Edição 2 - Revista do Ovo

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nÂş 2 - ano I novembro/2011 www.avisite.com.br/revistadoovo

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de frangas comerciais

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Os pontos importantes para o desempenho da futura poedeira

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Aproveitamento de resĂ­duos Como manejar e aproveitar corretamente os dejetos

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EDITORIAL

EXPEDIENTE

Manejo que faz a diferença A Revista do Ovo deste mês destaca um tema que é vital para o bom desempenho da granja e para o retorno econômico do produtor: o manejo. No artigo “Boas práticas na recria de frangas comerciais”, a pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Helenice Mazzuco, aponta a adequada criação das frangas de reposição como um dos fatores de sucesso para a produção das poedeiras comerciais. Assim como a genética, ela ressalta a importância da nutrição dessas aves. “A dieta da franga em recria deve conter os minerais essenciais Ca e P para garantir a integridade de um esqueleto adequadamente formado, bem como preparar a poedeira às demandas em Ca e P para a formação da casca dos ovos e igualmente na manutenção de seus ossos”. Segundo Helenice, a observância dos critérios de boas práticas para a produção de frangas de reposição de qualidade se reflete em toda a vida produtiva da poedeira comercial moderna. Então, se você quer manter a qualidade do seu plantel dos ovos produzidos, leia com atenção a este trabalho (página 10), que está imperdível. Outro assunto bastante importante na avicultura de postura, e que apresentamos aqui, está relacionado ao meio

A Revista do Ovo

Publisher Paulo Godoy paulogodoy@avisite.com.br

ambiente. O que fazer e como aproveitar os dejetos da produção de ovos? A biodigestão e a compostagem são dois métodos eficientes de tratamento e reciclagem dos dejetos de animais. Cada um com suas particularidades, porém, com diversas vantagens. A biodigestão é o processo anaeróbio enquanto a compostagem, o aeróbio. Os profissionais ouvidos pela Revista do AviSite lembram que a primeira pergunta que se deve fazer ao produtor é: O que fazer com o produto final da compostagem ou o efluente gerado, no caso dos biodigestores? Veja a partir da página 16 quais soluções o produtor de ovos pode adotar em sua granja para preservar o meio ambiente e obter retorno econômico com o manejo dos dejetos das poedeiras.

Redação Andrea Quevedo (MTB 27.007) Érica Barros (MTB 49.030) Mariana Almeida (MTB 62.855) imprensa@avisite.com.br Comercial Christiane Galusni Fernanda Bronzeado publicidade@avisite.com.br Diagramação e arte Mundo Agro e WL Publicidade luciano.senise@grupowl.com.br Internet Jessica Sousa Rafael Ribeiro Vinicius Morello webmaster@avisite.com.br Circulação e assinatura Carla Fracalossi (19) 3241-9292 assinatura@avisite.com.br

Dejetos da avicultura de postura devem ser manejados de forma a preservar o meio ambiente

Fale com a redação! imprensa@avisite.com.br Tel: (19) 3241 9292

Mundo Agro Editora Ltda. Rua Erasmo Braga, 1153 13070-147 - Campinas, SP

PAINEL DO LEITOR

SUMÁRIO

A Revista do Ovo chega para atender aos anseios de um público ávido em informações técnicas, práticas e didáticas de sua atividade: a cadeia produtiva do ovo.

Notícias Curtas UE enfrenta dificuldades para impor embargo às gaiolas a partir de 2012 .........................................

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Gostaríamos de parabenizar a equipe AviSite por mais esta iniciativa. Sem dúvida o setor de ovos é de grande importância para a avicultura brasileira e mundial, e merece esse destaque através de uma revista exclusiva sobre o assunto, e de alta qualidade como todas as outras da família AviSite. Agradecemos o convite em participar desse passo tão importante para o setor e informamos que estamos à disposição para colaborar no que pudermos. Andréa de Britto Molino, pesquisadora da FMVZ – Unesp

Capa Os dejetos da avicultura de postura e seu aproveitamento ................

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Artigo Boas práticas na recria de frangas comerciais ........................

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Notícias Ovos ilegais

UE enfrenta dificuldades às gaiolas a D

os 27 estados-membros componentes da União Europeia, mais de um terço tende a entrar em 2012 praticando uma ativida-

Questão é mais complexa, pois envolve a capacidade econômica dos produtores. Proposta inicial é a de se proibir a saída dos “ovos ilegais” dos países produtores e, além disso, dar-lhes um único destino: a industrialização

de que, aos olhos da legislação europeia, será considerada ilegal: a produção de ovos provenientes de poedeiras mantidas em gaiolas convencionais. E as autoridades europeias sabem disso. Falando ao Comitê de Agricultura do Parlamento Europeu, John Dalli, Comissário para questões de consumo e saúde da UE, revelou que – realizada uma pesquisa entre os 27 integrantes da UE quanto ao nível de implantação das gaiolas “enriquecidas” (as

