Jornal Mundo da Leitura nº. 47

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Jornal do Centro de Referência de Literatura e Multimeios - Ano XVIII edição nº 26 e 27 - setembro de 2015 - Passo Fundo-RS

Entrevista com Ricardo Azevedo p. 3 e 4

Seminário

Práticas Leitoras

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Mundo da Leitura Editorial

A

mpliam-se os desafios à leitura. Mais do que em qualquer tempo da história do nosso país, o povo brasileiro, em diferentes segmentos sociais, culturais e econômicos precisa continuar exercendo suas práticas sociais e culturais a partir de olhares cada vez mais críticos, mais sensíveis. A mídia, em diferentes plataformas, tem registrado, de forma corajosa, os acontecimentos que destacam o Brasil mundialmente pela corrupção. É uma nova versão da história do Brasil que passa a ser divulgada no contexto das diferentes nações. Surgem novas personalidades que passam a se constituir como heróis. Têm sido esses jovens juízes e promotores os sujeitos capazes de detectar, por exemplo, o mau uso da verba pública, os desmandos governamentais em diferentes níveis, em que os atores se apropriaram e continuam a se apropriar indevidamente de recursos financeiros da população brasileira. No exercício de suas funções no poder judiciário, têm se encorajado a usar as prerrogativas da lei, indiciando e encarcerando infratores dentre representantes da camada mais rica e mais poderosa – deputados, senadores, ex-ministros, funcionários e dirigentes de estatais, empreiteiros, gangs constituídas por assessorias que têm viabilizado o desvio de verbas para lugares e instituições bancárias poderosas, localizadas em paraísos fiscais. Estão demonstrando, com provas muito substanciais, as tramas e as infinitas conexões feitas em diferentes instituições, em diferentes segmentos, com vistas à apropriação de recursos financeiros de diferentes segmentos. O uso das redes sociais, ao lado do potencial da mídia, tem sido fundamental no processo de conscientização do povo e na construção de uma força coletiva de indignação, transformando-se em manifestações do povo nas ruas. Nós, enquanto educadores, enquanto cidadãos e cidadãs, temos sido surpreendidos diariamente, ao longo de um período de tempo bastante longo, pelo descaramento desses vilões e de seus parceiros: demonstram indiferença às possibilidades de serem punidos pelos rigores da lei, uma vez que nunca na história deste país ladrões de colarinho branco foram responsabilizados por seus roubos. Têm eles certeza de que conseguirão, mais uma vez, pelo poder econômico e pela desfaçatez, iludir autoridades, debochar do povo.

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É na observação desse contexto que os integrantes do Centro de Referência de Literatura e Multimeios, professores e monitores continuam a realizar estudos sobre questões de leitura, a planejar e a executar práticas leitoras para distintos públicos. Ampliam-se as discussões teóricas à medida que problemas nacionais e internacionais são referidos e têm a ver com os estudos. Conscientizam-se e desejam conscientizar professores acerca do potencial da leitura contemporaneamente. A seleção de textos literários provoca a busca de textos apresentados em outras linguagens, enriquecendo a proposta de leitura feita a cada um dos distintos públicos que usufrui do espaço do Mundo da Leitura ao longo do ano. O desafio de realização de práticas leitoras se amplia uma vez que, após o planejamento, a execução, a avaliação e as possíveis modificações do roteiro inicial precisam ser registradas e tornadas públicas entre professores de diferentes níveis, entre estudantes universitários de licenciaturas especialmente, contando com as contribuições críticas de professores universitários, de pesquisadores na área da leitura e formação do leitor. Destaca-se o esforço que tem sido feito pela manutenção do viés da interdisciplinaridade, considerando o conceito amplo de leitura defendido ao longo da existência e do funcionamento do Centro de Referência de Literatura e Multimeios enquanto laboratório do Curso de Letras da Universidade de Passo Fundo. Destaca-se, por isso mesmo, a força do trabalho coletivo de criação, de execução e de avaliação, observando-se a riqueza da inserção das diferentes linguagens e do uso de materiais de leitura em diversos suportes. As práticas leitoras oferecidas aos usuários, bem como a participação da equipe em diferentes eventos, demonstra o comprometimento de todos na consecução dos objetivos que movem de forma dinâmica e inovadora o Mundo da Leitura. Para culminar uma trajetória de trabalho efetivo pela formação de leitores, o grande presente que o Instituto Itaú Cultural oferece neste ano, não apenas à equipe de professores e monitores, mas a mestrandos e doutorandos dos Programas de Pós-Graduação em Letras, História e Educação da UPF, bem como a professores e estudantes universitários comprometidos com questões de leitura, se constituirá na realização do evento Jornada em Ação

– 13º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, no período de 28 de setembro a 01 de outubro, no Campus I. Pesquisadores como Roger Chartier, Anne-Marie Chartier, Regina Zilberman (UFRGS), Edvaldo Souza Couto (UFBA), Lúcia Santaella (PUC/SP), Chico Marinho (UFMG), e os escritores Ignácio de Loyola Brandão e Luciana Savaget discutirão questões importantes sobre leitura em diferentes dimensões, contribuindo para o aprofundamento dos estudos teóricos nessa área, ao abordarem aspectos inerentes ao grande tema - Literatura na era da mobilidade. Desejamos, publicamente, manifestar nosso agradecimento a Eduardo Saron, Diretor Superintendente do Instituto Itaú Cultural e ao Coordenador da Área de Literatura e Audiovisual, Claudiney Ferreira, pela sensibilidade de viabilizarem, na complexidade das ações que realizam pela cultura no país, esse importante Seminário, juntamente com a Universidade de Passo Fundo. Estamos convictos de que é na construção de parcerias que podemos realizar ações significativas e realmente transformadoras no âmbito de uma grande mobilização educacional e cultural. Agradecemos a todos os que têm aceito o desafio de formar leitores com diferentes olhares, com distintos modos de ler. Foto: Eurico Salis

Prof.ª Dr.ª Tania Mariza Kuchenbecker Rösing Coordenadora do Centro de Referência de Literatura e Multimeios

Expediente Mundo da Leitura é uma publicação do Centro de Referência de Literatura e Multimeios. Ano XVIII - nº 26 e 27 - setembro de 2015 Distribuição gratuita. Coordenação: Tania M. K. Rösing Conselho Editorial: Professores Adriano C. Teixeira, Eladio V. Weschenfelder, Fabiane V. Burlamaque, Miguel Rettenmaier, Paulo Becker, Tania M. K. Rösing. Editor responsável por esta edição: Lisandra Blanck

Monitores: Alessandra Langaro, Aléxia Lang Monteiro, Eliana Rodrigues Leite, Eliana Teixeira, Elisângela de F. F. de Mello, Fernanda Lopes da Silva, Lisandra Blanck, Luís Fernando Portela, Marina de Oliveira, Mayara Corrêa Tavares, Naiara Correa, William Dahmer Silva Rodrigues. Correspondências: Centro de Referência de Literatura e Multimeios Campus I – BR 285 Bairro São José – CEP 99052-900 Passo Fundo/RS (54) 3316-8148 - leitura@upf.br

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Facebook: facebook.com/mundodaleituraupf Twitter: twitter.com/mdleituraupf YouTube: youtube.com/user/mdleitura Home-page: mundodaleitura.upf.br Revisão: Luís Fernando Portela Ilustração de capa: Alessandra Langaro Projeto Gráfico: Marcus Freitas / Núcleo Experimental de Jornalismo FAC UPF Diagramação: Alessandra Langaro Fotos: Acervo Mundo da Leitura Tiragem: 3.000 Impressão: Gráfica Berthier

Universidade de Passo Fundo Reitor: José Carlos Carles de Souza Vice-Reitora de Graduação: Rosani Sgari Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Leonardo José Gil Barcellos Vice-Reitora de Extensão e Assuntos Comunitários: Bernadete Maria Dalmolin Vice-Reitor Administrativo: Agenor Dias de Meira Júnior


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Ricardo Azevedo regras, informações e teorias abstratas, mas sim em contextos socioculturais com características próprias e gente de carne e osso. Sonho com o dia em que, em nossas escolas, os alunos vão conhecer e estudar as canções de Noel Rosa, Dorival Caymmi, Wilson Batista, Nelson Cavaquinho, Luiz Gonzaga, Zé Kéti, Manacéia, Paulinho da Viola e tantos outros poetas populares, compará-las com as letras de compositores como Tom Jobim, Vinicius de Morais, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Fernando Brant, Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Vitor Martins, José Miguel Wisnik e outros, para depois, num terceiro momento, tentar associá-las de alguma forma aos poemas e procedimentos com a linguagem de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Murilo Mendes, Ferreira Gullar, entre outros. Neste dia, finalmente, teremos estudantes mais expressivos, com pensamento crítico desenvolvido e melhor integrados à sua própria sociedade e cultura.

Ricardo Azevedo, escritor, ilustrador, compositor e pesquisador paulista, nascido em 1949, é autor de vários livros para crianças e jovens. Tem, além disso, dado palestras e publicado estudos e artigos a respeito de temas como o discurso popular, literatura e poesia, problemas do uso da literatura na escola, cultura popular, música popular brasileira e questões relativas à ilustração de livros. (http://www.ricardoazevedo.com.br/) Como se deu sua trajetória de formação leitora? Meu pai era geógrafo, professor universitário e autor de livros de geografia. Além disso, tive a sorte de ter em casa uma biblioteca bastante grande e diversificada. Dessa forma, minha aproximação com livros, literatura e leitura se deu com muita naturalidade. Tanto meu pai como minha mãe eram leitores, sabiam usar livros em benefício próprio e sempre tinham um livro por perto. Preciso dizer que não lembro de eles indicarem leitura alguma. Eles liam e ponto. Cada filho que se virasse e pegasse o livro que quisesse. Isso foi muito bom e de certa forma também agi assim com meus filhos. A sua carreira de escritor coincide com a sua vocação para a pesquisa? Acho que não. Ocorre que lá pelo início dos anos 90, cerca de dez anos após a publicação do meu primeiro livro, comecei a sentir necessidade de estudar e aprofundar certas questões relativas à literatura e à estética. Tanto porque passei a ser convidado a dar palestras para professores e quis ter mais segurança com relação a alguns conceitos, como também porque queria compreender melhor que linguagem afinal eu utilizava para escrever meus livros, um discurso que sabia ser diferente do modelo paradigmático apresentado pela literatura “oficial” pautada pelas universidades, pelas teorias literárias e pela crítica especializada. Acabei fazendo doutorado em 2004 e dele resultou livro Abençoado & danado do samba: um estudo sobre o discurso popular, publicado pela Edusp em 2013.

