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Um Sopro de Brasil agora em DVD: memória preservada da música instrumental

PALCO DOS MESTRES

Um Sopro de Brasil, iniciativa histórica que reuniu os maiores nomes do sopro nacional e fi cou eternizada em forma de livro, CD e DVD e, acima de tudo, em nossas lembranças.

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Bons ventos nos trouxeram de volta uma das iniciativas mais bem-sucedidas entre os amantes da música, especialmente dos instrumentos de sopro. Para celebrar o lançamento do CD, livro e DVDs Um Sopro de Brasil, foram

levados ao palco do Sesc Pinheiros, nos dias 27 e 28 de maio, instrumentistas do quilate de Paulo Moura, Vinicius Dorin, Teco Cardoso, Vittor Santos, Léa Freire, Altamiro Carrilho, Adolfo Almeida Jr., Mané Silveira, Maurício Einhorn, Joatan Nascimento e Mauro Rodrigues. Quem esteve por lá não deixou de adquirir o ’pacote’, e se deleitou com os shows dos instrumentistas acompanhados por uma banda formada pelos mestres Benjamim Taubkin (piano), Zeca Assumpção (baixo acústico), Caito Marcondes (percussão), Guello (percussão), Edmilson Capelluppi (violão), Rodrigo Campos (cavaquinho), Mayra Moraes (violino), Simplício Brito Jr. (violino), Eduardo Bello (violoncelo) e Alexandre Razera (viola). Este lançamento foi uma reedição do evento de 2004, com um menor núme

ro de músicos, mas a mesma qualidade musical. Em novembro daquele ano, Um Sopro de Brasil, uma iniciativa de Myriam Taubkin e Morris Picciotto, tornou real um sonho de muitos saxofonistas, fl autistas, oboístas, clarinetistas e outros ‘istas’ do sopro: reunir, em um único palco, as riquezas dos timbres e nuances desses instrumentos sempre presentes nas formações populares e eruditas de nossa música, enfatizando a diversidade harmônica criada com a fusão desses instrumentos e as infi - nitas possibilidades de arranjos.

Grandes nomes do sopro

Prestigiando 250 instrumentistas no recém-inaugurado palco do Sesc Pinheiros, um público de 5 mil pessoas teve a oportunidade de presenciar momentos indescritíveis de musicalidade e performance. O evento contou com a presença de autoridades da nossa música como Nailor Proveta e a Banda Mantiqueira, Roberto Sion, a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, regida por Abel Rocha, a Spok Frevo Orquestra, entre tantos outros nomes que podemos assistir, ouvir e ler neste pacote, disponível pelo site www. projetomemoriabrasileira.com.br. A partir de Um Sopro de Brasil, muitos músicos e apreciadores tiveram a real dimensão do que o nosso universo do sopro é capaz de atingir tanto em termos de público quanto em requintes harmôni

Mais de 250 instrumentistas subiram ao palco do SESC Pinheiros, em São Paulo: oportunidade única de ver, reunidos, os grandes mestres da música instrumental brasileira. Abaixo, Carlos Malta e o Pife Muderno durante show

cos na execução desses tão desejados instrumentos. Como bem explicou Myriam Taubkin, coordenadora do projeto, “o sopro expressa sensações e cria códigos que fazem parte da cultura de um povo. É o assobio que chama o companheiro de turma, que reconhece a beleza de uma mulher ou que identifi ca o passarinho, é o apito do juiz nas quadras, do guarda no trânsito, do mestre de bateria numa escola de samba. E o que dizer dos instrumentos de sopro? É uma viagem sem fi m com sua profusão de timbres, sonoridades, estilos e utilizações experimentadas nas tradições brasileiras, não só nos ambientes de música como nas mais diversas manifestações culturais que fazem parte do cotidiano popular”.

Interação com o público

Um Sopro de Brasil também ofereceu oficinas abertas ao público, em que as pessoas tiveram a oportunidade de se aproximar dos instrumentos e arriscar seus primeiros sopros. Entre os temas, foram abordados a construção de instrumentos com materiais inusitados, os ritmos e a técnica do pife, os ritmos nordestinos nos metais, a gaita de boca como medicamento da alma, a história da flauta e a improvisação no sopro brasileiro. Toda essa empreitada aproxima o público do universo musical, dando acesso aos instrumentos e aguçando o desejo pelo estudo dessa arte. Tanto o CD como o livro e os DVDs do show compõem um material de pesquisa indispensável para qualquer músico, além de ser uma oportunidade de assistir a um espetáculo inesquecível.

