Sesc | Serviço Social do ComÊrcio Departamento Nacional Rio de Janeiro Junho de 2013
Sesc | Serviço Social do Comércio Presidência do Conselho Nacional Antonio Oliveira Santos Departamento Nacional Direção-Geral Maron Emile Abi-Abib Divisão Administrativa e Financeira João Carlos Gomes Roldão Divisão de Planejamento e Desenvolvimento Álvaro de Melo Salmito Divisão de Programas Sociais Nivaldo da Costa Pereira
PRODUÇÃO EDITORIAL
Assessoria de Divulgação e Promoção Gerente Christiane Caetano Supervisão editorial e edição Fernanda Silveira Projeto gráfico Ana Cristina Pereira (Hannah23) Ilustrações Kako Diagramação Mello & Meyer Design
Consultoria da Direção-Geral Juvenal Ferreira Fortes Filho
Revisão de texto Clarisse Cintra
CONTEÚDO
Produção gráfica Celso Mendonça
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Estagiário de produção editorial Thiago Fernandes
Coordenação
Assessor de Cinema Marco Aurélio Lopes Fialho
FICHA CATALOGRÁFICA
©Sesc Departamento Nacional Av. Ayrton Senna, 5.555 — Jacarepaguá
A América de John Ford / Sesc, Departamento Nacional.
–Rio de Janeiro : Sesc, Departamento Nacional, 2013.
71 p. : il. ; 27 cm.
Rio de Janeiro — RJ CEP 22775-004 Tel.: (21) 2136-5555 www.sesc.com.br Impresso em junho de 2013. Distribuição gratuita.
Bibliografia: p. 71.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei
ISBN 978-85-89336-94-9
9.610 de 19/2/1998. Nenhuma parte desta publica-
1. Ford, John, 1894-1973 – Exposições - Sesc. 2.
Diretores e produtores de cinema – Estados Unidos Exposições. I. Sesc. Departamento Nacional.
CDD 791.430973
ção poderá ser reproduzida sem autorização prévia por escrito do Departamento Nacional do Sesc, sejam quais forem os meios e mídias empregados: eletrônicos, impressos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.
Criado e administrado há mais de 60 anos por representantes do empresariado do comércio de bens e serviços e destinado à clientela comerciária e a seus dependentes, o Sesc vem cumprindo com êxito seu papel como articulador do desenvolvimento e bem-estar social ao oferecer uma gama de atividades a um público amplo, em um esforço que conjuga empresários e trabalhadores em prol do progresso nacional. Dentre suas diversificadas áreas de atuação, a cultura se caracteriza como um democrático disseminador de conhecimento, uma importante ferramenta para a educação e transformação da sociedade, levada ao público de grandes e pequenas cidades por meio da itinerância de espetáculos, exposições e mostras de cinema. Ao possibilitar o livre acesso aos movimentos culturais, seja no cinema, como também nas artes plásticas, no teatro, na literatura ou na música, o Sesc incentiva a produção artística, investindo em espaço e estrutura para apresentações e exposições, mas acima de tudo, promovendo a formação e qualificação de um público que habita os quatro cantos do Brasil. A credibilidade alcançada pelo Sesc nesse âmbito faz da entidade uma referência nacional, o que revela a reciprocidade entre suas ações e políticas e as atuais necessidades de sua clientela.
Antonio Oliveira Santos
Presidente do Conselho Nacional do Sesc
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O Sesc é uma entidade de prestação de serviços de caráter socioeducativo que promove o bem-estar dentro das áreas de Saúde, Cultura, Educação e Lazer, com o objetivo de contribuir para a melhoria das condições de vida da sua clientela e facilitar seu aprimoramento cultural e profissional. No campo da cultura, a atuação do Sesc acontece no estímulo à produção cultural, na amplitude do conhecimento e no fortalecimento de sua identidade nacional, condições essenciais ao desenvolvimento de um país. Nesse cenário, a mostra A América por John Ford, oferece a oportunidade de se conhecer parte importante da filmografia do diretor de cinema norte-americano que deu origem ao que hoje se conhece como estilo “faroeste”. Muito mais que isso, John Ford ajudou a escrever parte da história do cinema por meio de uma maneira peculiar de dirigir, a qual inspirou até mesmo o Cinema Novo brasileiro. O caráter histórico e documental deste projeto viabiliza a proposta do Sesc dentro da ação programática de cultura ao se constituir como uma ferramenta de enriquecimento intelectual dos indivíduos, propiciando-lhes uma consciência mais abrangente e aberta a meios mais estimulantes e educativos de aquisição da cultura universal
Maron Emile Abi-Abib
Diretor-Geral do Departamento Nacional do Sesc
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Ao crítico Antonio Moniz Vianna, pelo amor e dedicação ao cinema de John Ford.
