A RT I S TA S D E TA U B AT É
ARTISTAS DE TAUBATÉ
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6 BOSQUE COM RIACHO Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, 1936. 120 x 150 cm Coleção particular.
capa
CHAFARIZ EM BANANAL Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 32 x 24 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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8-9 QUARESMEIRAS FLORIDAS Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, 1939. 100 x 130 cm Coleção particular.
2ª capa NU - MANACÁ Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XX. 32 x 23 cm Coleção Gerson Zalcberg.
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10 CAPA DE CATÁLOGOS DAS EXPOSIÇÕES Clodomiro Amazonas Desenho, século XIX-XX.
4ª capa ARREDORES DE TAUBATÉ Clodomiro Amazonas Desenho a crayon sobre papel, sem data. 21 x 28 cm Coleção particular. p.
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2 CAVALGADA AO ANOITECER Georgina de Albuquerque Óleo sobre madeira, século XIX-XX. 34 x 41 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos p.
4 FIGURA FEMININA RELIGIOSA Francisco Leopoldo e Silva Mármore, século XX. Catedral da Sé, São Paulo. 38 x 32 x 28 cm Acervo Catedral Metropolitana de São Paulo.
32-33 MENINAS PULANDO CORDA Georgina de Albuquerque Óleo sobre madeira, século XIX-XX. 33 x 41,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos. p.
34 LUZ ATRAVÉS DAS ÁRVORES Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 77,5 x 60 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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54-55 FIGURA NUA FEMININA DE BRUÇOS Francisco Leopoldo e Silva Mármore escultório branco, sem data. 25 x 187 x 65 Coleção Ivani e Jorge Yunes. p.
56 DEUSA DA MEDICINA Francisco Leopoldo e Silva Mármore, século XIX-XX. 78 x 25 x 26 cm Coleção Ary Casagrande Filho. p.
62-63 IGUAPE Monteiro Lobato Aquarela, 1940. 13,5 x 19 cm Coleção Família Fontoura de Moura Andrade.
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64 PAISAGEM COM RIO Monteiro Lobato Aquarela, século XX. 23 x 16 cm Coleção João da Cruz Vicente de Azevedo.
FICHA CATALOGRÁFICA (Elaborada por Cláudio Oliveira CRB8-8831) Artistas de Taubaté / curadoria de Ruth Sprung Tarasantchi; fotografia: Estevan dos Anjos [p. 44, 54, 55] e Iran Monteiro. – São Paulo: Museu de Arte Sacra de São Paulo, 2018. 72p. ; il.
ISBN 978-85-67787-35-0
Exposição realizada de 15 de setembro a 16 de dezembro de 2018 no Museu de Arte Sacra de São Paulo. 1. Exposição 2. Artistas de Taubaté 3. Museu de Arte Sacra de São Paulo I. Título. II. Autor.
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ARTISTAS DE TAUBATÉ Curadoria: Ruth Sprung Tarasantchi
Museu de Arte Sacra de São Paulo e Sociarte, 2018
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Gênios e grandes artistas despontam de tempos em tempos. De uma só vez, vários numa mesma década, no entanto, praticamente nunca surgiram. Em Taubaté aconteceu. Quatro figuras ímpares da arte brasileira lá nasceram, no século XIX, entre 1879 e 1885. Em apenas seis anos, Taubaté deu ao Brasil quatro expoentes da arte nacional. Georgina de Albuquerque, nascida em 1885, tornou-se uma das figuras mais importantes do impressionismo no Brasil. Clodomiro Amazonas, de 1883, como paisagista, está entre os maiores do país. Seus ipês e flamboyants são inesquecíveis. Monteiro Lobato (1882), escritor, insuperável. As aquarelas eram sua paixão. São raras, e um verdadeiro trabalho de garimpo as trazem para esta exposição. Finalmente Leopoldo e Silva, o mais velho, de 1879, que iniciou a corrente de gênios e produziu esculturas inesquecíveis. Todos eles estão reunidos nesta exposição que enche de orgulho seus organizadores – a Sociarte e o Museu de Arte Sacra de São Paulo –, por terem redescoberto Taubaté, essa verdadeira fonte de grandes artistas, os quais serão reverenciados, por meio de suas melhores obras, nesta mostra inesquecível. José Oswaldo de Paula Santos Presidente da Sociarte e do Conselho de Administração da Associação Museu de Arte Sacra de São Paulo – Samas
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Desde os primórdios da colonização, o Vale do Paraíba destacou-se no cenário nacional. Taubaté é considerada o núcleo inicial do bandeirismo que desbravou as terras de Minas Gerais. No ciclo do café, o vale sobressaiu-se como principal produtor do fruto. Seguiu seu caminho de sucesso em todas as outras fases, até a industrialização. Tanto vigor não passaria em branco na cultura e nas artes. Nesta mostra que o Museu de Arte Sacra de São Paulo (MAS) realiza em parceria com Associação dos Amigos da Arte de São Paulo (Sociarte), sob a curadoria de Ruth Tarasantchi, apresentamos obras de quatro de seus grandes artistas de renome nacional: Georgina de Albuquerque, mestra do impressionismo; Clodomiro Amazonas, o grande paisagista; Leopoldo e Silva, o escultor; e Monteiro Lobato, mais conhecido e celebrado como escritor, entretanto apaixonado por aquarelas, autor de belíssimas telas. Ao apresentarmos tantas e tão belas obras, estamos certos de que os visitantes sempre se recordarão desta exposição: Artistas de Taubaté. José Carlos Marçal de Barros Diretor Executivo do Museu de Arte Sacra de São Paulo
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Parecia que o destino de Taubaté (“aldeia alta” em tupi), nome dado pelos povos indígenas que vinham do litoral e enfrentavam a árdua subida da Serra do Mar para chegar à cidade, era mesmo se projetar para o alto. Taubaté foi berço de quatro talentos nascidos na mesma década para se destacarem na história das artes no Brasil: Francisco Leopoldo e Silva (1879-1948), Monteiro Lobato (1882-1948), Clodomiro Amazonas (1883-1953) e Georgina de Albuquerque (1885-1962). Essa que é uma das principais cidades do Vale do Paraíba, com importante papel na evolução econômica do país, por meio da exposção Artistas de Taubaté apresenta esses quatro artistas que a projetaram também no panorama da cultura brasileira. Ruth Sprung Tarasantchi Curadora
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CLODOMIRO AMAZONAS
(1883-1953)
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Pintor das árvores coloridas, em 1912, na sua primeira aparição, Clodomiro Amazonas expôs 35 quadros, sendo 24 paisagens, duas naturezas-mortas e o restante, figuras. Já naquela época ele preferia temas como manhã de sol, crepúsculo, noite de São João, última luz. Foi apresentado nessa mostra como artista amador, pois ainda não tivera lições regulares de pintura, apesar de já ter sido apreciado o colorido de seu trabalho. Continuou gostando de noites de luar, imprimindo nesses quadros uma luz triste. Felizmente, não se prendeu a esses temas melancólicos e pintou quadros como Natureza em Festa, em que já aparecem seus famosos ipês, quaresmeiras e flores-de-são-joão. Clodomiro Amazonas nasceu a 14 de março de 1883, em Taubaté. Seu pai, Antônio Alves Monteiro, grande nacionalista, transmitiu esse sentimento aos filhos, começando pelos nomes que lhes deu, tirados dos grandes rios do Brasil: Amazonas, Parnaíba, Tapajós. Criado por duas velhas tias, Brotinha e Velezinha, Clodomiro começou a mexer com tintas ainda criança (com 8 anos fez sua primeira pintura). Aos 16 restaurou telas e afrescos do convento Santa Clara, em Taubaté. Apaixonou-se por uma moça de Angra dos Reis e, contra a vontade da família, casou-se aos 21 anos. Para sobreviver, o casal se mudou para São Paulo, onde Clodomiro Amazonas conseguiu emprego em um banco e depois em repartições públicas. Constituía para ele grande sofrimento ter de interromper a pintura para trabalhar em outros setores. Acabou deixando o emprego de diretor do patrimônio para dedicar-se somente à sua arte. A partir daí, foi com dificuldade que criou os oito filhos – quatro mulheres e quatro homens. Clodomiro era um homem elegante, esbelto, que sempre se vestia com apuro. Escondia a calvície com chapéu ou boina de pintor. Não teve alunos, não tinha vocação para lecionar. Era um bom restaurador, mas não gostava desse tipo de trabalho; para ajudar no orçamento familiar, era obrigado a aceitar encomendas. Fez ilustrações para algumas revistas, como a Revista da Semana.
