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SOBRE COMO UMA AGÊNCIA DE PROPAGANDA PODE SER AGNÓSTICA À PRÓPRIA PROPAGANDA.

SER AGNÓSTICO NÃO SIGNIFICA DESACREDITAR. SIGNIFICA NÃO ACREDITAR SEM QUESTIONAR. O OPOSTO DO AGNOSTICISMO É A FÉ. É O

ACREDITAR INCONDICIONALMENTE. QUANDO FALAMOS QUE SOMOS AGNÓSTICOS COM RELAÇÃO À PROPAGANDA, PODEMOS PARECER HIPÓCRITAS. NÃO FAZ MUITO SENTIDO PARA UMA AGÊNCIA DE PROPAGANDA FALAR QUE NÃO ACREDITA NA PROPAGANDA. NÃO É QUE A

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GENTE NÃO ACREDITE. APENAS NÃO SEGUIMOS TODOS OS SEUS DOGMAS

SEM COLOCAR ALGUNS DELES EM XEQUE. QUER UM EXEMPLO?

FAZ SENTIDO FAZER PROPAGANDA QUE PERPETUE AS MESMAS RELAÇÕES

SOCIAIS DE SEMPRE? A PROPAGANDA PRECISA NECESSARIAMENTE PROMOVER O CONSUMISMO? A FORMA COM QUE CRIAMOS ESTÁ EM

SINTONIA COM OS TEMPOS ATUAIS? MAIS QUE ISSO: AS PESSOAS QUE

TEMOS NAS AGÊNCIAS CONSEGUEM PRODUZIR MENSAGENS

CULTURALMENTE POTENTES? É MAIS OU MENOS ISSO QUE QUEREMOS DIZER QUANDO NOS POSICIONAMOS DE FORMA AGNÓSTICA. NÃO

ENTRAMOS NESSA PARA SEGUIR VERDADES ABSOLUTAS. ESTAMOS AQUI PARA CRIAR UMA NOVA HISTÓRIA. NEM QUE PRA ISSO A GENTE PRECISE QUESTIONAR MUITA COISA. ATÉ A PRÓPRIA PROPAGANDA.

A HUMORISTA É UMA GIGANTE DAS ESQUETES NAS REDES SOCIAIS. POR TRÁS DOS RISOS ESTÁ UMA MULHER QUE SUPEROU BURNOUT, CRISE DE ANSIEDADE E PÂNICO E SE FORMOU EM PSICOLOGIA, O QUE A AJUDA A ENTENDER A SI MESMA E AO PÚBLICO QUE CATIVA

Festeira assumida, Lorrane Silva é daquelas pessoas que arranca risadas de todos ao redor sem muito esforço. Aliás, se houve esforço foi para aprender o tempo certo de uma piada e tudo o que envolvia o universo do humor, no qual entrou há cerca de sete anos. De lá pra cá, a mineira de 26 anos se formou em Psicologia, desbravou um mercado que não era muito frequentado por mulheres humoristas e recentemente chegou à marca de 6 milhões de seguidores em seu perfil no TikTok.

Pequena Lo é apenas um apelido e uma estatura. Afinal, encontramos uma mulher que passa por cima dos limites e se supera sempre. Suas esquetes revelam o quanto a observação do dia a dia é poderosa para fisgar a identificação do público ou o quanto fazer rir não precisa estar ligado a questões físicas. Em sua “motinho”, como chama a scooter que a leva para cima e para baixo, ou nas muletas, Lorrane chega onde quer. Nesta entrevista ela conta como ficou famosa.

Você sempre gostou de fazer as pessoas rirem?

Sempre. Quando era criança, via meu pai ser engraçado e aquilo me acendia, me dava prazer. Fui crescendo e vendo que estava me tornando o que ele era nos grupos de amigos: sempre contava piada e os livros que gostava eram todos relacionados a timing da piada e a como contá-las.

Como sua carreira começou?

Em 2016 fui convidada para participar da Paralimpíada do Rio. Eu era a única de muleta ao lado de pessoas cadeirantes e normais. Minha mãe foi junto e realizou o sonho dela de dançar [na abertura]. Foi lindo, o mundo inteiro assistiu. Eu precisava daquilo. Já tinha começado na internet com alguns vídeos de humor e via que eu era uma pessoa com deficiência e uma mulher no humor, o que é mais difícil de se encontrar. Vi ali muita gente talentosa. Precisava daquilo para continuar com meus vídeos na internet. Ao mesmo tempo, tinha começado a fazer a faculdade de Psicologia e precisava me entender, estava meio perdida. Ter ido lá foi incrível, me deu muita força.

E o TikTok, como surgiu na sua vida?

Em 2018 voltei a fazer vídeos de humor e foi quando fiquei sabendo do TikTok. Comecei a fazer vídeos curtos e via que a galera gostava, era diferente do Youtube. Os vídeos curtos estavam atraindo mais gente e começaram a bombar. Fora dali era algo passageiro: um vídeo começava a bombar num site de humor e parava. No TikTok, o pessoal engajava muito. Comecei a fazer vídeos que tinham o áudio usado por humoristas e por atrizes. Foi aí que vi que poderia aliar as duas coisas: me formar em Psicologia e ser atriz. Em 2020, consegui me formar e veio a pandemia. Fiquei perdida. Tive que pensar muito.

Como você seguiu?

Por um lado, eu achava que as pessoas iriam pensar que digital influencer não era profissão, e que profissão mesmo era ser psicóloga. Depois pensei melhor. A Psicologia poderia me ajudar, sim, a fazer o que eu gosto. Comecei a gravar seis vídeos por dia. Eu gravava, editava e postava, então, imagina como me cansava. Foi quando virou a chavinha, sabe?

O TikTok gosta de quem produz muito, então…

Sim, mas chegou um momento em que tive burnout, com crise de ansiedade e pânico, tudo ao mesmo tempo. Minha vida tinha mudado muito. Eu e minha mãe nos mudamos pra São Paulo. Eu sou de Araxá e morava em Uberaba, onde comecei minha vida. Foi lá que estourei. Em São Paulo só parava para dormir. Acordava criando, pensando e trabalhando sem parar. Não tinha contato com amigos, não podia sair por conta do isolamento… Chega uma hora que não damos conta.

Como saiu dessa fase?

Fiz terapia. Aliás, faço até hoje. Todo mundo deveria fazer terapia. Muita gente ainda tem preconceito e diz que quem faz “é doido”. Mas sempre teremos problemas na vida. Saber lidar com eles e com outras pessoas não é fácil. Fiz tratamento homeopático e tomo remédio natural até hoje, o que ajuda também. Tive momen- tos de ir para Minas para melhorar. Foi um período longo, que não desejo nem para o meu pior inimigo. Tive Síndrome do Impostor também: achava que não deveria estar naquele lugar, que não merecia. Com isso tudo, a criatividade acaba, você fica frustrado. Graças a Deus tudo passou. Hoje tenho uma equipe de 23 pessoas, mas ainda gravo e edito tudo.

Qual era sua meta de vida?

Ser conhecida. Era uma meta muito rasa, eu sei. Em Uberaba, eu já era conhecida. Mas agora são milhões de pessoas.

Quando foi a primeira vez que você percebeu que era famosa?

Quando crescia de 100 para 200 mil seguidores em um dia e estava em todos os sites, Instagrams…e sem polêmica. Ah, e também quando os artistas começaram a me mandar mensagens. Quando a Tatá Werneck me mandou mensagem dizendo que era minha fã, quase chorei. Só tem três anos que tudo isso aconteceu e ainda fico surpresa.

E os haters: o que te incomoda e o que aprendeu a superar? Aprendi a ignorar. Não leio mais comentários e inbox. O que me toca não é falar do meu trabalho, mas da condição física. Se não gostarem do meu trabalho, tá tudo bem. Mas quando falam do corpo, eles jogam muito sujo. Aprendi que são pes- soas que falam mais do que elas vivem do que sobre mim. No início me assustava muito… hoje em dia não. E eles sabem mais da nossa vida do que nossos fãs. Os haters sentem prazer em te machucar.