Obra: Abençoado e Danado do Samba

Entrevistado: Ricardo Azevedo

Qual é o seu olhar sobre a relação do educador brasileiro com as manifestações da cultura popular? As escolas são uma representação e um reflexo da sociedade. Infelizmente ainda vivemos numa sociedade elitista com tradição escravocrata, com alguns poucos privilegiados que julgam natural ter privilégios, e muitos vivendo, mesmo que em graus diferentes, à margem e de forma subalterna. Acontece que a essência e a vitalidade das culturas populares nascem justamente no seio dessas classes subalternas que, note-se, representam de forma matizada creio que, talvez chutando, uns 80% de população. Entretanto, essa cultura não-oficial, espontânea e muito diversificada, costuma ser desprezada pela sociedade dominante e ignorada pela escola, sendo lembrada apenas em agosto, decretado sei lá por quem “mês do folclore”. Como assim? A cultura popular viceja todos os dias e todas as noites o tempo inteiro! Nesse quadro, é natural que a maioria dos professores não seja preparada para abordá-la em sala de aula. Tratase de um paradoxo: a maior parte dos professores tem sua origem nas classes populares, mas é levada pelo pensamento dominante a não reconhecer que sua própria cultura é valiosa e pode ser assunto de grande interesse escolar. Não se trata de nenhum nacionalismo, mas apenas de compreender que não vivemos num mundo higiênico composto de

Há distinção entre o perfil do leitor jovem e do leitor adulto? O que justifica o distanciamento do leitor adulto das representações literárias da cultura popular. É claro que existem crianças, jovens e adultos e que estes estão em estágios diferentes da vida. Considerando o modelo escolar fica fácil dividir as crianças em grupos da mesma idade e distribuilas em classes onde recebem um acervo de conhecimento também fragmentado. Acontece que a vida real é mil vezes mais complexa do que esse esquema utilitário e genérico. Mesmo tendo a mesma idade, diferentes crianças de nove anos carregam suas experiências pessoais, sua cultura familiar, a cultura de sua comunidade, suas crenças, seus padrões morais, seus padrões de sociabilidade, sua maneira de ser, etc. A mesma idade cronológica não corresponde à maturidade e à experiência de vida de cada indivíduo. Enfim, uma coisa é tratar crianças como fórmulas baseadas em estatísticas; outra é tratá-las como seres humanos na vida. Nesse sentido, a cultura popular pode, mais uma vez, nos dar o caminho a seguir, pois as expressões populares nada têm a ver com faixas etárias: contos, quadras, adivinhas, brincadeiras com palavras, etc. são capazes de interessar e causar grande identificação em todas as pessoas. Não é pouco! Quero dizer ainda que não sinto que haja nenhum distanciamento do leitor adulto com relação às formas literárias populares. Como disse, adultos e crianças costumam saborear com o mesmo interesse esse riquíssimo material.

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Atualmente têm-se um novo perfil de leitor, o leitor ubíquo, ou seja, o leitor que está em constante contato com redes sociais por meio dos mais variados dispositivos móveis. Os textos se tornaram fragmentados. Como você acha que essa situação afeta a formação de leitores? De que forma esses recursos podem ser usados em favor da leitura literária? Sem dúvida, a influência cada vez maior dessas novas tecnologias em nossas vidas é muito difícil de avaliar. No geral, minha sensação é a de que não se trata de discuti-las em si mesmas – nada mais são do que recursos técnicos –, mas sim seu uso. O que pessoas expressivas, com cultura humanista e pensamento crítico desenvolvido – em suma, pessoas capazes de determinar seus próprios fins – fazem ou farão com essas tecnologias sempre será muito diferente, tenho certeza, do uso que fazem ou farão delas pessoas dotadas apenas de mentalidade técnica e valores consumistas, incapazes de pensamento crítico, em suma, pessoas alienadas, analfabetos sociais, cujos objetivos e fins são determinados por outros. Uma coisa é certa: só os primeiros são ou serão de fato leitores. Seus livros tematizam o folclore. Por que o evidente interesse por esse tema? De certa forma meu trabalho tem dois planos: livros inteiramente criados por mim – que são a maioria – e livros que buscam um resgate de formas literárias populares, principalmente os contos. Creio que esse material popular é riquíssimo e para mim representa uma fonte de aprendizado, tanto pela rica linguagem que utiliza, como pela forma com que aborda seu temas. Os contos populares são capazes de tratar de assuntos muito, muito complexos de forma compartilhável pela maioria das pessoas. Na minha visão são verdadeiros tesouros da alma humana.

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Na maioria das vezes, livros direcionados para o público infantil contêm ilustrações bastante ricas que seduzem o leitor. Enquanto escritor e ilustrador, você se sente mais atraído pelo relato da história ou pela linguagem imagética? Minha formação desde pequeno foi voltada basicamente para a literatura. O estudo das artes visuais foi uma riqueza que entrou na minha vida quando eu já tinha mais de vinte anos. Por essa razão, sempre me senti antes de tudo um escritor que desenha, mas preciso dizer que hoje, com tantos anos de trabalho, percebo cada vez mais como esses dois discursos se interpenetram. Acabo de lançar pela Melhoramentos o livro Caderno veloz de anotações, poemas e desenhos, feito de poemas e imagens que, neste caso, têm completa autonomia. Em outras palavras, os desenhos não são ilustrações dos textos, mas sim ambos são protagonistas dentro do livro. A ideia é que o leitor leia e olhe página por página e pense: que texto é esse? Que imagem é essa? Como interpretar esse poema? Como interpretar esse desenho? O que é que eu sinto diante de tudo isso? Como autor, foi a primeira vez que fiz isso e esse tipo de abordagem me interessa muito e cada vez mais.

Ricardo Azevedo participará, no mês de outubro, dos seminários do projeto Livro do Mês, para o Curso de Letras da UPF, para alunos de escolas municipais e estaduais do município, e comunidade. A obra que será debatida é Fragosas Brenhas do Mataréu, publicada pela editora Ática em 2013.

Sobre a obra: Um jovem de cerca de 15 anos se vê abandonado após a morte da mãe. Ele seria apenas um adolescente, mas estamos no século XVI, em Portugal, onde garotos precisam se tornar homens muito cedo, e a fé, em vez de reconfortar, fomenta o ódio e o medo. Órfão, ele é condenado a trabalhar na frota ultramarina portuguesa e empreender a maior de todas as aventuras: a arriscada viagem para o Novo Mundo, para as terras de um Brasil ainda em formação, de matas intransponíveis, rios abundantes e povos tão misteriosos quanto perigosos. Durante a jornada, o jovem narradorprotagonista vai descobrir o fascinante choque entre o conforto das verdades estabelecidas e o desassossego de uma vida pulsante e repleta de encontros, indagações, paixão, amizade. OUTRAS PUBLICAÇÕES DO ESCRITOR:


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Jornada em Ação 13º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural O Instituto Itaú Cultural e a Universidade de Passo Fundo viabilizam a realização da Jornada em Ação – 13º Seminário Internacional de Pesquisa em Leitura e Patrimônio Cultural, que reúne pesquisadores nacionais e internacionais, escritores, professores, estudantes e demais interessados em questões de leitura. A programação das Jornadas Literárias, promovidas pela Universidade de Passo Fundo, integrou, a partir de 2003, o seminário, realizado, em sua primeira edição, em 2002, na Universidade de Extremadura, Badajoz, Espanha. No ano seguinte, em intercâmbio entre a referida instituição e a Universidade de Passo Fundo, o evento passou a transitar por várias cidades da Europa, alternando a sede, em anos de Jornada, para Passo Fundo. Assim, Paris, em 2004, Cuenca, em 2006, Almería, em 2008, Cáceres, em 2010, e Girona, em 2012, sediaram o seminário, da mesma forma que Passo Fundo, nos anos ímpares, entre 2003 e 2013, na programação das Jornadas. O encontro está incorporado às atividades da Red Internacional de Universidades Lectoras (www.universidadeslectoras.org), convênio no qual se integra a UPF desde 2009. A rede agrega instituições universitárias de todo o mundo em torno de objetivos e atividades comuns de fomento à leitura e à escrita na comunidade universitária e em seu conjunto. A impossibilidade de realização da 16ª Jornada Nacional de Literatura, em 2015, motivou o apoio significativo e inestimável do Instituto Itaú Cultural à realização desta décima terceira edição do seminário, espaço de discussões teórico-práticas sobre a leitura em contexto interdisciplinar e hipermidiático. A realização do seminário cumpre as metas de internacionalização dos Programas de Pós-Graduação em Letras, História e Educação, da mesma forma que contribui para que se consolidem projetos de cooperação e intercâmbio desses programas. A partir da temática Literatura e Identidade na Era da Mobilidade, os objetivos do seminário estão incorporados aos princípios gerais da Red de Universidades Lectoras, quais sejam: ◘ tratar a leitura e a escrita de forma transversal, com vistas a associar cultura e tecnologia; ◘ promover o desenvolvimento cidadão de universitários pelo envolvimento com a leitura na cultura clássica e em outras linguagens; ◘ fomentar a cooperação internacional e o desenvolvimento social e econômico. Como objetivos específicos encontro, discrimina-se o que segue:

do

◘ discutir a questão da literatura no contexto das novas tecnologias, observada a interação entre sujeitos e ferramentas digitais na leitura e na escrita;

Esses objetivos se incorporam, também, aos propósitos do Instituto Itaú Cultural, que considera a cultura uma ferramenta essencial à construção da identidade do país e um meio eficaz na promoção da cidadania, num processo democrático e de incentivo da participação social. Agradecemos a Eduardo Saron, Diretor Superintendente do Instituto Itaú Cultural e ao Coordenador da Área de Literatura e Audiovisual, Claudiney Ferreira, pela viabilização desse importante seminário, juntamente com a Universidade de Passo Fundo. É na construção de parcerias que podemos realizar ações significativas e realmente transformadoras no âmbito de uma grande mobilização educacional e cultural.

Literatura e Identidade na Era da Mobilidade PRIMEIRA ETAPA: Dias 28/09 e 29/09/2015

Encontro com mestrandos e doutorandos das áreas de Letras, História e Educação da UPF. Local: Auditório do Centro de Eventos da UPF Horário: 8h às 11h30min e 14h às 17h30min Roger Chartier Anne-Marie Chartier PRIMEIRA ETAPA: Dias 28/09 e 29/09/2015

◘ discutir o patrimônio histórico à luz de uma nova perspectiva, estabelecida pela revisão da própria história;

Sessão Solene de Abertura Painel de debates Local: Auditório do Centro de Eventos da UPF

◘ refletir sobre a arte e a literatura no contexto das inovações tecnológicas incorporadas à mobilidade e à ubiquidade.