únicas permitidas a partir de 1º de janeiro do ano que vem) – cinco países não deram qualquer informação à Comissão Europeia, enquanto outros seis anteciparam que não têm condições de atender o prazo-limite definido pela legislação. Conforme Dalli, não há, da parte da Comissão Europeia, qualquer intenção de postergar a aplicação do embargo às gaiolas convencionais. E não só porque a maioria dos países do bloco investiu pesado na substituição dos velhos equipamentos, mas especialmente porque se fez uma promessa aos consumidores – garantir mais bem-estar às poedeiras. E isso não pode ser agora ignorado. Mas – prossegue o Comissário – não se pode ignorar também que a produção de ovos sob o sistema “ilegal” continuará ocorrendo. O que fazer? A proposta inicial é a de se proibir a saída dos “ovos ilegais” dos países produtores e, além disso, impedir que se-

Produtores de ovos que conseguiram adequar-se à nova legislação acusam os concorrentes não aptos de vários países de tratarem com descaso a implantação da nova regra

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para impor embargo partir de 2012 jam comercializados no varejo. Deveriam ter um único destino: a industrialização. Porém – observa Dalli – essa é uma questão que não fica restrita ao campo do bem-estar animal. Tem outras dimensões. Por exemplo, sérias implicações econômicas, especialmente nos países que produzem esses “ovos ilegais”, alguns deles já em profunda crise. Isso, sem citar o ângulo do consumo – em termos de abastecimento, de atendimento da demanda e, claro, de preço. A realidade é que, independente de qualquer posicionamento oficial por parte da UE, os países produtores desses ovos enfrentarão redução de mercado, pois os demais integrantes da UE aptos a atender a nova legislação já manifestaram sua intenção de proibir a entrada dos “ovos ilegais” em seu território. Mas será difícil impor ao “país infrator” regras sobre a destinação interna do produto. Como as discussões em torno do banimento das gaiolas vêm desde o começo dos anos 1990, alguns países – como Áustria, Alemanha e Suécia – adotaram a normativa imediatamente, ou seja, ainda em 1999, mal ela foi baixada. A Holanda aproveitou os sacrifícios em massa, ocorridos durante o surto de Influenza Aviária de 2006, para forçar a transição para o novo sistema. E os britânicos (Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte) – reconhecidos mundialmente por sua perseverante defesa dos animais – assumiram de pronto as mudanças, no que foram auxiliados pelos respectivos governos.

Britânicos, reconhecidos mundialmente por sua perseverante defesa dos animais, assumiram de pronto as mudanças e foram auxiliados pelos respectivos governos

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São esses países, principalmente, que entram em 2012 atendendo a uma legislação longamente discutida e efetivamente definida há mais de 12 anos. Mas acabam sendo as exceções, pois grande parte do bloco de 27 integrantes da UE (como França, Polônia, Bélgica, Portugal, Itália, Espanha, Grécia e Hungria) ainda mantém significativo volume de poedeiras em gaiolas convencionais. Não por descaso com a nova regra, mas por dificuldades econômicas.

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Notícias

A questão econômica Estima-se que a transição para um novo sistema de criação (não necessariamente para as “gaiolas enriquecidas”, as únicas gaiolas autorizadas a partir de 2012) exija do avicultor investimentos da ordem de 20 euros (quase R$50,00) por poedeira alojada. O problema é que o bloco enfrenta um período de superprodução e, por isso, o preço do ovo se encontra extremamente baixo, impossibilitando investimentos em novos sistemas de produção. Mas isso não é tudo. A mudança já foi devidamente avaliada do ponto de vista econômico, estando demonstrado que irá elevar o custo de produção em índices que variam entre 7% e 12%, conforme o país. E se, por exemplo, o produtor optar pelo sistema “free range” (ao ar livre) em vez de adotar as “gaiolas enriquecidas”, o aumento no custo supera os 20%. As dificuldades do setor, entretanto, não se esgotam aí. Assim, quando esses aumentos de custos são combinados com outros custos enfrentados pelos produtores europeus – por exemplo, os decorrentes da proibição de uso de matérias-primas geneticamente modificadas, das restrições de ordem ambiental e dos elevados custos de energia e mão-de-obra – o ovo europeu pode ficar de 50% a 60% mais caro que o dos EUA e do Brasil, conforme o Serviço de Marketing Agrícola do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). É até provável que, frente a esses altos custos, muitos avicultores já estejam preparados para atender à nova legislação, mas mantêm a produção no sistema tradicional apenas para não sofrer mais prejuízos. De toda forma, está previsto

que, em pouco mais de 10 semanas, a atual fase de superprodução será substituída por uma fase de subprodução: é quando ocorrerá a transição em massa e simultânea para o novo sistema. Por ora, os órgãos responsáveis da União Europeia estimam que a produção de ovos do bloco continuará estável, aumentando apenas 0,1% em 2012. É bem provável, no entanto, que o crescimento seja negativo.

O Reino Unido Em plena semana comemorativa do ovo (de 10 a 14 de outubro), os produtores britânicos perderam a fleuma e decidiram partir para verdadeira guerra contra outros produtores de ovos da União Europeia. Exigem do Primeiro Ministro, David Cameron, ato que proíba a entrada no Reino Unido, a partir de 1º de janeiro de 2012, de ovos que consideram “ilegais”. Ocorre que o Reino Unido não é autossuficiente na produção de ovos: complementa 20% de suas necessidades com importações de países vizinhos. É esse espaço que os produtores de ovos britânicos não querem ver ocupado de maneira ilegal. Não deixam de ter razão. Afinal, desde que se iniciou o movimento pelo banimento das gaiolas convencionais, lá nos anos 1990, os criadores do Reino Unido passaram a dedicar atenção à substituição do sistema. Estima-se que desde então investiram cerca de 400 milhões de libras (mais de 1,1 bilhão de reais) na troca das “velhas” gaiolas por gaiolas enriquecidas. O que os produtores de ovos britânicos não querem, em suma, é que todo seu esforço e gastos fi nanceiros sejam agora ignorados.

