano-fiscal anterior (US$ 467 milhões). O lucro operacional ajustado da companhia cresceu 39,7% na comparação, para US$ 1,432 bilhão, e as vendas globais reportadas, de US$ 12,933 bilhões, foram 23,6% maiores. Donnie King, presidente e CEO da Tyson, realçou que os bons resultados observados refletiram a “resiliência” do portfólio diversificado da empresa e foram obtidos em mercados ainda voláteis. Com negócios nos segmentos de carnes bovina, suína e de frango e na área de alimentos preparados, além de investimentos em proteínas alternativas, o grupo é dono de marcas como Tyson, Jimmy Dean, Hillshire Farm, Ball Park, Wright, Aidells, ibp e State Fair. Donnie King, presidente e CEO da Tyson
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Cobb anuncia investimentos de R$ 160 mi em expansão
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Flavio Henrique Araújo Silva, diretor Sênior de Operações da Cobb
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Cobb-Vantress vai investir R$ 160 milhões no Brasil para ampliar a sua capacidade de atendimento ao mercado sul-americano. A companhia vai aumentar as instalações de duas granjas, uma de avós e outra de bisavós, além de construir um novo incubatório até o final de 2022, anunciou o diretor Sênior de Operações da Cobb na América do Sul, Flavio Henrique Araújo Silva. “Esta iniciativa faz parte da nossa estratégia de expansão em toda a região e representa um aumento importante no alojamento de avós e na capacidade da produção de matrizes”, explica. Com as novas instalações, além de ampliação da granja de bisavós, a empresa projeta um crescimento de 20% da sua capacidade produtiva. “Esta medida é uma resposta ao aumento da demanda de matrizes do mercado em toda a América do Sul”, salienta o executivo.
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Destaques AviSite: Profissionais, Empresas & Instituições
Castrolanda registra maior produção da história da Fábrica de Rações em Castro
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m 2021, a Fábrica de Rações (UFR) de Castro fechou com a maior produção anual da sua história, ultrapassando a barreira das 390 mil toneladas de produção, sendo 350 mil toneladas o melhor resultado até então, alcançado em 2020. “Neste ano, tivemos um acréscimo de cerca de 19% no volume de produção. Isso é muito em função do crescimento da suinocultura na região, da Unidade Industrial de Carnes - Alegra, de alguns produtores que aumentaram o plantel e das parcerias com produtores independentes. Tudo isso acabou trazendo um resultado significativo para a fábrica em termos de produtividade e faturamento”, explica o Coordenador de Produção, Tasso Roquete.
Coopavel bate recorde de R$ 4,94 bi em faturamento em 2021
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Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel) registrou no último ano o faturamento recorde de R$ 4,94 bilhões, 42% maior que o antigo pico, registrado em 2020. No comparativo entre ativo e passivo circulante, o valor chega a R$ 500 milhões de liquidez. Os resultados foram apresentados durante a Assembleia Geral Ordinária, que elegeu a nova diretoria para o período 2022-2025, quando a entidade espera registrar faturamento de R$ 10 bilhões. Segundo nota da cooperativa, este será o último período do modelo de gestão em vigor, que começou em 1970 e prevê que os cargos executivos sejam ocupados por cooperados. Com a mudança, a futura composição da diretoria terá um presidente executivo e quatro diretores (profissionais), um Conselho Fiscal e um Conselho Administrativo formado por cooperados. “Estamos elaborando um plano com clareza e transparência, um plano estratégico inspirado no melhor da governança empresarial”, avaliou o presidente da cooperativa, Dilvo Grolli. Dilvo Grolli, presidente da Coopavel
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Show Rural Coopavel: negócios somam R$ 3,2 bilhões
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Show Rural Coopavel registrou em cinco dias R$ 3,2 bilhões em negócios, R$ 500 milhões acima do resultado de fevereiro de 2020, quando as vendas somaram R$ 2,7 bilhões. O público esperado para os cinco dias era de 120 mil a 150 mil pessoas, mas fechou com 285.212 e o número de expositores, projetado em 400, chegou a 585. “Tomamos todas as medidas necessárias e o público, interessado em conhecer as mais diferentes novidades para a agricultura e pecuária, compareceu e prestigiou o evento. A próxima edição, de 6 a 10 de fevereiro de 2023, será ainda maior”, disse o presidente da Coopavel, Dilvo Grolli, durante o encerramento da 34ª edição.
Asgav lança campanha para valorizar carne de frango produzida no Rio Grande do Sul
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José Eduardo dos Santos, presidente executivo da Asgav
om o objetivo de incentivar o aumento do consumo da carne de frango produzida no Rio Grande do Sul, a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) lançou a campanha de verão “Carne de frango direto das regiões produtoras do RS”. A entidade quer valorizar 18 indústrias associadas, que produzem aproximadamente 1,7 milhão de toneladas por ano no Estado. O presidente executivo da Asgav, José Eduardo dos Santos, explica que é importante para a população entender o quanto é complexo e exigente o processo produtivo de carne de frango no Rio Grande do Sul até chegar aos pontos de venda e ficar disponível para consumo. “É um processo detalhado, cauteloso, que perpassa por muitas etapas, desde a atividade no campo o desenvolvimento acompanhado, a alimentação balanceada até as condições sanitárias e de bem-estar animal que precisam ser integradas ao sistema”, concluiu.
XV Simpósio Goiano de Avicultura será dias 9 e 10 de junho
Nucleovet promove Simpósios em abril, agosto e novembro
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Marcos Barcellos Café, diretor Técnico da AGA e professor da UFG
O
XV Simpósio Goiano de Avicultura está confirmado para acontecer presencialmente nos dias 9 e 10 de junho deste ano, no Castros Park Hotel, em Goiânia (GO). O encontro vai reunir lideranças da avicultura de corte e de postura para debater os principais desafios e oportunidades para a cadeia produtiva, anunciou o diretor Técnico da Associação Goiana de Avicultura (AGA) e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Marcos Barcellos Café.
A expectativa é reunir cerca de 300 participantes, entre produtores, empresários, médicos-veterinários, zootecnistas e pesquisadores, além das principais empresas do setor. “A programação técnica-científica foi cuidadosamente selecionada para atender as expectativas das empresas e dos profissionais que atuam no setor. São temas atuais e relacionados aos principais entraves e desafios da nossa área”, pontuou o especialista.
s Simpósios promovidos pelo Núcleo Oeste de Médicos Veterinários e Zootecnistas (Nucleovet) têm datas definidas para 2022. O Simpósio Brasil Sul de Avicultura (SBSA) ocorrerá no período de 5 a 7 de abril, o Simpósio Brasil Sul de Suinocultura (SBSS) entre os dias 16 e 18 de agosto e o Simpósio Brasil Sul de Bovinocultura de Leite (SBSBL) nos dias 8, 9 e 10 de novembro. Os eventos foram cancelados em 2020 devido à pandemia e ocorreram de forma on-line em 2021. Uma das novidades para 2022 é o formato híbrido para os três Simpósios, sendo que o local da realização presencial é Chapecó (SC), município sede do Nucleovet. O SBSA mudará de local, do Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes (que estará em reforma) para o Parque de Exposições Tancredo Neves.
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Destaques AviSite: Profissionais, Empresas & Instituições
Aviagen se destaca no mercado avícola brasileiro e celebra 15 anos de aquisição dos ativos da Agroceres Ross Empresa celebra trajetória de sucesso, fruto da genética de ponta e serviços técnicos ao cliente oferecidos ao setor avícola do País
E
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A Revista do AviSite
Ivan Lauandos, presidente da Aviagen América Latina
Divulgação Aviagen
Uma trajetória de sucesso A presença da Aviagen no Brasil remete ao ano de 1985, quando as empresas Agroceres Avicultura e Ross Breeders inauguraram o primeiro programa de melhoramento genético de aves na América Latina. Após 22 anos, em 2007, a Aviagen adquiriu os ativos da Agroceres Avicultura e Agroceres Ross para formar a Aviagen do Brasil Ltda., servindo os mercados do Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia. Mais tarde, em 2010, a empresa foi renomeada como Aviagen América Latina Ltda, com sede administrativa em Campinas, no interior de São Paulo, ampliando o alcance da empresa para toda a América Latina. Ao longo dos anos, a Aviagen investiu de forma constante no Brasil, visando maior capacidade de produção, biossegurança e qualidade: novos incubatórios, granjas, fábrica de ração e laboratório foram incorporados ao sistema de produção. Somente nos últimos anos, a Aviagen inaugurou, em 2016, um moderno incubatório de bisavós em Santa Cruz das Palmeiras (SP) para acompanhar a crescente demanda da região e, em 2019, aumentou sua produção com duas granjas de avós em Capinzal e Caçador (SC), além de um incubatório para produção de matrizes em Carambeí (PR). Já em 2021, a empresa anunciou um projeto em parceria com o Grupo Alvorada que deu início à construção de uma granja de produção de matrizes no Sudoeste do estado de São Paulo, com capacidade anual de 2,1 milhões de matrizes Ross 308 AP. Mais recentemente, anunciou o investimento em uma área para a construção de uma nova granja de bisavós, também no estado de São Paulo.
Divulgação Aviagen
m fevereiro a Aviagen® comemorou 15 anos da aquisição dos ativos da Agroceres Ross e atuação independente da empresa no mercado de genética avícola no Brasil, ao mesmo tempo em que celebrou a sua evolução com os investimentos realizados durante o período. A empresa investiu forte nos últimos 15 anos para aumentar a capacidade de produção de avós e matrizes no Brasil. “A Aviagen tem impulsionado a indústria avícola latino-americana e entende a importância do Brasil como maior exportador e também como um dos principais produtores mundiais de uma fonte de proteína saudável e sustentável, a carne de frango”, comenta Ivan Lauandos, presidente da Aviagen América Latina. “Por meio de investimentos que beneficiam todo o setor avícola de forma direta, a Aviagen proporciona uma constante melhoria de rentabilidade e sustentabilidade para a indústria avícola em geral”, complementa.
Leandro München, gerente geral da Aviagen Brasil
“Nossos 15 anos de sucesso no Brasil são resultado do compromisso com a ‘Sustentabilidade da Reprodução Avícola’. Este compromisso nos permite equilibrar a saúde e o bem-estar das aves com desempenho e eficiência, características complementares que aumentam a lucratividade de nossos clientes e a capacidade de alimentar as comunidades locais e o planeta para as gerações futuras”, concluiu Leandro München, gerente geral da Aviagen Brasil.
BRF tem lucro líquido de operações continuadas de R$ 964 milhões no 4tri21
A
BRF registrou lucro líquido de R$ 964 milhões de operações continuadas no quarto trimestre de 2021. O resultado é 6,9% maior do que o lucro de R$ 902 milhões verificado em igual período de 2020. A receita líquida proveniente das vendas no período somou R$ 13,724 bilhões, aumento de 19,6% sobre os R$ 11,474 bilhões do quarto trimestre de 2020. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado da BRF no último trimestre do ano alcançou R$ 1,687 bilhão, alta de 6,3% sobre o R$ 1,587 bilhão do mesmo intervalo do ano anterior. A margem Ebitda ajustado da BRF foi de 12,3%, ante 13,8% em igual trimestre de 2020. A empresa também apresentou uma comparação do Ebitda ajustado excluindo os efeitos tributários. Desta forma, houve alta de 12,8% na comparação interanual, passando de R$ 1,496 bilhão no quarto trimestre de 2020 para R$ 1,687 bilhão nos mesmos meses de 2021. A companhia encerrou o trimestre com o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) em 3,12 vezes, contra 2,73 vezes no mesmo período do ano anterior. A dívida líquida da empresa ficou em R$ 17,332 bilhões, R$ 3,180 milhões a mais que o reportado nos últimos três meses de 2020. No segmento Brasil, a receita operacional líquida foi de R$ 7,207 bilhões, aumento de 12,3% em comparação com igual intervalo do ano passado. O volume comercializado de carne de aves e suína in natura e produtos processados somou 619 mil toneladas, 2,1% a menos na mesma base comparativa. O resultado foi impulsionado pelo maior spread histórico entre carne bovina e suína, informou a BRF. Além disso, o preço-médio dos produtos aumentou 14,7%, para R$ 11,65 o quilo. Já no segmento internacional, a receita líquida foi de R$ 5,817 bilhões, alta de 23,6% sobre o período.
RESULTADOS 4TRI21
Lucro líquido de operações continuadas R$ 964 milhões no 4tri21 6,9% R$ 902 milhões no 4tri20 Receita líquida R$ 13,724 bilhões no 4tri21 19,6% R$ 11,474 bilhões no 4tri20 Ebitda ajustado R$ 1,687 bilhão no 4tri21 6,3% R$ 1,587 bilhão no 4tri20
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Publieditorial
Soluções da Agrosys garantem maior produtividade para fábricas de ração Com 25 anos de experiência, a empresa fornece soluções tecnológicas de gestão integrada para toda a cadeia agroindustrial
Q
uando o assunto é nutrição e alimentação animal, a fórmula é clara: é preciso aumentar a qualidade da ração oferecida com o menor custo possível. A atenção deve ser redobrada na fonte, ou seja, nas fábricas de rações e concentrados. A gestão de todo o processo - desde o recebimento da matéria-prima, armazenagem, passando pelo processamento de grãos até a distribuição -, precisa ser feita com excelência. E a tecnologia pode ser a grande aliada para obter esse controle de forma criteriosa e eficiente. Com 25 anos de experiência fornecendo exclusivamente soluções tecnológicas de gestão integrada para toda a cadeia agroindustrial, a Agrosys (www.agrosys. com.br), empresa situada em Criciúma/ SC, ganha destaque quando o assunto é software de gestão para fábricas de rações e concentrados. Utilizando tecnologia de ponta e modelos matemáticos para otimização dos processos, redução de custos e maximização dos resultados, a Agrosys garante as melhores ferramentas para a gestão. O controle começa ainda no recebimento de grãos, agendamento de
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descarga, análise de matéria-prima (padrão CONAB), secagem e limpeza, armazenagem, esmagamento, produção, peletização, embalagem, estoque e expedição com total rastreabilidade desde a origem do insumo até o cliente final.
Nutrição animal: controle garantirá o lucro da operação A alimentação animal representa 80% dos custos das criações, uma conta que envolve desde a compra dos insumos até a entrega da ração para os aviários. Em uma indústria que abate 100 mil aves por dia a estimativa é de que, a cada R$ 0,01 de variação de custo da ração, o impacto seja de R$112 mil no custo final do frango. Isso, em uma realidade econômica em que o preço da ração não para de subir. Assim, a gestão de custos eficiente em uma fábrica de rações, envolvendo fórmulas, matérias-primas, climatização e logística eficientes, é determinante para a produtividade e principalmente para a competitividade. Com a tecnologia que a Agrosys oferece é
possível controlar todo o processo, até mesmo detectar se a nutrição está obtendo o desempenho esperado. Segundo o Consultor de Operação, Cesar José Corrêa, o sistema faz o amplo gerenciamento de todos os processos da nutrição animal. “O nutricionista analisa e desenvolve as melhores fórmulas com as melhores matériasprimas para cada plantel e, com base nos dados do sistema, avalia a alimentação ideal para o melhor rendimento. Cada mudança de fórmula impacta no preço do frango”, explica o especialista. Na avicultura, a Conversão Alimentar que é obter uma ave dentro do desempenho que o frigorífico precisa -, é um dos principais indicadores de eficiência na cadeia produtiva. É preciso dominar os processos de nutrição, ambiência e sanidade. “Tudo começa na fábrica de ração, que é um processo de industrialização responsável por transformar a matéria-prima em alimento adequado a cada fase de vida e estrutura do animal. Cada processo exige um cuidado diferente e fazemos todo esse controle”.
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Publieditorial
Apps facilitam o acesso às informações Controlar e potencializar o processo de produção na fábrica de ração requer também acesso rápido aos indicadores e números importantes do negócio. Com a versão mobile do sistema é possível otimizar e ser mais assertivo nas decisões diárias. “Nossas ferramentas têm como principal objetivo dar controle total dos processos aos clientes. Isso para que eles visualizem a própria realidade de forma fácil, com informações claras e precisas e para que possam tomar decisões com base em dados e indicadores”, ressalta Cesar José Corrêa.
Avivar Alimentos utiliza Agrosys em toda a planta industrial Referência do agronegócio avícola mineiro, a Avivar Alimentos foi fundada em 1999 na cidade São Sebastião do Oeste/MG e atualmente,
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conta com cerca de 6 mil oportunidades de trabalho, sendo 3,5 mil colaboradores diretos. A empresa domina todo o sistema verticalizado da cadeia produtiva, desde as granjas matrizeiras, incubatório, fábrica de ração, granjas integradas de aves de engorda, indústria, até a distribuição de cerca de 130 itens alimentícios. Seu portfólio de produtos conta com cortes de frango congelados e resfriados, linha completa de industrializados e diversas categorias como Pescados, Vegetais, Salgados e Massas. Ao longo dos seus 22 anos, a Avivar conquistou o território nacional e internacional, atuando nas regiões sudeste, norte e nordeste do Brasil e países da Ásia, África e América Central. Obter bons resultados, organização, transparência e produtividade diante de uma operação tão grande e complexa, requer tecnologia de ponta. E foi esse o motivo que levou a Avivar, ainda em 2006, a fazer uma parceria de sucesso com a Agrosys.