Literatura, redes e sistemas

14h

Regina Zilberman (UFRGS) Edvaldo Souza Couto (UFBA)

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19h30min

Conferência a duas vozes

Local: Auditório do Centro de Eventos da UPF Novas tecnologias - ler e escrever, aprender e apagar Roger Chartier Anne-Marie Chartier Dia 01/10/2015 Apresentação de comunicações orais Local: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (prédio B4) – Campus I – UPF Horário: 8h às 12h Temáticas: 1)

Formação de leitores e mídias digitais.

2) Patrimônio cultural: leitura, memória e identidade. 3) Mediação de leitura: práticas sociais e culturais. 4)

Leitura, linguagem, texto e discurso.

14h

Painel de debates

Local: Auditório do Centro de Eventos da UPF Leituras móveis, leitores ubíquos Lúcia Santaella (PUC-SP) Chico Marinho (UFMG) 17h Homenagem da Academia Passo-Fundense de Letras ao escritor Ignácio de Loyola Brandão 19h30min Conversa com os escritores Ignácio de Loyola Brandão e Luciana Savaget, para alunos de graduação e de escolas da rede pública Local: Auditório da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis (prédio B6) – Campus I – UPF

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CONFERENCISTAS Regina Zilberman Licenciou-se em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutorou-se em Romanística pela Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Realizou estágios de pós-doutorado no University College (Inglaterra) e na Brown University (Estados Unidos). É professora adjunta do Instituto de Letras, da UFRGS, e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Seus livros mais recentes são: A leitura e o ensino da literatura; Brás Cubas autor Machado de Assis leitor; Como e por que ler a literatura infantil brasileira. Edvaldo Souza Couto Possui graduação em Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade Estadual de Santa Cruz (1985), mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1990) doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1998) e estágio de pós-doutoramento em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2011). Atualmente é professor Associado na Universidade Federal da Bahia, no Departamento de Educação II. É um dos coordenadores do GEC: Grupo de pesquisa Educação, Comunicação e Tecnologias. Dentre outros, publicou os seguintes livros: Transexualidade: o corpo em mutação, O homem-satélite: estética e mutações do corpo na sociedade tecnológica e Corpos voláteis, corpos perfeitos: estudos sobre estéticas, pedagogias e políticas do pós-humano. Estuda principalmente os seguintes temas: estética; corpo e tecnologia; sexualidade e tecnologia; filosofia da técnica; educação, comunicação e tecnologias; cibercultura e novas educações, software livre, leitura e escrita na era digital, currículo e formação de professores; redes sociais na internet. Com bolsa do CNPQ desenvolveu a pesquisa “Cibercultura e novas educações: leitura e escrita digitais na formação docente” e desenvolve atualmente a pesquisa “Cibercultura e Educações: Narrativas de professores nas redes sociais digitais”. Roger Chartier É um dos mais reconhecidos historiadores da atualidade. Formado pela École Normale Supérieure de Saint Cloud e pela Université Paris-Sorbonne, é Doutor Honoris Causa da Universidade Carlos III de Madrid, pesquisador correspondente da British Academy, professor e pesquisador da École des hautes études en sciences sociales e professor do Collège de France, ambos em Paris. É membro do Centro de Estudos Europeus da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e recebeu o título de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras do governo francês. Também leciona na Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e viaja pelo mundo proferindo palestras. Sua especialidade é a história da cultura, do livro e da leitura na Europa, com ênfase nas práticas culturais da humanidade, interessando-se também pelos efeitos da revolução digital. Suas principais contribuições para a história da cultura estão relacionadas às noções complementares de “práticas”, “representações” e “apropriação”, em que, neste horizonte teórico, as diversas formações e manifestações culturais podem ser examinadas a partir da relação interativa entre esses três polos. Veio várias vezes ao Brasil, onde é, depois do antropólogo Claude Lévi Strauss, o intelectual francês contemporâneo que mais influencia estudantes de ciências humanas.


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Anne-Marie Chartier Especialista em história do ensino da leitura, Anne-Marie Chartier investiga a evolução das práticas e dos materiais didáticos empregados no ensino da leitura e da escrita. Os resultados de seus estudos como pesquisadora do Serviço de História da Educação do Institut National de Recherche Pédagogique, em Paris, lhe permitem afirmar, por exemplo, que as anotações feitas por um docente durante o trabalho, quando analisadas sistematicamente, são fundamentais para o replanejamento constante das aulas. Anne-Marie defende que o educador precisa saber relacionar a base teórica ao seu dia a dia para ensinar bem e alcançar bons resultados escolares. Lucia Santaella É pesquisadora I-A do CNPq, professora titular da PUC-SP com doutoramento em Teoria Literária na mesma universidade em 1973 e LivreDocência em Ciências da Comunicação na ECA/ USP em 1993. É Diretora do CIMID, Centro de Investigação em Mídias Digitais e Coordenadora do Centro de Estudos Peirceanos, na PUC-SP. É presidente honorária da Federação LatinoAmericana de Semiótica e correspondente brasileira da Academia Argentina de Belas Artes, eleita em 2002. Professora visitante na Frei Universität-Berlin, 1987, na Universidade de Valencia, 2004, na Universidade de Kassel, 2009 e 2011, na Universidade de Évora, 2010 e na Universidad Nacional de las Artes, Buenos Aires, 20132014. Fez repetidos estágios de pós-doutorado (Fullbright, Fapesp, CNPq, Capes, DAAD). Recebeu os prêmios Jabuti em 2002, 2009, 2011 e 2014, o prêmio Sergio Motta, em 2005 e o prêmio Luiz Beltrão em 2010. Organizou 13 livros e, de sua autoria, publicou 41 livros. Além dos livros, publicou cerca de 300 artigos em livros e revistas especializadas no Brasil e no Exterior. Chico Marinho Possui graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Minas Gerais (1983), mestrado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais (1997) e doutorado em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (2004). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais. Pesquisa arte e tecnologia nas seguintes áreas: jogos digitais, cinema de animação, arte computacional, instalações interativas imersivas, multimídia, interfaces homem máquina, aplicativos artísticos e educacionais para dispositivos móveis. É líder do grupo de pesquisa Imaginário: poéticas computacionais. Ignácio de Loyola Brandão É jornalista, escritor, roteirista de televisão e cronista do jornal O Estado de São Paulo. Seu primeiro livro, Depois do sol (contos), impulsionou sua carreira literária. Foi redator-chefe das revistas Cláudia, Realidade, Planeta e Vogue, entre outros periódicos. Escreveu romances importantes no contexto das letras brasileiras, entre eles Bebel que a cidade comeu, Zero, Não verás país nenhum, O verde violentou o muro, O homem do furo na mão, O menino que não teve medo do medo, Veia bailarina e O segredo da nuvem. Escreveu romances biográficos, entre eles, Desvirando a página: a vida de Olavo Setúbal (2008). Sua produção literária rendeu-lhe vários prêmios. Destaca-se, em meio a tantos, o Prêmio Jabuti como Melhor Livro de Ficção de 2008, por

Jornal do Centro de Referência de Literatura e Multimeios - 7 O menino que vendia palavras. É membro da Academia Paulista de Letras. Respeitado por seus pares, reconhecido pela qualidade de sua obra, Loyola é valorizado, de forma singular, pelas marcas de cidadania que o caracterizam. É coordenador dos debates das Jornadas Literárias de Passo Fundo desde 1988. Contribui decisivamente na organização de cada edição das Jornadas, desenvolvendo importante e inestimável consultoria. Também na literatura infantojuvenil, em 2009, publicou Os escorpiões no círculo de fogo. Em 2010, lançou Ruth Cardoso: fragmentos de uma vida, narrativa sobre alguns momentos da vida de Ruth Cardoso. Em 2012, Solidão no fundo da agulha. Em 2013, O mel de Ocara: ler, viajar, comer. Em 2014, Os olhos cegos dos cavalos loucos. Luciana Savaget É jornalista e autora de livros infanto-juvenis. Conquistou diversos prêmios, entre eles o de Personalidade do Ano Internacional da Criança, conferido pela União Brasileira dos Escritores/UBE, da Academia Paulista dos Críticos de Arte de São Paulo e Menção Honrosa do prêmio jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. Atualmente, trabalha no Globo News. Escreveu vários livros, entre eles, Operação resgate na Palestina, Operação resgate na Jordânia, Operação resgate em Bagdá, O sertão do Conselheiro Antônio, Enigma de Huasão: uma história peruana, Mão quente, coração frio, Operação Galápagos, Poeta sem palavras e Jararaca: um homem com nome de cobra. Vários livros seus conquistaram o selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), e alguns deles estão sendo publicados no México, na Colômbia, na Alemanha, em Cuba e na Palestina. (http://www.lucianasavaget.com/) Tania Mariza Kuchenbecker Rösing Coordenadora do Seminário Possui graduação em Letras e em Pedagogia pela Universidade de Passo Fundo, mestrado e doutorado em Teoria Literária pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Pós-doutorado pela Universidade de Extremadura/Espanha - Facultad de Biblioteconomia y Documentación. Sua experiência docente abrange o ensino básico, o ensino médio e o ensino superior. É professora no Programa de Pós-Graduação em Letras – Mestrado e Doutorado - na Universidade de Passo Fundo e pesquisadora produtividade CNPq. Coordena o Centro de Referência de Literatura e Multimeios- Mundo da Leitura da UPF. É criadora das Jornadas Literárias de Passo Fundo, tendo coordenado o trabalho por 34 anos. Ministra aulas de Literatura Infantil e Juvenil, Literatura Brasileira há 44 anos na Universidade de Passo Fundo. Suas publicações emergem de investigações sobre o tema Leitura e formação do leitor. Integrou a comissão técnica do Plano Nacional de Bibliotecas Escolares do Ministério da Educação – PNBE em 2003, tendo atuado, também, no comitê diretivo do Plano Nacional do Livro e Leitura – PNLL – no período de 2006 a 2010 (MEC/MinC).

