O corpo do cristão, isto é, daquele que, no transcurso de sua vida terrena, agiu como outro Cristo, depois da morte, não será considerado como um mero cadáver, mas como uma relíquia e, portanto, como um objeto de grande valor, ao qual deverá ser tributada a respectiva honra. O conceito de relíquia permite, então, estabelecer, entre o corpo vivo e o corpo morto, uma continuidade lógica, imediatamente apreensível. O corpo vivo, instrumento do bem e protagonista da virtude, após a morte, torna-se a própria insígnia da vida heroicamente vivida. É um corpo testemunho, ainda que silencioso. Ao longo da história da Igreja, a tal corpo, associaram-se, práticas e rituais que visavam evidenciar o triunfo no árduo combate pela conquista da vida eterna. A partir dele, objetivou-se uma relação entre o espaço e o tempo, expressa, por um lado, pela interminável fração do corpo relíquia e, por outro, pela distribuição dos fragmentos, dessa forma, produzidos. A divisão do corpo implica a possibilidade de sua presença simultânea em muitos lugares. O tempo, por sua vez, parece congelar-se na perenidade do culto, sempre possível de ser revitalizado, por meio da garantia material que um fragmento corporal, ainda que minúsculo, presentifica. O horror que o fantasma da morte impõe ao ser humano manifesta-se de modo paradoxal, quando se considera o culto às relíquias. O contato com um corpo morto, ou com o que dele restou, causa, indiscutivelmente, repúdio na grande maioria das pessoas. A contemplação de uma relíquia, ao contrário, desperta, nos fiéis, sentimentos de conforto e inspira-os à veneração. O que pensar dessa oposição tão radical de afetos despertados no confronto
Apoio:
Realização:
com objetos materialmente idênticos? (Cfr. NUNES JR., A. B., Relíquia: o destino do corpo na tradição cristã, São Paulo: Paulus, 2013, pp. 8-10).
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FICHA CATALOGRÁFICA (Elaborada por Cláudio Oliveira CRB8-8831) R382e
Relíquia: transcendência do corpo Ario Borges Nunes Junior, Beatriz Vicente de Azevedo (Curadoria.) ; fotografia: Iran Monteiro. – São Paulo: Museu de Arte Sacra de São Paulo, 2017. 72p. ; il. ISBN 978-85-67787-26-8 1. Exposição 2. Relicário 3. Museu de Arte Sacra de São Paulo I. Título. II. Autor. CDD 246.5
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Relíquia Transcendência do Corpo
CURADORIA:
ARIO BORGES NUNES JUNIOR E BEATRIZ VICENTE DE AZEVEDO
MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO, 2017
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A necessidade do ser humano em manter alguma forma de contato com o sagrado sempre foi primordial. Estudo conduzido por uma universidade inglesa concluiu que pessoas com o hábito de rezar por dez minutos ao dia apresentam um nível menor de estresse. O efeito de um relicário em quem o carrega, certamente como que materializa o transcendal. O Dr. Ario Borges Nunes Junior, ao se dispor a mostrar parte de seu fantástico acervo de relicários, nos permitirá, ao admirá-los, meditar sobre tantas ”memórias físicas” de seres humanos que se destacaram em suas vidas voltadas, principalmente, pela prática da bondade. Paralelamente, ao prazer estético da mostra a cargo da curadora Beatriz Vicente de Azevedo e da diretora técnica do Museu de Arte Sacra de São Paulo, a museóloga Maria Inês Lopes Coutinho, a leitura do catálogo, escrito pelo próprio responsável pelo acervo, certamente encantará a todos que o lerem, já que não se trata de um mero informativo sobre as peças expostas, mas sim um verdadeiro curso sobre relicários. Esperamos que usufruam dessa exposição cujo tema raramente é abordado.
Museu de Arte Sacra de São Paulo José Oswaldo de Paula Santos
José Carlos Marçal de Barros
Presidente do Conselho de Administração
Diretor Executivo
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A Igreja reconhece, por meio de elaborados processos de canonização, a santidade de muitos de seus membros, aos quais, os católicos devem honrar a memória e prestar culto. Quando estas pessoas viviam neste mundo, suas ações visavam o bem do semelhante, de acordo com o princípio fundamental da ética crist , por este moti o, os fiéis, quando en rentam dificuldades, muita vezes recorrem à sua intercessão. Neste sentido, o contato com as relíquias dos santos pode ser interpretado como um instrumento de aproximação, um elo concreto entre aqueles que estão lutando no cotidiano desta vida e aqueles que já desfrutam da eternidade. Como fragmento do corpo de um santo, ou algo que teve contato direto com esse corpo, a relíquia apresenta-se como testemunho de uma existência material, e portanto, finita, mas, ao mesmo tempo, aponta para a transcendência dessa mesma existência, inserindo-se, assim, no campo do sagrado, em uma classe “sacramental”, conforme a terminologia doutrinal. É particularmente interessante, o confronto com a lógica envolvida no conceito de relíquia e a época contemporânea. Nos tempos atuais, a virtualidade insinua a ausência de limite, enquanto que a relíquia nos remete à dire
o contrária, ou se a, con ronta nos com a finitude da ida, no entanto,
diferentemente de um simples resto mortal, a relíquia, de modo discreto e inequívoco, apresenta a possibilidade de superação de uma condição estritamente natural, mas – e é aqui se apresenta o seu caráter mais genuíno – só a partir da consci ncia do limite imposto pela pr pria finitude. sso ustifica o porque de um psicanalista, rio or es
unes unior, reu-
nir um acervo tão expressivo de relíquias, ele soube reconhecer, nesse campo específico da tradi
o crist , elementos que se relacionam diretamente
com as questões humanas mais intrínsecas trazidas à tona cotidianamente no exercício da prática clínica.
