Notícias da Marioneta #6

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Notícias da Marioneta NM6 março 2022

museudamarioneta.pt

O PODER DA MARIONETA A publicação do Museu da Marioneta renova-se para trazer notícias sobre o mundo das marionetas. Neste número, refletimos sobre o poder das marionetas na vida das pessoas que com elas se relacionam.



“O poMarcelo d er dos museus” é o tema do dia dos Museus, d enido para 20 pelo ICOM (Internacional o C uncil of Museums). E porque somos um museu d e marionetas e máscaras d e várias partes do mundo pensámos n o “pod er da marioneta”, como uma das múltiplas e v rtentes do pod er das Artes à qual hoje em dia a maioria das pesoas aced e, em grand e parte, graças aos museus.

O“ o p e d ra d a m rioe n a t ” é asmis o e t a m o d ºn 6 a d o N( cít a i sa d Marioe n a t ,) lbup ci aço ã e uq rus e g agora com a mu o n av conrug aço ã : rt e mi rts al, em e v rso ã a p e p l, a p ra a p rtli a h r com o lbúp ci o o e uq e s a p a s e d rtn o e o f ra o d Mue s ua n arte a d a m rioe n a t ea d csám ara. Aa m rioe n a t ,a t l como a csám ara, e t ma mu a p rtci lu aria d e d o n o tibmâ a d a us e sum alia z o ãç e uq é a a us lpud a a n rratavi . Ae p a ç o / e jb o t e uq e v o m so n e su m u a f za p rte o d a p rt o inóm a m e t rial, a m saa us excnêtsi a i e litu a zi o ãç o n cone t o tx à a uq l e s e d a nits – o e t atro e d( a m rioe n a t )s – e di caitn e s com oe vinu rso o d a p rt o inóm a mi e t rial. É e n e ts crua z e m o tn enrt e oa t e vígn l e o a tni e vígn l e uq acone t ce o o p e d ra d a m rioe n a t . É aq,iu o n enconrt o enrt e o obe j o t eoa m lupin ador e uq lhe ád a div , e b m como o n s efeo ti s e uq a a us ata u o ãç rp ovoca o n lbúp ci o, e uq a b e t o coraço ã a d a m rioe n a t . o P ro tium apelatavi e uq a a m rioe n a t o p a s e s ro d o p o tn e d a tsiv rótsih ci o, escité o, ou até a n a us a n rratavi , e s m a rp esea çn , a aço ã ,oo s ,m as a p lavras, a cisúm a e a e tni raço ã com o lbúp ci o, a a m rioe n a t ,e d luav , e d av ra, e d os ou e d a m lupin aço ã àa tsiv , é mu obe j o t e ni rte, mu o b e n co, a mu e p a ç o m ldaa d , esclu a dip , cosrut ada, enrt e a tium s ourt as cét cin as e d conrts o ãçu .