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Mundo da Leitura Jornadas

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Um projeto coletivo não se acaba Tania Mariza Kuchenbecker Rösing* A inquietude sempre marcou minha ação como professora, como pessoa. Sempre considerei que o esforço empreendido para propor uma conferência, para organizar um seminário e reunir 50 professores para ouvir um conferencista, era o mesmo que o planejado para atingir 200 participantes. O meu desejo de aproximar alunos, professores, estudantes universitários de Letras e professores em geral de escritores sul-rio-grandenses como Armindo Trevisan, Antônio Carlos Rezende, Carlos Nejar, Cyro Martins, Deonísio da Silva, Mário Quintana, Moacyr Scliar, Sérgio Capparelli, por meio da leitura prévia de suas obras e, posteriormente, em evento específico, sensibilizou o jornalista e escritor Josué Guimarães e sua esposa Nydia. Seria uma loucura? Haveria viabilidade? Haveria interesse de intelectuais em prestigiar um evento literário em Passo Fundo? Na ótica de um escritor como Josué, no momento em que o Brasil se livrava do jugo da ditadura, a possibilidade de provocar esse acontecimento literário assumia a forma de uma trajetória de libertação a ser construída coletivamente entre escritores e leitores. A resposta afirmativa de Josué constituiu-se num estímulo para que eu prosseguisse nessa direção. A voz desse grande contador de histórias foi ouvida entre seus pares, que não apenas aceitaram o convite para vir a Passo Fundo, mas também comprometeram-se em comparecer, estimulando a discussão sobre seus livros. Vivíamos o ano de 1981. Iniciava-se a primeira etapa da caminhada exitosa das Jornadas Literárias de Passo Fundo. A ideia foi proposta, também, à reitoria da Universidade de Passo Fundo, mais especificamente ao Prof. Élido Alcides Guareschi, Vice-Reitor de Graduação que, sensível, entendeu a importância da iniciativa para o meio acadêmico e sua relação com

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a comunidade. Apoiou com determinação, juntamente com o Reitor Bruno Markus e com o Vice-Reitor Administrativo Murilo Annes, os quais não mediram esforços para a sua realização. Prenunciava-se uma dimensão de destaque da UPF pelo viés literário. O convite para participar da primeira Pré-Jornada atingiu 250 professores de escolas públicas e particulares, de diferentes áreas do conhecimento. Leituras dos livros, reuniões de discussão sobre os livros pré-selecionados dos autores convidados foram realizadas na Escola Estadual Protásio Alves, sob a direção da Prof.ª Ides Sirottá, além da produção de resenhas por alunos de Letras que as publicaram em jornais da cidade. Em agosto do mesmo ano, a participação de um público aproximado de 750 pessoas garantiu o sucesso do evento, pelo entusiasmo com que ouviram os escritores a partir de um diálogo já iniciado na leitura de suas obras, cujos debates foram coordenados pelo próprio Josué com muita alegria, totalmente distante do ranço acadêmico. Leitura e literatura passaram a ser celebradas com muita alegria. Na avaliação que fizemos Josué, Nydia e eu após a realização da I Jornada Sul-Rio-Grandense de Literatura, decidimos que o evento deveria continuar numa periodicidade bienal e, pasmem, com dimensão nacional. Fiquei surpresa com a coragem desses amigos em se comprometerem a contribuir com a construção da primeira edição nacional das Jornadas Literárias, que aconteceu em 1983. A atmosfera nacional era propícia à liberdade de expressão. Foram feitos convites para escritores como Otto Lara Rezende, Antônio Callado, Fernando Sabino, Millôr Fernandes, Luis Fernando Verissimo, Lya Luft, José Onofre e o então diretor do Instituto Estadual do Livro, Luiz Antônio de Assis Brasil. Eles aceitaram o desafio e

comprometeram-se a vir. Nessa primeira edição nacional, em 1983, a metodologia da Pré-Jornada se manteve e propiciou mais uma vez a professores em geral e a acadêmicos de Letras, a discussão prévia das obras desses importantes escritores brasileiros. O público participante constituiu-se de, aproximadamente, 1100 pessoas. As notícias do sucesso do evento e de suas peculiaridades começavam a circular não apenas pelo Rio Grande do Sul, mas passaram a atingir o eixo Rio-São Paulo. Millôr Fernandes me confidenciou que não apenas estava em Passo Fundo para rever amigos a convite do Josué e participar da Jornada, mas que, a partir daquele momento, sentia-se como embaixador das Jornadas Literárias. A edição seguinte, realizada em 1985, se ampliou em número de escritores convidados e em público, quando participaram 1300 pessoas. Já em 1988, foi realizada a III Jornada Nacional de Literatura Josué Guimarães, em homenagem a este saudoso escritor, cuja morte precoce retirou-o do convívio dos seus leitores. Ampliouse, também, em cursos que começaram a ser oferecidos no turno da manhã. Criouse, em parceria com o Instituto Estadual do Livro, o Concurso Nacional de Contos Josué Guimarães, dirigido a escritores iniciantes, também homenagem ao escritor que teve a sensibilidade de apoiar a realização das Jornadas. Recebemos o apoio de Vasco Prado, artista maior da escultura gaúcha, por intermediação de Roseli Doleski Pretto, nossa amiga, artista plástica, entusiasta das letras e das artes, no sentido de viabilizar o troféu Vasco Prado – corpo de mulher – que foi entregue até 2011 a cada um dos convidados das Jornadas. Também a partir dessa edição, a coordenação dos debates passou a ser assumida por Ignácio de Loyola Brandão e Deonísio da


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Silva. Em edições posteriores, por Loyola e o pesquisador da PUC/Rio Júlio Diniz e, na sequência, por Loyola e o saudoso teatrólogo Alcione Araújo que, após sua morte, foi substituído por Luciana Savaget, escritora, pesquisadora, diretora de produção do programa Arquivo N da Globonews. Na última edição, em 2013, Loyola e Luciana atuaram com o entusiasmo de sempre, sem deixar de demonstrar a tristeza pela ausência do Alcione. A programação das Jornadas, desde a primeira em abrangência estadual e em suas quinze edições nacionais, de 1981 a 2013, foi sendo ampliada em cursos paralelos, em seminários, simpósios, encontros, na apresentação de peças teatrais, de shows musicais, no funcionamento de feira do livro. Públicos distintos foram se constituindo, determinando programação específica para cada um deles. No âmbito geral das Jornadas e em seus desdobramentos, surgiram a Jornadinha, a Jornada Ensino Médio, a JorNight, a Jornada UPF. Para atender a essa heterogeneidade de participantes, foram convidados escritores consagrados, escritores cujas obras estavam em processo de consolidação, escritores jovens, vozes das comunidades. Tudo isso para atender aos interesses de leitores experientes, leitores em formação e não leitores. Em 1988, por iniciativa do Prefeito Júlio César Teixeira, foi criado, por meio de lei municipal, o Prêmio Passo Fundo de Literatura, para premiar o autor do melhor romance escrito em língua portuguesa no intervalo dos dois anos que intermediavam a realização das Jornadas. Conseguimos realizar, com o apoio incondicional da Companhia Zaffari, o Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura por diferentes edições. Inicialmente, o prêmio concedia o valor de R$100.000,00 ao autor da obra selecionada, passando, desde 2011, a R$150.000,00. Entre os premiados, Sinval Medina, Salim Miguel e Antônio Torres, Plínio Cabral, Mia Couto, Cristóvão Tezza, Chico Buarque, João Almino, Ana Maria Machado. A criação desse prêmio, com valor à altura do trabalho de um romancista, inspirou a criação de outros no Brasil. O esforço para essa construção sempre foi coletivo. Equipe interinstitucional alavancou a realização, contando, desde 1981, com o apoio da Prefeitura Municipal de Passo Fundo. Contamos, também, com o apoio de escritores, editores, livrei-

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ros, dirigentes de associações ligadas ao livro, academias, empresas, empresários, dirigentes governamentais, Lei Rouanet, Lei de Incentivo à Cultura/RS. Ouvimos críticas. Recebemos sugestões. Mudamos estratégias. O público sempre crescente. O interesse da mídia nacional foi cada vez maior. Publicações de diferentes naturezas divulgaram o conteúdo das diversas edições. Registros inimagináveis foram feitos na mídia. Pronunciamentos singulares estão contidos em materiais os mais inusitados. A prova da construção coletiva. No período de 1981 a 2013, as Jornadas Literárias de Passo Fundo foram assumindo um formato à altura da formação de leitores numa perspectiva teórico-prática digna de reconhecimento entre pesquisadores, escritores, editores, livreiros, professores, alunos. Exageradas em seu tamanho, em seus propósitos? Sem dúvida, construídas coletivamente pela amplitude do olhar de diferentes grupos de pessoas que se empenharam na realização de uma movimentação cultural capaz de promover mudanças pelo viés da leitura. Dignamente pensada por todos que acreditavam e que continuam não apenas acreditando, mas trabalhando na sintonia entre educação, cultura e tecnologia. Exaladoras de uma atmosfera singular, diferenciada? É claro! É mais que óbvio! Foram pensadas e construídas com paixão, com muito amor, com espírito fraterno! Não emergiram de gabinetes! Foram imaginadas, planejadas, vivenciadas por empreendedores culturais despreocupados com funções passageiras em situações profissionais, mas repletos do desejo de promover o aprimoramento humano entre diferentes grupos sociais. A estrutura da movimentação cultural em que se constituíram as Jornadas Literárias se solidificou pela seriedade das ações em diferentes desdobramentos, como a criação do Centro de Referência de Literatura e Multimeios – o Mundo da Leitura –, em funcionamento há 18 anos; a criação da Jornadinha Nacional de Literatura, em 2001, para atender um público de 12000 crianças e jovens naquela primeira edição e 18000 em 2013; a transformação de Passo Fundo em Capital Nacional da Literatura (Lei nº 11.264, de 2 de Janeiro de 2006) e em Capital Estadual da Literatura (Lei nº 12.838 de 13 de novembro de 2007); a criação do Programa Mundo da Leitura na TV, há 12 anos, iniciativa da UPF TV em

parceria com o Mundo da Leitura e, a partir de 2005, com o Canal Futura para sua divulgação nacional; a criação do Projeto Livro do Mês, em funcionamento desde 2006. Diferentes segmentos de promoção do livro, da leitura, da literatura em meio às múltiplas linguagens observaram, participaram, contribuíram com a solidez da proposta e os resultados alcançados ao longo de 34 anos. Inspirou a realização de festas literárias pelo país, de feiras do livro com programação cultural, de seminários e encontros que passaram a incluir, entre outros, por exemplo, o público infantil e juvenil aos moldes da Jornadinha. Sem dúvida, e a partir de avaliações críticas emitidas por diferentes instâncias, constituiu-se como a mais inovadora e bem sucedida movimentação cultural pela leitura literária brasileira ao lado da leitura de manifestações artísticas e culturais, formando públicos distintos. A decisão de cancelamento da Jornada no modelo que baseou suas ações por mais de três décadas, reunindo 1022 escritores e pesquisadores e 131 grupos artísticos, desconsiderando os conceitos que a sustentaram em função dos diferentes tipos de escritores convidados e dos distintos públicos participantes não apenas preocupou variados segmentos, mas entristeceu e desolou muita gente – dirigentes culturais, educacionais, escritores, editores, pesquisadores, professores de diferentes graus do ensino, estudantes universitários, jovens de diferentes faixas etárias, empresários apoiadores, lideranças governamentais, empresários e empresas governamentais ou não. Todos que contribuíram e que continuam contribuindo para o aprimoramento da cultura pelo viés da Lei Rouanet, Pró-cultura RS LIC, entre tantos outros. Surpresa, inconformidade, protestos, tentativas de angariar fundos são a prova maior de que um projeto coletivo não se acaba. As Jornadas Literárias de Passo Fundo emergiram de sonhos individuais impossíveis, sempre possíveis coletivamente. Foram abençoadas entre tantos, pelo gênio sensível de Josué Guimarães, Edgar Morin, Ariano Suassuna, José Mindlin. Isto ninguém muda. Isto ninguém apaga. Um projeto coletivo não se acaba. *Prof.ª Dr.ª Tania Mariza Kuchenbecker Rösing Coordenadora do Centro de Referência de Literatura e Multimeios

