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1 2 3 4 5 CINCO MINUTOS COM: GIAN AQUINO POR REGINA VALENTE FOTOS: DIVULGAÇÃO GIAN DE AQUINOTuba para todos

CINCO MINUTOS COM

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Gian de Aquino

Principal tubista da Orquestra Sinfônica de São Paulo, Gian de Aquino sempre se esmerou muito nos estudos e hoje colhe os resultados: uma carreira sólida e reconhecimento, principalmente pela dedicação às bandas e fanfarras

Gian Marco de Aquino é um músico determinado. Desde que começou a estudar tuba em 1982, na Escola de Música de Brasília, com o professor Levy Carvalho de Castro, sempre soube o que queria: viver de música. “Fui o primeiro tubista a ganhar concursos para jovens instrumentistas”, conta. Hoje é um profi ssional reconhecido – é o principal tubista da Orquestra Sinfônica de São Paulo. Mas, antes disso, ele estudou e se dedicou muito. “A paixão foi tão arrebatadora, que decidi sair de Brasília e ir para São Paulo, em 1984, estudar com o melhor professor de tuba que havia no Brasil, Donald Smith, em uma das melhores escolas de música de São Paulo, o Conservatório Musical Brooklin Paulista”, relembra Aquino, que voltou a esse mesmo conservatório tempos depois, como professor. E não parou mais. Estudou música de câmara, banda sinfônica e orquestra e teve aulas particulares com importantes instrumentistas de metal no Brasil e nos Estados Unidos. Além da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, o tubista desenvolve atividades pedagógicas na Universidade Livre de Música. “Ensino crianças e jovens a tocar instrumentos de sopro e percussão, utilizando o sistema coletivo de ensino”, diz.

participações em orquestras. Como se desenvolveu seu caminho musical?

Gian Marco de Aquino - Comecei a tocar quando tinha 12 anos, na banda marcial do colégio marista de Brasília. Primeiro no trompete e depois, em virtude de necessidades da banda, mudei para a tuba. Como me adaptei bem ao instrumento, e não existiam muitos jovens praticando-o, um grande amigo, o Maestro França, da escola de música de Brasília, me incentivou a iniciar o estudo desse instrumento. Naquela época, eu praticamente desconhecia a tuba, só sabia o que tinha aprendido na banda. Comecei a tocar nos

SETUP DE GIAN MARCO DE AQUINO

• Tuba Walter Nirchl em Sib, de origem alemã, modelo Perantucci. “Comprei-a usada em agosto passado. É um instrumento maravilhoso, feito à mão, único na América e não existem nem dez desses em todo o mundo. É uma tuba grande, mas fácil de ser tocada e com um lindo timbre”, conta o tubista. • Tuba em Fá Yamaha, modelo YFB 622. “Utilizo para tocar óperas e balés quando toco no fosso do Teatro Municipal (São Paulo) e em solos e concertos com pequenos grupos.” • Tuba Weril 3/4 em Sib • Tuba Scavonne em Dó

grupos da escola de música e seis meses depois passei no teste para participar do festival de inverno de Campos do Jordão. Não sei bem por que, mas a paixão foi tão arrebatadora, que decidi ir para São Paulo para estudar com o melhor professor de tuba que havia no Brasil, Donald Smith, numa das melhores escolas de música de São Paulo, o Conservatório Musical Brooklin Paulista, do professor Sígrido Levental. Daí para a frente foi só seguir o caminho normal dos músicos de orquestra: iniciar em uma orquestra ou banda jovem, participar de vários cursos de férias, fazer audições, ir mudando para orquestras cada vez melhores e assim por diante.

> Em sua opinião, que características defi nem um bom tubista?

