Núcleo Museográfico - Casal da Falagueira
Amadora 1900-1920 18 de maio de 2013 a 10 de maio de 2014
Museu Municipal de Arqueologia Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira
Horário de abertura ao público 2.ª a Sábado Das 9h00 às 13h00 e das 14h00 às 17h00 Parque Aventura, Beco do Poço Tel.: 21 436 90 90 e-mail: museu.arqueologia@cm-amadora.pt
Amadora é um dos mais recentes e urbanos municípios portugueses. No entanto, nem sempre foi assim… O Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira apresenta a exposição “Amadora 1900-1920”, que revela o caminho que este território percorreu nas duas primeiras décadas do Século XX. A importância do passado é fundamental para contextualizar o presente e, sobretudo, para conhecermos as nossas raízes. A ruralidade, a importância do caminho de ferro, as atividades da Liga de Melhoramentos da Amadora, o importante papel do associativismo, e tantos outros episódios, concorreram para a passagem da Amadora a Freguesia, em 1916, e para o seu desenvolvimento, processo que contou com a dedicação de cidadãos como Azevedo Neves, Delfim Guimarães e Santos Mattos. A Amadora tem história.
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A importância do passado é fundamental para contextualizar o presente e, sobretudo, para conhecermos as nossas raízes.
O Vereador da Cultura
António Moreira
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Vista aérea do centro da Amadora [1928-1937]. Perspetiva da povoação da Amadora a sul da linha de caminho de ferro que surge em primeiro plano na imagem. No topo vemos a estrada, outrora designada por Estrada Velha de Queluz, atual Rua Gonçalves Ramos que limita a zona urbana. Para além desta existem os campos lavrados onde surgiram os primeiros prédios da Reboleira e, no topo da imagem, os terrenos que à data da foto pertenciam ao Grupo de Esquadrilhas de Aviação República e que atualmente integram a Academia Militar.
Vista aérea do centro da Amadora [1928-1937]. A mesma zona da povoação da Amadora, desta vez numa perspetiva de sul para norte e com uma maior aproximação ao quarteirão Santos Mattos. No canto superior esquerdo da imagem vemos os terrenos fronteiros à estação de caminhos de ferro onde, em 1937, foi inaugurado o Jardim da Amadora, posteriormente designado por Parque Delfim Guimarães. No canto superior direito, a norte da linha do comboio, vemos terrenos lavrados e as primeiras moradias na futura freguesia da Mina.
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O surgimento da Amadora A formação da atual cidade da Amadora teve lugar após a construção da via férrea da linha de Sintra, em 1887. Ligando inicialmente Alcântara a Sintra esta linha foi substancialmente melhorada em 1899, com a conclusão das obras do túnel entre Campolide e o centro de Lisboa e a inauguração da Estação Central do Rossio, em 1890. Este novo meio de transporte, deu origem a um processo de transformação de um território, caracterizado por uma baixa densidade populacional, ocupado por pequenos núcleos rurais, e por quintas e casais agrícolas dispersos. Sobre este período, diz-nos António Santos Coelho “Os ares, por estes sítios, tinham fama de serem puros e livres. Muitos médicos os recomendavam a pessoas doentes, que deles careciam. Com estas recomendações, para cá se transferiram muitas famílias com pessoas doentes; assim como para cá vieram, em definitivo, uns atrás dos outros, muitos dos proprietários de moradias, que as tinham feito unicamente para passar o verão. Assim, lentamente, a Amadora ia-se desenvolvendo.” (1).
A comparação dos censos de 1890 e 1920 mostra a fixação na Amadora de uma população oriunda de outras zonas. Em 1890 a percentagem de habitantes naturais da freguesia de Benfica Extra-Muros era de 68 %, tendo decrescido para 31% em 1920. Inicialmente a Amadora desenvolveu-se na zona a sul do caminho de ferro entre a atual Rua Gonçalves Ramos, a Rua Elias Garcia e a via-férrea. Predominavam as moradias de habitação, normalmente rodeadas por um pequeno jardim, onde era frequente existir um poço com uma bomba acionada por um moinho americano. Mesmo junto à via-férrea foi construída uma grande fábrica de espartilhos da firma Santos Mattos. A fábrica, com projeto inicial datado de 1902, incluía as oficinas de apoio à atividade fabril, as moradias dos industriais e mais tarde os equipamentos culturais e desportivos da Sociedade Recreios Desportivos da Amadora, ocupavam uma vasta área, limitada a norte pela via-férrea, a sul pela Estrada Real, atual Elias Garcia, e a poente pela Av. Amaral, atual Av. Santos Mattos. 5
Estação da Amadora e terrenos agrícolas onde, mais tarde, foram construídos os primeiros edif ícios da atual freguesia da Mina, posterior a 1908.