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Originário da mesma cidade que Monteiro Lobato, além da amizade unia-os a admiração que o escritor tinha pelo trabalho do pintor. Lembra Lobato que Taubaté era uma cidade tão atrasada que lá não se tinha noção da diferença entre fotografia e desenho. Admirava a cor dos quadros do conterrâneo e sentia que nenhum tom lhe escapava. Também os críticos achavam os quadros de Clodomiro alegres, por causa do colorido, e o cronista do Diário Popular comentara: “As marinhas que rolam em ondas de luz, as manchas de paisagem têm vida”. E se “na mostra de 1921 o pintor se preocupa em mostrar fases distintas da vida artística, na exposição de 1923 há somente a intenção de sentir e transmitir o ambiente”. Sua segunda exposição, em São Paulo, foi em 1918, ainda como funcionário público, o que o fazia ser considerado pintor de horas vagas. Ao deixar o emprego, em 1923, lembra sua filha Vera, os amigos
ficaram chocados por ele ter jogado fora o pão certo dos filhos. Mas o artista já vendia regularmente seus trabalhos desde 1918. Depois que abandonou a prefeitura, dedicou-se com grande afã à pintura. Seus temas são a velha figueira, ilha Porchat, catingueiro florido, abrigo do gado, nuvens à tarde, luar, manhã de neblina depois da chuva. Era considerado o “verdadeiro pintor brasileiro, que sente a sua terra”. Também o elogiavam porque não era dado às “extravagâncias do momento”. Aristeu Seixas percebeu que ele não era um “acariciador de tela”, isto é, não tinha a preocupação dos detalhes. O traço era largo, sinal de pulso e firmeza no que estava reproduzindo; as perspectivas aérea e terrestre eram harmoniosas e a cor, de rara felicidade. Os céus eram muito sentidos. Não era um imitador da natureza, e sim um selecionador do que queria reproduzir, colocando seu temperamento, sua maneira de ver e sua interpretação particular em cada trecho.
PAISAGEM COM FLAMBOYANT Clodomiro Amazonas Óleo sobre madeira, século XIX-XX. 22 x 28 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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Era, para muitos, o mais paulista dos pintores, por nunca ter saído de São Paulo. Ele mesmo definia sua pintura: “Quando encontro um trecho da natureza, que por si é um feito, não reproduzo materialmente, mas sim através do meu temperamento, sentindo e vendo, não como ele é, mas sim como eu desejaria vê-lo nessa mesma natureza, sem me preocupar com a maneira como os outros o veem e outros o pintam [...]. E assim respondia às críticas de alguns que diziam que, ao pintar um quadro, se na paisagem não tivesse uma árvore colorida, ele a colocaria, por sentir necessidade de um efeito vivo em determinado trecho da tela, correndo o risco de ser tachado de fazer pintura decorativa. O colorido de seus quadros sempre foi considerado “exato”, mostrando as matas verdes paulistas, os campos esturricados do Nordeste ou as ondas revoltas do mar.
Clodomiro viajou pelo Nordeste, onde fez várias exposições e aproveitou para pintar aquelas paragens, que aprendeu a interpretar. Porém foram as matas e seus riachos que ele mais sentiu. Ainda hoje, se sairmos um pouco da cidade e adentrarmos uma estradinha secundária, encontraremos uma infinidade de vistas que nos trazem imediatamente à lembrança a arte de Clodomiro Amazonas. Essa é uma prova de que ele realmente sentia a paisagem; se assim não fosse, jamais teria conseguido reproduzi-la na tela com tanta felicidade. Ao expor no Rio de Janeiro, em 1926, mostrou quadros com vistas de Ceará, Maranhão, Pará, Rio, Recife, Minas, São Paulo e Bahia. Tinha grande admiração pelo paisagista Batista da Costa, de quem foi considerado o único continuador possível
PAISAGEM COM RIO Clodomiro Amazonas Óleo sobre cartão, século XIX-XX. 19 x 25 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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por Carlos Rubens e muitos outros, por ser capaz de reproduzir as “montanhas distantes, os nossos céus altos, as nossas velhas mangueiras, a nossa luz, as nossas águas tranquilas”. Em 1929 expôs quadros retratando São José dos Campos, Tremembé, Rio de Janeiro, Paraíba, Itu e Cabreúva, com a velha mangueira, os rios calmos, os riachos caudalosos, o monjolo, os dias de chuva ou os dias nublados, o temporal, o sol à tarde, o recolhimento do gado. Foi chamado pela imprensa de pintor do luar, tema, na época, do agrado dos colecionadores. Clodomiro Amazonas gostava de escrever poesias e, pelos versos que deixou, podemos entrever uma alma alegre. Nacionalista ferrenho, apaixonado pela paisagem brasileira, estava imbuído da certeza de que era um dos poucos que sabiam interpretá-la. Como não tinha conseguido a bolsa para estudar na
Europa, acabou se convencendo de que fora isso até um bem, porque assim não se deixou influenciar pela pintura de fora. Teve um grande desentendimento com Túlio Mugnaini por causa disso, e orgulhava-se de suas origens brasileiras e de sua capacidade de sentir e interpretar nossa paisagem. Não era como os bolsistas, dizia, que, quando voltavam, depois de anos de estudo no exterior, traziam uma paleta desbotada, da qual era muito difícil se libertarem. Clodomiro Amazonas fazia sempre um croqui no local a ser pintado, que depois passava para a tela, em geral maior, no ateliê. Não deixou de aproveitar registros de fotos por ele mesmo tiradas, nas quais escolhia um trecho que quadriculava. Algumas vezes utilizou cartões-postais do Rio de Janeiro, como o Trecho da Praia de Itapuca, em Niterói. Esse era um costume comum entre nossos artistas, e muitos trouxeram essa inovação de seus estudos
LUAR Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XIX-XX. 19,5 x 24,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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europeus. Só para citar um exemplo, o mesmo tema, retirado do mesmo cartão, foi aproveitado por J. Wasth Rodrigues, Oscar Pereira da Silva e Joaquim Dutra. Houve quem reclamasse da luz brilhante em suas obras, desconsiderando os reflexos que ela daria; achavam que ele o fazia devido à preocupação de “fazer bonitinho”. Porém, sempre foi reconhecido seu esforço; foi chamado por Carlos Rubens de “paisagista feliz” e por Monteiro Lobato de “poeta dos ipês”. Não aceitava a arte moderna; costumava tratar seus adeptos de “futuristas”, como eram chamados os pintores que seguiam as novas correntes. Foram pedir sua opinião a esse respeito em 1945, por ocasião da fundação do Museu de Arte Moderna. Disse que era terminantemente contra e acabou escrevendo uma carta ao jornal A Gazeta para externar suas opiniões, assinando o artigo como Clodomiro Amazonas, artista acadêmico.