Quando alguém vem fazer a primeira aula comigo, a primeira coisa que eu digo é que pode não parecer, mas a tuba é um instrumento musical como qualquer outro. É muito importante ter um lindo som, boa afi nação e, principalmente, conseguir se expressar, emocionar os outros de alguma maneira enquanto estiver tocando. É claro que um tubista que toca notas muito rápidas, muito agudo ou outras pirotecnias me impressiona, mas o que eu gosto mesmo é de um tubista musical, com um lindo fraseado, aquele que realmente conta uma história com seu instrumento.

> Como você defi ne seu estilo musical?

Não tenho um estilo musical muito defi nido. Tento fazer a diferença todos os dias em todos os sentidos: tocar melhor, tocar coisas novas e, principalmente, fazer com que as pessoas passem a apreciar esse instrumento que eu tanto gosto. Sempre fui um empreendedor e inovador em relação ao meu instrumento. Fui o primeiro tubista a ganhar concursos para jovens instrumentistas, o primeiro tubista brasileiro a fazer recitais, o primeiro a tocar concertos solistas com orquestra e bandas, o primeiro a ter obras escritas especialmente para ele, e agora o primeiro tubista brasileiro a ter um site na Internet (www.gianaquino.mus.br).

> Quem são suas principais infl uências?

Quando iniciei na tuba, o tubista mais famoso do mundo se chamava Roger Bobo. O primeiro disco que comprei é dele tocando, um LP. Também me infl uenciaram o Charles Dallembach, do Canadian Brass; o Gene Pokorne, da Orquestra de Chicago; e mais atualmente e que se tornou meu grande amigo, James Gourlay, do RNMC, que me mostrou que força sem qualidade não é nada. E, fi nalmente, o que mudou a maneira como todos no mundo passaram a pensar e tocar tuba, Arnold Jacobs.

> Como é sua rotina de estudo e prática musical?

Toco todos os dias por pelo menos uma hora e meia, incluindo sábados, domingos e feriados. Quando vou tocar algo novo e difícil na orquestra ou fazer algum solo, este tempo aumenta consideravelmente. Faço várias coisas por dia, mas o que gosto mesmo é de fi car tocando tuba no salão da casa da minha sogra, por isso não me incomoda praticar todos os dias. em adquirir um bom instrumento, passam pela falta de tradição, de termos uma escola brasileira de tuba e terminam na falta de oportunidade de trabalho para o jovem tubista. Está bem melhor do que quando eu iniciei, mas ainda é bem difícil. Hoje, com a Internet, você pode comprar bons métodos, ler bons artigos – principalmente se falar inglês – e se comunicar com tubistas do mundo todo. Mas o equipamento é muito caro, estudar inglês ainda é um sonho para a maioria dos brasileiros e por aí vai. As pessoas também devem se conscientizar da importância do ensino da música nas escolas. Vários estudos já comprovaram os diversos benefícios que a música traz às pessoas e seria muito bom para o País como um todo se o ensino da música fosse mais difundido.

> Você também é muito atuante no universo de bandas e fanfarras. Acredita que está acontecendo um resgate das bandas marciais no Brasil?

Acho que são, na verdade, atitudes isoladas de visionários e apaixonados que vão lutando contra tudo e todos para tentar melhorar o meio. Gosto muito da qualidade musical e técnica das bandas de hoje. Mas em virtude da difi culdade fi nanceira em que o País se encontra, temos ainda muito poucas bandas. Antigamente as disputas entre as bandas ligadas a escolas era enorme. Hoje em dia, quantas escolas têm dinheiro ou interesse em manter uma banda? Este trabalho com as bandas e fanfarras se deve em grande parte ao amor que você passa a ter por bandas e fanfarras quando tem a oportunidade de tocar em alguma delas. São milhões de histórias maravilhosas, momentos inesquecíveis e não consigo me desligar do meio de forma alguma. Já me aposentei de bandas e fanfarras umas mil vezes, mas basta ouvir uma tocando, que o sangue sobe pelo meu corpo e lá estou eu dando palpite em tudo, sugerindo várias mudanças.

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