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Educação infantil - Contos, rimas, adivinhas: brincando com a cultura popular A prática leitora de Educação Infantil de 2015 convida os leitores a brincar com as palavras por meio de adivinhas ilustradas sobre frutas, presentes no livro Mamão, melancia, tecido e poesia, que faz parte da série Adivinhas bordadas , do escritor Fabio Sombra. O livro ilustra com bordados uma variedade de frutas tropicais de diferentes países, o que possibilita entrar em contato com uma riqueza de cores, aromas e formas. A prática pretende sensibilizar os alunos para experiências sensoriais a partir da audição de música, do exercício de observação, da leitura de imagens de obras de arte, e da experimentação de essências. Propõe-se ainda, a leitura através da contação de história e de brincadeiras de adivinhas sobre frutas.

Visita da EMEF Escola da Manhã - Passo Fundo

1º e 2º anos – Um nó na cabeça: respeitando as diferenças

Visita do Colégio Marista Conceição - Passo Fundo

A prática leitora foi baseada no livro Um nó na cabeça, de Rosa Amanda Strausz, que conta a história do carneiro Tico, que tem um nó na cabeça e por isso vê as coisas de modo diferente dos outros. Os alunos são convidados a apreciar uma instalação montada com cordas e carneiros artesanais que remetem às ilustrações do livro e a algumas cenas da história. Durante a atividade são instigados a refletir sobre as diferenças a partir de si mesmos, dos colegas, e de outras pessoas de seu convívio, percebendo a importância do respeito e da tolerância. Na sequência são apresentadas outras narrativas que tratam sobre o mesmo tema, como o clássico “O Patinho feio”, de Hans Christian Andersen, e o curta de animação Lambs, do alemão Gottfried Mentor.

3º e 4º anos – Cunhantã: a mulher nas tribos indígenas A prática leitora “Cunhantã: a mulher nas tribos indígenas” é baseada no filme Tainá: a origem. O filme conta a história da menina Tainá, guerreira da tribo Maori, que recebe a missão de salvar a grande árvore e destruir Jurupari, o espírito do mal que quer devastar a natureza. A atividade inicia com a apresentação da música “Chegança”, de Antônio Nóbrega, e a exibição de fotos de Sebastião Salgado sobre a cultura indígena. Posteriormente, é exibido um trecho do filme e os alunos são convidados a conversar sobre ele, estabelecendo uma relação com seu tema e a linguagem audiovisual. Por meio de imagens e informações atualizadas, os alunos são instigados a perceber a realidade dos indígenas que permanecem em suas tribos e dos que migraram para os meios urbanos.

Visita da EMEF. Aratiba – Aratiba/RS

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5º e 6º anos - Narrativas de detetives A prática leitora “Narrativas de detetives”, destinada a alunos de 5º e 6º anos, estabelece um diálogo sobre livros e programas televisivos que abordam a temática investigação. A partir da obra Morte no colégio, de Luis Eduardo Matta, que traz elementos como crime, investigação, e o mistério sobre a existência de Atlântida – o continente perdido –, os alunos são desafiados a descobrirem o responsável pelo assassinato que acontece na escola criada pelo autor. O objetivo é apresentar narrativas de detetives, mostrando que o leitor pode participar das histórias, e tentar desvendar o caso junto com o detetive. Visita da E.E.E.M. Ernesto Tochetto – Passo Fundo

7º, 8º e 9º anos e Ensino Médio – Era uma vez... revisitando os Contos de Fadas. A prática leitora “Era uma vez... revisitando os Contos de Fadas” é pensada e desenvolvida para alunos dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio, abordando o tema: contos de fadas clássicos e releituras contemporâneas. O livro norteador da atividade é O Livro dos Vilões: novos contos de fadas, da editora Galera Record, que compila quatro contos de fadas modernos, publicados por dois autores nacionais – Fábio Yabu e Carina Rissi – e dois internacionais – Cecily von Ziegesar e Diana Peterfreund. O intuito é promover a interação com textos literários clássicos e contemporâneos, e com outras linguagens, como a audiovisual, a digital, e a imagética, possibilitando aos alunos uma experiência mais ampla de leitura de contos de fadas.

Visita da E.E.E.M. Anna Luisa Ferrão Teixeira – Passo Fundo

Ensino Superior - Biografia: uma história de vida

Visita do I Nível do Curso de Pedagogia/ UPF- Lagoa Vermelha/RS

A prática leitora destinada ao Ensino Superior tem como eixo a leitura do gênero biográfico, buscando refletir sobre a representação humana por meio da sua expressão em diferentes linguagens. A atividade ressalta essa competência representativa do homem e as crenças e fatos em torno do fazer biográfico, bem como a recente discussão sobre a publicação de biografias no Brasil. A discussão constitui-se na leitura de autorretratos de Vincent Van Gogh, da obra biográfica de Giorgio Vasari, de trecho do filme O sétimo selo, de Ingmar Bergman, e de escritos biográficos contemporâneos, como o livro O oitavo selo, de Heloisa Seixas e O réu e o rei, de Paulo Cesar de Araújo, dentre outras obras. A prática leitora encontra um momento de síntese na leitura de retratos, que em sua constituição iconográfica e simbólica resumem as grandes questões envolvidas no empenho de contar a história de uma vida.

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Mundo da Leitura Projetos

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Retrospectiva do projeto Arte & Literatura aos sábados de 2015 Neste ano de 2015, o projeto Arte & Literatura aos sábados completou seis anos. As atividades iniciaram em 2009 com o objetivo de envolver o público de todas as idades com a arte e a literatura em diferentes linguagens. Ao longo dos encontros já foram realizadas apresentações de teatro, contação de histórias, dança, música, rodas cantadas, leituras dramáticas, exibição de filmes, exposições, instalações artísticas, oficinas de quadrinhos, animação, brincadeiras musicais, entre outras atividades que, de alguma maneira, dialogam com o universo artístico e literário. O projeto retomou suas atividades este ano com a “Oficina de animação”, em março. O público foi convidado a assistir curtas de animação produzidos com diferentes técnicas, como a história O passarinho vermelho, de Milton Camargo, exibida no programa Mundo da Leitura, e a série suíça Pingu, ambas feitas em stop motion. Também foi apresentada a animação digital da história A maior flor do mundo, de José Saramago. Na sequência os leitores conheceram o princípio do desenho animado nos chamados “brinquedos ópticos”, representados pelo taumatrópio (1825), fenaquistoscópio (1832), zootrópio (1834), flipbook (1868), e praxinoscópio (1877). Durante a oficina foram desafiados a produzir brinquedos ópticos criando seus próprios desenhos, que ao serem movimentados manualmente trans-

formavam-se em desenhos animados. A proposta do Arte & Literatura de abril foi em torno do tema “Brincando com as frutas: formas e cores”. O público foi convidado a fazer a leitura de imagens projetadas de algumas pinturas de Tarsila do Amaral, percebendo suas cores, formas, volumes e texturas, num espaço cênico ambientado com jogo de luzes e frutas de pano artesanais. O monitor propôs, a seguir, uma brincadeira com as adivinhas do livro Mamão, melancia, tecido e poesia, de Fábio Sombra. A atividade foi concluída com uma oficina de colagem, em que as crianças, juntamente com seus pais, foram desafiadas a criar pequenos quadros utilizando recortes de figuras geométricas de diferentes formas, cores e tamanhos, inspirados nas obras de Tarsila do Amaral. No mês de maio, os leitores foram envolvidos com histórias clássicas, com o tema “Era uma vez... Brincando com os contos de fadas”. O público foi convidado a apreciar uma instalação feita com personagens dos clássicos infantis e a assistir ao vídeo do conto “Rapunzel”, dos irmãos Grimm, veiculado no programa Mundo da Leitura. Foi, também, apresentada uma contação da história “Chapeuzinho Vermelho”. Em seguida os leitores fizeram uma releitura dos contos de fadas criando outras versões para as histórias por meio de textos e desenhos.

O Arte & Literatura de junho trouxe a “Cultura popular” por meio da contação de histórias, cantigas de roda e brincadeiras. Os leitores assistiram ao curta de animação Matinta Perera, da série sobre lendas brasileiras “Juro que vi”, e apreciaram uma exposição das xilogravuras de J. Borges, que estimulou a criação de isogravuras durante a oficina. As rodas e brincadeiras cantadas finalizaram as atividades, envolvendo os leitores com diferentes ritmos musicais.

Arte & Literatura “Brincando com as frutas: formas e cores”.

No sábado das “Brincadeiras musicais”, o Arte & Literatura exibiu aos leitores o premiado longa de animação O menino e o mundo (2014), de Alê Abreu, cuja trilha sonora foi composta, entre outros músicos, pelo Grupo Experimental de Música (GEM) e pelo grupo de percussão corporal Barbatuques. A narrativa, o colorido vibrante, e a sutileza dos desenhos proporcionaram aos leitores uma experiência sensorial por meio de sons, formas, texturas e cores de maneira poética. Os sons que per-

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Arte & Literatura “Era uma vez... Brincando com os contos de fadas”.

mearam o filme despertaram a curiosidade dos leitores. Após a exibição, exploraram diferentes sons por meio da percussão corporal e se divertiram com as brincadeiras musicais do grupo Palavra Cantada. Em setembro, o Arte & Literatura foi de comemoração aos 18 anos do Mundo da Leitura. Foram convidados diferentes grupos artísticos, que apresentaram aos leitores arte e literatura por meio do teatro, da dança, da poesia e da música. Crianças, jovens e adultos apreciaram as apresentações e se divertiram com as brincadeiras propostas durante as atividades. O Mundo da Leitura agradece a todos que fizeram parte dessa trajetória de fomento à leitura e à formação de leitores. O projeto Arte & Literatura aos sábados dará continuidade às suas atividades, que acontecem gratuitamente no último sábado de cada mês durante o período letivo, sempre voltado para todos os públicos.