De acordo com o Gerente de TI e Telecom da Avivar, Leonardo Rodrigues, a parceria pode ser resumida em segurança e confiabilidade. Com o crescimento da empresa, foi necessário ter maior gestão sobre os dados, e informações fidedignas de forma mais otimizada e rápida. “É um sistema que contempla toda cadeia de produção, módulos administrativos e financeiros, tudo com rastreabilidade até o consumidor final, integrados em uma única ferramenta”, explica Rodrigues. Além do software de gestão integrado Agrosys, a Avivar também conta com agilidade na gestão através dos aplicativos mobile, otimizando soluções de forma rápida e prática desde os produtores integrados, até a equipe de vendas na transmissão dos pedidos. Rodrigues reforça a importância de uma boa solução de gestão para a assertividade das operações e rentabilidade do negócio. “Hoje a Agrosys é essencial para os resultados da Avivar”.
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Especial | Balanço, fechamento 2021
Apesar das pedras no caminh brasileira chegou a nov resultados em 2021 Além disso, seguiu cumprindo sua principal missão social: a de oferecer um alimento acessível e saudável à população José Carlos Godoy
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A Revista do AviSite
ho, avicultura de corte vos e inéditos
D
epois de, em 2020, enfrentar e superar, criativamente, os desafios surgidos com o estado pandêmico, a avicultura de corte entrou em 2021 com a expectativa de obter, em todos os seus segmentos, os melhores resultados de todos os tempos, pois estava preparada para isso.
possível, pois à frente havia (e permanece) outra pedra bem maior: a perda de poder aquisitivo do consumidor ou, mais exatamente, a redução do quadro de consumidores ativos. Foi em função disso que o setor sofreu alguma desaceleração no segundo semestre.
Mas... no meio do caminho havia algumas pedras. A primeira representada pelos custos de produção. Que mesmo tendo aumentado quase exponencialmente em 2020, permaneceram em nível elevado e em ascensão durante quase todo o decorrer de 2021.
De toda forma – isto é, apesar de tudo – a avicultura de corte brasileira atingiu algumas marcas inéditas. Principalmente, incrementou a produção de carne de frango e, mesmo tendo atingido novo recorde na exportação do produto, garantiu maior oferta interna, assegurando com isso aquele que é, aparentemente, um novo patamar na disponibilidade per capita
Sob tais circunstâncias, o normal é repassar custos. Mas nem isso foi
de carne de frango. Isto, sem perder a competitividade frente às demais carnes. Os números que vêm a seguir – relativos ao alojamento de matrizes de corte, à produção de pintos de corte, à produção, exportação e disponibilidade de carne de frango e, por fim, à disponibilidade per capita aparente de carne de frango - corroboram as presentes afirmações. É verdade que, em termos econômicos – os resultados (excetuadas aquelas empresas que também exportam) foram, na maioria, negativos. Mesmo assim, o setor seguiu cumprindo sua principal missão social: a de oferecer um alimento acessível e saudável à população. A Revista do AviSite
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Especial | Balanço, fechamento 2021
Matrizes de corte Embora recorde, alojamento manteve-se estável em relação ao ano anterior No decorrer de 2021, os alojamentos mensais de matrizes de corte apresentaram grandes variações em relação ao ano anterior. Por exemplo, redução de 20% em fevereiro e aumentos de 16,24% e 25,94% em julho e agosto. Mas as quedas verificadas sobretudo no primeiro semestre – período em que o volume alojado retrocedeu mais de 5% - foram totalmente neutralizadas na segunda metade do ano. Então, o aumento de mais de 6% em relação ao mesmo semestre do ano anterior fez com que o total anual aumentasse meio por cento, índice que, além de representar estabilidade, indica que a capacidade de produção de frangos de 2022 também permanece
MATRIZES DE CORTE - Milhões de cabeças MÊS
2020
2021
VAR.ANO
JAN
4,662
4,232
-9,22%
FEV
5,024
4,019
-20,00%
MAR
4,564
4,55
-0,31%
ABR
4,466
4,563
2,17%
MAI
4,345
4,316
-0,67%
JUN
4,44
4,376
-1,44%
JUL
4,341
5,046
16,24%
AGO
3,947
4,971
25,94%
SET
4,611
4,808
4,27%
OUT
5,243
4,846
-7,57%
NOV
4,807
4,882
1,56%
DEZ
4,886
5,026
2,87%
1º SEM
27,501
26,056
-5,25%
2º SEM
27,835
29,579
6,27%
55,336
55,635
0,54%
TOTAL
Fonte: Dados de mercado - Elaboração e análises: AVISITE
60
10%
55
8%
50
6%
45
4%
40
2%
35
0%
30
-2%
25
-4%
20
-6%
15
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Volume anual (Milhões de cabeças)
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A Revista do AviSite
2017
2018
2019
Variação anual (%)
2020
2021
-8%
Pintos de corte Desaceleração no segundo semestre fez com que a produção aumentasse apenas 1,5% no ano Expansão do plantel reprodutor no ano anterior fez com que o setor entrasse em 2021 com uma capacidade de produção cerca de 5% superior à de 2020. No decorrer da primeira metade do ano tudo indicava que esse potencial seria quase totalmente utilizado, tanto que o semestre foi encerrado com a produção de um volume de pintos de corte 4% superior à dos mesmos seis meses do ano anterior. Porém, forçado pelos custos, o setor foi obrigado a pisar no freio. Em decorrência, completou o segundo semestre do ano registrando redução de 0,70% sobre idêntico período de 2020 e a menor expansão dos últimos três anos, pois o aumento de 1,58% foi inferior aos 6,5% e 5,5% de 2019 e 2020. Ainda assim, registrou-se novo recorde de produção.
PINTOS DE CORTE - Milhões de cabeças MÊS
2020
2021
VAR.ANO
JAN
573,874
590,579
2,91%
FEV
534,210
537,471
0,61%
MAR
543,118
587,665
8,20%
ABR
538,833
569,224
5,64%
MAI
524,427
562,755
7,31%
JUN
568,156
567,633
-0,09%
JUL
592,516
591,541
-0,16%
AGO
568,526
576,878
1,47%
SET
579,485
578,760
-0,13%
OUT
629,083
589,650
-6,27%
NOV
554,164
567,642
2,43%
DEZ
617,632
612,199
-0,88%
1º SEM
3.282,618
3.415,327
4,04%
2º SEM
3.541,406
3.516,671
-0,70%
6.824,024
6.931,998
1,58%
TOTAL
Fonte: APINCO - Elaboração e análises: AVISITE
7,0
8,00%
6,5
6,00%
6,0
4,00%
5,5
2,00%
5,0
0,00%
4,5
-2,00%
4,0
-4,00%
3,5
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Volume anual (Bilhões de cabeças)
2017
2018
2019
2020
2021
-6,00%
Variação anual (%) A Revista do AviSite
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Especial | Balanço, fechamento 2021
Carne de frango - Produção inspecionada Produção chega aos 14,6 milhões de toneladas e aumenta perto de 6% no ano Correspondendo à única base de acompanhamento do setor quanto à evolução da produção de carne de frango no decorrer de cada exercício, os dados do IBGE, recentemente divulgados e relativos ao último trimestre do ano passado, permitem concluir que a produção brasileira de carne de frango nos abatedouros operantes sob inspeção federal, estadual ou municipal chegou (dados preliminares) aos 14,6 milhões de toneladas, aumentando perto de 6% em relação a 2020. Ressalve-se, aqui, que na “carne de frango” do IBGE estão inclusos os descartes de reprodutoras (machos e fêmeas) e de poedeiras. Mas o movimento observado no setor no decorrer do ano foi muito similar ao dos pintos de corte: alta evolução no primeiro semestre (+8,31%) e desaceleração no segundo semestre (+3,71%).
CARNE DE FRANGO INSPECIONADA* - Mil toneladas MÊS
2020
2021
VAR.ANO
JAN
1.190,1
1.200,0
0,83%
FEV
1.070,3
1.150,2
7,46%
MAR
1.216,9
1.324,9
8,87%
ABR
1.107,0
1.193,0
7,77%
MAI
1.095,8
1.226,8
11,95%
JUN
1.040,1
1.183,8
13,82%
JUL
1.191,2
1.229,7
3,24%
AGO
1.146,1
1.224,1
6,80%
SET
1.149,3
1.191,0
3,63%
OUT
1.208,3
1.243,0
2,87%
NOV
1.161,7
1.180,0
1,57%
DEZ
1.210,7
1.261,8
4,23%
1º SEM
6.720,2
7.278,6
8,31%
2º SEM
7.067,2
7.329,6
3,71%
TOTAL
13.787,5
14.608,2
5,95%
Fonte: IBGE - Elaboração e análises: AVISITE * Produção proveniente de abatedouros sob inspeção federal, estadual ou municipal – Dados preliminares para o 4º trimestre de 2021
15.000
6,00%
14.00
5,00%
13.000
4,00%
12.000
3,00%
11.000
2,00%
10.000
1,00%
9.000
0,00%
8.000
2011
2012
2013
2014
2015
Volume anual (Mil/T)
26
A Revista do AviSite
2016
2017
2018
2019
Variação anual (%)
2020
2021
-1,00%
Carne de frango - Exportação Cinco anos depois, incremento anual superior a 8% e um novo recorde no volume exportado Nos 10 anos transcorridos entre 2011 e 2020, as exportações brasileiras de carne de frango alcançaram média mensal pouco superior a 4,050 milhões de toneladas, com variação máxima de 6% acima dessa média. Pois em 2021 o parâmetro foi rompido: no ano, foram exportadas perto de 4,470 milhões de toneladas, 8,33% a mais que em 2020 e novo recorde do setor. O interessante, neste caso, é que as exportações tiveram comportamento oposto ao da produção interna, pois registraram expansão menor no primeiro semestre (+5,91%), quase dobrando esse índice na segunda metade do ano (+10,73%). O bom desempenho de 2021 deve ter continuidade no decorrer do corrente exercício, o volume anual podendo chegar e até ultrapassar os 4,7 milhões de toneladas.
EXPORTAÇÃO DE CARNE DE FRANGO – Mil/t MÊS
2020
2021
VAR.ANO
JAN
316,943
282,759
-10,79%
FEV
342,802
339,647
-0,92%
MAR
343,347
383,201
11,61%
ABR
333,407
385,092
15,50%
MAI
387,893
402,124
3,67%
JUN
332,083
385,108
15,97%
JUL
356,967
411,431
15,26%
AGO
355,544
368,591
3,67%
SET
334,171
405,791
21,43%
OUT
311,211
383,966
23,38%
NOV
341,168
322,849
-5,37%
DEZ
369,125
397,484
7,68%
1º SEM
2.056,475
2.177,931
5,91%
2º SEM
2.068,185
2.290,113
10,73%
4.124,659
4.468,044
8,33%
TOTAL
Fonte: SECEX/ME - Elaboração e análises: AVISITE
4.500
10,00%
4.250
8,00%
4.000
6,00%
3.750
4,00%
3.500
2,00%
3.250
0,00%
3.000
-2,00%
2.750
-4,00%
2.500
2011
2012
2013
2014
2015
Volume anual (Mil/T)
2016
2017
2018
2019
2020
2021
-6,00%
Variação anual (%) A Revista do AviSite
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Especial | Balanço, fechamento 2021
Carne de frango - Disponibilidade interna Superior a 10 milhões de toneladas, volume disponibilizado internamente aumentou quase 5% no ano O resultado merece ser comemorado. Pois, a despeito de todas as dificuldades enfrentadas na produção e mesmo as exportações tendo aumentado mais de 8% no ano, a disponibilidade de carne de frango para o consumidor brasileiro registrou incremento próximo de 5% em 2021. E tão importante quanto é que após quatro anos consecutivos de uma estabilidade inferior a 9,5 milhões de toneladas, o total disponibilizado internamente ultrapassou pela primeira vez os 10 milhões de toneladas.
CARNE DE FRANGO INSPECIONADA* - Mil toneladas
De toda forma, o que merece ser considerado é que a maior parte dessa expansão ocorreu no primeiro semestre, sendo mínima (+0,81%) no segundo semestre. Foi esta, sem dúvida, a base para que, no período, o setor obtivesse melhor remuneração e recuperasse parte dos prejuízos acumulados desde 2020.
MÊS
2020
2021
VAR.ANO
JAN
873,199
917,253
5,05%
FEV
727,515
810,555
11,41%
MAR
873,570
941,662
7,79%
ABR
773,565
807,864
4,43%
MAI
707,940
824,685
16,49%
JUN
707,972
798,682
12,81%
JUL
834,192
818,268
-1,91%
AGO
790,577
855,506
8,21%
SET
815,156
785,238
-3,67%
OUT
897,052
859,010
-4,24%
NOV
820,559
857,104
4,45%
DEZ
841,526
864,361
2,71%
1º SEM
4.663,760
5.100,701
9,37%
2º SEM
4.999,061
5.039,488
0,81%
9.662,821
10.140,189
4,94%
TOTAL
Fontes: IBGE e SECEX/ME - Elaboração e análises: AVISITE * Saldo entre produção inspecionada e exportações.
11.000
10,00%
10.000
8,00%
9.000
6,00%
8.000
4,00%
7.000
2,00%
6.000
0,00%
5.000
2011
2012
2013
2014
2015
Volume anual (Mil/T)
28
A Revista do AviSite
2016
2017
2018
2019
Variação anual (%)
2020
2021
-2,00%
Carne de frango - Per capita aparente Disponibilidade per capita aumenta mais de 20% em 10 anos e chega aos 47,5 kg em 2021 Pode corresponder a um dado parcial pois abrange apenas a carne inspecionada, mas é o melhor indicador de como evoluiu a disponibilidade interna de carne de frango no decorrer de 2021 e, também, anualmente, entre 2011 e 2021.
DISPONIBILIDADE APARENTE – Kg per capita
Como mostra a tabela, em 2021 os maiores aumentos ocorreram no primeiro semestre, com momentos em que a disponibilidade aparente (janeiro e março) ultrapassou o equivalente a 50 kg per capita anuais. O que ajuda a explicar por que os preços do primeiro trimestre foram os mais baixos do ano que passou. Em oposição, o disponível no segundo semestre permaneceu praticamente estável em relação a 2020 (aumento de apenas 0,07%). Foi quando (trimestre agosto/outubro) o frango abatido atingiu o maior valor nominal de sua história.
MÊS
2020*
2021*
VAR.ANO
JAN
49,673
51,789
4,26%
FEV
41,359
45,737
10,59%
MAR
49,631
53,102
7,00%
ABR
43,921
45,529
3,66%
MAI
40,170
46,449
15,63%
JUN
40,146
44,957
11,98%
JUL
47,273
46,031
-2,63%
AGO
44,774
48,096
7,42%
SET
46,138
44,119
-4,38%
OUT
50,742
48,234
-4,94%
NOV
46,387
48,098
3,69%
DEZ
47,543
48,475
1,96%
1º SEM
44,150
47,927
8,56%
2º SEM
47,143
47,175
0,07%
TOTAL
45,646
47,551
4,17%
Fontes: IBGE (produção inspecionada e população) e SECEX/ME (exportação) Elaboração e análises: AVISITE * Volumes mensais anualizados.
48
10,00%
46
8,00%
44
6,00%
42
4,00%
40
2,00%
38
0,00%
36
-2,00%
34
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Disonibilidade per capita (Kg)
2017
2018
2019
2020
2021
-4,00%
Variação anual (%) A Revista do AviSite
29
Capa
Influenza Aviária: os reais perigos dos novos surtos de H5N1 Com o crescimento de casos da cepa H5N1 em todo o mundo, aumenta a preocupação em manter o Brasil livre da enfermidade. Portanto, especialistas alertam para a necessidade de manutenção dos programas de biosseguridade, avaliando potenciais fragilidades e mitigando riscos Glaucia Bezerra
30 A Revista do AviSite
A
Influenza Aviária (IA) de alta patogenicidade - IAAP (Highly Pathogenic Avian Influenza – HPAI) é uma doença perigosa. Desde que a cadeia de surtos mais recente se tornou conhecida no final de 2003, ela já matou milhões de aves (mortas pela doença ou sacrifício sanitário), conforme indica a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). É uma doença viral altamente contagiosa que afeta várias espécies de aves domésticas e silvestres e, ocasionalmente, o homem. A Influenza Aviária está presente na avicultura ao redor do mundo, felizmente não no Brasil. Ela é causada por um número grande de vírus, sendo mais de 100 diferentes sorotipos, a maioria deles não causando problemas de saúde nas aves e nem em humanos. No caso do H5N1, um dos subtipos de vírus mais patogênicos para as aves, resulta em doenças graves. A grande preocupação para os países produtores é que a presença do vírus significa limitação de exportações, de comercialização e perdas por mortalidade. Nos últimos meses, casos na Ásia e na Europa têm sido reportados praticamente todas as semanas. Ainda, de acordo com a OIE, a Influenza de alta patogenicidade foi reportada em mais de 22 países pelo mundo apenas no ano passado, em países da África, Ásia e com destaque para os casos na Europa, com notificação na Inglaterra, França, Portugal, Itália, Espanha, Suíça, Suécia, Alemanha, Rússia, Croácia, Holanda, República Tcheca e Áustria. Em janeiro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) informou novos casos de gripe aviária altamente patogênica em aves selvagens,
aumentando os riscos de possíveis infecções em aves na região. De acordo com o USDA, foi a primeira vez que o país registrou um caso do tipo eurasiano do vírus H5 desde 2016, confirmando que todos os diagnósticos corresponderam à cepa H5N1. No centro da discussão e do aumento dos casos nessas regiões, especialistas pelo mundo estão preocupados com o surgimento de novas variantes do vírus, tornando o controle e a prevenção da doença mais difícil para a cadeia avícola mundial.
