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Imunocomplexo natural, a novíssima geração de vacinas contra Gumboro

Apesar de existirem diversos fatores que influenciam o desempenho das aves, a proteção adequada, permite que todo seu potencial genético seja explorado e isto acaba se refletindo nos bons resultados zootécnicos

Quando o assunto é Doença de Gumboro, o tema é sempre atual, pois, sem dúvidas, uma das mais importantes e prevalentes na avi cultura brasileira, responsável por grandes perdas na indústria avícola mundial. Apesar de ter sido descri ta pela primeira vez na década de 60, até os dias de hoje, a Doença de Gumboro, é um dos principais mo tivos de pesquisas relacionadas a prevenção e controle de doenças

das aves, em especial as vacinas, que buscam sempre uma maior efi ciência na proteção contra o vírus da doença de Gumboro (IBDV), de modo a preservar a tecido linfoide da bursa, estimular a imunidade ativa e minimizar os efeitos dos an ticorpos maternos visto que estes acabam por inativar as vacinas vi vas convencionais.

Mesmo após tantos anos, pes quisadores continuam investindo recursos técnicos e econômicos pa

Autora: Eva Hunka – Med. Vet., MSc Medicina Veterinária Preventiva, Gerente de Negócios Biológicos da Phibro Saúde Animal

ra sua prevenção e controle. Isso porque o vírus acomete um impor tante órgão linfoide primário, a Bolsa de Fabricius, e sua infecção compromete a resposta imune me diada pelos linfócitos B e produção de anticorpos.

Após infectadas pelo IBDV, as aves tendem a desenvolver algum grau de Imunossupressão que pode ser temporário ou permanente, de vido a disfunção da resposta imune, levando ao aumento da suscetibilidade a doenças. A redução na capacidade imunológica pode ser leve, sem quaisquer problemas ad juntos de maior suscetibilidade a doenças, mas também estas aves podem responder de forma defi ciente às vacinações contra outros agentes infecciosos e ficam mais susceptíveis a outras doenças, prin cipalmente as de alta morbidade, comum a alguns vírus respirató rios, como Bronquite Infecciosa, por exemplo, que costuma vir acompanhada por infecções secun dária como a E. coli. Isso se reflete nos resultados zootécnicos que re sultam em perdas econômicas.

Dentre as causas de imunossu pressão, podemos encontrar as infecciosas e as não infecciosas, que podem resultar no mesmo quadro clínico. Encontrar a causa real,

portanto, é muito importante para a ação corretiva e/ou preventiva. O mecanismo que leva à imunossu pressão acontece tanto por dano direto ao sistema imunológico, co mo é o caso da Doença de Gumboro, ou indiretamente pela exposição a longo prazo a estressores imunossupressores ou ambos.

Por ser uma doença viral imu nossupressora clássica, a Doença de Gumboro (IBD) pode servir para ilustrar os complexos mecanismos envolvidos na doença em aves jo vens. Em pintos de um dia, a Bursa de Fabricius (BF) é de grande im portância como fonte de linfócitos B. Estes linfócitos são necessários para produzir imunoglobulinas IgM, IgA e IgY. Se a Bursa está com prometida, como acontece na IBD, linfócitos B imaturos são atacados pelo vírus, resultando em sua des truição e deixando a ave mais susceptível a patógenos virais e bacterianos. Se as células B estiverem completamente esgotadas, a ave não será capaz de gerar adequada mente uma resposta de anticorpos a um novo patógeno, incluindo ce pas vacinais e, nesse caso, a situação se deteriorará para um estado semelhante à imunodeficiência.

O IBDV não ataca células B dife renciadas e, portanto, não impede respostas imunológicas em anda mento. Embora a principal afinidade do vírus da Doença de Gumboro seja por células B, as células T cito tóxicas (CD4 + e CD8 +) aparecem na bursa após a infecção e também são atacadas. Além disso, o Timo está completamente esvaziado de células T e inicia a regeneração nas aves sobreviventes nos primeiros 7 dias após uma infecção muito viru lenta do vírus da Doença de Gumboro (vvIBDV). As células T secretam várias citocinas envolvidas no mecanismo imunológico (IL1, IL6, IL8, IL18 e Cox2 pró-inflamatória). Células T e macrófagos são ataca dos pelo vírus da IBD e diminuem em números durante a doença. Em poucos dias pós infecção por uma cepa muito virulenta, to do o sistema imune de uma ave jovem pode entrar em colapso. Nesses casos, estas podem ficar doentes devido a bactérias oportunistas e saprófitas, que normalmente são inofensivas para frangos saudáveis. Em aves sensíveis, o vvIBDV irá causar alta mortalidade direta e su primir a capacidade da ave de desenvolver uma boa imunidade após a vacinação, tornando-os mais sus cetíveis a infecções secundárias e maior mortalidade.

