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O legal é ser diferente

EM ENTREVISTA EXCLUSIVA, ALEXANDRE PAVÃO LEMBRA DA INFÂNCIA NO INTERIOR DE SÃO PAULO, E REVELA COMO A MÃE, DONA DÉBORA, INTRODUZIU NÃO APENAS A ARTE EM SUA VIDA, MAS TAMBÉM O EMPREENDEDORISMO

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Por Marina Paschoal Fotos Divulgação 5 min

“A arte sempre esteve na minha vida”, conta o designer Alexandre Pavão, uma das principais referências nacionais em acessórios de moda. Criador de bolsas e peças que usam materiais nada convencionais, como cordas de alpinismo e mosquetões, a marca, que leva seu nome, é conhecida na internet pela hashtag #ALPV.

Queridinho de celebridades, como Anitta, Bruna Marquezine e Giovanna Ewbank, o espírito criativo do designer nasceu ainda na infância, vivida no interior de São Paulo, em Marília, onde Alexandre cresceu vendo Dona Débora, reinventando roupas. “Vim de uma família muito humilde, então, minha mãe tinha que ‘dar os pulos’ dela para ter uma roupa bacana e vê-la customizando bastante coisa foi me mostrando como a arte era algo legal”.

Ainda na escola, Alexandre já tinha certo apego por acessórios autênticos. “Desde muito criança, eu sempre me destaquei por ter coisas diferentes. Eu tinha óculos diferentes e usava roupas diferentes. A coisa do ser diferente sempre me chamou atenção.” Não demorou muito para entender que esse seria seu distintivo e o jovem deixou Marília para estudar desenho industrial ainda no interior, em Franca.

“Neste período, eu aprendi quase tudo que sei da parte de acessórios – fiz cursos de calçados, modelagens, curtimento de couro e outros voltados para o universo que trabalho atualmente. Foi aí que construí o knowhow que tenho”, revelou. Na sequência: a capital paulista.

E o que era o plano B…

Engane-se quem pensa que a marca Alexandre Pavão é recente – apesar de um boom gigante com uma ajudinha do TikTok e das famosas usando seus acessórios, a #ALPV nasceu lá atrás, em 2006. “Minha marca era um plano B, sempre foi. Eu nunca sobrevivi dela e não tive essa coragem até recentemente”. Inicialmente, o designer e a mãe confeccionavam camisetas e rasteirinhas, no fundo de casa. Ao relembrar sua trajetória, Alexandre conta que o interesse e a estratégia de investir em acessórios se desenvolveu pouco a pouco, após conhecer uma senhora que fazia bolsas, carteiras e clutchs no final de 2007. Nessa confecção, pautada no feito à mão, começou a inserir materiais “não-convencionais” em seus acessórios, como o mosquetão e as cordas, que viraram um código de identificação da marca. “Acredito que o novo e tudo o que é diferente chama a atenção. Independentemente se é bonito ou feio. E quando é uma peça bonita, diferente e bem feita, as pessoas enxergam um produto que não existe em lugar nenhum”.

Para além desses atributos, o designer oferece exclusividade desde suas primeiras coleções, mesmo quando o detalhe não era um grande diferencial. “Comprávamos um tecido e desenhávamos uma única bolsa, porque só tínhamos aquele retalho”, lembra. “Fui percebendo que era uma coisa muito legal fazer uma peça só ou pequenas quantidades”.

“Minhas criações têm tiragem limitada até hoje. E 90% delas são feitas de matéria-prima que compro em ponta de estoque”, explica. Isso é, ele usa couro que foi descartado por outras empresas por falta de demanda e desenvolve a quantidade de peças que consegue com aquele retalho. Ao final, além de uma produção consciente, incentiva o senso de privilégio. “Também não acredito no plástico, as peças precisam durar diversos anos e ainda serem passadas para frente. E vale lembrar: não precisa ser caro, para ser exclusivo”, acrescenta.

Filho de peixe, peixinho é Durante toda a entrevista, o designer fez questão de destacar a presença e a importância de Dona Débora em cada etapa da sua vida e construção de carreira. No quesito empreendedorismo, não foi diferente. “Meu espírito empreendedor veio muito da minha mãe. Na minha infância, ela sempre teve essa garra de correr atrás para me dar tudo o que eu tive para chegar onde estou. Ela estava sempre se movimentando, vendendo coisas. Inclusive, ela foi sacoleira por muito tempo, o que me abriu a visão de poder vender e empreender”.

Atualmente, a empresa conta com Alexandre e mais quatro colaboradores – e não faz muito tempo que é assim, não. Na verdade, mesmo com o estouro entre celebridades e redes sociais, até cerca de um ano atrás ele trabalhava apenas com a mãe no apartamento dele em São Paulo. “Ela sempre me ajudou em tudo: criação, confecção, compra de matéria-prima e até envio pelos correios”.

Sobre sua jornada, o artista conta que nunca teve medo ou pensou em desistir. “Quando se tem um propósito, um sonho, a gente corre atrás e não deixa nada nos abalar”, acredita. E o único conselho que daria ao jovem Alexandre, lá de 2006, no início da marca? “Eu diria para ele não deixar ninguém falar que ele não pode fazer aquilo. Ouça o que está dentro do seu coração, peça permissão a Deus e se Ele confirmar, vai lá e faz. O não sempre vai existir, o sim é a gente quem cria”.

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