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Ovos contaminados

Contaminação por dioxina volta a desafiar avicultura europeia Problema, agora, envolve a produção de ovos orgânicos e foi detectado na Holanda

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indústria avícola europeia enfrenta mais uma vez o desafio da contaminação de seus produtos por dioxina. O problema, agora, envolve a produção de ovos orgânicos e foi detectado na

Holanda. Rastreando a distribuição do produto, técnicos da vigilância sanitária holandesa constataram que toda a produção da granja contaminada foi direcionada para uma central de emba-

lagem de um país vizinho, a Bélgica, de onde parte foi vendida a lojas varejistas da própria Bélgica e de outro país também vizinho, Luxemburgo, e, ainda, a uma indústria belga processadora de ovos. Como o problema atravessou fronteiras, técnicos belgas se uniram aos técnicos holandeses para avaliar causas e extensão da contaminação. Mas até agora não foi possível descobrir qual a origem da contaminação e se ela é recente ou ocorre há tempos. Habitualmente, a contaminação dos produtos avícolas por dioxina (substância carcinogênica de alta toxicidade) tem ocorrido através das rações e não chega a ser novidade em três dos países citados – Holanda, Bélgica e Alemanha. Em janeiro deste ano a contaminação foi detectada em frangos e ovos produzidos na Alemanha. Então, o chamado “escândalo da dioxina” atingiu pelo menos nove dos 16 estados alemães.

Em busca de novos mercados

Ubabef quer dobrar embarque de ovos

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Ubabef pretende dobrar as exportações de ovos em até três anos. Em 2010, os embarques totalizaram 27,7 mil toneladas - uma queda de 25% em relação a 2009. O Rio Grande do Sul lidera o ranking nacional, com participação de 12,5 mil toneladas. Segundo o presidente da Ubabef, Francisco Turra, para alcançar a meta, será necessário abrir mercados. Europa e África são os alvos do momento. Mas antes é preciso aprovar o Plano Nacional de Resíduos e Contaminantes (PNRC) junto ao Ministério da Agricultura. “O documento é a certificação do cumprimento das exigências desses mercados”, explica. A tarefa é árdua: as exportações entre janeiro e agosto deste ano, de 9 mil toneladas, já são 52% menores do que as do

mesmo período do ano passado. Turra lembra que o setor começou a se organizar recentemente. Outro objetivo setorial é ampliar o consumo de ovos no País, que hoje é de 7,8 quilos ou 145 unidades por habitante, ao ano. O volume está 8,2% abaixo da média mundial. A receita inclui campanhas e degustação em eventos. “Há um longo caminho para ser vencido, que inclui vencer barreiras e desmistificar.” As informações foram divulgadas pelo Correio do Povo.

Para conquistar novos mercados falta o Plano Nacional de Resíduos e Contaminantes

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Notícias IBGE/ Brasil

Três Estados detêm mais da metade das poedeiras do País

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último levantamento do IBGE mostra que no último dia do primeiro semestre de 2011 o plantel de poedeiras existentes no País andava próximo dos 120 milhões de cabeças e apresentava crescimento de 2,7% em relação ao plantel recenseado em 30 de junho de 2010.

Os dados divulgados mostram que apenas três Estados – São Paulo, Paraná e Minas Gerais – respondem por mais da metade do plantel existente. Note-se, de toda forma, que a presença do Paraná na segunda posição (bem como a do Rio Grande do

Sul e Santa Catarina no quarto e quinto lugares) deve-se não exatamente às poedeiras de ovos de consumo, mas também às produtoras de ovos férteis ou, mais especificamente, às matrizes de corte, das quais a Região Sul aloja mais de 50% do total nacional.

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Falta apoio

Autossuficiência não blinda granjeiros no Amazonas

Estado ainda perde para a importação, que sai financeiramente mais vantajosa para os grandes compradores

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maior oferta de pescado, durante o período da vazante (primeira quinzena de outubro) faz o setor granjeiro, todos os anos, enfrentar problema do estoque de ovos. A concorrência com as granjas de fora, que vendem o produto para as grandes redes varejistas até 40% mais barato do que a produção regional, também é outro entrave para a competitividade dos 80 produtores do Estado, aponta o presidente da Associação Amazonense de Avicultura (AAG), Milton Sakamoto. O Amazonas já é autossuficiente na produção de ovos, mas ainda perde para a importação, que sai financeiramente mais vantajosa para os grandes compradores. Os custos com ração de soja e milho, já que 70% vêm de fora, encarecem ainda mais o preço final do produto, na avaliação do diretor da AAG. Enquanto as granjas regionais ven-

dem a caixa com 30 dúzias de ovos por R$ 80, os ovos importados são trazidos por R$ 65, incluindo o frete. No entanto, de acordo com Sakamoto, o produto que tem vida de prateleira de 25 dias já chega a Manaus com 15 dias. O público-alvo dos produtores regionais fica limitado aos supermercados de médio porte, mercadinhos, feiras e atravessadores. Milton Sakamoto reclama por benefícios fiscais de abrangência da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) para subsidiar a compra de ração. Quanto ao estoque local, outro agravante é a temperatura do verão amazônico que também reduz o tempo de prateleira dos ovos. Segundo a associação, o Amazonas tem 2 milhões de aves, sendo que 75% delas estão produzindo cerca de 1,5 milhões de ovos por dia. Com dados do jornal A Crítica. Produção Animal | Revista do Ovo 9