Carruagem da empresa de carros de aluguer da firma Santos Mattos, frente à estação da Amadora, posterior a 1909.
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Os acessos A urbanização dos terrenos, a norte da estação da Amadora, efetuou-se de forma mais lenta, devido à falta de acessos. A via-férrea cruzava a antiga Estrada Real no local da primeira passagem de nível, numa zona então designada por Quinta Nova. As estradas para Queluz e Belas desenvolviam-se a sul da estação dos comboios e foi esta zona que deu origem ao atual centro da Amadora. Na zona norte, apenas existia um caminho pedonal entre Carenque e a Falagueira, que seguia junto ao Aqueduto das Águas Livres. A urbanização desta área foi empreendida pela Empresa Bairro Parque Ld.ª, formada em 1913 por António Cardoso Lopes que, após a sua morte foi substituído por sua filha, Maria Irene Lopes de Azevedo. À data de formação desta firma, não existia ainda a passagem de nível junto à Estação da Amadora (atualmente também já demolida) e o isolamento destes terrenos a norte era ainda agravado pela existência de talhões agrícolas que impossibilitavam a abertura de estradas.
Aproveitando os recursos disponíveis na sua fábrica, a firma Santos Mattos formou, em 1909, uma empresa de carruagens de aluguer que operava a partir da estação da Amadora, garantindo a acesso às zonas mais afastadas do centro de povoação. “Foi montada esta empresa de carruagens em fins de 1909, e tem prestado muito bons serviços aos habitantes da povoação, que durante anos se viram embaraçados seriamente quando em casos de urgência precisavam de recorrer a um meio de transporte que não fosse o caminho de ferro. “ (2) Poucos anos mais tarde, em 1914, a Carris alargou a recém-criada rede de elétricos até Benfica. Simultaneamente, a mesma empresa pôs em circulação uma carreira de auto-omnibus, ligando Benfica à Amadora. Equipados já com motor, estas viaturas ficaram conhecidos por “carros saloios” e tiveram curta duração.
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Vivenda do Sr. José Aprígio Gomes em 1912 (3). Esta moradia foi adquirida pela Câmara Municipal da Amadora que empreendeu a sua recuperação. Situa-se, entre as atuais Ruas Gonçalves Ramos e Luís de Camões. À data da fotografia estes eram os limites sul da povoação
Casa Roque Gameiro entre 1907 e 1909. Também próximo da Rua Gonçalves Ramos, no extremo sudoeste da Amadora, situava-se a casa do pintor aguarelista Roque Gameiro, rodeada então por campos lavrados. Na imagem pode ver-se a filha mais nova de Roque Gameiro, Mámia, ainda criança.
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Os novos habitantes
Na Amadora, do início do século XX, predominavam as moradias com quintais, destacando-se, entre estas, as casas de Roque Gameiro, de José Aprígio Gomes e o Casal de Santo Humberto, propriedade de Guilherme Eduardo Gomes. Esta última vivenda foi há muito demolida situava-se a norte da estação, entre as Ruas Cândido dos Reis e Henrique Nogueira. No jornal A Amadora, de 14 de abril de 1912, sob o título de “Casa de estilização portuguesa” um extenso artigo refere estas três moradias como um exemplo do que de melhor se construía então na localidade. Guilherme Eduardo Gomes foi um desenhador projetista muito conceituado localmente e responsável pelo projeto da sua própria casa e pela moradia de José Aprígio Gomes, construída em 1905. Homem de avultados recursos financeiros, até à recessão de 1929, Aprígio Gomes teve uma
importante ação de benemérito contribuindo para muitos melhoramentos locais e para associações de beneficência da Amadora. A mais importante destas três moradias era a Casa de Roque Gameiro. O seu projeto inicial data de 1898 e é da autoria do próprio Roque Gameiro. Dois anos mais tarde, Raul Lino concebeu a ampliação do edifício cujas obras foram concluídas em 1901, sendo, eventualmente, o seu primeiro projeto com execução em obra. Nas zonas da casa projetadas por Roque Gameiro o interior é revestido a azulejos de padrão, na sua maioria de produção semi-industrial própria da época, com exceção da sala de jantar, decorada com azulejos da fábrica das Caldas da Rainha, da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro. Adquirida e recuperada pela Câmara Municipal da Amadora a Casa está atualmente aberta ao público como equipamento cultural e encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público. 9
Primeira página do jornal O Século Agrícola de 18 de janeiro de 1913, dedicado à Festa da Árvore na Amadora onde figuram os membros da Comissão Executiva da Liga de Melhoramentos da Amadora. Em cima, da esquerda para a direita: Inácio Santos, Inocêncio Madeira, Azevedo Neves, João de Araújo Morais e Ricardo Alberty; Em baixo também da esquerda para a direita: António Rodrigues Correia, José dos Santos Mattos, Delfim Guimarães e Joaquim da Costa Nunes.