Frequentava a redação de A Gazeta, onde mantinha contato com os intelectuais da época e encontrava amigos como Menotti del Picchia e o crítico Aristeu Seixas. Tinha seu ateliê na rua Teodoro Baima, nº 1, perto da igreja da Consolação. Muitos amigos pintores o frequentavam, entre eles J. Marques Campão, Lopes de Leão, J. Wasth Rodrigues, Pedro Alexandrino, Perissinotto, Campos Ayres e, quando vinham a São Paulo, Lucílio e Georgina Albuquerque e o poeta Cassiano Ricardo. Monteiro Lobato, seu amigo, fez várias aquarelas no ateliê de Clodomiro. Clodomiro Amazonas continuou expondo em 1946, 1949 e 1951 apresentando sempre as nossas paisagens com ipêsroxos e ipês-amarelos, quaresmeiras, sapucaieiras, carnaubeiras, embaúbas, paineiras, trepadeiras, begônias e samambaias, todos temas característicos da nossa flora tropical. Já no final da carreira, depois de 1951, não pintou mais os luares românticos à velha maneira
PAISAGEM RURAL COM CASA, MENINA E GALINHAS Clodomiro Amazonas Óleo sobre madeira, século XIX-XX. 25 x 31 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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francesa; só havia paisagens amplas, claras e sentidas. Penetrava nas qualidades das diversas matérias, sentia a dureza da pedra, a leveza das folhas e as sombras das pequenas e grandes árvores, assim como as manchas dos bosques, o clarear de um campo. A variedade desses efeitos ele a conseguiu por meio de um cromatismo muitas vezes exaltado pela luz, que agia como elemento unificador. É nesse conjunto de paisagens que se percebe o perfume da “verdade”, como disse Charles Sterling. Ainda em 1953, o pintor expôs em São Paulo; depois foi para Taubaté, Ubatuba, Atibaia, Resende, Lindoia e Barbacena. Faleceu em São Paulo, em agosto do mesmo ano, com 70 anos. Clodomiro, no começo de sua carreira, usava uma pincelada curta e lisa; mas com o tempo ela ficou larga; chegou mesmo a empregar a espátula. Nessa fase já não se preocupava com os detalhes, e em geral deixava bem-acabado somente um ponto para o qual queria chamar atenção. Além
do óleo, usou também a aquarela, em tons claros e leves, o carvão e o pastel, que depois de 1933 colocava regularmente em suas mostras. Em óleo aplicou várias tonalidades de verde, o azul, os cinzentos, e não deixava de colocar uma mancha amarelo-ouro, amarelo-limão ou laranja, que dava alegria ao quadro e dirigia o olhar para determinado trecho. Ao pintar as matas, mesmo vendo-as espessas, conseguiu transmitir a sensação de que o ar as penetrava, de que tinham vida. Apesar de o tratamento não ser minucioso, captou as várias massas; assim, percebem-se as diferentes vegetações, as copas ensolaradas ou escuras, quase podendo sentir-se a umidade debaixo delas. São muitos os riachos que correm entre as pedras, saindo da mata, ou os rios calmos onde se vê refletida a vegetação das margens, que tanto poderia ser uma touceira de bambus, um ipê, um manacá, uma quaresmeira ou um arbusto qualquer.
PAISAGEM COM PINHEIROS Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XIX-XX. 40 x 55 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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As colinas, que aparecem muitas vezes ao fundo, com vegetação ou somente um matinho rasteiro, são tratadas com liberdade, em pinceladas largas, sem detalhes. Estudou os céus, as formações de nuvens mais diversas e de inúmeras tonalidades, que iam desde o azul acinzentado até o amarelo alaranjado ou o rosa com manchas azul-claras. O pôr do sol iluminava as nuvens com seus últimos raios. Nesses quadros, tão preocupado ficava com as nuvens que o resto perdia então importância, e ele colocava um campo, uma estradinha ou uma árvore, mas nada muito detalhado, para que toda a atenção fosse para o céu e sua magnitude. Gostava do sol e sempre deixava um trecho do quadro iluminado, mesmo estando o resto na sombra. Colocava grandes árvores em cujas sombras havia vacas descansando ou ruminando na grama fofa.
Nem sempre os espaços que reproduzia no quadro eram grandes; gostava de um trecho de estrada com uma cerca e, atrás dela, um casebre de pau a pique e uma sibipiruna amarela ao lado, ou fundo de quintal com bananeiras e um pequeno vulto varrendo, com galinhas ciscando em volta. Outras vezes havia ainda uma cancela, um trecho de estrada ou uma árvore frondosa, uma casinha ao fundo e algum animal por perto. Nas marinhas, tratou a pedra com liberdade. O sol bate nas pedras e delas se sentem a consistência, o peso e a dureza. A água do mar se movimenta, a espuma branca da onda bate na pedra, espirra alto; ou o mar é calmo, com as ondas indo e vindo suavemente na beira, tendo ao fundo altas montanhas cobrindo quase todo o céu. Muitas vezes pintou árvores escuras e céu cinzento, tratados livremente, e
MAR REVOLTO Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XIX-XX. 30 x 38 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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no prado alagado do primeiro plano se refletem nuvens. Os tons cinza-escuros trazem o sentimento de que a tempestade está próxima e vai começar a chover a qualquer instante. Os luares ou o anoitecer, em que tudo é escuridão, trazem com eles manchas amarelo-laranja no céu e uma tênue luz na terra, que vem de pequenas labaredas de uma fogueira em volta da qual mal se divisam acanhadas figuras. Apesar do tema meloso, o tratamento é espontâneo e o quadro não chega a ser piegas, se tivermos paciência de examiná-lo. Quanto às figuras, elas não foram o seu forte, e muitas vezes ele recebeu críticas nada elogiosas quando as retratou.
