Jornal Plural N.2

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plural JORNAL CULTURAL

NÚMERO 2 | JULHO A AGOSTO 2013 | BH | MG

CRôNiCA DE UM TAL DE “HOMEM”

Humanos são sempre humanos Carlos Magalhães Há algum tempo, uma socióloga estadunidense um tanto apocalíptica afirmou que a comunicação por meio de redes como o Twitter e o Facebook pode ser considerada uma forma de loucura moderna. Estaríamos sob o risco de nos tornarmos menos humanos por causa das

conversa em dia, para comer, beber, passar o tempo. Se conferem o telefone esperto, é porque têm o aparelho à mão. Antes faziam coisas equivalentes. Jornais e revistas que falaram dessa socióloga fizeram referência (como se fosse uma confirmação da hipótese proposta por ela) ao caso de uma moça que anunciou o próprio suicídio pelo Facebook sem que nenhum de seus 1082 “amigos”

novas tecnologias de comunicação. As pessoas estariam

fizesse nada para ajudar. Os poucos que responderam

se isolando em uma ciber-realidade que não passaria de

acharam que ela queria apenas chamar a atenção. Colo-

uma imitação do mundo real. Considero equivocada

caram amigos entre aspas fazendo um juízo moral sobre

essa hipótese. De fato, é muito estranha a concepção de

a ausência da verdadeira amizade nas redes sociais. O

natureza humana que a socióloga revela. Que natureza

fato é que só um idiota acreditaria que seus mil e tantos

humana é essa que se corrompe ao ser dominada pela

contatos numa rede social são amigos. Não raramente

tecnologia? Não é próprio do ser humano expandir suas

as pessoas são mais espertas do que os especialistas que

possibilidades pela invenção e utilização de diversas tec-

analisam o comportamento delas. Não há absolutamen-

nologias? Quando algo – um martelo ou o Photoshop,

te nada de novo em um anúncio de suicídio ignorado.

por exemplo – é usado por pessoas, esse uso só pode ser

Morei em um condomínio onde uma mulher morreu se

humano. Ainda que alguém possa não gostar da “hu-

jogando do sétimo andar. Dias antes disse aos familia-

manidade” que emerge de certas utilizações, o uso será

res: “Queria me matar, mas não quero estragar os car-

inescapavelmente humano. Algumas pessoas racham as

ros que ficam estacionados lá embaixo”. Ninguém levou

cabeças umas das outras com martelos; outras transfor-

a sério. Acharam que ela só queria impressionar. Pulou

mam gente em monstrengos nas edições de Photoshop

pela janela no dia em que não havia carros no estacio-

para as capas de revistas. Essas ferramentas estão nos

namento. Pode haver superficialidade, falsidade, ilusão

desumanizando? Não. Nós é que estamos humanizando

nos contatos feitos pela internet? É óbvio que sim. Mas

as ferramentas. Os seres humanos nascem condenados

isso acontece também no mal chamado mundo real. Tal

a serem humanos e espalham pelo mundo a sua huma-

como no mal chamado mundo real, também pode haver

nidade. Para o bem e para o mal. A socióloga cita um

profundidade, verdade e autenticidade nos contatos que

exemplo de como somos dominados pela tecnologia da

se fazem pela rede. Enfim, duvido muito de análises apo-

informação que beira o ridículo. Foi a enterros em que

calípticas que veem tudo que é novo como mais um sinal

as pessoas se distraiam da tristeza e conferiam as novi-

da decadência humana. A humanidade desde sempre foi

dades em seus smartphones. Desde sempre as pessoas

e não foi decadente, porque não pode ser outra coisa a

vão a enterros para fazer de tudo. Vão para colocar a

não ser humana.


editorial

Crônica de uma certa São João Del Rei

Plural é ser para o outro

Chacal Por Rogério Medeiros Garcia de Lima

Por Bernardo G.B. Nogueira A ambivalência é uma característica que comparece como face do humano. Estamos sempre no limiar entre deuses e a contingência do existir enquanto homens. Nessa condição inescapável relacionamo-nos com o outro à procura do caminho perdido. Por certo ele não será encontrado. A nossa possibilidade esta encerrada mesmo no impossível da certeza. Assim é que o Jornal Cultural Plural nasceu: Ambivalente. Entre o existir técnico de que nos fala Heidegger, e a tentativa de uma existência poética anunciada pelo poeta alemão Hölderlin. No entanto, dentre todas as dúvidas que conduzem nosso caminho, já agora podemos nos acalentar, pois o Plural agora é dos seus leitores que trouxeram vida a ele. Leitores também ambivalentes, mas quando o humano deixar de titubear e possuir certeza no existir, não mais nos iremos desencontrar. Isso seria o fim da pluralidade e da incerteza que nasce toda vez que o outro nos acolhe com um olhar novo e que é só poesia, cheio de cheiros novos e ambivalências.

expediente JORNAL CULTURAL PLURAL Editor: Bernardo G.B Nogueira Revisão: Raquel Abreu Aoki APOIO TÉCNICO: Núcleo de Publicações Acadêmicas Newton: Cinthia Mara da Fonseca Pacheco

