Revista do PecSite - Edição 01

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Editorial Nesta primeira edição da Revista do PecSite apresentamos um resumo dos principais fatos da bovinocultura de corte nos últimos dois meses. Novos profissionais, como o gerente de serviços técnicos da Kemin, Matheus Capelari; o balanço do segundo trimestre dos frigoríficos exportadores; Teka Vendramini, presidente da SRB, discutindo o papel do líder nos novos rumos do agronegócio brasileiro. Entre os artigos técnicos, o uso da tuberculina, artigo do Instituto Biológico, da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo. Além disso há o artigo de Sérgio Raposo de Medeiros, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste: Ambiência na produção de gado de corte no que se refere à oferta de sombra ao animal. E o Ponto Final é do professor Rodrigo Goulart, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo. Rodrigo afirma que receber bem os animais é ser um confinador de sucesso. Afinal, bem-estar e produtividade caminham juntos na bovinocultura. Boa Leitura!

Sumário

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Eventos e As mais lidas

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Matérias primas Preço do milho registra crescimento anual de quase 76%

Mercado Desempenho da pecuária em agosto e nos oito primeiros meses de 2021

Empresas e Profissionais Kemin anuncia novo Gerente de Serviços Técnicos para bovinos de corte

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Notícias Curtas Minerva Foods lucrou R$ 116 milhões no2º trimestre

Saúde Animal IB: Uso da tuberculina bovina é estratégia de prevenção da tuberculose em bovinos

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Gestão O papel do líder nos novos rumos do agro brasileiro Teka Vendramini

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Artigo técnico Ambiência na produção de gado de corte no que se refere à oferta de sombra ao animal Autor: Sergio Raposo de Medeiro

Expediente: Mundo Agro Editora Ltda. Rua Erasmo Braga, 1153 13070-147 - Campinas, SP Publicação Trimestral nº 1 | Ano I Setembro/2021 Publisher Paulo Godoy paulo.godoy@mundoagro.com.br Redação Érica Barros (MTB 49.030 Rai Silva (MTB 1070) imprensa@mundoagro.com.br Comercial Natasha Garcia e Paulo Godoy (19) 3241 9292 (19) 98963-6343 comercial@mundoagro.com.br

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Ponto Final Receber bem os animais no confinamento é ser um confinador de sucesso Autor: Rodrigo Goulart

Diagramação e arte Mundo Agro e Tito Trigo ntrigo@gmail.com Internet Gustavo Cotrim webmaster@avisite.com.br Administrativo e circulação financeiro@avisite.com.br Os Informes Técnicos-Empresariais publicados nas páginas da Revista do PecSite são de responsabilidade das empresas e dos autores que as assinam. Este conteúdo não reflete a opinião da Mundo Agro.

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Eventos Setembro 15 a 16 VII Simpósio de Integração Lavoura Pecuária Floresta no Estado de São Paulo Local: SP - Piracicaba Realização: Fealq A Distância Site: https://doity.com.br/vii-simoposio-de-integracao-lavoura-pecuria-floresta Gratuito Outubro 1 a 10 Exposição Agropecuária de Goiás Local: Parque de Exposições Agropecuária Realização: Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura Site: https://sgpa.com 23 e 24 Pecuária 360º – Summit 2021 Local: Hotel Pullman Vila Olímpia, em São Paulo (SP) Site: www.pecuaria360.com.br Evento presencial e online Novembro 10 e 11 33ª Reunião CBNA - Aves, Suínos E Bovinos Realização: CBNA Online Site: https://www.cbnaavessuinosbovinos.com.br

ovinos

As mais lidas do PecSite

Agro paulista cresce 11,9% nos sete primeiros meses de 2021 O agronegócio paulista aumentou em 10,3% (US$ 10,77 bilhões) suas exportações de janeiro a julho de 2021, em comparação ao mesmo período do ano passado, e em 5,7% (US$ 2,6 bilhões) suas importações, registrando saldo positivo de US$ 8,17 bilhões, índice 11,9% superior ao mesmo período de 2020. Mais informações: www.pecsite.com.br

Brasil exportou 107,5 mil toneladas para países árabes até julho O Brasil embarcou 107,5 mil toneladas de carne bovina aos países árabes entre janeiro e julho deste ano, volume que superou as 161,9 mil toneladas registradas no mesmo período do ano passado, segundo levantamento da Cdial Halal, com base em dados da Secex e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Mais informações: www.pecsite.com.br

Argentina prorroga cota de exportação de carne bovina até novembro O governo argentino estendeu as restrições à exportação de carnes até 31 de outubro de 2021 com uma limitação de 50% das exportações à média de 2020. Mais informações: www.pecsite.com.br

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Matérias-Primas Preço do milho registra crescimento anual de anual de quase 76%

Farelo de soja aumenta 57% em 2021

Transcorridos dois terços do ano, o preço do milho continua registrando evolução anual expressiva. Nos primeiros oito meses de 2021 o preço médio do insumo, saca de 60 kg, interior de SP, alcançou cotação de R$96,92, equivalendo a aumento de quase 76% sobre a média alcançada pelo produto no mesmo período do ano passado, quando a cotação média atingida foi de R$55,10. Em relação ao mesmo período de 2019, o aumento supera os 138%.

O farelo de soja (FOB, interior de SP) atingiu índices maiúsculos de crescimento no decorrer dos primeiros oito meses de 2021. O preço médio do período alcançou valor de R$2.569/t, representando índice positivo de 57% sobre o apontado para o mesmo período de 2020, quando a cotação média atingiu apenas R$1.636/t. Na comparação com o mesmo período de 2019, o aumento supera os 113%.