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Manejo

Boas práticas na recria de frangas comerciais Os pontos importantes para garantir o desempenho produtivo da futura poedeira

Autor: Helenice Mazzuco, Zootecnista, Ph.D., da Embrapa Suínos e Aves

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sucesso na produção de ovos comerciais é dependente da adequada criação de frangas de reposição. As práticas no manejo nutricional e de monitoramento do peso e uniformidade têm bases fisiológicas que influenciam diretamente o desempenho produtivo da futura poedeira. Adequar o programa nutricional às exigências da ave/ linhagem constitui-se num dos pontos principais para o alcance de resultados de qualidade durante a recria e posterior estágio reprodutivo. Podem ser consideradas quali-

dades essenciais para uma boa franga de reposição, o seu desenvolvimento corporal e maturidade sexual em idade adequada, com boa uniformidade no inicio de produção. Para que se tenham estas características, vários fatores devem ser levados em conta nas diversas fases da cria e da recria dessas frangas, que envolve todo o seu manejo, seja nutricional, de alojamento e vacinas, além da aplicação constante das boas práticas de produção durante a fase de crescimento. As poedeiras comerciais modernas estão cada vez mais exigen-

tes no seu início de postura, sendo que a não observância dos princípios básicos da produção das frangas, caso não atendidos, acarretam vários problemas durante o inicio de produção e ao longo do ciclo produtivo. A alta mortalidade observada na fase inicial, bem como a baixa manutenção do pico de produção e a menor longevidade produtiva das aves são causas-reflexo das fases de criação anteriores. Para algumas linhagens comerciais, onde se observam lotes maduros com 21-22 semanas de idade e picos de produção com 23 a 24

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semanas de idade (acima de 90%), a conformação corporal com estrutura esquelética bem formada e ossos medulares com boa densidade óssea, são essenciais na manutenção de bons índices produtivos dessas aves. Além dessa precocidade de produção, essas aves também apresentam alta produção de ovos extras logo no seu inicio de postura, o que pode vir agravar os problemas ósseos desta fase e futuros. Assim, especial atenção deve ser direcionada às práticas de alimentação durante o período da recria tendo como alvo, o adequado crescimento e formação dos ossos. A alimentação e as práticas de manejo das frangas durante essa importante fase de crescimento influencia sobremaneira a produção e a qualidade dos ovos durante toda a vida produtiva da poedeira comercial. Parte do potencial do bom desempenho na postura é definido durante as fases de cria e recria e mesmo anteriormente, durante a fase de desenvolvimento ainda durante a incubação (Figura 1). São abordadas no presente artigo, algumas práticas na recria que impactam o bom desenvolvimento da franga comercial consequentemente, o desempenho produtivo da poedeira comercial.

Qualidade da pintainha A qualidade da pintainha de um dia se inicia na fase anterior, onde a nutrição, o manejo e as boas práticas para as matrizes são essenciais para se obter aves com características fenotípicas adequadas e, sobretudo, no seu aspecto interior quanto às reservas nutricionais iniciais, bem como de anticorpos maternos, garantindo a saúde imunológica necessária para o início adequado da fase de crescimento dessas aves. 11 Produção Animal | Revista do Ovo

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Figura1. Pontos críticos na produção da franga influenciando a qualidade do produto final (Adaptado de Penn State Cooperative Extension booklet, Geordano Dalmédico)

Qualidades essenciais para uma boa franga de reposição são: desenvolvimento corporal e maturidade sexual em idade adequada, com boa uniformidade no início de produção

A idade da matriz tem grande influência na qualidade da pintainha de um dia. Aves na fase inicial de postura produzem ovos menores, com maiores perdas de peso durante a incubação, resultando em pintainhas de baixo peso corporal e com reservas insuficientes para o início de seu desenvolvimento. Como resultado, observa-se alta mortalidade durante o alojamento, principalmente se este prazo é dilatado devido à distância do incubatório à granja. Durante a fase inicial de desenvolvimento ocorre a definição do tamanho interno dos órgãos, determinando a estrutura corporal da ave, que dará suporte para a produção de ovos e de bom tamanho. Hussein et al. (1996) indicaram que o peso corporal da ave, que por sua vez é influenciado por fatores nutricionais durante a recria, pode afetar o tamanho dos ovos, particularmente no início da fase produtiva.

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Manejo

Recentemente, Nangsuay et al. (2011) mostraram a influência da idade da matriz sobre o peso da gema, do albúmen e na proporção gema:albúmen. Com o aumento na idade da matriz, maior conteúdo de gema em detrimento ao conteúdo de albúmen foi observado, indicando que este pode ser um dos fatores limitantes ao desenvolvimento embrionário, além do tamanho do ovo. Igualmente importante é lembrar que a principal fonte de minerais para o embrião durante a incubação é a gema e que por sua vez é fonte quase que exclusiva de P, Zn, Mn e Fe (Richards & Packard, 1996; Richards, 1997). Também a nutrição “in-ovo” estudada por Yair & Uni (2011) mostrou ser benéfica ao desenvolvimento embrionário uma vez constatado o aproveitamento pelo embrião dos minerais, vitaminas e aminoácidos suplementados.