Desembargador do Tribunal de Justiça-MG e professor de Direito na Newton

“Marmota, marmotinha, vamos todos marmotar” (do são-joanense Chacal, em paródia à marchinha infantil “Ciranda, Cirandinha”). Chacal é um feroz cão selvagem, de pelo amarelo-pardo, encontrado nos Balcãs, Ásia e África. Anda em bandos e tem hábitos noturnos. O apelido “Chacal” foi dado a um sexagenário “menino travesso”, falecido em 2012. Quando menino, completou um álbum de figurinhas com a rara gravura do mamífero. Sortudo como ele só. Nascido em São João del-Rei, era batizado Murilo Chafy Hallak. Alguns anos mais velho do que eu, suponho ter sido arteiro na infância, porque arteiro foi até o fim de seus dias neste mundo de Deus. Trabalhou no Banco do Brasil e constituiu conhecida família, com esposa e filhas encantadoras. Era boêmio da melhor categoria. Apreciava as esquinas e os botequins. Proseador sublime, mesclava realidade e ficção com arte e graça. Compositor de sambas, foi muito cantado nos saudosos carnavais do passado. Era o “Forrest Gump” da Serra do Lenheiro. “Os Trapalhões” vinham filmar em São João del-Rei? Lá estava o Chacal. Travou boa camaradagem com o divertido Mussum. Dois bagunceiros, certamente aprontaram. Vinícius de Morais e Toquinho deram um show no nosso Teatro Municipal? Chacal tomou doses generosas do bom uísque com o poeta. Deve ter concordado com Vi-

nícius: o uísque é o melhor amigo do homem; é o cachorro engarrafado. Autoridades políticas em visita à cidade? No meio delas estava o Chacal. Saudava e, não raramente, polemizava. Atitudes do menino traquinas que sempre foi. Maldade? Nenhuma. Viajar? Chamassem o Chacal, era com ele mesmo. Automóvel, ônibus, navio ou avião. Tanto fazia. Foi assistir “in loco” à Copa da Espanha de 1982. O Brasil não venceu o torneio, apesar do mágico futebol-arte da equipe de Telê Santana. Mas Chacal trouxe na lembrança vários canecos de cerveja e vinho: coisa de campeão! Trouxe também a alegria incomensurável de narrar passagens inverossímeis, vividas ou imaginadas, em terras espanholas. Chacal me alegrou muitas vezes. Era o seu jeito de ser. Imagino o conterrâneo em Madri, no centro da Plaza de España e numa tarde reluzente de céu azul. Diante da bela fonte Miguel de Cervantes, mira as esculturas do Dom Quixote, Sancho Pança e suas montarias. Ouve o “Cavaleiro da Triste Figura” vociferar: “Se me não queixo com a dor, é porque aos cavaleiros andantes não é dado lastimarem-se de feridas, ainda que por elas lhes saiam as tripas”. Assim era o Chacal: partiu sem despedidas e sem chiar um ai. Deus o tem.

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JORNAL CULTURAL PLURAL | NÚMERO 2 | JULHO A SETEMBRO DE 2013


Filosofia contemporânea

Poesia de poeisa 2

Do senso comum à audiência Por Márcia Tiburi Dizer que não lemos escritores brasileiros contemporâneos é uma daquelas verdades tristes que povoam o cenário do senso comum atual. Diz-se o mesmo do cinema brasileiro. Poderíamos dizer o mesmo de certa música brasileira contemporânea que não anda nos circuitos comercais. O mesmo ainda pode ser dito das artes em geral, pois parece que poucos se ocupam do trabalho de artistas que fazem carreira na pintura ou nas artes visuais em geral. Poderíamos também falar da ciência. Afinal, sempre é bom perguntar o que sabe o senso comum sobre a pesquisa em física ou biomedicina? Pode parecer repetitvo ler algo sobre o senso comum depois de tanto ter sido falado sobre ele nos manuais de filosofia que andam por aí, mas é um fato que o senso comum impõe verdades e elas atrapalham algumas coisas. Chamamos de senso comum justamente o conjunto dos discursos que valem como opiniões verdadeiras apenas porque são correntes. Platão e Aristóteles sabiam que não haveria filosofia que não partisse do senso comum. Desmontar o senso comum, desmanchar a mera opinião seria o único jeito de seguir no caminho de um pensamento mais cuidadoso sobre as coisas que poderia, em certo momento, ser chamado de “conhecimento.” Claro que podemos sempre dizer, mas quem se importacom isso? Afinal, quando ao mundo da filosofia também corre a “verdade” de que filosofia é algo difícil e que “não existem filósofos no Brasil”. Estou falando tudo isso para colocar a questão sobre o fundo falso do chamado “senso comum”. Do que se trata quando acreditamos em tais “verdades”? Do fato de que o fundo do senso comum é a sua própria imposição como verdade. Para falar em termos filosóficos é como se faltasse alguma verdade ao senso comum da qual ele mesmo depende para impor-se como verdade. É como se valesse por ser repetido e não questionado. Isso é o que se chama “petição de pincípio”. Assim, antigamente, para algo ser verdade, dependeria de uma autoridade, o rei, o imperador, o pai de família, o padre, o pastor. Em nossos dias, desde a invenção dos meios de comunicação de massa, temos também a invenção das massas. As massas não existiam antes da igreja tê-las inventado. O cinema, o rádio, a televisão e, por fim, a Internet, existem por que existem massas. As massas, no entanto, estilhaçam-se a cada dia. Para que exista essa coisa chamada de massa é preciso que haja um quantidade imensa de pessoas que não pensam por conta própria e

