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o d l a a d i n u c io m g U e r
Por ser um problema crônico, o diabetes precisa ser controlado de perto e com muita cautela, o que nem sempre é possível para a população mais carente. Por isso, a criação de serviços municipais é muito importante e está sendo fomentada
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saúde pública sempre é um tema polêmico aqui no Brasil. Hospitais deficientes, atendimento demorado e falta de leitos são reclamações constantes da população. Ainda assim, existem iniciativas governamentais que podem ser aplaudidas. É o caso de alguns municípios, que tem se destacado na implantação de serviços públicos específicos para diabéticos e hipertensos, não só oferecendo insumos e remédios gratuitamente, como também trazendo informação e incentivo ao controle da patologia. O Ministério da Saúde fomenta ações para esta população com o Sistema de Gestão Clínica de Hipertensão Arterial e Diabetes (SIS-HIPERDIA). Ele é um banco de dados ligado às Unidades Básicas de Saúde (UBS) do todo o país. A adesão de uma cidade envolve também a distribuição de insumos e medicamentos receitados para a população cadastrada. Com as informações enviadas pelas Secretarias de Saúde, a intenção é criar um perfil dos pacientes de cada região, e adotar assim novas estratégias para tratamento e prevenção. A ideia desses projetos é justamente ensinar o cidadão a controlar o diabetes. Até porque, esse tipo de iniciativa traz uma economia para o sistema de saúde municipal. “O custo social e financeiro é muito maior quando se necessita de uma assistência mais complexa”, indica a nutricionista Dra. Marlene Merino, membro da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e chefe do Departamento de Supervisão Técnico Metodológico da Fundação Municipal de Saúde de Niterói (RJ). Ela também aponta a importância dos grupos de apoio, em que os cidadãos se reúnem e podem conversar entre si sobre seus problemas em comum. “A educação permanente faz parte do tratamento de qualquer doença crônica. Diversas pesquisas já demonstraram que a adesão ao tratamento é maior quando se promove essas ações, as quais motivam o indivíduo a segui-lo”, destaca a especialista.
Dividir para informar
Um dos exemplos de iniciativas públicas é o programa municipal para diabetes feito em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, que divide seu projeto em várias frentes de atuação. Uma delas é o atendimento, que é distribuído por regiões e pelos diferentes graus de complexidade do tratamento. Inicialmente, existe o serviço feito pelas Unidades Básicas de Saúde e pelos Médicos de Família. Estes são pequenos módulos que prestam assistência básica às pessoas de uma região da cidade, com enfermeiros e clínicos gerais. Cada família é cuidada sempre pela mesma equipe, o que confere ao tratamento uma maior atenção e acompanhamento constante do histórico do paciente. Este time é que observará se o cidadão tem ou não alguma doença crônica. “É como se eles fossem uma grande porta de entrada. Quando diagnosticamos casos mais específicos, como o diabetes, eles são enviados para as Policlínicas Regionais”, explica Daniel Costa, coordenador do projeto há dois anos. Em Niterói, existem seis clínicas para atendimentos de casos encaminhados pela equipe básica, com médicos especialistas de várias áreas, que atendem a macro-regiões. É nelas que são feitas consultas com endocrinologistas e nutricionistas, por exemplo. Por fim, os casos mais graves são encaminhados para a Policlínica de Especialidades, que fica na região central e tem médicos ainda mais focados em suas áreas. No caso de crianças diabéticas, elas também podem contar com atendimento no Hospital Getúlio Vargas Filho, que tem um ambulatório de endocrinologia infantil. Com essa divisão dificilmente o cidadão precisa sair de sua região para ser atendido. “A idéia aqui é sempre trabalhar o mais regional possível, estanto dentro do ambiente do cidadão, integrando-se à comunidade”, esclarece o coordenador. Além do atendimento ambulatorial, há também a distribuição de insumos e a gestão de informações, que são programas mais ligados aos projetos nacionais, como já citado.
O Ministério da Saúde incentiva ações para este público com o Sistema de Gestão Clínica de Hipertensão Arterial e Diabetes (SIS-HIPERDIA). Ele é um banco de dados ligado às Unidades Básicas de Saúde (UBS) do todo o país. A adesão de uma cidade envolve também a distribuição de insumos e medicamentos
Atenção!