Médico e amante
Filmes da mostra
Juiz Priest
O prisioneiro da Ilha dos Tubarões A mocidade de Lincoln No tempo das diligências
As vinhas da ira
Rastros de ódio
O homem que matou o facínora 8
Sumário Clássico imbatível . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 00 Análise dos filmes da mostra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 00 Médico e amante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 00 Juiz Priest . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 00 O prisioneiro da Ilha dos Tubarões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 00 A mocidade de Lincoln . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 00 No tempo das diligências
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
00
As vinhas da ira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 00 Rastros de ódio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 00 O homem que matou o facínora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 00 Filmografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 00 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 00
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o cine
ma de john ford
CLÁSSICO IMBATÍVEL
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Quem não guarda na memória a imagem do tio, do avô ou do pai extasiado assistindo a um filme de faroeste, daqueles em que os índios eram os vilões que impediam os “civilizados” brancos de construir o mundo à sua imagem e semelhança. Essa lembrança nos remete ao encanto que o cinema pode exercer sobre seus espectadores, ao mesmo tempo que pode afirmar o poder da sétima arte na formação e educação dos indivíduos, considerando, sobretudo, a carga de informações subliminares por trás da magia do universo cinematográfico. Mais especificamente, o cinema hollywoodiano se baseou no chamado star system, em que os atores serviam de imã para atrair o público às salas de cinema. Na trajetória desse métier, os diretores não eram fundamentais no processo de comercialização dos filmes, mas sim os atores, tal qual as condições de produção imposta pelos grandes estúdios e a criação dos gêneros cinematográficos (comédia, faroeste, policial, musical, drama, suspense, aventura, entre outros). Por esse motivo, fãs dos filmes de faroeste talvez não se deem conta da importância do diretor de cinema John Ford — um dos responsáveis pelo status que o gênero adquiriu no decorrer da história do cinema — e nem desconfiem da importância de um No tempo das diligências (1939). O faroeste tornou-se desde muito cedo o gênero mais popular dos Estados Unidos e logo o seria também em boa parte do mundo. A paixão e o extasiamento de tios, avôs e pais começaram no tempo das matinês aos domingos, com seriados que eram atentamente acompanhados semanalmente nas décadas de 1940 e 1950. Para concluir, nada melhor que as palavras do cineasta Glauber Rocha, que era fã do gênero faroeste, para definir essa compulsão popular pelo faroeste, sua relevância cultural e o papel de John Ford para o gênero:
O western, a primeira e única cristalização estético-social do cinema americano, tem a figura de John Ford o grande responsável pela sua evolução e posterior amadurecimento [...] O western é o sangue básico do americano, sua cultura popular, sua formação étnica, religiosa no que ele possui de indevassável (ROCHA, 1985, p. 73-74). Mostra A América por John Ford
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David Llewelyn Wark Griffith, geralmente conhecido por
D. W. Griffith (1875-1948) foi um diretor de cinema norte-americano conhecido pelo seu controverso filme O nascimento de uma nação, e também por Intolerância. Introduziu inovações profundas no modo de fazer cinema, sendo considerado o criador da linguagem cinematográfica. Fonte: D. W. Griffith (2012).
O que se convencionou chamar de clássico pelos estudiosos de cinema muito se deve a John Ford. E clássico aqui deve ser entendido pelo aspecto narrativo, pois é justamente nesse ponto que essa forma estética se sedimentou. Se Griffith1 foi o pai do cinema clássico, John Ford foi o papa.