alguém que pensa por elas. É uma questão geométrica. Um único pastor, um único guia, ou até mesmo um único “filósofo” e temos uma massa que, quanto mais compacta, mais é massa Em contexto chamados de “hegemônicos”, podemos dizer que os “guias” disputam servos teleguiados. No entanto, quando há mais pastores maior é a esponjosidade das massas e, podemos dizer também, que chegamos à fragmentação que implica um desfazimento do caráter compacto de uma massa. Em outras palavras, podemos dizer que quanto mais pastores, no extremo, não teremos mais pastores. A internet parece ter providenciado isso, hoje cada um tem seu meio de comunicação, o seu pedacinho no latifúndio na rede, o seu espaço para fazer o seu jornal. A comunidade no seu sentido mais antigo é o que vai deixando de existir para dar lugar a outros sentidos, inclusive o de que vivemos hoje apenas simulacros de comunidades ou comunidades espectrais como dizem alguns filósofos. Persiste no novo território dos sentidos, aquilo que chamamos de audiência. A audiência é um conjunto de pessoas que pode ou não ser uma massa. Audiência pode ser o todo ou uma parte do todo. Os veículos de comunicação de massa gostariam que as audiências fossem sempre de massas, porque o poder faz a força e porque os patrocinadores que querem sempre “vender” alguma coisa, vender “mais” alguma coisa, precisam da quantidade. Mas a audiência pode ser pequena e ter alta qualidade. Coisa que falei no meu livro Olho de Vidro – a televisão e o estado de exceção da imagem (Record, 2011), é que o que está em jogo no contexto da cultura industrializada é a manipulação de um desejo curioso. Trata-se do desejo de fazer parte que anima a audiência, que faz com que as pessoas queiram ver a mesma novela que está passando na televisão ou o que estiver sendo oferecido desde que haja a expectativa de que “todo mundo está vendo”. Como se o fato de que “todos estão vendo” me tornasse parte de uma coisa grandiosa. Difícil questionar este lugar porque nossa experiência contemporânea implica um certo desespero relativo ao lugar social que ocupamos. Quando não podemos fazer nada ou “ser” muita coisa só restam dois caminhos: desmanchar-se no todo pensando igual e querendo a mesma coisa, ou buscar um caminho próprio. Mas o que seria um caminho próprio que não se medisse simplesmente com a competitividade vigente que parece imposta a todos todos os dias sob as mais diversas formas? Texto originalmente publicado no blog da autora e gentilmente cedido http://filosofiacinza.com/

O segredo da flor Por Bernardo G. B. Nogueira Agora tens permissão pra ir dormir e deixar sair pelo mundo o seu cheiro de flor. Eu descobri porque você sabe de tudo. É porque à noite quando dorme você se relaciona sexualmente com o mundo através do seu cheiro, ai quando as pessoas acordam daquilo que pra todos é um sonho e pra você não é, ficam todos querendo te dizer tudo - mal sabem eles que isso nunca irá se acabar, até o dia em que você viver. Porque quando flor dorme ela transa, e quando ela acorda esta todo mundo fecundado por ela. Daí os olhares, as atenções, as idéias e os melhores cuidados vêm todos pra ela. Porque ela é a mãe, o pai, a mulher e o homem de todas as espécies que só vivem porque a flor deixa-se transar com elas todas. Uma transa assim, de transe mesmo, sexual, metafísica, política e religiosa. Divina e profana. Pois quando uma flor dorme parece até a hora em que um anjo desce do céu. Ela fecha os olhos, abre seus poros, e o mundo flutua em sua cor, seu cheiro, sua pétala e todo o seu odor. Porque sem a flor no mundo a noite seria só hora de dormir. Mas com ela por ai a noite é hora de parir, de sentir e de partir. Partir os corações de todos que passam perto dela, que sem se dar conta, acabam ficando apaixonados. Escrevem linhas inteiras de adoração e depois prostram exaustos sem saber motivo, causa ou explicação. Então, toda vez que uma flor dormir é importante ter muito cuidado pra não acordá-la. Sua vida existe quando a maioria desaba. Ela concebe o mundo em instantes de fada. Fere o peito do cão viril e deita plumas aos amantes. Na hora do seu sono nascem reis e derrubam-se castelos. A saudade invade e os dias são mais sinceros. Porque nem um suspiro de flor é em vão. Porque depois que ela dorme o mundo inteiro acorda, e quando ela pisca os olhos, todas as criaturas dançam e inventam acordes, pra dormir de novo e esperar mais uma visita da flor, que agora dorme...