Notam-se as desproporções dos membros, não convencem. As naturezas-mortas, que não deixou de fazer, também não o glorificaram. Talvez por ter os objetos muito próximos, perdia-se nos detalhes e poucas vezes conseguiu dar às frutas a maciez, a consistência, o aveludado ou o brilho certo, o que conseguia magistralmente quando se tratava de árvores. Também pintou animais, em particular a vaca, e o que vemos é um ser forte, calmo, muito bem resolvido. Percebe-se seu amor à terra. Em certos quadros, em que aparece um caboclo à janela de uma palhoça, um cão aquecendo-se ao sol ou um moleque andando, sente-se, nessas pequenas figuras, a falta do estudo de anatomia e do movimento.
TARASANTCHI, Ruth Sprung. Pintores paisagistas: São Paulo 1890 a 1920. São Paulo: Edusp: Imprensa Oficial do Estado, 2002. p. 253-265.
PAISAGEM RURAL Clodomiro Amazonas Óleo sobre madeira, século XIX-XX. 20 x 27 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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ÁRVORES FLORIDAS Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XIX-XX. 26 x 32 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
IPÊ FLORIDO Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XIX-XX. 25 x 31 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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CRONOLOGIA 1883
Nasce em Taubaté em 14 de março, filho de Antônio Alves Monteiro e Cândida Machado Monteiro. Inicia-se na pintura com 16 anos, fazendo restaurações do afresco no convento Santa Clara, em Taubaté.
1904
Casa-se aos 21 anos.
1905
Funda com os colegas Eusébio e Gastão da Câmara Leal a Associação Artística e Literária, com sede no Ginásio Estadual de Taubaté.
1906
Muda-se para São Paulo.
1912
(Agosto) Primeira exposição em São Paulo, no Salão Radium.
1914
Estuda com Augusto Luís de Freitas e mais tarde com Carlo de Servi, desejando candidatar-se ao pensionato artístico. É designado candidato, mas não consegue a bolsa.
1918
Volta de Juiz de Fora, onde expôs. (Março) Exposição em São Paulo, na rua da Quitanda, 4.
1919
Exposição em Taubaté.
1921
(Novembro) Exposição na antiga Casa Brotero, rua Líbero Badaró, 135.
1922
Exposição no Rio de Janeiro.
1923
Trabalha como funcionário público até setembro (teria recebido a bolsa, mas não vai à Europa por causa da idade, 40 anos completos). (Maio) Exposição na rua Direita, 42A – Vistas de Minas e São Paulo, 134 telas.
1924
(Janeiro) Exposição no Palacete Palmares, rua Boa Vista, 601. (Março) Pede demissão do cargo público para dedicar-se exclusivamente à pintura. (Novembro) Exposição na rua 15 de Novembro, 39A.
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1925
(Outubro) Exposição em Fortaleza.
1926
Turnê artística pelo Norte e Nordeste: Recife, Fortaleza e Belém do Pará. (Julho) Exposição no Rio de Janeiro. (Dezembro) Exposição em São Paulo, na rua da Quitanda, 19B.
1928
(Março) Exposição na Galeria Blanchon, rua Direita, 13A – 45 trabalhos.
1929
(Abril) Exposição na rua 15 de Novembro, 40 – 70 obras. Por dois anos, viaja pelo Brasil.
1931
(Novembro) Exposição na Casa Assunpção, praça Patriarca, 6 A – 35 trabalhos. (Janeiro) Polêmica com Túlio Mugnaini nos jornais.
1933
(Maio) Exposição na rua São Bento, 48 – 95 telas.
1934
(Dezembro) Exposição na rua São Bento, 6 – 46 trabalhos.
1938
Grande Medalha de Prata no Salão Paulista de Belas Artes; Segundo Prêmio Prefeitura de São Paulo.
1939
Primeiro Prêmio Prefeitura de São Paulo.
1942
Exposição no Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul.
1946
(Outubro) Exposição na Galeria Benedetti.
1948
(Novembro) Exposição na Galeria Itá.
1949
(Novembro) Exposição na Galeria Itá.
1951
(Novembro) Exposição na Galeria Itá.
1953
(Janeiro) Exposição em Taubaté, Ubatuba, Atibaia, Resende, Lindóia e Barbacena.
1953
(Agosto, 22) Morre, em São Paulo, com 70 anos.
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ÁRVORE FLORIDA COM CASINHA E GALINHAS Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XIX-XX. 22,5 x 28,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
FLAMBOYANT FLORIDO Clodomiro Amazonas Óleo sobre cartão, século XIX-XX. 24 x 30 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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NATUREZA MORTA COM FIGOS Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XIX-XX. 31 x 41 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
RIO PARAIBA E IPÊ AMARELO Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XIX-XX. 27 x 35 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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CASINHA DA SENHORA Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XIX-XX. 22,5 x 28,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
SUINÃ FLORIDA Clodomiro Amazonas Óleo sobre cartão, 1945. 24 x 30 cm Coleção João da Cruz Vicente de Azevedo.
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PORTEIRA DE VARA Clodomiro Amazonas Óleo sobre cartão, século XIX-XX. 26 x 30 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
O VELHO CELEIRO Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XIX-XX. 27 x 35 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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PAISAGEM (MONTANHA) Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, 1953. 25 x 25 cm Coleção Francisco de Paula S. V. de Azevedo.
PAISAGEM Clodomiro Amazonas Óleo sobre cartão, século XIX-XX. 46 x 56 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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PAISAGEM Clodomiro Amazonas Óleo sobre cartão, século XIX-XX. 59 x 44 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
RIO DE JANEIRO Clodomiro Amazonas Óleo sobre madeira, 1941. 46 x 29 cm Coleção particular.
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ACÁCIA MIMOSA Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XIX-XX. 25 x 32 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
IPÊS AMARELOS Clodomiro Amazonas Óleo sobremadeira, 1930. 30 x 24 cm Coleção particular.
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FLAMBOYANT VERMELHO Clodomiro Amazonas Óleo sobre madeira, 1945. 57 x 45 cm Coleção particular.
ÁRVORE COLORIDA Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, 1939. 46 x 30 cm Coleção particular.
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LUAR Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XX. 39 x 49 cm Coleção particular.
IPÊS Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, século XX. 35 x 28 cm Coleção particular.
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DIA DE SOL Clodomiro Amazonas Óleo sobre cartão, século XX. 17 x 22 cm Coleção João da Cruz Vicente de Azevedo.
IPÊS AMARELOS FLORIDOS Clodomiro Amazonas Óleo sobre cartão, século XX. 17 x 22 cm Coleção João da Cruz Vicente de Azevedo.
