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VIDA DE MÚSICO Amedício Júnior
from Sax & Metais #23
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Omúsico pernambucano Amedício Junior é o saxofonista da mais tradicional banda de forró do Brasil, Mastruz com Leite. De ne seu estilo como pop romântico e sua sonoridade como “moderna, alegre e com brilho e projeção”.
O gosto pela música começou na adolescência. Escutava MPB e instrumental “24 horas por dia”, até que seus pais e avós resolveram incentivá-lo a ingressar na Banda Filarmônica 23 de Dezembro, da cidade de Salgueiro, Pernambuco. Nessa banda passou pelo trombone, trompete e nalmente o saxofone, como substituto de um músico que havia se acidentado. Hoje, além de saxofonista, é produtor e arranjador. Um de seus principais trabalhos acumulando todas as funções foi o disco Banda Limão com Mel Acústico. Em seguida veio a continuidade desse feito, por meio do DVD Limão com Mel in Concert, com participação de orquestra sinfônica. INÍCIO “Quando entrei na Filarmônica, os maestros davam aula de graça para quem quisesse aprender música. O meu objetivo era tocar saxofone, mas como não tinha sax disponível na época, o maestro me deu um trombone para ver se eu levava jeito para a coisa.” FINALMENTE O SAXOFONE “Aconteceu um incidente com um aluno que tocava sax soprano, que o prejudicou e me favoreceu. Ele quebrou o braço e passou seis meses engessado. Foi quando eu pedi para estudar o sax soprano enquanto ele se recuperava. Seis meses depois ele voltou e assumiu o seu lugar, aí quei sem instrumento. Mas um mês depois, meu pai e meu avô compraram um sax usado para mim, me dediquei aos estudos e não parei mais.” SIDEMAN “Por ser pernambucano, onde a cultura é o frevo, caboclinho, ciranda, coco de roda, maracatu e forró, fui me direcionando a tocar forró, até porque a maioria das minhas produções e gravações foi de bandas desse estilo. O mercado no Nordeste é mais voltado para o forró. O interessante é que sou um saxofonista pop que toca forró moderno, dando uma sonoridade diferente ao forró tradicional. A banda em que toco atualmente é a Mastruz com Leite, a primeira e a maior banda de forró do mundo, com 19 anos de estrada e 43 CDs gravados. 1º CD-SOLO “Prestei uma homenagem à banda Limão com Mel por ter trabalhado na empresa por dez anos, e também foi um pedido do meu tio Ailton Souza (dono da Talismã-Limão com Mel), por ter visto uma brincadeira que z no estúdio, gravando uma das músicas da banda em instrumental romântico. Daí surgiu a vontade de fazer o disco todo instrumental, que foi lançado em edição especial pela gravadora Atração Fonográ- ca.” (www.atração.com.br) O 2º DESAFIO “Escolhi gravar em meu segundo CD músicas internacionais consagradas, e por conta disso a responsabilidade aumentou. A nal de contas, as músicas que regravei já foram interpretadas por grandes ídolos meus. Fazer a diferença da minha interpretação em relação à deles, sem deixar a desejar, foi um desa o. Mais uma vez a Atração Fonográ ca se interessou por esse trabalho e o distribuiu pelo mundo inteiro.” O NOVO CD “Nesse novo disco surgiu a vontade de colocar músicas minhas que há muito tempo eu vinha guardando, mas o disco não tem somente composições minhas, tem regravações nacionais e internacionais. Fazer um trabalho inteiro autoral ainda está em meus projetos.” A PRODUÇÃO “A produção do terceiro CD está mais ‘relax’ porque z quase tudo sozinho, com a ajuda de samples e programações, o que facilita muito o trabalho. Em relação aos músicos, acabei precisando de poucas pessoas. Chamei alguns amigos para participar de algumas faixas. No repertório, além de colocar algumas composições minhas, regravei algumas MPBs, como: Não é Fácil, Retratos e Canções e Só a Lua. Além de algumas internacionais, como: e Closer I Get To You, Part-Time Lover, You Are Everything. Logo poderão conferir os resultados em meu site e nas lojas.”