A base da estética do cinema clássico está na lógica da inteligibilidade, um cinema concebido aristotelicamente pelo diretor, por meio dos conceitos rígidos de espaço, tempo e ação. A articulação desses três elementos é construída de maneira a criar um universo conciso, ininterrupto, um bloco indivisível, em que os meios artísticos utilizados tornam-se invisíveis ao espectador durante o seu processo de fruição, como se estivesse realizando uma viagem mágica ou onírica. O transporte mágico para esse outro mundo especialmente criado pelo cinema é realizado sempre
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O cineasta norte-americano
Edwin Stanton Porter (1870-1941) foi um dos pioneiros do cinema. Ficou famoso por dirigir vários filmes para o Edison Studios, de Thomas Edison. Fonte: Edwin... (2012).
com o consentimento do espectador, que participa desse espetáculo no qual ilusão e realidade estão permanentemente em choque. Contudo, após a Segunda Guerra Mundial, diversos teóricos e cineastas lançaram uma pesada artilharia a todo o aparato clássico da invisibilidade dos meios. O estabelecimento e a consolidação da narrativa clássica não se desvinculam da necessidade comercial e do desenvolvimento industrial do cinema. Desde o início, o meio cinematográfico sobrepujou sua faceta ligada ao espetáculo e ao entretenimento. George Méliés já o utilizara assim, com seus filmes repletos de trucagens e ilusionismo. Mas foram Griffith e Porter,2 importantes diretores dos anos 1910 do século 20, considerados a geração primitiva do cinema, que realmente impulsionaram a cinematografia, investindo em planos inovadores (inclusive os closes) e técnicas de montagem que viabilizaram o cinema como uma narrativa possível.
Os anos 1930 marcaram a vitória da forma estética hoje conhecida como narrativa clássica de se fazer cinema, que conseguiu estabelecer um diálogo poderoso com o público ao adaptar elementos do teatro popular como seu fundamento artístico. Essa época foi marcada pelo sistema orientado por grandes estúdios e grandes estrelas que levaram milhares de pessoas às salas de cinema. 16
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Um dos pontos importantes da narrativa cinematográfica clássica foi o da identificação, utilizada fartamente para colocar o público a serviço da narrativa, já que associava o espectador ao mocinho do filme, fazendo o primeiro torcer pelo segundo até a última cena. O filósofo alemão Walter Benjamim refletiu de maneira perspicaz sobre o caráter de massificação do cinema, assim como sobre
[...] não é concebível, mesmo em seus traços mais positivos, e precisa-
a sua relação com os
mente neles, sem seu lado destrutivo e catártico: a liquidação do valor
clássicos da literatura e a
tradicional do patrimônio da cultura. Esse fenômeno é especialmente
sua propensão de elevar
tangível nos grandes filmes históricos, de Cleópatra e Ben Hur até Fre-
personagens históricos a mitos. Segundo ele, a função social do cinema
derico, o Grande e Napoleão. E quando Abel Gance, em 1927, proclamou com entusiasmo: “Shakespeare, Rembrandt, Beethoven, farão cinema [...] Todas as lendas, todas as mitologias e todos os mitos, todos os fundadores de novas religiões, sim, todas as religiões [...] aguardam sua ressurreição luminosa, e os heróis se acotovelam às nossas portas”, ele nos convida, sem o saber talvez, para essa grande liquidação (BENJAMIM, 1985).
Benjamim sabia verdadeiramente o que estava falando.
Ao analisar a história de Hollywood é possível
constatar, sem grandes dificuldades, o quanto a história e seus personagens, famosos ou anônimos, foram constantemente redesenhados pelos filmes, assim como as obras literárias, tanto as do presente quanto as do passado. Esse fenômeno se perpetuou e continua, nos dias de hoje, permeando as produções não só as de Hollywood como as de todos os países no mundo. Para que o cinema pudesse ser um instrumento do Estado, os Estados Unidos criaram na década de 1930, época considerada como um marco para o mercado de cinema, o Código Hays, mecanismo que restringia o conteúdo moral dos filmes, inclusive a proibição de beijos acalorados e cenas de sexo. Somente na década de 1960 esse código foi derrubado e implantado outro modo de restrição, voltado para a classificação etária. Mostra A América por John Ford
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Produção em série A profusão de histórias, depoimentos e frases célebres a respeito de John Ford se tornou justificável se considerarmos seu currículo com nada menos de 133 filmes ao longo da carreira. Para boa parte de seus fãs, Ford será sempre lembrado como o maior diretor de faroeste de todos os tempos, embora essa seja uma visão injusta quando se analisa com atenção o conjunto de sua obra. Como diretor, manteve sua importância na sedimentação da narrativa clássica no cinema de Hollywood, assim como perpassou diversos gêneros cinematográficos reescrevendo a história norte-americana sob o seu ponto de vista.