Beatriz Vicente de Azevedo Curadora
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“O cristianismo é essencialmente uma religião histórica”1. A inserção de Cristo na vida humana inscreve-se segundo as coordenadas de espaço e de tempo. Os protagonistas desta história são os santos que, de acordo com as circunstâncias, colocaram-se como marcas concretas da ideologia cristã. Estabeleceram-se, para a apresentação das relíquias, recortes históricos, e neles foram destacados alguns daqueles que, reconhecidamente, vivenciaram de modo radical os pontos de tangência entre a trajetória humana e sua projeção na óptica transcendental, segundo a doutrina cristã. ara a e posi
o das relíquias oram definidos no e
módulos, em relação aos quais o enfoque da santidade adquiriu e press es específicas de destaque imediato, encontram-se as relíquias referentes a Cristo e aos seus contemporâneos. Segue, segundo a linha cronológica, a incidência dos seus seguidores em circunstâncias delineadas pela história da humanidade, de forma geral, e pela história da
re a, de orma específica os mártires, os con essores,
os mendicantes, os reformadores católicos, os místicos, os religiosos – os fundadores e os missionários ad gentes do século XIX – e os inconformados do século XX. Essa diversidade, que expressa as mais singulares formas de encarnação doutrinária, a partir dos testemunhos de seus protagonistas mais ilustres, fortaleceu a atuação da Igreja na história. A exposição, neste sentido, traz recordações materiais desses mesmos protagonistas, material tão caro à Igreja, mais valiosos do que o ouro ou as pedras preciosas.
Ario Borges Nunes Junior Curador e responsável pelo acervo
1
CHRISTOPHE, P. Pequeno Dicionário da História da Igreja, Apelação: Edições São Paulo, 1997, p. 65.
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SUMÁRIO Introdução .................................................................................................................................................................. 15 Do "resto" à relíquia .................................................................................................................................................. 16 Garantias de autenticidade para a exposição de relíquias ................................................................................. 16 lassifica
es ............................................................................................................................................................. 17
Aspectos psicológicos associados ao culto das relíquias .................................................................................... 18 I. Insignias da Salvação (Séc. I) ................................................................................................................................ 20
.
A. Relíquias de Cristo .......................................................................................................................................... 21 . elíquias de outros santos contempor neos de risto ............................................................................ 24 oncreta dentifica o com risto ra dos ártires éc. ................................................................ 26
III. A Consolidação do Cristianismo: Doutores, Eremitas e Monges (Séc.
) ............................................ 30
A. Doutores da Igreja.......................................................................................................................................... 31 . remitas e mon es......................................................................................................................................... 33 Iv. Pobreza e Pregação: As Ordens Mendicantes (Séc. ) ........................................................................ 34
.
A. Ordens Franciscanas ...................................................................................................................................... 35 . rdens ominicanas ..................................................................................................................................... 36 . rdem da em a enturada ir em aria do onte armelo armelitas ......................................38 D. Ordem dos Servos de Maria ...................................................................................................................... 39 E. Ordem de Santo Agostinho ........................................................................................................................ 39 F. Ordem dos Mínimos ................................................................................................................................... 39 . rdem ospitaleira de o o o de eus ................................................................................................ 39 isciplina e orma o e orma at lica e a eno a o da re a éc. ) ................................ 40 . .
ompan ia de esus ............................................................................................................................... 41 utros undadores e re ormadores cat licos ........................................................................................ 41 C Reformas na Ordem Franciscana .............................................................................................................. 42 D. A educação feminina .................................................................................................................................. 43 . umanidade do er o spiritualidade ristoc ntrica e ística do orpo éc. ..................44 A. O carmelo teresiano ................................................................................................................................... 45 . s doentes e os po res ............................................................................................................................. 45 . culto do ora o de esus ...................................................................................................................... 47 D. Êxtases e estigmas ...................................................................................................................................... 48 . eli iosidade oderna iedade ridentina, o as ei es da ida eli iosa e pans o Missionária (Séc. XIX) ......................................................................................................................................... 50 A. Modelos de piedade ................................................................................................................................... 51 . undadores de no os institutos reli iosos .............................................................................................. 53 C. Mártires das missões ad gentes ............................................................................................................... 55 . nte ra o das i eren as e o espertar em ela o ao erceiro undo on ronto com a Miséria e com os Sistemas Totalitários (Séc. XX-XXI) ..................................................................................... 56 A. Mártires da Guerra Civil da Espanha ........................................................................................................ 57 . ítimas dos campos de concentra o ..................................................................................................... 58 C. Mártires do Leste europeu ......................................................................................................................... 60 D. Frutos de santidade no terceiro mundo no combate à miséria ...........................................................60 IX. Relíquias para Uso Pessoal dos Fiéis ................................................................................................................. 62 Relação das relíquias expostas ................................................................................................................................ 65
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INTRODUÇÃO O desejo de santidade e as práticas que a ela conduzem podem ser interpretados seundo uma perspecti a estética.
tra al o de con orma
o ao modelo di ino define se
como a busca da mais perfeita harmonia acessível à compreensão humana, encarnada na pessoa de Cristo, da qual exala o mais doce e agradável perfume, segundo uma clássica metáfora divulgada pela tradição cristã: o bom odor de Cristo. O conceito de beleza é a erido pelo rau de identifica
o com ele que o fiel conse ue atin ir.