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GEORGINA DE ALBUQUERQUE
(1885-1962)
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Paulista de Taubaté, nascida a 4 de fevereiro de 1885, Georgina Moura Andrade adotou em 1906 o sobrenome do marido, o grande pintor Lucílio de Albuquerque, passando a se assinar Georgina de Albuquerque. Ainda na adolescência sentiu despontar a vocação artística. Seu primeiro mestre foi Rosalbino Santoro – “um italiano bom, um tanto seco porque a moléstia lhe crestara a alegria e dera-lhe uns tons de acentuado amargor” – pintor (hoje revalorizado) que então percorria o interior da província, como vários outros paisagistas europeus da época. Pouco tempo depois, visitando em São Paulo uma exposição de Antonio Parreiras, resolveu embarcar para o Rio de Janeiro a fim de estudar pintura seriamente. Em 1904 era aluna de Henrique Bernardelli na Escola Nacional de Belas Artes. Ainda no primeiro ano conheceu Lucílio, que concluía um curso brilhante, coroado pelo prêmio de viagem em 1906: Casamo-nos. Partimos pobremente, apenas com a bagagem de dois estudantes, para a Europa, onde vivi cinco anos. Em Paris, os meus principais mestres foram Gervais, na École des Beaux-Arts, e Royer, no Curso Julian. Depois trabalhei por conta própria.
Na capital francesa, submetendo-se ao concurso de admissão à École, Georgina obteve a quarta colocação entre seiscentos candidatos, o que lhe valeu uma bolsa na Academia Julian. Fundada em 1860 por Rudolphe Julian, a Academia ficou famosa após 1888, quando nela passaram a estudar Bonnard, Vuillard, Maurice Denis, Roussel, Valloton e outros artistas que constituiriam o grupo dos Nabis. Matisse também seria aluno, em 1902, tal como Roger de la Fresnaye, em 1903, Derain e Léger, em 1904, e Marcel Duchamp logo depois, não sendo assim impossível que os jovens artistas brasileiros tenham convivido com alguns desses nomes hoje célebres da arte do século XX, embora estilisticamente enorme abismo cedo os separasse. Na verdade, enquanto todos aqueles pintores olhavam para o futuro e reagiam aos ensinamentos de seus mestres, Lucílio e Georgina deixaram-se ficar timidamente na evocação do passado, para o que aliás também muito concorreu o conservadorismo de seus mestres, Paul Jean Gervais (1859-1936) e Henri Royer (1869-1938), pintores oficiais contemplados com a Legião de Honra em 1898 e 1900, respectivamente. Descobriram assim o impressionismo e o simbolismo tardiamente, quando um e outro já tinham perdido sua força original para se transformar em história. 35
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Ainda estudante em Paris, Georgina remetia ao Salão do Rio de Janeiro os frutos de seu trabalho. Desde 1905 nele expunha, e em 1907 recebeu elogios do então todo-poderoso Gonzaga Duque: Georgina de Albuquerque é uma artista, mesmo direi uma grande artista que devemos esperar. A sua pintura inculca-se ainda vacilante na maneira, mas afastada das esquerdices e timidez dos principiantes.
Mais de dez anos depois, ao comentar as cinco obras com que ela concorria no Salão de 1918, M. Nogueira da Silva assim escreveu, complementando o vaticínio de Gonzaga Duque: Georgina de Albuquerque, artista de reais e potentes qualidades, embora em um ou outro magnífico morceau muito tenha sempre prometido, só agora se revela inteira na pujança de sua arte
admirável. Apresenta-se sob três diversas modalidades artísticas: ar-livrista, com o seu esplêndido Jardim Florido; intimista, com essas duas petites merveilles que são O Carnet de Baile e Preparativos; e paisagista, com os seus interessantes quadros A Grande Árvore e Serra dos Órgãos, especialmente este, em que se acentua um modo especial e próprio de pintar a nossa paisagem – a verdura, os longes e as águas – que é inconfundível.
Pelos meados da década de 1920, Georgina de Albuquerque era considerada uma das mais importantes pintoras brasileiras, e nessa qualidade participou, entre 1924 e 1926, nos Estados Unidos, da exposição da National Association of Women Painters and Sculptors de Nova York, da First Pan-American Exhibition of Oil Paintings, em Los Angeles, e da Art Department State Fair, no Texas. Também esteve presente
A BOLA NA PRAIA Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 67 x 83 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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no Salão de Buenos Aires de 1927, no qual recebeu o prêmio máximo de pintura, e no de Rosário, em 1929, sem falar nas várias vezes em que expôs e foi premiada em certames nacionais. A partir de 1927 a artista desenvolveu atividade docente como professora de desenho na Escola Nacional de Belas Artes (da qual seria diretora entre 1952 e 1954), na efêmera Universidade do Distrito Federal e, após 1945, no Museu Lucílio de Albuquerque – por ela fundado em sua residência, em Laranjeiras, e no qual instituiu um curso de desenho e pintura para crianças que pode ter sido o primeiro do gênero no Brasil. Também atuou no jornalismo, como conferencista e principalmente como delegada brasileira da Association Internationale de Arts Plastiques, cargo que desempenhou com eficiência até morrer. A idade, aliás, jamais conseguiu tirar-lhe o dinamismo, o que causava espanto e admiração a seus
jovens alunos quando, nas excursões de férias a Minas ou à Bahia, era das últimas a se recolher ao leito e a primeira a dele saltar todos os dias. Georgina cultivou todos os gêneros, da pintura histórica à natureza-morta, do nu à marinha, do retrato às cenas de gênero. Foi porém na figura ao ar livre, entre folhagens, batida pelo sol, que encontrou o tema favorito, aquele que mais correspondia ao seu temperamento: não sem razão Angione Costa definiu-a como “verdadeira sensibilidade de latina, nascida sob os trópicos e criada no estonteamento luminoso da natureza americana”, para concluir que teria de forçosamente ser “uma colorista maravilhosa, que tira das tintas todas as combinações imagináveis”. Ela mesma se dizia... impressionista. E singelamente explicou, em 1927, o que entendia por impressionismo:
A BAÍA À LUZ DO LUAR Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 43 x 53 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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É uma feição moderna, alguma coisa de novo em pintura. Foge inteiramente aos moldes preestabelecidos. É tudo quanto há de mais movimentado, mais ensolado, menos calculado e medido. Eu pinto a natureza, pelas sugestões que ela me causa, pelos arroubamentos que me provoca, e como tal, não posso ficar, hierática e solene, ante os imperativos que ela em mim produz. Depois, amo a figura humana. Vou pela praia, encantada pela paisagem; deparo-me com uma criança, enterneço e me desinteresso pelo ambiente ao redor. A minha sensibilidade é presa da graça, do movimento, da vibração infantil. O impressionismo, como eu o pinto, é novo aqui e não deixou de encontrar resistências, logo que comecei a fazê-lo.
Na verdade, Georgina começou a fazer impressionismo por volta de 1908, quando a pintura brasileira ainda estava enredada nas fórmulas esgotadas do academicismo,
e quando um pálido romantismo mal dissimulava a fôrma realista na qual se debatiam e frustravam tantas vocações. Do ponto de vista histórico, aliás, Quirino Campofiorito enfatiza o papel pioneiro, de Lucílio e Georgina na pintura brasileira em começos do século XX: A vida ao ar-livre, toda a liberdade que as proporções desembaraçadas do sentimento de atmosfera e luminosidade cromática asseguram através do Impressionismo ao surto das artes do século corrente, chegam ao Brasil e demonstram categorizadas nas obras de Lucílio e Georgina, apenas precedidos de dois anos por Visconti, da geração mais velha. No exemplo desses três artistas, a pintura brasileira tem o caminho aberto para uma libertação que não cessará de avançar, e terá na Semana de Arte Moderna de 1922 uma tomada de consciência definitiva.