Alimentação e práticas de manejo das frangas influenciam a produção e a qualidade dos ovos

Para as matrizes no final do ciclo produtivo, os maiores problemas referem-se à pequena transferência de imunidade passiva para as principais enfermidades. Assim, as pintainhas ficam expostas a problemas imunológicos logo na fase inicial de seu crescimento, também resultando em maior mortalidade no alojamento. Por outro lado, estes problemas podem ser minorados com manejo nutricional adequado na primeira semana de vida, com dietas de maior densidade nutricional possível e na forma minipeletizada, favorecendo assim, o aproveitamento de todos os nutrientes essenciais de forma adequada à nutrição dessas aves. A progênie oriunda de matrizes de corte que receberam suplementação de Zn, Mn e aminoácidos mostrou maior viabilidade nas idades entre 1 – 34 dias, conforme estudo de Virden et al. (2003).

Essa resposta na viabilidade pode ser um reflexo à melhoria na imunidade e resistência às enfermidades devido à maior disponibilidade desses microminerais que influem diretamente na função imune. A influência da dieta da matriz sobre a qualidade da progênie também foi estudada por Atencio et al. (2005a) e resultados indicaram que as aves oriundas de matrizes que receberam altos níveis de Vitamina D3, Ca ou de 25-OHD3 mostraram maior ganho de peso, alta concentração de cinzas ósseas e Ca plasmático e reduzida incidência de discondroplasia tibial e raquitismo.

Fase de cria e recria As fases de cria e recria das pintainhas correspondem desde o alojamento até a fase pré-postura que pode ser de 18 semanas. Normalmente estas fases podem ser divididas em cria de 1 até 5 semanas e recria de 6 a 18 semanas de idade das aves. Por outro lado, considerando que o desenvolvimento da ave é multifásico (Figura 2), onde de 1 até 5 semanas ocorre o crescimento visceral, de 6 a 12 semanas, ósseo e de 13 a 18 semanas, do aparelho reprodutor, a melhor adequação nutricional deveria seguir estes estágios de desenvolvimento fisiológico. Durante a fase de 6 a 12 semanas de idade, ocorre o crescimento ósseo da ave (Kwakkel et al., 1993). Nesta fase, cuidados especiais com as fontes de cálcio e fósforo são fundamentais para se ter formação óssea adequada, até porque durante a fase de produção este tecido é extremamente importante para dar suporte à parcela de cálcio para a formação da casca bem como no controle homeostático sanguíneo durante a formação do ovo. Igualmente importante é o programa de luz adotado durante

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a fase de recria e sua influência sobre o adequado desenvolvimento dos ossos das aves. Hester et al. (2011) indicaram que frangas de 2 a 17 semanas de idade expostas a um programa de luz “gradativo” (20 h de luz às 2 semanas de idade decrescendo à 10 h de luz às 17 semanas de idade) tiveram maior crescimento dos ossos longos e maior área óssea comparadas às aves com rápida exposição a um foto período que variava de 20 h à 9 h de luz a partir de 2 semanas até 16 semanas de idade, respectivamente. Anteriormente, Chen et al. (2007) havia indicado que programas de luz muito longos (17 h de luz) ou muito curtos (11 h de luz) podem restringir o desenvolvimento do aparelho reprodutor da franga em crescimento, causando reduzida formação de folículos ovarianos. A qualidade da nutrição também influencia o sistema imunitário da franga em crescimento. Pilevar et al. (2011) mostraram que a proporção dos ácidos graxos poli-insaturados das séries n6 e n3, fornecidos na dieta das frangas nas proporções 10, 6 e 2 para a relação n6:n3 entre 1 dia a 22 semanas de idade, aumentaram significativamente a produção de anticorpos para a doença de Newcastle, Influenza Aviária e Bronquite Infecciosa.

Pontos críticos na formação óssea da futura poedeira As poedeiras comerciais presentes hoje no mercado transferem diariamente para a casca dos ovos, 10% do cálcio corporal total, o que impõe alta demanda de Ca para manter a homeostase sanguínea concomitantemente à formação da casca, (Bar, 2008). Os órgãos envolvidos no controle da homeostase do Ca sanguí-

Figura2. Estágios de crescimento e desenvolvimento de órgãos e tecidos de frangas de reposição (Adaptado de Bertechini, 2006)

Baixa manutenção do pico de produção e a menor longevidade produtiva das aves são causasreflexo das fases de criação anteriores

neo são os rins, os intestinos e os ossos, este último atuando pelo mecanismo da reabsorção óssea, particularmente dos ossos medulares, prontamente formados na franga sexualmente madura. Igualmente, a homeostase do Ca é um dos fenômenos da fisiologia dos ossos mais importantes para manutenção destes. A concentração do Ca da dieta influencia o papel mantenedor dessa homeostase por parte dos intestinos e dos próprios ossos. Caso a concentração do Ca dietético for acima ou igual a 3,6%, a maior parte do Ca para deposição na casca será de origem intestinal, no entanto, se o nível de Ca da dieta for igual ou menor que 2%, os ossos virão suprir entre 30-40% da necessidade do Ca para formação da casca, (Johnson, 2000), sendo então os ossos medulares e até mesmo os ossos estruturais, as principais fontes de Ca, via reabsorção óssea. Conforme Whitehead (2004), a reabsorção óssea ocorre com maior rapidez quando o Ca não está disponível no trato digestivo para pronta utilização, por exemplo, durante o período noturno, quando a formação da casca ocorre e Produção Animal | Revista do Ovo 13