E a Psicologia, você pensa em atender na clínica, como psicóloga? Não. Muita gente pergunta se atendo porque querem ir ao consultório para rir, na verdade, para eu fazer um stand-up comedy, ou para tirar foto. E não é assim. A Psicologia me ajudou a entender o que seria legal e o que não seria. Me ajuda a entender os haters, a saber como responder um direct. Meu público vai de crianças a idosos, então preciso ter esse feeling

E seu lado empreendedora, o que vem por aí? Tenho uma coisa especial pra lançar (risos), que era um sonho de criança. Vai falar mais profundamente sobre mim, no começo de 2023. É uma proposta para ajudar as pessoas, não posso falar muito ainda.

O que mais viralizou no seu perfil do TikTok?

A virada de chave foi do High School Musical e a esquete do casamento, que é um vídeo de caras e bocas mostrando quando a câmera vem no casamento e você não sabe o que fazer. Tem muitos assim, com 20 milhões de visualizações, muitos compartilhamentos. Cada um é uma experiência diferente.

E diante de tudo isso, qual o seu maior sonho agora?

Ir para a TV. Atuar como atriz em novela e filme, levando essa representatividade com um papel que não esteja ligado à deficiência, que ela não seja a questão principal, sabe? Quero ir lá para levar isso.

Tem alguma coisa que você se sinta impedida de fazer?

Não. Meus pais passaram aperto quando disse que ia morar sozinha uns anos atrás. Eu era uma pessoa que não lavava louça. Fui e morei cinco meses com as amigas e aprendi a fazer tudo, foi uma experiência incrível. Minha família achou que eu ia voltar. Mas aqui estou eu, não voltei não. Moro com minha mãe, atualmente. Mas sei fazer tudo!

Lo, você é festeira e ama curtir a noite. Tá namorando, quer casar?

Deus é mais! (risos) Não falo que nunca vou namorar, mas no momento estou soltinha que nem arroz.

O BOM HUMOR É A MARCA DA INFLUENCER QUE LEVA CENAS DA VIDA DE CASAL PARA AS TELAS DOS CELULARES DE 3,5 MILHÕES DE PESSOAS NO TIKTOK

Se você namora há mais tempo ou já se casou sabe: é impossível não se irritar com o outro numa relação. Até o mais romântico dos casais passa por briguinhas que podem ser invisíveis na rotina. Pois são essas cenas que Yasmin Castilho (@yasminhcastilho) é mestre em mostrar em seu perfil no TikTok, que atraiu – até o fechamento desta edição – 3,5 milhões de seguidores. A catarinense de 25 anos já gravou até 20 vídeos em um dia só, mas não se atém às mídias sociais. Tem diversificado os negócios mesmo com a exaustiva produção de conteúdos de humor. Espevitada e apaixonada pelas câmeras, aqui ela conta como começou e como concilia tudo.

Como começa a sua história como influencer?

Em 2015, com meu canal no Youtube. Fiz curso de atriz porque nunca me achei criativa para sustentar meus vídeos na internet. Pensava que se fosse atriz, ganharia texto e tudo pronto na mão e seria mais fácil. Engraçado é que desde pequena eu dava sinais de que seria atriz. Não brincava de boneca, brincava de teatro, de apresentação. Sempre tive essa veia artística e onde tinha câmera estava lá! Mas voltando ao curso de atriz, em paralelo a ele, pra ganhar um dinheiro, entrei pro TikTok em 2016 ou 2017. Só tinha criança nessa época. Me disseram pra entrar que ia bombar. No Instagram eu não postava o que posto hoje. Fazia maquiagem, cabelo e moda. Mas sou zero isso na realidade! Por isso, no TikTok comecei a fazer palhaçada, dancinha, coisas que tinham a ver com quem eu sou de verdade…e deu certo. Comecei a me dividir bastante. Lá no TikTok, tudo sempre viraliza mais. É muito mais fácil crescer lá. Eu não via muita gente fazer comédia no Instagram. Vi que isso acontecia muito no TikTok. Na pandemia estava todo mundo em casa e estourou.

Como foi a pandemia nesse sentido?

Eu trabalhava na loja da minha mãe. Ela deixava eu fazer vídeos de provador, mostrando a roupa, sabe? Quando decidi sair da loja dela, no primeiro dia em casa, veio o lockdown. Perdi os trabalhos de provador que eu tinha e precisei encarar a realidade. Falei: agora vou gravar. Tinha dia que gravava dez vídeos.

E como é sua produção de conteúdo hoje?

Meus vídeos são muito dinâmicos, surgem de coisas que vivo. Por exemplo, outro dia estávamos no carro, viajando, e minha cachorra fez xixi no meu colo. Gravei, editei e subi o vídeo em menos de uma hora. É esse conteúdo que é bom pra mim, por ser espontâneo.

Quando caiu a ficha do “fiquei famosa”?

Quando a pandemia deu uma aliviada nos números e tudo reabriu, fui ao shopping. As pessoas pediam pra tirar foto e eu achava que estavam me zoando. Quando a pessoa saía de perto, eu perguntava ao Lucas se eu tinha sido legal (risos), se realmente aquilo estava acontecendo.

Como você e Lucas se conheceram? Foi no 2º ano do Ensino Médio. Estudávamos juntos, ele me ensinava matemática e me apaixonei. Éramos amigos e eu namorava outra pessoa, namorei quatro anos. Terminei meu relacionamento e comecei com o Lucas, foi bem de colégio, sabe? Nos casamos no começo de 2022, não tem nem um ano.

Como é sua rotina hoje? A agenda está fechada até quando?

Tenho a agenda do mês com todos os trabalhos, mas surgem alguns de última hora…com prazo de três dias para fechar um vídeo. Não temos mais datas agora. De conteúdo orgânico gravo muito e consigo fazer vídeos de gaveta. Tem dias que gravo mais de 20 vídeos e deixo estocados. Todo dia posto um vídeo.

O que as pessoas mais gostam de ver? Conteúdos relacionados ao casal. É nosso público-alvo. Quando saio na rua, gente de todas as idades vem me cumprimentar. É gente que fala “minha namorada me inferniza!” e que vê nossos vídeos. É tudo muito real, com base no que vivemos. Tenho algumas referências de vídeos de fora, mas, no geral, surge muito do momento. Tem um vídeo que fizemos na mesa de almoço. O Lucas estava mexendo no celular e eu dei uma olhada por cima. Pedi à minha prima pra gravar e me achei muito fofoqueira. Viralizou. Muitos vídeos vêm dessa observação da rotina.

Quantas publis você faz por mês?

Em mês normal, é mais de uma por dia. Em torno de 40 publicidades.

Quais os próximos planos?

Estamos focados em abrir marcas fora das redes. E o sonho da vida é ser mãe. Tenho o grande sonho de fazer uma capa de revista – e olha só, estou realizando (risos).

Conta mais sobre o lado empreendedora. Esse ano focamos muito nisso. A internet é muito instável. Ter negócios fora dela me deixa mais estável. O Lucas nunca trabalhou comigo, ele veio nesse ano, trabalhava fora e era cansativo, porque nos fins de semana eu queria gravar e ele, descansar. Daí ele saiu da empresa para ser meu sócio. Só faço a parte criativa hoje, a parte chata de burocracias e financeiro é com ele, o que é ótimo.

E trabalhar com marido, pesa de alguma forma no relacionamento?

Trabalhamos em casa e a todo momento é um olhando pro outro. Ele trabalha na mesa que a gente almoça, janta…então vamos para um apartamento maior agora para ele ter um quarto para trabalhar. A nossa rotina é assim: até quando não falo de trabalho estou trabalhando, respondendo alguma coisa, olhando alguma outra coisa. É trabalho sem parar, mas tem sido bem tranquilo. Ele veio para me deixar livre pra criar. Assim conseguimos abrir uma marca de óculos de sol, uma agência de influencers e uma marca de roupas que ainda estamos criando. Tem também o curso online Levando a Sério a Palhaçada. Estamos diversificando porque se um dia eu cansar, temos outros negócios.

Você disse que não é especialista em beleza, mas pelo visto se cuida. Quais são seus segredinhos?