a mU a d sa m si av lias o d Mue s ua d Marioe n a t é a relaço ã esrt eia t e uq , e d e ds a a us a dnuf o ãç em ,102 e d e s o vn lve com a m rioe n a tsi ,s e uq enconrt am o n e sum u mu esa p o ç e d aço ã a p ra a a us arte. a N e vid rsa di e d e d o p libs a di e d s e d a m lupin aço ã ee d repertró o i ,s a a m rioe n a t ,o sidn cie vá l o d a m rioe n a tsi , e t mo dis ao lono g o d s lú o mit s anos recetavi ao n av s o f rmas e rp oceso s cét cin os e uq a e nu m cada e v za m si àe p rformacn e, à a d a çn , ou ao cie n a m . áH efeavit e m e tn o n e t atro e d a m rioe n a t s mu o p e d r rt ano fs rmao d re ni( rene t ao e t atro em ,is e uq r e s a j e d a m rioe n a t s ou o ãn ,) rt ane vs rsal ao t a d s as a f a xi s etrá a i s e cone t o tx s culrut ai.s O ator e vísin“ l” exrp e mi e s- atravsé e d mu e p rsoa n e g me uq é mu o p cu o e d o t o d s ,són e e uq e s revela, lirv e, o s lto, ao rio mt o d e s ua t leno t ea mi a ni g o ãç . ét A e m ados o d cés lu o X a a m rioe n a t era a uq e s e s rpm e cone dis rada a mu a “ rte e m o n r”, mu e vid rte mi o tn e d rua, ese s cn a i lmee tn lúcid o, cuo j csid ru o s o ãn era levao d a rés o i . e tsE a f cto, e uq o p r mu lado rp ejcidu ava os a m rioe n a tsi ,s o p r ourt o, e d u sà artes a d a m rioe n a t oo p e d ra d a p lavra, e a lie b rdae d a p ra o p e d rem e zid r o e uq a tiu m s e v e z so ãn era e p rmo dit em círculos a m si ociasi ou eruo tid .s a N cni oncnâts a i e d a ts a ud lia d e d ,ae v rdae d ée uq a a m rioe n a t o p e d e s r lúcid a, a s rít ci a, revoluco i rán a i ,e vbus rsavi , o p cité a, erua tid ou o p lup ar, e p a d cigó a e e t rapcituê a. E em o t a d s esa t s e v rtee tn s e t mo dis ao lono g o d se t o pm s mu e m o i rp liv ega i o d e d rp ojea t rea p rtli a h re uq o its a n e m o tn ,s abordar a t ,sub crena ç ,s emoe õç ,s a mun lia ugn e g me tni o pm ral e uq a id loga com o t a d s as e g raçe õ see vín si culrut ai.s aP ra a f lar o d o p e d ra d a m rioe n a t , o Mue s u cono div u Marcelo a L o f a tn a n ,a m rioe n a tsi , eso idut o s a d arte a d a m rioe n a t ea dnuf o d ra d o C a pm a ihn a L o f a tn a n – –o F rmas a minA a d .s É a t méb em o t rno o d o p e t cn a i la d a m rioe n a t e uq e s e d e s o vn lve o rp ojeo t M “ e su u à e m a di ,” a mu a d s ráv a i s rá eas e d rt abalho a d eqa piu o d e S rvo çi cud E ato vi o d Mue s ,u artré a i a dnuf e m a tn l a p ra a f e z r acone t cer o o p e d r o d se su m .su o N o m e m o tn em e uq e s rp epara esa t edo ãçi aso mits s à avni o ãs a d cU râa in e p la a is úR . a mU e ug rra e t rríe v l, a e s riug àa uq l o o dnu m e s rá e fid rene t . E relemrb emos e uq o f i áh 21 ano,s em ,012 e uq aP lv a o D rbm ova ks encenou o ese p cát lu o e d a m rioe n a t s nituP o n esiuq , apresea tn o d o n e t atro checo aviD ld o e síL .n A e p a ç ,a b e s ada o n se t o tx s e d mU ráid o i ruo s escrio t se p la o j rnalia ts e ata tsiv rua s a nA o P lio kt a ksv ay , asa s a nis a d em ,602 apresea tn av a mu crícit a o tiu m o f rte ao rp ese di e tn ruo s ,o tsiv como mu a tid o d r com rg ane d s ame õçib s e d exa p o ãsn e d répmi o i .e N e ts o m e m o tn a e p a ç esát o n av e m e tn em cena o n e m o ms e t atro. sA receia t s revertem a p ra refa i gu o d s a d cU râa in . a nA aP lu a e R e b lo o C rreia riD etora

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No mundo das marionetas Nova Iorque

Chile

Marionetas de volta

Muñecoterapia

ao Central Park Espetáculo Fechado desde março de 2020, o Swedish Cottage Marionette Theatre reabriu quase dois anos depois, em fevereiro deste ano. Conhecida por apresentar clássicos para crianças, a sala abriu portas com uma nova produção. Wake Up, Daisy! é uma apresentação contemporânea da Bela Adormecida que transporta a personagem principal para um bairro nova iorquino no tempo presente.