PAISAGEM RURAL COM CASA Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 31 x 36 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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Até morrer, Georgina de Albuquerque conservou-se impressionista a seu modo. Sua pintura de intensas vibrações cromáticas, toda luz e espontaneidade, traduzia-se numa paleta clara e num desenho fácil, extravasados em
técnica livre mas segura. Pintura jovial, alegre, sadia, de um frescor singular, correspondendo às maravilhas à personalidade generosa da artista, falecida aos 77 anos, em 1962, no Rio de Janeiro.
LEITE, José Roberto Teixeira. Pintores da belle époque. Campinas: Trilhas, 1988. p. 320-325.
PERFIL FEMININO Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 39 x 32,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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SAÍDA DA IGREJA Georgina de Albuquerque Óleo sobre madeira, século XIX-XX. 40 x 31 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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FUNDIÇÃO Georgina de Albuquerque Óleo sobre madeira, século XIX-XX. 27,5 x 34,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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REFLEXO Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XX. 85 x 60 cm Coleção particular.
CENA COM CAVALOS Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XX. 60 x 88 cm Coleção Eva e Julio Soares de Arruda Neto. 41
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INTERIOR DE RESIDÊNCIA COM CRIANÇAS Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 46,5 x 38,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
VELHA IGREJA Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 18,5 x 23,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos. 42
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PERFIL JOVEM Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 39,5 x 32 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
DESCANSO DOS LAVRADORES Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 37,5 x 46 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos. 43
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ROSAS Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 56 x 40 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
RIO DE JANEIRO, CAES PHAROUX Georgina de Albuquerque Aquarela sobre papel, sem data. 21,50 x 25,50 cm Coleção Ivani e Jorge Yunes. 44
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MULHER E FLORES Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XX . 72 x 59 cm Coleção particular.
RUÍNAS DA CASA DA FAZENDA Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 54 x 66,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos. 45
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BARRACAS DA FEIRA Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 20 x 18 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
SAÍDA DA MISSA Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela .c.c, século XIX-XX. 34 x 41 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos. 46
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LEITURA NO JARDIM Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 56 x 46 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
FLAMBOYANT FLORIDO Georgina de Albuquerque Óleo sobre madeira, século XIX-XX. 25 x 33 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos. 47
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O DESCANSO DA MODELO Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 35,5 x 27,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
MENINAS NA REDE Georgina de Albuquerque Óleo sobre madeira, século XIX-XX. 24 x 33 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos. 48
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ROSAS VERMELHAS Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 70 x 54 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
GUARDA-SÓIS NA PRAIA Georgina de Albuquerque Aquarela, século XIX-XX. 56 x 40 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos. 49
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MENINA DE CHAPÉU Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 62 x 50,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
MUSEU IMPERIAL Georgina de Albuquerque Óleo sobre madeira, século XX . 31 x 40 cm Coleção Francisco de Paula S. V. de Azevedo. 50
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FIGURA FEMININA Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XX. 61 x 44 cm Coleção Ary Casagrande Filho.
ITATIAIA Georgina de Albuquerque Óleo sobre madeira, 1958. 27 x 38 cm Coleção Gerson Zalcberg. 51
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CARROSSEL Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 46 x 61 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
PARQUE DA CIDADE Georgina de Albuquerque Aquarela, século XIX-XX. 25 x 31 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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CAES PHAREUS Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 38 x 46 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
FIM DE TARDE Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 46,5 x 55,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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FRANCISCO LEOPOLDO E SILVA
(1879-1948)
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Ao contrário do irmão mais velho, Dom Duarte Leopoldo e Silva, primeiro arcebispo de São Paulo e como tal totalmente devotado às coisas espirituais, Francisco Leopoldo e Silva interessou-se desde cedo pela realidade palpável, e tendo abraçado a escultura, que é a mais concreta das artes, notabilizou-se como autor de alguns dos nus mais sensuais de toda a nossa estatuária, como a Aretuza, do Parque Siqueira Campos, Nostalgia, na Praça Professor Cardim, ou a Sapho, da Pinacoteca do Estado, estando as três na cidade de São Paulo. Sua paixão pelo corpo feminino levou-o ao extremo, tendo, em 1922, sido o primeiro artista a encimar um túmulo do tradicional Cemitério da Consolação com um corpo nu de mulher. Paulista de Taubaté, Francisco Leopoldo e Silva estudou no Liceu de Artes e Ofício de São Paulo, com Amadeu Zani, e em 1913, com bolsa do governo estadual, seguiu para a Europa a fim de se aperfeiçoar. Em 1915 era aluno de Arturo Dazzi, em Roma – o mesmo Dazzi com quem também estudaria Brecheret. Ao lado desse famoso escultor, chegou a participar de uma exposição realizada no início de 1919 na Casina del Pincio, tendo um cronista observado, no periódico L’Época de 21 de setembro daquele ano, que “dos dois escultores brasileiros, Brecheret e Silva, o primeiro possui mais graça; o segundo, mais vigor”. É provável que Leopoldo e Silva tenha obtido esse maggiore vigore sob o impacto da arte de Rodin, que acabara de morrer em Paris; com efeito, a paixão pelo grande escultor e a marca de sua arte revolucionária se encontraram na origem do fazer estético do brasileiro, e continuarão presentes ao longo de sua carreira. Se em seus começos Leopoldo e Silva e Brecheret repartiam umas poucas coincidências, as mesmas logo se desvaneceriam após o regresso de um e de outro ao Brasil, quando cada qual cuidou de tomar o próprio rumo – Brecheret em direção a um despojamento formal e a uma pesquisa estética que em pouco tempo o transformariam no escultor mais representativo do modernismo brasileiro;
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BEATRICE Francisco Leopoldo e Silva Bronze, século XX. 60 x 10 x 16 cm Coleção João Francisco Barbosa Lima.
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Leopoldo e Silva deixando-se ficar numa posição mais conservadora, da qual se acham ausentes a ousadia e a ruptura, embora não a emoção. Foi quando ainda se encontrava na Itália que Leopoldo e Silva produziu a série de mármores que lhe garantem hoje notoriedade, entre eles os três citados anteriormente. Regressando em 1919 ao Brasil, no ano seguinte realizou em São Paulo uma exposição de 22 mármores e bronzes. Oscilando sua produção entre Rodin e o realismo, trabalhou a figura humana com ênfase no nu feminino, além de praticar o retrato, a arte religiosa, a arte tumular e a arte pública monumental. Em 1995, tentando sem muito êxito tirá-lo do injusto esquecimento em que tombara, a Pinacoteca do Estado de São Paulo incluiu um segmento dedicato à sua obra no âmbito da grande exposição Expressões do Corpo; 23 anos decorridos, cabe agora à Sociarte e ao Museu de Arte Sacra de São Paulo oferecer aos paulistanos nova oportunidade de admirar a obra desse notável escultor.
