Catálogo Exposição Temporária "Mosteiro da Luz: 240 anos"

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240 anos

Colecionador Ruy Souza e Silva

Mosteiro da Luz 240 anos

ISBN 978-85-67787-03-09

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Curadoria: Maria InĂŞs Lopes Coutinho



Mosteiro da Luz 240 Anos 240 anos Colecionador Ruy Souza e Silva


Reprodução fotografia - Convento da Luz Militão Augusto de Azevedo 1860 Papel fotográfico São Paulo, SP Coleção Ruy Souza e Silva


Mosteiro da Luz 240 anos Curadoria: Maria InĂŞs Lopes Coutinho


Claustro - Mosteiro da Luz Centro: Pias Batismais Autor desconhecido Século XVIII Mármore, granito, arenito e pedra sabão Procedência: antiga Sé de São Paulo-SP e Minas Gerais-MG Dimensão: 161 x 68 cm (maior) e 108 x 92 cm (menor) Acervo Museu Arte Sacra de São Paulo



Ficha Catalográfica

Dados Internacionais de catalogação na Publicação (CIP) (Biblioteca José Mindlin - Cláudio S. de Oliveira CRB8 - 8831)

Mosteiro da Luz: 240 anos / curadoria e expografia: Maria Inês Lopes Coutinho; pesquisa e textos: Dalton Sala, Equipe Técnica do MAS. – Museu de Arte Sacra de São Paulo: São Paulo, 2014. ISBN 978-85-67787-03-9 Exposição realizada no Museu de Arte Sacra de São Paulo de 02 de fevereiro a 20 de abril de 2014. 1. Arte. 2. Mosteiro da Luz (história). 3. Fotografia I. Título. CDU – 726.71


Foto aérea Chácara da Luz Destaque Mosteiro da Luz Imagem Digital 2013 Acervo Museu de Arte Sacra de São Paulo


Detalhe - Esgrafito de Frei Galvão realizado na taipa da sua cela, no Mosteiro da Luz Alguns autores atribuem a frontaria ao Mosteiro da Luz, porém José Roberto Marcellino dos Santos pela análise das torres provavelmente refere-se ao frontispício do Presidente do Conselho de Administração Antigo Seminário, que foi construído entre 1853 e 1856 Associação Museu de Arte Sacra de Sãodata Paulo – SAMAS Frei Galvão faleceu em 1822 e o Mosteiro da Luz de 1774 Dimensão aproximada: 220 x 140 cm


Marco histórico da capital paulista

Um olhar atento aos detalhes e à cronologia da exposição que celebra os 240 anos do Mosteiro da Luz levará o visitante a se deparar com um recorte da própria história da cidade de São Paulo. De sua inauguração, em 1774, até os dias atuais, o Mosteiro da Luz testemunhou revoluções tanto metafóricas, como aquelas que foram ditando e mudando os costumes e hábitos desta que é hoje uma das mais importantes metrópoles do planeta, quanto revoltas reais, como a de 1924, na qual o prédio foi danificado pelo ataque das tropas federais aos militares paulistas. A edificação que é hoje a maior construção de taipa remanescente da cidade São Paulo, passou ainda por outra mudança quando, em 1970, parte do edifício utilizado até então exclusivamente pelas religiosas passou a abrigar também o Museu de Arte Sacra. A instituição do Governo do Estado de São Paulo cresceu, evoluiu e hoje detém um dos mais importantes acervos do estilo no país. Portanto, os motivos para visitar a exposição são muitos. Esperamos que vocês aproveitem a mostra e conheçam os detalhes desse marco histórico e arquitetônico fundamental da capital paulista.