Porto

Jardineiro imaginário Espetáculo As Marionetas do Porto voltam ao Teatro de Belomonte no final de março. Jardineiro imaginário é a nova criação da companhia. O espetáculo tem literalmente um início poético: partiu da leitura da antologia de poemas surrealistas traduzidos do francês por Regina Guimarães. A imaginação livre dos surrealistas é agora levada à cena com dois atores e marionetas num encontro com o público que procura fazer “ecoar inquietações, pensamentos, matérias soltas, pedaços de vida”, escreve Isabel Barros, diretora artística das Marionetas do Porto. 31 de março a 16 de abril | Teatro de Belomonte

Imagem do espetáculo Jardineiro imaginário, Teatro de Marionetas do Porto Fotografia do Paulo Pimenta

Formação Os encontros, cursos, conversas online a que nos habituámos durante a pandemia vieram transpor fronteiras até continentais. A Muñecoterapia Chile organiza a 11ª edição do curso de formação para aprofundar o trabalho com marionetas, ferramentas artísticas geradoras de transformações profundas. Marionetas e teatro, marionetas como testemunhos de mudança social, marionetas e neurociência e o poder das marionetas são alguns dos temas abordados nos webinars. São 125 horas de formação online, no fuso horário chileno. A participação dá acesso a um Diploma Internacional em Terapia com Marionetas.

Festivais de marionetas em Portugal e outros países

MO - Festival de Marionetas de Oeiras 1 a 5 de junho Oeiras

FIMFA - Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas 13 a de maio a 5 de junho Lisboa

9 de abril a 16 de julho Online no Zoom Com o apoio da UNIMA Mais informações munecoterapiachile@gmail.com e munecoterapia.cl

FIMO - Festival Internacional de Marionetas de Ovar 10, 11 e 12 de junho Ovar

Puppet Animation Festival 28 de março a 16 de abril Reino Unido

Encontro Internacional de Marionetas Montemor-o-Novo 1 e 2 junho Montemor-o-Novo



TEMA - O PODER DA MARIONETA

Marionetas interventivas O que pode fazer um Serviço Educativo Susana Alves, equipa do Serviço Educativo do Museu da Marioneta

Uma visita ao Museu da Marioneta pode levar-nos para outros horizontes. Em setembro de 2021, um pedido de visita ao Museu da Marioneta, aparentemente igual a tantos outros, acabou por ser o início de um percurso muito importante para várias pessoas.

As marionetas de São Lourenço, muito particulares, foram o objeto mediador e passaram a fazer parte do encontro entre todos os envolvidos: o grupo que frequenta o Centro Comunitário de Saúde Mental de Odivelas, a equipa terapêutica que os acompanha e a equipa do Museu da Marioneta. Entre o Museu e este Centro, ao longo de alguns meses, confirmaram-se as potencialidades terapêuticas das marionetas, identificadas e reconhecidas ao longo do século XX por médicos, psicólogos, e outras pessoas ligadas à e saúde mental. Desde as suas origens ligadas a rituais e a práticas ancestrais de saúde, as marionetas sempre representaram um instrumento de auxílio nesta área do comportamento humano. Na década de 30 do século passado surgiram, pela mão da psicanalista suíça Madeleine Rambert, os primeiros registos científicos da utilização da marioneta em práticas terapêuticas na área da psicologia e da psiquiatria.

Marionetas criadas pelos participantes e equipa do Serviço Educativo durante o projeto Museu à Medida


Rambert trabalhou sobretudo na área das neuroses infantis acreditando que “(a marioneta) é um meio de transferência muito importante que facilita a expressão dos sentimentos inconscientes da criança. É, de certa forma, a materialização de um corpo no qual a criança projeta a sua alma”. Também no mesmo período e igualmente na área infantil, a pediatra Margaret Lowenfeld apresentou à Sociedade Britânica de Psicologia o seu instrumento de diagnóstico e terapêutico World Technique onde usava bandejas com areia e brinquedos como meios para as representações dos mundos interiores. Anos mais tarde, na segunda metade do século XX, do outro lado do Atlântico, o médico Jaime Rojas-Bérmudez também usou a marioneta em contextos terapêuticos com adultos. Este psiquiatra de origem colombiana a residir em Buenos Aires foi profundamente influenciado por Levy Moreno, criador do Psicodrama e pioneiro na terapia de grupo. Durante a década de 1960, Rojas-Bérmudez desenvolveu a técnica de construção de imagens psicodramáticas que, até hoje, tem sido uma linha de orientação para terapeutas em várias partes do mundo.