Sou muito focada na academia, desde os 15 anos. Fazia patinação artística também. Minha rotina de alimentação é bem certinha, pesando comida…mas quando saio, como pudim sem dó. Fora meu trabalho, o que mais sou focada é nos exercícios. Sempre nos hospedamos em hotel que tem academia, fazemos o treininho que o personal manda e pronto. Não sou muito vaidosa, às vezes saio sem maquiagem e me importo zero. Passo filtro solar, hidrato o cabelo e uso sérum anti-oleosidade. Amo a vibe natural.

Do que você não abre mão?

De beber água. sempre bebo dois litros por dia. Mas não sou neurótica…se tiver que abrir mão de alguma coisa, tudo bem, não tem problema. Sou muito tranquila.

Você recebe comentários maldosos?

Graças a Deus nunca recebi muito. Quando um vídeo viraliza vem uns comentários bestas. Mas sou desapegada, é difícil me afetar. Se vejo que a pessoa é do mal, bloqueio. Quem comenta algo ruim é tão amargurado, que nem merece minha atenção.

O que mais te incomoda nas redes?

O famoso algoritmo. A instabilidade. Isso foge da minha mão, porque não tem o que fazer. Eles mudam toda hora, é surreal.

O que a vida de influencer te trouxe de mais legal?

Todas as conquistas que tive na vida adulta vieram desse trabalho como influenciadora: apartamento, pessoas que admirava e me tornei amiga, viagens, liberdade de tempo e de dinheiro. Posso parar quando quiser e ir na casa da minha avó tomar café. Essa liberdade de poder me expressar e a conexão com as pessoas são incríveis também. Saber que mudamos a vida das pessoas, que as fazemos rir, isso não tem preço.

TEM ESPAÇO PARA EXPLICAÇÕES SOBRE PELE NO TIKTOK? AH, SE TEM. FARMACÊUTICA ESPECIALIZADA EM DESENVOLVIMENTO DE COSMÉTICOS, MARINA ATRAIU

QUASE 1 MILHÃO DE PESSOAS EM POUCO MAIS DE SETE MESES SÓ FALANDO DISSO

“Pra quem não sabe”, Marina Cristofani é farmacêutica especializada em desenvolvimento de cosméticos – é assim que ela se apresenta em todos os vídeos, com uma aceleradinha que virou uma marca pessoal. Em pouco tempo talvez nem seja preciso dizer isso, afinal, em sete meses, ela saiu do zero aos 930 mil seguidores. Na adolescência, já incomodada com a acne persistente, Marina era atenta ao que fazia efeito ou não em sua pele. Quando chegou a época de escolher uma profissão, não teve dúvidas: Medicina. Só que não deu certo e o plano se transformou em Farmácia. Mal sabia que era ali que ela se descobriria. “Já gostava de skincare e sempre passava coisas muito agressivas no rosto. Nada do que me receitaram ou do que via na internet fazia efeito”, lembra. Foi então que em 2020, em uma aula de Cosmetologia, ficou claro o caminho a seguir. Abaixo ela conta os detalhes e como viralizou em um dia.

Quando você decidiu que trabalharia com desenvolvimento de cosméticos?

Em 2020 me caiu a ficha. Sempre tive uma alimentação saudável, sempre fiz esporte, bebia água direitinho, estava tudo certo, então, era a pele mesmo que tinha algum problema. Uma coisa que naquela época percebi era que a pele oleosa também devia ser hidratada, e pouca gente falava disso. A minha era acneica e oleosa, e quando comecei a tratar dela percebi que funcionava.

E quando você mudou de carreira?

Em 2020, estava me formando em meio à pandemia e comecei a trabalhar em uma farmácia de manipulação, onde fiz estágio. Lá tinha um centro de desenvolvimento de cosméticos. Mas eu queria ajudar mais pessoas e via a carência de informação nessa área. Postei algumas coisas no Instagram, mas não foi pra frente. Corta pra 2022: eu estava cansada do trabalho que fazia. No dia 24 de abril pensei que deveria fazer algo diferente para minha vida mudar. Refleti: se eu postar no TikTok e daqui a dois anos eu tiver 5 mil seguidores tá ótimo. Me empenhei. A intenção era ver o que acontecia, não abandonar o trabalho. Postei meu primeiro vídeo e era sobre como não cair no golpe de marketing de grandes empresas. Achei que ia ser um conteúdo bem normal. Mas não foi.

O que aconteceu?

No dia, tinha ido trabalhar, normal, e não olhei celular. À noite vi que o vídeo tinha 30 mil visualizações e eu já tinha 4 mil seguidores. Antes eu só tinha feito um videozinho “poste um vídeo com essa música e em dois meses sua vida vai mudar”. Olha que engraçado, mudou em quatro meses! (risos).

E como foi nos dias seguintes?

Só cresci. Em três ou quatro dias tinha 40 mil seguidores. Aquilo deu medo. Eu sou farmacêutica e realmente sinto que tenho que ser muito cuidadosa, tenho que estudar muito. Minha intenção no começo nem era viralizar, e virou o que virou. Em um mês pedi demissão do trabalho. Apostei muito. E deu certo.

Como o pessoal do trabalho recebeu a notícia?

Muito bem. Aprendi muito lá, trabalhando, sou muito grata a eles. Muito mesmo.

Como é sua rotina de beleza?

Acordo e não lavo o rosto, ele acorda sequinho e bonito, então não preciso. Saindo do banho, uso um gel de aloe vera e passo o hidratante e vira uma meleca. Muitas vezes testo produtos. E no fim do dia uso cleasing oil para tirar o protetor solar. São três produtos, basicamente. É o que digo: precisa limpar, hidratar, proteger a pele e pronto. Acho que por isso as pessoas começaram a gostar de mim, pela simplificação do skincare . Eu investiria mais dinheiro num protetor solar bom, que é um anti-aging do que em qualquer outra coisa. Tomo muita água e minha alimentação é mais vegetariana, com peixe. Sempre tive essa rotina saudável. Comer bem é o que ajuda a pele a ficar bem estruturada.

Quero mais segredos de beleza, pode?

Pode! Hidratar a pele com ela úmida é uma boa dica. Eu testei e li sobre o assunto e faz sentido. Não gosto de vitamina C, ela oxida e não sou fã. Mas acredito que o maior segredo é estar bem consigo mesma. Minha relação comigo mudou e fazer as pazes consigo mesma ajuda muito. Se dê carinho.

E para rugas?

Tenho uma visão de que ruga é inevitável. Talvez a indústria fique brava comigo, mas não investiria num antirrugas cosmético. Prefiro investir em procedimentos que previnam o vinco. Pode usar cremes como retinol, que funcionam, também. Para flacidez, o bioestimulador de colágeno funciona bem. Bom, é a minha opinião.

Aproveitando, e para manchas, o que você acha que funciona?

É o assunto que o pessoal mais pede e que mais há reclamações. O tratamento é o mesmo: todo tratamento que for feito deve andar em paralelo com o protetor solar bem aplicado. Aliás, precisamos reaplicar durante o dia, o ideal é a cada três ou quatro horas. Eu não passo pro - tetor a cada três horas, mas para quem tem mancha, fazer tudo certinho é ótimo. É natural que a pele elimine a mancha aos poucos, mas é bom você usar protetor solar para que ela tenha tempo de fazer isso. Sinto que falta muita paciência e carinho com o próprio corpo.

Qual o vídeo que mais viralizou?

O da minha rotina básica. Quando não dou conteúdo muito técnico, viraliza. O da diferença entre protetor solar de corpo e de rosto foi bem também.

Quais as melhores dicas de protetor solar?

Para se bronzear, o ideal é se expor mais dias e por menos horas, com cuidado. Aliás, ser cuidadoso com a praia é muito necessário. Evitar tostar é importante. Pescoço e colo são regiões que envelhecem rápido sem protetor solar. Tudo o que se usa para o rosto, se usa para o pescoço.

Como você lida com as marcas?

Sou muito cuidadosa. Às vezes recebo produtos que não dão muito certo e falo mesmo: olha, tive espinhas. Pra mim é muito importante falar pro meu público sobre isso. Não vivo das publicidades. Vivo das consultas que dou.