Secretaria da Cultura Governo do Estado de São Paulo


Patrimônio artístico

Elegemos 2013 como o ano para romper limites. Nele, além das exposições montadas no interior deste museu, empreendemos o maior número de itinerâncias de nossas coleções: foram três exposições no estado do Rio de Janeiro – uma na capital carioca e duas em Niterói, durante a Jornada Mundial da Juventude – e outras três em municípios paulistas, em São Roque, Itanhaém e São Carlos . De modo que, se considerarmos a visitação intra e extra muros, as obras de arte do Museu de Arte Sacra de São Paulo foram apreciadas pelo maior número de pessoas em um ano em toda a história da instituição: 130 mil . Ainda no ano passado assumimos o papel de capitanear o projeto da Secretaria de Estado da Cultura de constituir uma rede temática de museus de arte sacra. Deslanchamos a primeira fase do Inventário Paulista de Acervos Museológicos de Arte Sacra, que catalogou mais de 1600 itens em 17 instituições localizadas em 15 municípios paulistas, do litoral e da Região Metropolitana de São Paulo. O projeto trouxe à luz um magnífico patrimônio artístico, até então velado . O êxito do museu é inconteste. Somamos audácia à história recente desta que é uma instituição referencial em história e arte sacra. Agora, em nossa primeira exposição temporária de 2014, comemoramos os 240 anos do Mosteiro da Luz, um dos principais monumentos da arquitetura colonial paulista, e aproveitamos para revisitar o passado do próprio Museu de Arte Sacra de São Paulo, aqui abrigado desde 1970. E nossa conclusão é que o passar dos anos agiu como amálgama, tornando-os inseparáveis .

José Roberto Marcellino dos Santos Presidente Conselho de Administração - SAMAS

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Detalhe - Imagem de Nossa Senhora da Luz Autor desconhecido Final do século XVI Barro cozido e policromado Capela do "Piranga" (Ipiranga), São Paulo, SP Dimensão: 112 x 40 x 45 cm com coroa - 134 x 40 x 45 cm (22 x 42 diâmetro) Acervo Museu de Arte Sacra de São Paulo


Abrigo de devoções O primeiro registro de que temos notícia sobre a existência de uma "Igreja da Luz" consta em uma carta do Padre Anchieta, datada de 1579. O documento faz menção à construção em um local conhecido por "Piranga", o que alguns historiadores entendem ser Pinheiros e, outros, ser Ipiranga. De todo modo, no ano de 1603, em 10 de abril, por carta de doação, os portugueses Domingos Luís e Ana Camacho transferem a sede desta igreja, incluindo a imagem de Nossa Senhora da Luz, para a região ao norte do Anhangabaú, "onde teria exercido grande influência na fé da população, uma vez que festividades religiosas eram realizadas nas imediações " (Arroyo, 1954) . Correm os anos, até que, em 1760, recebeu seu hábito aquele que passou a se chamar Frei Antonio de Sant’Anna Galvão. Oito anos depois é nomeado confessor no Recolhimento de Santa Thereza, onde ouve da Irmã Helena Maria do Espírito Santo as visões proféticas que tivera, nas quais fora ordenada a fundar, em São Paulo, outro recolhimento além daquele de Santa Thereza. Um recolhimento, como argumentava o padre Raphael Bluteau (1638-1734), tinha grande alcance moral na colônia, e representava para as mulheres "o pregoeiro de sua honestidade". Portanto, ao chancelar a petição da Irmã Helena, apoiada por Frei Galvão, para a fundação do novo recolhimento, o Governador da Província deixou claro o caráter político e civilizador que via no empreendimento, utilizando a religião como força socializadora e educadora da população sob sua jurisdição. No documento de aprovação do recolhimento, a Câmara da Província ressaltou, segundo o historiador Amilcar Torrão Filho, que, além da utilização pelas religiosas recolhidas, o novo mosteiro constituiria um passeio à população, servindo "de ornato de recreação e ocasião de devoção às pessoas que ali concorrem todos os dias, especialmente aos sábados". Frei Galvão acreditava que a região era promissora e se transformaria em parte importante da cidade. Como aponta o acadêmico Benedito Lima de Toledo, ele antecipou a transformação da área adjacente em Jardim Botânico – o atual Parque da Luz . Estas convergências fizeram com que, em 2 de fevereiro de 1774, Irmã Helena e outras noviças deixassem Santa Thereza, na companhia do capitão general, do governador do bispado, do ouvidor e de Frei Galvão, e rumassem para a Luz. Considera-se, portanto, esta data como sendo a oficial de fundação do Mosteiro da Luz . Desde este translado até hoje, 240 anos se passaram, período no qual o magnífico exemplar de construção em taipa de pilão abrigou tantas devoções em seu interior e assistiu às grandes transformações pelas quais São Paulo passou. Acreditamos que, mercê de cuidados conservacionistas, como os que até agora foram empreendidos, o Mosteiro da Luz possa acompanhar as transformações que ocorrerão nos próximos 240 anos, possibilitando, ao mesmo tempo, abrigar novas devoções e utilizações e permanecer como testemunha da "São Paulo de antigamente".