1 2 3 4 5 CINCO MINUTOS COM: ESDRAS GALLO FOTOS: DIVULGAÇÃO POR REGINA VALENTE ESDRAS GALLOMúsica para louvar e aprender

CINCO MINUTOS COM

Esdras Gallo

Com uma ampla formação teórica, o saxofonista se tornou uma das principais referências quando se fala em música gospel, dirigindo gravações de CDs e DVDs, além de lançar seu primeiro trabalho-solo instrumental, Lugares Altos

Cada profi ssional tem um envolvimento diferente com a música e se revela de uma forma. As bandas e corais de igrejas costumam ser um grande celeiro de talentos. No caso do saxofonista, produtor e arranjador Esdras Gallo, o caminho foi justamente esse. “A música sempre fez parte da minha vida. Sou fi lho de saxofonista e sempre via meu pai tocando na banda da igreja em Bragança Paulista, onde nasci”, conta Gallo sobre sua infância na cidade do interior paulista. Admirador de Michael Brecker, Vinícius Dorin, Eric Marienthal e Marc Russo, entre outros, o instrumentista estudou nos Conservatórios Villa-Lobos e Dramático de São Paulo até os 20 anos e depois se aperfeiçoou com aulas particulares até os 30. Curiosamente, trabalhou por 15 anos na área de engenharia, mas sempre tendo a música como atividade paralela importante. Entre suas idas e vindas para São Paulo para tocar e gravar em estúdios, conheceu o Ministério Renascer e dali sua carreira como músico e produtor deslanchou. Coleciona participações em eventos, produziu CDs e DVDs, e há 12 anos se dedica totalmente à música e ao seu trabalho como pastor de louvor na Igreja Apostólica Renascer em Cristo.

> Sax & Metais - Como começou na música gospel?

Esdras Gallo - Mesmo trabalhando na área de engenharia, eram comuns as minhas vindas para São Paulo para tocar e gravar em estúdios. Entre essas idas e vindas conheci o Ministério Renascer por meio da banda Troad, no fi m dos anos 1980. Em 1994, fui convidado pelo Apóstolo Estevam Hernandes para formar o Coral Renascer e dirigir o primeiro CD ao vivo do Grupo Renascer Praise. A partir daí, deixei meu trabalho no meio secular e passei a estar envolvido no ministério de música da igreja em tempo integral. Atuo como pastor de louvor na Igreja Apostólica Renascer em Cristo – Sede Internacional, da qual sou membro.

> Qual é a sua opinião sobre o papel da música na Igreja?

É fundamental. Deus habita no meio dos louvores e a música tem para o cristão uma função muito maior do que arte, entretenimento ou até mesmo profi ssão: atrair a presença de Deus e nos aproximar do seu coração. O louvor é uma arma espiritual de libertação, de guerra, de adoração, de júbilo e de comunhão com o Pai.

Acima, capa do novo CD e, ao lado, Gallo com a filha Ana Beatriz, que já demonstra interesse pela música

> Lugares Altos é seu primeiro CD instrumental e que tem sua participação na produção. Como foi o desenvolvimento desse trabalho?

Neste projeto, revisitei vários sucessos que marcaram e inspiraram a música gospel no Brasil e no mundo. São vários estilos como blues, smooth jazz, ballads e instrumental pop. As músicas vão desde hinos tradicionais como Grandioso És Tu e Tu És Fiel até clássicos inesquecíveis cantados em igrejas pentecostais, como Eram Cem Ovelhas, Manso e Suave e Rude Cruz. Esse projeto abrange também canções conhecidas dos últimos 10 anos: Sonda-me, Ao Único, O Nome de Jesus. Há outros sucessos como Voz do Espírito, Tudo Posso, Lugares Altos e Recebe Minha Adoração, do Renascer Praise. As duas últimas são composições minhas. Ainda fazem parte desse álbum canções que marcaram a música gospel ao redor do mundo, como Amazing Grace, Shout to the Lord e Holy, Holy, Holy. O CD foi produzido e dirigido por mim, com arranjos de Ronaldo Gomes e Ruben Moraes e arranjos vocais de Léo Marx.

> Você já tocou com grandes nomes da música gospel. Quem destacaria dentre tantas parcerias?