LEITE, José Roberto Teixeira. Leopoldo e Silva. In: ARAUJO, Emanoel. (Org.). Expressões do corpo na escultura de Rodin, Leopoldo e Silva, De Fiori, Brecheret, Bruni Giorgi. São Paulo: Pinacoteca do Estado de São Paulo, 1995. p. 105-106.
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NOSTALGIA Francisco Leopoldo e Silva Bronze, século XX. 43 x 46 x 26 cm Coleção Eva e Julio Soares de Arruda Neto.
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BUSTO FEMININO Francisco Leopoldo e Silva Mármore, século XIX-XX. 58 x 16 x 7 cm Coleção Ary Casagrande Filho.
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MONTEIRO LOBATO
(1882-1948)
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MONTEIRO LOBATO, A ARTE DE SER MUITOS Todo mundo conhece o Monteiro Lobato escritor de clássicos literários infantis. E até mesmo suas várias facetas como editor de livros, tradutor, ativista político, desenhista e caricaturista. Mas e seu lado pintor? Por incrível que pareça, sua produção plástica começou bem antes de sua carreira na literatura. Criança, já adorava praticar técnicas de desenho e pintura. Assim, é natural que quisesse se matricular na Escola de Belas-Artes na hora de escolher a direção que daria à sua vida. Entretanto, seu avô materno, o Visconde de Tremembé, que se tornara seu tutor após a morte dos pais, exigiu que fosse bacharel em Direito. Já estudante da faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, Lobato continuou a investir na sua paixão pelas artes plásticas, e teria virado pintor não fosse o engano de ter comprado uma caixa de aquarelas no lugar de tinta a óleo. “A vergonha daquela rata matou em mim todas as veleidades pictóricas. Como pretende ser pintor um imbecil que nem distingue aquarela de óleo?”, escreveu, relembrando-se do fato. Ao comentar sobre a vocação que deixara para trás, o criador do personagem Jeca Tatu admitia uma espécie de saudade do que poderia ter sido, se houvesse optado pela pintura: “No fundo não sou literato, sou pintor. Nasci pintor, mas como nunca peguei nos pincéis a sério [...] arranjei este derivativo de literatura, e nada mais tenho feito senão pintar com palavras. Minha impressão dominante é puramente visual”, declarou certa vez. Em uma época em que os livros brasileiros eram normalmente editados em Paris ou Lisboa, Lobato montou uma empresa editorial que, além de dar espaço aos novatos e divulgar a obra de artistas modernistas, investiu na produção gráfica, com capas coloridas e atrativas.
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Como autor de histórias infantis, foi adorado por seu estilo de linguagem simples, que misturava realidade e fantasia. Entre suas obras mais famosas estão Reinações de Narizinho, Caçadas de Pedrinho e O picapau amarelo. Aliás, muitos dos personagens criados para o Sítio do Picapau Amarelo (que também virou programa de TV) estão entre os favoritos de várias gerações e são admirados ainda hoje por adultos e crianças. Dentre eles destacam-se Emília, a boneca de pano com ideias modernas; Pedrinho, alter ego do autor quando criança; Visconde de Sabugosa, o sábio sabugo de milho; Saci Pererê e vários outros. Lobato também foi pioneiro na literatura didática, que representa quase a metade de sua produção literária, com livros infantis que ensinavam história, geografia, matemática, física e gramática.
Em Urupês, deu vida a Jeca Tatu, um caipira preguiçoso, símbolo do atraso e da miséria brasileiros. O livro, fiel para alguns e exagerado para outros, fez enorme sucesso. No fim da vida, o escritor mudou o personagem, transformando-o em trabalhador sem-terra. No ano de 1909, o autor de talentos tão diversos chegou a participar no Rio de Janeiro de um concurso de cartazes e colaborou com ilustrações para algumas revistas, como Fon-Fon e Vida Moderna. Além disso, são dele as ilustrações para a primeira edição do já citado Urupês, em 1918. Mas sua produção como pintor ficou conhecida apenas pelos mais próximos, apesar de ele ter continuado a pintar até os últimos dias de sua vida. Agora, a exposição Artistas de Taubaté vem resgatar esse lado pouco divulgado de Monteiro Lobato para revelar o que muito poucos viram até hoje.
FAZENDA FONTOURA Monteiro Lobato Aquarela, 1940. 15 x 21 cm Coleção Família Fontoura de Moura Andrade.
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ENTRE AMIGOS Monteiro Lobato foi amigo de Clodomiro Amazonas. Sempre que ia a São Paulo, visitava seu ateliê e praticava a pintura de paisagens. Esse hábito foi registrado por Clodomiro em uma interessante aquarela de 1920: Lobato está sentado em um
jardim e tem uma mesinha sobre o colo na qual desenha a nanquim em uma folha. Essa pintura é considerada prova incontestável do costume de Lobato de desenhar ao ar livre.1
MONTEIRO LOBATO Clodomiro Amazonas Aquarela, 1920. Livro “Um Jeca nos Vernissages”, Tadeu Chiarelli, p. 249.
1
Fonte: CHIARELLI, Tadeu. Um Jeca nos Vernissages: Monteiro Lobato e o desejo de uma arte nacional no Brasil. São Paulo: Edusp,1995.
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CERCA Monteiro Lobato Aquarela, 1942. 24 x 35 cm Coleção Família Fontoura de Moura Andrade.
FAZENDA FONTOURA Monteiro Lobato Aquarela, 1940. 22 x 30 cm Coleção Família Fontoura de Moura Andrade.
FAZENDA FONTOURA Monteiro Lobato Aquarela, 1940. 24 x 32 cm Coleção Família Fontoura de Moura Andrade. 68
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Amigo também dos donos do laboratório Fontoura, que fabricava o conhecidíssimo fortificante, Lobato era frequentemente convidado a visitar a fazenda da família. Nessas ocasiões, levava suas tintas e aproveitava para pintar pequenos recantos, que depois presenteava aos anfitriões. Várias dessas obras ficaram expostas na sala da diretoria do laboratório. Após a falência da empresa, foram para os herdeiros dos Fontoura.
O criador de Pedrinho e Narizinho foi amigo ainda de Georgina de Albuquerque. Sempre se viam quando ela ia expor em São Paulo. Para a exposição em que Georgina e o marido, Lucílio, fizeram no Rio de Janeiro, usou o talento pelo qual ficou nacionalmente conhecido para escrever belo artigo sobre as qualidades das pinturas de ambos.
Ruth Sprung Tarasantchi
PAISAGEM RURAL Monteiro Lobato Aquarela, século XIX-XX. 43 x 59 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
CAPELA Monteiro Lobato Aquarela, sem data. 15,5 x 23 cm Coleção Família Fontoura de Moura Andrade. 69
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AQUARELAS Monteiro Lobato Aquarela, 1932. 60,5 x 80 cm Coleção Família Joyce Lobato Campos.