H5N1: risco para a saúde animal Entre outubro e dezembro de 2021, a maior parte dos surtos registrados foi pela cepa H5N1 da Influenza Aviária. Segundo dados da OIE, o país europeu mais atingido pela enfermidade foi a Itália, com 285 surtos e aproximadamente quatro milhões de aves abatidas (até janeiro/22). Outra característica da H5N1, que chama a atenção, é que essa é uma das raras cepas de Influenza Aviária que infectam humanos. Conforme a OIE, cerca de 850 pessoas já foram infectadas por ela, das quais metade morreu. De acordo com Alberto Back, médicoveterinário formado pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), além de mestre, doutor e pós-doutor em Microbiologia Veterinária pela University of Minnesota, EUA – as notificações de Influenza Aviária e, especificamente, o aumento dos casos de H5N1 na Europa estão em parte relacionados com o modelo de produção avícola da região e, principalmente, com as rotas migratórias de aves silvestres que ligam os continentes europeu e asiático.
Entre a Ásia e a Europa existem rotas migratórias de aves silvestres pelas quais o vírus é levado de uma região a outra, facilitando a infecção. A Revista do AviSite
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Capa
As cepas H5 E H7 nunca foram registradas no Brasil. O modelo de criação atual do país, mesmo com rota migratória com a América do Norte, e a distância entre as regiões, são fatores que inibem a chegada do vírus. O médico-veterinário explica que outro motivo para esse vírus ter grande incidência na Europa é o fato da região ter mais aves de vida livre, “sendo comum que aves de fundo de quintal e silvestres entrem em contato com animais comerciais. Em comparação a essa realidade, a indústria avícola brasileira, além de ser muito mais tecnificada, é mais isolada”. Alberto Back é médico-veterinário e pós-doutor em Microbiologia Veterinária.
“Entre os mais de 100 sorotipos existentes, apenas dois deles que podem infectar aves apresentam grande preocupação e causam grandes perdas, sendo os vírus portadores de hemaglutinina 5 (H5) ou hemaglutinina 7 (H7)”, frisa Back. O vírus é considerado endêmico na Ásia, principalmente pelo modelo de criação das aves locais, que mescla aves de vida livre, silvestres e comerciais, favorecendo a permanência do vírus no ambiente. E a proximidade do continente asiático com o europeu é um fator predominante para a proliferação do vírus na região.
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A Revista do AviSite
Estratégia de transmissão do vírus da Influenza Aviária A Influenza Aviária é um vírus respiratório, sendo transmitido facilmente por aerossol e contato direto. A transmissão por proximidade ocorre pelo contato entre as pessoas, equipamentos e aves doentes ou silvestres, que levam a doença de um ambiente para outro. Já o contágio de longa distância ocorre com as aves migratórias e, também, pela comercialização de aves clandestinas que não passam por quarentena. “Felizmente, no Brasil não temos rotas migratórias com a Europa e com a Ásia. As aves migratórias vindas da América do Norte (região que ocasionalmente registra o vírus), não representam perigo para a nossa produção, uma vez que a distância entre as regiões é muito longa, diminuindo grandemente a chance de chegada do vírus”, afirma Back. O especialista explica que a maioria das aves migratórias vindas do hemisfério norte e que chegam ao hemisfério sul,
não têm contato com as aves comerciais, graças aos modelos de produção adotados na nossa região. Neles, as aves comerciais são criadas separadas em aviários, com cercas, sistemas de higienização e treinamento das pessoas responsáveis pelo manejo.
Brasil: livre de Influenza Aviária O H5N1 e o H7N1 ainda não chegaram ao Brasil por uma soma de fatores. Primeiro: as condições naturais, como a distância entre as regiões, não favorece o surgimento da enfermidade. Segundo: nossa indústria avícola está organizada, temos uma equipe técnica alerta, que monitora constantemente o que está acontecendo no mundo. “O mais próximo que tivemos de casos de infecção por Influenza Aviária foi no Chile, nos anos 2002, mas o país soube controlar e em seis meses já havia retomado suas exportações”, relembra Back. Alberto Back ainda pontua que, no Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) faz constante monitoramento dos casos pelo mundo. Contamos ainda com uma legislação robusta e a indústria sabe o que fazer em sua rotina. Além de treinamentos com indústria e com os técnicos das empresas membros da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). No Brasil estabeleceu-se um procedimento rigoroso de monitoramento das aves importadas, bem como dos ovos. Assim, a entrada
desses produtos ocorre em apenas duas localidades - os aeroportos de Viracopos (SP) e Guarulhos (SP). Essa limitação facilita o processo de controle e fiscalização de produtos e patógenos.
H5N1: preocupação para a saúde humana O H5N1 é uma das poucas cepas de Influenza Aviária que pode infectar humanos. O grande temor pela H5 ocorreu no início dos anos 2000, quando foram registrados vários casos em humanos. Em janeiro de 2022, houve um caso raro de infecção em humanos na Inglaterra, lembrando ao mundo que uma das características mais preocupantes da cepa é sua letalidade: metade das pessoas que se infectam morrem. Porém, ela não tem uma capacidade de transmissão semelhante a outros vírus, como a Covid-19, por exemplo, principalmente por não ser transmitida entre humanos. A maioria dos casos de infecção têm sido de aves para humanos. “Outro fator importante é que a taxa de transmissão entre ave e humano é muito baixa, prova disso é que em 25 anos, menos de 500 pessoas morreram em todo mundo”, relembra Alberto. Essa dificuldade de infecção em humanos ocorre porque o epitélio da mucosa respiratória humana, onde o
vírus deveria se alojar, não tem um receptor para esse vírus, ou seja, mesmo em contato com o H5N1 a possibilidade de infecção é muito pequena.
Vacinação: um complemento às práticas sanitárias A Vacinação é, sem dúvidas, a melhor ferramenta para prevenir perdas econômicas por infecções, e é um complemento às práticas sanitárias para chegar à erradicação da doença. Independente da tecnologia, uma vacina deve cumprir os requisitos de prevenir ou diminuir os sinais clínicos, reduzir a disseminação viral e aumentar a resistência dos indivíduos infectados pelo vírus. Porém, a vacinação deve ser adotada como um complemento às práticas de biosseguridade, que são essenciais para a erradicação do patógeno. Eva Hunka, médica-veterinária, mestre em Medicina Veterinária Preventiva e gerente de biológicos da Phibro saúde animal, explica que, atualmente, a vacinação contra a gripe aviária não é permitida no Brasil por ser considerado um país livre de Influenza Aviária, portanto, essa prática é restrita pela legislação. “Desta forma, não temos vacinas disponíveis no mercado nacional, mas existem diferentes vacinas disponíveis para uso nos países onde a sua utilização é permitida”.
Casos isolados em humanos da cepa H5N6 No primeiro mês de 2022, oito pessoas testaram positivo para a gripe aviária H5N6 na China Continental. O aumento do número de casos de H5N6 em humanos colocou as autoridades de saúde em estado de alerta. Segundo o departamento de saúde de Hong Kong, os novos casos foram notificados nas províncias de Sichuan e Zhejiang. Ambos aconteceram no início de janeiro, porém, não foram imediatamente notificados pelas autoridades locais. A gripe aviária H5N6 causa casos graves em humanos de todas as idades e tem uma alta taxa de mortalidade, que beira os 50%, segundo dados da Organização Mundial da Saúde. A boa notícia, é que ainda não foram confirmadas transmissões de humanos para humanos.
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Capa As tecnologias disponíveis para as vacinas contra o vírus da Influenza Aviária (VIA), são duas: vacinas inativadas ou vacinas recombinantes, sendo estas produzidas com diferentes vetores: Poxvirus, Vírus da Doença de Newcastle ou Herpesvirus (HVT). As inativadas possuem o vírus íntegro enquanto as vacinas vetorizadas utilizam a proteína viral H (Hemaglutinina) como fração antigênica.
Eva Hunka é médica-veterinária, mestre em Medicina Veterinária Preventiva.
“As vacinas mais comumente utilizadas são as inativadas de vírus clássico, porém com o advento das novas tecnologias o cenário está mudando. Vale salientar que as vacinas possuem características e indicações diferentes. Em aves de ciclo longo, por exemplo, as vacinas recombinantes podem ser utilizadas como primer para as vacinas inativadas. Já o uso das vacinas vetorizadas deve ser adequado aos programas vacinais, visto que possuem diferentes vírus vetores, que também são antígenos vacinais”, salienta Eva.
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O VIA se multiplica em ovos embrionados, então para a produção de vacinas inativadas, o antígeno é produzido nesses ovos, depois passa por um processo de purificação e inativação. Após este processo, são adicionados o adjuvante e demais componentes. No caso das vacinas vetorizadas, o método de produção depende do vírus vetor, e pode ser desde ovos embrionados, como é o caso da vacina vetorizada rNDV-HA ou mesmo em células de embrião de galinha como é o caso da rHVT-HA. Todas as vacinas produzidas usam o subtipo H5 como padrão, porém a variabilidade antigênica do vírus do VIA afeta a eficácia das vacinas inativadas clássicas e possivelmente das vacinas vetorizadas também. A médica-veterinária ainda pontua que as vacinas inativadas clássicas induzem uma imunidade, quase que exclusivamente, composta por anticorpos. Esta resposta deve ser forte e específica, que só pode ser alcançada se a vacina for atualizada regularmente. Porém, na realidade, é simplesmente impossível prever quando o vírus de campo sofrerá mutação, ou seja, qual cepa de vacina deve ser usada. A atualização vacinal só pode ser feita após a observação de falhas vacinais e a aplicação do antígeno genético reverso necessário. Mesmo assim, isso não atende às necessidades de territórios onde estão presentes cepas de campo de vários perfis antigênicos. O uso de vacinas mortas multivalentes ou
vacinas múltiplas usando diferentes vacinas mortas não é realista. Já as vacinas vetorizadas, demonstram uma boa eficácia para os vírus do subtipo H5, desde que não ocorram alterações muito significativas do vírus de campo. Para Eva, tão importante quanto a vacina utilizada é o processo de vacinação das aves. Para garantir o melhor resultado possível as vacinas devem ser utilizadas conforme recomendação do fabricante, assim como os equipamentos utilizados devem ser calibrados e submetidos à manutenção regularmente. “O Brasil, até o momento, é considerado livre para o IA, e para manutenção deste status devemos nos manter vigilantes aos programas de biosseguridade, avaliando potenciais fragilidades e mitigando riscos. Ações preventivas são mais eficientes e menos custosas”, alerta a especialista.
“O Brasil, até o momento, é considerado livre para o IA, e para manutenção deste status devemos nos manter vigilantes aos programas de biosseguridade, avaliando potenciais fragilidades e mitigando riscos. Ações preventivas são mais eficientes e menos custosas” - Eva Hunka.
A genética poderia prevenir uma pandemia de Influenza Aviária? A preocupação com a segurança do aviário contra a infecção por Influenza Aviária frequentemente resulta em pedidos de abate em massa, que causam grandes prejuízos financeiros à indústria mundial. Além da vacinação, que já ocorre em alguns países, pesquisadores ao redor do mundo estudam edição de genes para desenvolver galinhas resistentes à gripe aviária. Na prática, Eduardo Lima, médicoveterinário e gerente de Serviços Veterinários da Aviagen, explica que a utilização de técnicas de edição genética poderia ajudar a criar aves resistentes a IA, no entanto, essa técnica não é utilizada pelas empresas de genética no seu processo de seleção e melhoramento genético – nem essa e nem outras técnicas como clonagem, transgenia, e etc. Com o intuito de barrar a infecção pela IA, empresas ao redor do mundo têm adotado em suas granjas e incubatórios todas as medidas de biossegurança com o objetivo de evitar a introdução de vírus e bactérias indesejadas na cadeia de produção avícola. “Tais medidas incluem severa restrição de visitantes às unidades produtivas, banho e troca
de roupa e calçados para acessar as instalações, controle rígido de veículos que de alguma maneira estão envolvidos na operação, lavagem e desinfecção de objetos e instalações que têm contato com as aves, entre outras. Esses procedimentos são efetivos na prevenção não só do H5N1, mas também de outros agentes microbianos deletérios à produção avícola”, afirma Eduardo Lima.
Agora é manter a atenção redobrada Os recentes casos na Europa são um sinal para manter e até aumentar a vigilância no Brasil. A doença está disseminada em muitas partes do mundo e eventualmente pode sim chegar aqui, como alerta Alberto Back. “É importante que governo e indústria continuem trabalhando juntos para evitar a entrada da doença, o que resultaria em um impacto econômico desastroso para o país e principalmente para a avicultura nacional”.
Eduardo Lima é médico-veterinário e gerente de Serviços Veterinários da Aviagen.
“Atualmente, as empresas utilizam apenas as técnicas de genética clássica, onde indivíduos com as características produtivas (e reprodutivas) desejadas são selecionados dentro de uma determinada população, e destinados à reprodução com o objetivo de produzir a próxima geração”, explica.
Vigilância epidemiológica O Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA) além de estabelecer os critérios mínimos de biosseguridade a serem aplicados pelos estabelecimentos avícolas para o registro destes junto ao Serviço Veterinário Oficial (SVO), também determina os procedimentos específicos de prevenção e vigilância epidemiológica para Influenza Aviária, sendo: • Investigação imediata de qualquer notificação ou caso suspeito de IA; • Vigilância no abate das aves; • Vigilância em estabelecimentos avícolas de reprodução e postura comercial; • Vigilância em aves importadas; • Inquéritos e estudos epidemiológicos; • Vigilância para certificação sanitária de compartimentos avícolas; • Vigilância em sítios de aves migratórias. Os procedimentos detalhados podem ser conferidos no QR Code ou pelo link ao lado. Fonte: MAPA
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Nutrição Animal
Arroz é alternativa viável para reduzir custos de produção de suínos e aves Estudos da Embrapa mostram que o arroz pode complementar ou substituir o milho na ração animal Embrapa Suínos e Aves
E
studos da Embrapa Suínos e Aves (SC) mostram que, do ponto de vista nutricional, o arroz pode complementar ou substituir o milho na alimentação animal. A conclusão pode ser uma ótima notícia para os suinocultores e avicultores brasileiros que enfrentam os altos preços decorrentes da crescente valorização do milho e da soja. Paralelamente, o excesso de oferta de arroz no mercado nacional, com uma sobra de 600 a 800 mil toneladas na safra 2020/2021, reforça a viabilidade do grão para baratear as rações de suínos e aves, que atualmente respondem por cerca de 70% a 80% do custo de produção das duas atividades.
“A Embrapa já mostrou que o arroz descascado (arroz marrom), do ponto de vista nutricional, serve perfeitamente para complementar ou substituir o milho na alimentação animal”, afirma o
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A Revista do AviSite
pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Jorge Vitor Ludke. Já faz três anos que o milho e a soja têm influenciado o desempenho da suinocultura e avicultura, de acordo com dados da Central de Inteligência de Suínos e Aves da Embrapa Suínos e Aves (CIAS), que apura mensalmente o comportamento dos custos de produção nos dois setores. Para entender melhor como essa influência acontece na prática, basta observar a trajetória do preço das sacas de milho e soja. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) o preço médio real da saca de 60 quilos de milho passou de R$ 50,11, em abril de 2019, para R$ 97,15, em abril de 2021 - ou seja, um aumento de 93,9%. No mesmo período, a saca de soja encareceu 68,1%. Isso significa que os custos de produção da suinocultura e avicultura cresceram quase que na mesma proporção nos últimos três anos.
Esse movimento para cima nas cotações do milho e soja foi puxado pelas incertezas relacionadas à pandemia da Covid-19, valorização do dólar frente ao real, alta demanda por grãos no mercado asiático (principalmente o chinês) e quebras na primeira e segunda safras de milho devido a problemas climáticos e à cigarrinha-do-milho, segundo avaliação de um estudo da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), divulgado em julho de 2021. A última estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de que a produção total de milho na safra 2020/2021 chegará a 85 milhões, bem abaixo das 106 milhões de toneladas projetadas inicialmente. Assim, há a expectativa de que ocorra no curto prazo um déficit entre 15 e 20 milhões de toneladas de milho no mercado nacional.
