Jornal Mundo da Leitura nº. 19

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IMPRESSO

Mundo da Leitura

Jornal do Centro de Referência de Literatura e Multimeios - Edição Especial - 25 e 26 de agosto de 2005 - Passo Fundo - RS

Homenagens especiais: Erico Verissimo Hans Christian Andersen Miguel de Cervantes p.7 Valéria Polizzi: uma atitude positiva p.12 “Fantoches” apresenta vida e obra de Erico Verissimo p.14 jornal_ adolescentes.indd 1

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Passo Fundo, agosto de 2005 - Ano VIII, Edição Especial

Editorial

Jornadinha em 2005! Uma notícia muito esperada! O que aconteceu com você ao receber a notícia de que, neste ano, seria realizada a 3a Jornadinha Nacional de Literatura? Certamente você ficou feliz e estimulado(a) a participar dessa movimentação toda: livros, escritores, poetas, artistas, músicos, contadores de histórias, uma caça aos autógrafos de seus autores prediletos... A notícia da Jornadinha provocou um bate-papo diferente com seus professores, com seus colegas, com seus familiares, não é verdade? Esse bate-papo se transformou na proposta de experiências as mais variadas de leitura durante a PréJornadinha. Nesse momento você se sentiu motivado(a) a mergulhar nas diferentes obras dos autores convidados? Quantos mundos diferenciados essas obras poderiam proporcionar, não é mesmo? As conversas interessantes com seus professores sobre os convidados, sobre os livros que deveriam ler, realização debates sobre o conteúdo das mesmas foram passos importantes nesse diálogo. O desafio de seus professores para que você pudesse ler as obras, pudesse compartilhar com seus colegas suas experiências de leitura, sem dúvida, foi um momento em que você pôde envolver suas vivências pessoais com os diferentes temas propostos. Ninguém pode ler um livro sem que deixe de lado as suas características pessoais, as suas vivências familiares, nos diferentes grupos com quem convive, suas idéias, suas emoções, seus sentimentos. É sempre bom lembrar: quando

sentimos desejo de ler um livro, somos atraídos ou pelo título, ou pela capa, e temos uma grande curiosidade em conhecer o conteúdo desse texto, a vida de seu autor e em que período da história da humanidade essa obra foi produzida. Desenvolvemos, portanto, um grande diálogo a partir da leitura de uma determinada obra. Você já se deu conta da importância do diálogo, da comunicação? Nas conversas com as pessoas, conseguimos saber quem elas são, o que pensam, o que desejam, de que necessitam... Ao lermos um livro, podemos identificar idéias, emoções sentimentos vivenciados, inventados ou, ainda, reinventados pelo autor. Nesse processo, acionamos as nossas próprias idéias, nossas emoções, nossos sentimentos construídos em experiências individuais ou sociais. O ato de ler consiste numa troca de idéias, de sentimentos, de emoções, ao mesmo tempo em que somos capazes de entender, inclusive, o que não está escrito. Você já se deu conta de que muitas coisas não estão escritas no texto? De que muitas idéias são captadas por você a partir de pistas deixadas pelo autor? Por tudo isso, estimado leitor, amiga leitora, esperamos que você tenha tido momentos significativos de discussão sobre o grande tema da 3a Jornadinha – Diversidade cultural: o diálogo das diferenças. As ações desenvolvidas no contexto de sua escola, em suas discussões com seus colegas sobre o tema da diversidade cultural, o bate-papo que você terá com diferentes autores e os comentários que fizer com seus professores, seus colegas e seus familiares após o término dessa movimentação cultural inesquecível deverão ajudá-lo a

compreender o que significa o diálogo das diferenças. Lembre-se: ao assistir a um filme, a uma apresentação teatral, musical, ao participar de um grupo de conversa em meio eletrônico (orkut, fórum...), ao enviar um e-mail a um amigo, tudo isso é exemplo de diálogo entre pessoas diferentes que convivem, que se comunicam sem perder as suas próprias características. Nesse diálogo, os participantes, os interlocutores não devem ser passivos. Cada pessoa, cada ser deve atuar com autenticidade, ser verdadeiro e, assim, promover o intercâmbio de idéias, de experiências as mais diversas. Não podemos consumir apenas o que nos repassam, ler sem construir o real significado do que está no interior das palavras. Por isso mesmo, devemos nos transformar em leitores críticos, cidadãos que desejam transformar a sua cidade, o seu país e o mundo para melhor. Se você está contente com o mundo em que vive, continue assim. A sua existência não será notada. Você será mais um na sua casa, na sua escola, no grupo de amigos. Desejamos que você se transforme num agente de mudanças que observa a diversidade, mas que está disposto a promover diálogos transformadores em todos os momentos em todos os espaços, em todas as instâncias. Boa Jornadinha! Tania M.K Rösing Coordenadora geral das Jornadas Literárias

Expediente Correspondência:

Tiragem: 7000 exemplares

Centro de Referência de Literatura e Multimeios

Jornalista Responsável: João Carlos

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Tiburski - Reg. prof. 6.626-28-36

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Conselho Editorial: Professores das áreas de Literatura do curso de Letras: Adriano Teixeira, Eládio Weschenfelder, Fabiane Burlamaque, Miguel Rettenmaier, Paulo Becker, Tania M. K Rösing.

Passo Fundo/RS Contato: Telefone: (54) 316-8148 E-mail: leitura@upf.br Home-page: mundodaleitura.upf.br

Reitor: Rui Getúlio Soares Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação:

Editora responsável por esta edição:

Revisão: Maria Emilse Lucatelli

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Elisângela de F.F de Mello e Nedi Mello dos Santos

Arte de Capa: Antonio Brezolin

Vice-Reitora de Extensão e Assuntos

Monitores: Antonio Brezolin, Elenita de Araújo, Eliana Leite, Eliana Teixeira, Elisângela de Mello, Gabriela Luft, Lisiane Vieira, Luciano Rien, Marcos Deon, Nedi dos Santos, Rafael da Silva.