A imunidade passiva tem um papel primordial na proteção das infecções precoces pelo IBDV nos primeiros dias da ave. Por isso o cuidado com o programa vacinal das matrizes vai nos assegurar um bom nível de anticorpos maternos

Por ser uma doença viral imunossupressora clássica, a Doença de Gumboro (IBD) pode servir para ilustrar os complexos mecanismos envolvidos na doença em aves jovens

Os novos equipamentos de vacinação nos permitem um maior controle de todo processo vacinal injetável na granja

ao nascimento. Neste ponto, é bom lembrar que estes cuidados vão além da escolha da vacina, e estão muito relacionados à qualidade da aplicação, visto que a vacinação nestas aves é totalmente dependen te do fator humano e passível a erros importantes como subdosagem, erros do local da aplicação e até mesmo vacinação feita a partir de frascos vazios, e tem como conse quência uma imunidade baixa e desuniformidade nos títulos de an ticorpos que serão transferidos para a progênie.

Atualmente, com o uso da “in ternet das coisas” e explorando os conceitos da Avicultura 4.0, os no vos equipamentos de vacinação, nos permitem um maior controle de todo processo vacinal injetável na granja, em tempo real, ou mes mo na tomada de decisões mais estratégicas baseada na coleta personalizada de dados.

Voltando à imunidade passiva, esta pode interferir no desenvolvi mento da imunidade ativa, já que devemos vacinar as aves jovens le vando em consideração os diferentes fatores para determinar o melhor momento da aplicação. Estes fatores são: Quantidade e velocida de de queda dos níveis de anticorpos, uniformidade do lote, desafio de campo, via de administração e tipo de vacina. Este tipo de prote ção é muito importante nas enfermidades de Gumboro, NewCastle, Reovirus e Anemia Infecciosa.

Quando falamos em combate à Doença de Gumboro, o melhor ca minho é a prevenção por meio da vacinação aliado a um programa de biossegurança robusto. As empre sas têm um objetivo claro de tornar os programas de vacinação cada vez mais simples, porém têm o de safio de mantê-los eficientes e seguros, mesmo quando acontecem apenas no incubatório, com uma única dose.

No caso de proteção contra o IBDV, precisamos lembrar que não se tratar apenas evitar a forma clí nica da doença, mas também precisamos atentar contra o quadro de imunossupressão que pode vir da forma subclínica da doença, ou mesmo de algumas cepas vacinais. A escolha da cepa adequado para cada desafio, que seja forte o sufi ciente para combater as cepas muito virulentas e segura a ponto de não afetar o sistema imune da ave, é primordial para o sucesso do pro grama vacinal.

Programas com vacinas vivas, além de conferir uma resposta imune mais completa, pois se trata de um vírus integro e com diferen tes proteínas capazes de estimular o sistema imunológico da ave, ain da tem um importante papel na colonização / vacinação do ambiente, o que reduz significativamente a carga viral da cepa de campo. A Phibro trouxe para o Brasil a MB-1, primeira vacina viva, capaz de formar um imunocomplexo na tural com os anticorpos maternos e que pode ser utilizada com segu rança em frangos de corte, matrizes e poedeiras comerciais, com uma única dose no incubatório. A MB-1 é uma vacina de vírus livre que se adaptada à cinética dos anticorpos maternos e que atua de

Figura 1. Soroconversão para IBD – ELISA (IDEXX) (Adaptado de Ashash, et al; 2019)

maneira diferenciada em cada indivíduo, esta característica diminui a janela de vulnerabilidade imunoló gica, pois se utiliza dos anticorpos maternos para formar os imuno complexos naturalmente, e com isso temos uma proteção precoce, e uma soro conversão até 4 dias antes das vacinas de imunocomplexo ar tificiais. (Ashash, et al, 2019)

O imunocomplexo natural, for mado com a MB-1, se adapta naturalmente ao nível de anticorpos maternos, e por isso, o equilíbrio entre antígeno e anticorpo é perfei to, pois não existe anticorpo “artificial” provocando um desbalanço na relação entre eles. Além disto, esta cepa, está classificada no gru po molecular 11 (G11) que possui uma alta invasividade e capacidade de disseminação lateral, e seu uso estratégico na granja, promove uma renovação na população viral do ambiente, ajudando a controlar o alto desafio de campo. Este meca nismo diferenciado, além da resposta sorológica precoce, também permite a chegada mais rápida do vírus vacinal à Bolsa de Fabricius.

Estudos mostram que aos 28 dias de idade, a vacina de imuno complexo natural (vírus livre) foi identificada em 100% das amos tras, seguido de identificações positivas em uma porcentagem igual (100%) até 40 dias de idade. En quanto que a cepa da vacina imunocomplexo “artificial” foi identificada aos 28 dias de idade em apenas 33% das amostras, e, a partir dos 32 dias em 100% delas, porém no 40º dia, este número caiu para 83,33%. (Ashash, et al; 2019)

Tabela 1. Presença do vírus va cinal na Bursa - PCR em amostras de Bursa - % de positivos para cada tipo de vacina (Adaptado de Ashash, et al; 2019)

O mesmo comportamento foi ob servado na sorologia onde o grupo que recebeu a vacina de imuncom plexo natural (vírus livre), teve uma soroconversão 4 dias antes, quando comparado à vacina de imuncomple xo “artificial (Figura 1).