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Manejo

Qualidade da pintainha de um dia se inicia na fase anterior. Nutrição, manejo e boas práticas para as matrizes são essenciais

Dieta da franga em recria deve conter Cálcio e Fósforo para garantir a integridade do esqueleto e preparar a poedeira para as demandas da formação da casca dos ovos

assim, a maior proporção do Ca presente, é oriunda dos ossos. A maior parte do P presente nas aves está localizado nos ossos (Weaver, 2001). O P possui um importante papel na fisiologia celular e na mineralização do esqueleto, sendo componente dos cristais de hidroxiapatitana forma de (-PO4-3) presente na matriz óssea. As necessidades de P na poedeira está intimamente associado às necessidades de Ca e à dinâmica dos ossos medulares. A dieta da franga em recria deve conter, portanto, os minerais essenciais Ca e P para garantir a integridade de um esqueleto adequadamente formado bem como preparar a poedeira às demandas em Ca e P para a formação da casca dos ovos e igualmente na manutenção de seus ossos. Os hormônios com maior envolvimento na regulação do Cálcio (Ca) nas aves são o paratormônio (PTH), a 1,25 dihidroxicolecalciferol (1,25 D3) e o 17�-estradiol, além da calcitonina, (Beck & Hansen, 2004). Destes, a forma ativa

da Vitamina D, a 1,25 D3 é metabolizada à 25-(OH)-D3 e finalmente à 1,25 (OH-2) D3 no fígado e rins, respectivamente. Mais de 90% da Vitamina D está presente na gema, (Dacke, 1998) e seu conteúdo reflete o efeito “carryover”, quando a dieta da matriz influencia quantitativa e qualitativamente esse nutriente em particular, (Atencio et al., 2005a,b). Daí a importância em fornecer níveis adequados e fontes de qualidade de Vitamina D, à matriz leve que vai dar origem à pintainha de reposição bem como à franga em recria. Por ser uma vitamina lipossolúvel, a Vitamina D, bem como as demais vitaminas dentro dessa classificação necessitam que a dieta seja complementada com fontes de gordura para que sua absorção seja eficiente e, portanto, ingredientes ricos em gordura bem como os óleos utilizados numa dieta devem ser também de qualidade, visando o aproveitamento dos nutrientes pelas pintinhas e frangas em recria. Vale lembrar que a biodisponibilidade de vitaminas nas dietas avícolas é dependente de dois fatores: (a) estabilidade das vitaminas presentes nos premixes e suplementos bem como nos ingredientes utilizados na formulação e, (b) a utilização eficiente dessas fontes por parte das aves. Os premixes vitamínicos devem ser armazenados em embalagens que protejam o conteúdo interno da ação da luz e oxigênio e em locais onde a umidade e temperatura sejam controladas, de preferência em locais frescos e baixa umidade para evitar o comprometimento da potência das vitaminas. Boas práticas na fábrica de ração auxiliam na manutenção da estabilidade e qualidade das fontes de vitamina D presentes

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nos suplementos vitamínicos como, por exemplo, o acondicionamento e conservação dos produtos em locais adequados, a utilização de produtos de origem controlada e idônea e a formulação e elaboração das rações por pessoal capacitado.

Boas práticas na alimentação da franga em crescimento Conforme indicado nas Boas Práticas de Produção na Postura Comercial (Mazzuco et al., 2006), as rações devem ser balanceadas atendendo às exigências nutricionais nas distintas fases de criação e as recomendações de manejo de arraçoamento indicadas conforme manual da linhagem. É importante lembrar que as mudanças na quantidade de ração oferecida às aves em recria devem ser baseadas no peso corporal alvo para a idade. O monitoramento do peso corporal das frangas é, portanto um pré-requisito às alterações qualitativas ou quantitativas da dieta nas fases de crescimento das aves visando alcançar o peso corporal adequado para a idade. A produção da ração na propriedade deverá seguir as normas de Boas Práticas de Fabricação (BPF) ou caso adquirida de terceiros, deverá ser obtida de estabelecimentos idôneos, preferencialmente certificados para BPF. Adicionalmente, o interior dos silos graneleiros localizados na granja, deve ser limpo e higienizado adequadamente e ser vedado para evitar a presença de animais, poeira e entrada de água da chuva. Os veículos de carga e descarga de matérias-primas e rações devem estar em boas condições e devem ser higienizados adequadamente a cada troca de ingrediente/partida. Deve ser lembrado que a limpeza dos silos deve ser efetuada entre