Diagramação: Antonio Brezolin

Comunitários:

Impressão: Gráfica UPF

Marisa Potiens Zílio

Fotografia: Arquivo Jornada de Literatura

Vice-Reitor Administrativo:

Mundo da Leitura é uma publicação semestral do Centro de Referência de Literatura e Multimeios. Ano VII - 3a Jornadinha Nacional de Literatura agosto/2005 - Curso de Letras - IFCH/UPF Coordenação: Tania M. K. Rösing

Artur Ferrão

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Vice-Reitora de Graduação: Ocsana Sonia Danyluk

Nelson Germano Beck

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Ana Maria Machado Isso ninguém me tira Você já sentiu uma paixão arrebatadora por alguém? Aquela vontade de ficar junto, de sair pra dançar, de caminhar de mãos dadas na praça, de ir ao cinema, de enviar quilos de e-mail e torpedos diariamente ao seu amor? Mas e quando esse relacionamento é ameaçado por uma terceira pessoa? E pior, e se essa pessoa for a sua prima? O que fazer? Bem, nem tudo está perdido. Você precisa ver o que aconteceu com a Gabi, personagem do livro Isso ninguém me tira, de Ana Maria Machado. Será que ela vai curtir uma fossa ao som de uma música trágica e desesperadora? Ou ela desperta para uma nova vida e acaba descobrindo a necessidade da independência, de defender seus sonhos e suas idéias. Bem, é ler para crer. MACHADO, A. M. Isso ninguém me tira. São Paulo: Ática, 1994.

Raul da Ferrugem Azul vira Filme Ainda adolescente, Gabriel Costa sentiu vontade de fazer um filme sobre a obra de Ana Maria Machado Raul da ferrugem azul. Seu sonho era ser cineasta. Com muita coragem, ele falou com Ana Maria Machado e pediu para fazer o filme do livro que tinha lido. Tinha medo de que alguém o fizesse antes e pediu para a autora lhe deixar reservado esse direito. Ana Maria pediu como garantia que ele enviasse um projeto de roteiro. O roteiro surpreendeu a autora e o acordo foi firmado. Passaram-se anos até que Gabriel Costa estudasse cinema e abrisse sua produtora. A vontade de fazer o filme continuava. Escolheu o ator principal, Vinícius de Oliveira, e percebeu que para fazer um filme como sonhara seria difícil. Então fez algo diferente: um média-metragem de trinta minutos. A idéia funcionou, já temos a obra Raul da ferrugem azul na telinha. No filme Gabriel mostra o dia-a-dia da favela diferente do que estamos acostumados a ver nas reportagens. Ele traz a singeleza dos moradores da periferia do Rio de Janeiro, a maneira como os personagens circulam pelo morro e como enfrentam as injustiças do seu cotidiano.

Antonio Yebra

www.rauldaferrugemazul.com.br

Yebra nasceu em Almoharín (Cáceres) em março de 1950 e hoje é professor Titular de Literatura Espanhola Contemporânea da Universidade de Málaga, onde dirige, desde 1987, as Jornadas de Literatura Infantil e Juvenil. Recebeu numerosos prêmios literários, entre os quais a menção especial do Banco do Livro da Venezuela por seu livro Jorge Guillén para niños. Também é autor de “Los colores de Angel”, “Um conejo em el armário”, “Menuda poesia” e “Um gato verde Y com chispa”. Bem, deu para perceber que ele adora escrever, né? Então, leia abaixo uma pequena amostra de seu belo trabalho: RUCIO Uno piensa que soy as, otro opina que as no soy; yo, hi-haaa, hi-haaa, hi-haaa, corriendo tras Sacho voy. Algunos me llaman burro porque hago algunas burradas, yo, hi-haaa, hi-haaa, hi-haaa, rebuzno y suelto patadas.

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A quien me dice jumento de ojos tristes y saltones yo, hi-haaa, hi-haaa, hi-haaa, le hago darse trompicones. Muchos me nombran pollino casi casi como insulto, yo, hi-haaa, hi-haaa, hi-haaa, no me molesto ni oculto. Se me considera bruto, lacio, lento, torpe, sucio, yo, hi-haaa, hi-haaa, hi-haaa para Sancho soy su rucio. Soy asno, burro, jumento, soy pollino, rucio, rucho, por más borrico que sea Sancho a mí me quiere mucho.

YEBRA, A. G. Dom Quijote cabalga entre versos. Espanha: EVEREST, 2005.

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Antonio Prata Você já se imaginou com corpo de adulto, voz de adulto, sonhos e responsabilidades de adulto? Não! Bem, o escritor Antonio Prata vai contar para você essa incrível experiência na crônica abaixo, retirada de seu livro Estive pensando. Adulterado! Oi. Meu nome é Antonio Prata, tenho 23 anos e algo estranhíssimo aconteceu comigo: me transformei num adulto! Deve ter sido na calada da noite, enquanto dormia, pois confesso que não percebi nada. É normal acontece nas melhores famílias – dirá a leitora, sem entender bem a razão de meu susto. É porque não aconteceu com você. Ainda. Foi num forró, em São Paulo, que a ficha caiu. Entrei, olhei a pista e percebi que o público, ante da minha idade, parecia bem mais jovem. Como tenho uma inteligência razoável, sei que é impossível rejuvenescer e era muito pouco provável que aquelas quase duzentas pessoas houvessem feito cirurgias plásticas, só

Julián Fuks Você já viu um menino trepado em cima do telhado da capela onde está ocorrendo um velório? Não? Nem eu. Até ler o livro Fragmentos de Alberto, Ulisses, Carolina e eu, de Julián Fuks. Na obra o autor discute temas cotidianos com um olhar prosaico e esclarecedor. Escovar os dentes e sofrer de insônia são algumas das situações pitorescas do dia-a-dia que se modificam sob o olhar do autor, sensível, capaz de amenizar até “a eterna sina”... Julián Fuks é paulistano e tem 22 anos. É formado em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da USP, mas não exerce a profissão. Fragmentos de Alberto, Ulisses, Carolina e eu é seu primeiro livro. Habituado pela formação jornalística, mas, ao mesmo tempo, desgostoso com a profissão, Julián deposita sobre o cotidiano um olhar ambíguo e clínico, disposto a flagrar o ridículo das pequenas epifanias diárias. FUKS, J. Fragmento de Alberto, Ulisses, Carolina e Eu. Rio de Janeiro : 7 Letras, 2004.