Mundo da Leitura Projetos

Trocando Ideias no Mundo da Leitura

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projeto completou em junho de 2015 dois anos de debates e trocas de ideias, fomentado por um grupo de leitores, releitores e não-leitores das obras propostas, apaixonados por literatura clássica universal. O início do projeto deu-se com a discussão da obra Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez, e atualmente ele está na sua 12ª edição. Durante esse período já foram discutidas obras como: Édipo Rei, tragédia grega de Sófocles; Crime e Castigo, do romancista russo Fiódor Dostoievski, e Dom Casmurro, de Machado de Assis. Neste ano, falou-se sobre a obra Contos de maravilhosos, infantis e domésticos, dos Irmãos Grimm, que deu início

às discussões do semestre, e Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, que durante os dois anos do projeto foi, por repetidas vezes, indicada pelos leitores. Serão realizados ainda três encontros este ano, sobre as seguintes obras: Odisseia, de Homero – o clássico poema épico, no mês de setembro; Mensagem e a produção poética de Fernando Pessoa, em outubro, e O Senhor dos Anéis, trilogia de J. R.R. Tolkien, no mês de novembro.

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Obras selecionadas para o ano de 2015:

Trocando Ideias sobre Contos maravilhosos, infantis e domésticos, dos Irmãos Grimm

Trocando Ideias sobre Orgulho e Preconceito, de Jane Austen

Os debates ocorrem mensalmente às quartas-feiras, das 18h30min às 19h30min. Aberto ao público acadêmico, à comunidade em geral, e a LEITORES e NÃO-LEITORES das obras.

Mensagem, de Fernando Pessoa o debate será realizado dia 21/10

O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien - o debate será realizado em 25/11

Cartaz de divulgação do projeto Trocando Ideias: Odisseia, de Homero

Trocando Ideias sobre Contos maravilhosos, infantis e domésticos, dos Irmãos Grimm

Trocando Ideias sobre Orgulho e Preconceito, de Jane Austen

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Mundo da Leitura Projetos

Histórias...

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Betinha Mânica*

acros e micros, felizes e tristes, brandas e intensas. Um amontoado de histórias: assim somos, cada um de nós e o universo. Ouvimos, contamos e fazemos histórias. Ora protagonistas, ora coadjuvantes. Encontros e desencontros. Descobertas científicas, aprimoramentos tecnológicos, variedades estéticas, tudo originado de histórias e compondo história. Como sujeitos do mundo, não há como nos esquivarmos do papel de “historiadores” na vida que segue, que surge, que urge. Alguns, uns poucos, embebedados de poesia, empenham-se no aprofundamento das linguagens artísticas para contar histórias, sejam elas reais ou fictícias. Aprendem técnicas, dedicam tempo e disponibilidade, mergulham no escuro acolhedor da experimentação criativa. A esses é possibilitado transbordar o conhecimento da forma, do tempo, do espaço, da palavra, do tom. É possibilitado reabilitar a sensibilidade para, através do corpo e da voz, emprestar compartilhamentos múltiplos de uma mesma história. É possibilitado abrir espaço em si, no outro e no “entre ambos” que se cria, para a ressignificação. É possibilitada a transversalidade. É oferecido um mar de interpretações, um caleidoscópio de sentidos. É dado permitir-se e permitir ao outro, o atravessamento.

Contadores de História na EMEF Escola do Hoje

rinos, adereços, canções, sonoridades, luzes, sombras, autores, músicas, poesias, dramaturgias, ritmos, timbres... E brilho nos olhos, porque, sem ele, o desenrolar da história bem não andará. E Galeano nos conta suave: “Os cientistas dizem que somos feitos de átomos, mas um passarinho me contou que somos feitos de histórias”. *Betinha Mânica é membro do Teatro Depois da Chuva e diretora do Grupo de Contadores de Histórias do Mundo da Leitura. Informações sobre o Grupo de Contadores de Histórias do Mundo da Leitura

Imbuídos desse senso, dessa vontade de impulsionar O repertório de textos do grupo engloba contos, poesia, fábulas, lenencontros, é que os monitores do Mundo da Leitura, desde das e hai- kais. Participam de feiras de livros, eventos acadêmicos e es1999, dedicam-se à contação de histórias. Bonecos, figu- colares em toda a região de abrangência da estrutura multicampi da UPF.

Projeto de Extensão O

projeto Mundo da Leitura, modos de ler o contexto das escolas municipais tem por base o programa de TV Mundo da Leitura, um programa infantil que sintoniza educação e cultura numa perspectiva contemporânea e inovadora. O projeto constitui-se na parceria entre a Fundação Universidade de Passo Fundo e a Prefeitura Municipal de Passo Fundo/Secretaria Municipal de Educação a partir de um convênio de distribuição do programa Mundo da Leitura para 15 escolas municipais. Consiste em apresentar aos educadores e alunos do Ensino Fundamental (1ª ao 5ª anos), ações diferenciadas de leitura por meio da linguagem audiovisual. As escolas contam com

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um kit de DVDs do programa, acompanhado do livro Mundo da Leitura na TV: guia de atividades III, voltado aos educadores, com sugestões de atividades a serem desenvolvidas, em sala de aula, com os alunos. Oportuniza a apreciação de práticas leitoras sócio-educativas interdisciplinares no ambiente escolar e no espaço do Centro de Referência de Literatura e Multimeios (CRLM) para educadores e alunos. O programa Mundo da Leitura é voltado para o público infantil no formato de revista eletrônica, veiculado pelo Canal Futura/RJ e pela UPFTV (emissora de TV da Universidade de

Passo Fundo/RS). É produzido por uma equipe interdisciplinar do CRLM – laboratório do curso de Letras –, da UPFTV e do canal Futura. Seus conteúdos envolvem a linguagem verbal e não verbal e diferentes áreas do conhecimento humano. O programa contribui para a formação pessoal, social e cultural de pais, alunos e educadores, incentivando o seu protagonismo. O projeto Mundo da Leitura, modos de ler o contexto das escolas municipais foi um dos sete projetos de extensão da Universidade de Passo Fundo aprovados com recursos no edital do Programa de Extensão Universitária (ProExt/2016), do Ministério da Educação. Foto: Arquivo UPF

Professores da rede municipal recebem o Kit programa Mundo da Leitura


Mundo da Leitura Projetos

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Programa Mundo da Leitura comemora 10 anos no Canal Futura Concurso “Viagem ao Mundo da Leitura” traz visitantes a Passo Fundo

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m comemoração aos 10 anos de exibição do programa Mundo da Leitura no Canal Futura, os telespectadores foram convidados a participar do concurso cultural “Viagem ao Mundo da Leitura”, sendo desafiados a fazer um desenho alusivo ao aniversário. Para participar, precisavam ter entre quatro e doze anos de idade, residir em qualquer parte do Brasil, e enviar o desenho que representasse seus personagens favoritos. Os desenhos foram selecionados por uma banca formada por profissionais do Canal Futura, que premiou Maria Helena Nogueira da Silva Alves (08 anos), de Morada Nova (CE), e Davi Francisco Teixeira Silva (9 anos) de Livramento de Nossa Senhora (BA). Como prêmio, as crianças ganharam uma viagem para Passo Fundo, para conhecer o estúdio de gravação da UPFTV e o Mundo da Leitura. Maria Helena veio acompanhada de sua irmã Maria Heloisa, de 13 anos, e de seus pais Maria e Benedito Alves. Davi, acompanhado de sua mãe Fernanda Benício. Durante a visita, participaram da gravação do quadro “Oficina”, do programa Mundo da Leitura e, acompanhadas de seus familiares, de um “Café de Chaleira” na Associação dos Funcionários da UPF. No espaço do Mundo da Leitura, todos se envolveram com as atividades lúdicas feitas para saudar os visitantes.

Em conversa com Maria Helena e Davi, foi possível perceber seu envolvimento com os personagens, demonstrando que são espectadores assíduos. Maria Helena relembrou o episódio do casamento do Gali-Leu e da Borralheira, e os disfarces de vidente da Ratazana para enganar Alice e Alberto. Sobre os outros quadros e a influência do programa na sua formação de leitora, Maria Helena diz: “O programa incentiva a gente a ler mais livros... tem oficinas, contação de histórias. Incentiva a gente a ler, desenhar...”. E comenta sobre a Borralheira, sua personagem preferida: “A borralheira é graciosa e calma, mas às vezes fica brava. Teve um episódio em que ela ficou brava com a Ratazana”. A irmã de Maria Helena, Maria Heloísa, que também assiste ao Programa, comenta: “Gosto de programas que envolvem pessoas e fantoches. Gosto da parte das perguntas (‘Pulga atrás da orelha’), da Ratazana e da Natália. O que me chama mais a atenção é que os gatos falam e leem como pessoas. Tenho curiosidade de saber como a Ratazana e o Reco-Reco se conheceram, e quem são suas famílias”. Os pais, Maria e Benedito Alves, comentaram sobre o espaço do Mundo da Leitura: “ Pensávamos que era só o programa de TV. Não imaginávamos que tivesse um projeto tão amplo, abrangente e consolidado de leitura”. Sobre os personagens e o programa como um todo, fa-

laram: “Os personagens vilões não são tão malvados. O programa não apresenta uma dicotomia entre o bem e o mal. Fala sobre as diferenças. Traz discussões sobre o mundo real”. Para o Davi, os quadros preferidos são as histórias, as oficinas e o “Dia de gato”: “Gosto da conversa dos personagens, das coisas que eles falam. Às vezes são muito engraçados”. Fernanda, mãe de Davi, falou sobre a importância do programa e sobre o Mundo da Leitura: “Acrescenta na produção de conhecimento. Conhecer as pessoas que trabalham aqui na biblioteca, ver que tem muito esforço e conhecimento, chama a atenção da criança. Desperta a vontade de ler. As oficinas trazem brinquedos de sucatas que passam a ideia de reciclagem. As brincadeiras não envolvem só a tecnologia. A criança precisa do contato com o livro... pegar, manusear, assim é o programa”. Para toda a equipe, foi uma satisfação receber os leitores Davi, Maria Helena e suas famílias em Passo Fundo. Esperamos que continuem assistindo ao programa Mundo da Leitura.