E os planos para o futuro?

Aconteceu tudo muito rápido. Comecei tudo muito sozinha. O que gostaria é de lançar minha linha de cuidados para a pele, mas talvez isso demore pois quero que seja extremamente estudado, que seja adequado à maior parte de perfis de pele do brasileiro. Não vai ter produto superadstringente, por exemplo. Vai ser bem a minha cara!

O DEBOCHE EM PESSOA. A SOBERBA EM FORMA DE PROFISSIONAL. A HUMORISTA ANA CHIYO FICOU FAMOSA NA INTERNET COM ESQUETES ONDE REVIRA OS OLHOS E ESNOBA PESSOAS

COMUNS – É VER PARA RIR. NA VIDA REAL, ELA É O

OPOSTO: DOCE E SORRIDENTE, CONTA A SEGUIR COMO FICOU FAMOSA EM UM ANO

“Olá, tudo beinn? …jurann?” – a frase, na voz de uma atendente debochada, que te julga indigno de comprar em sua loja de roupas, levou Ana Chiyo a mudar de vida aos 35 anos. De Araçatuba, no interior de São Paulo, ela fazia convites para festas de aniversário até 2021, quando começou a gravar os vídeos que a tornaram conhecida na internet. É a realização de um sonho de criança, afinal, desde menina ela dizia que seria atriz, escritora ou apenas… famosa.

Em um ano, Ana conquistou o estrelato: faz quase 2 milhões de pessoas rirem todos os dias nas redes. O TikTok foi a plataforma que mais impulsionou seu sucesso e onde está sua web-novela A Moça da Sara, uma esquete imperdível para os fãs de humor, com um roteiro surpreendente que traz o embate entre uma gerente de loja de departamentos conhecida e seus funcionários. À TOP, ela conta como chegou a esses números.

Como tudo começou?

Eu tinha 34 anos, no ano passado, e estávamos no meio da pandemia. Todo mundo ficou maluco, não sabíamos se teria fim aquele período de isolamento e eu era mais uma enlouquecida. Antes eu tinha academia, aula de dança, amigos, e o lockdown tirou isso tudo. O tempo não passava e comecei a ver muitos vídeos na internet. Pensei: “ah, posso fazer também”. Fiz alguns e eram bem ruinzinhos, não foram pra frente. Depois fiz outros melhores e aquilo começou a me dar uma satisfação, sabe? E aí no Natal, fui a uma loja de departamentos e passei muita raiva com a atendente. De volta à minha cidade, pensei: vou imitar a moça que me tratou daquele jeito. Fiz o vídeo em dez minutos, editei, postei e viralizou no fim do dia. Isso me deu uma satisfação que eu nunca tinha tido na vida.

Como era sua vida antes?

Antes eu fazia convites de aniversário infantil. Então, na pandemia, meu trabalho acabou. Na infância, com três ou quatro anos, eu sempre dizia que ia ser famosa, atriz, escritora. Quando fiz os vídeos, me caiu a ficha.

Como foi o dia da primeira viralização? Uma loucura. Você não sabe o que fazer, porque você quer repetir isso. Foi um misto de sensações. Mas pensei: quem já tá na lama, deve terminar de se lambuzar, né? Essa primeira viralização não me fez crescer tanto. Comecei a fazer uma novela para a personagem (A Moça da Sara), mas só era conhecida por aquelas poucas pessoas que acompanhavam. Pensei em criar uma estratégia. Daí tirei a moça da Sara da loja e levei para outros lugares. Afinal, gente esnobe tem em todo lugar. Daí comecei a ficar conhecida.

E depois, como se manteve?

Estava numa boa estratégia. Daí meu amigo Fábio Marxx (que faz a Sheyla Christina) me convidou para gravarmos juntos. Gravar com ele me deu uma projeção muito maior. Isso foi em março, eu tinha 300 mil seguidores e hoje tenho 1,1 milhão. Atualmente, uma agência me representa e fico na parte criativa. Tento agradar todos os grupinhos de seguidores: tem a moça da Sara na própria Sara, tem a família com 11 pessoas, tem a cliente ruim, e tudo isso tem muita audiência. Falo alguns vídeos como eu mesma também e isso às vezes me conecta de outra forma com os seguidores, que me veem como pessoa real.

Equilibra bem gravações, publis e eventos?

Às vezes acho que trabalho pouco, porque estou sempre observando as pessoas e vendo o que renderia vídeos e isso não parece trabalho, mas é. Enfim, a gente sabe que os likes não pagam salários. São as publicidades que fazem isso e elas tomam tempo, tem que criar roteiro e tudo mais. Não é uma loucura, exatamente, minha rotina. Consigo organizar meus horários. É mais a questão de ter que criar sempre que é mais cansativa. Não tem como forçar as ideias. Então hoje trabalho mais nos fins de semana do que nos dias de semana.

Qual vídeo teve mais repercussão?

Positiva ou negativa? (risos) Porque negativa teve um sobre a questão de o homem pagar a conta ou não. Esse tema mexeu comigo, me enfureceu. Fiz o vídeo e as pessoas começaram a me ofender. No Youtube deixei de ler os comentários, eram muito violentos, naquela semana deixei de sair de casa por medo. Já o vídeo que mais me deu resposta boa foi um vídeo de garçonete num restaurante, julgando as pessoas que estava atendendo.

E diante de tudo isso, quais os seus planos?

Tem muitas coisas acontecendo. Uma que é inacreditável é que vai sair um programa de streaming que eu vou narrar, o programa é excelente. O texto é maravilhoso, engraçado. Isso é um sonho. Mas quero emplacar uma série no streaming. Dá pra fazer algo leve e rápido para as pessoas se divertirem. Talvez uma peça de teatro também esteja entre meus sonhos…

AOS 27 ANOS, O JORNALISTA ADAM MITCH JÁ

CONTABILIZA 14 ANOS DE CARREIRA DIGITAL, UMA LEGIÃO DE FÃS, COM MAIS DE 1,6 MILHÃO DE SEGUIDORES NO TIKTOK E, MESMO FALANDO

SOBRE BELEZA, DIZ QUE ELA NÃO PODE SER UMA MÁQUINA PARA TORTURAR AS PESSOAS. “A BELEZA É UMA DESCOBERTA”

Formado em jornalismo, ele – mas também pode ser chamado de ela – sabe bem o que quer da vida, persegue seus objetivos de forma clara, mas nem por isso é uma pessoa sisuda. Ao contrário, Adam Mitch é de uma leveza que encanta. Fala de assuntos que podem até parecer mais espinhosos, mas em suas palavras tudo ganha nuances mais simples. Em conversa exclusiva para a TOP, Adam conta histórias do começo da carreira, no bairro carioca da Penha, passagens engraçadas, quando juntou dinheiro e foi até Nova York para conhecer a redação de uma revista de moda, com o sonho de trabalhar lá, o começo de sua carreira digital, a vinda para São Paulo e os perrengues que permeiam a trajetória de quem não nasceu em berço de ouro, mas tem uma base familiar prá lá de sólida, especialmente materna – sua mãe é sua fiel escudeira – , o que lhe deu segurança para chegar aos mais de 1,6 milhão de seguidores.

Você tem hoje 27 anos, uma carreira de 14 anos. Como começou seu interesse pelo universo da Internet?

Comecei aos 13 anos a escrever na internet, sempre tive vontade de falar sobre moda, morava na Penha [bairro do Rio de Janeiro]. A internet era a referência, via o mundo da moda bem interessante. Naquela época eu nem me maquiava. Minha é mãe alérgica, então, eu não tinha nenhum contato com nada de maquiagem. Nesta época, quando estava longe do cenário da beleza, quem te inspirava?

O Jeffree Star [em 2018, segundo a revista Forbes, ele ganhou 18 milhões de dólares com seu canal no Youtube, chegando a ser considerada a quinta celebridade mais bem paga do canal]. Ele é da cena alternativa, do Myspace, do estilo From UK, uma subdivisão do estilo emo, só que mais colorido, com visual diferente, com cabelos desfiados, meio punk. Era sinônimo de rebeldia.