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bernardogbnogueira.blogspot.com

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DiE RUBRiK

Licença Poé...Política! Por Thalita Dittmaier Muito se tem falado. Discutir política é a nova modinha brasileira. E cá estamos. Vozes. Gritos. Cartazes. Palavras. Manifestações em todo o país e um aparelho midiático atento. Uma profusão de amor à pátria em plena Copa das Confederações. E, encantadora e assustadoramente, nada disso tem a ver com futebol. O preço do transporte desencadeou uma revolta necessária à percepção do óbvio já defendido por Aristóteles: somos todos animais políticos. Somos todos construídos socialmente, em menor ou maior grau de alfabetização política. Você pode até não ter um partido, mas duvido de que não tenha uma ideologia para viver. Gostaria, portanto, de destacar o clamor daqueles intitulados “apartidários”, neutralizados ou não pela zona de conforto do sofá da sala. Rejeitar os partidos políticos é querer fazer política numa espécie de vácuo social. Numa democracia, partidos e ideologias têm o direito de existir. Certa vez, presenciei, em solo alemão, uma manifestação dos radicais de direita, escoltados, aliás, pela polícia. Enquan-

to latino-americano, com ou sem dinheiro no banco, bem, enquanto brasileira, assistir a uma coisa dessas é mesmo de revirar o estômago. Nesse dia, porém, consegui perceber com mais clareza o que minha mãe sempre diz e, consequentemente, o raciocínio alemão: proibir é pior. Enfim, democracia é isso. De volta a terra brasilis, eis a grande imprensa tentando maquiar o movimento em favor do conservadorismo. E é evidente, para quem não se finge de morto, que a direita brasileira, a qual sempre tratou o Estado como propriedade privada, está se aproveitando do que se passa nas ruas, inclusive dos ingenuamente sem-partido. Não tem sido fácil aceitar a perda do poder, ainda mais pela via democrática. Eu não acredito em neutralidade discursiva. Somos humanos. Você tem todo o direito de não gostar do que eu digo ou do governo atual, já que as falhas petistas são muitas. Mas, na minha percepção de mundo, negar os avanços político-sociais alcançados nos últimos dez anos é ingratidão e burrice. E querer entregar (novamente!) a faca e o queijo às mãos de uma classe elitista que tanto nos freou e endividou é burrice ao quadrado.

Na verdade, atento-me, no momento, para uma multidão de vozes coloridas, de vários tamanhos e idades, transformando-se num grito uníssono em recusa a um modelo de sociedade cansado de valores individualistas. Pode ser um tanto quanto utópico da minha parte, mas prefiro assim. O que dá medo é a incerteza do rumo dessa viagem, uma vez que a apropriação do movimento é real e a direitização camufla-se, cada vez mais, sob a forma de discursos vazios e incoerentes. E não se pode deixar de mencionar o poder das redes sociais. Estas, como tudo na vida, têm seu lado bom e seu lado destrutivo. E o imediatismo da internet, aliado a uma preguiça de pensar, torna-nos, muitas vezes, reféns de milhares de bobagens (leia-se senso comum), diariamente compartilhadas no mundo virtual. Não podemos deixar essa energia positiva de mudança esvair-se. Não podemos simplesmente disseminar ideias sem, ao menos, compreendê-las. Não podemos fechar os olhos diante dos fatos. A falta de informação é extremamente perigosa para a democracia. Como nos alenta a poesia drummondiana, “esse é tempo de partido, tempo de homens partidos”. Uns olhando a si próprio, outros querendo (apenas!) derrubar os muros berlinenses segregadores da riqueza e da pobreza, do centro e da periferia. E, por fim, como humana que sou, acredito na força da cor daquilo que corre nas minhas veias.

CRôNiCA DE UM LEiTOR

Por Elenilson Nascimento Não tenho muita paciência com gente burra. Pior ainda com gente preguiçosa. E em um desses meus acessos incuráveis de nostalgia, de querer consumi livros, cometi o crime inafiançável de ficar tomando emprestados livros na Biblioteca Pública dos Barris. Cheguei de mansinho, talvez pensando em reencontrar nas prateleiras os livros que mais me influenciaram e emocionaram. Mas não se pode entrar na biblioteca para descobrir livros. Tem que ser na base da sorte ou na boa vontade dos funcionários em sugerir um título – coisa que nunca eles fazem. Mas já topei com alguns volumes empoeirados à espera de um leitor que nunca mais apareceu. A biblioteca – que seus funcionários têm o orgulho de dizer que tem 201 anos – é um imenso elefante branco inútil. Um lugar oco e cheio de gente de cabeças ocas. Normalmente as bibliotecárias que me atendiam com aquela suave descortesia típica dessa categoria profissional, como se o visitante fosse um intruso a ser tolerado, mas não absolvido, parecia querer encravar na minha cara uns 100 mil tapas por ter interrompido o seu trabalho ocioso de contar moscas e/ou o joguinho de paciência no computador. Eu sei que as bibliotecárias, entre suas