Programa Mundo da Leitura na TV O

programa Mundo da Leitura foi ao ar pela primeira vez em 26 de julho de 2003, pela UPFTV e pela TVE, em canal aberto, para todo Rio Grande do Sul. A partir de 2005, passou a ser exibido em rede nacional pelo Canal Futura – tornando-se o programa de maior audiência da emissora –, e para mais de 100 países pela Globo Internacional. Caracteriza-se como um programa educativo voltado para público infantil. Aborda a literatura de forma lúdica e apresenta assuntos relacionados à música, teatro, cinema, dança, artes plásticas, ciência e tecnologia, que vão ao encontro do interesse das crianças. Tem periodicidade semanal, com duração de aproximadamente 25 minutos, apresentado no formato de revista eletrônica. Os personagens que integram o programa são: o gato Gali-Leu, que é o “âncora”, a gata Borralheira, os gatinhos Alice e Alberto, os ratos Reco-reco e Ratazana, e os personagens humanos Natália e o Mil-Faces. Entre os quadros do programa estão Contação de histórias, Oficina, Com a pulga atrás da orelha, Dia de gato, Fique Esperto, Labirinto, e programetes que envolvem poesia, rodas cantadas, parlendas e trava-línguas. Os episódios são produzidos em parceria entre a UPFTV e o Centro de Referência de Literatura e Multi-

meios. A equipe é composta por profissionais formados pela Universidade de Passo Fundo em diferentes áreas do conhecimento, além de ter como roteirista o Prof. Dr. Paulo Becker, professor do Programa de Pós-Graduação em Letras. Em média, são recebidos mais de 20.000 e-mails ao ano, de todos os estados brasileiros, e mais de 150 cartas, enviados por crianças, pré-adolescentes e pais. O programa já recebeu vários prêmios. Em 2004, foi premiado como Melhor Programa Educativo, no VIII Fórum Brasileiro de Televisão Universitária, realizado em Salvador. Recebeu o Prêmio Açorianos de Literatura (categoria: Mídia - Televisão). Conquistou também o prêmio de Melhor Programa de TV, no XII Gramado Cine Vídeo e no XIV Gramado Cine Vídeo, em 2005 e em 2007, respectivamente. No ano de 2014, recebeu o Prêmio Parceiros da Escrita, da Associação Gaúcha de Escritores, na categoria Mídia.

Desenho de Davi Francisco Teixeira Silva (9 anos)

Desenho de Maria Helena Nogueira da Silva Alves (08 anos)

Assista ao programa Mundo da Leitura O programa é exibido nas segundas-feiras, às 20h; terças e quintas-feiras, às 20h30min; e sextas-feiras às 22h. No canal Futura, 32 da Net para todo Brasil, e na UPF TV canal 4 para Passo Fundo e região.

Davi e Maria Helena com o livro Aventuras e Desventuras de Gali-Leu, o gato de Paulo Becker

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Mundo da Leitura Projetos

O

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Livro do Mês

título de Capital Nacional da Literatura foi conferido à cidade de Passo Fundo por força da lei nº 11.264 de 02 de janeiro de 2006, sancionada pelo então Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. A partir da concessão desse título, a Comissão Interinstitucional, responsável pelas ações de leitura no município, implementou o projeto Livro do Mês, uma parceria entre

a Universidade de Passo Fundo, SESC Passo Fundo, Prefeitura Municipal, 7ª Coordenadoria Regional de Educação e editoras. Uma obra é indicada, todo mês, à comunidade em geral, para leitura e discussão. Ao final do mês, são realizados seminários em que os leitores podem encontrar o autor e dialogar com ele a respeito do livro. Acontecem de 3 a 4

seminários em cada edição, destinados ao público acadêmico do campus I da Universidade de Passo Fundo e da estrutura multicampi, aos alunos da educação de jovens e adultos e ensino médio noturno, e aos alunos de escolas municipais, estaduais e particulares de Passo Fundo e região. Desde março de 2006 até agosto de 2015, já participaram dos seminários 65 escritores.

Leitura antecipada das obras Paralelamente a essa movimentação, organiza-se, a cada edição, uma prática leitora multimidial sobre a obra selecionada por integrantes da Comissão Interinstitucional. Essa atividade é desenvolvida em diferentes espaços escolares com a finalidade de entusiasmar professores e alunos a se envolverem com a leitura da obra, identificando as relações do tema abordado com outras obras e outras linguagens artísticas. A prática leitora valoriza a leitura do texto literário, ao mesmo tempo em que propõe atividades que relacionam o conteúdo impresso com canções, fragmentos de filmes, ilustrações, ou seja, com textos de diferentes naturezas, propondo um conceito amplo de leitura. Atividades de contação de histórias são realizadas, procurando envolver alunos e professores numa atmosfera de valorização da oralidade expressiva, instigando-os à leitura. Em proposta semelhante, também são realizadas, no Mundo da Leitura, atividades de leitura sobre as obras selecionadas para os seminários, com a participação dos acadêmicos do Curso de Letras. Sessão de autógrafos com escritora Ieda de Oliveira

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Mundo da Leitura Notícias

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Atividades para dinamizar acervos e espaços de leitura em

Contação de história na E.M.E.F Escola do Hoje

bibliotecas escolares

Em setembro, o Grupo de Contadores de Histórias do Mundo da Leitura se apresentou no “Projeto interdisciplinar do semestre - Família e relacionamento social”, realizado pela E.M.E.F Escola do Hoje. Professores, pais e alunos assistiram à leitura dramática da história O Coronel e o Barbeiro, de Ana Maria Machado, e participaram de diferentes atividades culturais e sociais de atendimento à saúde.

No dia 19 de maio, o Mundo da Leitura recebeu os professores da Biblioteca Pública Municipal de Passo Fundo para participar do curso, “Formação continuada dos professores bibliotecários” ministrado pelos monitores do Centro. A formação foi uma iniciativa da Secretaria de Educação, representada pela coordenadora de projetos de leitura Suzana Enloft Salles. Os professores assistiram a diferentes atividades de leitura com o objetivo de dinamizar o acervo e os espaços da biblioteca. O encontro proporcionou a troca e a ampliação de experiências a serem desenvolvidas na biblioteca com o intuito de formar leitores a partir do texto literário, do audiovisual, da música e das novas tecnologias.

Mundo da Leitura ganha prêmio do Ministério da Cultura Com o objetivo de identificar projetos voltados para a formação de leitores e para o acesso ao livro e à leitura, a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), por intermédio da Diretoria do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB), concedeu o prêmio “Leitura para Todos: projetos sociais de leitura” ao Centro de Referência de Literatura e Multimeios – Mundo da Leitura. Mais de 200 projetos de todo o Brasil se inscreveram para a premiação em dinheiro de R$50 mil reais, e somente 30 foram selecionados. Concedendo uma premiação em dinheiro, o MinC pretende contribuir para a ampliação e fortalecimento dos espaços de leitura, para a reestruturação dos ambientes físicos e para a aquisição de materiais. Essa conquista do Mundo da Leitura é o resultado de um trabalho constante de formação de leitores que começou com as Jornadas Literárias realizadas há 34 anos.

Contação de História para professores - CRE e SEDUC Em novembro de 2014, o Grupo de Contadores de Histórias do Mundo da Leitura participou da abertura do Encontro de formação em biblioteca escolar (auditório do CET/UPF), apresentando a leitura dramática da história O Coronel e o Barbeiro, de Ana Maria Machado. O evento, promovido pela SEDUC (Secretaria da Educação/RS), via SEBE (Sistema estadual de bibliotecas escolares) e 7ª CRE, reuniu professores de diferentes escolas de Passo Fundo para debater sobre a dinamização das bibliotecas nos espaços escolares.

Homenagem especial da Câmara Brasileira do Livro à professora Tania Rösing Em 18 de novembro de 2014, a Profª Drª Tania Rösing recebeu uma homenagem especial da Câmara Brasileira do Livro, o título “Amigo do livro”. A solenidade se realizou em São Paulo junto ao prêmio Jabuti, que na ocasião esteve em sua 56ª edição. O título “Amigo do Livro” é concedido anualmente desde 1957 e tem como objetivo reconhecer o trabalho de uma personalidade ou instituição que tenha se destacado na realização de ações em prol do livro e da leitura. A trajetória de empenho e dedicação na promoção da leitura e formação de leitores da Profª Tania Rösing começou há 34 anos com as Jornadas Literárias, que ao longo dos anos teve desdobramentos como a criação do Centro de Referências de Literatura e Multimeios - Mundo da Leitura, o projeto Livro do Mês, o programa Mundo da Leitura e os Túneis da Leitura.

Professora Tania Rösing recebendo o prêmio da Câmara Brasileira do Livro

Práticas culturais de leitura para a formação do professor Nos dias 21, 22 e 23 de julho, o Mundo da Leitura participou da II Semana de Formação Continuada dos Professores da Rede Municipal de Passo Fundo, ministrando minicursos intitulados: Formação do leitor em práticas sociais, literárias, culturais e hipermidiais; Narrativas curtas: miniconto, microconto, haicai, charge e texto publicitário; e Leitura audiovisual: educação e cultura na linguagem televisiva. O objetivo dos minicursos foi contribuir com o professor para o desenvolvimento de suas atividades culturais, literárias e hipermidiais em sala de aula. Buscouse ampliar seu olhar sobre textos em diferentes suportes e linguagens, relacionando o conhecimento teórico e prático e desafiando-os a promoverem ações inovadoras e transmidiais de leitura para seus alunos. Formação dos professores da Rede Municipal de Passo Fundo

Contadores de história na Olimpíada de Matemática Em 2015, o Grupo de Contadores de Histórias do Mundo da Leitura reiniciou suas apresentações participando da abertura da premiação da 10ª edição da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), realizada no Centro de eventos da UPF. A leitura dramática da história O Coronel e o Barbeiro, de Ana Maria Machado, foi apresentada para um público variado, de pais, alunos e professores, que ouviram atentamente e interagiram com os contadores durante a história.

Programa Mundo da Leitura conquista o prêmio AGES – Parceiros da escrita Em novembro de 2014, o programa Mundo da Leitura, produzido pela UPFTV e pelo Centro de Referência de Literatura e Multimeios – Mundo da Leitura, e exibido nacionalmente pelo Canal Futura, recebeu o prêmio AGES – Parceiros da escrita. A AGES (Associação Gaúcha de Escritores) concede essa premiação a cada dois anos a pessoas, instituições e projetos que incentivam, auxiliam e privilegiam a literatura no Rio Grande do Sul. A entrega da premiação ocorreu durante jantar comemorativo, em Porto Alegre. A UPF foi representada pela coordenadora do Centro de Referência de Literatura e Multimeios – Mundo da Leitura, a professora Tania Rösing, pelo diretor geral do programa Carlos Teston, e pela integrante da equipe do Mundo da Leitura Eliana Teixeira. Entre os prêmios já recebidos pelo programa estão: o Galgo de Ouro, do Gramado Cine Vídeo, e o Prêmio Açorianos de Literatura.