Especial atenção deve ser direcionada às práticas de alimentação durante o período da recria tendo como alvo, o adequado crescimento e formação dos ossos

partidas de rações e ingredientes a serem armazenados. Igualmente importante é a qualidade da água de bebida que chega até as pintinhas e frangas. A água da granja deve ser captada em reservatório central para posterior distribuição; precisa ser abundante, limpa, fresca e isenta de patógenos. Deve ser monitorada para verificação das condições químicas, físicas e microbiológicas, sendo que a periodicidade deste monitoramento será dada de acordo com o risco ambiental, ou seja, suscetibilidade à contaminação. Quando alojadas em gaiolas, as aves devem ter acesso a bebedouros tipo nipple ou calha que recebam manutenção e limpeza regulares; quando no piso, bebedouros pendulares ou infantis devem ser adequadamente higienizados e periodicamente aferidos

quanto à altura, funcionamento e verificados quanto à presença de vazamentos. Os reservatórios e caixas d’água devem estar localizados em áreas sombreadas ou protegidos da incidência solar e inacessíveis à animais. Do mesmo modo, canos e tubulações devem estar protegidos (maior parte dimensionada para permanecer no subsolo) evitando o aquecimento da água e rachaduras ou quebras, que podem ser um foco de contaminação. As caixas de armazenamento de água (reservatórios, caixas d’água) devem ser limpas e higienizadas com frequência semestral. Manter registros do consumo diário de ração é de extrema importância nessas fases iniciais da criação de frangas, qualquer modificação no consumo pode ser indicativo de problemas no lote, seja de manejo incorreto ou doença subclínica. O acompanhamento da condição corporal das aves deve ser utilizado para se verificar a adequação à dieta e ao manejo da alimentação. O peso corporal alvo para a idade e a uniformidade de peso das frangas durante a recria são os melhores indicadores de desempenho do plantel.

Considerações finais A observância dos critérios de boas práticas para a produção de frangas de reposição de qualidade se reflete em toda a vida produtiva da poedeira comercial moderna. A qualidade da pintinha, bem como o manejo nas fases de cria e recria, aliado às boas práticas poderão dar suporte para garantir a produção de ovos de boa qualidade com boa produtividade ao setor de postura. A íntegra do texto com a referência bibliográfica está disponível na seção Ciência e Tecnologia do AviSite (www.avisite.com.br/cet). Produção Animal | Revista do Ovo 15

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Tecnologia

Simplesmente resíduos? Com o manejo adequado, estes dejetos podem significar lucro ou economia

Os dejetos da avicultura de postura e seu aproveitamento O

Os dejetos em uma granja de postura podem, ao mesmo tempo, representar um potencial de poluição ou uma alternativa energética. O direcionamento depende exclusivamente do manejo adotado que pode permitir o aproveitamento dos dejetos dentro das condições estabelecidas em cada propriedade. Mas como fazêlo? Conversamos com especialistas no assunto para levantar as formas para garantir um bom manejo dos dejetos, o que também pode interferir nos custos de investimento e retorno dos avicultores

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s dejetos na avicultura de postura são valiosos do ponto de vista biológico e devem ser usados e não simplesmente eliminados. Como qualquer parte do sistema produtivo (nutrição, manejo, genética) o gerenciamento dos resíduos merece importância. A afirmação é da zootecnista Karolina Von Zuben, responsável pelo desenvolvimento de projetos de gestão ambiental na Bita Tecnologia Animal. Gerenciar os dejetos deve ser responsabilidade tanto do produtor quanto da agroindústria, co-responsável pela matéria-prima fornecida para a dieta dos animais. Segundo Karolina, é um fator complexo e deve envolver vários dados produtivos para a elaboração e condução do seu manejo e tratamento. Quanto ao tratamento escolhido, seja ele qualquer uma das diversas opções disponíveis, deve contar com a rigorosidade no controle do manejo para que se evite a contaminação ambiental e garanta a qualidade do produto final. Como explica a zootecnista, os dejetos são oriundos da digestão e absorção dos alimentos pelos animais. Neles estão presentes incontáveis tipos de bactérias e outros micro-organismos próprios da decomposição dos alimentos. Os nutrientes presentes estão diretamente relacionados às características da dieta do animal em questão. Desta forma, reaproveitar os dejetos é utilizar tais organismos e nutrientes sem poluir o meio ambiente fechando um ciclo sustentável (fertilização, matéria-prima, alimento e dejetos). No que diz respeito aos resíduos da avicultura, pelo poten-

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cial que representam, os dejetos podem ser aproveitados para a geração de biogás através da biodigestão anaeróbia dos dejetos de poedeiras. Este é o resultado do processo anaeróbio com a vantagem energética, sendo que o metano produzido tem alto poder calorífico, gerando ao produtor, que dele se utiliza, a oportunidade de economizar em energia. Outra opção é a compostagem. Uma forma mais econômica e rápida de transformar os nutrientes presentes nos dejetos em fertilizantes orgânicos para a agricultura e ainda reduzindo o risco ambiental. “O produtor tem a oportunidade de vendê-lo ou de ele próprio utilizá-lo em sua propriedade reduzindo custos com adubação”, ressalta Karolina.