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havia uma explicação: eu é que estava mais velho. Se eu não era mais como eles... eu só poderia ser... um adulto! Tomei um susto. Dias depois, outra situação me mostrou que eu já não era mais o mesmo. Encontrei num bar o cara que era meu coordenador pedagógico no colegial. O carrasco que me dava advertências e, uma vez, até me suspendeu (por razões que não vêm ao caso). E, em vez de tentar nocauteá-lo com o cardápio ou sufocá-lo metendo o paliteiro goela abaixo, sentei-me com ele e tomamos uns chopes, como dois bons adultos. Céus! As evidências estão por todo lado, eu é que não tinha percebido: tenho carteira de motorista e cartão de descontos do supermercado, elejo meus representantes e, se fizer alguma besteira muito grande, não sou mandado para fora da sala, mas para a cadeia. Isso é ser adulto, não é? Eu, que me dizia contra os adultos! E criticava suas roupas e cortes de cabelo, suas vidas medíocres e trabalhos chatos; seus sonhos que não iam além de um sofá novo, um carro melhor e comida com menos colesterol. Eram nervosos demais, tensos demais e buzinavam demais... E sabe o quê? Apesar de matematicamente estar mais perto dos 30 do que dos 15 anos, continuo contra eles! Ainda acho bigode um negócio horrível, deixo a toalha molhada em cima da cama e, se depender de mim, nunca tirarei a bandeira do Bob Marley da parede do meu quarto. Nem tamparei a pasta de dentes! Talvez você esteja achando meio besta esse papo de se revoltar contra o bigode e o sofá novo, né? Um pouco infantil essa minha posição de não tampar a pasta de dentes e tal. Cuidado! Você pode estar se transformando numa adulta! Mantenha a calma, respire pausadamente e aguarde a próxima coluna, onde tentarei mostrar que, apesar do meu drama, esse estranho fenômeno do crescimento tem lá suas vantagens. PRATA, A. Estive pensando: crônicas de Antonio Prata. São Paulo: Marco Zero, 2003.

José Eduardo Degrazia Os poemas do livro A urna guarani de José Eduardo Degrazia, giram em torno da participação guarani na Guerra dos Farrapos. No livro o autor constrói um elo entre a luta do guarani contra a miséria e a exclusão. O livro é um verdadeiro acerto de contas com um povo que já habitava as terras, as planícies e as serras do Rio Grande do Sul e do Brasil. O herói O vago antepassado de alamares E espada vejo, reflexo no tempo. Comanda sua tropa na desmedida Do campo, entre cravos, clarins e balas, E sua figura é estátua e mortalha. Toma o mate na madrugada fria Da batalha, no poncho da agonia. Estende olhos vazios pela planície, E amanhã semeará com seus mortos. Verá ainda o conto que o neto inventa Enquanto atiça as brasas sonolentas, Sentir-se-á enfim herói e lenda? O velho general não teve história Ante a metralha e seu retrato em sépia Sou eu que vou tecendo na memória. DEGRAZIA, J. E. A urna guarani. Porto Alegre: Movimento, 2004.

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Ludmila Zeman Ludmila Zeman nasceu na antiga Tchecoslováquia, mas desde 1984 vive no Canadá. Seu pai, Karel Zeman, era cineasta, por isso ela também acabou se dedicando ao cinema. Trabalhou 17 anos no Estúdio Zlin de filmes direcionados a crianças, como roteirista, designer e ilustradora. Hoje, mora em Montreal e se dedica à ilustração de livros infantis. Trabalhou durante quatro anos para criar a trilogia Epopéia de Gilgamesh. Essa é uma das mais antigas histórias escritas no mundo, mais antiga que os poemas escritos por Homero. A história foi escrita em tábuas de argila há mais de 5000 anos e contém todos os valores humanos que os povos do mundo inteiro perseguem até hoje: perdão, coragem, compaixão, amizade e paz. Ludmila se inspirou nas ilustrações do artista Gustave Doré (gravador francês do séc.XIX) que também ilustrou Dom Quixote, A divina comédia e Fábulas de La Fontaine a partir da técnica da xilografia.

ZEMAN. L.O Rei Gilgamesh. Porto Alegre: Editora Projeto,1997.

Luiz Puntel Você já ouviu falar em rap, grafite, MC, DJ e break? Claro que sim, né! Esses são elementos que constituem um movimento social chamado de hip-hop, que visa denunciar as injustiças sociais através de expressões musicais e visuais. Alguns acreditam que é a única forma da periferia e dos guetos expressarem suas dificuldades e as necessidades das classes sociais excluídas. Algumas pessoas dizem que o termo hip-hop foi criado por volta de 1968 por Afrika Bambaataa, que teria se inspirado em dois movimentos cíclicos: um deles baseado na forma pela qual se transmitia a cultura dos guetos americanos e a outra, na forma de dançar que era popular naquela época - saltar (hop) movimentando os quadris (hip). O movimento só chegou ao Brasil em meados da década de 1980 e hoje é conhecido no mundo inteiro pelas diferentes linguagens, música, cinema, internet, revistas e livros. Espera aí, livros? É isso mesmo, livros. Um deles chama-se O grito do hip-hop e foi escrito por um mineiro chamado Luiz Puntel, que também é professor de língua portuguesa e redação. O livro mostra o cotidiano de adolescentes que moram numa favela na periferia de São Paulo. Toninho leva uma vida difícil, pois ficou órfão desde pequeno e trabalha para ajudar sua mãe e sua irmã, porém nem por isso deixa de se divertir. Adora pichar muros e praças da cidade. Mas a história muda quando ele conhece o verdadeiro objetivo do movimento hip-hop. PUNTEL. L. O grito do hip hop. São Paulo: Ática, 2004.

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O termo RAP significa rhythm and poetry ( ritmo e poesia ). Este gênero musical foi criado nos Estados Unidos, na década de 1970.

Arte Grafite, Grafiti, Graffiti, Aerosol Art – Expressão artística estética que utiliza como meio a lata de spray e se desenvolve no ambiente urbano.

MC - O “rimador”. O MC tem a preocupação de sempre representar a cultura hip-hop. Com o crescimento do rap e o distanciamento da cultura hip-hop, o MC passou a se chamar rapper.

DJ – Quem faz rolar o som

Breakdance – Dança de rua, feita na rua, criada na rua, crescida na rua.

Saiba mais http://www.comciencia.br/reportagens/negros/09.shtml http://www.realhiphop.com.br

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Luiz Vilela Durante a nossa vida, várias vezes escutamos frases calorosas e agradáveis, de brincadeiras sem graça de nós mesmos, é claro. É “sua baixinha”, “gorducha”, pra cá, “seu narigudo” pra lá. Sempre tem alguém disposto a apontar o seu ponto fraco e transformá-lo num espetáculo de gozação para toda a turma. Mas isso não acontece somente com diferenças físicas não, as diferenças de linguagem, acreditem vocês, são as piores. Imagine você, comprando um “negrinho” no Rio de Janeiro. Com certeza o vendedor vai chamá-lo de traficante de menores ou coisa pior. Para prevenir a pagação de mico, nada como fazer umas leituras extras antes de viajar. Livros, revistas, almanaques, guias de turismo e internet são os melhores meios para conhecer uma cultura diferente. Essa situação aconteceu com a Sofia, uma senhora estrangeira muito simpática, gorda e dona de um mercadinho. Ela era motivo de chacota dos meninos do bairro, que adoravam mexer com a Sofia, porque achavam muito engraçado o fato de ela ter um sotaque diferente e, ao mesmo tempo, ser gorda. Mas o que vocês acham de a gente mexer com a Sofia? Então preparem-se, é hora de ler o livro Contos da infância e da adolescência, de Luiz Vilela.