Resultado de anos de investigação, há centenas de trabalhos publicados sobre a temática das práticas terapêuticas com marionetas. Este tipo de práticas permite que o paciente transfira para o objeto (a marioneta) tudo aquilo que de forma consciente e direta não conseguia exprimir. Através desta transferência, o canal de comunicação entre médico e paciente e entre o paciente com o seu Eu (interior) aumenta exponencialmente, facilitando o desenvolvimento do processo terapêutico e, sobretudo, trazendo uma melhoria significativa à qualidade de vida do paciente. No seu livro Títeres en la clinica ou el regresso de la Preciosa (1995), a terapeuta e investigadora chilena Marta Fernández refere: “A cura está na capacidade que as marionetas nos dão para nos conectarmos com qualidades que fomos perdendo de vista, e assim que recuperamos, passamos a estar de mão dada pelos caminhos do humano, do simples, do espanto e do riso”.

Uma outra maneira de dizer que não é só em palco, no seu contexto primordial de entretenimento, que as marionetas podem promover a empatia: este poder empático foi identificado pela psiquiatria. As marionetas potenciavam, no contacto com o paciente, uma maior liberdade de raciocínios, de partilhas emocionais, de conforto e confiança. E os benefícios na saúde mental dos pacientes tornaram-se cada vez mais evidentes. “Museu à medida” com o Centro Comunitário de Saúde Mental de Odivelas Em setembro de 2021 o Museu da Marioneta foi contactado por uma terapeuta do Centro Hospitalar de Lisboa, a solicitar uma visita guiada ao Museu para um grupo de utentes do Centro Comunitário de Saúde Mental de Odivelas. Após a visita, e perante a curiosidade dos visitantes, a terapeuta falou com a equipa do Serviço Educativo (SE) e lançou-se na aventura de um projeto de continuidade com o Museu. “Museu à medida” foi a proposta para este desafio. Depois de um primeiro contacto com o universo das marionetas, já com o projeto delineado, os participantes escolheram sem hesitação para objeto de trabalho as marionetas de São Lourenço. A escolha da técnica de manipulação – – a manipulação à vista – foi para todos um desafio, tanto pela construção de cada uma das personagens como, depois, pela manipulação das mesmas. O ator, todo vestido de preto, “desaparece” deixando apenas visível a marioneta que ele “veste” e manipula, com os seus braços e mãos. Nesta invisibilidade, o corpo do ator é convocado por inteiro para dar vida à marioneta. Através de uma equipa multidisciplinar o projeto ganhou uma dinâmica própria, com um calendário de diversas valências e etapas: construção plástica, incorporação de movimento e dança, encenação e apresentação. O processo dos participantes foi permanentemente acompanhado pelas terapeutas em estreita ligação com os restantes profissionais na área de psicologia do Centro Hospitalar. À medida e ao ritmo de cada um, foram surgindo as personagens, construiu-se a narrativa, projetou-se o espaço cénico de uma pequena peça de teatro intitulada Aldeia da Serra. NM6 março 2022 P7