Carro da Agricultura no desfile da Festa da Árvore na Amadora, em 1913, na Rua Elias Garcia junto à Quinta do Assentista.
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A Liga de Melhoramentos da Amadora No princípio do século XX, surgiu em Portugal um movimento cívico e cultural em torno dos benefícios da Árvore e da Floresta. Dando primazia à educação cívica e ambiental, este movimento tomou forma nas celebrações das Festas da Árvore, que se realizaram em diferentes localidades do país, entre 1907 e 1917. Respondendo a apelos de organizações republicanas e da imprensa nacional, nomeadamente O Século e mais tarde O Século Agrícola, entidades públicas e privadas, escolas e associações mobilizaram-se localmente para a organização de eventos festivos onde se procedia à plantação de árvores, aos desfiles de carros alegóricos, a sessões com discursos de propaganda e a favor da árvore, entre outras ações. Na Amadora, a primeira destas festas realizou-se em 1909, nos dias 29 de março a 4 de abril, e a sua comissão organizadora deu origem à formação, em agosto desse ano, da Liga de Melhoramentos da Amadora. Esta associação que funcionou até à criação da Freguesia da Amadora, em 1917/18, foi extremamente ativa e responsável por uma série de ações em prol da localidade. Contava com cerca de
uma centena de sócios e era dirigida por uma Comissão Executiva onde se destacam os nomes de Azevedo Neves, Delfim Guimarães, José Santos Mattos e João de Araújo Morais. A implantação da República, em 1910, veio criar condições propícias para o pleno desenvolvimento da atividade da Liga, que interveio nos domínios da instrução pública, da criação de parques e jardins, iluminação de ruas, toponímia, abastecimento de água e serviços de recolha de lixo. Ainda em tempos da Monarquia, a Liga promoveu a realização da segunda Festa da Árvore na Amadora. Teve lugar a 29 de maio de 1910 e constou de um desfile de carros alegóricos, plantação de árvores e distribuição de géneros alimentares e outros donativos a crianças e famílias carenciadas da povoação e seus arredores. Na primavera de 1913, a Festa da Árvore na Amadora deu lugar a dois eventos. O primeiro decorreu em março, no dia 9, correspondendo ao apelo do Século Agrícola que estipulou este dia para a comemoração da Festa Nacional da Árvore. 11
Inauguração das instalações da “Água da Mina” pelo Presidente da República Manuel de Arriaga durante a festa de 13 de abril de 1913.
Edif ício da Escola Maria Pinto, situado no Bairro da Mina e atualmente já demolido, s/data. Primitivamente esta escola situava-se a sul do caminho de ferro, na Venteira, onde chegou a dispor de instalações construídas para o efeito. Posteriormente transferiu-se para esta vivenda no Bairro da Mina.