A sua facilidade de trabalhar com os atores, fazendo-os improvisar e realizando poucas (às vezes apenas uma) tomadas das cenas, era, na verdade, uma afirmação da sua capacidade produtiva. Os críticos apontam sempre a invisibilidade de sua montagem como um dos elementos mais marcantes de seu cinema, que não pode ser desvinculada de sua maneira de filmar, como se as sequências estivessem já montadas em sua cabeça. Tecnicamente, o cinema de Ford traz perturbações à cabeça de analistas e críticos em relação à decupagem de seus filmes, fundamentados em diálogos improvisados com os atores. Os críticos sabiam da recusa de Ford em ensaiar obsessivamente suas cenas, e, ainda assim, foram obrigados a reconhecer como ele conseguiu engendrar para o espectador uma narrativa de fácil compreensão. Isso justifica também a grande quantidade de filmes dirigidos por ele. Entre 1939 e 1940 foram cinco; entre eles, três obras-primas inquestionáveis: No tempo das diligências, A mocidade de Lincoln e As vinhas da ira (os três participantes da mostra organizada pelo Sesc).
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O cineasta brasileiro Glauber Rocha, ícone
[...] inegavelmente militarista, idealizou o Oeste como um pa-
de nosso cinema e transgressor por natureza, raíso perdido, espécie de Olimpo do novo mundo. Sua preocupação sempre foi a de punir os maus e fazer triunfar os bons. nunca escondeu sua admiração por esse ilustre irlandês, tornando-se um dos seus grandes estudiosos. Nas palavras de Glauber, Ford era
John Ford pode ser definido como um homem direto. Seus caminhos cinematográficos
Gosta de índios, mas são ingênuos os selvagens que devem
ser catequizados e protegidos. Haverá sempre um bom soldado branco capaz desta façanha, ainda que para tanto deva se rebelar contra seu superior. O exército é a alma da nação, a cavalaria sempre surgirá para salvar os pobres colonos das garras dos índios (ROCHA, 1985, p. 79)
sempre foram marcados pela clareza de suas opiniões sobre o homem, a história e a sociedade norte-americana. Seus filmes não davam margem às dúvidas, não havia espaço para possíveis indefinições. Sua idolatria por Lincoln, ele nunca escondeu, assim como pela cavalaria e pelos colonos. Seu cinema jamais intencionou ter uma postura socialmente crítica, mas sempre foi profundamente dedicado aos homens, independentemente de sua posição social (um presidente, um pistoleiro ou uma prostituta), desde que a posição desses personagens ratificasse a ética valorativa dos pioneiros, daqueles que enfrentaram as adversidades para construir uma nova ordem social. Daí a relevância da paisagem na construção imagética de seu cinema. Nos faroestes, o homem era imerso em uma ambiência que o diminuía, os planos gerais indicavam o desafio humano frente à paisagem imponente e selvagem. Os índios completavam essa paisagem primitiva a ser dominada por uma “força superior”, às vezes isso não era ostensivo, mas estava implícito nas cenas. A amplitude do espaço fomentava uma insegurança permanente ao homem que conquistara o oeste; um ataque vindo das montanhas e desfiladeiros era quase inevitável e inerente ao desafio do homem imbuído da tarefa colonizadora.
Mostra A América por John Ford
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A força do cinema de John Ford está na firmeza de suas construções históricas, e isso atraiu tanto a crítica quanto o público. James Stewart, um dos mais expressivos atores que trabalhou com o diretor, falou certa vez sobre a impossibilidade de se contar uma história tal como Ford contava, dado ao controle absoluto que empreendia em sua narrativa. É também bastante conhecida a história em que Orson Welles, quando perguntado sobre quais seriam os três maiores diretores da história do cinema, teria afirmado categoricamente: John Ford, John Ford e John Ford! Pode-se identificar alguns traços comuns e que fazem um grande diferencial a esse diretor extraordinário, entre eles a sua capacidade de inserir elementos diversos em sua deliciosa narrativa. Há em seu estilo uma dose singela e arrebatadora de humor; um ritmo ágil tão necessário às grandes aventuras; um poderoso espírito épico; fora um sentimentalismo e um humanismo bem equilibrados que impediam seus filmes de caírem no ridículo.
A construção dos planos e a escolha dos enquadramentos é um dos pontos marcantes de sua estética. Ford não utilizava closes, identificava-se com os planos mais abertos (plano geral, plano médio e americano). Sem falar na interpretação dos atores que tinham uma aparente espontaneidade conseguida mormente em improvisações cuja maior preocupação era a compreensão acerca da natureza dos personagens e sua posição na cena, evitando o processo de diálogos friamente decorados.
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