Apesar de existirem diversos fato res que influenciam o desempenho das aves, a proteção adequada, per mite que todo seu potencial genético seja explorado e isto acaba se refletin do nos bons resultados zootécnicos. Embora este não deva ser um argu mento para a escolha do programa vacinal, os índices zootécnicos são bons parâmetros para avaliar se o programa vacinal está adequado para a realidade da sua integração. Um programa vacinal deve sempre ser uma decisão estratégica, baseada nos desafios e condições epidemiológicas de cada granja. A MB-1 é uma vacina viva de vírus livre, que forma imuno complexo natural, que se adaptada a cinética dos anticorpos maternos é uma solução única, com um meca nismo de ação diferenciado, que promove uma imunidade precoce e colonização rápida da Bursa de Fabricius com a praticidade da aplicação ainda no incubatório.

Bibliografia consultada - Ashash, U. et al., In Ovo and Day of Hatch Application of a Live Infec tious Bursal Disease Virus Vaccine to Commercial Broilers. AVIAN DISEA SES 63:713–720, 2019

Tifo aviária: importância na avicultura e formas de prevenção

Para a postura comercial esse agente representa grandes prejuízos econômicos, com altas taxas de morbidade e mortalidade

Autores: Gustavo Schaefer, Gerente Técnico Avicultura do Laboratório Biovet Jeniffer Ferreira Godinho Pimenta, Assistente Técnica de postura do Biovet Vaxxinova

ASalmonella enterica subs enterica, sorovar Gallina rum biovar Gallinarum (SG) é o agente do tifo aviário. As galinhas são os hospe deiros naturais do agente etiológico do tifo aviário. A primeira descrição desta enfermidade ocorreu na In glaterra, no final do século XIX, e desde então tem sido identificada nas mais diversas regiões que pos suem produção avícola ao redor do mundo. No Brasil tem sido diagnos ticada em áreas de exploração de aves de postura comercial, mas tam bém pode ocorrer em aves reprodutoras (para corte e postura).

Para a postura comercial esse agente representa grandes prejuízos econômicos, com altas taxas de morbidade e mortalidade. Embora seja mais comumente descrito em aves adultas, o tifo aviário pode acometer aves de qualquer idade. Quando a enfermidade acomete aves jovens, se confunde com a pu lorose, sendo diferenciado somente após o isolamento e identificação do agente.

Segundo a literatura especializa da, a transmissão de SG pode ocorrer por diversas vias, incluindo a via vertical, a qual parece-nos pou co provável, e a transmissão horizontal, com o contato entre ave sadia, ave doente e ave morta na granja são fatores que favorecem a disseminação do tifo aviário. A carcaça de aves que morreram acometidas pela Tifo aviária, se tornam um dos principais disseminadores da bacté ria para o ambiente.

As manifestações clínicas, geral mente, são observadas nas aves em fase de produção. As aves ficam quietas, prostradas, deitam-se, não comem, apresentam diarreia amare lo-esverdeada a esverdeada, observa-se queda de postura e em poucos dias podem chegar ao óbito. O cur so da doença é de 5-7 dias, mas pode ser mais longo, no qual o quadro de mortalidade começa baixo e vai aumentando significantemente com aumento da excreção da bacté ria no ambiente.

Por ser uma enfermidade com características de septicemia e toxe mia, na necropsia das aves com tifo aviário observa-se congestão dos ór gãos internos e anemia provocada pela destruição de hemácias pelo sistema retículo-endotelial. Nos quadros agudos, as alterações mais comumente encontradas são o au mento do fígado e baço. Muitas vezes ocorre a mudança de coloração para tons esverdeados, amarelo-es verdeado a bronzeado, com presença de pontos necróticos (esbranquiçados) e hemorrágicos. Nos casos em que o curso da enfermidade é mais longo pode se observar hidro pericardio e a presença de processos inflamatórios formando nódulos esbranquiçados, semelhantes aos descritos na pulorose, em coração, baço, pulmões, moela, pâncreas, duodeno e cecos.

O diagnóstico do tifo aviário é feito com base nos achados clínico, anátomo-patológicos e exames la boratoriais. Assim como S. Pullorum (SP), não possui flagelo, ambas são indistinguíveis na sorologia bá sica para identificação do sorotipo (O: 1,9,12). Os resultados são passí veis de confusão com aves infectadas por SP ou por outra salmonela que possua antígenos em comum, como aquelas do grupo D. O diag nóstico definitivo compreende o isolamento e a identificação do agente.

Uma vez que a enfermidade é mais comum em aves adultas, e que a mortalidade pode persistir por pe ríodos prolongados, é preciso tomar cuidado no tratamento com antibi óticos contra o tifo aviário. É necessário levar em consideração que a SG persiste em aves tratadas que não apresentam sintomatologia e pode acabar por prolongar o estado de portador da enfermidade e não

eliminar a bactéria do ambiente.

A biosseguridade é um grande aliado da prevenção e do controle de um surto do tifo aviário. Os pro gramas direcionados à prevenção utilizam ferramentas de segregação, limpeza, higienização e desinfecção dos fômites como um pilar reforça do do manejo. Adicionados ao controle de entrada de veículos e pessoas na propriedade, monitoramento integrado de pragas, direcionamen to correto das excretas e camas para locais de tratamento como compos teiras e esterqueiras, criações de idades únicas ou próximas dentro dos galpões e o treinamento dos co laboradores para as medidas higiênico sanitárias da granja.