VILELA, L. Contos da Infância e da Adolescência. São Paulo: Ática, 2003.

Maria José Silveira

Maria Tereza Maldonado

É morte na certa! De onde viemos? Para onde vamos? Essas perguntas grudam em nossa cabeça como se fossem chiclete e ficam no nosso pé coladas igual uma sombra. Bem, de onde viemos, não sei, mas para onde vamos, bem, também não sei, mas com quem vamos, não há dúvida. É ela, você sabe, aquela com a foice, a coisa ruim, a magra, a esquelética. Ela fica esperando o momento exato de dar o bote e o pior é que ela acerta sempre na mosca, no alvo. Quem escreve sobre essa senhora é a escritora Maria José Silveira, jornalista, publicitária e antropóloga que resolveu enfrentar aquela que o homem teme mais que tudo e, no entanto, é obrigado a conviver desde que abre pela primeira vez os olhos, e nasce.

SILVEIRA, M. J.Ossos.São Paulo: Intituto Callis,2004

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É formada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, onde também fez o mestrado em Psicologia Clínica. Maldonado acredita que é fundamental trabalhar mais intensamente na prevenção da violência por meio da construção da paz. Esse é o objetivo de seu livro Os construtores da paz: caminhos da prevenção da violência. No livro a autora analisa as principais raízes e expressões da violência na família e na sociedade e propõe uma transição da cultura da violência para a cultura de paz. A violência se expressa de vários modos, na sociedade e nos relacionamentos. A violência estrutural e a sistêmica referemse, basicamente, à injustiça social. É enorme a desigualdade de acesso às condições mínimas para uma vida digna. Em algumas famílias, em todas as classes sociais, encontramos a violência física, a psicológica, a negligência, o abandono e o abuso sexual.

MALDONADO, M. T. Os construtores da paz: caminhos da prevenção da violência. São Paulo: Moderna, 2004

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HOMENAGENS ESPECIAIS ERICO VERISSIMO - 100 ANOS É nome consagrado como dos mais destacados escritores brasileiros. Nasceu na cidade Cruz Alta em dezembro de 1905. A biblioteca familiar deu-lhe oportunidade de, bem cedo, tomar contato com as melhores obras francesas. Estudou em Porto Alegre, no Colégio Cruzeiro do Sul. Voltou depois para sua cidade natal, onde trabalhou num banco e depois se tornou sócio de uma farmácia. Mudou-se para Porto Alegre a fim de tentar carreira literária. Casou com Mafalda Halfen Volpe em Cruz Alta, com quem teve dois filhos, Clarissa e Luis Fernando. Com a edição de Fantoches, iniciou sua brilhante carreira literária. Erico gostava do vento, o que talvez o tenha inspirado para escrever O tempo e o vento, que conta o passado histórico do Rio Grande do Sul e aborda as disputas de terra e poder pelas famílias Amaral, Terra e Cambará. Dessa obra surgiram alguns personagens heróicos, como Ana Terra e o Capitão Rodrigo. O escritor faleceu subitamente no dia 28 de novembro de 1975, deixando inacabada a obra de suas memórias.

ANDERSEN - 200 ANOS Andersen nasceu há duzentos anos em Odense na Dinamarca. Filho de um sapateiro e de uma lavadeira, tinha como lazer, proporcionado pelo seu pai, a contação de histórias. Com a ajuda de fantoches e caixas de papelão, o pai encenava histórias para alegrar a família. Com poucos recursos financeiros, aos quatorze anos saiu de casa e foi, sozinho, tentar ganhar a vida trabalhando na manipulação de tabaco em Copenhague. Mesmo nesse ambiente difícil, Hans Christian Andersen perseguia o sonho de ser artista. Tornou-se um dos mais importantes escritores de todos os tempos, conhecido e traduzido em muitos países. Em seus contos cria imagens extraordinárias. Com delicadeza e sutileza fala da tristeza, da dor, do preconceito. Consegue transformar objetos inanimados em personagens com sentimentos. Escreveu para adultos, mas encanta jovens e crianças com seus contos, que falam do bem e do mal, do forte e do fraco. Entre os 156 contos que publicou estão as obras A sereiazinha, O patinho feio, A roupa nova do imperador, O soldadinho de chumbo e A pequena vendedora de fósforos.

CAMINHOS CRUZADOS CERVANTES - 400 ANOS Miguel de Cervantes nasceu em 1947 em Alcalá de Henares, uma cidade perto de Madri, numa família da baixa nobreza. Passou a maior parte de sua infância se mudando de uma cidade a outra porque o pai, que era médico, procurava emprego. Foi estudar em Madri, tornou-se soldado e participou na batalha de Lepanto, durante a qual foi ferido na mão. O ferimento foi tão grave que acarretou a amputação da sua mão esquerda. Quando voltava da guerra, certo de que o sofrimento tinha acabado, Cervantes foi atacado e tomou-se escravo durante cinco anos, enquanto sua família juntava dinheiro para resgatállo. Depois de ser libertado, passou vinte anos levando uma vida nômade, trabalhando como coletor de impostos. Foi à falência e preso pelo menos duas vezes por irregularidades fiscais. A tradição conta que, numa das vezes em que estava preso, escreveu a obra Dom Quixote, história que fez com que Miguel de Cervantes ficasse conhecido. A obra comemora quatrocentos anos da sua publicação, resultado do trabalho do extraordinário escritor Miguel de Cervantes e Saavedra, um homem que teve uma vida atribulada e muitas dificuldades desde a infância.