Meus trabalhos como saxofonista incluem participações em CDs, DVDs, vídeos, turnês e shows, com inúmeros nomes da música cristã no Brasil e no exterior, como Ron Kenoly, Marcos Witt, Paul Wilbur, Bob Fitts, além de Jorge Camargo, João Alexandre, Soraia Moraes, Kleber Lucas, Cristina Mel, Ana Paula Valadão, Bispo Benê Gomes, Vitorino Silva, Priscila Angel, Robson Nascimento, Aline Barros, Shyrlei Carvalhaes, Pastor Massao (Igreja Holiness de Pompéia), Vencedores por Cristo, Troad, Kadoshi... Todos esses nomes têm seu destaque dentro da música cristã, mas quem mais me marcou foi Marcos Witt, pelo seu carinho e atenção com músicos que Deus tem levantado ao redor do mundo.

> Como é o seu processo de composição?

Normalmente me reúno com parceiros de composição, discutimos sobre algum tema específi co ou sobre algo que Deus esteja falando em nosso coração naquele momento. Não existe uma regra, mas prefi ro fazer a letra e depois musicá-la. Uso meu instrumento na criação das melodias, gravamos e ouvimos várias vezes. Mexemos na música ainda outras vezes até decidirmos pelo melhor resultado.

> No quesito tecnologia, você é um adepto da computer music ou prefere

Influências musicais Sempre inspirado na música instrumental, Esdras Gallo teve uma grande influência de David Sanborn no início da carreira. “Mas nunca deixei de apreciar trabalhos-solo de cantores nacionais e internacionais, dentro de qualquer estilo e gênero”, declara. Entre os instrumentistas que admira, ele destaca: Everette Harp, Nelson Rangel, Kirk Whalum, Andy Snitzer, Ed Calle, Dick Oatts, Michael Brecker, Bob Berg, Gerald Albrigth, Bill Evans, Warren Hill, Bob Malach, Steffano di Battista, Paul McCandless, Brandon Fields, Vinícius Dorin, Dave Koz, Eric Marienthal, Steve Cole, Grover Washington, Justo Almario, Kenny Garret, Ernie Watts, Gary Meek, Steve Tavaglione, David Mann, George Howard, Courtney Pine, Art Porter, Eddie Daniels, Tom Scott, Jeff Kashiwa, Sadao Watanabe, Bob Mintzer e o seu predileto, Marc Russo.

Instrumentos

• Sax tenor Júpiter 889SG • Sax alto Júpiter 969GL • Sax soprano Yamaha YSS 675

Boquilhas

• Berg Larsen 100/2 SMS de metal - sax alto • Bari 70# de massa - sax soprano • B&N 9# de metal - sax tenor

Palhetas

• Zonda 2 ½ - sax tenor • Gonzáles 2 ¼ - sax alto • Rico Select Jazz 2M - sax soprano

um som mais acústico?

Não tenho equipamentos de gravação em casa, mas uso o software Encore para escrever meus arranjos de metais, que são a minha especialidade. A tecnologia sem dúvida ajuda bastante, mas deve ser utilizada com fi nalidades específi cas. Sempre busco as novidades no mercado de samplers e softwares que tragam novos timbres que ajudem no resultado fi nal de cada trabalho. No dia-a-dia uso um microfone sem fi o AKG 419 e um microverb da Alesis. Quando saio com uma banda para workshops e shows, utilizo um notebook com minha pré-produção em Nuendo.

> Como faz para se atualizar?

Gosto de pesquisar músicas de outros países que normalmente não estão nas rádios e lojas. Sempre que posso, participo de workshops com músicos e saxofonistas experientes para conhecer novas técnicas e ter acesso ao que está rolando dentro e fora do País. Tenho ainda uma rotina de estudos não muito pragmática: gosto de estudar as técnicas que aplico no dia-a-dia. Tenho interesse em estudar sempre os grandes nomes do instrumento para entender suas idéias e a maneira como empregam arpejos, intervalos, linguagem, efeitos e principalmente sua personalidade nas melodias.

> Que conselhos daria para quem está começando a tocar?

Mergulhe fundo na música e não só no instrumento. Ouça todos os estilos e gêneros de saxofonistas, procure compreender a maneira que cada músico expressa seus sentimentos, procure um bom professor e adquira um bom instrumento com uma boquilha de acordo com o som que lhe agrada.

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