Contação de história e prática leitora no Seminário Institucional do Pibid/UPF Em dezembro de 2014, o Mundo da Leitura foi convidado a participar do Seminário Institucional do Pibid/UPF (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), voltado para professores e alunos bolsistas vinculados ao programa. A primeira participação foi na abertura do evento, em que o Grupo de Contadores de Histórias apresentou a leitura dramática da história O Coronel e o Barbeiro, de Ana Maria Machado. Na sequência das atividades, os monitores apresentaram uma de suas práticas leitoras, intitulada “Lendas Urbanas”.

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Mundo da Leitura Dicas e Publicações

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Dicas

O livro dos vilões: novos contos de fadas Cecily von Ziegesar, Carina Rissi, Diana Peterfreund e Fábio Yabu E se as histórias fossem contadas pelo ponto de vista dos vilões? O Livro dos vilões, publicado pela Galera Record, traz quatro contos baseados nos contos de fadas. Cecily von Ziegesar (autora das séries Gossip Girl e It Girl) apresenta uma versão moderna para “Cinderela”, com redes sociais e festas, ambientada em Nova Iorque; o conto de Carina Rissi (autora de Perdida: um amor que ultrapassa as barreiras do tempo) é inspirado em “Branca de Neve” e traz a Rainha Má como narradora; Diana Peterfreund (autora da série Sociedades Secretas) apresenta uma versão para “A Bela Adormecida”, abordando temas como Bullying e popularidade na adolescência; e Fábio Yabu (autor de Branca dos mortos e os sete zumbis) inspirado em “Chapeuzinho Vermelho”, mostra os contos de fadas a partir do momento em que as histórias acabam. Os leitores irão surpreender-se com todos os contos e farão um resgate da infância com um outro ponto de vista.

Um nó na cabeça Rosa Amanda Strausz Tico é um carneiro diferente dos outros e isso faz com que ele veja as coisas de um modo só dele. Enquanto seus amigos trabalham pulando a cerca para ajudar as pessoas com insônia, Tico, que também trabalha assim, encontra Quim, um menino que não consegue dormir. Dessa amizade, o carneiro descobre sua vocação. Com ilustrações de Laurent Cardon, Um nó na cabeça foi escrito por Rosa Amanda Strautz e publicado pela FTD. É uma história para todas as idades.

Furacão Elis Regina Echeverria Elis Regina é considerada uma das maiores vozes da MPB. Sua biografia, escrita pela jornalista Regina Echeverria, foi atualizada e relançada em 2012, pela editora Leya. Furacão Elis apresenta, ao longo das 240 páginas, a magnificência de Elis Regina na música, a sua personalidade forte, difícil e, ao mesmo tempo, apaixonante: “uma vida em que tudo aconteceu depressa demais”, com morte prematura em 1982. Para a autora, a “Pimentinha”, apelido dado a Elis por Vinicius de Moraes, “rompeu com a prudência e se atirou ágil e rapidamente em seus desejos. Superou acusações, rótulos, cobranças. Confundiu, anarquizou, gritou e esperneou. Não levou desaforo para casa. Foi uma mulher valente, uma artista excepcionalmente talentosa”. O livro também traz a discografia completa de Elis em ordem cronológica.

Publicações

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Mundo da Leitura Palavra do leitor Nossa visita ao Mundo da Leitura foi fantástica. O universo dos livros é fantástico. Interagimos com vários recursos que enriquecem ainda mais nosso conhecimento. A possibilidade de interagir com o conteúdo foi o que mais nos chamou a atenção. Da tela aos livros, da música ao contato com os monitores, tudo foi especial.

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Professora Andressa de Aguiar e Professora Franciele da Rosa Turma da Escola de Educação Infantil Mundo Infantil / Passo Fundo

Quando da visita ao Mundo da Leitura, as turmas do 1º ano do colégio Gabriel Taborin participaram da atividade “Um nó na cabeça: respeitando as diferenças”. Desde a recepção com as boas vindas e as orientações sobre o que é o Mundo da Leitura, a visita foi instigante. Os alunos participaram de atividades interativas: contação de histórias, vídeo sobre as diferenças; o ambiente lúdico, a “Escada do pé certo”. Com alegria, literalmente escorregaram para o mundo da leitura. Um mundo organizado e totalmente Professora Cledi Lourdes Gardin e Professora focado para pequenos leitores. Com esse Marilene Rauber Ebone trabalho, certamente estamos colaborando para o 1° ano - Turmas 211 e 212 sucesso educacional, profissional e das escolhas Colégio Gabriel Taborin / Marau - RS que eles farão no futuro. Foi um imenso prazer participar dessa prática leitora. Ficamos encantados com a proposta apresentada. Os enquadramentos, a intencionalidade do diretor/atores e o roteiro do filme apresentados de forma dinâmica e lúdica. Segundo a fala dos alunos, “mais à vontade do que na escola” ou “fora da rotina”. Entender ainda que a leitura e a escrita não precisam ser discutidas dentro de um espaço fechado, pois estão presentes em diferentes intervenções que realizamos todos os dias. A emoção maior foi descobrir, segundo eles, que a Tainá era uma índia de verdade. Após as atividades realizadas no Mundo da Leitura, os alunos produziram seus próprios vídeos e fotos, utilizando os recursos que aprenderam, testando possibilidades de forma espontânea. Em uma roda de conversa, o aluno Bruno disse que hoje consegue perceber os mesmos enquadramentos dos filmes nas histórias em quadrinhos dos gibis. As fotografias também trouxeram questionamentos posteriores: o aluno Kauan gostaria de saber a história por trás da fotografia, sua intenção. Agradeço a intervenção de vocês com minha turma e espero poder participar em outros momentos de novas atividades.

Professora Luciana dos Santos 4° ano da EMEF Progresso / Quinze de Novembro - RS

A visita ao Mundo da leitura foi uma das atividades culturais mais interessantes de que participamos. Com relação à atividade sobre o livro Morte no colégio, houve grande interesse dos alunos do 5º ano. Eles participaram, opinaram sentindo-se detetives na história. Estavam envolvidos com a finalidade de desvendar os crimes. O carisma e a técnica utilizada pela monitora responsável pela atividade faziam com que a atenção se voltasse para ela, para não perderem nada da história. A atividade rendeu comentários e momentos agradáveis durante alguns dias na escola, e certamente inesquecíveis. Professora Janete Paranho 5° ano da EEEM Ernesto Tochetto / Passo Fundo A prática leitora “Era uma vez... revisitando os contos de fadas”, da qual participei com meus alunos, foi muito especial. Senti um interesse dos alunos pelas imagens trabalhadas, bem como pelos recontos estudados. Considero genial aliar o clássico ao contemporâneo, não só porque garante a sobrevida de grandes obras, mas também por atrair efetivamente os jovens leitores, numa linguagem que lhes é familiar. Assim, todos se identificaram, desejando ser Chapeuzinho ou Lobo Mau! Amei! Inclusive, os estudantes buscaram as obras apresentadas, leram as histórias originais e algumas releituras. As informações apresentadas também despertaram curiosidades e enriqueceram ainda mais o estudo sobre o gênero conto de fadas. Professora Vanessa Hickmann 8° ano da EMEF Guaracy Barroso Marinho / Passo Fundo As biografias constituem-se em importantes instrumentos para o desvelamento de identidades que, de certa forma, em determinado tempo, tiveram influência sobre um grupo de pessoas. Isso por si só já justifica a pertinência da prática leitora “Biografia: uma história de vida”, uma vez que desperta nos acadêmicos o interesse por aspectos culturais de diferentes grupos sociais, valorizando o contexto histórico para a construção da significação e mostrando que toda ação tem um caráter fundamentalmente histórico. Nesse sentido, entender a biografia de outrem permite melhor entender a sua própria história. Além disso, a Prática em questão tem um papel mais imediato no que se refere aos acadêmicos: aguça o olhar dos sujeitos para diferentes gêneros capazes de contar uma história, como um livro, no caso da biografia de Roberto Carlos, ou um quadro, como os retratos de Napoleão Bonaparte. Para complementar, a prática é brilhantemente desenvolvida pela equipe do Mundo da Leitura, que lança luzes sobre diferentes obras, despertando o interesse do público e instigando nele o desejo de se aprofundar, apaixonadamente, na temática.

Professora Elisane Regina Cayser Nível III do Curso de Secretariado Executivo/UPF

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Uma história...

A sala de aula Na cidade de Sanaa, capital do Iêmen, um poderoso rei ouviu dizer que um filósofo estrangeiro andava lotando uma sala de aula com centenas de alunos.

espacial que o senhor usa com os seus alunos. Na minha corte a disposição é a mesma. Diga-me: o que significa esse arranjo?

Curioso, o soberano decidiu conhecer o mestre e, numa linda manhã de outono, dirigiu-se à sala de aula. Ao se aproximar da porta, ele percebeu uma disposição espacial interessante: os alunos formavam três semicírculos: um bem próximo ao professor, outro bem no meio e o último mais distante.

– Vossa Majestade me daria a honra de explicar primeiro o motivo do vosso arranjo? – perguntou o filósofo.

Ao terminar a aula, os alunos perceberam a presença real, inclinaramse e foram embora. O rei se aproximou do filósofo e disse: – Achei muito interessante a disposição

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– Claro! Na minha corte, o primeiro semicírculo é formado por pessoas da minha mais alta estima, os meus favoritos. Os do meio são nobres e comerciantes ricos. E o último semicírculo é formado por pessoas de pouca importância para o meu reinado. Agora é a sua vez – disse o rei. – Bom, depois de alguns meses ensinando em sua cidade a disposição dos

meus alunos ficou um pouco diferente do que acontece em seu castelo. O primeiro semicírculo é formado por alunos com deficiência auditiva; o do meio, pelos alunos que tem dificuldade de compreensão, e por isso necessitam de mais proximidade; e, finalmente, o último e mais distante semicírculo é formado pelos alunos que já se iluminaram, e os quais qualquer proximidade ou distanciamento não afetará o que eles já alcançaram. – O rei foi embora, pensativo. Talvez no próximo encontro com seus súditos algo mudaria. BRENMAN, Ilan. As 14 pérolas da sabedoria sufi. São Paulo: Escarlete, 2013. p.12-14.


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