Você criou um blog. Qual era seu objetivo?

Queria fazer fluir a criatividade. Meu sonho era ser jornalista de moda. Hoje, já é mais de beleza. Provar, testar produtos, é também um trabalho de jornalista.

Qual seu projeto de carreira?

Assinar uma coluna de beleza em uma revista inspiradora, que possa falar sobre o que de fato está acontecendo e não só sobre Chanel.

Como era sua rotina?

Estudava de manhã, escrevia para o meu blog. E minha mãe sempre confiava em mim. Isso ajudava. Escrevia também para o blog From UK, que era muito acessado, mas era de nicho, sobre moda e estilos. Aí, tive uma sacada muito interessante, percebi que nosso público era 50% masculino e não tinha conteúdo para ele. Embora eu não gostasse de falar sobre moda masculina, vi que era um caminho.

Você criou uma revista. Conta sobre esta experiência.

Quando eu tinha 21 anos, peguei todo o meu dinheiro e fui para Nova York, fui até a redação da Teen Vogue. Eu conheci uma menina aqui que falou para eu conhecer a redação quando estivesse em Nova York. Então eu fui. Achei que iria trabalhar lá... (risos). Aí, voltei e fiz a minha própria revista, com o título Adam. Foram 12 edições que falavam sobre moda e tendências. Uma delas foi com a Jade Seba [digital influencer], produzimos até os looks.

Mas por que parou?

Na época, lembro que saímos com 50 mil reais da Pandora em produtos. Fizemos editorial, foi muito trabalho, mas sem retorno financeiro.

Quais críticas que te incomodam dos seguidores?

As críticas sobre gênero e sexualidade. São coisas íntimas minhas, embora sempre falem de representatividade, eu não tenho muita vontade de levantar bandei- ras. Alguns falam que é medo de me posicionar ou que tenho vergonha de quem eu sou. Pra mim, a bandeira mais legal é a bandeira de todo mundo. Eu me vejo em todas as letras do LGBTQI+. Na verdade, quero me deixar livre, viver baseado nas minhas emoções.

Quando deu um boom na sua carreira digital?

Durante a pandemia cresceu muito o número de seguidores, principalmente com os vídeos mais curtos, como os do Youtube. Foquei em outras redes, com reposicionamento de conteúdo. A ideia era estar em várias plataformas, repostando tudo e, aí, vieram os seguidores.

Quais são seus projetos?

Quero me estabelecer como autoridade de beleza, ser colunista, nunca abandonar a internet. Quero fazer projetos legais, mostrar as reais características de beleza nacional. Quero ter um nome consolidado no mercado.

Como é sua rotina? Você já pensava em morar em São Paulo?

Quando eu morava na casa dos meus pais, na Penha [bairro do Rio de Janeiro], era uma casa grande, com um quarto só para eu gravar, tinha um estúdio. Em

2018, percebi que precisava vir para São Paulo. Nunca foi um sonho, foi a carreira que pediu essa mudança. Na época, consegui um contrato de 30 mil reais, o que daria para viver durante uns seis meses. Vim para um apartamento pequeno.

E aí, não tinha mais o estúdio?

Sim. E fui percebendo que precisava de mais espaço. Então, há cinco meses tenho um escritório, onde trabalho, gravo, onde tudo acontece.

Você aborda um universo que é muito forte, o consumo. Como você lida com dinheiro? Financeiramente não sou muito controlada. Mas se puder comprar meu rímel, está ótimo (risos)

O que é beleza para você?

A beleza é tudo, não é uma frase, acredito que o ser belo e elegante é um mix de muitas coisas, comportamento, estado de saúde mental. A beleza é uma descoberta. Mesmo trabalhando com beleza, a gente deve tentar fugir. Ela não pode ser a máquina que tortura a gente. Beleza é um grande equilíbrio emocional, tanto por dentro quanto por fora.

E quem é Adam Mitch? Eu tenho várias facetas... (risos)

LFILHA DE JUÍZA E ADVOGADO, CURSANDO DIREITO, A INFLUENCIADORA LU FIAL ANGARIOU MILHARES DE SEGUIDORES EM DOIS ANOS MOSTRANDO BOM HUMOR, POSIÇÕES FIRMES E DEIXANDO CLARO QUE SEU PROJETO DE VIDA PASSA LONGE DOS TRIBUNAIS. EXTROVERTIDA, ELA TIRA DE LETRA CRÍTICAS, MAS NÃO CONSEGUE

IMAGINAR UM DIA SER CANCELADA VIRTUALMENTE

Tudo começou de forma orgânica, mas já existia uma pretensão de se tornar uma influenciadora digital. Na época, Lu Fial era estagiária em um banco e trabalhava 12 horas por dia com contratos, mas não gostava. Com educação rígida – seus pais acham importante ter um diploma –, inclusive com exigências de adequação aos padrões de beleza, ou seja, ser magra não era uma opção, era a única alternativa. Luisa Fialdini, que adora comer hambúrguer e batata frita, resolveu apostar nos vídeos sem criar uma personagem e ficou famosa no TikTok. Decidiu ser ela mesma e adotou o viés humorístico em seus conteúdos. De 200 seguidores, saltou para 10 mil num piscar de olhos. Surpresa e realizada, passou a focar ainda mais na carreira digital. Nesta entrevista, Lu fala da infância, da rotina e do lado solitário de ser uma influenciadora, apesar de tantos seguidores.

A Lu Fial é uma personagem?

Não. Acho que ter que criar um personagem é uma coisa muito bizarra e triste.

O que te incomoda nas redes sociais?

Algumas postagens. Não tenho muitos haters, mas têm algumas pessoas sem noção. O que mais me incomoda é a pessoa perder o próprio tempo para escrever algo que vai magoar. Na Internet, elas têm mais coragem de dizer as coisas. Mas acho que é mais uma questão de educação mesmo.

Já pensou como seria ser cancelada?

Se fosse cancelada, nossa, nem consigo imaginar... Meu mundo iria desmoronar. Iria me sentir injustiçada.

Como tudo começou?

Sempre amei a internet, sou consumidora, seguidora fiel. Sempre fiz graça e minhas amigas falavam que eu deveria ter um canal no Youtube. Aí surgiu o TikTok e a pandemia. Eu pensava: ninguém vai fazer bullying comigo. Estou no meu quarto.

Mas tinha uma expectativa de ter uma carreira de influenciadora?

Sempre tive pretensão de ter uma carreira de influenciadora, mas sem muita ideia. Não tinha muita expectativa. No começo não deu retorno, não tinha minha identidade. Depois, o primeiro vídeo que fez sucesso foi sobre Gossip Girl [a série], dando opinião. Aí, tinha 200 seguidores e foi para 10 mil.

E qual sua sensação?

Sempre ficava surpresa e realizada. Em questão de números, sou desligada. Achei o máximo os 10 mil seguidores.

E como era sua rotina de influenciadora no início?

Foi de forma mais orgânica, estava ainda na faculdade, mas como é uma coisa que eu gosto, foi organizado, fazia três vídeos por dia, aí ia postando aos poucos.

Uns quatro por semana. Com o tempo fui percebendo que o humor era o que mais bombava, independentemente do assunto. Gosto de falar sobre beleza e moda. Então, pensei: vou abordar todos os assuntos, mas com humor. Não queria ter um tipo de conteúdo informativo. Queria que as pessoas pensassem: vou seguir a Lu por que é a Lu, porque gosto dela.

Você é filha de uma juíza e de um advogado. Seus pais apostam na sua carreira digital? Acreditam no futuro dela?

Meus pais não gostavam no início. Com o tempo começaram a ver que estava dando certo, que eu estava mais feliz. Mas ainda falta um tempo para eles levarem mais a sério. Na verdade, acho que nunca vão levar a sério. Na Best Friday comprei um monte de make e minha mãe reclamou.

Você já é independente financeiramente?

Não. Sou totalmente dependente dos meus pais, não pago contas, meu carro foi meu pai que me deu. Só gasto com o supérfluo, com saídas, comidas, roupas, make, se eu precisasse me manter não teria condição.

Você quer seguir a carreira de advogada também?