sucesso do
empen o nessa arquitetura de si mesmo define a santidade, atri uto para quem está garantida a continuidade da vida para além do túmulo. com a morte á o selamento definiti o da it ria. queles que triun aram, isto é, que se dedicaram efica mente em so repor
pr pria ima em, a do er o encarnado, os
fiéis, que ainda permanecem na milit ncia neste ale de lá rimas, onram a mem ria e tributam culto, tomando-os como inspiradores no árduo combate da vida cotidiana. Um dos aspectos que caracteriza tal reverência diz respeito ao trato com aquilo que restou do corpo do santo e com os demais objetos que estiveram vinculados à sua existência terrena. A esses elementos dá-se o nome de relíquias. O substantivo relíquia provém do latim reliquiae, palavra que designa resto, aquilo que sobrou. Há um termo equivalente em grego leipsanon, que se refere a deixar uma recordação, uma lembrança. No sentido propriamente canônico, o termo relíquia designa os restos mortais de um fiel, cu a santidade de ida oi recon ecida oficialmente pela dos processos de eatifica
o e canoni a
re a, mediante a conclus o
o por e tens o, s o, tam ém, desi nados pelo
conceito os objetos que pertenceram a ele ou estiveram em contato com o seu corpo. esde a anti uidade crist , as relíquias dos mártires oram consideradas pelos fiéis como mais valiosas que as pedras preciosas e mais estimadas que o ouro, como pode-se ler nas Atas do martírio de São Policarpo de Esmirna. De acordo com a narração do Martyrium de Santo Inácio de Antioquia, após a morte do santo, os cristãos se apressaram em recolher os ossos que as feras não trituraram e esses foram, reverentemente, depositados em uma caixa e transportados a Antioquia, como um "tesouro inestimável que o mártir deixava à santa Igreja"2.
,
. or . . Padres apostólicos y apologistas griegos s.
,
adrid
i lioteca de utores ristianos,
2002, p. 364.
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DO "RESTO" À RELÍQUIA Os restos mortais de um santo já contêm a potencialidade da ressurreição da carne, portanto, remetem, imediatamente, ao corpo glorioso. Assim, para que esses elementos possam ser apresentados
enera
o dos fiéis como relíquias, de em ser su metidos a um comple o processamento,
de natureza estética, norteado por aspectos teológicos, litúrgicos e canônicos, que evidenciam o si nificado e o alor doutrinal da relíquia.
alus o ao corpo lorioso é proposta, por e emplo, me-
diante a utilização de ornamentos na confecção e na decoração das construções que custodiam esses despojos sagrados. esse modo, o culto s relíquias dos santos constituiu uma si nificati a onte de inspira
o
cultural e artística, emanada do sagrado. Suas expressões atingiram a arquitetura, a escultura e outras modalidades artísticas, segundo as correntes estéticas dos diferentes períodos históricos (gótica, clássica, barroca etc), e resultou, na atualidade, em um patrimônio artístico de valor incalculável3. A confecção dos relicários possibilitou um amplo exercício de criatividade dos artistas. A variação das formas é bem expressiva: caixas, tecas, reproduções de partes do corpo humano (normalmente, no caso de mártires, a forma correspondia à parte do corpo sobre a qual incidiu a morte pelos algozes), bustos reproduzindo a efígie do santo, ostensório, urna, ampola, quadro, entre outros. Podem ser confeccionados em diversos tipos de metais ou madeira, segundo diferentes técnicas. Frequentemente, são ornados com adereços, muitas vezes, de ouro, de pedras preciosas ou de pérolas4.
GARANTIAS DE AUTENTICIDADE PARA A EXPOSIÇÃO DE RELÍQUIAS Uma questão importante que se coloca em relação à exposição de relíquias, que antecede o processamento estético, diz respeito à autenticidade. Trata-se de uma dimensão canônica. Ao apresentar uma relíquia para a enera
o dos fiéis, é necessário que a autoridade eclesiástica so cu a
jurisdição se mantem a relíquia tenha a certeza moral relativa à autenticidade da mesma. Esse
r.
, . . el culto de los antos, de las imá enes sa radas de las reliquias introducci n, in .
.
– R. RODRÍGUEZ-OCAÑA, Comentario exegético al Código de Derecho Canónico, volumen III/2, 3 ed., Pamplona, Ediciones Universidad de Navarra, p. 1719. 4
16
Cfr. LESSI, F. A. Custodie di santità reliquie e reliquiari a olterra, olterra
otoimma ine,
, p.
.
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elemento faz-se presente no próprio relicário, mediante o selamento do recipiente que contém diretamente a relíquia pelo Ordinário do local do qual a relíquia legitimamente procede, ou por quem, pelo direito, tem a faculdade de reconhecer a autenticidade da mesma. Para a exposição de uma relíquia, a locação em um relicário é uma condição que garante, ao mesmo tempo, o respeito onorífico com que a relíquia de e ser enerada e a sua autenticidade. Depois do encerramento da relíquia no relicário, o mesmo é lacrado e sigilado pela autoridade eclesiástica, evitando-se assim a possibilidade de adulteração. Normalmente, o sigilo é impresso em cera e depositado de maneira a ser impossível abrir o relicário ou a teca sem o seu rompimento. Para a veneração pública de uma relíquia, é necessário um documento no qual é expressamente reconhecida a autenticidade da mesma, emanado por algum Cardeal da Igreja Romana, pelo Ordinário local ou por algum eclesiástico a quem foi concedida a faculdade de autenticar, pelos postuladores das causas de eatifica
o e canoni a
o e pelos superiores maiores das ordens e
congregações religiosas às quais pertenceram os santos dos quais foram extraídas as relíquias. No mesmo documento, encontra-se nomeada a natureza da relíquia (ex ossibus, ex sanguine, ex capillis, ex veste, ex arca sepulchralis etc.), descrita a teca (material, forma) e, muitas vezes, é expressa a autori a
o para a enera
o pú lica dos fiéis.