Já o arroz vive situação oposta. Os arrozeiros gaúchos e catarinenses, responsáveis por 91% da produção
Foto: Paulo Lanzetta
O arroz pode complementar ou substituir o milho na alimentação animal
O arroz pode substituir milho na alimentação animal, com qualidade nutricional, e baratear custo da ração.
brasileira, atingiram produtividade recorde e entregaram 8,5 milhões de toneladas na safra 2020/2021, a quarta maior da história. Porém, com a estabilização do consumo no mercado interno e menores vendas para o exterior (especialmente para a África) na comparação com 2020, sobrou arroz no País. “O arroz é um grão que tem como prioridade a alimentação humana e vai continuar sendo assim. Mas agora existe um excedente e a alimentação animal é uma alternativa”, explica Rodrigo Ramos Rizzo, engenheiro agrícola e assessor especial da presidência da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul).
Problema para um, solução para outro O problema de um setor, então, virou possibilidade de amenizar a situação do outro. Segundo Rodrigo Rizzo, já há
contratos de venda de arroz em casca ou quirera de arroz entre arrozeiros e produtores de carne de frango e carne suína no Rio Grande do Sul. No entanto, o que vai definir a extensão do uso do arroz como alimento alternativo nas rações animais será a comparação da sua cotação com a do milho na hora da compra. Levando em consideração as cotações de outubro, cada quilo de milho para uso na alimentação animal, na média, ficou em R$ 1,50, enquanto o arroz chegou a R$ 1,82 (arroz marrom). Assim, a utilização do excedente de arroz na alimentação de suínos e aves depende muito do custo do frete. “É por isso que o uso do arroz como alimento alternativo compensa, na prática, somente em lugares que poderão contar com uma grande vantagem logística”, ressalta o pesquisador Jorge Ludke. A região Sul se encaixa nessa lógica. Ela é a que apresenta o maior déficit de grãos
para suínos e aves e também a que concentra o excedente de arroz. Em média, uma saca de arroz percorre 500 km no Sul do Brasil para se transformar em ração animal. Já no caso do milho, que vem do Centro-Oeste majoritariamente, a distância sobe para cerca de 2.000 km (de Sinop, MT, a Chapecó, SC), o que representa um frete até 70% mais caro. “A questão mais importante em torno do uso do arroz neste momento é, na verdade, reforçar o debate sobre a criação de mecanismos para tornar permanente a oferta de alimentos alternativos para a ração animal”, complementa o também pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Dirceu Talamini, especialista em temas ligados ao custo de produção de suínos e aves. Ainda não há um retrato claro do quanto o arroz ajudará a reduzir os custos de produção na suinocultura e
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Nutrição Animal O problema da falta de milho
A alternativa do arroz
Já há contratos de venda de arroz em casca ou quirera de arroz entre arrozeiros e produtores de carne de frango e carne suína no Rio Grande do Sul Essas áreas ficam ociosas após a colheita de verão e poderiam estrategicamente ser usadas para regionalmente abastecer de grãos o mercado de proteína animal.
Tabela 1: Arroz para alimentação animal
avicultura. Nem se as duas atividades consumirão todo o excedente de arroz. Já está certo, porém, que os três setores seguirão compartilhando preocupações e articulando sinergias.
Uso do arroz faz parte de debate maior
Pesquisas conjuntas desenvolvidas por equipes da Embrapa Trigo (RS) e Embrapa Suínos e Aves apontam que cereais de inverno (como trigo, aveia, centeio, cevada e triticale) podem ocupar cerca de 6 milhões de hectares em Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Segundo estudos da Embrapa, o trigo (foto ao lado) e o triticale são os grãos de inverno com maior potencial para substituir o milho e o farelo de soja nas dietas para suínos e aves. “São necessários ajustes nos níveis dos ingredientes que compõem as rações de forma a manter níveis equivalentes de nutrientes e de energia para atender às exigências dos animais em cada fase. Porém, o trigo e o triticale possuem viabilidade técnica e econômica e
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A Revista do AviSite
Arquivo Embrapa
O uso do arroz na alimentação animal faz parte de um debate retomado recentemente a respeito de como garantir um fluxo contínuo de alimentos alternativos para a suinocultura e avicultura. A Embrapa tem sido uma das protagonistas dessa discussão que interessa especialmente a Região Sul, que vê todo ano o déficit de grãos para suínos e aves aumentar. “Temos colaborado nessa discussão apresentando nossas pesquisas que mostram como cereais de inverno podem ocupar áreas ociosas no Sul do país e gerar bons resultados para produtores de grãos e de proteína animal”, afirma a pesquisadora Teresinha Bertol, da Embrapa Suínos e Aves. O trigo e o triticale são os grãos de inverno com maior potencial para substituir o milho e o farelo de soja nas dietas para suínos e aves
Arroz é fonte de energia e bom para a qualidade da carcaça podem suprir parte significativa do déficit de milho no Sul do Brasil”, ressalta Teresinha Bertol. Uma das cultivares da Embrapa que mostrou bom potencial para a composição de rações de suínos e aves foi o trigo BRS Tarumã. Com teor de proteína próximo a 18%, foi desenvolvido para a alimentação animal e atende há 20 anos o setor de bovinos. Outras variedades de trigo da Embrapa, como o BRS Pastoreio e o BRS Sanhaço, assim como as cultivares de triticale BRS Saturno e Embrapa 53, apresentaram menor conteúdo de energia do que o milho, o que aumenta a demanda por óleo nas rações. Os pesquisadores da Embrapa destacam que o uso desses cereais pode ser economicamente mais vantajoso nas fases em que os animais apresentam menor demanda de energia, como, por exemplo, na gestação dos suínos. Já no caso do trigo BRS Tarumã, devido ao seu conteúdo de energia superior ao do milho e ao alto conteúdo de proteína, o uso é mais produtivo nas fases de crescimento e terminação, quando a exigência desses fatores é mais elevada.
Quando surgiu a ideia de encaminhar o excedente de arroz para a alimentação de suínos e aves, a Embrapa foi chamada para responder sobre a viabilidade técnica dessa possibilidade. Não foi a primeira vez que isso aconteceu. No início dos anos 2010, por exemplo, houve uma situação parecida com a atual. Na época, a Embrapa Suínos e Aves publicou o comunicado técnico 503, escrito pelos pesquisadores Everton Luis Krabbe, Teresinha Marisa Bertol e Helenice Mazzuco, o qual mostrou que o arroz, além de apresentar um valor nutricional adequado para a alimentação de suínos e aves, oferece ainda efeitos positivos sobre a qualidade de carcaça. Segundo o comunicado técnico da Embrapa, “considerando-se que o óleo de arroz apresenta um perfil de ácidos graxos com maior conteúdo de ácidos graxos saturados e monoinsaturados e menor conteúdo de poli-insaturados do que o milho, a tendência é a de que, com uma dieta à base de grãos de arroz polido-farelo de soja sejam produzidas carcaças com melhor perfil de ácidos graxos do que com uma dieta de milho-farelo de soja, ou seja com gordura mais firme”. O mesmo comunicado ressalva, no entanto, que o arroz reduz a pigmentação de gemas de ovos a da pele de aves, sem implicar em perda de valor nutricional para o consumidor. Essa questão pode ser resolvida com a adição de um pigmentante à ração. O que a Embrapa recomendou no início dos anos 2010 continua valendo agora (confira no gráfico 1 o comparativo entre milho e arroz no que diz respeito ao valor nutricional dos dois grãos). O arroz disponível atualmente para ser utilizado na alimentação de suínos e aves é, em sua maioria, o arroz marrom. Esse tipo de arroz tem valor nutricional superior ao arroz branco polido e aos quebrados de arroz (também chamados de quirera de arroz). Porém, o arroz marrom vem em casca, que precisa ser descartada. A casca apresenta baixíssimo valor nutricional, além de conter elevado teor de fibra e sílica, que agridem a mucosa intestinal dos animais, provocando perda de desempenho. “É preciso sublinhar que o arroz é um cereal com nível de proteína bruta muito próxima ao do milho, o que o transforma em uma excelente fonte de energia”, aponta o pesquisador Jorge Ludke. Comparativo do valor nutricional do milho e do grão de arroz descascado para aves e suínos
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0
Milho
% PB
% Ca
% Pt
Arroz
% Pd
% FB
% % Cinzas Gordura
Existem diferenças entre arroz marrom (apenas com a retirada da casca) e entre quirera de arroz e arroz polido do ponto de vista nutricional. Nesses dois últimos, a parte que seria o farelo de arroz integral não está mais presente. Outra questão importante é o fato de que o arroz apresenta um formato diferente do milho. Para que seja usado na alimentação de suínos é necessário que se façam ajustes específicos nas fábricas de rações. “A moagem precisa ser adaptada, com diferentes regulagens de peneiras. Mas esses ajustes não representam custos ou esforços significativos”, completa Jorge Ludke. No caso da produção de ração para aves, não é preciso fazer alterações. A Revista do AviSite
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Nutrição Animal Mobilização já rende ações importantes
Arquivo Embrapa
O uso de cereais de inverno na produção de proteína animal não é novidade. Há muito que se discute
como grãos adaptados aos meses mais frios podem contribuir na produção de suínos e aves. A diferença nesse momento é a mobilização que o tema despertou. Produtores, indústrias, pesquisadores, entidades
Arquivo Embrapa
O arroz, além de apresentar um valor nutricional adequado para a alimentação de suínos e aves, oferece ainda efeitos positivos sobre a qualidade de carcaça
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representativas do setor produtivo e várias instâncias do poder público se uniram para encontrar uma maneira concreta de aproximar os interesses dos produtores de grãos das necessidades das indústrias de suínos e aves. Pelo menos duas ações já se materializaram a partir da mobilização em torno dos cereais de inverno. O governo do estado de Santa Catarina, estado que é o maior importador de milho no Brasil, lançou em fevereiro de 2020 o Programa de Incentivo ao Plantio de Grãos de Inverno. O programa conta com o suporte técnico da Embrapa e da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri/SC), fornecimento de insumos e assistência técnica do setor cooperativista e aquisição dos grãos pelas indústrias de suínos e aves. “Não há dúvida da viabilidade técnica dos cereais de inverno. O que faltava era um modelo de negócio, que começou a surgir a partir de 2020”, lembra a pesquisadora Teresinha Bertol. Outra iniciativa é o projeto Duas Safras no RS, parceria entre o sistema Farsul (Farsul, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-RS) e Casa Rural), Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e Embrapa. O Duas Safras, lançado em 2021, visa incentivar o uso das áreas ociosas no inverno e ainda costurar acordos com as indústrias de suínos e aves para garantir contratos de compra futura dos cereais produzidos nos meses frios. De acordo com o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, o projeto já iniciou a mobilização para capacitar os produtores de grãos gaúchos interessados em trabalhar com os cereais de inverno.
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Nutrição Animal
Terceira geração de selênio: L-SeMet, OH-SeMet ou Zn-SeMet, quais são as diferenças?
Estudos sugerem que a forma de selênio ofertada na dieta determina sua eficiência e, dessa maneira, influencia o atendimento do requerimento nutricional dos animais Equipe Adisseo
A
tualmente, a comunidade científica classifica todas as formas de selênio disponíveis para a nutrição animal em três gerações distintas. A última geração, dos denominados produtos puros, tem
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A Revista do AviSite
ganhado destaque na suplementação animal, apresentando resultados positivos comparados às gerações anteriores. Todos os aditivos pertencentes a essa terceira geração apresentam uma característica comum
entre si, todo selênio (Se) disponível nestes produtos está sob formas de selenometionina (SeMet): L-SeMet, OH-SeMet e Zn-L-SeMet.
Introdução Dada a baixa disponibilidade do selênio em forrageiras, cereais e grãos proteicos, a suplementação desse mineral em animais de produção é uma prática comum desde 1970. Durante as últimas décadas, uma quantidade crescente de estudos sugere que a forma de selênio ofertada na dieta determina sua eficiência e dessa maneira influencia o atendimento do requerimento nutricional dos animais. A principal vantagem em suplementar os animais com SeMet frente às fontes inorgânicas é que, devido à similaridade química entre a metionina e a SeMet, essa última é absorvida e metabolizada como uma molécula de metionina. Essa característica leva à formação de um depósito inespecífico de Se em cadeias de aminoácidos corporais (i.e. proteínas corporais), que pode ser utilizado posteriormente pelos animais de maneira mais eficiente e segura. Por
outro lado, todas as outras formas de Se não criam depósitos de Se e, portanto, qualquer excesso é excretado imediatamente pelos animais para evitar sua toxicidade. Quando comparamos com a segunda geração de “selênio orgânico” (selenoleveduras), a terceira geração é capaz de garantir não apenas o teor de selênio orgânico total, mas também a concentração constante de Se, sob a forma de SeMet, e assim, assegurar a oferta de Se aos animais em sua molécula de maior valor.
Mas essas fontes puras de SeMet são equivalentes? Uma discussão foi iniciada há alguns meses em relação a possíveis diferenças entre essas fontes. Entre elas, uma das hipóteses comerciais criadas foi que a OH-SeMet, por ser uma hidróximetionina, apresentaria menor valor
biológico em relação a outras fontes. Dada a diversidade de opções disponíveis, a comunidade científica buscou maneiras de avaliar a eficácia destes diferentes aditivos. Admite-se, no entanto, que a melhor maneira de avaliar a bioeficácia das formas puras de SeMet é pela comparação da deposição de Se nos tecidos animais, sendo a deposição em músculos a referência mais utilizada. Simon et al. (2013) compararam diferentes fontes de “selênio orgânico” e concluíram que a diferença de eficiência destas fontes de Se estaria relacionada aos seus diferentes conteúdos de SeMet. Em 2017, o grupo liderado por Jachacz publicou uma meta-análise onde os resultados de 13 diferentes estudos foram compilados, comparando a eficácia de fontes de selênio e se concluiu que quando suplementadas a mesma dose, L-SeMet e OH-SeMet apresentaram a mesma eficiência (Figura 1).
Total de Selênio em músculo (mg/kg MS)
Figura 1 – Efeito de fontes e diferentes níveis de Se sobre a deposição muscular de Se
Se analisado no alimento (mg/kg) Adaptado de Jachacz et al., 2017.
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Nutrição Animal As fontes de Se afetaram significativamente a deposição de Se no peito (Figura 2). A avaliação estatística confirmou a maior eficácia das formas orgânicas (SY56, SY72, L-SeMet e OH-SeMet) quando comparadas ao selenito de sódio (SS), e graças a maior concentração de SeMet. Os resultados também demonstram a maior eficácia de L-SeMet e OH-SeMet em deposição de Se em músculo de peito, quando comparado às selenoleveduras (SY56 e SY72). Os resultados de deposição também evidenciaram que a deposição de Se na suplementação dietética de L-SeMet ou OH-SeMet é dose dependente, e que estas fontes de Se de terceira geração mostraram eficiência biológica equivalente (P> 0,05) para as quatro doses testadas (Figura 2). Essa nova publicação corrobora a conclusão da meta-análise publicada por Jachacz et al. (2017), confirmando que tanto a OH-SeMet quanto a L-SeMet quando suplementadas na mesma dose, apresentam o mesmo “valor” para os animais.
Porém, a fim de confirmar essa igualdade entre as fontes de terceira geração, um novo experimento foi conduzido e recém publicado. Neste estudo, 432 frangos (Ross 308) foram divididos em 12 diferentes tratamentos e com 3 repetições por tratamento. As aves foram alimentadas durante 14 dias com dieta controle negativo (NC, sem suplementação de Se), ou com a mesma dieta NC suplementada com selenito de sódio (SS), ou suplementada com uma de duas fontes de Selenoleveduras (SY) contendo 56% (SY56) ou 72% de SeMet (SY72). Nos demais tratamentos, as aves alimentadas com a dieta NC foram suplementadas com L-SeMet ou OHSeMet. As fontes de Se foram suplementadas a 0,3 mg Se/kg, exceto nos tratamentos que receberam L-SeMet e OH-SeMet, onde dosagens crescentes foram utilizadas: 0,15; 0,3; 0,45 e 0,6 mg Se/kg da dieta. Ao final do experimento, 9 animais por tratamento foram amostrados para determinação do teor de Se no músculo do peito, utilizando-se a técnica de espectrometria de massa com plasma indutivamente acoplado (Figura 2).