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Ainda em 1913, a 13 de abril, teve lugar uma segunda festa denominada “Grande Festa da Amadora consagrada à Arvore e às Escolas”. Foi programada pela Liga com muita antecedência e coincidiu com inaugurações solenes de novos equipamentos. Com a presença do então Presidente da República, Manuel de Arriaga, procedeu-se à inauguração das novas instalações de exploração da água da Mina. Esta construção, que ainda existe na Bairro da Mina, imita uma gruta natural onde jorrava a água mineral denominada da Mina, que era conduzida através de uma galeria subterrânea com cerca de 200 metros, desde a nascente até à entrada da gruta. Nessa mesma tarde foi também inaugurada a nova escola primária oficial, situada na Rua Elias Garcia, próximo da antiga passagem de nível do comboio, no edifício vulgarmente designado por “O Palácio”. O mobiliário desta escola foi adquirido com o produto de uma subscrição promovida pela Liga dos Melhoramentos. A sessão solene foi presidida pelo Dr. Manuel de Arriaga que, da varanda da escola assistiu ao grande cortejo de carros alegóricos. Para
uma população de dimensões reduzidas a Amadora tinha então um considerável número de escolas. Embora as Escolas oficiais (divididas em secções masculina e feminina) estivessem, até à inauguração das novas instalações mistas, em 1913, a funcionar em condições precárias, havia outros estabelecimentos de ensino privado. O mais antigo era a Escola Maria Pinto, fundada em 1902. Em 1907 esta escola passou a dispor de instalações construídas para o efeito e, a esta data, tinha condições para receber crianças internas e semiinternas. Sendo uma escola mista era no entanto frequentada maioritariamente por crianças do sexo feminino. Em 1912, estava em projeto a criação de uma aula maternal para crianças dos 4 aos 6 anos onde se previa também facultar ensino gratuito para os filhos de famílias carenciadas. O ensino primário gratuito era, também, ministrado no Centro Escolar Republicano fundado em 1909 e situado na Rua 5 de outubro. De acordo com o jornal A Amadora, de 14 de abril de 1912, esta escola era bastante procurada contando, nesse ano, com cerca de 60 alunos de ambos os sexos. 13
Escola Alexandre Herculano. Sala de aula onde eram lecionadas as disciplinas de desenho, pintura e trabalhos manuais e onde estĂŁo expostos os trabalhos dos alunos, s/data.
Interior do Quartel dos Bombeiros VoluntĂĄrios da Amadora, em 1912.
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O Associativismo A Escola Alexandre Herculano, foi criada na Amadora, a 3 de outubro de 1910, por iniciativa de um grupo de moradores organizados numa Sociedade de Instrução. Era administrada por uma comissão constituída por Alfredo Roque Gameiro, António Rodrigues Correia, Delfim de Brito Guimarães, Inocêncio Madeira, João de Araújo Moraes, José dos Santos Mattos e Manoel da Silva Lírio, todos eles membros da Liga de Melhoramentos e alguns também membros da sua Comissão Executiva. Era frequentada por um número limitado de crianças, quase todos filhos dos instituidores. Nos seus primeiros anos de funcionamento, a Escola Alexandre Herculano era reservada a uma elite local e foi criada especificamente para esse fim. As aulas de desenho e de pintura eram lecionadas pelo próprio Roque Gameiro que mais tarde foi substituído por sua filha mais velha Raquel. Para além da instrução básica e do desenho os alunos da escola poderiam ainda frequentar uma série de disciplinas, que na época, eram imprescindíveis na educação das crianças dos grupos sociais mais privilegiados. Francês, conversação francesa, música,
piano e bordados para as meninas, eram disso exemplo. Na Amadora do princípio do século XX, havia uma intensa atividade associativa cuja herança chega até aos nossos dias. A Sociedade Filarmónica Recreios Artísticos da Amadora, a mais antiga coletividade do Município, foi fundada em 1879 e estava ainda ligada à velha povoação da Porcalhota que se desenvolveu no século XIX ao longo da Estrada Real de Sintra, atual Rua Elias Garcia. Já depois da abertura do caminho de ferro, em 1904, formou-se a Associação dos Bombeiros Voluntários da Amadora. Por volta de 1912, faziam parte dos seus corpos dirigentes as mesmas personalidades locais que se encontravam à frente da Liga dos Melhoramentos. Nesta mesma data dispunha de um corpo de cerca de 26 bombeiros e estava razoavelmente equipada, dispondo de um bom quartel em edifício construído especificamente para o efeito. Ainda em 1912 o jornal A Amadora assinala que “A lista dos serviços prestados pela corporação dos bombeiros voluntários já não é pequena, e tem-se estendido às povoações convisinhas da Amadora” (4). 15
A Fábrica de Espartilhos Santos Mattos, dia 30 de abril de 1911, quando recebeu a visita do Dr. Brito Camacho. Poucos meses depois da instauração da República o então Ministro do Fomento deslocou-se à Amadora para uma visita oficial à Fábrica e inauguração da Av. da República.