CLASSIFICAÇÕES s relíquias reais re erem se ao corpo.
corpo umano inteiro, ou um ra mento si nificati a-
mente grande do mesmo, como a cabeça, um braço ou uma perna, o coração, a parte do corpo pela qual o mártir padeceu, desde que esteja íntegra e não seja pequena, é denominado de relíquia “insigne” (Cfr. CIC – 1917, c. 1281 § 2). Pequenas parcelas do corpo são designadas simplesmente como ex corpore (do corpo), ex ossibus (dos ossos), ex corde ou ex praecordiis (do tecido cardíaco), ex carne (da carne), ex cute ou ex tegumentis (da pele), ex sanguine (do sangue). As outras relíquias, ditas “simples”5, podem ser de diversas naturezas, de acordo com os materiais dos quais procedem: ex capillis (dos cabelos), ex cineribus ou ex pulvere corporis (das cinzas do corpo), ex veste (das vestes), ex indumentis (da indumentária), ex pallio (do pálio), ex velo (do véu), ex sportula (do cesto onde o santo guardava os donativos), ex capsa sep. ou ex arca sep. (da caixa mortuária al umas relíquias podem ser pro enientes dos instrumentos de penit ncia do santo ex scutica ferrea (do chicote de ferro) ou ex cilicio (do cilício). Também, são consideradas relíquias
5
Cfr. NAZ, R. “Reliquies”, in Dictionnaire de Droit Canonique, aris
i raire etou e et né,
, p.
.
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fragmentos da casa (ex domo ou de pulvere dom.) onde o santo viveu ou da porta de seu quarto (ex janua cellae), bem como do altar construído sobre o seu sepulcro (ex altari ligneo). As relíquias “representativas” dizem respeito aos objetos que estiveram em contato com o corpo do santo ou do beato e, desde a antiguidade cristã, foram chamadas de brandea, memoria, palliola, pignora, santuaria6, como, por exemplo, fragmentos do tecido tocado aos ossos ou no qual os restos mortais do santo oram en ol idos durante al um tempo as relíquias e traídas desse pano podem ser denominadas ex linteis sep. (do linho sepulcral), ex sudario (do sudário), ex velis sericis in quibus involuta fuerunt ossa (do véu de seda no qual foram envolvidos os ossos). o de caráter oficial, mas de acordo com a tradi classifica
o transmitida oralmente, á ainda uma
o que define tr s cate orias de relíquias as de primeira classe , que procedem direta-
mente do corpo as de se unda classe , que consistem em o etos usados pelo santo ou eato e, por fim, as de terceira classe que pro ém de o etos que esti eram em contato com seus restos mortais7. O termo relíquia refere-se, também, aos objetos que tiveram relação direta com a vida de Cristo, como a cruz8. Os fragmentos da madeira da verdadeira cruz são nomeados como particulam sacri ligni Sanctissmæ Crucis Dominum Nostri Iesu Christi, particulas ex ligno Sancta Crucis D. N. I. C., ou, simplesmente, Sacras Reliquias Sanctissmæ Crucis Dominum Nostri Iesu Christi. Há, ainda, outras relíquias referentes a Cristo provenientes da coroa de espinhos (ex sanctissimæ corona spinea), da coluna da sua a ela
o Colum. Flagel.), da mesa do Cenáculo (Mensæ Coen.), do Santo Sepulcro (ex
Sepul. D. N.), do Presépio (ex Praes. D. N.), do Santo Sudário, dentre outras.
ASPECTOS PSICOLÓGICOS ASSOCIADOS AO CULTO DAS RELÍQUIAS Os restos mortais do mártir tinham grande valor para a comunidade cristã, "não só pelo desejo de venerar sua memória, inspirado na ancestral reverência pelos defuntos, mas também, de modo especial, pela esperança de participar de sua santidade e bemaventurança. Os restos do mártir, isto é, suas relíquias eram, para a comunidade cristã, a prova evidente de sua vitória sobre o perse-
6
Cfr. FOKCINSKI, H. Il culto delle reliquie, in CONGREGATIO DE CAUSIS SANCTORUM, Studium: corso formativo per istruire le ause dei anti, ol. r.
8
18
arte torico
io rafica, dispensae ad usum pri atum auditorum, itt del aticano,
, . Antropologia delle reliquie um caso storico. rescia,
GY, P.-M., “Relíquias”, in GY, P.-M. Dicionário crítico de teologia.
o aulo
orcelliana, aulinas di
, p.
, p.
.
.
es o ola,
, p.
.
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guidor e sobre a morte, a amostra palpável de sua entrega por Cristo, que inspirava naqueles que os veneravam o desejo de imitar seu exemplo"9. As relíquias tornavam presente o santo do qual elas procediam. Na sua presença, ter-se-ia um contato direto com o mesmo e seria possível desfrutar mais intensamente de seu poder intercessor unto a
eus, rente s dificuldades espirituais e materiais. al princípio, sustentado e
amplamente di undido pela ierarquia eclesiástica, le ou os fiéis a acorrerem aos túmulos dos santos incenti ou o dese o, nas comunidades, de custodiarem relíquias em suas i re as e ainda despertou, em cada fiel, a aspira
o de le ar unto a si, ou custodiar em casa, ra mentos dos cor-
pos dos santos, de objetos que foram de seu uso ou de tecidos que estiveram em contato direto com suas sepulturas. As relíquias eram consideradas uma prova tangível da santidade e, por meio do poder a elas atri uído e por elas supostamente mani estado, um aloroso meio pelo qual todos os fiéis podiam usufruir das prerrogativas decorrentes do testemunho daqueles que os precederam na sequela de Cristo, ou seja, a expressão viva do dogma da comunhão dos santos. Tudo isso propiciou uma intensa circulação de relíquias que acompanhou a história da Igreja, desde a antiguidade cristã até a era moderna e que, infelizmente, em muitas circunstâncias, adquiriu proporções exageradas, devido à associação das relíquias com práticas supersticiosas, fomentada pela insuficiente orma
o doutrinária da maioria dos fiéis10.
