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As lembranças de Aluízio Palmar

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CONCLUSÕES

CONCLUSÕES

Por outro lado, o ex-sargento ONOFRE PINTO também se encontra desaparecido, supondo-se que tenha viajado com CERVEIRA.1

Embora os documentos sejam apenas indicativos, e as datas não sejam precisas, há um acompanhamento constante. O CIEX informava de novo que Onofre esteve em outubro de 1972 na Argentina, a fim de fazer contato”.2

As lembranças de Aluízio Palmar

O pontapé inicial dessa investigação inicia com a lembrança de Palmar quando o mesmo foi convidado por Alberi dos Santos, em Buenos Aires, para voltar ao Brasil. Palmar não foi o único recrutado que não aceitou vir para o Brasil. Alberi Maffi, que havia participado da Pesqueira, em Três Passos conta:

Eu também em Buenos Aires, como Aluízio e Bona Garcia, fomos procurados por um traidor, por um elemento infiltrado dentro do sistema de repressão brasileiro que foi o ex-sargento Alberi, (...) aquele foi um que se passou para a repressão e tentou, como trouxe alguns companheiros de volta ao Brasil e que foram chacinados. [parte de um] sistema de infiltração que a ditadura fez combinada e articulada com os movimentos de repressão de outros países, a Argentina, o Uruguai, Paraguai e Chile, e que essa história precisa ainda ser revelada.3

Maffi foi preso, foi para o Chile e lá se exilou na embaixada do México, onde conheceu Alberi Santos, que lhe encontrou em Buenos Aires. Em 20/9/1973 um documento confidencial da Embaixada do México no Brasil respondia sobre os asilados que lá se encontravam e informou que “Alberi Vieira dos Santos (50) já não se encontra mais no México, e que estão faltando alguns nomes, entre eles, Alberi Antonio Maffi”. O governo mexicano reiterava que não daria asilo a eles, e a lista somava 50 nomes, provenientes da Embaixada no México quando ocorreu o Golpe no Chile. Maffi acabaria indo para Argentina, “mais perto de casa”. Assim, Palmar

1 CIEX, 157/72. JPC e OP, 25/11/1972. 2 CIEX, 056/73, Onofre Pinto. /2/1973. 3 Entrevista de Alberi Maffi para Aluizio Palmar e Valdir Sessi, 5/2/2014, Braga, RS.

seria um entre três militantes convidados que não aceitaram, escapando da morte.

Por mais que se tenha procurado documentos sobre o caso, os mesmos são escassos. Já indicamos que a repressão esperava que Onofre Pinto fosse de alguma forma tentar voltar ao Brasil. Há alguns registros de que ele estivesse em Buenos Aires. Ele foi um dos militantes que buscou asilo na Argentina depois do golpe em 1973. Liszt Vieira relata inclusive que o encontrou na Embaixada da Suécia, buscando asilo europeu. Em fevereiro de 1974 um documento secreto dizia que “esteve em Buenos Aires, em janeiro de 1974, o ex-sargento Alberi Vieira dos Santos”. Completa que “Em Buenos Aires, Alberi fez convites a vários asilados para integrarem uma organização no sul do Brasil”. E adenda: “a presença de Alberi causou suspeita na Argentina. Tem-se certeza de que o nominado é elemento de ligação do Exército e de que tem contatos com o Adido do Exército em Montevidéu”4 . Este documento que tem como fonte a rede de espionagem que já foi usada com Cerveira, indica que sim, Alberi esteve cooptando militantes dizendo que iriam para luta no Brasil, e joga dúvidas sobre como ele é recebido pelos demais. O informe não esclarece quem é o sujeito do “temse certeza”... Em 6/6/1974 existe um pedido de busca contra Onofre Pinto. E em 14/6/74 o CIE deu o alerta: “de acordo com Info recebido, está para entrar no Brasil nos próximos dias, a fim de executar uma operação, que segundo conversas entre elementos pertencentes a grupos subversivos no Uruguai, é de muita importância”5 . Em 28/6/1974 há uma informação veiculada pelo SNI sobre “atividades subversivas”.

4 OS(M) 06. Pessoal Secreto. Monitor Sidonio, fonte Altair. C-3, 18/2/1974 5 CIE. Onofre Pinto. 14/6/1974.

Este documento que encontramos no Arquivo Nacional é muito importante.

Em meados de MAI 74, autoridade argentina, ligada ao Serviço de Segurança daquele país, informou que aguardavam aumento de atividades de organizações de extrema esquerda nas cidades de Paso de los libres, Monte Caseros, Avelar e Santo Tomé, todas fronteiras às localidades brasileiras

Na sequência o documento reforça uma suposta colaboração com o ERP argentino com a VPR que “agiriam com elementos que, saindo da fronteira da Argentina, viriam até o Brasil através da Província de Misiones.

Informe origem CIE dá conta provável vinda de ONOFRE PINTO nos próximos dias ao Brasil, com a finalidade de executar operação que, segundo conversa entre elementos de grupos subversivos no URUGUAI, é de muita importância.

E ainda nomeia outros militantes, especialmente Apolo Lisboa. E traz mais um dado:

O ex-Sgto PM Alberi Vieira dos Santos, que atuou na Guerrilha de Tres Passos/RS em 1965, estaria trabalhando em São Paulo e no Uruguai. Viaja seguidamente de táxi-aéreo e manda somas consideráveis à sua família em Humaitá-RS (...)

Já a ficha de Onofre no DOPS também registra algo que chamava atenção da Polícia Federal. Parece que todos os órgãos estavam alertas e sabiam que alguma coisa, não se sabia o que, estava por ocorrer.

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