TEMA - O POD ER DA MARIONETA

Foram ultrapassados medos, superadas dúvidas, alcançadas metas. A partilha, a confiança, o potencial de cada um, revelavam-se em cada sessão do projeto. Os participantes conceberam as marionetas, deram-lhes vida, delinearam a narrativa, ultrapassaram a timidez e apresentaram o espetáculo perante uma plateia. Tantas formas de explorar um acervo Projetos como este consolidam a razão de ser de um museu: disponibilizar o seu acervo e suscitar a partilha de conhecimentos e descobertas, mas também criar pontes e relações entre as pessoas, surgindo desse encontro possibilidades transformadoras. A equipa do Serviço Educativo do Museu da Marioneta tem como missão partilhar e dar a conhecer as potencialidades da arte da marioneta. O conjunto de propostas é vasto, dirigido a um leque alargado de públicos, com idades, contextos e necessidades diferentes. Estas atividades traduzem-se não

só nas visitas, mas também em oficinas criativas, ateliês de longa duração, encontros, debates, exposições e espetáculos. Nas oficinas dinamizadas pela equipa do museu descobrem-se e aprendem-se as técnicas de construção e manipulação de marionetas, aborda-se o poder da palavra e da ação de “dar vida” ao objeto inanimado. E se esta abordagem é sobretudo de caráter criativo e lúdico, numa perspetiva mais particular e aprofundada do trabalho com marionetas, estas oficinas têm uma significativa intervenção no desenvolvimento de competências várias, afetivas ou psicomotoras. São um estímulo para a criatividade, para a palavra e para o diálogo. As oficinas realizadas em contexto hospitalar são exemplos particularmente expressivos. Em formato presencial ou online, o Serviço Educativo do Museu tem vindo a trabalhar desde há quatro anos nesta área. Conceção e acompanhamento do projeto: Filipa Camacho e Susana Alves. Som e luz do espetáculo final: Rui Seabra

MUSEU À MEDIDA

Desenhos preparatórios e conceção das personagens pelos participantes no projeto.

Às vezes um encontro não é suficiente. Por isso foi criado o projeto “Museu à medida”, em que o Museu da Marioneta convida escolas e outras instituições para projetos de longa duração. A equipa do Serviço Educativo, em conjunto com a entidade interessada, desenvolve, durante um período temporal não inferior a dois meses, a construção de um projeto em torno da arte da marioneta. O processo de trabalho abrange todas as áreas dessa construção coletiva desde a conceção e criação da narrativa, passando pela construção das marionetas, desenvolvimento cénico e dramatúrgico, encenação e apresentação final do projeto. Nas salas do Museu podemos ver peças muito diferentes, e podemos apreendê-las também de maneiras muito diversas: pela sua história, pela sua configuração formal e estética, pelas narrativas a que estão associadas, entre muitas outras características. É destas diferentes leituras que surgem curiosidades, questões, memórias pessoais ou partilhadas. No “Museu à medida” todo este processo acontece numa relação de continuidade e, consequentemente, mais aprofundada, onde os participantes sentem e vivem os vários potenciais da arte da marioneta, transversal a muitas vertentes.


“Quem sou eu e quem quero que a minha personagem seja?” Sinto que crescemos como grupo em união e solidariedade. o F i um prazer (…) pelo grau de dedicação, ideias, divertimentos e outras ajudas. Trabalhar num projeto desta escala foi uma experiência complexa e rica. o F i uma aventura de dentro para fora, de outro mundo (só nosso) para o real. Transformou-se em algo que flcará para sempre na minha memória.

O eC ntro oC munitário de Saúde Mental em Odivelas é uma estrutura pública, pertencente ao eC ntro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa que fornece cuidados de saúde mental e psiquiatria à população adulta do distrito de Lisboa. Entre os vários serviços que o CSMO oferece encontra-se a valência de Área de Dia que consiste num programa de reabilitação psicossocial de grupo, cujo objetivo flnal é a capacitação e o empoderamento de pessoas que se encontram a vivenciar algum tipo de fragilidade mental que lhes limita ou impossibilita uma integração social, familiar ou proflssional satisfatória.

oF to da apresentação da peça Aldeia da Serra , uma povoação portuguesa atingida por um longo inverno que leva os seus habitantes à reclusão e isolamento.

