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Novos padrões para animais de produção trazem benefícios econômicos e melhoras para o bem-estar

Os padrões auxiliam instituições financeiras a estabelecerem objetivos mensuráveis e ambiciosos focados no bem-estar animal Novos padrões para animais de produção trazem benefícios econômicos e melhoras para o bem-estar animal

Novos padrões de bem-estar de animais de produção, conhecidos como Padrões Mínimos de Responsabili dade Para Animais de Produção, ou FARMS Initiative (em inglês Farm Animal Responsible Minimum Stan dards), já estão começando a influenciar a forma com que grandes corporações globais fazem seus negócios. Desenvolvidos em julho de 2019 pe las ONGs Humane Society International, Compassion in World Farming e World Animal Protection, os padrões da FARMS Initiative forne cem uma estrutura inovadora para as instituições financeiras considerarem o bem-estar animal quando da análi se de projetos ligados à agropecuária. A FARMS Initiative conta com cinco conjuntos de padrões - “Pa drões Mínimos de Responsabilidade (RMS)” - abordando o bem-estar ani mal de bovinos de corte e leite, suínos, frangos e galinhas poedeiras. Os padrões são baseados em vários prin cípios globais e refletem a contribuição das organizações de bem-estar animal e certificação que trabalham mundialmente no avanço dos cuida dos, da saúde e das necessidades comportamentais dos animais de produção.

Em setembro de 2019, o RMS foi incluído como um recurso central no

18 Revista do Ovo Documento de Orientação Bancária Responsável dos Princípios da Inicia tiva Financeira do Programa Ambiental das Nações Unidas (United Nations Environmental Programme Finance Initiative’s Principles for Responsible Banking Guidance Document, em inglês – UNEP FI). Os membros da UNEP FI representam um terço do total de ativos bancários do mundo.

Na América Latina, os padrões fo ram discutidos publicamente pela primeira vez durante o Simpósio In ternacional Sobre Bem-estar Animal: uma estratégia de negócio sustentá vel, realizado em São Paulo no final do ano passado.

De acordo com o Dr. Dirk Jan Ver donk, da organização Proteção Animal Mundial, “bancos e investidores estão particularmente interessados em aprender mais sobre nossos pa drões, porque maiores níveis de bem- -estar animal podem trazer benefícios econômicos, incluindo o aumento na produtividade, a redução dos custos veterinários e diminuição da mortalidade, redução de doenças in fecciosas que podem causar grandes perdas financeiras, além de menos estresse para o animal antes e duran te o abate. Tornamos o RMS conciso, com uma a duas páginas cada, para que as instituições financeiras pos sam revisar e entender com mais facilidade a importância dos principais problemas ao conversarem com em presas de alimentos sobre o bem-estar animal.”

Em vários países onde as três or ganizações criadoras da iniciativa atuam, já há exemplos de bancos que introduziram programas para ofere cem melhores taxas de juros aos produtores que atendem na totalidade ou em parte os requisitos da RMS; e se comprometeram a interromper o financiamento de sistemas de gaiolas para galinhas poedeiras e de celas de gestação para matrizes suínas.

Houve um aumento significativo na conscientização dos consumido res no Brasil sobre o bem-estar animal, e “bancos e investidores estão entendendo o quanto é importante procurar oportunidades para incenti var as empresas e produtores a melhorar e evitar os riscos potenciais dos que não o fazem”, aponta Caroli na Maciel, Diretora da Humane Society International no Brasil.

Darren Vanstone, diretor de enga jamento e políticas corporativas da Chronos Sustainability, enfatiza a importância do bem-estar dos ani mais de produção como uma parte essencial dos negócios e uma oportu nidade de ganho para empresas de alimentos e instituições financeiras.

"O BBFAW analisa as informações públicas disponíveis, porque isso apoia nosso objetivo de melhorar a transparência corporativa e gerar re latórios sobre o bem-estar dos animais de produção", disse Vanstone. “O relatório de 2018 avalia as aborda gens de bem-estar animal das empresas globais de alimentos em quatro pilares: compromisso e política de gerenciamento, governança e geren ciamento, liderança e inovação, e relatórios e impacto de desempenho. Estamos interessados em entender como uma empresa alinha sua abor dagem de bem-estar animal com seus valores corporativos e como essa abordagem é implementada em dife rentes espécies e localidades. Observamos uma melhoria notável no desempenho corporativo em bem-estar animal desde nossa primeira avalia ção em 2012,” completa Vanstone.

O bem-estar animal é um tema crescente que aponta para a necessi dade de repensar os sistemas atuais de produção dos alimentos de origem animal. Modelos de negócios eficazes e sustentáveis consideram um equilí brio entre desempenho ambiental, social e econômico, uma abordagem conhecida como "triple bottom line". Como explica o professor e dou tor em administração e finanças da Universidade Federal do Rio de Janei ro e especialista em sustentabilidade e finanças, Celso Funcia Lemme, “Es ses três pontos não são conflitantes, mas sim aliados. Não é preciso esco lher um ou outro, mas sim combinar os três, levando a modelos empresa riais ambientalmente mais equilibrados, socialmente mais justos e economicamente mais eficientes. A lógica do bem-estar animal, que é o foco central da FARMS, está dentro dos novos modelos de negócios que con sideram o equilíbrio entre a questão ambiental, social e econômica. O de safio para as empresas e instituições será desenvolver uma produção que diminua o desperdício - já que hoje se joga fora um terço da produção mundial de alimentos – e desenvol ver uma prática mais inteligente e acessível, que contemple o bem-estar animal”.