José Carlos Marçal de Barros Diretor Executivo Museu de Arte Sacra de São Paulo


Conjunto de peças em nó de pinho Iconografia de Santo Antonio Autor desconhecido Século XIX Vale do Paraíba, São Paulo, SP Dimensão: 9 x 3,5 x 4 cm (maior) e 3,6 x 1,2 x 1,5 cm (menor) Acervo Museu de Arte Sacra de São Paulo


Um olhar para a história Há duzentos e quarenta anos, no dia de Nossa Senhora da Luz, 2 de fevereiro, deu-se o lançamento da pedra fundamental da construção do Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição da Luz, erguido para servir de recolhimento das Irmãs Concepcionistas, freiras de clausura, no então bispado de São Paulo. Era o sonho da Irmã Helena Maria do Espírito Santo, que teve sua concretude efetivada no traço e determinação de Frei Galvão, posteriormente canonizado o primeiro santo brasileiro . O que guarda o mosteiro, afinal? O tempo e a memória determinaram as ações desenvolvidas no local. Ainda hoje, o mosteiro mantém a função original, embora a história tenha agregado outras atribuições para além de sua vocação para questões da fé . A partir de 1970, quando o Museu de Arte Sacra de São Paulo foi aqui instalado, o mosteiro transformou-se em logradouro de visitação pública. A instituição museológica passou a exibir ao mundo as histórias, obras e coleções que abriga e estuda, incluindo o próprio Mosteiro da Luz, que, como edificação, constitui o principal objeto deste acervo.Trata-se da maior construção em taipa deSão Paulo, que desfruta da proteção legal com o patrimônio municipal, estadual, federal e, quem sabe um dia, venha a fazer parte do patrimônio cultural da humanidade . Em nossa concepção, são asvocações que se interligaram: as da fé, que amparam e ajudam a minimizar a dor do ser humano, através das pílulas de Frei Galvão, e as da memória, que a partir de cenário, ambiência e obras de arte, permitem repassar conhecimento, educação e reflexão sobre nossa história e identidade . O processo curatorial da exposição Mosteiro da Luz, 240 anos foi uma senda de aprendizado e buscou consolidar a instituição museal a partir de suas coleções. A exposição traz à luz dados da minuciosa pesquisa histórico-cultural realizada pelo Dr. Dalton Sala. Atentos à contemporaneidade, produzimos, em colaboração com o artista Wilson Sukorski, a instalação "Na Chácara da Luz", que recupera mapas da cidade de São Paulo, desde o início do século XIX, e imagens de aereofotogrametria, da década de 1930 à mais recente foto aérea oficial da cidade, datada de 2013. É um misto de passado e futuro, envolvendo história, ciência e tecnologia . O acervo valorizado na exposição, passando por moedas, prataria, imaginária, pinturas, esculturas, iconografia de época, fotografias, aerofotos e mídias digitais, faz com que nossa compreensão do momento histórico se amplie e atravesse o presente, chegando quem sabe às futuras gerações .

Maria Inês Lopes Coutinho Diretora Técnica e Curadora


Detalhe - Imagem de São Francisco Xavier Autor desconhecido Final do século XVII - princípio do século XVIII Madeira com resquícios de policromia Origem: Sete Povos das Missões - RS - Brasil Procedência: São Paulo, SP Dimensão: 1,73 x 73 x 50 cm Acervo Museu de Arte Sacra de São Paulo

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