muitas funções hoje em dia, sentem-se na obrigação de ocultar os volumes mais raros de suas respectivas bibliotecas por medo que algum doente, como eu, venha a danificá-los ou, na pior das hipóteses, roubá-los. Mas para que os pagodeiros dessa província vão querer roubar livros? Bibliotecas mais escondem do que mostram. Mais discriminam do que educam. E isso é lamentável. Devem existir muitos depósitos ou estantes secretas vedadas aos visitantes. Essas devem ser as melhores – e, graças às bibliotecárias, você jamais chegará a elas. Já peguei muitos livros e nunca atrasei um único dia. Sempre fiz questão de entregá-los até mesmo antes do prazo. Até que me descuidei e devolvi um exemplar com 01 dia de atraso. Resultado: bloqueado! Mas não é só na Biblioteca dos Barris que a incompetência é uma força do hábito. Noutro dia, estando num shopping (*ando detestando shoppings), fiz um teste bem sacana, entrando na Saraiva, que é considerada uma livraria por excelência pelos pseudo cults, disparei: “O Amor nos Tempos do Cólera” em cinco volumes da autoria do cubano Elenilson Nascimento?”, perguntei a uma moçoila de óculos com o crachá de vendedora. Ela, de pronto, respondeu-me: “Os últimos volumes foram

vendidos ontem!”. Bem, como os bem informados já perceberam o livro em questão é do Gabriel García Márques, que não é cubano e nem tão pouco eu escrevi tal livro. E quem me dera tê-lo escrito! Em tempos idos, eu encontrava nas bibliotecas públicas ou nas livrarias um abrigo para meditar, planejar e fugir do mundo. Passeava pelas estantes como quem viajasse por outros planetas, tempos e realidades, memórias, histórias, uma lição de vida aqui, uma descoberta da crueldade humana ali, fantasias inúteis acolá. Mas hoje, os tempos são outros. E a ignorância impera! Devo muito aos livros na minha formação. Fiz Letras e “pós de lugar algum” enfurnado na minha biblioteca particular, pois as bibliotecas públicas de Salvador são deprimentes. Anos atrás, elas costumavam ser lotadas de leitores ávidos. Os usuários se interessavam por cultura, e não apenas como uma ferramenta para subir na vida e destruir os concorrentes. Lembro que nos anos 80 havia oficinas e debates. Os livros de poesia e os romances não paravam nas prateleiras. Agora os ácaros, os carunchos e toda sorte de inseto venceram os leitores. Para não falar da umidade – que, recentemente, quase acabou com um exemplar de Nelson Rodrigues que eu encontrei por lá.


Filosofia Política

Paralisando a história: distopia Por José Luiz Quadros de Magalhães Estamos vivendo uma distopia? Uma questão interessante na referencia binária presente nas palavras distopia e utopia, é que a ideia de um futuro ruim é realizável e a ideia de um futuro ótimo é irrealizável. Porque será? As palavras são significantes às quais são atribuídos sentidos (significados) que condicionam o pensar. Uma palavra pede outra, uma frase deve ter ordem para ser compreendida. A gramática condiciona o pensar, assim como as regras para se fazer um poema, um romance, uma dissertação, uma tese, um artigo cientifico. Formas. As formas, as regras, aprisionam. Há uma ideia livre aprisionada na gaiola da forma. Formas aprisionam, mas será possível falar de liberdade dentro de uma gaiola? Para a liberdade ter chance precisamos antes descobrir o quanto estamos presos. Voltemos à nossa pergunta: porque a utopias são impossíveis e as distopias possíveis? Vivemos uma distopia? Talvez a resposta a esta pergunta passe pela resposta a outra pergunta: quem atribui sentido às palavras. O filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek nos lembra o imenso poder que detém aqueles que atribuem sentido às palavras utilizadas no cotidiano da maior parte das pessoas. Este poder interfere na construção do senso comum. Porque no cinema e na cultura popular contemporânea não encontramos mais utopias? Para onde elas foram. Além de transformarem as utopias em irrealizáveis agora não nos permitem pensar nelas. Pode ser muito perigoso para o poder as pessoas sonharem com uma outra vida, uma outra sociedade, cidade, planeta. Ora, a utopia como um futuro perfeito irrealizável cumpre um papel motor muito perigoso: as pessoas, para fugir da proibição de viver em uma sociedade perfeita podem se movimentar em busca de algo diferente, em direção a esta perfeição impossível. Este movimento que a utopia permite, de um horizonte que sempre se afasta do caminhante, mantém as pessoas caminhando para um outro lugar. Daí a proibição da utopia. Agora não basta dizer que a utopia é irrealizável, é necessário paralisar as pessoas, proibindo sonhar com algo irrealizável. A ordem é: “sejamos pragmáticos, não

percamos tempo sonhando com isto”. As distopias do cinema (e nos outros espaços da cultura popular) no lugar das utopias, trazem este recado: “estão vendo, se acham que a vida está ruim, pode ficar muito pior”. Assim, ao revés, transformaram a distopia em algo também irrealizável: sempre pode ficar pior, portanto, fique quietinho, qualquer movimento em busca de algo diferente pode fazer sua realidade piorar, “e olha que o buraco não tem fundo”.

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Voltemos à nossa pergunta: porque as utopias são impossíveis e as distopias possíveis? Vivemos uma distopia?