As principais práticas de biosse guridade baseiam-se nos princípios de menor disseminação possível da bactéria dentro do ambiente, sendo alguns: 1. Restrição de entrada e mu danças de fluxo de acesso dos galpões. Orienta-se entrar primeiro nos lotes saudáveis e posteriormen te nos locais acometidos pelo tifo aviário; 2. Implementação de medidas que reforcem a desinfecção do indi víduo na entrada e saída de um galpão acometido pela enfermidade. Como colocação de barreiras sani tárias reforçadas com álcool gel e desinfetantes para mãos e utiliza ção de desinfetantes para as solas dos sapatos; 3. Em galpões californianos, é fundamental não ter acúmulo de água no esterco que se encontra abaixo da gaiola. Realizar manejos como correção de bebedouros que vazam e revolvimento com material seco sob as excretas auxiliam na menor umidade e baixo índice de proliferação de moscas; 4. Nas granjas com galpões pi ramidais suspensos, evitar o acesso as excretas dos animais e em segui da entrar em contato com as aves; 5. Nos galpões verticais, reali zar a coleta de esterco com maior frequência; 6. Caso sejam aves soltas, reti rar pontos úmidos de cama e segregar as aves apáticas; 7. Em qualquer sistema de produção, é de extrema importân cia retirar com maior frequência as aves mortas do galpão, de preferên cia o maior número de vezes possível no dia. Isso evita a disseminação da bactéria no ambiente e para as demais aves. 8. O uso de baldes com tam pas ou sacos plásticos auxiliam a vedar as carcaças até sua retirada do galpão.

A biosseguridade é um grande aliado da prevenção e do controle de um surto do tifo aviário

Figura 1. Sobrevivência de aves vacinadas com bacterina de Salmonella Gallinarum e não vacinadas, após o desafio por cepa patogênica de SG (Khatun et al., 2012)

O uso de vacinas vivas compostas da estirpe rugosa da SG 9R já é uma prática mundialmente utilizada dentro da avicultura de postura comercial

9. Realização de um bom manejo integrado de pragas. Moscas e ratos são vetores da Salmonella e podem disseminar a contaminação dos galpões que contenham o desa fio sanitário; 10. Análises dos índices zoo técnicos, necropsia da mortalidade, exames laboratoriais e monitora mento dos parâmetros de consumo de água e ração auxiliam na identi ficação e atuação corretiva com maior precisão nos lotes acometidos pelo tifo aviário.

Uma ferramenta biológica favo rável ao controle do tifo aviário é a vacinação, fazendo o uso de vacinas vivas e as inativadas (bacterinas). A proteção vacinal contra Salmonella é caracterizada pela redução da car ga bacteriana nas fezes ou nos órgãos (tais como: baço, fígado e ceco), rapidamente após a infecção pelo patógeno. Quando a imunida de conferida pela vacinação é eficiente, ocorre o controle da multiplicação bacteriana no organismo animal, sistemicamente, de forma que os animais não demonstrem si nais clínicos relacionados à infecção, bem como, reduzem a eliminação e disseminação do patógeno para o ambiente, pelas fezes ou car caças de animais mortos. A proteção vacinal desencadeada contra estes microrganismos depende de diferentes mecanismos da resposta imune mediada por células (respos ta imune celular) e de anticorpos (resposta imune humoral).

O uso de vacinas vivas compos tas da estirpe rugosa da SG 9R já é uma prática mundialmente utiliza da dentro da avicultura de postura comercial. Por sua vez, o uso conco mitante de uma vacina inativada traz o benefício de proporcionar uma imunidade eficaz e prolonga da, conferindo imunidade as aves para o controle da enfermidade do tifo aviário. O sistema imune das aves frente a uma vacina inativada irá estimular a resposta imune adaptativa que é caracterizada por três atributos básicos: reconheci mento, especificidade e memória. Nesse sentido, as bactérias inativa das são identificadas pelo sistema imune como organismos exógenos e irão ser mediadas pelos linfócitos auxiliares, que ao se ligarem aos linfócitos B estimulam a sua dife renciação em plasmócitos secretores de anticorpos, desencadeando uma resposta imune humoral. Esse processo leva de cinco a 14 dias pa ra acontecer. Porém, em exposição subsequente, há ativação dos linfó citos B de memória, e a resposta imune secundária de anticorpos IgG atinge o pico de produção em torno de três dias. A primeira dose apenas sensibiliza o organismo; en quanto a segunda e/ou terceira desenvolvem uma resposta imune adaptativa mais rápida e efetiva, com alto título de anticorpos e ati vação de linfócitos T. O diferencial de uma vacina inativada no orga nismo juntamente com seu adjuvante é uma estimulação de resposta imune mista, com envolvimento tanto da resposta humoral quanto celular e propiciar que os antígenos que seriam rapidamente degrada dos, consigam permanecer dentro do organismo por muito mais tem po, favorecendo ao manejo de vacinação das aves na idade de recria e garantindo uma proteção prolonga da e rápida frente ao desafio na fase de produção.