Bovinocutor enfrenta queda de

Bovinocutor enfrenta queda de

15,3%

18,3%

em sua capacidade de compra de milho

em sua capacidade de compra de soja

*na comparação entre médias 2020/2021

*na comparação entre médias 2020/2021

Valores de troca – Farelo/Boi Vivo

O preço da arroba do boi gordo, (interior paulista), obteve valorização bem inferior a alcançada pelo milho no decorrer dos oito primeiros meses de 2021, atingindo valor médio de R$310,90, equivalendo a aumento de 49% sobre o recebido no mesmo período do ano passado, negociado por R$208,69. Assim, com a valorização no preço médio do boi vivo bem inferior a alcançada pelo milho, os pecuaristas apresentam perdas quando os produtos são relacionados. No período foram necessárias 5,2 arrobas do boi vivo para adquirir uma tonelada do cereal, enquanto no mesmo período de 2020 foram necessárias apenas 4,4 arrobas/t, significando piora de 15,3% em seu poder aquisitivo.

De acordo com os preços médios do boi vivo e farelo de soja no acumulado do ano, foram necessárias, aproximadamente, 8,3 arrobas de boi gordo (rastreado, interior paulista) para adquirir uma tonelada de farelo de soja. Com isso, o poder de compra do pecuarista de corte registrou perda de 5,1% em relação ao farelo de soja, já que no mesmo período do ano passado foram necessárias apenas 7,8 arrobas para adquirir uma tonelada do cereal. Considerando o mesmo período de dois anos atrás, a perda dos pecuaristas atinge 6,7%, já que de janeiro a agosto de 2019 houve a necessidade de 7,7 caixas para adquirir o produto.

Fonte das informações: www.jox.com.br

Valores de troca – Milho/Boi Vivo

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UNIDADE DE BOM DESPACHO - MG

UNIDADE DE TOLEDO - PR

UNIDADE DE MARTINHO CAMPOS - MG

UNIDADE DE NOVA PONTE - MG

UNIDADE DE PINHAIS - PR

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Destaques PecSite: Profissionais, Empresas & Instituições

Uniquímica lança linha de premix e núcleos para ruminantes em comemoração a seus 47 anos O time de nutricionistas da Uniquímica desenvolveu produtos que atende não somente aos criadores mais exigentes, mas também a indústria de ração

ruminantes, trazendo para esse

A

mo na entrada de novas linhas,

segmento toda sua experiência no mercado de nutrição especializada e atendimento aos clientes e parceiros. A linha para nutrição de ruminantes conta com premix, núcleos e suplementos voltados para criação de gado a pasto, confinamento e produção de leite. Segundo Robson Rebechi, Diretor da Uniquímica “Esse é o momento oportuno para a nossa empresa, pois temos focado fortemente em nosso desenvolvimento e crescimento no mercado de nutrição animal, baseado tanto na linha atual de monogástricos, co-

Uniquímica, uma em-

que é o caso de ruminantes. É um

presa que completa em

orgulho

outubro

47

anos

de

clientes e parceiros uma Uniquí-

atuação

em

nutrição

mica estável, autossustentada e

animal, aproveita as comemora-

madura, capaz de expandir frente

ções para lançar a nova linha de

a tantas diversidades presentes no

produtos voltados para nutrição de

Brasil“.

apresentar

aos

nossos

ITAL comemora 58 anos com ações estratégicas de pesquisa e valorização do setor de alimentos

A

É incontestável o caráter essencial do setor de alimentos, o que se tornou ainda mais evidente durante a pandemia do SARS-CoV-2. No entanto, seus valores ainda são pouco reconhecidos. Para mudar esse cenário, ao longo da última década, as inovações tecnológicas e tendências do setor de alimentos têm guiado o trabalho do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), órgão de pesquisa vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

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A Revista do PecSite

Desde a publicação do estudo Brasil Food Trends 2020, que originou a Série Ital Brasil Trends 2020, dois aspectos principais norteiam o Instituto: a importância dos alimentos industrializados para a sociedade e a garantia da segurança de alimentos através do processamento. O primeiro vem sendo trabalhado no projeto Alimentos Industrializados 2030. O segundo será reforçado através do programa Ital Food Safety 2030, que visa o fortalecimento da segurança dos alimentos no Brasil anunciado no 58º aniversário do Ital, comemorado em 30 de agosto.


Ingredientes e Kemin anuncia novo Gerente de nutrientes de 90 Serviços Técnicos para bovinos de corte hambúrgueres industrializados são analisados em novo estudo do Ital

C

omo parte das comemorações de aniversário, o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), lan-

çou em agosto o sétimo estudo da Série Alimentos Industrializados 2030, Hambúrgueres Industrializados: nutrição prática de forma segura e sustentável. Ao todo foram analisados 90 produtos comercializados no varejo paulista de 20 marcas diferentes quanto às composições de ingredientes e nutrientes, contemplando origem animal e vegetal. As publicações são de acesso aberto e gratuito e estão disponíveis no site https://www.ital.agricultura.sp.gov.br/pitec

Matheus Capelari

O

médico veterinário Matheus Capelari assume a gerência de Serviços Técnicos para Gado de Corte

da Kemin na América do Sul. PhD em Ciência Animal pela Michigan State University, ele tem experiência nas áreas técnica e de produtos para ruminantes, e será responsável pela orientação técnica da equipe de vendas da empresa e pela assistência técnica aos clientes. "Ele fará a conexão entre o departamento de pesquisa, mais ligado a ciência, equipe de vendas e os clientes", explicou o gerente Nacional de Vendas para Ruminantes da Kemin na América do Sul, Raoni Margotto. "Nós, da Kemin, acreditamos muito no mercado brasileiro, e tenho acompanhado o crescimento da empresa ano a ano neste mercado. Por isso é um desafio muito bom, especialmente neste momento de aceleração da intensificação da pecuária de corte. Estou feliz por compor uma equipe que oferece ao pecuarista soluções que vão ao encontro dos seus principais desafios", disse Matheus Capelari.