Um recente trabalho realizado em vacas de leite (Hachemi et al., 2020)
objetivou avaliar a deposição de selênio pelos microrganismos ruminais e a concentração de Se no fluido plasmático de animais suplementados por 23 dias com os tratamentos descritos a seguir: 1) dieta controle negativo, sem suplementação de Se (NC), 2) NC suplementada com 10 mg/kg de Se via selenito de sódio (SS), 3) 10 mg/kg de Se como Zn-LSeMet ou 4) 10 mg/kg de Se via OHSeMet. Os pesquisadores submeteram as amostras de fluido ruminal à chamada especiação de selênio, capaz de identificar as formas de Se presentes nas amostras analisadas, incluindo o Se(0) – selênio elementar. A concentração de Se no fluido ruminal apresentou correlação positiva com o teor de Se no plasma (R² = 0,96), e ambos apresentaram a mesma hierarquia entre as fontes. O Se(0) foi medido no fluido ruminal e foi detectado apenas no grupo suplementado com SS. De todo o selênio presente no fluido ruminal, 42% dele estava sob a forma de Se(0), o que poderia explicar a menor biodisponibilidade do SS em ruminantes. Os autores concluíram
Figura 2 – Deposição de selênio (Se total, mg/kg de MS) em peito de frangos suplementados com diferentes fontes e níveis de Selênio, aos 14 dias.
3,000 3000
b
2,000 2000
b
c
1,500 1500
e
1,000 1000
0,500 500
h 0,0000
a
a
2500 2,500
NC
d
ef
f
g
SS 0.3
SY56 0.3
SY72 0.3
L-SeMet L-SeMet 0.3 L-SeMet L-SeMet 0.6 OH-SeMet OH-SeMet OH-SeMet OH-SeMet 0.15 0.45 0.15 0.3 0.45 0.6
Letras diferentes indicam diferença estatística (P<0,05). Adaptado de De Marco et al., 2021.
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c
que o Se plasmático é influenciado pelo teor de Se no rúmen e pela disponibilidade biológica das fontes de selênio, sendo Zn-L-SeMet e OH-SeMet superiores ao SS. Essa avaliação também mostrou diferença estatística na concentração plasmática de Se entre os grupos Zn-L-SeMet e OH-SeMet, sendo a última fonte a de maior biodisponibilidade (Figuras 3 e 4). Por fim, um ponto capaz de diferenciar SeMet de terceira geração é a estabilidade das moléculas ao armazenamento em condições ditas normais ou condições aceleradas de
avaliação. Levando em consideração as opiniões científicas emitidas e publicadas pela “European Food Safety Authority” (EFSA) temos diferenças importantes entre as três fontes mencionadas. Dados publicados pela EFSA mostram que a L-SeMet, quando adicionada a um premix vitamínico e mineral, apresentou baixa recuperação após o armazenamento. Os dados mostraram que após 3, 6 e 9 meses, a recuperação da L-SeMet foi de 55, 54 e 37% respectivamente.
Figura 3 – Efeito de diferentes fontes de Se, sobre a concentração de Se em fluido ruminal de vacas leiteiras.
3000 Concentração total de Se (µg/kg) em fluído rumenal
a ab
2500 2000
bc
1500 1000 c
500 0
NC
SS
Zn-SeMet
OH-SeMet
Adaptado de Hachemi et al., 2020.
Figura 4 – Efeito de diferentes fontes de Se, sobre a concentração de Se plasmático de vacas leiteiras.
a
Concentração de Se plasmático total (µg/kg)
160 140
b
120 c
100 80 60 c 40 20 0
NC
SS
Zn-SeMet
OH-SeMet
Em relação a Zn-L-SeMet, dados de estabilidade do produto puro durante o armazenamento, sob condições normais e condições aceleradas, foram apresentados apenas para o período de 3 meses (EFSA). Sob condições normais de armazenamento, a recuperação foi de 91,2% e sob condições aceleradas, de 82%. Infelizmente, não foram disponibilizados períodos de armazenamento mais longos. Quando a EFSA avaliou a estabilidade da OH-SeMet armazenada por 3, 12 ou 18 meses em condições normais e em condições aceleradas, encontrou recuperação de 98% para condições normais e 97% para condições aceleradas; para armazenamento por 12 meses, as recuperações foram de 91 e 80%, enquanto para 18 meses os resultados foram 89 e 78%, respectivamente. Na avaliação final deste aditivo, a EFSA deu um parecer favorável à estabilidade da OH-SeMet, por se tratar de selênio em molécula de hidroxi-metionina, a qual é sabidamente estável. Este tema de estabilidade de fontes de terceira geração de SeMet foi também estudado por Surai et al. (2018), concluindo-se que a OH-SeMet apresenta melhor estabilidade quando comparada às outras duas formas, L-SeMet e Zn-L-SeMet.
Conclusão Diversas informações novas têm sido lançadas quanto ao metabolismo e ações do selênio nos animais de produção. Atualmente, sabe-se que a molécula de maior valor biológico é a SeMet e fontes que fornecem apenas essa molécula (terceira geração de selênio) já mostraram seu poder superior às gerações anteriores (selênio inorgânico e selenoleveduras). Entre essas fontes, a OH-SeMet se destaca, por apresentar valor biológico idêntico às demais fontes de terceira geração, porém, com o benefício da maior estabilidade química da molécula.
Adaptado de Hachemi et al., 2020.
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Nutrição Animal
Conceitos de imunonutrição aplicados a avicultura Este conceito é entendido e aplicado à nutrição animal há bastante tempo, já que os conhecimentos nas áreas de nutrição, sanidade, manejo e ambiência são bastante avançados; no entanto, apenas há alguns anos, o termo “imunonutrição” vem sendo usado efetivamente Melina Bonato
O
termo imunonutrição é originário de estudos em humanos da década de 1950, com a sugestão de que existe uma relação entre a desnutrição e infecções (Shetty, 2010). Nos anos 1980 e 1990, outros estudos utilizando dados de acompanhamento em populações ao longo de décadas, corroboraram este conceito. A partir de então, a imunonutrição em humanos vem sendo explorada em diversos aspectos mais amplos, considerando-a multifatorial, uma vez que a nutrição está relacionada com a digestão e absorção de nutrientes no trato gastrointestinal, microbiota, sistema imune, órgãos relacionados a processos inflamatórios e seus efeitos secundários, sistema nervoso e produção de hormônios, etc. Este conceito é entendido e aplicado à nutrição animal há bastante tempo, já que os conhecimentos nas áreas de nutrição, sanidade, manejo e ambiência são bastante avançados; no entanto, apenas há alguns anos, o termo “imunonutrição” vem sendo aplicado efetivamente. É importante entender que o trato gastrointestinal, além de ser responsável
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pela digestão e absorção, também é um órgão responsável por respostas imunes. Em especial nas aves, aproximadamente um quarto da mucosa intestinal é composta por tecido linfoide e mais de 70% deste são células do sistema imune (Wershil & Furuta, 2008). O tecido linfoide associado ao intestino (GALT) constitui o maior componente do tecido linfoide associado a mucosa (MALT) e uma fonte significativa de células imunes que monitoram e protegem as camadas da mucosa do intestino. O GALT está continuamente exposto a diversos antígenos, microbiota e patógenos (Dalloul & Lillehoj, 2006). Assim, o desenvolvimento e maturação do sistema imune podem ser impactados por fatores externos (ambiente, manejo, condições sanitárias, dieta, etc) e inerentes ao próprio animal (genética, idade). Estes fatores também têm impacto sobre a microbiota e saúde intestinal. A microbiota intestinal desempenha diversas funções no organismo e tem um papel importante na comunicação bidirecional no eixo intestino-cérebro (Cryan & Dinan, 2012). Ou seja, o sistema nervoso central (SNC), via eixo
hipotálamo-hipófise, pode ser ativado em resposta a fatores estressores e como resultado liberar cortisol. O cortisol afetará as células imunes, que iniciarão a liberação de citoquinas próinfamatórias, que por sua vez, afetarão a permeabilidade intestinal, o que permitirá uma modificação na microbiota (Landeiro, 2016). O epitélio intestinal, além de ter a função de absorver nutrientes, também atua como uma barreira física. Se a permeabilidade intestinal for afetada, poderá haver a passagem de microrganismos intestinais e lipopolissacarídeos (LPS) para a lâmina própria, ativando as células do sistema imune e liberando citoquinas próinflamatórias que impactarão no SNC e sistema entérico (Gareau et al., 2008). Diversas alterações metabólicas podem resultar destas respostas, como febre, ineficiências metabólicas, catabolismo do músculo esquelético e síntese proteica de fase aguda (Korver, 2006). Ou seja, impactarão no desvio de nutrientes e energia que seriam utilizados para o crescimento. Desse modo, uma resposta próinflamatória prolongada gerada por
produção de células B precursoras da produção de anticorpos (sistema imune específico), e dependem das respostas inatas; - Aves em períodos de alta demanda metabólica oriunda de desafios sanitários, fatores estressores, disbiose, etc.
qualquer destes fatores citados acima, pode levar ao próprio comprometimento da imunocompetência da ave. É de suma importância que esta tenha sua capacidade de resposta e proteção construídas ao longo sua vida, isto é, modulada dia a dia; pois o custo metabólico neste caso, versus uma resposta imune induzida, é baixo e impactará diretamente na manutenção da homeostase metabólica. Com o conceito de imunonutrição estabelecido, são classificados como imunonutrientes: aminoácidos (glutamina, arginina, cisteína, taurina), nucleotídeos, lipídios (ácidos graxos monoinsaturados e poli-insaturados, além dos ácidos graxos ômega-3), vitaminas e oligoelementos (vitaminas A, C e E, zinco e selênio) (McCowen & Bistrian, 2003). Existem também algumas substâncias imunomoduladoras, o que significa que não serão absorvidas como os nutrientes, mas que têm a capacidade de modificar a resposta do sistema imunológico (direta ou indiretamente), como: prébióticos, probióticos, fitoterápicos, ácidos orgânicos, e assim por diante. Um dos imunonutrientes mais estudados na literatura são as β-glucanas originárias da parede celular das leveduras (β- 1,3 e 1,6-glucanas). Seu modo de ação se dá pelo contato e reconhecimento das células fagocíticas
ou células apresentadoras de antígenos localizadas na lâmina própria, logo abaixo das células do epitélio intestinal. Estas células possuem em sua superfície receptores do tipo Toll, que reconhecem padrões microbianos e induzem uma resposta imune inata imediata. Após esta ativação e fagocitose, o fagócito apresenta um fragmento processado do antígeno e inicia-se uma resposta em cadeia. Há a liberação de citoquinas pró-inflamatórias que ativarão a produção, liberação e mobilização de mais células fagocíticas, proliferação de células caliciformes (produção de muco), entre outros. O reconhecimento de patógenos/antígenos pelo sistema imune inato desencadeia defesas inatas imediatas e, posteriormente, a ativação da resposta imune adaptativa (Lee & Iwasaki, 2007).
Estes benefícios podem ser mensurados pela quantificação de células apresentadoras de antígenos circulantes no sangue, linfócitos T auxiliares (CD4) e citotóxicos (CD8), imunoglobulinas (Bonato et al., 2020), títulos de vacinação, e outros. Com isso, efeitos sobre a manutenção da permeabilidade intestinal também podem ser observados, já que, como citado acima, há uma íntima relação entre microbiota, permeabilidade, intestinal e sistema imune. Ainda há muito a ser estudado sobre o eixo microbiota-intestino-cérebro, dada a complexidade dos fatores relacionados; porém, o uso dos imunonutrientes, isolados ou associados, traz benefícios já comprovados sobre a saúde, bem-estar, crescimento e produtividade. Por isso, conhecer o modo de ação destes é fundamental para fazer os monitoramentos corretos, mensurar os benefícios esperados e quantificar o retorno sobre o investimento.
A ativação do sistema imune inato pelas β-glucanas é chamado de imunomodulação, uma vez que estas não estão causando danos ao epitélio intestinal ou invadindo as células epiteliais. Ou seja, apenas modulam as repostas, já que colocam as células do sistema imune inato em “alerta”, preparando melhor o animal para enfrentar os desafios da produção, com um baixo custo metabólico. Este é um fator chave para: - Aves jovens que estão desenvolvendo seus órgãos imunes, como a Bursa de Fabricius, que é responsável pela Melina Bonato é gerente de P&D da ICC Brazil
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Nutrição Animal
Superdosagem de fitase proporciona bons resultados para combater miopatias em frangos de corte A necessidade de resolver o problema associado à alta incidência de distúrbios metabólicos, como miopatias, tem atraído enorme atenção do setor Lisiane Calza
A
produção avícola sempre foi reconhecida pela eficiência entre os recursos empregados no sistema e o volume de proteína produzida. No entanto, temos vários desafios devido ao aumento acentuado para a demanda global por proteínas. Para se ter uma ideia, a produção total de carnes deverá crescer mais de 40 mil toneladas no período de 2016 a 2028, atingindo quase 364 mil toneladas. De acordo com dados da FAO, a maior parte deste crescimento será atribuída ao mercado de frangos de corte (50% do volume total de crescimento nestes 12 anos de
Com o uso da superdosagem de fitase é possível melhorar o aproveitamento dos ingredientes, garantindo a absorção pelos animais, impactando a redução de custos associada à melhoria da modulação do microbioma e redução de condenações por peito amadeirado.
avaliação) e deverá ser 2,7 vezes superior nas regiões em desenvolvimento, em especial América Latina, África e Ásia, que nas regiões desenvolvidas do planeta. Desta forma, a necessidade de resolver o problema associado à alta incidência de distúrbios metabólicos, como miopatias, tem atraído enorme atenção do setor. Estudos demonstram que o distúrbio conhecido como “Peito Amadeirado” está emergindo em uma escala global. O caso ocorre quando o músculo peitoral da ave apresenta rigidez devido a uma degeneração muscular extrema e hipóxia tecidual (classificada em diferentes graus), ocasionando alterações sensoriais como: cor pálida, hemorragia superficial e listras brancas, gerando grave impacto na textura da carne, no conteúdo de proteínas e na capacidade de retenção de água, ocasionando problemas na aceitação e compra pelos consumidores. Embora a etiologia do distúrbio ainda não seja totalmente conhecida, vários estudos especulam fatores potenciais para a ocorrência do peito amadeirado, incluindo hipóxia muscular localizada, estresse oxidativo e aumento dos níveis de cálcio. Também tem sido apontada de forma rotineira pela indústria de frangos de corte como tendo origem supostamente ligada à seleção genética para rápida taxa de crescimento e maior
rendimento de carne de peito. Pesquisas recentes demonstram que o uso de enzima E. Coli fitase de última geração (Quantum Blue) reduz a severidade do peito amadeirado pela reversão de expressão de genes relacionados à homeostase do oxigênio devido à elevada ruptura do anel de fitato. Sendo uma prática eficaz para mitigar a perda endógena e aumentar a absorção intestinal dos aminoácidos dietéticos, diminuindo sua complexação com o fitato, ajudando também na presença de oxigênio tecidual. Cerca de 2/3 do fósforo contido nos ingredientes de origem vegetal estão numa forma indisponível para a ave, devido à ligação ao inositol, formando a molécula do ácido fítico ou hexafosfato de Inositol. Essa molécula pode formar complexos orgânicos com minerais nutricionalmente importantes, como CA, ZN, MN, CU e FE, afetando a disponibilidade desses, além de proteínas e energia para os animais monogástricos. A importância desses minerais está na sua ligação com o crescimento, imunidade, saúde intestinal e status antioxidante, bem como numerosos outros papéis no metabolismo. Nas rações animais, a concentração de fitato varia de 2,5 a 4g por quilo de ração e o conteúdo de fósforo neste está em torno de 282g por quilograma de ácido fítico. Para que se observe
expressiva melhoria nesse aspecto, deve-se objetivar maior produção de IP3. Dessa forma, doses maiores de fitase são realmente necessárias. O ideal seria passar para 1.500 FTU/kg ou mais (conceito de superdosing). Em avaliações a campo realizadas em projetos avícolas do Brasil, observamos que o uso de uma enzima E. Coli fitase (Quantum Blue) de última geração gera potencial de redução de escores severos de peito amadeirado na ordem de 25 a 50%, dependendo da estrutura de alojamento e do perfil da dieta adotada. Esses resultados são sugestivos sobre a eficiência da ruptura do anel de fitato (gerando o máximo de esteres de Ip3, Ip2 e Ip1, possível) quanto à liberação de microminerais importantes para a geração de mioglobina (tal como Ferro), além de outros microminerais e nutrientes com grande poder antioxidante em células (tais como Selênio, Zinco Inositol). Com o uso da superdosagem de fitase é possível melhorar o aproveitamento dos ingredientes, garantindo a absorção pelos animais, impactando a redução de custos associada à melhoria da modulação do microbioma e redução de condenações por peito amadeirado.