"A veneração das relíquias está ligada a um instinto primitivo e associa-se a diversos sistemas reli iosos e culturais.
o passado, os fiéis eram t o conscientes como n s dos orrores da morte.
A relíquia de um santo parecia trasformar esse horror em esperança"11. Ao longo da era contemporânea, no entanto, com a ideologia secularizante, houve um redimensionamento da noção de coisa sagrada, enquanto intangível pelo pensamento unicamente racional, o que provocou, em muitos casos, desinteresse e estranhamento em relação às relíquias, até mesmo na esfera eclesiástica12.
r.
,
., i nora sanctorum en torno a las reliquias, su culto
las unciones del mismo, in Reliquias y relicarios
en la expansión mediterránea de la corona de Aragón el tesoro de la catedral de alencia, enaralitat alenciana,
, pp.
96-97. 10
r.
11 12
., . ., Relíquia: o destino do corpo na tradição cristã, São Paulo: Paulus, 2013, p. 97. , ., l Culto delle reliquie: storia, leggende, devozione, Milano, Sugarco Edizioni, 2007., p. 71
Cfr. DE PEDRO, A., "Secularização"/"Secularismo", in Dicionário de termos religiosos e afins, Aparecida, Editora Santuário, 1994, p. 283)
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I. INSIGNIAS DA SALVAÇÃO (SÉC. I) De acordo com a tradição histórica, as relíquias da cruz de Cristo podem ter uma dupla procedência legítima: 1) da asílica da anta ru de erusalém em oma, edificada por onstantino em
, para
custodiar o len o da cru , encontrado por sua m e anta elena lá encontram se tam ém, além de três fragmentos da cruz, um fragmento do titulus crucis, um cra o da crucifica de esus, dois espin os da coroa, ra mentos pro enientes da coluna da a ela
o
o, do an-
to Sepulcro e da gruta do presépio, e uma falange de um dedo de São Tomé Apóstolo13. 2) do tesouro da Catedral de Notre Dame, em Paris, que conserva um fragmento da madeira da cru , a coroa de espin os e um cra o da crucifica
o de esus.
presen a dessas
relíquias na capital francesa deve-se às negociações entre o rei da França São Luís IX e o imperador i antino
audouin , em
em
de a osto de
, c e aram a aris
vinte e duas relíquias de Cristo, provenientes de Constantinopla. Elas foram custodiadas na Sainte-Chapelle, construída por iniciativa do rei São Luís, até a Revolução Francesa, durante a qual elas foram transferidas à Abadia de Saint Denis e
i lioteca nacional em
, elas
foram entregues ao arcebispo de Paris, que as destinou ao tesouro da Catedral . 14
A veneração às relíquias é sempre em referência à pessoa da qual procedem. Assim, por exemplo, a uma relíquia do lenho da verdadeira cruz de Cristo, deve ser tributado o culto de latria, pois se re ere
se unda pessoa da antíssima rindade, esus risto. ma e que o culto tri utado s
Pessoas da Santíssima Trindade (latria) possui uma natureza diversa, em essência, daqueles triutados
ir em
aria
iperdulia e aos santos dulia , a e posi
o de relíquias que se re erem
a Cristo não pode se dar no mesmo relicário que contenha relíquias de santos. Tal prescrição foi formalizada no Código de Direito Canônico de 1917: "não se expõem nunca à veneração pública as relíquias da santa Cruz no mesmo relicário onde se guardam relíquias de Santos, devendo-se utilizar para aquelas um relicário distinto e próprio"15. Assim, as tecas que contêm relíquias associadas à pessoa de Cristo juntamente com relíquias de outros santos são, provavelmente, anteriores a 1917.
13
r. aticana,
20
, ., Sulle orme dei santi a Roma. uida alle ícone, reliquie e case dei santi, itt del aticano i reria ditrice , pp.
.
14
Cf. CATHÉDRALE NOTRE-DAME DE PARIS, Trésor. Guide de visite, p. 74.
15
Cfr. CIC – 1917, c. 1287 § 2.