Alternativa nutricional para a redução de custos na dieta de bovinos Produção mais sustentável de leite e seus componentes assim como melhores índices reprodutivos são alguns dos benefícios do uso estratégico da suplementação com aminoácidos, tema de debate realizado em 6 de agosto com tradução simultânea para o português e espanhol. Na ocasião, aconteceu o lançamento da nova linha de aminoácidos da Kemin com especialistas do Brasil e dos Estados Unidos. "Estudos realizados em campo mostraram que é possível reduzir a proteína da dieta com a suplementação adequada de aminoácidos mantendo a performance e produtividade do animal e do sistema. Neste cenário teremos um animal energeticamente mais eficiente pela redução na transformação do excesso de nitrogênio oriundo da proteína em ureia. Esta é uma abordagem já trabalhada em países como Estados Unidos e outros da União Europeia", defendeu o médico veterinário e gerente de Produtos para Ruminantes da Kemin na América do Sul, Fernando Braga. A Revista do PecSite

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Destaques PecSite: Profissionais, Empresas & Instituições

Divisão de Saúde Animal da Boehringer Ingelheim registra 9,6% de crescimento no primeiro semestre de 2021

A

Boehringer Ingelheim divulgou seus resultados financeiros globais referentes ao primeiro semestre de 2021 e apontou que o desempenho da sua divisão de Saúde Animal apresentou crescimento de 9,6% em relação ao ano anterior, já ajustado para efeitos cambiais. No total, a divisão regis-

trou vendas líquidas de € 2,3 bilhões no período. Em vendas líquidas, os segmentos de antiparasitários para animais de companhia foram os que tiveram o maior destaque. Porém, o período também foi marcado por importantes anúncios e investimentos. Para complementar seu próprio portfólio de P&D, a

Boehringer Ingelheim firmou novas parcerias promissoras com a PetMedix, para o desenvolvimento de novos e transformativos anticorpos terapêuticos para animais de estimação, e com a Lifebit Biotech, para detectar e relatar precocemente surtos de doenças infecciosas globais usando Inteligência Artificial.

Fábio Barone, Head da divisão de Saúde Animal da Boehringer Ingelheim Brasil

Resultado no semestre se dá por conta da recuperação da economia global e é marcado por investimentos e parcerias em P&D 10

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JBS encerrou 2021 com lucro líquido e Ebitda recordes

A

Marfrig lucra 1,7 bilhão de reais no segundo trimestre de 2021 Resultado é a maior receita histórica para um trimestre

JBS divulgou em agosto o melhor resultado trimestral de sua história, oriundo, principalmen-

te, do ótimo momento vivido pelos frigoríficos nos EUA, de onde vem a maior parte do seu faturamento. Aliado ao bom ano vivido pelos frigoríficos exportadores nacionais, a empresa registrou receita líquida de R$85,6 bi, aumento de 26,7% em relação ao ano anterior. No 2T21, a JBS registrou lucro líquido de R$4,4 bilhões, 29,7% maior que no 2T20, o que representa um lucro por ação de R$1,75, possibilitando à empresa antecipação de dividendos de R$2,5 bi.

A

Marfrig, uma das líderes

Portal do Pecuarista

globais em produção de

A Marfrig, lançou o Portal do Pe-

hambúrgueres e uma das

cuarista, um novo canal de comuni-

maiores empresas de car-

cação exclusivo para os seus produ-

ne bovina do mundo, apresentou à

tores parceiros em todo o Brasil.

Comissão de Valores Mobiliários

Será um canal exclusivo onde os

(CVM) seus resultados fiscais relati-

pecuaristas terão acesso a informa-

vos ao se gundo trimestre de 2021.

ções e conteúdos sobre venda de ga-

No período, a companhia registrou

animal e outros temas de interesse

receita líquida de 20,6 bilhões de

do produtor sobre a atividade pe-

reais, crescimento de 9% na compa-

cuária.

do, abate, gerenciamento, bem-estar

ração anual. O lucro líquido alcan-

Além do lançamento do portal, a

çou 1,7 bilhão de reais, 9% acima do

Marfrig estreia uma série de webi-

registrado no segundo trimestre de

nars mensais, que durante o segun-

2020. O Ebitda Ajustado chegou a

do semestre de 2021, vão trazer es-

3,9 bilhões de reais e a margem Ebi-

pecialistas e grandes nomes do setor

tda foi de 19%. Dessa forma, a Mar-

para abordar temas relacionados ao

frig registrou a maior receita históri-

dia a dia do produtor e seu negócio.

ca para um trimestre, consolidando

Marfrig realiza webinar sobre

a tendência de crescimento em

ferramentas de seleção genética na

2021.

produção de Angus. A Revista do PecSite

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Minerva Foods lucrou R$ 116 milhões no 2º trimestre

N

um trimestre que se avizinhava difícil diante dos custos galopantes do boi gordo no Brasil e das restri-

ções às exportações de carne da Argentina, a Minerva Foods conseguiu entregar uma forte geração de caixa, pavimentando o caminho para outro ano de distribuição de dividendos fartos. A Minerva reportou um lucro líquido de R$ 116,7 milhões entre abril e junho. Embora tenha havido uma diminuição de 54% em relação ao segundo trimestre do ano passado, é preciso lembrar que a base de comparação era bastante forte, com ganhos extraordinários com hedge cambial. IFood A Minerva Foods lançou uma loja no Ifood para consumidores de São Paulo. Batizado de My Beef em Casa, a Companhia passou a disponibilizar sua linha de produtos para delivery por meio do app. Por lá, os apaixonados por carnes podem encontrar as linhas premium da Minerva Foods: Estância 92, Ana Paula Black, Cabaña Las Lilas e outras, além de pescados, azeite Alma Lusa e porcionados para o dia a dia, como empanados de frango e batatas congeladas pré-fritas.

Empresa entregou uma forte geração de caixa, pavimentando o caminho para outro ano de distribuição de dividendos fartos

Carrefour já rastreia gado desde o nascimento

M

aior comprador de car-

nuição de 54% em relação ao segundo

nasceram no início do projeto, que já re-

ne bovina do Brasil, o

trimestre do ano passado, é preciso lem-

cebeu € 3,5 milhões em investimentos.