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PALETA DE PINTURA QUE PERTENCEU À MONTEIRO LOBATO Monteiro Lobato Madeira, 1925. 26 x 36cm Coleção Família Joyce Lobato Campos.
FAZENDA DO BUQUIRA PUREZINHA LENDO AO LADO DA JANELA Monteiro Lobato Óleo sobre madeira, 1914/1915. 32 x 38,5 cm Coleção Família Joyce Lobato Campos.
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ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer Arcebispo Metropolitano de São Paulo ASSOCIAÇÃO MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO – SAMAS Conselho de Administração José Oswaldo de Paula Santos Presidente do Conselho de Administração Rodrigo Mindlin Loeb Vice-presidente Arnoldo Wald Filho Demosthenes Madureira de Pinho Neto Dom Carlos Lema Garcia Dom Devair Araújo da Fonseca George Homenco Filho Haron Cohen Maria Elisa Pimenta Camargo Araujo Pe. Fernando José Carneiro Cardoso Pe. José Rodolpho Perazzolo Pe. Luiz Eduardo Baronto Pe. Valeriano Santos Costa Renato de Almeida Whitaker Ricardo Almeida Mendes Ricardo Nogueira do Nascimento Roberta Maria Rangel Rosimeire dos Santos Conselheiros Conselho Fiscal José Emídio Teixeira Jussara Delphino Pe. José João da Silva Conselheiros Conselho Consultivo José Roberto Marcellino dos Santos Presidente Ario Borges Nunes Junior Ary Casagrande Filho Beatriz Vicente de Azevedo Cônego Celso Pedro da Silva Luiz Arena Marcos Mendonça Mari Marino Ricardo I. Ohtake Silvia Aquino Tito Enrique da Silva Neto Conselheiros
MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO
Ligia Maria Paschoal Diniz Assessoria e coordenação
José Carlos Marçal de Barros Diretor Executivo
Alana Iria Augusto Célia Maria Bezerra Cupertino Elaine Bueno Prado Elisa Carvalho Iran Monteiro Lia de Oliveira Ravaglia Strini Rosimeire dos Santos Acervo – catalogação e exposição
Maria Inês Lopes Coutinho Diretora Técnica Luiz Henrique Marcon Neves Diretor de Planejamento e Gestão SOCIARTE José Oswaldo de Paula Santos Presidente Francisco de Paula Simões Vicente de Azevedo Vice-presidente Vilma Ana Mariza C. Barbieri da Rocha Diretora Secretária Francisco José Bueno de Siqueira Diretor Financeiro Ruth Sprung Tarasantchi Diretora de Arte Altair do Carmo Larrubia Diretora Social Oscarlina Bandiera de Oliveira Santos Diretora Cultural Conselho Deliberativo João da Cruz Vicente de Azevedo (Vitalício) Presidente Edmon El Mikui (Vitalício) Vice-presidente José Carlos Etrusco Vieira Secretário Elio Sacco Gerson Zalcberg Ivan Dunshee de A. Oliveira Santos Sergio Barcellos Telles Membros EXPOSIÇÃO Ruth Sprung Tarasantchi Curadoria Roseane Sobral Expografia
Flávia Andrea Siqueira Dias Conservação preventiva Dahoss Cultural Montagem Geraldo Monteiro da Silva Jose Mauri Vieira Marcelo Batista Oliveira Montagem e iluminação Wermeson Teixeira Soares Segurança e montagem – coordenação Roberto Cavalcante Assistente de comunicação Pedro Paulo de Sena Madureira Consultor editorial Vanessa Costa Ribeiro Coordenação Ação Educativa Câmera Press Plotagem Silvia Balady Assessoria de imprensa CATÁLOGO José Roberto Teixeira Leite Ruth Sprung Tarasanchi Textos Roseane Sobral Concepção Estevan dos Anjos [p. 44, 54, 55] Iran Monteiro Fotos Opus Editorial Revisão Claudio S. de Oliveira CRB 8-8831 Ficha catalográfica Rush Gráfica Impressão
AGRADECIMENTOS Catedral Metropolitana de São Paulo Família Fontoura de Moura Andrade Família Joyce Lobato Campos João Rossi Tadeu Chiarelli
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6 BOSQUE COM RIACHO Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, 1936. 120 x 150 cm Coleção particular.
capa
CHAFARIZ EM BANANAL Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 32 x 24 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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8-9 QUARESMEIRAS FLORIDAS Clodomiro Amazonas Óleo sobre tela, 1939. 100 x 130 cm Coleção particular.
2ª capa NU - MANACÁ Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XX. 32 x 23 cm Coleção Gerson Zalcberg.
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10 CAPA DE CATÁLOGOS DAS EXPOSIÇÕES Clodomiro Amazonas Desenho, século XIX-XX.
4ª capa ARREDORES DE TAUBATÉ Clodomiro Amazonas Desenho a crayon sobre papel, sem data. 21 x 28 cm Coleção particular. p.
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2 CAVALGADA AO ANOITECER Georgina de Albuquerque Óleo sobre madeira, século XIX-XX. 34 x 41 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos p.
4 FIGURA FEMININA RELIGIOSA Francisco Leopoldo e Silva Mármore, século XX. Catedral da Sé, São Paulo. 38 x 32 x 28 cm Acervo Catedral Metropolitana de São Paulo.
32-33 MENINAS PULANDO CORDA Georgina de Albuquerque Óleo sobre madeira, século XIX-XX. 33 x 41,5 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos. p.
34 LUZ ATRAVÉS DAS ÁRVORES Georgina de Albuquerque Óleo sobre tela, século XIX-XX. 77,5 x 60 cm Coleção José Oswaldo de Paula Santos.
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54-55 FIGURA NUA FEMININA DE BRUÇOS Francisco Leopoldo e Silva Mármore escultório branco, sem data. 25 x 187 x 65 Coleção Ivani e Jorge Yunes. p.
56 DEUSA DA MEDICINA Francisco Leopoldo e Silva Mármore, século XIX-XX. 78 x 25 x 26 cm Coleção Ary Casagrande Filho. p.
62-63 IGUAPE Monteiro Lobato Aquarela, 1940. 13,5 x 19 cm Coleção Família Fontoura de Moura Andrade.
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64 PAISAGEM COM RIO Monteiro Lobato Aquarela, século XX. 23 x 16 cm Coleção João da Cruz Vicente de Azevedo.
FICHA CATALOGRÁFICA (Elaborada por Cláudio Oliveira CRB8-8831) Artistas de Taubaté / curadoria de Ruth Sprung Tarasantchi; fotografia: Estevan dos Anjos [p. 44, 54, 55] e Iran Monteiro. – São Paulo: Museu de Arte Sacra de São Paulo, 2018. 72p. ; il.
ISBN 978-85-67787-35-0
Exposição realizada de 15 de setembro a 16 de dezembro de 2018 no Museu de Arte Sacra de São Paulo. 1. Exposição 2. Artistas de Taubaté 3. Museu de Arte Sacra de São Paulo I. Título. II. Autor.
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A RT I S TA S D E TA U B AT É
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