Lisiane Calza é médica-veterinária e trabalha na Auster Nutrição Animal
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Saúde Animal
Impactos da ocorrência de Bronquite, Laringotraqueíte e Influenza Aviária na produção avícola brasileira As infecções virais impactam as condições fisiológicas das aves, podendo provocar mortalidade e/ou morbidade, levando a alterações dos parâmetros produtivos
Luciano Lagatta
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A
s doenças infecciosas em animais são um grande desafio para o setor produtivo mundial, cujo impacto econômico é estimado em mais de US$ 10 bilhões/ano. A avicultura contempla 48% das doenças infeciosas que acometem as diferentes espécies de animais de produção (bovinos 33%, suínos 9%, ovinos 4%, caprinos 4%, búfalos 1% e outras espécies 1%), sendo as doenças respiratórias as maiores causadoras de problemas na indústria avícola mundial. Entre as doenças virais de maior impacto, destacam-se a Influenza Aviária (IA), tanto as de alta patogenicidade (IAAP) quanto as de baixa patogenicidade (IABP), e a Bronquite Infecciosa das Galinhas (BIG). Ainda, entre as doenças que causam grandes impactos para a avicultura mundial estão a Doença de Newcastle (DNC), a Doença Infecciosa da Bursa (Gumboro), as micoplasmoses e as salmoneloses. A Laringotraqueíte Infecciosa das galinhas (LTI), não figura entre as de maior impacto para a indústria avícola mundial (World Bank, 2011). As infecções virais impactam as condições fisiológicas das aves, podendo provocar mortalidade e/ou morbidade, levando a alterações dos parâmetros produtivos e do desempenho zootécnico, tais como a diminuição da fertilidade e da taxa de eclosão, diminuição da produção de ovos, alteração da qualidade da casca e do conteúdo dos ovos, falsas poedeiras, perda do ganho de peso diário, perda na conversão alimentar, refugagens, condenações de carcaças, entre outros (Andreatti-Filho et.al., 2020). Podem ainda interferir nos mecanismos de resposta imunológica favorecendo infecções bacterianas secundárias, como por exemplo, as causadas por E. Coli que, particularmente, têm apresentado perda da eficácia terapêutica de vários antibióticos, cuja resistência estaria associada ao uso de antimicrobianos para fins terapêuticos e não terapêuticos, levando à seleção e disseminação de diferentes microrganismos e de genes de
microorganismos resistentes aos antimicrobianos (Cardoso et.al., 2014). Cabe lembrar que a BIG, assim como a LTI, induz sinais clínicos semelhantes aos da IA sendo diagnóstico diferencial e, por esta razão, deve ser notificada imediatamente ao SVO e, apesar de não serem preconizadas medidas de defesa sanitária animal, pelo Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), os impactos na produção, causados pela BIG, em maior escala, e pela LTI, refletem em
prejuízo financeiro. Estudos conduzidos no Estado do Paraná em 2016-2017, maior produtor e exportador de frango de corte do Brasil, os prejuízos chegaram a US$ 9,88 milhões no frango de corte e mais de US$ 1,6 milhões nas reprodutoras. Colvero et.al. (2015), determinaram que a perda, para cada 1.000 aves, foi de US$ 3.567,4 e US$ 4.210,8 em 25-26 e 42 semanas de idade, respectivamente, enquanto que em frangos com 48 dias de idade a perda
NOTIFICAÇÃO OBRIGATÓRIA De acordo com a Instrução Normativa n° 50/2013, que lista as doenças passíveis da aplicação de medidas de defesa sanitária animal e de notificação obrigatória ao serviço veterinário oficial (SVO), a Influenza Aviária está incluída na lista de número 1, de doenças nunca registradas no País e que requerem notificação imediata de caso suspeito ou diagnóstico laboratorial. A Laringotraqueíte, assim como a Doença de Newcastle, encontra-se na lista de número 2, de doenças que requerem notificação imediata de qualquer caso suspeito e a Bronquite Infecciosa das Galinhas está contemplada na lista de número 4, de doenças que requerem notificação mensal de qualquer caso confirmado.
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Saúde Animal estimada foi de US$ 266,3. Estima-se que a LTI, somento no município de Bastos, poderia ter causado um prejuízo de mais de R$ 200 milhões se não fossem adotadas medidas de controle dos focos, em especial a adoção de vacinação emergencial. Porém, o risco da ocorrência de doenças infecciosas como a Influenza Aviária (IA), considerada exótica no Brasil, ou ainda a doença de Newcastle (DNC) cujo último foco em nosso país ocorreu em 2006, representam um perigo permanente em qualquer local do mundo. Por sua patogenicidade, virulência e pela obrigatoriedade de se aplicarem procedimentos de abate sanitário, a IA e a DNC representam grandes perdas econômicas para a indústria avícola mundial (Revolledo & Ferreira, 2009). Surtos de IA ocorridos na Grécia, Itália, Reino Unido e Turquia, entre 2005 e 2015, considerando os custos com os procedimentos adotados para controle dos focos e a queda do consumo de produtos de origem avícola, acumularam um prejuízo de aproximadamente €$ 850 milhões. De acordo com a experiência mexicana, o surto de Influenza Aviária trouxe enormes prejuízos ao setor de produção de aves e ovos (férteis e de consumo), segundo Márquez (2013) foram mais de US$ 760 milhões em 2012, sem considerar os empregos perdidos. Os surtos de IA (H7N9) na China, em 2013, por exemplo, que resultaram em infecções humanas com 131 casos registrados e 39 mortes, causou um Impacto econômico no setor avícola equivalente a US$ 1,24 bilhão em 10 províncias afetadas e de US$ 0,59 bilhão em oito provincias adjacentes não afetadas em medidas de controle. Os custos médicos e com saúde humana somaram US$ 5,4 milhões (Huo et.al, 2016). De acordo com Swayne et.al. (2017), o surto de gripe aviária de alta patogenicidade H5Nx (IAAP) de 20142015, resultando no programa de erradicação que custou ao governo dos EUA US$ 850 milhões. O surto teve um impacto negativo de US$ 3,3 bilhões na economia.
Como mitigar os riscos de doenças infeciosas?
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A exposição e manutenção de um agente etiológico em uma população dependem do conhecimento da causalidade do agente que, quando presente, determina o aparecimento da doença. Assim, para mitigar os riscos relacionados à introdução, instalação, manutenção e disseminação de vírus de doenças infecciosas e, consequentemente, diminuir os prejuízos causados por elas nas granjas, devem ser aplicadas medidas para prevenir ou controlar a presença dos agentes de doença, tais como monitoramento de doenças, implantação de programas de vacinação e adoção de medidas de biosseguridade (Sesti, 2005). O monitoramento de doenças, as quais uma determinada população pode ser desafiada, é uma importante ferramenta que tem por objetivo, acompanhar as tendências, quer seja demonstrando a ausência de uma determinada infecção, ou sua presença e distribuição, ou ainda, para detectar o mais rápido possível a presença de doenças exóticas ou emergentes. Tem por objetivo, ainda, fornecer dados necessários para a análise de riscos, justificar medidas sanitárias e fornecer garantias aos parceiros de negócios (OIE, 2020). A vacinação é uma forte aliada na prevenção, controle e eventualmente na erradicação de várias doenças. Induz a imunidade para prevenção de doenças e, em alguns casos, dependendo do tipo de vacina, reduz a transmissão de patógenos. Contribui ainda para a melhoria da saúde animal e humana, reduzindo a
morbidade e a letalidade, para o bemestar animal, sustentabilidade da agricultura e redução do uso de antimicrobianos em animais. Os programas de vacinação devem ser específicos para cada situação epidemiológica e devem responder à gravidade dos desafios e atender às normas vigentes do Serviço Oficial de Sanidade Animal do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Brasil, 2010). As medidas de biosseguridade para estabelecimentos avícolas no Brasil foram regulamentadas por meio da IN n° 56/2007, que estabeleceu os procedimentos para registro, fiscalização e controle de estabelecimentos avícolas de reprodução e comerciais. Apesar das alterações da norma supracitada, as adequações basicamente englobam itens de estrutura (galpões telados, cerca de isolamento, ponto de desinfecção de veículos, entre outros) e procedimentos (limpeza e desinfecção das instalações e equipamentos, controle de pragas, insetos e roedores, desinfecção de veículos, controle de visitantes, entre outros) a serem adotados para que se tenha um maior isolamento das produções animais, e assim diminuir o risco de introdução, instalação, manutenção e disseminação de doenças, em especial as altamente contagiosas e, assim, mantê-los com o melhor status sanitário possível. Ainda, conforme mencionado por Sesti (2005), a implantação de bons programas
de biosseguridade inicia-se na elaboração de ações de controle a serem estabelecidas, seguidas de normas específicas, as quais findam na sua aplicação prática no campo e nas atividades diárias. Antes da elaboração e da implantação de qualquer programa de biosseguridade, é necessário que seja realizada uma análise para a definição dos riscos e desafios aos quais os sistemas de produção estão sujeitos. Em virtude da preocupação com a propagação do vírus da influenza aviária H5N1, para minimizar as repercussões do comércio nos países afetados, a OIE introduziu o conceito de compartimentação, definido como sendo o estabelecimento de uma subpopulação animal com um determinado status sanitário em relação à uma infecção, mantida em uma ou mais explorações, independentemente da localização geográfica, separada do restante da população de suscetíveis por um sistema comum de gestão da biosseguridade, com regras mais rígidas para uma ou mais infecções contra as quais se aplicam medidas de vigilância e controle necessário caso venha a ocorrer doença ou infecção, para fins de manutenção do comércio nacional e internacional ou prevenção e controle de doenças em um país (Stone, 2017). O controle de enfermidades transmissíveis nas produções animais deve ser baseado em intervenções que procuram interromper um ou mais elos conhecidos da cadeia epidemiológica de transmissão dos agentes causadores de enfermidades no homem e nos animais. As causas estão concentradas nas fontes de infecção e nas vias de transmissão (Thrusfield & Cristley, 2018). Em um estudo conduzido por Lagatta et.al. (2021), com a colheita de amostras em criatórios de aves de fundo de quintal localizados no entorno de compartimentos avícolas, para avaliação dos fatores de risco para introdução e disseminação dos vírus da IA e da DNC, preconizado pela IN n° 21/2014, não foram detectadas amostras positivas para estas doenças. Entretanto, foram detectadas amostras positivas para a BIG e para a LTI. A caracterização molecular da BIG foi agrupada com a cepa brasileira BR1, ou GI-11, baseada no gene S1, e a
caracterização molecular da LTI detectou a cepa brasileira virulenta baseada do gene ICP4. Esses dados mostram que há circulação do vírus da BIG e da LTI em criações de fundo de quintal no entorno de estabelecimentos avícolas. A ausência de limpeza e desinfecção, a falta de orientação profissional por médico veterinário, a proximidade com incubatórios e com outras criações de aves de fundo de quintal foram identificados, associados e hierarquizadas como principais fatores de risco para introdução e disseminação da BIG e da LTI na população estudada. Cabe destacar que a proximidade com incubatórios aumentou o risco de detecção para a BIG em 10.8 vezes (P<0.001). A BIG é considerada doença presente no Brasil e sua vacinação está liberada, que, assim como o seu monitoramento, não possuem regulamentação especificas e devem ser realizadas de acordo com o interesse do setor. Para a LTI, o MAPA publicou o Memorando-Circular nº 72/2018/DSA/SDA/MAPA, que apresenta parecer favorável à liberação da utilização de vacina recombinante para LTI no plantel avícola nacional, podendo ser realizada a critério do programa sanitário de cada empresa ou produtor, desde que sejam utilizadas vacinas devidamente registradas e com indicação e uso para as espécies em questão. Além disso, a utilização de vacinas vivas para LTI esta proibida no Brasil, podendo ser autorizado, o uso da vacina viva de cultivo celular (TCO), pelo Departamento de Saúde Animal (DSA), dependendo da situação epidemiológica do caso em questão e do atendimento a requisitos e procedimentos para autorização e controle do uso dessas vacinas. No Estado de São Paulo, por exemplo, existe regulamentação específica para LTI (Resolução SAA n° 06/2019) que exige a obrigatoriedade de vacinação das aves alojadas no denominado Bolsão de Bastos e no município de Guatapará, que poderá ser revogada de acordo com o resultado do estudo da avaliação da eficiência vacinal e de circulação viral nestas localidades, pelo Serviço Veterinário Estadual (SVE).
O controle de enfermidades transmissíveis nas produções animais deve ser baseado em intervenções que procurem interromper um ou mais elos conhecidos da cadeia epidemiológica de transmissão dos agentes causadores de enfermidades no homem e nos animais. O monitoramento para IA é realizado por interesse do PNSA. Assim, foram publicados uma série de atos legais, tendo como referência as recomendações da OIE, para fortalecer os serviços de defesa sanitária animal e aumentar a capacidade de prevenção da IA e controle da DNC, com destaque para o “Plano Nacional de Prevenção da Influenza Aviária e de Controle e Prevenção da Doença de Newcastle”. Em 2021, o MAPA alterou o anexo da Instrução Normativa n° 17/2006, em especial no que se refere aos procedimentos a serem adotados pelo SVO na ocorrência de notificações de mortalidade e/ou sinais clínicos compatíveis com as Síndromes Respiratórias e Neurológica (SRN) das aves e, também, altera a definição de caso suspeito e caso provável de SRN, compatíveis com a Influenza Aviária (IA) e a Doença de Newcastle (DNC). Quanto às notificações, em especial aquelas que se referem às taxas de mortalidade preconizadas, elas passaram a ser obrigatórias, quando ocorrer em 10% das A Revista do AviSite
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Saúde Animal aves dentro de um período de 72 horas, ou com aumento súbito e significativo em quaisquer estabelecimentos de aves domésticas. A vacinação contra Influenza Aviária é proibida em todo o território nacional e são desencorajadas por interferir nas políticas de controle. De acodo com Capua & Alexander (2006), os vírus da IA (especialmente IAAP) ainda podem infectar e se replicar em aves vacinadas sem a apresentação de sinais clínicos. Com relação às medidas de biosseguridade, considerando que, como todos os setores produtivos, a avicultura é fortemente influenciada pela sua estrutura de custos, havia um certo sentimento de que as adequações preconizadas pelas normativas poderiam impactar economicamente nas atividade de produção de frangos e de ovos comerciais de modo a levar, eventualmente, alguns avicultores ao abandono da mesma. Porém, em um estudo conduzido por Siekkinen et.al., (2008), demonstraram que o custo com a biosseguridade foi de US$ 0,035 por ave (intervalo de confiança de 90% US$ 0,025 - US$ 0,044) para produtores de frangos, e de US$ 0,757 por ave (US$ 0,393 - US$ 1,155) para reprodutoras, e que o tempo de trabalho dedicado à biosseguridade representou 8% do tempo total de trabalho nas granjas de corte e de 5% nas matrizes. Na avicultura de postura comercial Lagatta & Gameiro (2017), demonstraram que as medidas de biosseguridade custam, aproximadamente, US$ 0,54 / caixa de ovo (30 dúzias). Ambos os estudos indicam que as medidas de biosseguridade têm custo baixo frente aos possíveis riscos de doenças e de seus impactos econômicos.
Por que mitigar o risco para doenças infecciosas? De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB brasileiro, no ano de 2020, totalizou R$ 7,45 trilhões, sendo que a participação do agronegócio foi de 26,6%, aproximadamente R$ 1,98 trilhões. Nesse contexto, a avicultura se apresenta
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como um dos componentes mais importantes do agronegócio nacional e internacional, estima-se que o Valor Bruto da Produção (VBP) avícola nacional, frango e ovos, somam mais de R$ 126 bilhões, de acordo com Ranking do VBP da Agropecuária publicado pela Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Por essa razão, apesar de não causarem restrições ao comércio nacional e internacional, o risco para a BIG e para a LTI devem ser mitigados por causarem grandes impactos na produção e consequentemente prejuízos econômicos. Entretanto, estima-se que entrada do vírus da IA no Brasil seria um verdadeiro desastre. De acordo com os cenários criados e analisados por Fachinello & Ferreira-Filho (2010), constata-se um impacto negativo no segmento avícola em todo o País, sendo mais intenso quando os focos ocorrem próximos das regiões produtoras e consumidoras. Regionalmente, destacam-se os prejuízos verificados no Sul, em virtude da atividade avícola dessa região ter grande peso na dinâmica econômica local e nacional. Para ovos frescos, as perdas mais significativas ocorreriam no Sudeste e Nordeste. A maior procura nacional interna e externa por bens substitutos, no caso as carnes bovina e suína, ajudariam a amenizar e, em alguns casos, a compensar, a queda do produto regional. Nossa avicultura poderia levar anos para erradicar a doença e voltar a ser um player importante no cenário internacional, e seu impacto pode ser especulado na ordem de 25% do PIB do agronegócio, pois além da queda de consumo interno e do sacrifício de aves saudáveis, acredita-se que o mercado internacional, além do fechamento para ovos férteis, aves vivas e produtos avícolas, aproveitaria para impor restrições para a exportação de animais e de produtos de origem animal de outras espécies, como bovinos e suínos, além de envolver outros setores do agro, como o de grãos, especialmente milho e soja, e assim abaixar o preço do “supermercado chamado Brasil”. Por ser potencialmente
zoonótica, poderia haver, ainda, impactos no sistema de saúde, em especial com os custos relacionados ao tratamento em humanos. Assim, a única maneira de se manter sistemas de produção e seus respectivos rebanhos comerciais livres ou controlados, no que diz respeito à presença de agentes de enfermidades de impacto econômico na produtividade e/ ou perigosos para a saúde pública, seria por meio da utilização de um efetivo programa de vigilância e de biosseguridade (Sesti, 2005). Márquez (2013) relata que as experiências mais traumáticas e dolorosas deixam muito conhecimento, com lições enriquecedoras, que são difíceis de esquecer. Por esta razão, considera importante o aprendizado com as experiências de outros países e que os gastos com monitoramento de doenças, adoção de vacinas e de medidas de biosseguridade, não representam um custo, mas sim um investimento, com retorno.