Carrefour colocou os

brar que a base de comparação era bas-

Nessa primeira etapa de comerciali-

primeiros lotes da pro-

tante forte, com ganhos extraordiná-

zação, os itens da linha Sabor & Quali-

rios com hedge cambial.

dade estarão disponíveis na loja da rede

teína rastreada desde o nascimento do bezerro. O produto faz parte da linha

O projeto começou efetivamente no

no Shopping Interlagos, na zona sul de

Sabor & Qualidade, fruto de uma par-

segundo semestre de 2018. Naquele

São Paulo. Os produtos têm QR Codes

ceria da varejista com a Iniciativa para

momento, Carrefour e IDH seleciona-

em suas embalagens que informam o

o Comércio Sustentável (IDH).

ram 450 produtores de bezerro de Mato

nome e geolocalização da fazenda que

A Minerva reportou um lucro líqui-

Grosso com propriedades de, no máxi-

originou o bezerro e sua Guia de Trânsi-

do de R$ 116,7 milhões entre abril e ju-

mo, 300 hectares. A carne que começa a

to Animal (GTA), que mostra o cami-

nho. Embora tenha havido uma dimi-

ser vendida agora é a dos animais que

nho do animal até o abate.

Varejista começa a vender carne que integra projeto de rastreabilidade 12

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Destaques PecSite: Produção, Mercado & Exportação

Primeiros resultados do 2º tri apontam queda no abate de bovinos

A

Os primeiros resultados da produção animal no 2º trimestre de 2021 apontam, na comparação com o 2º trimestre de 2020, que o abate de bovinos caiu 4,5%, enquanto o de suínos cresceu 7,1% e o de frangos aumentou 7,4%. Em relação ao 1º trimestre de 2021, o abate de bovinos aumentou 7,7% e o de suínos 3,2%, enquanto o de frangos caiu 3,0%. As informações foram divulgadas pelo IBGE

Queda é de 4,5% em relação ao mesmo período do ano passado

Exportações de carne bovina do batem recorde mensal em agosto Embarques avançaram de 1,010 para 1,175 bilhão de dólares

A

receita cambial com as exportações --que considera o produto in natura e processado-- ultra-

passou o recorde mensal anterior, registrado em julho, ao avançar de 1,010 bilhão dólares para 1,175 bilhão de dólares. O Brasil, maior exportador de carne bovina do mundo, bateu recorde mensal nos embarques totais da proteína em agosto, com 211,85 mil toneladas, aumento de 11% em relação ao mesmo período do ano anterior. As informações foram divulgadas pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). A Revista do PecSite

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Genética

Katayama Pecuária realiza o maior evento comercial de genética bovina do Brasil Faturamento no leilão de genética bovina foi de R$ 33 milhões

A

Katayama Pecuária realizou o maior leilão de genética bovina do Brasil, com a distribuição de mais de

67 mil produtos, entre doadoras, sê-

men, embriões, touros e matrizes. O 22o Leilão Katayama obteve um faturamento total de R$ 33.378.084,00, distribuídos em quatro eventos – o montante foi 53,74% superior a 2020, quando houve três dias de leilão.

Coleta de sêmen bovino cresceu mais de 100% no primeiro semestre

A

ssociação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA) lança o novo Index ASBIA 1º Semestre 2021, reunindo os dados atualizados do setor de inseminação artificial

(IA) em bovinos. A publicação revela que a IA está presente em 73,4% dos municípios brasileiros, repre-

sentando um avanço de 5,3% face ao primeiro Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA) lança o novo Index ASBIA 1º Semestre 2021, reunindo os dados atualizados do setor de inseminação artificial (IA) em bovinos. A publicação revela que a IA está presente em 73,4% dos municípios brasileiros, representando um avanço de 5,3% face ao primeiro semestre de 2020

Foram coletadas 10.788.006 doses de sêmen 14

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Nos primeiros seis meses de 2021, foram coletadas 10.788.006 doses de sêmen – ou seja, mais que o dobro do valor registrado no primeiro semestre do ano passado, quando foram coletadas 5.310.269 doses



Gestão

O papel do líder nos novos rumos do agro brasileiro Em evento, CNMA debate mudanças culturais nas organizações e os novos desafios dos gestores do setor

Mudanças tão profundas exigirão uma atitude educadora radical do líder, que terá a responsabilidade de adaptar e lapidar seus recursos humanos

Teka Vendramini: A pandemia fez com que todos tivessem uma percepção muito grande da importância da sanidade humana e animal, da segurança do alimento e da importância da consistência do sistema de controle sanitário 16

A Revista do PecSite

A

s mudanças recentes no mundo obrigarão as organizações do agro, seus gestores e empreendedo-

res, a ficarem mais próximos de seus clientes e desenvolverem a capacidade de resolver problemas que surgirão com a velocidade multiplicada da digitalização. Essas mudanças implicarão em uma nova cultura empresarial, uma nova visão dos negócios e um novo timing gerencial das operações. Essa mudança corporativa será tema da 6ª edição do Congresso Nacional das Mulheres do Agronegócio CNMA, que debaterá como obter sucesso frente aos desafios dos novos tempos, nos dias 25, 26 e 27 de outubro, em formato Digital Experience, com o tema “Digital & Agregação de Valor. A nova liderança

no Agro”. “Mudanças tão profundas, vivenciadas nos últimos meses, implicarão em uma mudança cultural nas empresas, que exigirão, ainda, uma atitude educadora radical do líder, que terá a responsabilidade de adaptar e lapidar seus recursos humanos. Esse é o foco de discussão para o CNMA, quando colocaremos em debate o papel da liderança nesse novo momento do setor”, destaca a Show Manager do evento, Carolina Gama.