Primeira página do jornal A Amadora, de 14 de abril de 1912, comemorativo da inauguração dos Recreios Desportivos da Amadora. A publicação deste jornal que assinalou a abertura dos campos de jogos dos Recreios Desportivos da Amadora, foi patrocinada pela firma Santos Mattos. Gratuitamente, este periódico foi distribuído em Lisboa e em vários pontos do país.
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Santos Mattos A pequena oficina que a firma Santos Mattos instalou na Amadora, em 1895, junto à linha de caminho ferro, teve um crescimento vertiginoso dando lugar, no principio do século XX, a uma moderna fábrica de Espartilhos “a vapor”, com instalações construídas para o efeito e equipada com maquinaria inovadora em Portugal. Em 1912 esta fábrica era considerada a maior da península no ramo, empregando cerca de 300 operários, na sua maioria mulheres e tinha uma produção anual de 80.000 espartilhos. Dispondo de uma loja na Rua do Ouro, a firma comercializava os seus diversos produtos, tanto através da venda direta como da sua distribuição junto de outras firmas, em todo o país e ilhas. O aparecimento e crescimento destas primeiras indústrias de confeções insere-se, num nível mais global, na formação e desenvolvimento em Portugal de uma primeira fase da sociedade de consumo, de que os grandes Armazéns do Grandela são o exemplo mais emblemático. A importância local da fábrica dos espartilhos foi enorme e deve-se, em grande medida, ao próprio empenho dos industriais no desenvolvimento da
terra. Numa atitude pouco vulgar para a época a firma Santos Mattos promoveu a construção, nos terrenos contíguos da fábrica, de um campo de ténis, um rinque de patinagem e um salão de festas. Para a gestão destes equipamentos criou a Sociedade Recreios Desportivos da Amadora, constituída por sócios tanto da Amadora como dos seus arredores e Lisboa. O grande impacto que as várias iniciativas dos Recreios tiveram na imprensa nacional contribuiu, em muito, para o desenvolvimento da terra. Naturalmente que a firma promovia também a sua imagem através da publicitação das festas e provas desportivas da Amadora, numa atitude em tudo semelhante ao mecenato cultural. Instalações fabris, equipamentos dos Recreios Desportivos e habitações dos industriais ocupavam uma extensa área no centro da Amadora. Por volta de 1917, este complexo passou a dispor de eletricidade para iluminação e para a maquinaria da fábrica. A energia era gerada por um gigantesco moinho de vento, semelhante aos moinhos americanos utilizados para bombear água dos poços. 17
Concurso de balões-piloto organizado conjuntamente pelos Recreios Desportivos da Amadora, O Século e o Aéro Clube de Portugal, a 17 de agosto de 1913.
Edif ício do salão de festas dos Recreios Desportivos da Amadora, inaugurado a 17 de agosto de 1914, s/data.