Luciano Lagatta é médico-veterinário na Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA). Possui mestrado pelo Departamento de Nutrição e Produção Animal (VNP) e doutorado pelo Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal (VPS), ambos pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP). É membro do Comitê Estadual de Sanidade Avícola (COESA-SP), da Comissão Técnica de Avicultura da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e do corpo técnico da Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas (FACTA). Contato: lagatta@alumni.usp.br.
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União Europeia
sanciona lei que bane uso indiscriminado de antibióticos e estimula o bem-estar na criação animal Brasil deve ser impactado em relação às vendas da avicultura. Expectativa é de efeito positivo em outros países, inspirando a modernização de leis que visem à promoção de sistemas mais éticos e sustentáveis e a mitigação dos riscos de resistência antimicrobiana Daniel Cruz - World Animal Protection
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As novas normas – Regulamento (UE) 2019/61 sobre medicamentos veterinários e Regulamento (UE) 2019/4 sobre alimentos medicamentosos para animais – determinam que apenas animais doentes, e individualmente (ao invés de rebanhos inteiros), podem receber antibióticos para fins terapêuticos.
E
m janeiro, entraram em vigor na União Europeia (UE) novas leis proibindo que animais de criação nos países membros sejam alimentados rotineiramente com rações contendo antibióticos. Um dos regulamentos deve impactar mercados internacionais, incluindo o Brasil, uma vez que o bloco, que é o maior importador de alimentos do mundo, também rejeitará a entrada de animais vivos ou de produtos de origem animal nos quais antibióticos tenham sido usados como promotores de crescimento (tal finalidade já estava proibida internamente na Europa desde 2006). Para José Ciocca, gerente de campanha de Agropecuária Sustentável da Proteção Animal Mundial, o uso irresponsável de antibióticos na criação industrial intensiva de animais é uma prática que está fomentando um outro problema gravíssimo: a resistência antimicrobiana. “Isso ameaça jogar por terra as conquistas de proteção à saúde humana alcançadas pela medicina
moderna”, explica. “A solução mais correta do ponto de vista ético e científico é eliminar a dependência de antibióticos nas criações por meio do aumento dos níveis de bem-estar animal no sistema: animais felizes são naturalmente mais saudáveis”. A emergência da resistência das bactérias (e outros micróbios) aos antibióticos (e outros medicamentos) é mundial e não está restrita à criação animal. Inclui também usos exagerados e inadequados de antibióticos para a saúde humana. Engloba a complexidade do desenvolvimento de novas drogas eficazes, sua distribuição, o monitoramento da comercialização e uso das substâncias, além de vigilância sanitária pública.
Antimicrobial resistance: time to repurpose the Global Fund Acesse o estudo na íntegra pelo QR Code ou link no QR Code.
Estudo robusto publicado na revista The Lancet compilando dados de 204 países elevou o cálculo de mortes anuais associadas à resistência antimicrobiana para 1,27 milhões de pessoas ao ano – uma letalidade que supera as de HIV e malária no mundo. A Revista do AviSite
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Saúde Animal Decisão da União Europeia define que apenas animais doentes podem receber antibióticos As novas normas – Regulamento (UE) 2019/61 sobre medicamentos veterinários e Regulamento (UE) 2019/4 sobre alimentos medicamentosos para animais – determinam que apenas animais doentes, e individualmente (ao invés de rebanhos inteiros), podem receber antibióticos para fins terapêuticos. Passa a ser ilegal usar antibióticos de forma rotineira, ou seja, para compensar ou mascarar problemas de criação resultantes de baixos níveis de bem-estar (associado a aspectos como superlotação, confinamento, alimentação pouco saudável, hidratação inadequada, falta de luz natural, linhagens genéticas de crescimento acelerado, estresse, falta de enriquecimento ambiental, impossibilidade de exercer comportamentos naturais, entre outros).
Decisão pode impactar o Brasil Os possíveis impactos econômicos para o Brasil em função das limitações à importação de animais ou derivados que tenham recebido antibióticos ainda precisam ser estimados. Mas é certo que a condição deve estimular a ampliação do enfoque de bem-estar nas criações, além de favorecer inicialmente os produtores que já adotam práticas responsáveis.
Dados compilados pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) referentes ao ano de 2020, todavia indicam a dimensão do alcance. Em relação à avicultura, uma das produções em que é frequente o uso rotineiro de antibióticos para fins não terapêuticos, a União Europeia aparece como maior destino para a carne de peru nacional (21,1% de participação do total brasileiro exportado), 6º principal comprador de carne de frango (6,3% de participação) e 15º maior mercado para as exportações de carne de pato e outras aves (0,05% de participação). Em todos os casos houve tendência de alta nas vendas em 2020. Em relação à suinocultura, em que a questão dos antibióticos é também muito preocupante, a própria UE possui um papel destacado como produtor, o que limita a entrada das exportações brasileiras.
Atual situação global Cerca de três quartos dos antibióticos do mundo são usados em animais de criação, especialmente pela agropecuária industrial intensiva. Em contraste, os animais que vivem em fazendas com altos níveis de alto bem-estar são mais saudáveis e mais resistentes a doenças, e não dependem de antibióticos. “Bilhões de animais nascidos em fazendas industriais atravessam a vida em condições difíceis. Isso pode até fornecer carne a baixo custo para as pessoas, mas nós também já estamos pagando o preço com nossa saúde”, diz Daniel Cruz, coordenador de Agropecuária Sustentável da Proteção Animal Mundial.
Como evitar a próxima catástrofe sanitária: resistência antimicrobiana Acesse o estudo na íntegra pelo QR Code ou link no QR Code.
A Proteção Animal Mundial prega que os animais de produção devem ser criados em sistemas livres de crueldade, humanos e sustentáveis, nos quais suas necessidades sejam totalmente atendidas. Isso garante que eles sejam mais resistentes a doenças, e que a dosagem de rotina de antibióticos não seja necessária. Para alertar e guiar a sociedade brasileira, a Proteção Animal Mundial e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) publicaram em dezembro o documento de orientação a políticas públicas “Como evitar a próxima catástrofe sanitária: resistência antimicrobiana”. Ele foi concebido segundo uma abordagem de Saúde Única, que considera a interdependência entre saúde humana, animal e ambiental.
Regulamento (UE) 2019/4 do parlamento europeu e do conselho O artigo 107 do Regulamento de Medicamentos Veterinários proíbe o uso rotineiro de antimicrobianos em animais de fazenda e todos os tratamentos preventivos de grupo com antimicrobianos (n.º 1, 3 e 4 do artigo 107). O artigo 107.1 dispõe: "Os medicamentos antimicrobianos não devem ser aplicados rotineiramente nem usados para compensar má higiene, pecuária inadequada ou falta de cuidados ou para compensar má gestão da fazenda". O artigo 118 do Regulamento de Medicamentos Veterinários proíbe a importação de animais ou produtos de origem animal para a UE se forem utilizados antibióticos para fins de promoção do crescimento.
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Daniel Cruz é coordenador de Agropecuária Sustentável da Proteção Animal Mundial
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Manejo
Fatores que afetam o conforto e a viabilidade dos pintinhos desde a incubadora até o alojamento Equipe Global de Incubação – Aviagen
P
lantéis de pedigree, bisavós e avós de frangos de corte precisam ter excelente estado de saúde para que se minimizem os riscos de transmissão vertical de patógenos. Elas devem ser mantidas em condições de biossegurança elevadas, sendo o controle mais efetivo se estas aves estiverem em locais distantes de granjas de frangos de corte comerciais ou poedeiras. Isso pode resultar em transportes de longas distâncias para o fornecimento de plantéis de matrizes aos clientes. Quando consideramos os tempos de viagem, as aves apresentam uma grande vantagem em relação à criação de mamíferos, pois pintinhos recém eclodidos contêm uma reserva considerável de gema residual que está conectado diretamente ao intestino delgado pelo pedúnculo da gema. No momento da postura, a gema representa de 30% a 33% do peso total de um ovo de frango de corte (ou seja, um ovo de 62 g contém 20 g de gema). Em um lote de ovos incubados adequadamente — a uma temperatura embrionária de 37,8 °C (100 °F) com uma perda de 11% do peso em 18 dias e com um rendimento de pintinhos de 68%, a gema residual pesará entre 4 e 5g, algo entre 9,5% e 12% do peso corporal de um pintinho recém-nascido. A reserva de nutrientes e água na gema residual é suficiente para manter os pintinhos em boas condições durante três dias.
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A maioria dos países impõe regulamentações que definem a duração e as condições ambientais aceitáveis para o transporte de diferentes tipos de animais. Até pouco tempo, todas essas regulamentações refletiam as vantagens exclusivas de transportar pintinhos enquanto eles ainda possuíssem gema residual e permitiam até 72 horas de viagem para esses animais após a expedição. Entretanto, recentemente tem havido muita discussão sobre como abordar o intervalo entre a retirada dos pintinhos do nascedouro e sua chegada à granja. A reflexão foi certamente afetada pelo desenvolvimento recente de sistemas que permitem que os pintinhos eclodam diretamente na granja ou fornecem ração e água prontamente acessível no nascedouro assim que eclodem. Ambos Figura 1
têm a vantagem de reduzir o tempo total do ciclo desde a incubação dos ovos até o processamento de frangos de corte, simplesmente porque os pintinhos têm comida disponível quando de outra forma não teriam. Este artigo resume alguns dos testes realizados internamente pela Aviagen a fim verificar se nossas metas e protocolos de transporte seguem adequados ou precisam ser alterados. Todos foram analisados e aprovados pelos responsáveis de bem-estar animal e compliance.
Uso da gema residual em linhas modernas e linhas de 1972 Um dos argumentos para reduzir os tempos de acondicionamento e viagem
Figura 2 — Taxa de uso da gema em pintinhos da linha de controle genético de 1972 e em equivalentes atuais (Reino Unido, 2017)
permitidos se fundamenta na suposição de que o embrião de frango de corte moderno produz mais calor, por causa de sua “taxa metabólica mais elevada”, é provável que utilize a gema residual após a eclosão mais rapidamente que no passado (embora seja uma teoria interessante, os dados publicados não a corroboram). A Aviagen mantém linhas de controle genético, que foram separadas das populações de suas linhagens respectivas em 1972. Um estudo realizado em 2017 comparou as linhas de controle genético com suas equivalentes atuais. A taxa em que a gema residual se esgotou foi muito similar tanto nas linhas de controle como nos pintinhos modernos. Mantidas por 72 horas após o saque dos pintinhos, as linhas testadas utilizaram pouco mais de 80% da gema residual presente ao nascimento. A Figura 2 mostra que a taxa de uso foi ligeiramente
mais rápida na linha de controle de 1972 do que em sua equivalente moderna, nas primeiras 24 horas, e igual no período de 48 e 72 horas.
Temperatura de acondicionamento, temperatura corporal, uso de gema residual e viabilidade Ao eclodirem, os pintinhos não controlam plenamente sua temperatura corporal, que se altera em função da temperatura ambiente. No entanto, eles geram calor metabólico e podem modificar seu comportamento aglomerando-se, caso esteja muito frio, ou se muito quente, aumentando as distâncias entre os indivíduos e ofegando (Figura 3). A temperatura corporal de pintinhos com um dia de idade pode ser medida
de modo fácil, seguro e preciso com um termômetro pediátrico Braun ThermoScan encostando na cloaca dos pintinhos. Quando pequenos grupos de pintinhos não alimentados são acondicionados em caixas para transporte, a temperatura da cloaca deve permanecer entre 39,4–40,6 °C (103–105°F), que será atingida geralmente se a temperatura no interior da caixa for de aproximadamente 30 °C (86 °F). Em testes internos em que a temperatura ambiente nas caixas foi reduzida ou elevada em 6°C (11 °F) para 24 °C (75 °F) ou 36 °C (97 °F), a temperatura corporal dos pintinhos também se alterou. Pintinhos no ambiente mais quente tiveram uma elevação de 0,4 °C (0,7 °F), e aqueles no ambiente mais frio sofreram uma redução de 0,4 °C (0,7 °F) na temperatura corporal durante as primeiras 24 horas. No entanto, após 48 horas de acondicionamento, a temperatura corporal da população nos ambientes mais quentes e ideais se manteve estável, ao passo que os pintinhos no ambiente mais frio perderam mais de 3,1 °C (5,6 °F). A mudança média na temperatura de cloaca com o passar do tempo, nos três estudos, é demonstrada na Figura 4. Surpreendentemente, a temperatura de acondicionamento não afetou muito a velocidade do uso da gema residual, mas alguns poucos indivíduos no tratamento frio aparentemente interromperam a mobilização da gema após 48 horas de acondicionamento. Isso fez com que a utilização nas 60 horas parecesse menor que o de controles em um ambiente ideal. Publicações sugerem que temperaturas extremas após a eclosão podem retardar ou interromper o uso da
Figura 3 — Adaptação comportamental a temperaturas fora da zona de conforto de um pintinho. Da esquerda para a direita, pintinhos com frio se aglomeram, pintinhos com calor ofegam, e pintinhos confortáveis se espalham e relaxam
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Manejo gema residual. A Figura 5 mostra o uso médio da gema após 72 horas nos três estudos. A taxa de sobrevivência em sete dias foi diferente em cada estudo, mas os efeitos do tratamento foram muito similares. Na Figura 6, as taxas de mortalidade para o tratamento controle em cada ensaio foram tratadas como uma unidade de linha base, e a diferença devido à temperatura adversa calculada como um aumento relativo. As populações mantidas no ambiente frio perderam 2,7 vezes mais pintinhos do que as mantidas em temperaturas confortáveis. O calor ambiente também gerou mais perdas, mas a elevação foi de apenas uma vez e meia. Os níveis relativos de mortalidade no sétimo dia são exibidos na Figura 6.
Figura 4 — Temperatura cloacal de pintinhos mantidos por até 72 horas em caixas com diferentes temperaturas
Figura 5 — Uso da gema residual após 72 horas do saque em três temperaturas de acondicionamento
Embora o transporte muito frio seja mais difícil para os pintinhos do que o transporte muito quente, o resfriamento também é muito menos provável de acontecer. Os pintinhos produzem calor metabólico, e ao acondicioná-los juntos em caixas, o objetivo é geralmente impedir o desenvolvimento de calor excessivo. Entretanto, os estudos passaram uma mensagem bem clara de que, no esforço de evitar o superaquecimento, é imprescindível não exagerar na dose.
Suplementos e alimentação inicial para pintinhos recémnascidos As regulamentações que abordam tempos e condições de transporte para certificados de saúde de pintinhos com um dia de idade consideram que a gema residual lhes fornecerá alimento e água logo após a incubação. É hoje uma prática comum, e algumas vezes uma exigência legal, oferecer a pintinhos de matrizes e avós de frangos de corte um suplemento de hidratação ainda no incubatório. Esses suplementos são fornecidos por diversas empresas, na forma de gel, contendo agente gelificante e algum tipo de eletrólito, e o restante é água. A absorção desses produtos varia: os pintinhos podem, algumas vezes,
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consumir bastante gel, mas em outras ocasiões, sequer o tocar, não havendo nenhum motivo aparente. Pode ser difícil distribuir o produto de forma homogênea por uma caixa de pintinhos, e verificações no papo sugerem que 40% a 60% dos pintinhos não terão consumido nenhuma quantidade do gel depois de seis horas. Em estudos replicados, a mortalidade na primeira semana entre pintinhos que receberam produtos de hidratação é geralmente semelhante à de pintinhos que não receberam nenhum suplemento. Fornecer suplementos no incubatório antes de uma viagem longa representa um risco específico. Testes iniciais
realizados pela Aviagen com o uso de um suplemento especializado para pintinhos recém-nascidos demonstraram que, embora tenha elevado o peso de indivíduos com sete dias de idade, após viagens de até 40 horas, os pintinhos não tiveram a mesma performance de viabilidade em viagens mais longas. Estudos mais recentes mostraram que, após 72 horas de acondicionamento, a viabilidade de pintinhos que recebem um produto de hidratação na incubadora pode ser pior. É possível dar acesso a alimento e água a pintinhos individuais após a incubação, seja em incubadoras especializadas ou quando ovos parcialmente incubados são
Figura 6 — Média de mortalidade na primeira semana nos três estudos e expressa como múltiplo da mortalidade ocorrida no tratamento a temperaturas ideais
transferidos para o aviário depois de 18 dias. Em ambos os casos, os ovos são submetidos a ovoscopia, para que somente aqueles com embriões vivos sejam transferidos. Eles são mantidos em uma bandeja de nascedouro com a extremidade menor virada para baixo, pois quando os pintinhos eclodem eles saem da casca e têm acesso imediato a alimento e água. Esse tipo de sistema elimina o período de espera habitual entre a saída do ovo e a oferta de alimento e água. Ao terem alimento disponível por um dia ou mais tempo, o peso final de frangos de corte em idade padronizada tende a ser maior.
tenham nascido por último consigam encontrar e consumir o alimento. Terceiro, pintinhos alimentados produzem muito mais calor metabólico em comparação com aqueles que ainda não comeram; 24 horas após a alimentação, os pintinhos alimentados produzem aproximadamente o dobro de calor que os demais. Isso é normal e não representa um problema quando ocorre após a eclosão na granja, mas pintinhos alimentados na incubadora precisam ser transportados, e a capacidade de ventilação e resfriamento dos veículos deve ser aprimorada se os pintinhos se alimentarem nas incubadoras.