Reinvenção do agro À frente de uma das mais antigas entidades do agronegócio nacional, a presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Teka Vendramini, acredita que as mudanças vividas por conta da pandemia oferecem novos desafios aos líderes,


principalmente do setor, tendo o papel estratégico de importância da produção do campo, para a alimentação mundial. “Gosto muito de colocar isso em pauta, principalmente nesse momento que estamos passando, com a pandemia, em que o Brasil tem safras e produções recordes, nos colocando no papel de maior fábrica de alimentos do mundo. Estamos vivendo ainda no imponderável da vida e essa fragilidade é uma crise transformadora”, afirma ela. Para Teka, a pandemia fez com que todos tivessem uma percepção muito grande da importância da sanidade humana e animal, da segurança do alimento e da importância da consistência do sistema de controle sanitário. “Acho que começamos a nos cercar e perceber, cada vez mais, pontos que não eram tão relevantes nos julgamentos, que não nos preocupávamos tanto. Por isso é importante trazer para o debate o papel dos líderes no entendimento desse contexto, entendendo como o

agronegócio está se reinventando”, aponta.

Liderança à frente do seu tempo A presidente da SRB destaca, como um dos pontos-chaves que devem ser desenvolvidos pelos líderes, a flexibilidade mental. “Estamos repensando os nossos negócios, como administrar as empresas. Tenho uma preocupação muito grande com a gestão, pois temos que ouvir nossas equipes e nos cercar de profissionais capacitados e inteligentes. Além disso, o líder precisa transmitir segurança e, de alguma maneira, elevar o espírito das pessoas que trabalham a nossa volta. Na minha opinião, a liderança tem que fazer essa integração, tem que levar e elevar o espírito dessas pessoas e mostrar que nós vamos continuar caminhando”, reforça Nesse pensamento, Teka entende que o mundo digital impactou diretamente as lideranças, que precisaram se adaptar rapidamente ao mundo virtual, com a capacitação da equipe para viver esse novo mo-

mento. “Vivemos um período muito digital, em que as relações se desenvolveram pela tecnologia. Diversas empresas passaram por dificuldades quanto à capacidade de se adaptar ao uso das ferramentas on-line. Foi um momento intenso de transferência de conhecimento entre as pessoas. Sem dúvida esse foi um desafio de liderança”, afirma.

Brasil tem o papel de maior fábrica de alimentos do mundo

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Saúde Animal

Uso da tuberculina bovina é estratégia de prevenção da tuberculose em bovinos IB, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de SP, é a única instituição brasileira autorizada a produzir o imunobiológico

O

uso da tuberculina é a única maneira de diagnosticar e prevenir a ocorrência de tuberculose em animais de produção. O imunobiológico, produzido no Brasil pelo Instituto Biológico (IB-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, é considerado o grande pilar dos programas de controle de tuberculose

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A Revista do PecSite

em todo o mundo, sendo, na visão da pesquisadora do IB, Cristina Corsi Dib, uma estratégia de prevenção da doença e, consequentemente, aumento da produtividade do rebanho. Segundo Cristina, o diagnóstico da tuberculose bovina é feito a campo por meio do teste intradérmico da tuberculina. Todos os animais a partir de seis semanas devem ser submetidos a tuberculinização

por médico-veterinário habilitado. "Por se tratar de uma doença sem sinais clínicos evidentes, a tuberculina é a única maneira de diagnosticar a enfermidade no rebanho, e eliminar os animais positivos para evitar a disseminação da infecção. Os animais positivos devem ser eutanasiados na propriedade ou enviados para abate sanitário em abatedouros", explica a pesquisadora. Para ela, o uso


do produto é mais do que uma forma de diagnóstico de tuberculose em animais vivos, mas uma grande estraté gia de prevenção da doença, já que elimina os animais infectados do rebanho. “Não há tratamento para a tuberculose bovina e, “Não há tratamento para a tuberculose bovina e, portanto, os animais devem ser eutanasiados ou abatidos, o que pode ser irreversível para o rebanho se a prevalência da doença estiver muito alta. Quanto maior a distância entre os testes tuberculínicos, maior a possibilidade de não detectar animais positivos que permanecerão no rebanho, aumentando a transmissão da enfermidade e tornando seu controle mais difícil, por isso, a importância da utilização desse produto”, afirma.

Trata-se de uma doença crônica e na maior parte das vezes subclínica e inaparente, que na ausência de diagnóstico pode passar despercebida, embora cause prejuízos econômicos consideráveis. IB é a única instituição brasileira autorizada a produzir tuberculina. O Instituto Biológico mantém em São Paulo o Laboratório de Imunobiológicos, responsável pela produção da tuberculina bovina e demais produtos utilizados para diagnóstico de tuberculose e brucelose em animais. O Insti-

tuto é a única instituição brasileira autorizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) a produzir esses imunobiológicos, atendendo ao Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT). Desde 2019, o Instituto passa por atualização de seu portfólio, graças a investimentos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Os recursos foram fundamentais para que o IB aumentasse, em 2020, o prazo de validade dos frascos de tuberculina para triagem e confirmatório de tuberculose, que passaram a ter dois anos, o dobro do que era disponibilizado anteriormente. Para o AAT, o aumento na validade foi de seis meses, passando de 12 para 18 meses. “Isso tem ajudado muito na rotina de compra e de armazenamento dos produtos pelos profissionais que atuam no campo, além de também reduzir o desperdício”, afirma o médico-veterinário do IB, Ricardo Spacagna Jordão. Em 2020, foram produzidas 5.484.430 doses de imunobiológicos no Instituto, um aumento de 20% em relação à produção de 2019. No mesmo período foram comercializadas 4.995.680 doses, o que representou um crescimento de 46,6% na arrecadação total de 2020, em comparação ao ano anterior.

A tuberculose bovina pode afetar animais domésticos e também o homem, causando sinais e sintomas similares à tuberculose humana.