Bacterinas contra Salmonella Gallinarum demonstraram alta efi cácia no controle da mortalidade causada pelo quadro do tifo aviário em trabalhos publicados já na déca da de 80, em que a administração de uma bacterina contra SG obteve 100% de proteção em aves desafia das com SG, desde que estas fossem aplicadas com adjuvantes oleosos (Bouzoubaa et al. 1987). Em estudos mais recente, Won et al. (2016) ava liaram um preparo vacinal, contendo LPS de Salmonella Gallinarum em um experimento mais longo, e relatam que a melhor proteção foi obtida com duas doses da vacinação via intramuscular.

Khatun et al. (2012) avaliaram a eficácia de uma vacina inativada de Salmonella Gallinarum em que as aves foram vacinadas com 8 sema

nas de vida e receberam a dose booster com 12 semanas de vida. Após duas semanas (14 semanas de vida) cada ave recebeu um alto de safio da cepa patogênica de Salmonella Gallinarum, no entanto os autores relatam proteção em 100% das aves vacinadas, enquanto ape nas 10% das aves não vacinadas sobreviveram em 5 dias após o desafio (Figura 1). Todas as aves vacinadas demonstraram soroconversão e fo ram positivas sorologicamente com anticorpos anti-SG aos 10, 12, 14 e 16 semanas de vida.

Os anticorpos são ferramentas de grande relevância na proteção a longo prazo, principalmente no contexto de aves de vida longa, uma vez que os linfócitos B de memória, são viáveis por longos períodos na vida da ave. A proteção contra a ocorrência de tifo aviário em aves de vida longa, protegendo princi palmente na fase produção, pode ser comprovada com o uso conco mitante de vacinas vivas e inativadas. É importante que as aves te

nham seu sistema imunológico preparado na fase de recria, e caso o plantel seja desafiado por uma alta pressão de infecção na fase de pro dução, elas possam responder de forma imediata, anulando os im pactos negativos que o Tifo Aviário possa ocasionar no plantel.

Referências Bibliográficas 1- Berchieri Júnior, a.; Freitas Neto, o. C salmoneloses aviárias. In: Berchieri júnior, A. et al. (Ed.). Doenças das aves. 3 ed. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tec nologia Avícolas. p. 491-518, 2020. 2- Bouzoubaa, K.; Nagaraja, K. V.; Newman, J. A.; Pomeroy, B. S. Use of membrane proteins from Sal monella Gallinarum for prevention of fowl typhoid infection in chi ckens. Avian Diseases, v. 31, n. 4, p. 699-704, 1987. 3- Chagas et al. Vacinas e suas reações adversas: Revisão (v.13) p.1- 14, Pubvet, 2019. 4- López-Macías, C., Cunnin gham, A., eds. How Salmonella Infection Can Inform on Mechanisms of Immune Function and Homeos tasis. Lausanne: Frontiers Media. doi: 10.3389/978-2-88919-799-6, 2016. 5- Won, G; Chaudhari, AA; Lee, JH. Protective efficacy and im mune responses by homologous prime-booster immunizations of a novel inactivated Salmonella Galli narum vaccine candidate. Clinical Experimental Vaccine Research, 5(2):148-58, 2016. 6- Khatun, R; Parvez, Ma; Hossain, Mg; Saha, S; Amin, MM. Investigation on the efficacy of Sal monella Gallinarum killed vaccine. Bangladesh Journal of Veterinary Medicine, 10(1&2):41-49, 2012. 7- Penha Filho, RAC; Acelas - -Diaz, SJ; Medina, TS; Chang, YF; Da Silva, JS; Berchieri JR, A. Evalua tion of Protective Immune Response Against Fowl Typhoid in Chickens Vaccinated With the Attenuated Strain Salmonella Gallinarum ΔcobSΔcbiA. Research in Veterinary Sciences, 107:220-227, 2016.

Probióticos e seus efeitos na postura comercial

A ave precisa do trato gastrointestinal saudável e a microbiota equilibrada, fatores que influenciam diretamente na saúde intestinal e bem estar da ave

Aavicultura é um setor vital para produção nacional e mundial de alimentos. Além da geração de empre gos em massa, fornece alimento para o Brasil e o mundo. A exemplo disso está a postura comercial, que aumen tou a produção em 3,9% no primeiro trimestre do ano corrente em relação ao primeiro trimestre do ano passado, de acordo com os dados preliminares divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020). A tendência de aumento na produção segue a demanda do consumidor que finalizou o ano de 2019 com consumo per capita de 230 ovos, 8,4% maior em relação ao 2018 (ABPA, 2020).

Para atender a demanda do mer cado consumidor é necessário produzir mais e com qualidade, e para que isto ocorra precisamos que a ave de postura esteja bem estrutu rada, com uniformidade, receba uma dieta balanceada, tenha capa cidade de ingestão e transformação desse alimento, que ocorre em um trato digestivo relativamente curto e com trânsito rápido, podendo re sultar em digestão e absorção incompleta dos nutrientes (Fathi et al., 2018). Fatores de manejo, danos a mucosa intestinal e imunossu pressão causada pelo estresse também podem contribuir para infecções no trato reprodutivo e gastrointestinal, alteração da microbiota e aumento da suscetibilidade a patógenos (Upadhaya et al., 2019). Neste contexto, fundamental mente a ave precisa do trato gastrointestinal saudável e a microbiota equilibrada, fatores que influenciam diretamente na saúde intestinal e bem estar da ave (Bostvironnois and Lundberg, 2018). Desta forma os probióticos – “micro-organismos vi vos capazes de promover a saúde quando administrados em quantida de adequada” (Zoumpopoulou et al., 2018) produzem alguns benefícios como alteração da microbiota intes tinal por competição de nutrientes e locais de adesão, melhoria da função

