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É POSSÍVEL SER AUTÊNTICO EM UM UNIVERSO QUE EXIGE PESSOAS COM UM PADRÃO DE BELEZA IRREAL?

Por Emilia Jurach Fotos Divulgação 5 min

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A conexão entre estética e mídia está presente na sociedade há décadas. Em meados de 1930, o cinema estreou esse movimento com celebridades de Hollywood que exibiam seus estilos de vida extravagantes, com referenciais de beleza e comportamento bem definidos. Quase um século depois, este modelo está intensificado: o fácil acesso às informações faz com que o público seja rapidamente influenciado a seguir padrões que muitas vezes são inatingíveis.

A pesquisa Global Digital Overview 2022, feita pelo site We Are Social em parceria com a ferramenta Hootsuite, divulgou que o Brasil ocupa a terceira posição mundial em tempo médio gasto na internet – 9 horas e 42 minutos por dia. Nas redes sociais, assuntos como beleza e exercícios físicos são buscados e seguidos por 27,2% e 22,1% dos usuários, respectivamente. Já os influenciadores especialistas nos temas alcançam cerca de 44,3%.

Mas o que esses números revelam? “Além de um aumento na produção de expectativas, muitas vezes irreais em relação a aparência e estilo de vida, quem consome passa a desconsiderar sua própria história, se baseando nos recortes da vida de terceiros e no padrão de beleza apresentado nos perfis dos quais segue”, aponta a psicóloga Gabriela Veiga de Araujo Entre 2021 e 2022, alguns procedimentos estéticos ganharam bastante notoriedade entre figuras públicas da internet. A Lipoaspiração de Alta Definição (LAD), técnica que aspira a gordura localizada de determina- das partes do corpo com mais precisão, e a Harmonização Facial, que combina diversos preenchimentos para proporcionar mais equilíbrio entre os traços, por exemplo, são métodos que influenciadoras digitais como Virgínia Fonseca e Viih Tube se apropriaram. “O Instagram é o principal canal de influência para estes procedimentos. É recorrente que pacientes venham até mim com imagens de famosas, stories com filtros e fotos editadas no Photoshop e peçam para que eu faça igual”, conta a cirurgiã-dentista, especialista em harmonização orofacial, Virginia Gontijo. A profissional divide que é comum que as pessoas cheguem até ela com o “desejo pronto”: querem ficar com o rosto mais fino, a boca com um formato específico e o nariz arrebitado, independentemente se eles funcionam para o perfil individual. “Com essa padronização, elas se tornam todas iguais e querem, muitas vezes, técnicas exageradas, que fogem da ideia de aprimorar as características pessoais de cada uma”, pontua.

Efeitos do isolamento social

Durante a pandemia, o contato apenas digital e o tempo de isolamento fizeram com que as pessoas intensificassem o afastamento da realidade sobre o corpo e passassem a idealizar e buscar os traços e curvas perfeitas, principalmente no Brasil, que ocupa o segundo lugar no ranking de países que mais realizam cirurgias plásticas, de acordo com a Sociedade Internacional da Cirurgia Plástica (ISAPS, em inglês).

A Lipo LAD, citada anteriormente, teve grande repercussão entre os pacientes, segundo Guilherme Guisard, médico cirurgião plástico, especialista pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS) e pela Brazilian Association of Plastic Surgeons (BAPS). Já no rosto, mudanças estéticas relacionadas ao nariz e aumento da boca tiveram crescimento considerável, diz Guisard.

Além desses, os preenchimentos faciais também apresentaram alta. “Muitos pacientes chegavam se queixando da face, reclamando das rugas, do bigode chinês, do rosto caído... Um reflexo do número de reuniões digitais, quem não se pegou reparando em um detalhe novo através da câmera? Procedimentos como toxina botulínica, preenchimento labial e tratamento da flacidez da pele foram alguns dos campeões de audiência, segundo Virginia.

A estética por outro ângulo

Uma pesquisa realizada em países da América Latina, sob encomenda da Merz Aesthetics, companhia de medicina estética parte do Grupo Merz, com 4.019 homens e mulheres com mais de 25 anos, revelou que 58% dos entrevistados procuraram intervenções estéticas pela primeira vez durante a pandemia; e 71% mudaram seus hábitos e passaram a se preocupar mais com a saúde e o bem-estar.

“A parte estética tem uma relação forte com o emocional. Quando os indivíduos têm uma boa autoestima, eles têm, também, uma boa saúde emocional”, explica Virginia. E isso também é reiterado pela psicóloga Gabriela: “quando temos profissionais capacitados e o desejo pela mudança for decidido dentro do sentido singular de cada pessoa, a cirurgia impacta diretamente na autoconfiança e no amor próprio, sendo positivo nos casos em que a escolha não está pautada exclusivamente na pressão social.”

A influenciadora digital e social media Ana Beatriz Wingert, que possui mais de 90 mil seguidores no Instagram, nunca realizou mudanças estéticas, mas tem o desejo de fazer rinoplastia. “Sempre foi uma vontade do meu coração, até mesmo antes de me tornar uma figura pública. Claro que estar constantemente aparecendo para outras pessoas me incentivou a concretizar este sonho, mas, antes de tudo, busquei internamente o propósito disso e tentei entender se realmente era um desejo ou uma pressão imposta a mim”, reflete.

Para Anabia, o meio de influenciadoras sofre bastante pressão estética, pois muitas vezes as profissionais são vistas como inspirações e referências. Portanto, ela pontua que é importante lembrar que os padrões existem, mas que eles não podem ser uma regra. “O processo de busca por ser exatamente como sugerem pode ser muito doloroso. Acredito que vale muito mais o autoconhecimento, entender o que realmente te faz bem, sem sentir a necessidade de agradar outras pessoas, e, assim, construir uma história leve e autêntica nesse mundo”.

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