Certo dia, Cervantes Numa prisão da Espanha Se pôs a meditar Aonde o mundo ia dar E criou um cavaleiro Feito pra sonhar Certo dia, Andersen Na fria Dinamarca Se pôs a meditar Aonde o mundo ia dar E criou um soldado Feito pra amar Certo dia, Verissimo Com saudades do pampa Se pôs a meditar Aonde o mundo ia dar E criou um capitão Feito pra cantar Nossos bravos heróis Dom Quixote da Mancha Soldadinho de chumbo E capitão Rodrigo Todos vão cruzar contigo No chão de Passo Fundo Abre o livro e vem comigo Nessa grande aventura Vem que é muito divertido Música Oficial da 3a Jornadinha Nacional de Literatura Letra: Paulo Becker Música: Pedro Almeida

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MEMÓRIA FOTOGRÁFICA DA 2a

Show de abertura

Criança lendo na fila da sessão de autografos

Crianças fazendo perguntas aos escritores

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Show de abertura

Show ”Circulando com palavras e canções” Emmanuel Marinho

Escritores - Lona vermelha

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JO


2a

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JORNADINHA NACIONAL DE LITERATURA

Tania M.K Rösing - Coodenadora da Jornadas Literárias na abertura da 2a Jornadinha

Feira do Livro

Show ”Cantando com Sylvia Orthof” - Zé Vagão

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Show “As noites da minha aldeia” - Grupo Gicopoa

Público - Lona verde

Show ”A família sujo - Grupo Cuidado que Mancha

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Mariana Verissimo O amigo sempre encontra um jeito de estar perto Um (a) amigo (a) é alguém que a gente admira. Uma amizade, não acontece por acaso. Ocorre porque as pessoas têm algo em comum, gostam de um mesmo esporte, estudam juntos, vão ao mesmo clube ou possuem amigos em comum. E de tanto andar juntas as pessoas acabam se parecendo no jeito de falar, no modo de se vestir. E quanto mais andam juntas, mais assuntos possuem para conversar (às vezes nem precisa, porque uma pessoa olhando para outra é capaz de adivinhar o que a outra está pensando). Isso não significa que a outra pessoa virou vidente, é que, quanto mais você conhece uma pessoa, mais você entende a sua personalidade e, com o tempo, consegue perceber como ela reagiria em cada situação. Olha que cena típica: vocês vão para escola, no turno inverso combinam de fazer algo e quando chegam em casa conversam pelo o computador durante horas, como se não tivessem se visto durante o dia todo. A gente tem que tomar cuidado para não ficar tão ligado à outra pessoa e se esquecer de ficar com a família e com os outros colegas. É importante manter a individualidade. Existem qualidades e defeitos que fazem parte de sua personalidade. Não vale a pena deixar de lado as coisas que você gosta de fazer. No livro P.S. Beijei as personagens, Lili e Bia, são tão amigas que mesmo nas férias aproveitam a internet para contar as novidades. O que elas não esperavam é que, enquanto uma está na casa da avó, a outra beija o menino que amiga gosta. Você deve estar pensando: que amiga é essa que aproveita a ausência da outra

para ficar com o menino que ela gosta? Bom, apesar da amizade, existem situações que nem a melhor das amizades consegue evitar, ainda mais quando se espera ansiosa (o) por um primeiro beijo. Se você ainda não leu, não perca tempo. Veja como as personagens do livro conseguem ou não, resolver os seus problemas através de correspondências virtuais. P.S. as autoras do livro, Mariana Verissimo e Adriana Falcão escreveram o livro P.S. Beijei através da troca de e-mails. Confira um dos e-mails que a personagem Lili envia para a Bia. data: Sábado, 4 de janeiro,14:47 assunto:Detalhes não são pequenos Bia, Quando o assunto é MENINOS nenhum detalhe é indispensável nem desimportante. Para falar de MENINOS é preciso estar atenta a tudo, nada pode passar desapercebido, nada pode ser desconsiderado. Nada é nada, um simples “humph” pode significar muita coisa. A minha mãe me contou que, quando saiu com o meu pai pela primeira vez, as frases dele não tinham mais de cinco palavras, incluindo as vírgulas, reticências e “humphs”. Aos poucos esses “hunphs” foram se transformando em palavras mais interessantes e , depois de alguns meses, em “EU TE AMO, QUER CASAR COMIGO?”. Por isso eu não achei esse primeiro encontro tão ruim. Pela sua descrição, o Thiago sem espinhas deve ter ficado um gato. Se ele ficou simpático, isso é outro assunto. Será que você não consegue me mandar uma foto dele? Beijos Lili

FALCÃO, A.; VERISSIMO, M. P.S. beijei. SÃO PAULO: Salamandra, 2004.

Nelson Bacic Olic Hei! Você leu o jornal hoje, acessou a internet ou assistiu ao noticiário de televisão? Percebeu quantas notícias ruins, é, de violência, guerra estão sendo veiculadas? Pois é essas tragédias infelizmente fazem parte do nosso dia-a-dia. Sofremos diariamente um verdadeiro bombardeio de más notícias. Mas qual é a origem de tanta guerra e conflito? Bem, quem sabe falar disso é o Nelson Bacic Olic, professor de geografia e que escreveu dois livros abordando justamente os assuntos sociais entre nações. Aqui estão eles: África: Terra, sociedades e conflitos Você consegue identificar mais de cinco países africanos num mapa? Se a resposta for não, então, meu caro leitor, não se preocupe, pois você encontrará as respostas e outras informações no livro Africa: terra, sociedades e conflitos, que Nelson Bacic Olic escreveu juntamente com a jornalista Beatriz Canepa. Socorro! Um barril de pólvora prestes a explodir! Ao ler o título acima o que você imaginou? Guerras, bombas e tragédia? É, você está certo. E se você pensou no Oriente Médio, está mais certo ainda. Pois esse terrível assunto foi abordado no livro Oriente Médio e a questão da Palestina de Nelson Bacic Olic e Beatriz Canepa. No livro, Bacic aborda a falta de solução para a questão da Palestina e as ações militares dos Estados Unidos contra o Afeganistão e o Iraque. Será que as questões políticas conseguirão soterrar o berço das mais antigas civilizações? Bem, o que você acha de ler o livro? Então, vamos lá. OLIC, N. B; CANEPA. B. África: terra, sociedades e conflitos. São Paulo: Moderna, 2004. OLIC, N.B. CANEPA. B. Oriente Médio e a Questão Palestina. São Paulo: Moderna, 2003.

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Reginaldo Prandi Deuses da Natureza Quando trouxeram os escravos para o Brasil, eles trouxeram na bagagem muito de sua cultura, que, aos poucos, foi sendo compartilhada com o restante da população, como é o caso de sua religião. No início, o candomblé sofreu grande repressão dos colonizadores portugueses, que o consideravam feitiçaria. Hoje ele deixou de ser uma religião só de descendentes africanos, pois pessoas de outras origens freqüentam os terreiros e cultuam os orixás. Para melhor entendermos quem são os deuses chamados de orixás, Reginaldo Prandi escreveu alguns livros sobre os mitos principais que fazem parte das tradições afro-brasileiras. Para conhecer a história desses deuses, que representam elementos da natureza, você pode ler os livros do autor Reginaldo Prandi. Segundo o candomblé, cada ser humano herda características físicas e psicológicas de um orixá. Veja a história e as características de alguns: OGUM – Deus da guerra, do ferro, da metalurgia e da tecnologia. É o orixá que detém o poder de abrir caminhos, facilitando as viagens e os progressos na vida. Os espirituais de Ogum são tidos como teimosos e apaixonados, mostrando certa frieza racional. São muito trabalhadores, especialmente moldados ao trabalho manual e às atividades técnicas. Dão bons guerreiros, policiais, soldados, mecânicos, técnicos.Seu dia é segunda-feira e 7 é o seu número. Azul-real é a sua cor. “Ogunhê” é a saudação a Ogum; seu símbolo é a faca, o “obé”. E gosta de comer cabrito, galo, inhame assado e uma boa feijoada.