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Conto etéreo

Arco-íris Por Tânia Cristina Dias* A mãe, na cozinha, lava os pratos. Flores azuis, listras rosas, quadrados verdes, ou totalmente brancos. Aquelas variações de pratos que restam dos que se quebram. A filha sentada à mesa, cabeça suspensa pelos braços, balança as pernas cruzadas, de cima da cadeira alta de madeira. Ora olha a mãe, ora a janela, um pouco aberta. Do pequeno espaço azul do céu, vê-se o desfile lento de algumas nuvens. - Mãe, passou uma agora; parece um coelho gigante, agora um sapo... A mãe imita um coaxar. A filha sorri. A mão de mãe ensaboa, lava, transforma coisas pegajosas em livres. A gordura escoa pelo cano. Estende o pano de prato à filha que, vagarosamente, recolhe os pratos do escorredor e seca-os. Empilha-os. Observa a mãe. “Tão bonita. Vou ser assim quando crescer?” O vestido que usa, assim solto, fino e colorido, parece com o da mãe. Um pouco rosa, um pouco azul, um pouco branco. Arrasta a borda no chão, pela insistência da filha de usá-lo sem bainha; na espera de perceber o próprio crescimento aos poucos. E vê-lo atingir a canela, a batata da perna os joelhos. “Vou saber com certeza, que já sou grande”. O fogão parece agora estar vestido de sabão, pensa a filha. - Que carinha risonha é esta? A mãe pergunta. - Mãe, pro carnaval você faz pra mim uma roupa de espuma? - Pra você deslizar na passarela? - Não. Pra você passar a mão em mim. As duas riem. Encontro da ironia do desejo de crescer com a essência do sonho irrefutável de criança, quando tudo é possível. Assim, da mesma forma que se pode costurar água e sabão e dar forma à fantasia. A menina olha de novo à janela: as cores da nuvens mudaram. “Por que tudo muda? As cores e formatos das nuvens?” - Aquela com formato de elefante, também tem células? A mãe, gentilmente, coloca uma pequena bola de espuma no nariz da filha. - Não, minha filha, tem água, muito vaporzinho d’água. Parece um pouco com a espuma neste narizinho. - E nuvem coça feito espuma? A mãe, em meio a seu próprio sorriso, pensa: “Como as idéias fermentam nesta cabecinha”. A filha, um pouco indignada com o sorriso da mãe, pergunta o que disse de engraçado. - Nada, minha filha. Só acho que não precisa tanta pressa para entender o mundo. Venha cá. Senta-se, coloca a filha no colo, enquanto diz: - Um dia, quando o seu vestido estiver mais ou menos aqui na altura da sua coxa, você vai saber o porquê. A vida muda, porque faz parte dela mudar. Você não quer tanto crescer? Existem coisas de todos os tamanhos, algumas grandes, de um tamanhão imenso, e outras pequenas, bem menores que as pequenas que você conhece. - Igual célula de formiga? - É mais ou menos. - Aí, você falou de novo aquilo que não é nem uma coisa nem outra. Me fala, com certeza, qual é a maior coisa do mundo. De verdade. - A maior coisa que pode haver no mundo é o que cada pessoa traz dentro dela mesma. Se chama sentimento. - Parece cimento! A filha enrola no dedo o cabelo da mãe. Solta o cacho, cai liso em sua mão. - É mais forte que cimento.

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- Maior que um dinossauro? -É. - Maior que um nimbo? - Também. - Maior que três planetas? - Muito maior. A mãe reflete um pouco aponta para o céu e diz: - É maior que o infinito. - Nossa... e como cabe aqui tudo dentro da gente? - Coração de gente é maior que o próprio tamanho. Quanto mais amor se coloca, mais cabe. Assim feito o amor de uma mãe por uma filha infinitamente perguntadeira. É como uma casa muito grande com muitos cômodos. - Com muitas portas? - Sim. - Em quantas portas tem o meu nome? - Em todas. - Gostei. Gosto desta palavra: todas. - E quais são as outras palavras que esta filhinha tanto gosta? A mãe abraça e balança a filha em seu colo. - Tudo, céu, balanço, paralelepípedo, amora e cimento. Ah. Não...esqueci. Leva o dedo a boca enquanto lembra: - Sentimento infinito. A mãe olha pra fora. Começam a cair os primeiros pingos de um sol com chuva, do tipo arco-íris à vista. A mãe, improvisadamente, convida a filha: - Vamos andar na chuva? A filha não entende. Já que chuva resfria. -Vamos filha, tire o chinelo. “Mamãe deve estar doida.” Mas o convite é tão surpreendentemente tresloucado e travesso que a filha permite. A chuva desce já a ladeira, formando enxurradas dos lados, barquinhos de papel sem almirantes descem tortuosamente a rua. A mão grande da mãe se oferece a da filha. A música “dançando na chuva” não existe. Apenas o riso de mãe e filha girando, girando em companhia. Mãos dadas, pés descalços, água fria. - Sol e chuva, casamento de viúva, chuva e sol, casamento de espanhol. - Mamãe, quem casa hoje, viúva ou espanhol? - Não sei, minha filha. Algumas pessoas passam aflitas e não conseguem imaginar o motivo de tanto riso.O motivo é tão simples. Tão claro feito folha verde de banho de água do céu. É um dia sem mais nem menos, sem comemoração, sem quê nem porquê. O arco-íris já se faz enfeite no céu. São mãe e filha rindo com o singelo da vida, pés na água fria, balé de pernas girando, entrelaçando-se, mãos segurando a quem ama. Comemoram sem nenhum preparo de festa. São mãe e filha. A filha sempre girando, volta sua cabeça para o céu, caem pequenas gotas de chuva em seu rosto. Sente o coração batendo forte no peito. Fecha os olhos para impedir a água da chuva, mas continua vendo a mãe. Começa a ficar tonta, enquanto imagina a mãe vestida de nuvem....é um cimento infinito....pensa....gira... * Contista