www.amediciojunior.com.br www.myspace.com/amediciojr AMEDÍCIO JUNIOR
estros davam aula de graça para quem quisesse aprender música. O meu objetivo era tocar saxofone, mas como ró. O interessante é que sou um saxofonista pop que toca forró moderno, dando uma sonoridade diferente ao forró tradicional. A banda em que toco atualmente é a Mastruz com Leite, a primeira e a maior banda de forró do mundo, com 19 anos de estrada e 43 CDs gravados. banda Limão com Mel por ter trabalhado na empresa por dez anos, e também foi um pedido do meu tio Ailton Souza (dono da Talismã-Limão com Mel), por ter visto uma brincadeira que z no estúdio, gravando uma das músicas da banda em instrumental romântico. Daí surgiu a vontade de fazer Saxofonista da Mastruz com Leite revela detalhes do seu trabalho como produtor e arranjador
Sax alto Selmer Super Action 80 série II, boquilha Ever-ton metal e massa 7 Smooth jazz e Full-pop 7, palheta Rico Royal 3. Sax tenor Super Action 80 série I, boquilha Ever-ton metal e massa 8 Studio e Mb1, palheta Rico Royal 3. Sax soprano Michael WSSM 45, boquilha Ever-ton massa com anel de metal 7 e K-Serie-7, palheta Rico Royal 3. Sax MIDI WX5 Yamaha. O que Amedício Junior usa
Ever-ton
palheta Sax tenor metal e massa 8 Studio e Mb1, palheta Sax soprano com anel de metal 7 e K-Serie-7, palheta Sax MIDI WX5 Yamaha
5minutos com POR DÉBORA DE AQUINO Serpa Ricardo Música instrumental é a alma do negócio
Após 23 anos de carreira, o saxofonista lança seu primeiro CD solo, Aquariando
Pense no que há de melhor em matéria de música brasileira, ritmos, gêneros e instrumentistas. Ricardo Serpa é uma mistura de tudo isso, no que o saxofonista chama de Música Universal Brasileira.
Bisneto de Canhoto do Bandolim e de dona Alzira Brandão, principal intérprete de Noel Rosa, o gosto por música surgiu muito cedo na vida de Serpa. “Comecei tocando violão aos 8 anos. O sopro veio aos 15, quando descobri o sax e a flauta quase ao mesmo tempo”, lembra o músico.
Ao longo de 23 anos de carreira, Ricardo já fez de tudo. Acompanhou grandes artistas como Nana Caymmi, Raul de Sousa, Paulo Moura, Cidade Negra, Nó Brasileiro, Might Reggae Beat, de João Barone e Bi Ribeiro. Foi diretor, músico e arranjador do espetáculo Rio Jazz, de José Roberto Ferreira. Foi o solista convidado a inaugurar o Memorial Tom Jobim no Horto do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Participou de trilhas para novelas da Rede Globo, como Direito de Amar e Chocolate com Pimenta, e agora se prepara para lançar seu primeiro disco-solo, Aquariando, com a participação de músicos que são a ‘nata’ da música instrumental brasileira.
» Então você é um músico de família?
Ricardo Serpa Tive uma excelente formação auditiva em casa. Uma coisa que ouvia muito era Metais em Brasa, um disco da época, meu pai adorava. Ouvi Elis Regina, Milton Nascimento, temas de filmes de cinema, trilhas sonoras. Descobri os instrumentos de sopro quando fui a um show do grupo Alquimia, com o Mauro Senise ainda garoto e o Robertinho Silva. Aquele
show ‘me pirou’ e pensei: “Meus Deus, eu quero tocar isso”. Comecei tocando soprano e flauta.
» Por que somente depois de 23 anos resolveu fazer seu primeiro trabalho-solo?
RS Acabei entrando num circuito em
que comecei a tocar muita coisa ruim, é aquela história de ter de ganhar dinheiro. Entrei num bom universo financeiro, mas passei a me sentir muito mal porque a música ficava em segundo plano. Comecei a me sufocar, perder o amor por aquilo que mais amava, a música boa, de me dedicar às minhas raízes, do que eu gosto realmente. Comecei a pirar, me fingia de morto em viagens (risos), que absurdo! Para não parar no psiquiatra resolvi ‘chutar o balde’ e pensei: “Ou é agora, ou não sei mais o que vou ser”. Tomei a atitude de parar com tudo, e dar um tempo de acompanhar artistas para poder fazer meu próprio trabalho. Assumir as minhas raízes e me apaixonar novamente pela música.
» Além dessas razões, você acabou aproveitando uma oportunidade que surgiu, não?