NANÃ - Deusa da terra, da lama do fundo dos lagos, dos pântanos. Guardiã da sabedoria, é a mais velha divindade do panteão afro-brasileiro. Considerada mãe dos orixás Omulu e Oxumarê. Seu símbolo é um cetro feito de fibras vegetais com o formato da letra jota, o ibiri, é saudada com a palavra Saluba. Veste-se com as roupas brancas, azuis e roxas. Louvada aos sábados, e associada ao número 11. XANGÔ – Deus do trovão e da justiça, quando mortal foi um rei poderoso. Entre suas mulheres contam-se Oba, Iansã e Oxum. Seus filhos espirituais dão-se muito bem em atividades e assuntos que envolvam política, justiça, negócios e burocracia.São bons dirigentes e líderes. Gostam muito do poder, são teimosos, resolutos, glutões e gananciosos. O símbolo do Xangô é um machado de duas lâminas chamado “oxé”, que representa a justiça. Seus pratos prediletos são preparados com carneiro, galo e quiabo, e seu brado é “Caô Cabiessi’. Doze é o número de Xangô e quarta-feira é o seu dia. Suas cores são o vermelho, marrom, e o branco IFÁ OU ORUNMILÁ - Deus da adivinhação, do oráculo, do jogo de búzios. É por meio do jogo de búzios dedicado a ele que os pais e mãesde-santo determinam de que orixá descende cada devoto de candomblé. O jogo de Ifá também é usado para conhecer o destino das pessoas, seus caminhos, seus problemas. Ele não se manifesta em transe. Saudado com o grito ”Ireoia”, gosta de galo branco e de uma comida preparada com farinha de arroz, banana e ovo. Suas cores são o amarelo e o verde; seu dia é segunda-feira e o número 16. PRANDI, R. Ifâ, o Adivinho: Histórias dos deuses áfricanos que vieram pa o Brasil com os escravos. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2002.

Silvana Gontijo Uma aventura na comunicação Preocupada com o desenvolvimento de aptidões para que crianças e jovens possam analisar criticamente os meios de comunicação, Silvana Gontijo faz com que seu trabalho de escritora e seus conhecimentos como jornalista atinjam o público ao falar sobre comunicação de massa. O livro Uma aventura na comunicação conta sobre uma viagem no tempo vivida pela banda Turma do planeta: Paulão, Bia, Sílvia, Tinu, Zeca, King Fábio e Petica. Atenta aos problemas ambientais do planeta a autora inclui na aventura a participação de alguns animais: Binga (beija-flor), Tília (cadela), Pedro (jabuti), Hebe (capivara), Gasper (vaga-lume) e Leopoldo (tamanduá). Um dos ensaios da banda acontece no meio da mata, presenciado por uma equipe de TV. A turma faz viagens no tempo e conhece civilizações diferentes através da música. A autora faz parte de um grupo de especialistas em comunicação, pedagogia e educação para os meios, que desenvolve o projeto “planeta.com”. Se você tem interesse em saber mais sobre a comunicação e sobre o trabalho que o grupo desenvolve acesse o endereço: www.planetapontocom.com.br. GONTIJO, S. Uma aventura na comunicação. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2002.

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Valéria Polizzi Uma titude positiva

Neta de italianos, filha de pais separados pertencentes à classe média alta. Valéria Piassa Polizzi, com 16 anos, era uma garota como qualquer outra. Bom, então o que ela tem de especial? Ela pegou aids na sua primeira transa, aos 16 anos. Numa viagem de navio que fazia com a família para a Argentina, conheceu um menino esportista que também viajava com a família. Quando voltaram, começaram a namorar e, depois de seis meses, tiveram a primeira relação sexual. Você deve estar se perguntando se nos anos 80 não se sabia da doença? Já existia a doença, sim, no entanto as pessoas falavam muito num grupo de risco, como gays, prostitutas, usuários de drogas. Pensando assim é que muitas pessoas se contaminaram e, infelizmente, outras continuam a se contaminar. Na época Valéria não se preocupou com a gravidez, mas logo ela percebeu que ele era violento e terminou o namoro. Mesmo descobrindo que ele era usuário de drogas, não se preocupou. Aos 18 anos, quando estava se preparando para passar um tempo nos Estados Unidos, teve uma dor de estômago e o diagnóstico dos exame revelou que ela estava com o vírus. Valéria tinha todo o direito de ficar calada e continuar a sua vida. No entanto, com 26 anos e muita coragem, lançou o livro Depois daquela viagem - Diário de bordo de uma jovem que

aprendeu a viver com aids. Além de alertar as pessoas que não tomam cuidado, o livro traz a experiência de vida da autora e mostra que, apesar da doença, ela está viva e lutando para acabar com o preconceito. Não pense que a idéia de relatar a experiência veio logo após descobrir que tinha HIV positivo. Quando ela descobriu, ficou cinco anos sem procurar os amigos, não conseguia relatar que estava com HIV, mas também não conseguia conviver como se não tivesse o vírus. A solução, na época, foi se isolar. Só depois de ir para a Califórnia e ver como as campanhas falavam da doença é que Valéria começou vê-la doença de forma diferente. Com uma crise de tuberculose renal que a deixou um ano em casa, ela decidiu contar aos amigos sobre a doença e depois escreveu a sua experiência que virou livro. Hoje com o livro muitos percebem a importância do sexo seguro e aprendem que, mesmo com aids, as pessoas merecem carinho, atenção e respeito como qualquer outro ser humano. Você parou para pensar que talvez o maior medo das pessoas que são portadoras do HIV não seja o medo da doença, mas o medo de serem rejeitadas por pessoas preconceituosas? Pense nas suas ações e palavras: quantas vezes você já excluiu outras pessoas? O que você faria se estivesse no lugar da Valéria Polizzi? A autora, com seu carisma, boa vontade e força de vontade, aprendeu a conviver com a doença. Enquanto você curte o trabalho da autora, pense em atitudes que pode tomar para acabar com o preconceito em sua cidade. “Quanto ao preconceito, às vezes ainda me sinto como Edward mãos de tesoura, preso em seu castelo, fazendo obras de arte porque não há outro jeito com o qual possa tocar as pessoas”. Polizzi, V. Depois daquela viagem. São Paulo: Ática, 2004