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A. Relíquias de Cristo
VERDADEIRA CRUZ Natureza: Sacri ligni Sanctissmæ Crucis Dominum Nostri Iesu Christi aterial rata metal e idro Origem: França Data: 29 de junho de 1840 Documento de autenticidade: Matias le Groing de la Romagère Dimensões: 390 x 190 x 135 mm (relicário) 20 x 14 X 5 mm (teca)
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VERDADEIRA CRUZ Natureza: Ex ligno Sancta Crucis D. N. I. C. Material: Metal dourado e vidro ri em erusalém Data: 01 de março de 1904 ocumento de autenticidade udo ico ia i, patriarca de erusalém Dimensões: 350 x 165 x 110 mm (relicário) 340 x 280 mm (teca)
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COROA DE ESPINHOS Natureza: Ex sanctissimae corona spinea D.N.I.C. aterial etal dourado pedras ermel as detal es em esmalte e vidro Origem: França Data: Século XX Dimensões: 85 x 85 x 20 mm
RELÍQUIAS DE CRISTO Natureza: Ex ligno Sanctæ Crucis D. N.; Mensæ Coen.; Colum. Flagel.; ex Sepul. D. N.; ex Praes. D. N. Material: Metal e vidro Data: Século XIX Dimensões: 85 x 60 x 15 mm (teca)
S. SUDÁRIO Natureza: Seda que cobriu o Santo Sudário Material: Papel Origem: Turim, Itália Data: 26 de maio de 1868 ocumento de autenticidade arlos ertolio, custódio do Santo Sudário Dimensões: 210 x 156 mm (seda) 95 x 15 mm (envelope)
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B. Relíquias de outros santos contemporâneos de Cristo
B. V. MARIA Natureza: Ex velo B. Mariæ V.et depulvere dom. ejusd in Loreto aterial etal dourado pedras erdes, ermel as e translúcidas e vidro Data: 1872 Documento de autenticidade: Chapot chanonic Dimensões: 320 x 60 x 60 mm (relicário)
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S. ANA E S. JOAQUIM Natureza: Ex velis sericis in quibus involuta fuerunt oss. SS. Joachim et Annæ aterial rata metal e idro Origem: Roma, Itália Data: 16 de maio de 1884 Documento de autenticidade: Cardeal Lucido Maria Parocchi Dimensões: 220 x 60 x 40 mm (relicário) 30 x 30 x 50 mm (teca)
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S. JOSÉ; S. PEDRO AP.; S. JOAQUIM; S. JOÃO AP. EV. ature a . osé ex domo . edro ex altari ligneo . oaquim ex ossibus . o o . ex domo) aterial etal prata e idro Origem: Roma, Itália Data: 8 de novembro de 1924 ocumento de autenticidade ardeal asílio ompil Dimensões: 436 x 162 x 80 mm (relicário) 52 x 40 x 10 mm (teca)
S. PEDRO AP.; S. PAULO AP.; S. ANDRÉ AP.; S. MATIAS, AP.; S. TIAGO MAIOR AP.; S. JUDAS TADEU AP.; S. TOMÉ AP.; S. SIMÃO AP.; S. FELIPE AP.; S. MATEUS AP. EV.; S. TIAGO MENOR AP.; S. BARTOLOMEU AP. Material: Metal e vidro ata éculo Dimensões: 160 x 100 x 25 mm
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II. CONCRETA IDENTIFICAÇÃO COM CRISTO: A ERA DOS MÁRTIRES (SÉC. I-IV) Nos primeiros séculos do cristianismo, o testemunho dos mártires, ou seja, daqueles que assumiram radicalmente a adesão a Cristo, não recuando nem mesmo frente ao confronto com a morte iolenta, orneceu um componente i o
re e
o teo-
lógica. O impacto que a coragem e a determinação dos mesmos teve sobre a Igreja primitiva foi um dos elementos mais marcantes na dinâmica de expansão do cristianismo. Os mártires, cada um deles como outro Cristo, imprimiram nos fiéis a esperan a concreta na reali a
o das promessas
evangélicas e o seu testemunho tornava vivo, a cada dia e em cada lugar, o sacrifício e o triunfo de Cristo. Tal testemunho le ou os fiéis a con erirem um alor onorífico ao corpo supliciado do mártir, que se tornou a insígnia de sua coragem e do triunfo da sua fé, um verdadeiro tesouro, como parte mesma do corpo daquele do qual provinha a sua força.
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S. VITOR, M. Natureza: Ex ossibus Material: Metal dourado e vidro Data: Século XX Dimensões: 215 x 165 x 120 mm (relicário) 25 x 45 x 30 mm (relíquia)
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S. BLANDINA, M. Natureza: Dente Material: Prata e vidro Data: Século XIX / XX Dimensões: 182 x 68 x 68 mm (relicário) 30 x 20 mm (teca)
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S. CLEMENTE M.; S. AMANDO M.; S. EUTRÓPIA M.; S. ANTÔNIO M.; S. DESIDÉRIO M.; S. INOCENTE M.; S. JUSTA M.; S. VICENTE M.; S. SATURNINO M.; S. CASTA M. Material: Metal (dourado e prateado), papelão, tecido e vidro Dimensões: 310 x 128 x 95 mm (relicário) 65 x 65 mm (teca)
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MÁRTIRES DE PÁDUA; S. UMILIATE M. Natureza: Ex ossibus Material: Metal e vidro ata éculo Dimensões: 113 x 79 x 20 mm
S. FÉLIX M.; S. AQUILES.; S. FORTUNATO aterial etal dourado e prateado papel o tecido e idro ata éculo Dimensões: 60 x 83 x 12 mm
S. ALESIO M.; S. SERENO M. Material: Mármore Data: Século XX Dimensões: 200 x 120 x 18 mm (pedra) 28 x 45 mm (“túmulo”)
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III.
A CONSOLIDAÇÃO DO CRISTIANISMO: DOUTORES, EREMITAS E MONGES (SÉC. IV-XIII)
om o fim das perse ui
es, a re aram se ao testemun o dos
mártires outras modalidades de identifica
o com risto, a ora,
incruentas, ou seja, aquelas concernentes à vivência cotidiana da renúncia de si mesmo, do sacrifício e da disciplina. Assim, depois da era dos mártires, teve lugar o culto àqueles que se destacaram no empenho do exercício ordinário das virtudes propostas pelo Evangelho. Foram designados pelo título de "confessores", que abrangia bispos, presbíteros, ermitãos, monges, missionários. A alguns bispos e presbíteros que, pela sua tenácia e sua ciência, defenderam a pureza doutrinária e a unidade da Igreja, atri uiu se, ainda, o título de doutores da
re a dentre esses,
destacaram se . er nimo, . m r sio e .
ostin o, conside-
rados as colunas do humanismo cristão. Os ascetas e os monges, por sua vez, contribuíram pelo testemunho expresso pelo empenho no domínio de si mesmos e pela vida de oração16. A vida monástica, surgida no Egito, difundiu-se enormemente na uropa, a partir de . ento ras ordens monásticas, li adas
tradi
ram, especialmente entre os séculos
16
r.
o e
, l culto dei martiri, in
eneditina,
. númeoresce-
.