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TEMA - O PODER DA MARIONETA

Marionetas e marionetistas: quem tem o poder de dar vida a quem? Marcelo Lafontana

Sou marionetista, mas não estou certo de dar vida às formas animadas ou apenas permitir que a vida se manifeste através delas. A vida é um mistério. Num dado momento, a matéria inerte fez-se orgânica. Organizou-se, decidiu ser ativa na sua existência. Por que razão não continuou a ser pedra, ar, pó? A vida é excecional, efémera, frágil. Nada morre realmente no universo, apenas muda de estado: aquece, arrefece, colide, explode, reorganiza os átomos e segue em frente. A vida luta para continuar viva, e a prova disso é que impõe a si própria duas prioridades: sobreviver e procriar. Precisa de tempo para aprender e quer transmitir a informação. O ser humano é o veículo que a vida escolheu para manifestar a sua maior e mais importante aquisição: a consciência. Conquistou a ciência do bem e do mal. A partir de então, colocou em prática o seu plano final, apostou tudo por tudo, todo o tempo e esforço para vencer a morte e instalar-se definitivamente na sua nova forma, de vez animada.

A criação artística é um dom maior neste processo, a obra-prima da consciência, pois trata de fazer vida para além da vida, vida onde ela não existe. Nenhuma outra arte reinventa a existência melhor do que o teatro, também ele efémero, frágil, intangível. Eu escolhi trabalhar com as marionetas porque acredito serem a expressão maior do teatro, a sua primeira, mais poderosa e atávica manifestação, seja sob a forma de sombras projetadas na parede, objetos animados ou mesmo integradas no corpo do ator contemporâneo, na síntese dos seus gestos e palavras, nas suas inúmeras máscaras, identidades e alter-egos.

Marcelo Lafontana é licenciado em Teatro e Educação, com mestrado na Arte do Ator. Marionetista, iniciou a sua carreira profissional em 1986, como ator e encenador. Atualmente, é professor do ensino superior na área do teatro e diretor artístico da Lafontana Formas Animadas, companhia teatral residente em Vila do Conde, Portugal.

Marcelo Lafontana manipulando a personagem Fidel Castro no espectáculo Discursos – – O triunfo da palavra, co-produzido em 2019, com o Museu da Marioneta. Foto de J.Pedro Martins


Há dias, num estágio profissional para a construção e manipulação de marionetas De certa forma, de if os, realizado com os alunos de teatro do Instituto Politécnico do Porto, construímos é como se cada dezasseis if guras de treinamento absolutamente idênticas, com peças desenhadas marioneta adquirisse no computador, cortadas em máquinas CNC e com recurso à impressão 3D. Tratase de coisa do qualquer um modelo rigoroso, técnico e didático, cujo obe j tivo é apenas entender o u f ncionamento marionetista que a deste tipo de marionetas, sem qualquer intenção estética ou poética. Apesar disso, depois construiu, integrando de montados pelos alunos, verifico que nenhum exemplar funciona da mesma maneira. igualmente os Todas as posturas são diferentes, os movimentos variam, assumindo qualidades e defeitos acidentes de percurso, que, em última análise, acabam por definir um caráter, uma personalidade inusitada, tudo e mais alguma criando uma personagem onde ela nunca deveria existir. Somos incapazes de controlar totalmente, como marionetistas, o resultado do coisa, nossopara ser livre. Assume, na sua génese, trabalho, seja na construção do espetáculo, na sua execução ou na reação que provocará no público. Será o que o f r. E todos os dias que repisarmos o palco, será diferente, únestas ico, pequenas alterações formais, irrepetível. Esta é a magia do teatro, paradoxo da existência inventada, que comunga tão fortes quanto o mesmo mistério da vida real. u Q ando estendo a minha alma para que uma marioneta exista, concluo que não sou eu impercetíveis. que o a f o ç , é esta mesma vida insolente e atrevida que o a f z através de mim, de o f rma livre e descontrolada, aleatória. Não, decididamente, não posso controlar aquilo que me ultrapassa.