Tuberculose A tuberculose bovina é uma doença infecciosa causada por uma bactéria denominada Mycobacterium bovis. Embora ocorra com mais frequência em bovinos e bubalinos, pode infectar uma ampla gama de animais domésticos, como caprinos, ovinos, suínos, cães, gatos, animais selvagens como cervídeos e javalis, e também o homem, em quem causa uma enfermidade com os mesmos sinais e sintomas da tuberculose de origem humana. De acordo com a pesquisadora do IB, nos bovinos e bubalinos, a tuberculose é uma doença crônica e na maior parte das vezes subclínica e inaparente, que na ausência de diagnóstico pode passar despercebida, embora cause prejuízos econômicos consideráveis. A Revista do PecSite

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Artigo Técnico

Ambiência na produção de gado de corte no que se refere à oferta de sombra ao animal O objetivo desse texto é dar uma amostra da complexidade de algo aparentemente simples, ajudando a entender os caminhos para resultados mais robustos na melhoria da ambiência pela oferta de sombra

Autor: Sergio Raposo de Medeiros, Pesquisador Embrapa Pecuária Sudeste

Sempre será interessante que o animal tenha escolha, ou seja, ter a possibilidade de recorrer à sombra quando for seu desejo

O

principal ponto da ambiência na produção de gado de corte se relaciona com o conforto térmico dos animais. Dentro desse tópico, especificamente a oferta de

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sombra ao animal costuma ter mais destaque. Para a maioria das pessoas isso seria algo bastante simples: damos opção do animal ficar sob a sombra e, com mais conforto, ele vai produzir mais. Na realidade, o assunto é mais complicado e muitas expectativas intuitivas acabam sendo frustradas. O objetivo desse texto é tentar dar uma amostra dessa complexidade e, com isso, ajudar em conseguir entender os caminhos para resultados mais robustos na melhoria da ambiência pela oferta de sombra. Uma experiência que tive na rotina de alimentação de animais Nelore em um confinamento experimental que conduzi na Embrapa Gado de Corte me ajudou a compreender um pouco mais o assunto. Nesse experimento, no qual o objetivo era medir a eficiência alimentar, a segunda refeição ofertada aos animais ocorria perto das 15 horas, o que fazia com que começássemos o preparo perto das 13 horas. A estrutura do confinamento experimental era parcialmente coberta, desde sobre os cochos até a parte inicial da baia. No período de coleta dos dados, em função da posição do sol, a sombra se projetava por cerca de 8 metros na baia, ficando os 12 metros restantes em pleno sol. Os animais tinham, portanto, opção de ficarem na sombra ou no sol. Por alguns dias, observei que, para minha surpresa, eles preferiam o sol à sombra. Deste dia em diante, começamos a anotar, entre 13 e 14 horas, quais animais se encontravam no sol ou na sombra. Aquele foi um inverno típico de Campo Grande – MS, ou seja, quente. A média de temperatura entre 13 e 14 horas, no período de observação, foi de 30,4oC, com mínima de 25,7oC e máxima igual a 35,7oC. Para nossa surpresa, 73% das vezes os ani-

mais estavam sob o sol e não na sombra. Esse valor foi significativamente diferente do valor 50%, em que teríamos metade das vezes os animais na sombra e metade sob o sol, ou seja, situação em que seria caracterizada a ausência de preferência.

Os animais tinham, portanto, opção de ficarem na sombra ou no sol. Por alguns dias, observei que, para minha surpresa, eles preferiam o sol à sombra.

O mais interessante foi quando fizemos uma regressão entre a temperatura ambiente e o número de animais sob o sol (Gráfico 1). Pudemos estimar que somente quando a temperatura estivesse próxima a 40oC poderíamos esperar que todos os animais estivessem à sombra. Quando buscamos informação sobre o local de origem do Nelore1, na Índia, constatamos que no mês de maio a média das máximas é de 40oC e, apenas entre novembro e janeiro, por três meses, as médias mensais da temperatura máxima fica abaixo de 30oC (mas maior do que 28oC!). Certamente, essa adaptabilidade às altas temperaturas foi um fator importante para o sucesso da raça no Brasil. No confinamento experimental seguinte, a mesma coleta de dados foi feita e, desta vez, o resultado ficou muito próximo de 50%, sem uma preferência definida por sol


ou sombra. A única diferença para explicar a diferença em relação aos Nelore, da observação anterior, era que se tratava de animais meio-sangue Nelore-Angus. Infelizmente, não tivemos uma terceira oportunidade com alguma raça 100% europeia, mas, dependendo do calor do inverno, a preferência pela sombra poderia ter enfim aparecido, uma vez que são animais cujas zonas de origem são de clima temperado. Há outro aspecto, entretanto, bem menos esperado para explicar o fato dos animais estarem sob sol e não buscando a sombra que oferecemos para seu bem-estar: eles podem estar procurando o bem-estar químico, pela liberação de endorfinas nos seus organismos. Esses neuro-hormônios são liberados em reação ao estresse, exatamente para aliviar o efeito desse, resultando em uma sensação agradável. No caso, o fator de estresse é, exatamente, o calor do sol. 1 Dados clima estado de Andra, Índia: https://www.worldweatheronline.com/andra-weather-averages/andhra-pradesh/in.aspx Essa ligação “sol” e “endorfina” foi inequivocamente demonstrada em um sofisticado experimento realizado nos EUA. Nele, os pesquisadores (Fell et al., 2014) mostraram aumento da produção de beta-endorfina em roedores induzidas pela luz ultravioleta (presente na luz solar) e que os animais tinham comportamento de se viciarem em procurar a luz UV, obviamente, para aumentar liberação destas substâncias. Eles usaram roedores alterados geneticamente para não produzirem as beta-endorfinas e, nesse caso, os animais não apresentavam mais esse comportamento. Olho: Há outro aspecto, entretanto, bem menos esperado para explicar o fato dos animais estarem sob sol e não buscando a sombra que oferecemos para seu bem-estar: eles podem estar procurando o bem-estar químico, pela liberação de endorfinas nos seus organismos. Como o experimento foi realizado com roedores, o que nos levaria a crer que esse comportamento seria replicado em outros mamíferos? Basta a lembrança das nossas piscinas e praias lotadas para se convencer que, provavelmente, outras espécies de mamíferos podem ter um comportamento semelhante. Nem o fato de algumas raças serem mais resilientes ao calor, nem a questão das endorfinas, todavia, devem ser moti-