,
Studium: corso formativo per istruire le Cause dei Santi, vol. II. Parte Storicoio rafica, idade do aticano,
30
, p.
.
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A. Doutores da Igreja
S. BASÍLIO (330-379) aterial etal dourado e prateado prata e idro Data: Século XIX / XX Dimensões: 310 x 130 x 80 mm (relicário) 40 x 35 mm (teca)
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S. AGOSTINHO (354-430) Natureza: Ex ossibus aterial etal dourado e prateado idro Origem: Roma, Itália Data:16 de junho de 1837 Documento de autenticidade: Paulo Marusci, arcebispo armênio de Calcedônia Dimensões: 253 x 100 x 82 mm (relicário) 30 x 24 mm (teca)
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S. GREGÓRIO MAGNO (540-604); S. JERÔNIMO (340-420) aterial etal dourado e prateado pedras erdes, ermel as e translúcidas idro Data: Século XIX / XX Dimensões: 223 x 73 x 57 mm (relicário) 20 x 15 mm (teca)
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B. Eremitas e monges
S. GERTRUDES (1256-1301/02) Natureza: Ex ossibus aterial etal dourado e prateado pedras verdes e vidro Origem: Cariati, Itália Data: 20 de janeiro de 1955 Documento de autenticidade: Eugênio Rafael Faggiano, bispo de Cariati Dimensões: 280 x 122 x 101 mm (relicário) 33 x 33 mm (teca)
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IV.
POBREZA E PREGAÇÃO: AS ORDENS MENDICANTES (SÉC. XIII-XVI)
As ordens mendicantes representaram, no século XIII, um grande sinal religioso, pois surgiram como resposta aos movimentos heréticos surgidos no século anterior. Os mendicantes estão vinculados à Igreja pelos votos, mas não são monges. Ainda que adotem a vida comunitária, estão inseridos no seio da sociedade. São Francisco de Assis e São Domingos de Gusmão foram os representantes mais si nificati os dessa modalidade de ida reli iosa. Para o primeiro, a pobreza constitui uma forma de pregação, a pobreza fala por si mesma. Para São Domingos, a pregação tem prioridade, mas a renúncia à propriedade e às rendas vincula à imitação perfeita de Cristo. Em síntese, a inovação essencial trazida pelas ordens mendicantes foi o caráter apostólico, segundo duas perspectivas: pobreza estrita e pregação itinerante. As pregações eram adaptadas às condições das comunidades por onde os frades passavam. Havia, ainda, a valorização da vida leiga, mediante a profiss o nas ordens terceiras. As ordens mendicantes difundiram-se largamente. Aos franciscanos e dominicanos, juntaram-se, em espírito semelhante, os carmelitas, os agostinianos (1244), os servitas (1233), os trinitários , os mínimos
, os ospitaleiros de
o o o de
eus
(1537), dentre outros.
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A. Ordens Franciscanas
S. FRANCISCO DE ASSIS (1182-1226); S. CLARA DE ASSIS (1193-1253) Natureza: Ex cineribus Material: Metal dourado e vidro Origem: Assis, Itália Data: 19 de abril de 1892 Documento de autenticidade: Nicanor Priori, bispo de Assis Dimensões: 280 x 85 x 85 mm (relicário) 38 x 24 mm (teca)
S. ANTÔNIO DE LISBOA (1188-1231) Natureza: Ex ossibus aterial etal dourado e prateado idro Origem: Roma, Itália Data: 14 de fevereiro de 1975 ocumento de autenticidade r. ernardino de Sena, postulador geral OFMCap Dimensões: 268 x 110 x 110 mm (relicário) 30 x 30 mm (teca)
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S. LUÍS IX, REI DA FRANÇA (1224-1270) aterial etal dourado pedras translúcidas e vidro
B. Ordens Dominicanas
S. DOMINGOS DE GUSMÃO (1175-1221) Natureza: Ex ossibus Material: Metal prateado e vidro Origem: Roma, Itália Data: 17 de novembro de 2012 ocumento de autenticidade r. ito . ome , postulador geral OP. Dimensões: 281 x 150 x 80 mm (relicário) 35 x 35 mm (teca)
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S. TOMÁS DE AQUINO (1225-1274) Natureza: Ex ossibus Material: Metal e vidro Origem: Roma, Itália Data: 10 de novembro de 1914 ocumento de autenticidade ardeal asílio ompil Dimensões: 129 x 63 x 44 mm (relicário) 22 x 22 mm (teca) 218 x 313 mm (documento)
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C. Ordem da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo (Carmelitas)
S. SIMÃO STOCK (†1265) Natureza: Ex ossibus Material: Metal dourado e vidro Origem: Roma, Itália Data: 06 de julho de 1992 Documento de autenticidade: Fr. Simeão da Sagrada Família, postulador geral OCD Dimensões: 265 x 134 x 95 mm (relicário) 30 x 30 mm (teca)
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D. Ordem dos Servos de Maria
S. JULIANA FALCONIERI (†1341) Material: Metal dourado e vidro Data: Século XX Dimensões: 35 x 35 x 8 mm
F. Ordem dos Mínimos
S. FRANCISCO DE PAULA (1416-1507) Natureza: Ex ossibus Material: Metal e vidro Origem: Roma, Itália ata éculo Dimensões: 30 x 25 x 11 mm
E. Ordem de Santo Agostinho
S. RITA DE CÁSSIA (1381-1447) Natureza: Ex ossibus aterial rata pedras a uis e idro Data: Século XX ri em idade do aticano Dimensões: 38 x 38 x 8 mm