Não tenho vontade, mas acho importante ter um diploma. Meus pais valorizam uma carreira acadêmica, sei que o mundo da internet é incerto e uma carreira de advogada poderia me dar segurança.

Se fosse advogada, qual seria a área? Seguiria o direito criminal.

Você defenderia um serial killer? O Augusto de Arruda Botelho fala algo que é fato, todos têm direito a uma defesa justa. E isso significa que alguém vai defender esta pessoa. Mas defender não significa que você ache que ele é do bem, que ele não cometeu o crime, mas que ele tem direitos constitucionais, como a visita, por exemplo.

Você é bem-humorada, mas o que te tira do sério?

Pessoas no celular enquanto falo com elas. Eu nem olho no celular. Só atendo se for algo importante, que eu já esteja esperando.

Se o mágico da lâmpada aparecesse na sua frente, qual seria seu pedido? Iria pedir para comer sem engordar (risos).

É verdade que você não come legumes e frutas?

Não como nada verde, colorido. Tenho paladar infantil. Gosto de hambúrguer, batata frita.

Mas você se preocupa com peso?

Até gostaria de ser mais magra, mas tenho muitas restrições. Brigo com a balança. Não me controlo e não malho. Parei de fazer academia. Não gosto e parei por causa da pandemia. Queria ser bem mais magra, me importo. Sendo bem honesta, na minha casa nunca foi uma opção não ser magra. Meus pais são bem saudáveis e fazem muitas atividades. Pra mim, minha mãe era vítima da sociedade. Tinha que ser perfeitamente magra.

O que você gosta de fazer para se divertir?

Gosto de ir a restaurantes bons, assistir séries, conversar, ter companhia... adoro jogos de tabuleiro. Gosto de estar com as pessoas. Ah, também adoro esquiar.

E viagens? Quais lugares já foi? Já fui seis vezes para a Disney. Gosto de todas as capitais europeias.

Você moraria em outro país? Não trocaria o Brasil.

Quais memórias de infância que você tem?

Acho que minhas melhores memórias de infância têm a ver com todas as vezes que eu estava na casa da minha avó em Ribeirão Preto com minhas primas.

Qual seu sonho de consumo?

Quero um dia ter muitas bolsas (risos). Na verdade, meus sonhos têm mais a ver com experiências do que com bens materiais.

Quem é Lu Fial?

Acho que sou leal, me acho engraçada, eu dou risada de mim mesma, tenho autoestima elevada, sou muito extrovertida, carinhosa, me acho uma pessoa do bem...

Me acho a melhor pessoa do mundo, mas ao mesmo tempo me odeio (risos). Tenho um jeito démodé. Não costumo me apagar para ser aceita. Tenho total noção de que algumas pessoas me acham irritante. Acho que na sala de aula, 70% das pessoas me acham irritante, mas 90% não me esquecem.

Qual sua rotina hoje?

Estudo a noite, resto do dia que dedico aos vídeos. Passo bastante parte do dia em casa e sozinha. É uma profissão solitária. É uma carreira solitária.

Mas, então, há aí uma contradição, você tem milhares de seguidores, mas está sozinha?

É uma rotina diferente, mas valorizo a interação.

Lu, como imagina sua vida daqui a cinco anos?

Eu espero estar vivendo da Internet, sem depender dos meus pais, casada [namora há 7 anos], tendo parcerias com marcas que admiro e continuar gostando do que faço, conseguindo ser genuína, e demonstrando isso.

COM HUMOR, INTELIGÊNCIA E CONSCIÊNCIA DE QUEM É E ONDE QUER CHEGAR, FÁBIO MARX, O ARQUITETO QUE

CRIOU A PERSONAGEM SHEYLA CHRISTINA, FAMOSA NAS

REDES SOCIAIS, NÃO HESITOU EM LIBERTAR-SE DE UM

UNIVERSO FORMAL E CHEIO DE PRECONCEITOS. SOLTOU A VOZ E ENCAROU, COM UMA LÍNGUA AFIADA E COM

CONSCIÊNCIA SOCIAL, OS MEANDROS DE UM MUNDO

ONDE SER VOCÊ MESMO PODE SER MUITO DESAFIADOR

O influenciador digital cuiabano Fábio Marx tem uma trajetória que remete a de muitos jovens brasileiros. Teve que enfrentar o preconceito dentro de casa e o abandono familiar. Tentou por dez anos seguir padrões, se fechar em um espaço que não era seu. Quando descobriu que existia a Sheyla Christina dentro dele, a vida tomou novos rumos. Com mais de 1 milhão de seguidores, é convidado a dar palestras sobre arquitetura. O respeito veio com o tempo e, hoje, ainda que as redes sociais desapareçam da face da terra, ele garante que sabe muito bem que é um caminho sem volta. A direção é outra, é para frente, para o mundo das artes, onde ele se encontrou e onde se sente feliz. Nesta entrevista, o influencer fala sobre o começo da carreira, os desafios de assumir sua sexualidade diante da família e as glórias de buscar seus sonhos.

Quem é Sheyla Christina?

Ela nasceu como uma crítica social dentro da arquitetura. Trabalhei durante dez anos com arquitetura e construção civil e eu via muitas coisas erradas acontecendo e não podia fazer nada, não podia falar nada. Então, foi um tipo de denúncia.

Mas por que você não podia falar?

Por medo de perder meu trabalho. A arquitetura em si é muito tradicional, as pessoas têm medo de falar, de dar sua opi- nião. Tem muito LGBT, mas são homens gays, brancos, normativos, que agem de acordo com o que a sociedade gosta. Tudo bem você ser gay, desde que você não seja afeminado, que você use roupa de homem, que você faça tudo do jeito que tem que ser feito. É esse tipo de gay que existe dentro da arquitetura.

E aí, a Sheyla surge para contrapor tudo isso?

Exatamente, sem querer, eu me tornei pioneira nisso. Uma drag queen falando de arquitetura, falando de decoração, denunciando coisas que eu achava erradas e falando coisas que ninguém tinha coragem de falar.

Mas começou como uma brincadeira?

Eu não consigo fazer piada só por fazer. Eu sou político. Meu corpo é político, mesmo que eu não fale nada, quando ando na rua, eu sou político. E fazer um humor paspalhão não caberia pra mim. Então, começou de forma leve. O primeiro vídeo que viralizou foi eu apresentando a Sheyla Christina e fazendo críticas. Então, ela já nasceu assim. Foi uma brincadeira, eu não ia levar a sério, mas foi uma brincadeira que já nasceu com propósito.

Você tem dois anos de Sheyla Christina. Ela foi se transformando?

Foi se transformando, porque ela nasceu como uma crítica e hoje ela é uma inspiração. Tem um momento que era sempre essa crítica, era sempre falando mal, era sempre zoando e eu percebi que estava cansado de homenagear essas pessoas, pois elas me chamavam no privado e falavam: “nossa, que legal, eu sou exatamente assim”. Aí fiquei pensando, gente, mas não é pra você se identificar de uma forma positiva, é pra você começar a ver isso como um problema e tentar mudar. E daí, quando isso começou a acontecer, pensei que tinha que mudar um pouquinho o propósito da Sheyla. As pessoas gostam de ser debochadas, de serem irônicas, de falarem o que elas pensam, de não ter medo das coisas. Então, fui indo mais pra esse caminho. Antes eu me inspirava em chefe, em colega de trabalho, em pessoas ruins que passaram na minha vida. Hoje, eu me inspiro na minha mãe, na minha irmã, nas mulheres que eu conheço, do meu cotidiano.

Qual foi o momento em que você se deu conta do sucesso e se perguntou o que estava acontecendo?

Até hoje eu me pergunto o que está acontecendo (risos). Teve um momento em que tive que escolher entre continuar no ramo da arquitetura e da construção civil ou largar tudo e focar na minha carreira artísti- ca. E esse foi o momento que pensei: estou largando o meu ganha-pão pra me dedicar a isso, então isso tem que dar certo.

Já pensou em algum momento que se a Sheyla Christina não desse certo voltaria para a construção civil?