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OUTRAS COLEÇÕES

Museu Internacional da Marioneta do Peruchet O Théâtre Royal du Peruchet, em Bruxelas (Bélgica) foi fundado em 1929 por Carlo Speder (1889-1985), que o dirigirá até 1958. Era na altura o primeiro teatro de marionetas de fios especialmente concebido para crianças. Em 1938, no seguimento dos contactos que faz em Paris nas Exposições Internacionais de Artes Decorativas (1933, 35 e 37) Speder decide criar um museu anexo ao teatro, surgindo assim em Bruxelas um dos primeiros museus internacionais de marionetas, o Musée International de la Marionnette du Peruchet. Quem ia ao teatro, podia, como ainda hoje, visitar o museu durante o intervalo do espetáculo e ver marionetas da Europa e do Oriente. Dois anos mais tarde Speder funda também uma Academia onde se formará toda uma geração de marionetistas do pós-guerra. Estavam assim lançadas as bases da trilogia teatro de marionetas, preservação museológica e formação de marionetistas. Ao longo de mais de quatro décadas (até 2003) criaram-se mais de duas mil marionetas, foram realizados milhares de espetáculos e muitos festivais internacionais de marionetas. Em 1950 o Museu convida Frans Jageneau (1927-2010), um jovem assistente dos estúdios Hergé (criador de Tintin) para trabalhar com eles. É Hergé, que foi também um dos fundadores da Academia, que o vai inspirar a fazer marionetas, não sendo por isso surpresa que este seja o primeiro museu a ter marionetas de Tintin e Milú. O Teatro e o Museu estão instalados numa casa rural oitocentista, em Bruxelas, e são dirigidos por Dimitri Jageneau, filho de Frans Jageneau. O Museu tem um acervo de cerca de quatro mil marionetas de todo o mundo e de várias técnicas – fios, vara, luva, de finais do século XVIII até à atualidade. As marionetas mais antigas do Museu são da Commedia dell’Arte. A coleção foi crescendo ao longo dos anos, um pouco ao ritmo dos encontros e do acaso, como explica Dimitri Jageneau. Há marionetas dos vários países da Europa, marionetas de fio e de sombra orientais, um ballet de dançarinos tibetanos, e até uma Buranku (forma de teatro de marionetas tradicional japonês que remonta ao século XVII), a primeira deste tipo a figurar num museu europeu.

Théâtre Royal du Peruchet/Musée International de la Marionnette Avenue de la Forêt 50, 1050 Ixelles Quartier Boondael - Bruxelas theatreperuchet.be

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A vida no Museu

Acompanhar, preservar, restaurar, divulgar O Museu da Marioneta tem um acervo de cerca de quatro mil peças, de grande exigência do ponto de vista da sua preservação. Não por serem feitas com materiais raros ou preciosos, mas sim porque tanto as marionetas como as máscaras são construídas na sua maioria com materiais comuns, concebidos para uso quotidiano, sem que haja grande preocupação com a sua durabilidade. Numa marioneta encontramos por vezes cinco a seis materiais diferentes: madeira, metal, tecido, pasta de papel, fibras naturais ou vegetais, vidro, borracha, plástico e colas. Esta diversidade apela a um trabalho de conservação e restauro com caraterísticas muito particulares, que entenda e responda às necessidades de cada um dos materiais e ao modo como estes interagem uns com os outros, de modo a encontrar as melhores condições para a preservação de toda esta panóplia de matérias. O Oséias de Souza é o conservador-restaurador que nos trouxe

estas competências e que tem acompanhado nos últimos tempos a monitorização do acervo, e realizado o restauro de várias peças da coleção. Mestre em Conservação, Restauro e Produção de Arte Contemporânea pela Faculdade de Belas Artes de Lisboa, com uma formação académica internacional em instituições onde adquiriu conhecimentos especializados em vários materiais (West Dean college of Arts and Conservation – Essex University; National Heritage Iron Work (University of Arts, Londres), é também professor de Conservação e Restauro. Atualmente está a restaurar uma cabeça de javali em madeira esculpida e policromada, proveniente de Bali. As peças reservam-nos muitas vezes surpresas insólitas. No interior da cabeça havia vários ninhos de vespa que foi necessário retirar. Esta peça integrará a próxima exposição temporária do Museu, agora em preparação.