RS Com muita dificuldade comecei a pensar no meu trabalho e, tocando jazz na noite, dei muita sorte porque conheci o guitarrista Flávio Goulart de Andrade. Ele tem um selo, o Ethos Brasil. O Flávio me ouviu tocando e fez o convite, que agarrei com tudo. Fiz o projeto ao longo de um ano, fui escolhendo as músicas, escrevendo os arranjos, o universo conspirou a meu favor e o trabalho aconteceu. Por meio do encontro com o Flávio, o estúdio foi gratuito. Aos poucos fui falando com os músicos que participaram do CD, todos amigos que gravaram sem cobrar um centavo. Gravaram por acreditar no meu trabalho, o que me envaideceu muito, fiquei muito feliz. Tem o Robertinho Silva, o Nivaldo Ornelas, o Arthur Maia, o Carlos Malta, a nata da música instrumental. Dessa forma o trabalho pôde ser viabilizado, o dinheiro deixou de contar e pude realizar esse disco. Deu tudo certo e fluiu maravilhosamente bem. Agora,
» Será essa uma das razões de sua música ter um ‘quê’ da música mineira?
RS Essa vertente mineira é muito interessante. O mineiro sempre foi uma mistura jazzística com algo de europeu e isso me atrai muito, mesmo porque sou fã da gravadora ECM (selo europeu). Minha formação foi ouvindo os artistas desse selo, Keith Jarret, Jan Garbareck e também Milton Nascimento, Toninho Horta, que inclusive escreveu uma crítica sobre meu disco que me deixou muito honrado. Tenho muita influência da música mineira e da música carioca, sou mesmo essa mistura, mas também não posso deixar São Paulo de lado. Ouvi muito Grupo Rumo, aquela vertente da música contemporânea que vinha de lá, Asdrúbal Trouxe o Trombone, Clara Crocodilo, esse negócio meio maluco dos anos 1980. Acredito que tenha muita influência da música brasileira como um todo. Toquei com Xangai, com Jatobá, influências da música nordestina, Hermeto Pascoal, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, samba carioca, aquela malandragem do samba e da bossa nova. A música brasileira é a mais rica do planeta, temos todos os ritmos, todas as levadas.
» A escolha do repertório foi difícil, por ser um primeiro trabalho?
RS Tudo isso está me fazendo amadurecer muito, a olhar menos para o próprio umbigo. Passei a olhar o trabalho dos meus colegas e ver que eles têm as mesmas dificuldades que eu tenho. Hoje espero poder levar adiante tudo o que aprendi com toda essa gente. Sempre exalto o nome dos instrumentistas brasileiros. Daqui para a frente espero poder ter a dignidade de viver da música instrumental também, ter um retorno cada vez maior e poder dar continuidade à minha música. Meu disco tem uma forte influência dos anos 1980 e 1990, de tudo o que ouvi, diversos ritmos, compositores e até duas músicas minhas. Com esse trabalho eu quis mostrar um pouco de tudo, meu lado como intérprete, improvisador, arranjador e compositor, ou seja, quis colocar um pouco de tudo que faço. com o CD Aquariando pronto, é trabalhar para divulgá-lo.
» Aliás, Nivaldo Ornelas é uma presença muito viva em sua música. Como foi o encontro entre vocês?
RS Não, não foi. Quando entrei no estúdio já sabia exatamente o que queria gravar. Minha única dúvida em alguns momentos foi estar fazendo alguma coisa ‘louca’ demais, sem pensar no lado comercial. Eu realmente quis fugir disso. Gravei o que gosto de tocar e pessoas que são minhas influências, como Toninho Horta, Dori Caymmi e Nivaldo Ornelas.
» O que você espera desse trabalho daqui para a frente?
RS Nosso encontro vem de longa data, é uma amizade muito grande, de mais de 20 anos, posso dizer que é o meu melhor amigo. Sempre fui o caçula da turma no meio dos músicos, e felizmente fui ‘adotado’ por um time de uma geração maravilhosa. Ainda muito novo toquei em naipes com o Serginho Trombone, com Leo Gandelman, Bidinho, isso por volta dos anos 1990. Eu pegava no pé de todo mundo para aprender e eles gostavam de mim tocando, sempre fui muito esforçado e estudioso. O Nivaldo sempre me incentivou e influenciou, principalmente por sua música, seu profissionalismo e postura. Ainda hoje, sendo esse músico consagrado, conserva aquele ‘coração de estudante’, que é uma coisa fantástica. Enfim, temos uma grande amizade dentro e fora do palco. Recentemente gravei no disco dele Fogo e Ouro e também participei do show de lançamento. “Tenho muita influência da música brasileira como um todo, é a mais rica do planeta” O que Ricardo Serpa usa Flauta transversal Yamaha 411 Sax soprano Selmer Série III, com boquilha Selmer Super Section J e palheta Vandoren Java 2/12 (gravação) e 3 (show). “Prefiro palheta mais macia para gravar, é mais fácil de timbrar e de tocar em naipe. Uso a 3 para ter mais ‘pegada’ no som.” Sax alto Yamaha 62 com boquilha Vandoren A45, palheta Java 3 e Plasticover 3. “Uso a Java normalmente para gravar e a Rico Plasticover em shows.”