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ANÁLiSE D(O) REAL Por Tatiana Ribeiro de Souza Real, A palavra imaginação exerce sobre mim um especial fascírealidade e nio. Imagem, imagem, imagem, imagem... Muitas e conectadas. É assim a “imagem-ação”. Que coisa extraordinária é saber que até mesmo imaginação umquefatoeunãopensoacontecido pode ser transformado em um conjunto de imagens. Pesso1

as desconhecidas, experiências vividas por outros, estórias que lemos ou escutamos e até os desejos podem ser convertidos em imaginação. Mas de onde vêm tantas imagens? Qual é o repositório desse nosso infinito imaginário? A resposta mais apressada seria que as imagens que cultivamos na mente são a reprodução de algo visto ou são invenções. A resposta mais elaborada nos diz que é impossível que a nossa mente reproduza fiel e exclusivamente o que foi visto, bem como é impossível separar nossas invenções do que, de alguma forma, já vimos. No sentido amplo, poderíamos chamar de imaginação toda sequência de imagens que estejam conectadas, tenham elas significado ou não. Todavia, quando tais imagens reproduzem majoritariamente o que os olhos captaram, damos a essa sequência o nome de realidade. Melhor seria dizer que o conjunto de imagens captadas daquilo que foi visto constitui a realidade. É evidente que a realidade não pode ser reduzida a imagens, uma vez que ela pode se expressar sob as mais diversas formas de apreensão do real. Chegamos finalmente à proposição desse ensaio: discutir onde se situam e se relacionam o real, a realidade e a imaginação. O que chamaremos de real, nesse ensaio, é a coisa em si, aquilo que é. Poderíamos até levantar a questão sobre a existência do real, mas partiremos de dois pressupostos: o primeiro é que o real existe e o segundo é que o real é inapreensível em sua inteireza. Usemos como exemplo a leitura de um texto. Quando lemos um texto é comum encontrarmos palavras desconhecidas, ou melhor, ainda não inserida no universo de significados que dominamos. Nesse caso, podemos vivenciar diferentes experiências na apreensão do conteúdo do texto: podemos deduzir acertadamente o significado desejado pelo autor; podemos entender o inverso do desejado pelo autor; podemos rejeitar o conteúdo do texto, abandonando inclusive o que foi apreendido; podemos inventar novo conteúdo ao texto etc. A vida é esse texto. Tudo que conhecemos nos foi apresentado, por alguém ou por determinadas circunstâncias, e a partir desse momento atribuímos significado a cada coisa. O que não tem significado pra mim, eu não conheço. “Maria Lombarde Barbosa”. Acabo de inventar esse nome, que pra mim não tem qualquer significado. Eu não conheço Maria Lombarde Barbosa. Mas, por exemplo, o nome “Carla Bruni” tem um significado pra mim. Este nome foi registrado pelo meu universo de significados como, entre outras coisas, a franco-italiana que se casou com o ex-presidente da França, Nicolas Sarkozy. Eu conheci “Carla Bruni”, ou melhor, a mim foi dado conhecimento sobre “Carla Bruni”, e quando leio qualquer notícia sobre a ex-primeira dama da França meu cérebro aciona o significado construído sobre esse nome e, então, eu conheço outra vez, vale dizer: reconheço. O único acesso que temos sobre o real é por meio do que já conhecemos. O que não é automaticamente explicado pelos meus pré-significados eu não reconheço, e a minha postura sobre o novo pode ser ignorá-lo ou atribuir-lhe um novo significado. A postura das pessoas diante do real varia conforme as combinações de significados que vão lhe permitir acesso a esse real. E isso, que eu acabo de chamar de postura corresponde ao que classifico nesse texto como realidade. Quando escutei a canção “Você, você”2, do Chico Buarque, pela primeira vez, construí um significado à narrativa da letra, uma vez que conheço as palavras que a compõe. A realidade daquela música era a interpelação de um homem, aparentemente enciumado, ou até traído, sobre os passos da mulher amada. Todavia, ignorava o fato de que o compositor havia escrito a letra inspirado na obsessão do seu neto pela mãe. Talvez tivesse chegado a essa conclusão se tivesse observado o subtítulo da música: “canção edipiana”. O fato é que da soma dessa informação aos outros tantos significados já construídos na minha visão de mundo, sobre a relação entre mãe e filho, a sensibilidade do Chico Buarque para os sentimentos femininos e meu domínio sobre as palavras que compõem a letra da música, nasceu outra música. Certamente há fatos que me escapam na composição de “Você, você”, pelo Chico Buarque, de modo que eu não tenho completo acesso ao real. Mas a interpretação que hoje tenho da canção é indubitavelmente uma realidade. Quanto àquilo que eu não tenho condições de saber, mas me povoou a mente, relativo às relações familiares do compositor, isso sim é imaginação. A Carla Bruni existe, ela é real. Eu tenho minha própria versão de quem é a Carla Bruni, o que é realidade. Mas o que eu vejo como uma possível convivência matrimonial com um sujeito como o Sarkozy, sobre o quê nunca li a respeito, é apenas imaginação. Meu argumento final é que não existe “pura realidade” nem “pura imaginação”. O que existe é o real, o resto é um pouco de realidade e um pouco de imaginação e a medida de cada uma é que vai determinar a que distância o observador está do real. (Endnotes) 1 Doutora em Direito Público mestre em Ciências Sociais. Professora do Centro Universitário Newton e apresentadora do Programa Contraponto da TV Comunitária de Belo Horizonte. 2 “Que roupa você veste, que anéis?/ Por quem você se troca?/ Que bicho feroz são seus cabelos/ Que à noite você solta?/ De que é que você brinca?/ Que horas você volta?/ Seu beijo nos meus olhos, seus pés/ Que o chão sequer não tocam/ A seda a roçar no quarto escuro/ E a réstia sob a porta/ Onde é que você some?/ Que horas você volta?/ Quem é essa voz?/ Que assombração/ Seu corpo carrega?/ Terá um capuz?/ Será o ladrão?/ Que horas você chega?/ Me sopre novamente as canções/ Com que você me engana/ Que blusa você, com o seu cheiro/ Deixou na minha cama?/ Você, quando não dorme/ Quem é que você chama?/ Pra quem você tem olhos azuis/ E com as manhãs remoça/ E à noite, pra quem/ Você é uma luz/ Debaixo da porta?/ No sonho de quem/ Você vai e vem/ Com os cabelos/ Que você solta?/ Que horas, me diga que horas, me diga/ Que horas você volta?”