Figura 1: Modo de ação dos bacilos no trato gastrointestinal da ave

Tabela 1: Indicadores de bem estar avaliados

Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). Controle = aves brancas, alimentadas com dietas sem probiótico e com antibiótico; Tratamento = aves brancas, alimentadas com 400g/t de probiótico GALLIPRO® MS e sem antibiótico. CV (%) = Coeficiente de variação

Tabela 2: Índices produtivos avaliados Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05). Controle = aves brancas, alimentadas com dietas sem probiótico e com antibiótico; Tratamento = aves brancas, alimentadas com 400g/t de probiótico GALLIPRO® MS e sem antibiótico. CV (%) = Coeficiente de variação

da barreira mucosa por indução na produção de muco (expressão de ge nes de mucina), modulação na resposta imune e produção de enzimas úteis (Kotzampassi and Giamarellos - -Bourboulis, 2012; Hill et al., 2014; Zoumpopoulou et al., 2018; Judkins et al., 2020). A figura 1 ilustra o mo do de ação dos bacilos na microbiota A dinâmica que precisa ser com preendida é que a saúde intestinal consiste no equilíbrio da microbio ta entre as bactérias potencialmente benéficas e as bactérias potencialmente patogênicas, logo, a suplementação de “bactérias boas” pode promover este equilíbrio (Pi ckard et al., 2017; Thursby and Juge, 2017) e a ave irá responder com melhora na digestibilidade da die ta, consequentemente melhor eficácia alimentar, redução de riscos de enterites e aumento na produ ção e na qualidade de ovos (Agazzi, 2015; Zoumpopoulou et al., 2018, Upadhaya et al., 2019).

Outro benefício atribuído ao uso de probióticos é a produção de sero tonina. De acordo com a (Almeida, 2020) 90% da serotonina, o hormô nio da felicidade, é produzido no intestino, logo a relação direta com a microbiota. Em estudo realizado na Unesp de Botucatu, (Almeida, 2020) administrou probiótico constituído de bactérias do gênero Bacillus, sen do Bacillus subtilis (DSM17299) e Bacillus licheniformis (DSM 5749) e observou redução no comportamen to agonístico, indicador de bem estar, que avalia a irritação das aves, arranque de penas, brigas e escondi das no fundo da gaiola, apresentados na tabela 1, e melhora nos indicadores de produtividade como redução das trincas e produção de ovos em galinhas com 71 semanas, conforme tabela 2.

Promover a colonização precoce do trato gastrintestinal e a manuten ção com bactérias probióticas estabelecerá uma microbiota saudável e aumentará a resistência à coloniza ção por bactérias patogênicas,

Tabela 3: Características ideais dos probiótico

(Zoumpopoulou et al., 2018; Judkins et al., 2020; Kogut et al., 2020). Contudo, para obter o máximo be nefício dos micro-organismos probióticos, algumas características descritas na tabela 3 devem ser considerados na hora da sua escolha.

Para melhor entendimento sobre a escolha do probiótico, a espécie Bacillus subtilis possui mais de 1000 cepas sequenciadas com diferenças genéticas de aproximadamente 20%, além de características morfológicas, bioquímicas e comportamentais dis tintas. Com isso, compreendemos a necessidade de critério no momento de selecionar um probiótico (Koedi jk and Bostvironnois, 2017).

A segurança em relação ao uso das cepas probióticas também é um ponto a ser observado. Cada cepa é cuidadosamente selecionada, se guindo diferentes critérios para cada espécie animal (Zoumpopoulou et al., 2018) e resultados obtidos em es tudos de eficácia in vivo e in vitro. A estabilidade do probiótico também é fundamental para os re sultados, haja visto que são bactérias vivas submetidas a processos de pe letização, entram em contato com acidificantes para ração ou até mes mo formaldeído e precisam sair ilesas para promover as mudanças benéficas no trato gastrointestinal. Muitos probióticos conhecidos são sensíveis e incapazes de sobreviver, principalmente, ao tratamento tér mico das rações. Os Bacillus são manipulados na forma de esporos, consequentemente muito resistentes a extremos de pH e temperatura (Ni cholson, 2002; Jeong and Kim, 2014). Não apenas resistentes, como também capazes de colonizar o trato

Tabela 4: Presença de bacilos viáveis em diferentes momentos

gastrointestinal de forma transitória, com poder de germinação e interação com a microbiota para produzir efeitos benéficos (Cartman et al., 2008; Latorre et al., 2014). A figura 2 relaciona a viabilidade do Bacillus subtilis submetidos diferentes tem peraturas de peletização.

A mensuração de bacilos é outro ponto importante e deve ser checa do a partir da Prova de Recuperação de Bacilos (PRB). Esta prova permite confirmar se quantidade de bacilos descrita em rótulo está de acordo com o que realmente consta no pro duto e também auxilia na identificação de falhas nos processos de mistura da fábrica. O plano amostral deve incluir amostras de ração colhi das no silo e comedouro e amostras de cama e fezes.