Estou num ponto em que não tem mais volta. Mesmo que, sei lá, eu me canse, não queira mais fazer Sheyla Christina, que canse do Instagram, de fazer vídeo... Mesmo que isso aconteça, iria querer me reinventar como artista e ir para outros lugares que antes, pra mim, pareciam muito distantes, mas que sempre foram os meus sonhos.

Então a Sheyla Christina libertou o Fábio Marx?

Isso, eu acho que é muito isso. Eu não voltaria porque hoje descobri a possibilidade de viver com o que eu amo de verdade, que é através da arte. E isso nunca ninguém vai me tirar. Quando você começa a viver de arte, percebe que não tem como viver de outra forma.

Você também se tornou uma pessoa mais segura com a Sheyla Christina? Até de posicionamentos na sociedade? Com certeza, porque vi que o que eu mais temia era não ser respeitado por ser afe- minado, por gostar de coisas femininas, por ser bem-humorado. Eu me preservava porque os meus colegas de trabalho tinham que me respeitar. Então, fingia ser outra pessoa. Aí a Sheyla me mostrou que eu sendo eu mesmo, sou respeitado, porque a Sheyla Christina é respeitada tanto no ramo artístico quanto na arquitetura.

Você não é de São Paulo...

Sou de Cuiabá, Mato Grosso. Morei em Curitiba durante dez anos. Eu saí de Cuiabá aos 17 anos, aí fui pra Curitiba, comi o pão que o diabo amassou lá.

Por quê?

Porque foi horrível. Foi lá que descobri várias coisas. Foi quando saí de casa e tive que aprender a me virar. Descobri que uma roupa não se lava sozinha... (risos). Que a comida não se faz sozinha. E daí, junto disso, também veio que, às vezes, o dinheiro não era suficiente pra eu fazer as coisas que queria. Ganhava muito pouco. Foi lá que saí do armário pra minha família. Teve esse abandono familiar, tive que aprender a me virar. Foi um trauma.

Você tem saudade de quê?

Saudade da comida da minha mãe. Perdi minha mãe há pouco tempo. Quatro anos é pouco tempo. Tem horas que até sonho, até sinto o cheiro da comida dela.

Quem é Fábio Marx?

Fábio Marx é uma pessoa um pouco doida. Às vezes, eu não me entendo... Tenho níveis de TDH, ansiedade e tudo o mais, mas, acima de tudo, acho que sonho muito. E cada vez eu sonho mais. Cada vez que alcanço um sonho, quero ir além.

EO CRIADOR DE CONTEÚDO DIGITAL ERIC BORGES, COM MAIS DE 1,7 MILHÃO DE SEGUIDORES NO TIKTOK, DEIXOU PARA TRÁS A CARREIRA DE BAILARINO CLÁSSICO PARA SE DEDICAR ÀS REDES SOCIAIS. DEU CERTO? MUITO. O GOIANO DE 22 ANOS JÁ COLHE FRUTOS DOS CONTRATOS QUE ASSINOU COM VÁRIAS MARCAS

De uma disciplina admirável – Eric Borges gravou 60 vídeos para postar enquanto viajava por 12 países – o estudante de jornalismo, que nasceu no interior de Goiás, numa cidade de 32 mil habitantes, encontrou nas redes sociais uma forma de pôr em prática seu desejo por um fazer jornalístico mais leve. Por trás do sorriso largo, que mostra uma desinibição inicial, a timidez é controlada por meio do bom humor e pela forma com que encara sua trajetória profissional.

A carreira de criador de conteúdo digital é rentável?

Não considero que eu ganhe muito, mas em comparação com a minha família, que é humilde. Minha mãe e meu pai sempre ganharam um salário mínimo. As coisas eram mais complicadas, nunca passei dificuldade, graças a Deus, mas era tudo limitado. Então, ver que fiz uma viagem pra Europa com o meu dinheiro, que comprei meu carro... sim, é rentável.

Que tipo de marcas te procuram para fazer contratos?

Eu estava fazendo muitos vídeos sobre faculdade, por conta da minha realidade, do curso de jornalismo. Então, fiz muita publicidade para faculdades particulares, até pro Bradesco, sobre empréstimo para estudantes, mas fui chamado por diversas marcas, como Spotify, Casas Bahia, Uber, Youcom.

Você leva tudo muito para o humor, mas quando está triste, preocupado, você consegue sorrir diante da câmera do celular?

Eu acho que os meus vídeos têm muito um personagem também, apesar de ser minha personalidade. Eu que escrevo os roteiros, meio que conto historinhas nos vídeos, então, consigo atuar para estar bem naquela hora e fazer aquele vídeo mesmo estando mal. Agora o que pega mais são os stories, que estou mostrando o meu dia a dia, como estou. Não tenho problema nenhum em falar que estou mal.

Onde você nasceu?

No interior de Goiás, em Goiatuba. Uma cidade bem pequenininha, com cerca de 32 mil habitantes. Com 15 anos fui para Uberlândia. Não fui pra estudar, fui por conta do balé. Sou bailarino clássico, fiz balé por 11 anos. Hoje em dia não faço mais. Fiz o ensino médio lá e passei na faculdade de jornalismo.

E por que você parou o balé?

Sempre gostei muito de comunicação, de assistir e de fazer vídeos. E começou a dar certo a questão da internet. Vi que precisava focar realmente em alguma coisa. Minha faculdade era integral e o balé era muito puxado, porque eram de quatro a seis horas por dia. Sabia que se ficasse nos dois, eu não faria nenhuma das duas coisas direito. Eu falei, já que tá dando certo, vou escolher isso [a internet].

E foi fácil essa escolha?

Não muito, ainda tenho muita saudade. Mas não me arrependo. Acho que vivi o que tinha que viver no balé. Hoje ainda danço, faço aulas, mas não de balé clássico, faço jazz, funk. É pra matar a saudade mesmo, mas é como um hobby.

Quanto tempo tem de carreira na internet?

Os primeiros vídeos que postei, eu tinha uns 14 anos, mas não eram profissionais, eram bem ruins. Mas eu acompanhava os influenciadores. Era fã mesmo, do tipo que ia na porta do hotel. É até engraçado isso, hoje em dia, quando encontro com eles. Eu me profissionalizei mesmo na pandemia, em 2020, com o TikTok. Foi quando os meus vídeos começaram a crescer e as marcas começaram a me procurar. E aí, eu vi que realmente dava pra ter isso, não só como uma diversão, mas como um trabalho.

Procurou algum tipo de especialização focada nesse universo?

Nas pesquisas da faculdade sempre tentei me especializar muito nessa área digital. Tanto que o meu TCC é sobre TikTok.

E você é personagem desse TCC? Não, não. Eu foquei na Pequena Lo, no Vittor Fernando e no Isaías.

E como é que você se enxerga formado em jornalismo e trabalhando com as redes sociais?

Acho que o jornalismo me abriu a cabeça pra essa área. Consigo não ser mais tão inocente em relação ao trabalho. Também não ser tão cru. Conseguir desenvolver melhor as coisas.

De que forma?

Na produção de um texto, uma legenda, pra saber falar com o meu público, como atingir certas pessoas. E pra saber também a maneira certa de me comunicar. Sem cometer muitos erros.

E a dança te deu leveza, desinibição?

Sim, mas acho que o principal da dança, que levo comigo até hoje, é a disciplina. Meus professores de balé eram muito rígidos. É realmente o que a gente vê nos filmes. Sou muito focado nessas coisas. Por exemplo, hoje em dia eu posto dois vídeos por dia. Se eu vou viajar, eu gravo todos os meus vídeos antes e deixo pra postar.

Eu não fico sem postar. Fiz uma viagem pra Europa neste ano e fiquei 30 dias passeando. Deixei 60 vídeos gravados para postar de lá.

Você gravou 60 vídeos?

Sim, porque sabia que estaria com meus amigos, meio que de férias. Só que eu não estava de fato. Então, precisava continuar postando, se não meu engajamento iria cair. Sou muito determinado e até me cobro muito. Mas acho que é por conta do balé, pela disciplina que minha professora me ensinou. Sabia que tinha que ter disciplina se eu quisesse chegar em algum lugar, tanto na dança quanto dentro das redes sociais, mesmo quando não ganhava um centavo pra isso.