Gráfico 1 – Porcentagem de animais ao sol em relação à temperatura ambiente. Quanto mais alta a temperatura, menos animais permanecem ao sol. Todavia, a menor quantidade de animais ao sol, com temperatura em 35oC, foi de 42%. (Dias et al., 2011) vos para eliminar a sombra como fator de bem-estar aos animais. Sempre será interessante que o animal tenha escolha, ou seja, ter a possibilidade de recorrer à sombra quando for seu desejo. Esse conforto adicional, todavia, não necessariamente resultará em aumento de desempenho. Por exemplo, em um confinamento que animais passem estresse por calor em partes do dia, redução de consumo deve ocorrer, que é um dos pri-

meiros sintomas dessa condição. Todavia, se nessa localidade ocorrer o resfriamento noturno, o consumo a noite compensa em grande parte a redução ocorrida durante o dia. Interessantemente, mesmo havendo uma pequena redução de ingestão, como o alimento ingerido passa mais lentamente pelo trato gastrintestinal, ele acaba sendo mais bem aproveitado e o desempenho acaba sendo igual ao do animal que não sofreu o estresse térmico.

Animais que não buscam a sombra podem estar procurando o bem-estar químico, pela liberação de endorfinas nos seus organismos

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ou sombra. A única diferença para explicar a diferença em relação aos Nelore, da observação anterior, era que se tratava de animais meio-sangue Nelore-Angus. Infelizmente, não tivemos uma terceira oportunidade com alguma raça 100% europeia, mas, dependendo do calor do inverno, a preferência pela sombra poderia ter enfim aparecido, uma vez que são animais cujas zonas de origem são de clima temperado. Há outro aspecto, entretanto, bem menos esperado para explicar o fato dos animais estarem sob sol e não buscando a sombra que oferecemos para seu bem-estar: eles podem estar procurando o bem-estar químico, pela liberação de endorfinas nos seus organismos. Esses neuro-hormônios são liberados em reação ao estresse, exatamente para aliviar o efeito desse, resultando em uma sensação agradável. No caso, o fator de estresse é, exatamente, o calor do sol. 1 Dados clima estado de Andra, Índia: https://www.worldweatheronline.com/andra-weather-averages/andhra-pradesh/in.aspx Essa ligação “sol” e “endorfina” foi inequivocamente demonstrada em um sofisticado experimento realizado nos EUA. Nele, os pesquisadores (Fell et al., 2014) mostraram aumento da produção de beta-endorfina em roedores induzidas pela luz ultravioleta (presente na luz solar) e que os animais tinham comportamento de se viciarem em procurar a luz UV, obviamente, para aumentar liberação destas substâncias. Eles usaram roedores alterados geneticamente para não produzirem as beta-endorfinas e, nesse caso, os animais não apresentavam mais esse comportamento. Olho: Há outro aspecto, entretanto, bem menos esperado para explicar o fato dos animais estarem sob sol e não buscando a sombra que oferecemos para seu bem-estar: eles podem estar procurando o bem-estar químico, pela liberação de endorfinas nos seus organismos. Como o experimento foi realizado com roedores, o que nos levaria a crer que esse comportamento seria replicado em outros mamíferos? Basta a lembrança das nossas piscinas e praias lotadas para se convencer que, provavelmente, outras espécies de mamíferos podem ter um comportamento semelhante. Nem o fato de algumas raças serem mais resilientes ao calor, nem a questão

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Gráfico 1 – Porcentagem de animais ao sol em relação à temperatura ambiente. Quanto mais alta a temperatura, menos animais permanecem ao sol. Todavia, a menor quantidade de animais ao sol, com temperatura em 35oC, foi de 42%. (Dias et al., 2011) das endorfinas, todavia, devem ser motivos para eliminar a sombra como fator de bem-estar aos animais. Sempre será interessante que o animal tenha escolha, ou seja, ter a possibilidade de recorrer à sombra quando for seu desejo. Esse conforto adicional, todavia, não necessariamente resultará em aumento de desempenho. Por exemplo, em um confinamento que animais passem estresse por calor em partes do dia, redução de consumo deve

ocorrer, que é um dos primeiros sintomas dessa condição. Todavia, se nessa localidade ocorrer o resfriamento noturno, o consumo a noite compensa em grande parte a redução ocorrida durante o dia. Interessantemente, mesmo havendo uma pequena redução de ingestão, como o alimento ingerido passa mais lentamente pelo trato gastrintestinal, ele acaba sendo mais bem aproveitado e o desempenho acaba sendo igual ao do animal que não sofreu o estresse térmico.

Animais que não buscam a sombra podem estar procurando o bem-estar químico, pela liberação de endorfinas nos seus organismos


A sombra é um dos destaques dos sistemas integrados que usam árvores, como o integração lavoura-pecuária-floresta ou os sistemas silvipastoris, que tem sido cada vez mais adotados. Eles tem várias vantagens e, entre elas, a melhor ambiência para os animais por causa da sombra e todo o microclima formado que é muito útil, também, nas ocorrências de frentes frias severas, tanto por protegerem os animais do frio intenso, como por ajudarem a reduzir o dano das geadas nas forrageiras, ao manter mais o calor sob elas.