Walcyr Carrasco Como nasce uma celebridade Luzes, câmera, ação! Quem nunca sonhou com um diretor falando essas palavrinhas mágicas manuseando uma bela claquete? Suspirou, não é mesmo? Pois é, muitas pessoas compartilham o mesmo sonho, de se tornar celebridade, mesmo que seja só por alguns míseros segundos. E não medem esforços para alcançar esse objetivo. Foi exatamente isso que aconteceu com o Jaime, personagem do livro O garoto da novela, de Walcyr Carrasco, o mesmo escritor que escreveu as novelas Xica da Silva, A padroeira e O cravo e a rosa. Jaime é um menino comum que tem a vida transformada quando é convidado para fazer um anúncio de sorvete e sua mãe resolve investir em sua carreira, levando-o a estrelar uma novela e a se tornar famoso. O livro mostra a fácil ascensão no mundo da TV e também ocaso, o que ocorre com uma ex-famosa atriz mirim, que entra em depressão quando chega à puberdade. Jaime revela bastidores do mundo da TV, com suas fofocas, hipocrisias e dinheiro fácil. Jaime acaba sustentando a família e enfrenta problemas com a irmã e amigos. CARRASCO, W. O garoto da novela. São Paulo: Moderna, 2003.

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Show Max B.O. O rap nasceu com jovens norte-americanos que começaram a mixar músicas e criar sobre elas arranjos específicos. No rap há uma figura muito importante o MC (mestre-de-cerimônias), que é o responsável pela integração entre a mixagem e a letra com rimas. Um efeito sonoro muito típico do rap é o scratch (som provocado pelo atrito da agulha do toca-discos no disco de vinil) atividade realizada por um DJ (disc-jóquei ), que fica responsável pelos efeitos sonoros e mixagens. No Brasil o rap está ganhando espaço, e, nas letras, os jovens buscam seus direitos, falam sobre a condição que lhes é negada, dizem não à discriminação e pedem direitos iguais. As letras das músicas precisam ter frases do mesmo tamanho, terminações que rimem e que sejam possíveis declamar em cima de uma batida. O mestre-de-cerimônias, Max B.O, em suas rimas, guarda a essência do rap, As canções decoradas falam da necessidade de luta por dias melhores, e são feitas com base nos temas que desenvolve. Mas o seu grande diferencial são os improvisos, que dependem de como o público se porta nos shows. Ele começou a fazer rimas a partir de um festival de música numa escola onde estudava, e onde fez um rap pra a sua turma de aula. Mas, não pense que Max B.O. só gosta desse estilo musical. Ele ouve reggae, jazz, funk, música brasileira, repente, embolada, tenta ouvir de tudo um pouco.

Sobre Todas as Cordas Joaquim de Paula Seis músicos, com formações distintas, reúnem-se para mesclar arranjos, composições e criações conjuntas. O grupo é composto por Carlinhos Antunes, Renato Anesi, Thomas Rohrer, Sami Bordokan e Nelson Latif e Marinho Andreotti. Os músicos utilizam instrumentos que incluem violão, viola caipira, tenor, cavaquinho, guitarra, violino, rabeca, kemanche, cuatro venezuelano, charango, kora ñgoni, bandolim e baixo acústico. Assim, o grupo é capaz de produzir sonoridades que transcendem o universo brasileiro, trânsitando por várias partes do mundo com elementos da música árabe e do jazz. É por isso que o espetáculo chama-se Sobre todas as cordas.

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Você conhece alguém que canta, dança, toca instrumentos musicais e, além de tudo isso, ainda conta uma bela história? Se a resposta for sim, então você já conhece o contador de histórias Joaquim de Paula. E sabe que em suas performances ele utiliza inúmeras técnicas para enriquecer as histórias e deixá-las muito mais atrativas e com aquele gostinho de “quero mais”. E se no meio da história um personagem resolver dançar uma vanera? Não tem problema, Joaquim tira de sua mala uma gaita de oito baixos e continua a história. E se depois ele quiser dançar ao som de uma rebeca? Bem, aí é ver para conferir!

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Os tapetes contadores de histórias A utilização de tapetes para contar histórias surgiu na França, há aproximadamente 15 anos, com a educadora Clotilde Hammam e seu filho, o contador de histórias e artesão Tarak Hammam. Em 1998, depois de participar de oficinas com Hammam, um grupo de atores criou aqui no Brasil “Os Tapetes Contadores de Histórias”. Através de atividades artísticas pretende despertar o imaginário e a sensibilidade de cada criança e estimular o seu potencial artístico. O grupo é composto por atores e arte-educadores formados em artes cênicas. No início o acervo do grupo era composto apenas por tapetes criados pelo contador de histórias Tarak Hammam, que representavam cenários da África, Ásia e Europa. Em 2001 os integrantes do grupo confeccionaram tapetes baseados em contos de Carlos Drummond de Andrade. Em 2004 criaram malas, aventais, caixas de pano e madeira para contar as histórias de Ana Maria Machado.

www.tapetescontadores.com.

“Fantoches” apresenta vida e obra de Erico Verissimo Inspirado na obra de Erico Verissimo, “Fantoches” foi especialmente produzido para a 11ª Jornada Nacional de Literatura, que tem em Verissimo um de seus autores homenageados. Em 2005, comemoram-se os 100 anos de seu nascimento na cidade de Cruz Alta. Em 1930, mudou-se para Porto Alegre e, dois anos depois, publicou alguns contos, reunidos sob o título de Fantoches, na Revista do Globo. Adaptado para o palco por Roberto Mallet e Mario Santana, o espetáculo é um infanto-juvenil que conta a história de Erico, um jovem autor em crise com a própria obra, que vê os seus personagens se rebelarem. Todos abandonam as estórias às quais pertencem por não concordarem com os enredos criados por ele. Então, cria uma caricatura de si mesmo, um calunga que batiza de “Nanquinote”. Mas este, antes mesmo de ganhar uma trama, sai do papel e foge para conhecer o mundo. Nessa aventura, Nanquinote conhece um certo capitão Rodrigo, homem conhecedor do amor e da alegria de viver, e Clarissa, uma adolescente sensível e ávida por conhecer as coisas. Também encontra o amor, ao ver uma bailarina de papelão na vitrine de uma loja de brinquedos, mas o amor pela bailarina se frustra de maneira surpreendente. Nanquinote volta ao seu criador, conta sua aventura e resolve partir para outra. No fim, o jovem autor reconhece, na ânsia de viver do seu personagem, que também ele precisa sair do casulo e cair na vida. O Grupo Viramundos da UPF foi criado há cerca de cinco anos com a finalidade de levar a arte a todos os recantos do estado, mostrada sobre ônibus-palco. Desde então, os espetáculos “O Ferreiro e a Morte”, “O Parturião” e “Timbre de Galo” já foram apresentados para mais de 261 mil pessoas.. Nessas andanças, o grupo trouxe na bagagem muitas experiências e histórias, mas algumas premiações também. A última ocorreu no mês de julho deste ano no 19º Festival Universitário de Teatro de Blumenau, Santa Catarina. Pelo desempenho da peça “Timbre de Galo”, o grupo levou os troféus de melhor espetáculo, melhor ator, melhor conjunto de atores e de melhor figurino. Vivian de Azevedo Virissimo Assessoria de imprensa Viramundos www.upf.br/viramundos/ Fotos: Artur Ferrão