Você já tinha viajado pra fora do Brasil antes? E o que você mais gostou da viagem?

Não, foi a primeira vez. Gostei de tudo, das culturas muito diferentes, o jeito que as pessoas se tratam também, os lugares bonitos. A gente [ele e seis amigos] foi para 12 países em um mês, foi tudo muito corrido.

Qual o lugar que mais te marcou?

Amsterdã, na Holanda. Como tinha um amigo que morava lá, fomos a lugares além dos pontos turísticos. Quando você vê a cidade com a visão de quem já conhece é completamente diferente.

Você trocaria o Brasil pra morar em Amsterdã?

De jeito nenhum. Eu amo morar aqui, adoro o humor dos brasileiros, os memes, como a gente se comunica. Não tem como traduzir as coisas que a gente fala, é muito difícil.

TQUANDO SE FALA EM TIKTOK LOGO VEM À MENTE AS FAMOSAS DANCINHAS, MAS EXISTEM ALGUNS TALENTOS QUE ESTÃO DESBRAVANDO OUTRAS VERTENTES, COMO A RELAÇÕES PÚBLICAS TASSIANE CRUZ, QUE ANTES DE SE TORNAR UMA CELEBRIDADE NO QUESITO DICAS DE PERFUMARIA, PASSOU PELA AVIAÇÃO E FEZ VOOS ALTOS E BAIXOS ATÉ POUSAR NA CARREIRA DE DIGITAL INFLUENCER COM MAIS DE 1,4 MILHÃO DE SEGUIDORES E 13 MILHÕES DE CURTIDAS

Aos 32 anos, Tassiane Cruz, que nasceu em Campinas, morou no Rio de Janeiro, na Austrália e hoje reside em São Paulo, exibe uma elegância e uma segurança ímpar ao falar sobre o que hoje, com certeza, é o que mais gosta: perfumes. Mas nem sempre foi assim. A digital influencer, que teve mais de 20 milhões de visualizações em um único vídeo no TikTok falando sobre fragrâncias, se viu muitas vezes perdida. Com ajuda do marido, conseguiu enxergar nas redes sociais um espaço para dar um real sentido à vida. Ela se preparou: estudou marketing digital e produção de conteúdo. E seu projeto agora é democratizar a perfumaria, que não deve ser uma coisa restrita. Para ela, o cheiro traduz a personalidade de cada um.

Antes de apostar profissionalmente nas redes sociais, você passou por outras áreas? Sim. Trabalhei como agente de aeroporto. Depois estudei para me tornar comissária de bordo e entrei para trabalhar na Azul [empresa de aviação], mas quando teve o Impeachment da Dilma, eles demitiram várias pessoas e eu fui uma delas. Fiquei meio perdida. Aí decidi ir para a Austrália estudar inglês. Fui feliz para Sidney. Após cinco meses lá, voltei para o Brasil. Vim ver minha avó, que iria fazer uma cirurgia no coração. Ela não resistiu e eu fiquei muito abalada.

E você voltou para a Austrália depois?

Não. Foi um momento muito complicado na minha vida. Deixei para trás duas malas com 50 quilos cheias de roupas, sapatos, coisas minhas, que eu adorava. Mas, ao mesmo tempo, foi libertador. Eu tive de me desapegar das minhas coisas. Foi o pior momento da minha vida também, Estava perdida, confusa e aí voltei a estudar inglês e retornei para a casa da minha mãe. Casei nesta época, em 2017.

Você tem uma vida recheada de mudanças. Como encara isso? Sempre acompanhei a correnteza. Gosto quando alguma coisa incomoda porque você acaba tendo que mudar.

Mas não é fácil encarar algo novo, especialmente quando não se sabe o que quer. Nesta fase você já sabia o que queria fazer? Não. Eu não tinha um caminho a seguir. Pensava em trabalhar com eventos, ou voltar a trabalhar com aviação. Foi mais ou menos um ano de instabilidade. Nesta época também fiquei muito debilitada, doente. Tive o diagnóstico de neutropenia febril. Fiquei internada por 18 dias, recebi alta, mas voltei e fiquei mais dez dias no hospital.

E foi nesta fase que você entrou nas redes sociais, por que?

Abri uma conta no Instagram para me ajudar com a mudança de vida. Mas eu não sabia monetizar e desisti quatro vezes antes das coisas começarem a dar certo. Nesse meio tempo, voltei a trabalhar num escritório de tecnologia. Mas fui muito infeliz. Me sentia numa gaiola. Foi um ano assim.

E quando se libertou dessa gaiola?

Saí em 2020. Pensei que alguma coisa tinha que fazer sentido pra mim. Fui tentar trabalhar em escolas de inglês, mas veio a pandemia. E aí, meu marido me disse: a única coisa que você tem hoje é o Instagram, então, fui fazer um curso de marketing digital e de criador de conteúdo. Escolhi o nicho fitness, depois o de cabelos. No começo achava muito complicado, não estava muito feliz, mas estava me dando um Norte.

E como surgiu a história dos perfumes?

Eu sou muito conectada com as seguidoras. E aí, um dia eu falei de perfumes, questionando porque eu usava o mesmo há 10 anos, o Light Blue, da Dolce & Gabbana. Hoje ele me remete a uma memória olfativa que não gosto, e aí, fui pensando sobre isso. Fui percebendo que cada cheiro tem a ver com o jeito da pessoa, com o tipo de pele.

Você foi para Dubai sem perfumes? Por que? Perguntei para minhas seguidoras sobre o hábito de levar perfumes para viagens. E aí decidi ir sem nenhum, disposta a conhecer novos cheiros. E foi uma experiência incrível, descobri muitas fragrâncias, que são mais amadeiradas. Fui aberta a conhecer coisas novas. Pretendo fazer mais viagens com essa proposta. Até porque foi a primeira vez que usei o dinheiro que ganhei com a carreira de influenciadora. Quero ir para Israel, Madri e Havaí com esta mesma ideia de buscar novos cheiros.

Qual seu top five de perfumes?

Loewe 7, da Loewe; Rose 31, da Le Labo; Escentric 4, da Escentric Molecules; Eudora Royal, da Eudora; Nettare di sole, da Guerlain

E que tipo de perfume você não gosta? Aqueles que ficam impregnados na pele, que dá a impressão que você lava e não fica com cheiro de sabonete. Ou aqueles que têm cheiro de produto de limpeza, com muita lavanda.

E as embalagens, fazem diferença?

Muito. Tem perfume que é muito bom, mas tem embalagem horrível. Sempre fiquei atenta a isso.

Dá para conhecer uma pessoa pelo perfume? Tem perfume para seduzir?

Sim, cada cheiro remete a um estilo de personalidade. Tem os que são para pessoas mais intensas, por exemplo, que são cheiros mais fortes, impactantes. Mas o melhor perfume para seduzir alguém é aquele que se dá com a sua pele.

Têm mulheres que usam perfumes masculinos porque não gostam do cheiro mais adocicado da maioria dos femininos. Qual melhor opção?

Existe hoje a opção dos perfumes unissex. Eles são perfeitos para quem gosta de aromas menos adocicados.

Quais cheiros você mais gosta?

Dos meus cachorros, aquele cheirinho de chulé das patinhas deles ( risos ). Gosto de cheiro de terra molhada, de chuva, de madeira.

E os que não gosta? De gasolina, pimentão e patchouli.

Qual vídeo que você fez que viralizou?

Eu vi que entre minhas seguidoras havia muito interesse por perfumes. Aí fiz um vídeo sobre eles e inspirações. Fez muito sucesso. O segundo vídeo teve muito engajamento, foi um de três minutos que 20 milhões de pessoas viram no TikTok.

Quais são seus projetos agora?

Tornar a perfumaria uma coisa mais acessível. Mostrar que não é supérflua. Quero democratizar a perfumaria, que não deve ser uma coisa restrita. O cheiro traduz a personalidade de cada um e, mesmo não falando francês, dá para entender do assunto. Não tenho pretensão de ser uma especialista em perfumes, mas de traduzir todo este universo para minha seguidoras.

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