A sombra é um dos destaques dos sistemas integrados que usam árvores. Há várias vantagens, por todo o microclima formado, também, nas ocorrências de frentes frias severas O lado ainda a ser trabalhado é o efeito da sombra sobre a forragem. Pelo lado positivo, as forrageiras que crescem na projeção da sombra tem valores nutritivos melhores do que as que crescem a pleno sol. Infelizmente, o principal motivo para isso é, precisamente, o crescimento mais lento e, em geral, os dados mostram que o melhor valor nutritivo não compensa às menores produções de massa verde, que podem chegar até 50% a menos. Com menor disponibilidade de forragem, limitada a crescer mais por falta de luz, há menos capacidade de seleção e o desempenho acaba sendo, frequentemente, semelhante do sistema a pleno sol. Sistemas menos adensados em árvores e manejos que ajudem a restringir menos a entrada de luz podem favorecer o crescimento da forragem, mas ainda manter uma ambiência melhor aos animais que, especialmente em locais mais

Escolha dos materiais para a sombra artificial, bem como a escolha das árvores a serem plantadas na pastagem, devem seguir critérios técnicos quentes, podem apresentar desempenhos superiores. Resultados com vacas de cria são especialmente promissores, por conta dos efeitos maléficos do calor para o sistema reprodutivo e, em especial, à redução das perdas embrionárias. Vale lembrar que há várias maneiras de fornecer sombra aos animais e que a escolha dos materiais para a sombra artificial, bem como a escolha das árvores a serem plantadas na pastagem, devem seguir critérios técnicos. Conhecer as opções e fazer um bom planejamento, orientado por um técnico em produção animal é importante para não haver frustração por falta de resultados. Para finalizar, seguem, abaixo algumas dicas: 1) Oferecer quantidade de sombra insuficiente pode fazer com que ela se torne mais um foco de competição entre os animais; 2) No confinamento, é desejável que a sombra esteja no sentido norte-sul para que a sombra “ande” ao longo do dia, evitando que a sombra fique sempre no mesmo lugar. Além do efeito higienizador da luz solar, isso ajuda a reduzir a umidade do solo e, portanto, evitar a formação de lama; 3) Apesar de parecer uma boa ideia aproveitar a cobertura feita para dar

sombra aos animais também para proteger o alimento, deve-se evitar cobrir o cocho. O problema com isso é que animais de comportamento dominante podem desejar aproveitar a sombra perto da comida, impedindo o acesso dos animais submissos. 4) No caso de materiais para sombra artificial, evitar telas de sombreamento com malha muito pequena, pois, apesar dela impedirem mais a passagem da luz, o mesmo ocorre para o calor gerado abaixo da tela.

Referências Biográficas Dias, L. D. B. ; Medeiros, S.R.; Nascimento, A.R.; da Silva, D.B.; Pereira, R.M.; Gomes, F.B.C.; de Matos, R.A.; de Macedo, G.S. Avaliação da preferência de nelores confinados pela permanência ao sol ou à sombra. In: VI Jornada de Iniciação Científica da Embrapa Gado de Corte, 2011. Fell, G. L.; Robinson, K. C.; Mao, J.; Woolf, C. J.; Fisher, D. E. Skin b-Endorphin mediates addiction to UV light. Cell 157, 1527–1534, 2014. ttp://dx. doi.org/10.1016/j.cell.2014.04.032 Fotos dos animais do experimento da sombra e sol A Revista do PecSite

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Ponto Final

Receber bem os animais no confinamento é ser um confinador de sucesso Compreender as necessidades fisiológicas dos bovinos no momento do desembarque no confinamento, visando mantê-los saudáveis, além de ser a conduta mais adequada quanto ao bem-estar animal, é uma decisão lucrativa

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o contrário do que muitos pensam, o sucesso financeiro no confinamento envolve uma infinidade de práticas e ações que devem ser avaliadas e estabelecidas antes mesmo da chegada dos animais ao confinamento e não somente durante o período de engorda. Avaliações prévias relacionadas à origem dos animais, o histórico alimentar, problemas de superlotação de animais no curral ou no caminhão, restrições hídrica e alimentar por longos períodos, problemas no embarque e desembarque, elevado tempo de viagem, condições precárias das estradas, o reagrupamento social, dentre outros, são fatores que influenciam diretamente a forma como os bovinos deverão ser preparados para o início da fase de adaptação. Dessa forma, de acordo com as condições estruturais e de equipamentos disponíveis no confinamento, bem como a disponibilidade de equipe, o confinador precisará elaborar protocolos nutricionais e sanitários que atendam as necessidades de cada lote de animais recém chegados. Nesse cenário, compreender as necessidades fisiológicas dos bovinos no momento do desembarque no confinamento,

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Cada confinamento precisará desenvolver seu próprio protocolo de recebimento e este deverá ser reavaliado e alterado, se preciso for, constantemente

visando mantê-los saudáveis, além de ser a conduta mais adequada quanto ao bem-estar animal, é uma decisão lucrativa dado os elevados custos atuais de aquisição dos animais e da alimentação. É consenso geral entre os técnicos responsáveis pelos confinamentos mais modernos ao redor do mundo que animais recém desembarcados precisam rapidamente reduzir o estresse, reidratar, realizar a reposição de eletrólitos e atender as exigências de proteína e energia, visando elevar a imunidade. Animais imunodeprimidos são facilmente acometidos por problemas respiratórios (Doença Respiratória Bovina DRB), são pouco responsivos a protocolos sanitários (principalmente quanto ao uso de vacinas), apresentam dificuldades em responder aos protocolos nutricionais de adaptação, apresentam baixo consumo de matéria seca e consequentemente, baixa taxa de ganho de peso. Dados da literatura científica reportam que, além dos custos com tratamento de animais com DRB, principalmente durante a fase de adaptação (primeiros 21 dias), estes serão fortes candidatos a apresentarem menor taxa de ganho diário (redução entre 50 a 300 gramas por dia) quando comparado com animais saudáveis do mesmo lote. Nesse cenário, o recebimento de animais em confinamento é talvez a grande prioridade no período de engorda. Muitos trabalhos foram desenvolvidos nos últimos anos visando gerar dicas de protocolos de recebimento e adaptação. Contudo, é preciso lembrar que cada confinamento precisará desenvolver seu próprio protocolo de recebimento e este deverá ser reavaliado e alterado, se preciso for, constantemente. Nos últimos anos, pesquisadores do Departamento de Zootecnia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, FZEA/USP, estão conduzido trabalhos na área de recebimento de animais em confinamento, visando desenvolver práticas de manejo que melhorem o bem estar animal e o seu desempenho.

Animais recém desembarcados precisam rapidamente reduzir o estresse, reidratar, realizar a reposição de eletrólitos e atender as exigências de proteína e energia, visando elevar a imunidade A Revista do PecSite

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