G. Ordem Hospitaleira de São João de Deus
S. JOÃO DE DEUS (1495-1550) Natureza: Ex sportula Material: Metal dourado e vidro Origem: Roma, Itália Data: Século XX Dimensões: 33 x 33 mm Relíquia: Transcendência do Corpo
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GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Geraldo Alckmin Governador do Estado José Luiz Penna Secretário da Cultura do Estado Romildo Campello Secretário-adjunto da Cultura do Estado Regina Célia Pousa Ponte Coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico da Cultura do Estado ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer Arcebispo Metropolitano de São Paulo ASSOCIAÇÃO MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO – SAMAS Conselho Administrativo José Oswaldo de Paula Santos Presidente do Conselho de Administração Rodrigo Mindlin Loeb Vice - Presidente Arnoldo Wald Filho Demosthenes Madureira de Pinho Neto Dom Carlos Lema Garcia Dom Devair Araújo da Fonseca Haron Cohen Luiz Arena Maria Elisa Pimenta Camargo Araujo Pe. Fernando José Carneiro Cardoso Pe. José Rodolpho Perazzolo Pe. Luiz Eduardo Baronto Pe. Valeriano Santos Costa
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Renato de Almeida Whitaker Ricardo Almeida Mendes Ricardo Nogueira do Nascimento Ricardo Von Brusky Roberta Maria Rangel Rosimeire dos Santos Conselheiros Conselho Fiscal José Emídio Teixeira Jussara Delphino Pe. José João da Silva Conselheiros Conselho Consultivo José Roberto Marcellino dos Santos Presidente Ary Casagrande Filho Beatriz Vicente de Azevedo Cônego Celso Pedro da Silva Marcos Mendonça Maria Alice Milliet Mari Marino Ricardo I. Ohtake Silvia Aquino Tito Enrique da Silva Neto Conselheiros MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO José Carlos Marçal de Barros Diretor Executivo Maria Inês Lopes Coutinho Diretora Técnica Luiz Henrique Marcon Neves Diretor de Planejamento e Gestão
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EXPOSIÇÃO Ario Borges Nunes Junior Beatriz Vicente de Azevedo Curadoria Maria Inês Lopes Coutinho Expografia Ario Borges Nunes Junior Textos e conservação de acervo Alana Iria Augusto Carmen Luiza Valeriano Batista Célia Maria Bezerra Cupertino Elaine Bueno Prado Elisa Carvalho Iran Monteiro Lia de Oliveira Ravaglia Strini Rosimeire dos Santos Acervo - Catalogação e Exposição Dahoss Cultural Geraldo Monteiro da Silva Jose Mauri Vieira Marcelo Batista Oliveira Montagem e iluminação Wermeson Teixeira Soares Segurança e montagem – coordenação
Ligia Maria Paschoal Diniz Assistente - Equipe Técnica Pedro Paulo de Sena Madureira Consultor Editorial Iran Monteiro Fotografia Roseane Sobral Comunicação visual, projeto gráfico, tratamento de imagem e diagramação Claudio S. De Oliveira CRB 8-8831 Ficha Catalográfica Rush Gráfica Impressão Ação Educativa Vanessa Ribeiro – coordenação César Rodrigues – supervisão Câmera Press Plotagem Silvia Balady Assessoria de Imprensa
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O corpo do cristão, isto é, daquele que, no transcurso de sua vida terrena, agiu como outro Cristo, depois da morte, não será considerado como um mero cadáver, mas como uma relíquia e, portanto, como um objeto de grande valor, ao qual deverá ser tributada a respectiva honra. O conceito de relíquia permite, então, estabelecer, entre o corpo vivo e o corpo morto, uma continuidade lógica, imediatamente apreensível. O corpo vivo, instrumento do bem e protagonista da virtude, após a morte, torna-se a própria insígnia da vida heroicamente vivida. É um corpo testemunho, ainda que silencioso. Ao longo da história da Igreja, a tal corpo, associaram-se, práticas e rituais que visavam evidenciar o triunfo no árduo combate pela conquista da vida eterna. A partir dele, objetivou-se uma relação entre o espaço e o tempo, expressa, por um lado, pela interminável fração do corpo relíquia e, por outro, pela distribuição dos fragmentos, dessa forma, produzidos. A divisão do corpo implica a possibilidade de sua presença simultânea em muitos lugares. O tempo, por sua vez, parece congelar-se na perenidade do culto, sempre possível de ser revitalizado, por meio da garantia material que um fragmento corporal, ainda que minúsculo, presentifica. O horror que o fantasma da morte impõe ao ser humano manifesta-se de modo paradoxal, quando se considera o culto às relíquias. O contato com um corpo morto, ou com o que dele restou, causa, indiscutivelmente, repúdio na grande maioria das pessoas. A contemplação de uma relíquia, ao contrário, desperta, nos fiéis, sentimentos de conforto e inspira-os à veneração. O que pensar dessa oposição tão radical de afetos despertados no confronto
Apoio:
Realização:
com objetos materialmente idênticos? (Cfr. NUNES JR., A. B., Relíquia: o destino do corpo na tradição cristã, São Paulo: Paulus, 2013, pp. 8-10).
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