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Atividade Cultural Com os novos equipamentos dos Recreios, a Amadora passou a dispor, sobretudo nos meses de verão, de programas desportivos, recreativos e culturais regulares. Estância de veraneio para muitos, zona de residência de algumas prestigiadas figuras dos meios intelectuais e artísticos da capital, a Amadora passou a ser frequentada por muitos lisboetas que aqui se deslocavam nas suas horas de lazer. Para algumas iniciativas importantes que terminaram a horas tardias, chegou a haver comboios especiais, que, com partida da Amadora, garantiam o regresso a Lisboa aos utentes dos Recreios. Em 1915, a sociedade dispunha também de um ginásio, situado junto ao campo de ténis e projetava a criação de uma carreira de tiro e de um campo de futebol, situados fora do quarteirão Santos Mattos. Um ano mais tarde, inaugura-se este campo de futebol, situado nos terrenos atualmente pertencentes à Academia Militar. Ao longo de todo o ano de 1916, a Amadora foi frequentemente mencionada na imprensa diária a propósito das suas festas e acontecimentos desportivos. Muitos dos eventos nos Recreios tinham por objetivo angariar fundos para organizações de apoio ao esforço de guerra. O conflito que assolava a
Europa e em que Portugal passou a estar envolvido, a partir de 1916, teve consequências devastadoras na já frágil economia nacional. A partir de final deste ano, as festas e atividades recreativas da Amadora tornaram-se insustentáveis, na conjuntura de crise financeira que afetava todo país. A carência de combustíveis, nomeadamente o carvão, teve como consequência a diminuição do número de comboios em circulação. A Amadora passou a estar mal servida de transportes, com poucas circulações diárias de comboios. Os elétricos chegavam apenas até Benfica e os transportes coletivos rodoviários só tiveram carácter regular no final da década de vinte. A partir de 1919, a Amadora voltou a ser uma povoação muito conhecida e falada na imprensa diária mas, desta vez, ligada à história da aeronáutica militar em Portugal. Nos terrenos onde esteve o campo de futebol dos Recreios, foi instalada a primeira unidade militar de aeronáutica – O Grupo de Esquadrilhas de Aviação República. Estava encerrado um primeiro capítulo da história local, estreitamente ligado ao desenvolvimento dos meios de transportes em fins de oitocentos e aos movimentos políticos e ideológicos da Primeira República. 19
O Presidente da Républica Bernardino Machado na chegada à Amadora, para assistir aos jogos finais do torneio de futebol militar, dia 18 de junho de 1916. As duas taças, “Exército” e “Armada”, foram disputadas no campo dos Recreios Desportivos da Amadora.
Aspeto da Av. da República, entre 1912 e 1914. Ao fundo vê-se o início da Rua 1 º de dezembro e, à esquerda, o terreno murado onde veio a ser construído o Parque Delfim Guimarães, inaugurado em 1937.
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Notas (1) – COELHO, António Santos, Subsídios para a História da Amadora, Câmara Municipal da Amadora, 1982, p. 48 (2) - A Amadora – Jornal comemorativo da inauguração dos Recreios Desportivos da Amadora, Ed. Liga dos Melhoramentos da Amadora, 14 de abril de 1912, p. 5. (3) – Idem, p.7 (4) – Idem, p.6.
Bibliografia A AMADORA – Jornal comemorativo da inauguração dos Recreios Desportivos da Amadora, Ed. Liga dos Melhoramentos da Amadora, 14 de abril de 1912; Jornal comemorativo do 3º Aniversário dos Recreios Desportivos da Amadora, Ed. Luís Andrade, Publicação dos Recreios Desportivos da Amadora, 14 de abril de 1915; Ed. De um grupo de sócios do Ginásio Clube Português e dos Recreios Desportivos da Amadora, 4 de setembro de 1915. CALLIXTO, Vasco, Páginas da História da Amadora, Câmara Municipal da Amadora, 1987. Artigos: “Breve História dos meios de transporte da Amadora”, p.49; “A Festa da árvore e das Escolas e a inauguração do Bairro de Mina”, p. 55. COELHO, António Santos, Subsídios para a História da Amadora, Câmara Municipal da Amadora, 1982. DIAS, Dulce Helena, A Imprensa como fonte de história – a Amadora de 1900 a 1925, Relatório de estágio, trabalho policopiado, Amadora, 1987. LOPES, António Cardoso, Apontamentos para a história da Amadora, Memórias de António Cardoso Lopes, Câmara Municipal da Amadora, 1989. Relatório e Contas da Comissão Executiva da Liga de Melhoramentos da Amadora, Exercício de 1909 a 1910, Porto, 1911. Relatório e Contas da Comissão Executiva da Liga de Melhoramentos da Amadora, Exercício de 1911, Lisboa, 1912. Relatório e Contas da Comissão Executiva da Liga de Melhoramentos da Amadora, Exercício de 1912 e 1913, Lisboa, 1914.
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FICHA TÉCNICA Organização Câmara Municipal da Amadora DEC/Divisão da Cultura, Desporto e Juventude Museu Municipal de Arqueologia / Núcleo Museográfico do Casal da Falagueira Coordenação Gisela Encarnação Textos Gabriela Xavier Selecção de imagens Gabriela Xavier Gisela Encarnação Jorge Lucas Concepção Gráfica e Paginação do Catálogo GIRP / GDC / Paulo Augusto Caldeira Impressão e Acabamento GIRP - Oficinas Gráficas - Câmara Municipal da Amadora
1ª edição - CMA - maio 2008 3ª edição, revista - CMA - maio 2013
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