Sistemas de alimentação inicial apresentam alguns possíveis problemas potenciais, mesmo durante a incubação. Primeiro, a ração e a água devem ser colocadas antes da transferência dos ovos e mantidas nesse ambiente quente e úmido até a eclosão dos pintinhos. Comedouros, bebedouros e tubulações de água devem ser meticulosamente limpos para evitar o crescimento de fungos ou bactérias. Segundo, os pintinhos não demonstrarão geralmente nenhum interesse em se alimentar por algumas horas após a eclosão. Por esse motivo, uma sugestão comum para sistemas em que os pintinhos recebam alimento no nascedouro é que eles sejam mantidos nela por várias horas a mais, para assegurar que inclusive os que
Para reprodutoras, a alimentação inicial é problemática por diversos motivos. Em reprodutoras é muito mais fácil identificar o sexo dos pintinhos quando os seus intestinos estão vazios. Pintinhos com o intestino cheio produzem excrementos úmidos que sujam os animais e as caixas, e caixas de papelão podem se desmanchar durante o transporte. Para viagens longas, é provável que haja um aumento da mortalidade se os pintinhos tiverem sido alimentados no nascedouro e não se alimentarem durante o transporte. Isso acontece porque, quando eles não foram alimentados, seu sistema digestivo não é ativado e a gema residual entra em ação para mantê-los no que é efetivamente uma extensão do estágio embrionário. Já quando é oferecida alimentação, a
consequente ativação do intestino produz os ácidos da moela e enzimas digestivas, o que pode danificar o intestino se ele voltar a ficar vazio. Finalmente, a produção adicional de calor de cada pintinho alimentado também é preocupante, especialmente no caso de transporte aéreo, já que aviões não oferecem o resfriamento extra necessário. Alguns relatórios dos benefícios da alimentação inicial sugeriram que a capacidade imunológica dos pintinhos fica prejudicada quando a alimentação é atrasada. Para verificar essa hipótese, é possível comparar o desempenho de pintinhos avós fornecidos pela Aviagen a granjas do mundo todo. Todas as granjas receberam fornecimento de excelentes bases de produção de avós do Reino Unido e dos Estados Unidos. Dados de desempenho das aves no quesito postura mostram que não há de fato nenhuma relação estatística ou numericamente significativa entre tempo de viagem (e, portanto, o tempo transcorrido entre a eclosão e o acesso ao alimento) e viabilidade ou produção de ovos. Algo interessante é que a eclodibilidade de ovos férteis e a qualidade dos pintinhos nesses sistemas tendem a ser boas, frequentemente melhores que a de ovos do mesmo lote incubados do modo convencional. Em ambos os sistemas que oferecem alimentação inicial, a densidade populacional efetiva dos pintinhos é muito menor que em um nascedouro convencional. É possível que pelo menos algumas das vantagens atribuídas à prática de alimentação e hidratação iniciais ocorram graças a condições ambientais melhores ao nascimento. Ao reavaliarmos os tempos de acondicionamento e viagem, as condições ambientais e o estado nutricional de plantéis de matrizes durante o transporte, nos tranquilizou descobrir que a taxa de uso da gema residual permanece inalterada. As temperaturas-alvo adotadas para caixas também se mantêm ideais, e podemos fornecer pintinhos após viagens de 60 a 72 horas sem elevar a mortalidade aos sete dias, sem prejudicar o desempenho durante a vida nem precisar oferecer alimento e água no incubatório. A Revista do AviSite
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Especial Mulheres do Agronegócio
A FORÇA DA
Mulher
NO AGRONEGÓCIO Para comemorar o mês da mulher, a revista do AviSite dá voz a algumas representantes do setor, que compartilham sua história e brilhante jornada dentro do agronegócio Glaucia Bezerra
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o campo, nas empresas, nos consultórios, pesquisadoras, médicas-veterinárias, agrônomas, zootecnistas, gerentes, são diversas as profissões do agronegócio nas quais as mulheres se destacam. Se houve um tempo em que trabalhar no setor era sinônimo de trabalho masculino, hoje a realidade prova o contrário. Nos últimos anos as mulheres vêm conquistando novos desafios no agronegócio, e ocupam cada vez mais espaços que antes eram exclusivos dos homens, de acordo com pesquisa conjunta entre o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a Embrapa e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de mulheres dirigindo propriedades rurais no Brasil alcançou quase 1 milhão. São 947 mil mulheres responsáveis pela gestão de propriedades rurais, de um universo de 5,07 milhões. A maioria está na região Nordeste (57%), seguida pelo Sudeste (14%), Norte (12%), Sul (11%) e Centro-Oeste, que concentra apenas 6% das mulheres dirigentes. Prova de que ainda existem muitas barreiras para serem vencidas, afinal, de cada 10 cargos de gestão do agronegócio
brasileiro, menos de dois são ocupados por mulheres. Segundo levantamento do IBGE, a participação feminina na administração do agro é de 19%. Em áreas da agropecuária, mulheres são responsáveis por encabeçar a produção de 30 milhões de hectares. O valor corresponde a apenas 8,5% de toda área ocupada por sítios e fazendas no país. Apesar dos avanços, o Brasil é muito grande e tem características regionais próprias, o que reflete na maior ou menor presença da mulher em postos de gestão ou liderança. Por exemplo, no Rio Grande do Sul, na produção de gado de leite, a mulher está presente em 88% das propriedades de pequeno, médio e grande porte. Já na cultura da soja, em Minas Gerais, apenas 2% das propriedades tem uma mulher presente no gerenciamento do negócio, como mostra a 8ª Pesquisa ABMRA de Hábitos do Produtor Rural. Onde quer que esteja atuando, na agricultura ou na pecuária, as mulheres se destacam em sua função. Nessa edição, conversamos com algumas mulheres incríveis, que estão deixando sua marca e contribuindo para a construção de um agro cada vez mais forte.
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Especial Mulheres do Agronegócio
Sandra Barioni Toma
Diretora de P&D e Assuntos Regulatórios da Vaxxinova, Sandra Barioni Toma tem como responsabilidades orientar os investimentos da empresa no desenvolvimento da pesquisa e da ciência veterinária em prol da geração de valor para o cliente. Para a executiva, os grandes desafios da área de P&D sempre serão conseguir transformar a ciência, novas ideias e oportunidades em tempo de atender à necessidade e expectativa do mercado quanto a novas soluções de produtos e tecnologias para saúde animal. “Penso que desafios existem na carreira de todo profissional que segue sua trajetória com vistas à evolução (individual e da instituição que representa), na busca contínua da doação de seu melhor com resultados impactantes e relevantes que façam a diferença no negócio. Colocar em prática suas ideias, mudanças, ser exemplo, entre outros pontos, torna a trajetória repleta de grandes desafios, independentemente do gênero. Já tive desafios por ser mulher em algumas ocasiões, mas certamente como foram vencidos não os considero importantes”.
Isabela de Pádua Barros
O ambiente em que trabalha é extremamente masculino, afirma Isabela de Pádua Barros, ainda mais no território asiático, onde não é comum a participação da mulher no mercado de trabalho. “Representando a ICC, como gerente de vendas em missões comerciais desde 2006, e, ao longo da minha trajetória profissional, meu maior desafio foi superar o meu receio da presença da mulher neste mercado. Com muita coragem encontrei nas minhas virtudes facilidades que só nós mulheres possuímos para lidar com o poder masculino dentro de outras culturas”. Isabela admite que enfrentou dificuldades ao longo da carreira, mas superou os obstáculos e hoje entende que ser mulher só traz benefícios, usando esse fato a seu favor ela encontra caminhos melhores para serem trilhados. “Ser mulher no agro é ser única, porque posso utilizar e explorar as vantagens de ser mulher em um ambiente que é predominantemente masculino. Isso é fantástico, isso é inegável. Ser mulher no agro é certeza de sucesso”.
Sula Alves
A diretora técnica da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Sula Alves, foi reconhecida entre os cinco Zootecnistas Mais Influentes do Ano de 2021 no Brasil. A premiação é feita pela diretoria executiva da Associação Brasileira de Zootecnistas (ABZ). No caso da diretora técnica da ABPA, a ABZ destacou a sua “contribuição na área de bem-estar animal e sustentabilidade na avicultura em nosso país”, e o seu papel de liderança técnica na ABPA e no Conselho Mundial da Avicultura, que “eleva a representatividade da categoria perante o agronegócio”. Sula atua há mais de 10 anos em temas como produção animal, assuntos regulatórios, relações governamentais e sustentabilidade, tendo passagens profissionais pelo setor privado e pela academia, com participações em comitês internacionais de defesa de interesse setorial. Atualmente é diretora Técnica da ABPA e Coordenadora do Grupo de Trabalho em Sustentabilidade do Conselho Mundial de Avicultura (IPC).
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Priscilla Maria Cavalcante Rocha
Médica-veterinária, mestre e Doutora em Ciência Veterinária e aluna de Pós Doutorado, essas são algumas das atribuições de Priscila Rocha, que se orgulha de ser mulher, executiva, estudante e nordestina. “Logo no início da minha carreira sofri preconceito por ser mulher, nordestina e muito jovem. Aconteceu de um cliente ligar para o meu superior na minha frente, perguntando se eu, com todos estes predicados teria competência para auxiliar sanitariamente o plantel de aves dele. Para minha sorte, meu chefe da época, respondeu: ‘Se ela está aí para te atender é porque tem a competência para exercer esta função’”. Priscilla começou a carreira trabalhando em um distribuidor em Pernambuco, atuando na área técnica comercial em alguns estados do Nordeste, com o passar dos anos foi convidada a trabalhar em uma multinacional holandesa com uma função apenas técnica, até chegar à Ceva Saúde Animal, onde exerce a função de gerente Nacional de Vendas Distribuição. “Ao mesmo tempo em que estou na Ceva, mantenho minha vida acadêmica, o que me torna uma profissional mais completa, pois acredito que o estudo deve ser contínuo, devemos sempre estar atualizados”.
Patrícia Andrade Marchizeli
Patrícia Andrade Marchizeli, zootecnista e mestre em Nutrição de Monogástricos, ocupa atualmente, a função de gestora de Serviços Técnicos e Nutricionista Técnico Comercial do setor de Aves da Agroceres Multimix, para ela, ser mulher nunca interferiu no seu crescimento profissional. “Acredito que o maior desafio foi quando tive a oportunidade de trabalhar na área de garantia de qualidade de uma fábrica de rações, onde eu fui a primeira funcionária mulher naquele setor”. Este desafio foi um divisor de águas em sua carreira, pois além de ser a única mulher, estava implantando um novo conceito de produção (ferramentas de gestão de qualidade), no qual foi necessária a mudança de cultura e trabalho de todos os funcionários. “Pensando não só na carreira, mas também na vida pessoal, o fato de ser mulher é um desafio constante, pois precisamos atuar em diferentes áreas como a profissional, a de ser mãe e esposa, ao mesmo tempo. Acredito que a mulher possua diversas qualidades que tornam possível desempenhar todos esses papéis de forma equilibrada e saudável”.
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Especial Mulheres do Agronegócio
Bárbara Vargas
Vinda de uma família de gerações no agro, Bárbara Vargas, zootecnista e Supervisora Regional de Serviços Técnicos da Aviagen, conta que em sua carreira foi colega de trabalho de outras mulheres na mesma função, como também sucessora de outras mulheres incríveis que já haviam rompido algumas barreiras para a sua geração. “Mesmo onde já há sucesso com mulheres, vejo que ainda é necessário comprovar que o trabalho bem sucedido de uma mulher não é sorte de algumas, mas sim, dedicação e consistência de uma profissional, o que não é, ou não deveria ser, diferente de qualquer homem”. “Na área de atuação técnica/comercial, vejo que precisamos provar (muitas vezes, até para nós mesmas) que com dedicação e esforço, é possível, ao mesmo tempo, buscarmos excelência em nossa carreira, bem como nos fazermos presentes em nossos lares, o qual mesmo com a distância na maior parte do tempo, cumprimos nossos papéis de ‘dona do lar’, mãe e esposa. Para que isto aconteça, é preciso disciplina, organização e planejamento semanal, funções que nós como mulheres desempenhamos bem”, salienta.
Kelen Zavarize Quando a zootecnista e gerente de serviços técnicos da Kemin, Kelen Zavarize começou na área havia poucas mulheres no setor. Nos cargos de liderança era extremamente raro ver uma mulher e isso fez a necessidade de qualificação ainda maior. “Apesar de hoje as empresas estarem mudando esse conceito, a mulher ainda tem que estar mais preparada (maior qualificação, entregar mais) para o mesmo cargo que um homem. Para conseguir ter uma carreira percebi que teria que me qualificar mais que os outros. Não foi fácil, principalmente, pois coisas que parecem simples como viver em outra cidade para cursar uma boa graduação, mudar de estado e viajar a trabalho, por exemplo, necessitam de cuidado e atenção maiores no dia a dia pelo simples fato de ser mulher”. Olhando para trás, Kelen tem orgulho da sua carreira no agro, durante sua jornada passou por várias etapas nessa construção, tanto na parte de qualificação como na vivência com pessoas e empresas, que a fez estar preparada para hoje lutar por seus ideais de maneira ética e não aceitar ou ignorar comportamentos sexistas. “Posso falar que a carreira no agronegócio valeu a pena. Hoje consigo trabalhar no que gosto, desenvolver pesquisas, fazer networking, tive a oportunidade de viajar por muitos lugares, conhecendo culturas diferentes. Além disso, a carreira no agro me fez ser uma mulher independente, tanto no pessoal quanto no financeiro, me permitindo realizar os meus sonhos’.
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Ponto-Final
Aumento dos casos de Influenza Aviária no mundo torna os cuidados com biosseguridade cada dia mais necessários Luiz Eduardo Conte Médico-veterinário e especialista em Saúde Animal
Luiz Eduardo Conte
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os últimos anos foi possível observar no sistema de produção intensivo de proteína animal, no Brasil e no mundo, um aumento significativo das pressões nos aspectos e desafios sanitários. Como exemplo, temos os últimos casos de Influenza aviária (IA) na Ásia, Europa e, mais recentemente, nos Estados Unidos da América, que estão preocupando o mundo. A Influenza Aviária, em função principalmente da movimentação das aves migratórias da Ásia, assim como dos indivíduos de uma região a outra, causou um risco pandêmico para o mundo, motivo pelo qual as autoridades sanitárias de produção animal adotaram medidas mais rigorosas para controle de pessoas e programas de isolamento. Nesse sentido, o Brasil ganhou destaque. Isso porque, desde o surgimento do primeiro quadro até hoje, o Brasil não registrou nenhuma incidência da enfermidade, evidenciando a qualidade do sistema de controle de produção e das medidas de biosseguridade e segurança adotadas no país. Independente do desafio sanitário, o controle do programa de biosseguridade é feito de acordo com a tendência atual do mercado. Por exemplo, o Brasil, um grande exportador de proteína animal, segue principalmente a legislação do mercado Europeu, onde as normas de produção e controle de aditivos, com foco em qualidade, programas de melhorias de trabalho, bem-estar animal e ambiência, buscam oferecer ao consumidor
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final uma qualidade de proteína com custos competitivos e isentos de contaminantes e micro-organismos, assim como um melhor resultado econômico. Nesse sentido, a avicultura brasileira cresceu e deve continuar crescendo, não só como um grande produtor global, mas principalmente como um país referência na exportação de carne segura para diversos países do mundo. Parte do sucesso desse trabalho está relacionado aos protocolos de controle de biosseguridade e biossegurança estabelecidos no Brasil. Biosseguridade no sistema de produção A biosseguridade engloba tudo o que é desenvolvido em termos de produção animal e vegetal para minimizar os riscos da entrada de patógenos no sistema produtivo. Esse sistema de controle com programas de biosseguridade traz normas mais flexíveis e tem a premissa de melhorar a saúde animal e das plantas, assumindo alguns riscos no sistema de produção. O programa de biosseguridade se caracteriza por um conjunto de regras de manejo, protocolos e procedimentos que são destinados à redução de risco de entrada ou à disseminação de doenças. Em produção animal, ele visa uma melhor eficiência na produção, com uma redução de riscos e melhora nos custos de produção. Criar barreiras protetivas para a produção animal é o foco de um programa de biosseguridade, a avicultura de corte brasileira é hoje referência em programas dessa categoria.
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