Uma aldeia na rua da Esperança Em fevereiro a povoação imaginária de Vale de Sarronco instalou-se por uns tempos na capela de Nossa Senhora da Nazareth, atual sala de exposições do Museu da Marioneta. Cenários, personagens e adereços da primeira longa-metragem portuguesa em stop motion vieram para responder, sem palavras, à pergunta: Como se faz um filme de animação? A exposição Do outro lado da câmara, “Os demónios do meu avô” trouxe até ao público os bastidores do filme de Nuno Beato, em mais uma parceria com o MONSTRA | Festival de Animação de Lisboa. Há 15 anos que o Museu e o Festival trabalham juntos. Os filmes em stop motion são protagonizados por marionetas articuladas e manipuláveis, ajustáveis a diferentes posições e movimentos. São chamadas “marionetas de animação” e resultam de um trabalho muito específico que agrega várias técnicas, desde o desenho dos personagens, à sua moldagem e conceção dos vários sistemas de articulação que lhes vão permitir fazer os diferentes movimentos. No Museu da Marioneta, a última sala é dedicada a este tipo de marionetas, que hoje já tem um papel de destaque na sétima arte. O filme é uma co-produção da Sardinha em Lata, Caretos Film, Midralgar, Basque Film, envolvendo Portugal, Espanha e França. Está a ser terminado, em fase de pós-produção. No dia 17 de março, na abertura do Festival MONSTRA, foram apresentados os primeiros 15 minutos. Não há ainda data de estreia, mas prevê-se que seja ainda durante 2022.

Capela A atual sala de exposições e de espetáculos do Museu era, na origem, a capela do Convento das Bernardas. Com múltiplas vidas nos últimos três séculos, foi sucessivamente capela, cine-teatro, loja de sucata, entre outras funções. Reabilitada como sala de espetáculos há 20 anos, na altura da criação do Museu, vai agora fechar durante dois meses para obras de renovação. A partir de junho, espetáculos e exposições voltarão ao Museu da Marioneta!

Personagens do filme de Nuno Beato Os demónios do meu avô

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18 e 21 de maio Dia Internacional dos Museus Este ano, a programação para o Dia Internacional dos Museus convida a ver o lado “não visível” da vida do Museu. Onde se guardam e como se conservam as marionetas e máscaras da coleção? Qual é a história do convento seiscentista onde hoje se encontra o Museu? Podemos experimentar e perceber como funciona uma marioneta? Nos dias 18 e 21 de maio há visitas e oficinas de entrada livre. E se estiver bom tempo, na noite de dia 21 monta-se a plateia no claustro para a primeira noite de cinema ao ar livre do ano.

18 de maio

21 de maio

10h30

15h00

O museu secreto

O museu secreto

Onde estão as peças que não estão à vista no museu?*

Onde estão as peças que não estão à vista no museu?*

Atividade para escolas – 1º e 2º ciclo

Famílias (crianças a partir dos 8 anos) Duração: 60 minutos

11h00

Marionetas e máscaras de várias partes do mundo Visita orientada ao museu

M/12 anos / Duração: 60 minutos 15h00

De convento a Museu

11h00 e 16h30

Marionetas e máscaras de várias partes do mundo Visita orientada ao museu

M/12 anos / Duração: 60 minutos 21h

Visita integrada no projeto Museálogos em parceria com o Museu de São Roque

À noite no claustro

M/14 anos / Duração: 60 minutos

M/12 anos

Cinema ao ar livre

Entrada livre / Lotação limitada - Reservas museu@museudamarioneta.pt

visita ao Museu e às reservas

*

Museu da Marioneta Direção Ana Paula eR belo Correia (diretora), Maria Carrelhas (adjunta de direção) Comunicação Margarida Ferra Centro de Documentação Rita Luís Serviço Educativo Filipa Camacho, Margarida Archer, Pedro aV lente, Rafael Alexandre, Stella Nunes, Susana Alves Secretariado Maria Teles Loja/Bilheteira Diogo Marques, Sara Gertrudes Produção, Susana Alves Técnico Luz e Som Rui Seabra


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