Faz parte de iniciativa do Ministério da Saúde a distribuição gratuita de remédios e insumos para diabéticos na Farmácia Popular! E para saber se seu município conta com outros programas, se informe nos postos de saúde de seu bairro
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Fotos: Schuttersock
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À esquerda, a comemoração do Dia Nacional da Promoção da Qualidade de Vida, em Rio Grande (RS). No centro, o fim das atividades do Verão Legal, programa relacionado ao projeto Vida Ativa, no mesmo município. À direita, uma reunião do grupo coletivo da UBS de Baldeador, bairro de Niterói (RJ)
Não basta o paciente ser tratado no hospital, ele precisa ser educado para se cuidar em casa. Para isso a prefeitura promove palestras e reuniões de grupo multidisciplinares. Há também os eventos para a população em geral, como o Dia Internacional da Diabetes 16
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Com o envio dos registros dos pacientes ao banco de dados do SUS (Sistema Único de Saúde), o plano é criar futuramente uma atenção mais personalizada para cada região. Mas, a frente de trabalho mais importante é a difusão de conhecimento. Não basta o paciente ser tratado no hospital, ele precisa ser educado para se cuidar em casa. Para isso a prefeitura promove palestras e reuniões de grupo multidisciplinares. “Queremos sair do foco da patologia e falar de tudo, abrir um espaço para eles trocarem informações”, ressalta Daniel Costa. Há também os eventos para a população em geral, como o Dia Internacional da Diabetes em que o público pode medir sua glicemia, acompanhar o peso, e, em caso de anormalidades, ele é encaminhado para a UBS mais perto de sua residência. O técnico em telefonia de 47 anos Cosme José da Rocha Viana, diabético há quatro, participa dos programas de Niterói e comenta: “os serviços ajudam bastante, e eu procuro colaborar também, indo às reuniões de grupos e passando aquilo que eu sei aos outros”. Ele conta que são três encontros que acontecem semanalmente em sua região, reúnem 30 pessoas cada, e ele procura ir a todos. Para participar do programa, não é preciso muito, basta ser morador do mu-
nicípio. O encaminhamento é feito nas Policlínicas, onde também ocorrem as inscrições, e há ampla divulgação dos horários das reuniões e das vantagens em participar. “É bom levar um comprovante de residência e um documento de identificação, mas procuramos não colocar barreiras”, explica o coordenador. Ainda assim, o programa é passível de falhas. Viana reclama que sua região ficou três meses sem receber as fitas do glicosímetro e agulhas. “E são itens pelos quais nós não temos condições de pagar”, expõe o niteroiense. De acordo com Costa, o impasse foi de ordem externa: “tivemos problemas relativos a aquisição de insumos no ano passado, os quais outros setores da fundação municipal de saúde estão nos ajudando a resolver”, argumenta. Por ter um enfoque maior no atendimento ambulatorial e de prevenção, Costa não sabe estimar ainda se houve uma redução nas internações hospitalares para diabéticos. “Acompanhamos isso de forma indireta pelo Indicador de Saúde de Internações, mas como o fazemos há apenas dois anos, ele está estável. Mas creio que a longo prazo ele venha diminuir”, justifica. Isso só mostra que, mesmo com algumas dificuldades, o programa de Niterói tende a crescer e melhorar.
Exercitar também é preciso
Já a cidade de Rio Grande, no estado do Rio Grande do Sul, também focaliza seu cuidado público na prática de exercícios físicos, com o serviço Vida Ativa, que reúne diabéticos e hipertensos em grupos para caminhadas e aulas de exercícios aeróbicos. Além dele, há a participação da Secretária de Saúde do município no SIS-HIPERDIA, o que ocasiona a entrega de insumos gratuitos ao cidadão. Eles também se prontificam a enviar dados sobre os pacientes diabéticos para o SUS, para que haja uma maior personalização no atendimento. A Prefeitura ainda oferece apoios nutricionais em grupos educativos e atendimento especial aos casos mais graves da patologia. Os projetos para diabetes estão em vigor desde 2002, e atendem cerca de três mil diabéticos no município. Deles, 1390 fazem uso da insulina NPH, e 100 também usam outros tipos. Simone Concli, enfermeira e coordenadora do Projeto Vida Ativa, aponta uma resposta positiva nos indicadores. “Temos os dados de redução dos níveis de pressão, níveis glicêmicos e redução de peso. E há, inclusive, uma diminuição de índices de depressão, pois o participantes do programa saem de casa, convive com os outros...”, argumenta a enfermeira.
É o caso da dona de casa de 64 anos Ana Maria da Cunha Souza, diabética, que começou a participar do programa com a recomendação de seu médico, por levar uma vida muito sedentária. “Eu já fiz muitas amizades aqui”, ressalta. Mas, para ela, ainda é preciso ampliar a atuação do projeto, que não abrange todas as áreas da cidade. “Quando criarem mais postos, mais pessoas serão beneficiadas, pois os números do grupo aqui estão limitados”, acredita. Ela também reclama do mau uso dos aparelhos de ginástica por parte da população: por estarem disponíveis em praças públicas, os artigos sofrem depredação durante a noite. Os grupos se reúnem para fazer caminhada três vezes por semana. Na sexta-feira, eles também têm uma aula de ginástica. Para participar desta iniciativa, basta se inscrever em um dos postos regionais de saúde. “E para retirar os insumos gratuitamente é preciso apresentar a carteirinha do SUS e documentos como RG, CPF e um comprovante do quadro de diabetes”, explica a enfermeira Simone. Esses incentivos municipais estão no começo, e mesmo com alguns percalços, mostram resultados. Basta torcer para que todos as cidades consigam seguir seu exemplo.
Outros projetos
Os programas que apresentamos na matéria são apenas exemplos do que você pode encontrar no Brasil. Veja algumas outras iniciativas municipais: Jacareí – São Paulo Localizado no interior paulista, tem cerca de 16 mil pessoas cadastradas, e conta com grupos, como o Alimentação Saudável e o Caminhar é Preciso Itanhaém – São Paulo A cidade conta com o PROMEDI (Programa Municipal de Educação em Diabetes), que realiza uma série de serviços com crianças e também promove cursos de capacitação de profissionais de saúde da região Campos dos Goyatazes – Rio de Janeiro A Prefeitura começou este ano o programa Vigilância em Saúde da Hipertensão e Diabetes, em que agentes de saúde trabalharão para cadastrar os cidadãos no HIPERDIA e assim otimizar seu atendimento pelo SUS
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