JORNAL CULTURAL PLURAL | NÚMERO 2 | JULHO A AGOSTO DE 2013

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CRôNiCA DE UMA ViD A EM MOViMENTO

Ser-ia Várias são as escolhas da vida, verdade. Inúmeras, também, as dúvidas e angústias. Ser hedonista, cultivar o prazer, talvez fosse a saída E, ao mesmo tempo, a entrada em mais uma dúvida da vida. Mais por quê? Perguntar-me ei, ia Ora, o que é o prazer? Alguns sofrem com a dor, alegram-se também. Outros sobrevivem com pouca: Cultura, informação, dinheiro e ódio. Esses últimos, quem mais instiga. Mais por que? Perguntar-me ei, ia Ora, como não sentir ódio daqueles que Amam odiar? Prazer, enfim, palavra vaga O vento frio no rosto pela manhã O afago carinhoso da mulher amada! Amar, ei, ia ... Viver,ei, ia ... Prazer, Ser, Serei, Seria! Thiago Augusto de Freitas

A língua de camões

1. mais amaríeis meu cortado canto se mais soubésseis como sois amada e navegásseis pelo meu espanto. 2. se me amásseis tamanho eu vos diria da dura solidão dos precipícios da falsa imensidão dos sodalícios da cortada razão dos meus ofícios se me amásseis por certo eu vos diria e a minha voz em voz por todo canto decerto iria quebrar-vos em espanto. 3. senhora, eu vos amei por tanto, em tudo que de camões busquei o meu primeiro estado de um estado verdadeiro e vos cantei canções que são veludo. 4. se os arcabouços meus em vós levásseis e se dormísseis no meu louco porto e mais amásseis o meu antro torto e se acordásseis meu poema morto faríeis meus duelos bem mais fáceis. romério rômulo http://romerioromulo.wordpress.com/

O testemunho Barroso da Costa

- Ajeita a luz, Silveira. Isso... Pronto! Testemunho 22, take 1. Gravando. - Sim, meu nome é Mário de Souza Bittencourt, ex-ator de televisão. Tenho 26 anos. É... eu atu ei naquela novela, sim. Falar sobre minha vida? Desde pequeno tenho ma nias, vícios. Lembro-me quando ficav a o dia inteiro trocando figurinhas. Colecionava de tudo, das caras dos jogadores de futebol a selos postais. Na adolescência começaram as apostas... Primeiro, as bolinhas de gude, depois o pife-pafe a valer e, por fim, já brinca va de roleta-russa. Era viciado naquel a possibilidade de perda. Drogas? Fumei maconha minha vida inteira. Aos quinze comecei a cheirar e, aos dezessete, já estava totalmente fissurad o no crack, sem contar o cigarro, que me fumava, e a cachaça, que consumia diariamente aos litros. Cheguei a transa r com mais de três mulheres por dia . Depois que entrei para a Igreja? Não. Aí eu parei com tudo. Jesus me libert ou, aleluia. Hoje já não sou viciado em mais nada. Frequento a Igreja de ma nhã, de tarde e de noite. Oro ao Sen hor a cada segundo e assisto a, pelo menos, cinco cultos por dia. Não par o nem para comer e chego a dormir no templo. Já não tenho mais vícios, nen hum vício. Como disse o Pastor Josias , hoje só há espaço para Jesus na minh a vida. - Excelente! Corta.

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JORNAL CULTURAL PLURAL | NÚMERO 2 | JULHO A SETEMBRO DE 2013


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