Desde modo, o sucesso ou o fra casso do programa de uso de probióticos, seja para retirada de promotores, redução do uso de antibióticos ou até mesmo para a melhoria conti nua nos resultados, está relacionado, principalmente a escolha da cepa correta para a necessidade de cada granja em quantidades e períodos adequados.

REFERÊNCIAS

ABPA: Associação Brasileira de Proteína Animal. (Acesso em 15 de agosto de 2020) Disponível em < ht tps://abpa-br.org/abpa-lanca-relatorio-anual-2020/

Agazzi, A. 2015. The Beneficial Role of Probiotics in Monogastric Animal Nutrition and Health. J. Dai ry, Vet. Anim. Res. 2:116–132.

Almeida, I. C. L. 2020. Bem-Estar & Produtividade.Boletim Técnico. Ed.1, 2020.

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Desempenho do ovo em agosto e nos dois primeiros quadrimestres de 2020

Mesmo tendo obtido ligeira valorização nos dois últimos dias de negócios do mês, o ovo fechou agosto de 2020 – quando foram alcançados exatos dois terços dos 366 dias deste ano bissexto – com valor real inferior aos registrados no mesmo 31 de agosto de 2016, 2017 e 2019.

Não só isso, porém. Pois os preços médios obtidos em agosto retrocederam pelo quarto mês consecutivo e embora apresentando queda de apenas 2,39% sobre o mês anterior, recuaram ao segundo menor valor de 2020, ficando acima, somente, dos baixos preços alcançados no mês de janeiro.

Pior, porém, é constatar que a média atual, contraposta ao que foi registrado em agosto de 2019, apresenta variação positiva de não mais que meio por cento. E o ruim, neste caso, não é ter ficado aquém da inflação acumulada nos últi mos 12 meses e, sim, tremendamente abaixo dos custos de produção, encarecidos sobretudo por milho e farelo de soja, cujos preços, em agosto último, registraram evolução anual superior a 50%.

Aguarda-se, como já foi anunciado, que se estabeleça a isenção (mesmo temporária) do imposto de importação dessas duas matérias-primas. Porque a situação do produtor se tornou insustentável.

Comparando, um ano atrás, com o valor alcançado na venda (granja) de 50 caixas de ovos do tipo extra branco (volume correspondente a um poder de compra muito pró ximo ao da tonelada de frango vivo), o produtor adquiria 5,2 toneladas de milho ou 2,7 toneladas de farelo de soja. Pois neste agosto sua capacidade de aquisição recuou mais de um terço. E para adquirir as mesmas quantidades de matérias - -primas de um ano atrás, o produtor precisou de um volume de ovos mais de 50% maior.

Não é por menos, pois, que o setor declara estar sendo forçado a reduzir a produção. Porque embora o preço médio destes oito primeiros meses de 2020 esteja mais de 25% acima do registrado no mesmo período de 2019, os custos evoluíram muitíssimo além. Aliás, o que propiciou esse ganho foi o desempenho nos primeiros momentos da qua rentena pelo Covid-19. Ou seja: se houve algum ganho neste ano, ele ficou restrito, praticamente, ao primeiro qua drimestre de 2020.

Milho registra segundo maior valor do ano

O preço do milho registrou significativo aumento de preço em agosto. O preço médio do insumo, saca de 60 kg, interior de SP, fechou o mês cotado a R$59,45, atingindo a segunda maior cota ção já verificada no setor, equivalendo a valorização mensal de 13,4%. Na comparação anual o índice positivo alcançou expressi vos 54,7%. Isso porque em agosto do ano passado o preço praticado foi de R$38,43 a saca.

Valores de troca – Milho/Frango vivo

No frango vivo (interior de SP) o preço médio de agosto, ficou em R$3,90 kg, equivalendo a aumentos de 3,7% sobre julho último e 18,2% sobre agosto do ano passado. Assim, com a signi ficativa valorização do milho em relação ao frango vivo, houve piora acentuada no poder de compra do avicultor. No mês, foram necessários 254,1 kg de frango vivo para se obter uma tonelada de milho, considerando-se a média mensal de ambos os produtos. Este volume representa perda de 8,6% no poder de compra em relação ao mês anterior, pois, em julho, a tonelada do milho “cus tou” 232,3 kg de frango vivo. Já em relação a agosto do ano passado, a piora no poder de compra atingiu 23,6%, pois, lá, foram necessários apenas 194,1 kg de frango vivo para adquirir a tone lada da matéria-prima.

Valores de troca – Milho/Ovo

O preço do ovo, na granja (interior paulista, caixa com 30 dúzias), fechou em R$67,27 e ficou levemente acima do alcançado no ano passado. Entretanto, sofreu queda de 2,6% na comparação com o mês anterior, quando o produto foi negociado por R$69,04. Assim, o aumento expressivo no milho também impactou negati vamente o poder de compra do produtor de ovos. Enquanto em agosto foram necessárias 14,73 caixas de ovos para adquirir a tone lada do cereal, em julho foram somente 12,65 caixas/t, uma queda de 14,1% na capacidade mensal de compra do produtor. Em doze meses a perda no poder de compra atingiu relevantes 35%.