Imagem: Embrapa Suínos e Aves

Geração do biogás através da biodigestão anaeróbia de dejetos de poedeiras tem a vantagem energética

Dejetos X meio ambiente Quando não manejado, os dejetos podem causar problemas como a contaminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas. Como afirma o pesquisador Airton Kunz, da Embrapa Suínos e Aves, “o solo não pode ser visto como um lugar de despejo”. A composição nutricional dos dejetos varia conforme o tipo de exploração: linhagem, genética, densidade das aves e a composição da ração consumida. Em geral, os dados da literatura relatam potencial de produção de 3.900m3 de biogás por dia num plantel de 100.000 aves em sistemas automatizados de produção e 550m3 de biogás por dia no mesmo plantel em sistemas convencionais onde os dejetos são armazenados. Segundo Airton, o dejeto da avicultura de postura é um material rico em nutriente e matéria orgânica. “Há uma boa concentração de nitrogênio, fósforo e potássio. O desafio é transformar o passivo em um ativo e estabelecer um mercado para isso”, completa.

Primeira pergunta que se deve fazer ao produtor que queira instalar um pátio de compostagem ou uma planta de biogás é: O que fazer com o produto final da compostagem ou o efluente gerado, no caso dos biodigestores?

Karolina Von Zuben ressalta que é preciso o tratamento e a reciclagem para que os dejetos sejam benéficos ao ambiente. E a compostagem e a biodigestao anaeróbia são exatamente isso: um tratamento. Os resíduos possuem elementos químicos nutritivos para os vegetais. Mas para virar fertilizante, os dejetos têm que passar por um processo de fermentação microbiológica que resulta na decomposição da matéria orgânica de forma aeróbia (com a presença de oxigênio) ou anaeróbia (sem oxigênio). Existem alguns programas de manejo de resíduos na avicultura. No Sul do Brasil, ele é usado como fertilizante. Empresas desta região recebem a cama para a produção de adubo, por exemplo. Já a biodigestão de dejetos é mais usada na bovinocultura e na suinocultura. Segundo Airton Kunz, nestes casos, os dejetos já estão na forma líquida, o que facilita a biodigestão. Na avicultura, é preciso adicionar água para que o processo da biodigestão aconteça. Karolina completa dizendo que este processo requer Produção Animal | Revista do Ovo 17

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Equipamento utilizado no processo de compostagem (dejetos + bagaço de cana).

Imagem: Karolina Von Zuben

Tecnologia

para daí chegar à conclusão de qual é a utilidade do biogás dentro da sua propriedade”, afirma Airton, prosseguindo: “Tecnicamente, não existe limitação para a instalação de um biodigestor. Posso ter uma poedeira e um biodigestor, a questão é a necessidade. Do que eu preciso? Qual é a minha necessidade? Quando compramos um carro, o fazemos em função de nossas necessidades e disponibilidade financeira. Não adianta comprar um carro de luxo para andar no meio rural”.

Mais pesquisas

condições de anaerobiose para a produção de biogás, fornecidos pelos dejetos advindos da bovinocultura leiteira e suinocultura, devido ao manejo de limpeza dos galpões. Já para a avicultura, onde os dejetos são sólidos, há a necessidade de diluição, o que acaba dificultando o negócio. “Da mesma forma com que os dejetos devem ser diluídos, o seu efluente também possui características líquidas e deve haver um planejamento de disposição final equilibrada para evitar a contaminação ambiental”, afirma Karolina Von Zuben. Airton Kunz também reforça que o processo de biodigestão gera um efluente, que precisa ser manejado em um tratamento complementar. Ele ressalta: “Esse líquido não pode ser reaproveitado para a compostagem, por exemplo. É um erro realizar a compostagem pós biodigestão. Não é recomendável tecnicamente porque vai faltar carbono, a não ser que você adicione uma fonte de carbono”.

Pátio de compostagem ou planta de biogás Antes que o produtor escolha entre uma ou outra tecnologia de tratamento e reciclagem de dejetos, é importante pensar qual é a demanda da propriedade. Para Airton é preciso fazer uma análise de trás para frente, pensando primeiro no que vai ser gerado e como isso pode ser aproveitado. “Depois disso, pode-se desenvolver um estudo de viabilidade escolhendo o melhor tipo de tratamento para o dejeto. No que se refere à geração de energia, por exemplo, se a demanda da propriedade for alta, vale a pena investir em um biodigestor, que gera energia a partir do biogás”, afirma. Ainda segundo o pesquisador, deixar de comprar energia da rede principal, com certeza é um ponto importante. “Ou então, caso a qualidade da rede elétrica seja ruim, se você mesmo trabalhar para gerá-la, a vantagem é grande. Mas cada caso deve ser avaliado com suas particularidades

Vale lembrar que a Embrapa está trabalhando muito com sistemas de biodigestão e compostagem. São linhas de pesquisa já estabelecidas. Também há estudos sobre a questão dos gases de efeito estufa no processo de compostagem e estratégia para diminuir a emissão de gases. No que se refere à biodigestão, há trabalhos buscando melhorar este processo, e as alternativas para tratamento quando for necessário. “Estamos trabalhando com tecnologias mais avançadas para a remoção de nutrientes dos efluentes de biodigestores. Todos estes estudos estão disponíveis na página da Embrapa (www.cnpsa.embrapa.br) ou através do e-mail sac@cnpsa.embrapa.br, que também pode ser utilizado para e sanar dúvidas”, afirma Airton Kunz Para Karolina Von Zuben, o Brasil está crescendo em pesquisas em geral, e com este tema não é diferente. “Porém, está muito aquém do crescimento do setor de ovos. É necessário maior esforço e investimento”, conta. Karolina também está disponível através da consultoria Bita Tecnologia Animal. Mais informações podem ser obtidas através da página www.bita.vet.br.

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