Livres de gaiolas, galinhas poedeiras do Amazonas ouvem forró e música ‘brega’

Tida como uma das diretrizes mais modernas em relação ao trato de animais de criação e cada vez mais aceita e valorizada pelos con sumidores, especialmente os de fora do país, as boas práticas de bem-es tar animal estão se consolidando na agricultura familiar brasileira. Para os produtores, o cuidado com a qualidade de vida dos animais sig nifica abrir (ou garantir) mercados e obter um lucro maior no final do mês.

Na Comunidade de São Francis co do Caramuri, zona rural de Manaus (AM), onde vivem 180 famí

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Os padrões da FARMS Initiative fornecem uma estrutura inovadora para as instituições financeiras considerarem o bem-estar animal quando da análise de projetos ligados à agropecuária

20 Revista do Ovo lias de produtores rurais, muitos avicultores já adotam práticas de bem-estar animal, e têm notado uma boa diferença com isso. “A pri meira coisa que eu notei foi nas aves mesmo. Na gaiola elas ficam muito abatidas, estressadas, e tem diferença de tamanho dos animais também. A produtividade é quase igual, mas a galinha criada solta tem mais tempo de vida, ou seja, vai produzir por mais tempo”, compara Luciano da Silva Gomes, que junto com a esposa, Eriana de Queiroz Chagas Gomes, cria mil galinhas poedeiras – 600 delas em sistema semiconfinado.

Luciano está aos poucos transi tando do sistema fechado (criação em gaiolas) para o sistema semicon finado, onde as aves ficam em um galpão e podem ciscar livremente. O produtor explica que o ovo das poedeiras criadas soltas tem tido a preferência dos consumidores lo cais, pois é mais vermelho e tem maior durabilidade. “Ele tem muita aceitação em Rio Preto da Eva (cida de do entorno de Manaus) porque parece um ovo caipira”, diz.

E não faltam mimos para as ga linhas do casal. Até música elas ouvem: de forró a sertanejo e do bolero à “sofrência” da música brega – um ícone da Região Norte do país. “Com algumas galinhas, quando a gente tirava a música, caia a produção de ovos”, diverte - -se Luciano, que encosta a caminhonete ao lado do galinheiro e liga o som em alto e bom volume para satisfazer os ouvidos não muito exigentes das galinhas.

Além da música, o trato com as aves também requer cuidados com a alimentação, que além do milho in clui folhas de bananeira e água limpa que é trocada com frequência. Segundo Jeam Matos Melo, técnico agropecuário do Instituto de Desen volvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam), cada vez mais pessoas nas cidades estão buscando produ tos ecologicamente corretos e que respeitem o bem-estar animal. “Existe uma normativa do Ministé rio da Agricultura em relação a isso. A gente já está recomendando aos produtores que migrem para o siste ma de criação solto. O custo de produção vai diminuir em relação ao sistema confinado, além de ser mais prático e mais próximo à realidade do produtor.”

E os planos de Luciano e Eriana não param por aí. Na área de 20 hectares onde eles moram e onde ficam os dois galpões das galinhas o casal começou uma lavoura de hor taliças, aproveitando o esterco das galináceas como adubo. Outra ideia é criar gado de corte em uma área de pastagem também adubada com o insumo vindo do aviário. Com is so, a propriedade poderia diversificar as atividades, incrementando ainda mais a renda.

Polo avicultor

Atualmente, o Amazonas é o quinto maior polo de avicultura do Brasil, apesar de que o Código Flo restal determina que o produtor deve preservar 80% da área no bioma Amazônico, o que parece não atra palhar as atividades produtivas. “Aqui no Amazonas se produz mui to. No entanto, ainda somos importadores de alimentos. Mas no caso da avicultura, temos um plantel de aves de postura com bastante tecni ficação, abastecendo os dois milhões de manauaras que vivem na capital e há uma expansão no inte rior de estado”, afirma o secretário de Produção Rural do Amazonas, Petrucio Júnior.

De acordo com o secretário, a in tenção do governo do estado é diversificar as matrizes econômicas do Amazonas, que não pode depen der, segundo ele, apenas do polo industrial de Manaus. “É importante diversificar as matrizes econômicas, interiorizando o desenvolvimento. Porque há uma desigualdade muito grande entre a capital e o interior. Temos uma preservação de 97% das nossas florestas, mas um desafio muito grande de reduzir a pobreza. Lamentavelmente, 49,2% da popu lação do Amazonas vive na linha da pobreza”, observa.

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