Farelo de soja alcança novo recorde

A cotação do farelo de soja (FOB, interior de SP) registrou aumento pelo sexto mês consecutivo culmi nando com novo recorde em agosto. O produto foi comercializado pelo preço médio de R$1.898/t, valor 6,1% superior ao praticado no mês de julho quando atin giu R$1.789/t. Em comparação com agosto de 2019 – quando o preço médio era de R$1,210/t – a cotação atual registra aumento significativo de quase 57%.

Valores de troca – Farelo/Frango vivo

Com a forte valorização alcançada na cotação do farelo de soja em relação ao verificado na comercializa ção do frango vivo houve perdas no poder de compra do avicultor. Em agosto foram necessários 486,7 kg de frango vivo para adquirir uma tonelada do insumo, signi ficando piora de 2,2% no poder de compra do avicultor em relação a julho quando 475,8 kg de frango vivo foram necessários para obter a tonelada do produto. Na com paração em doze meses o índice de perda atingiu quase 25%, pois, lá, foram necessários 366,7 kg para adquirir o cereal.

Valores de troca – Farelo/Ovo

De acordo com os preços médios dos produtos, em agosto foram necessárias, aproximadamente, 28,2 caixas de ovos (valor na granja, interior paulista) para adquirir uma tonelada de farelo de soja. O poder de compra do avicultor de postura comercial em relação ao farelo regis trou perda mensal de 8,2%, pois em julho foram necessárias 25,9 caixas de ovos para adquirir a tonelada do cereal. Em relação a agosto do ano passado a perda no poder de compra atingiu quase 36%, pois naquele perí odo a tonelada do grão custou apenas 18,1 caixas de ovos. 10 caixas de ovos a menos.

Marília Rangel Campos

- Gerente de Relações Institucionais e Acesso a Mercados Gustavo Perdoncini - Coordenador de Contas Chave de Postura Comercial MSD Saúde Animal

As pessoas em todo o mundo já vinham passando por grandes transformações, incorporando novas tecnologias, buscando mais transparência e identificação com seus valores nas atividades do dia a dia; mesmo assim, a pandemia do novo coronavírus acelerou as mudanças e trouxe novos desafios – e oportuni dades – para todos os setores da economia. Não é diferente para a avicultura de postura.

As medidas de distanciamento social levaram a uma corrida aos supermercados, tornando o ovo uma das proteínas mais buscadas, o que trouxe picos de preços do produto nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil logo no início da pandemia. Em outros países, como o Peru, onde quase 50% da população não possui geladeira, o ovo passou a ser uma alternativa importante de fonte de proteína, pois com as restrições de idas ao mercado os peruanos se viram obrigados a fazer compras em maior quantidade e menor frequência. Em meio a essa situação totalmente inédita na história moderna, o Brasil deverá registrar seu recorde de produção e consumo de ovos, podendo chegar à marca de 250 ovos por ano, por pessoa. Sem dúvida, é um marco importante para a indústria e para toda cadeia, mas que também traz a

Entre oportunidades e desafios, o ovo ganha espaço

Em meio a essa situação totalmente inédita na história moderna, o Brasil deverá registrar seu recorde de produção e consumo de ovos, podendo chegar à marca de 250 ovos por ano, por pessoa

responsabilidade e o senso de urgência em avançar em temas que garantam a sustentabilidade da atividade no longo prazo.

A importância da manutenção da sanidade e o papel da prevenção de doenças, num cenário de crescente preocu pação com a resistência a antimicrobianos, é um desses temas. A adoção de políticas de uso responsável de antimi crobianos, com base em análise de risco, respeitando as melhores práticas de produção, é chave para que possamos não só garantir alimento seguro e saudável, como também para salvaguardar ferramentas essenciais para o tratamento de doenças. Outro aspecto que ganha ainda mais relevância é o bem-estar animal. O consumidor está cada vez mais preocupado com a origem dos produtos que consome e com a transparência das empresas. Nesse sentido, preci samos continuar a fazer aquilo que pregamos e investir, cada vez mais, em ferramentas que permitam monitorar e rastrear a produção, garantindo, assim, que a informação fornecida na embalagem corresponda à realidade.

Qualificar processos, proporcionar melhora contínua na produção responsável, investir em inovação, melhorar a rastreabilidade e a transparência podem ser, também, chaves para o acesso a novos mercados. De acordo com o Observatório de Complexidade Econômica, em 2018 o comércio de ovos em casca e ovo processado foi de US$ 4.3 bilhões de dólares, com crescimento de mais de 12% na comparação com o ano anterior. Nesse cenário, o Brasil representa pouco mais de 1,5% do share da exportação; mas, com os investimentos feitos nos últimos anos por diversas empresas do setor e com a compreensão da impor tância das demandas dos consumidores, há um caminho possível e promissor pela frente para a avicultura de postura. Nesse contexto, o setor deve intensificar sua comuni cação a respeito dos aspectos que cativam os consumidores, mantendo-se sempre atento às suas preocupações, expandindo o portfólio de produtos e lembrando que o ovo é um bom alimento a qualquer hora do dia, para qualquer idade e em todas as ocasiões.

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