www.myspace.com/ricardoserpabrasil
5minutos com Biu
do Pife
A tradição não pode morrer
Atualmente, as bandas de pifes possuem características um pouco diferentes das de suas origens. As primeiras bandas tinham um caráter especificamente social e religioso e tocavam exclusivamente em novenas e festas religiosas, como a de São João. As bandas de pífanos estão presentes na região que vai desde o sertão baiano, que faz fronteira com Sergipe, até o Ceará. Porém, é em Pernambuco, mais precisamente em Caruaru, no agreste do Estado, que ela se faz mais forte. Hoje, apesar de todo o apelo da mídia e das mudanças de hábitos, as bandas continuam tocando e mantendo o fôlego de levar adiante a tradição, mesmo que já sem a proposta sociorreligiosa inicial.
Para falar e entender um pouco sobre essa tradição cultural brasileira tão impor
Hoje em dia é cada vez mais comum ouvirmos falar nas bandas de pífanos. Até grandes artistas do eixo Rio/São Paulo se aventuram em gêneros musicais tipicamente nordestinos, usando a formação das bandas de pífanos, como é o caso de Carlos Malta e o seu Pife Muderno.
tante, conversamos com um dos músicos, ou ‘tocadores’, mais experientes de Pernambuco, Biu do Pife. Biu completou 50 anos de carreira em 2008. Tocou pela primeira vez na banda de seu pai quando tinha apenas 9 anos, na cidade de Bezerros (PE). Depois mudou-se para Caruaru. Daí em diante foi para o Rio de Janeiro, gravou com Jackson do Pandeiro em meados da década de 1970 e foi líder da Zabumba Cultural de Caruaru por 20 anos, tendo gravado diversos discos. Hoje, Biu do Pife está à frente da banda Princesa do Agreste.
» Como foi o seu primeiro contato com as bandas de pífanos?
Biu do Pife Quando nasci, meu pai já tinha uma banda de pífanos. Antigamente, as bandas não tinham esse nome, eram os Ternos de Zabumba. Isso porque as roupas que se usavam eram parecidas com os uniformes de soldados, aquelas roupas cáqui com quepe de bico. Então essa música já estava dentro de casa. Aprendi a tocar pife com meu pai e com 9 anos toquei pela primeira vez em uma festa. Foi no sítio de
minha tia, em maio de 1958. É um dom que Deus me deu e que eu vendo tocando e fabricando pife.
» Conte um pouco sobre a tradição das bandas de pífanos.
BF Muita coisa mudou, a começar pela formação, que variou e varia de lugar para lugar. Antes, as bandas eram formadas por prato, dois pifes, zabumba, caixa e triângulo. Não tinha o contrassurdo que tem hoje. Tocávamos sempre em festas religiosas, hoje fazemos shows até em grandes capitais. A origem da banda de pífanos é da tradição indígena e todos os instrumentos são artesanais. Os pifes são feitos de taboca (taquara, bambu), a zabumba era feita com couro de bode. Hoje, os pifes já não são mais de madeira, usamos o PVC para fazê-los. É difícil conseguir o bambu, até mesmo por problemas com o Ibama. Tenho um par de pifes de taboca que uso somente em ocasiões especiais, para uma gravação, um show
de rádio, uma foto. Eu o tenho há mais de 30 anos. Apesar de toda a tradição, ampliamos bastante nossa atuação e tocamos até em bandas de rock. Já gravei até um disco com a banda Os Cachorros das Cachorras, em Brasília.
» Mas as bandas de pifes não tocam mais nas festas da cidade?
BF Tocam sim, não deixamos esses costumes de lado, mas também fazemos outras