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Gali-Leu e sua turma em tiras A turma do programa Mundo da Leitura aparece agora, também, nas tiras de Dia de gato. Gali-Leu, Borralheira, MilFaces, Nati, Ratazana e Reco-Reco convidam os leitores jovens e ultrajovens a viajar pelos labirintos da literatura, pelos espelhos do sonho e (por que não?) pelas ruas e becos da realidade. Embarque você também nessa viagem.

Programa Mundo da Leitura na TV Futura O programa educativo Mundo da Leitura, direcionado à formação e ao entretenimento dos leitores ultrajovens será veiculado em todos os estados do Brasil. A partir do mês de outubro, você poderá conferir as aventuras do gato Gali-Leu e sua turma no canal FUTURA. A condução do programa é feita pelo Gali-Leu, o gato leitor, com a participação da Natália, do Mil-Faces, da Borralheira e, mais recentemente, dos vilões Ratazana e Reco-Reco.

Você Sabia ?

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Que o primeiro romance para adultos que Ana Maria Machado escreveu foi Alice e Ulisses? Que Reginaldo Prandi recebeu em 2001 o prêmio Érico Vanucci Mendes, por sua contribuição à preservação da memória cultural afro-brasileira? Que Daniel Munduruku ficou seis anos na Ordem Salesiana e queria ser padre? Que se Maria José Silveira não fosse escritora ela seria bailarina? Que Ludimila Zeman acabou se dedicando ao cinema após aprender com seu pai, que era cineasta? Que Maria Teresa Maldonado é psicóloga e atua em projetos sociais de algumas ONGs? Que Nelson Bacic Olic é geógrafo e foi professor por mais de 25 anos? Que Walcir Carrasco é autor da novela Alma gêmea? Que o livro Depois daquela viagem de Valéria Polizzi já foi traduzido em outras línguas? Que Silvana Gontijo já desenvolveu projetos e mediou encontros de cultura, comunicação e cidadania em Angola? Que a autora Mariana Verissimo é neta de Erico Verissimo? Que o autor Antonio Prata foi co-autor de dois episódios do programa Sexo frágil da Rede Globo? Que o autor José Eduardo Degrazia é médico oftamologista? Que o grupo do show instrumental “Sobre todas as cordas”, além de tocar, pesquisa sons de diversas partes do mundo e do Brasil? Que Max B.O. faz rap há mais de dez anos? Que o show “Pé com Pé”, de Paulo Tatit e Sandra Peres, traz canções com ritmos brasileiros?

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O mito das flautas sagradas de mundurukú Em tempos que vão longe, as mulheres habitavam a casa dos homens, e os homens alojavam-se numa vasta casa coletiva. Os homens tinham de fazer todo o trabalho para as mulheres: caçar, buscar lenha, desenterrar mandioca, espremer e fornear a farinha. E, como isso não bastasse, também buscavam água no rio. E como foi que elas conseguiram esse feito? Foi assim...Um dia, caminhando pela mata, três mulheres – Taimbiru, Paruarê e Ianiubêri, que depois se tornou cacique dos Munduruku - encontraram três flautas de som muito bonito. Elas lhe deram o nome de “Caduquê”, por causa do som sagrado que emitiam. As flautas estavam dentro de um igarapé e lhes foi entregues por três peixinhos. Eles disseram às mulheres que nunca deveriam deixar os homens ouvirem o som das flautas, senão perderiam o poder sobre eles. As mulheres acharam um pouco estranha a conversa dos peixinhos, mas, mesmo assim, resolveram experimentar tocar as flautas. -- Que som bonito! disseram elas, impressionadas com o encantamento dos instrumentos. -- Não esqueçam:venham todos os dias tocar as flautas aqui no mato e nunca deixem que os homens descubram o seu segredo – disseram os peixinhos. Então, todos os dias, as três mulheres iam para tocar suas flautas. Para isso saíam de casa às escondidas. Os homens, já cansados de fazer todas as tarefas da aldeia, começaram a desconfiar. -- Aonde irão sempre as mulheres? – perguntavam-se Resolveram descobrir. Um dia quando as mulheres saíram da aldeia rumo ao mato, os homens foram atrás. Elas nem desconfiaram de que estavam sendo seguidas, pois sabiam que havia leis severas para quem se afastasse da aldeia. Mas os homens estavam dispostos a descobrir a verdade sobre seus poderes. Quando chegaram na clareira da mata, os homens viram as três mulheres tocando as flautas. -- Que devemos fazer? Os irmãos mais novos de Ianiubêri, que se chamavam Marimarebê e Mariburubê, propuseram: -- Vamos tirar as flautas delas!Elas nem sequer vão a caça e nós temos de fazer todos os seus serviços! Aceita a proposta, elaboraram um plano para roubar as flautas. Alguns dias depois pegaram as flautas Caduque e também experimentaram tocá-las. -Que som bonito! _ Disseram eles, impressionados com o encantamento dos instrumentos. As mulheres ficaram muito tristes, porque não dispunham mais de duas flautas e, por isso, teriam de fazer todo o trabalho que até então era realizado somente pelos homens. Ficaram tristes também porque seria dos homens o domínio da aldeia. Assim, os homens se apossaram da casa coletiva, que ficou sendo o Ekçá, a casa dos homens, onde as mulheres nunca mais poderiam entrar. As flautas Caduque foram colocadas numa casa especialmente construída para elas e passaram a ser tocadas somente uma vez por ano, quando havia uma grande festa na aldeia. Nessa ocasião as mulheres podiam tocar os instrumentos, mas nunca mais tiveram o mesmo poder na aldeia.

Munduruku, D. Coisas de índio. São Paulo: Callis, 2000

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