Ver São Paulo - Jornal

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Ver São Paulo fundado em 2014

15 DE OUTUBRO DE 2014

Ver cultura

QUARTA-FEIRA

ANO 1 EDIÇÃO DE 00H15

Casa Guilherme de Almeida /Pág. V1

Entrevista com Juliano Max /Pág. V1

Loucuras a parte: um romance /Pág. V1

Melhores contos do cinema /Pág. V1

NINA FALCI/VER SP

NINA FALCI/VER SP

Vida urbana

Crise da água revela falta de ação do governo do PSDB Em CPI, presidente da Sabesp admite falta de água em São Paulo e tenta esconder culpados amento é efetivo quando se despressuriza 100% das redes da cidade, com uma área da cidade ficando sem água efetivamente. Isso não acontece no Estado de São Paulo. A água da água toda a área atendida pela Sabesp está com as redes pressurizadas”, garantiu. Gráficos mostram que o racionamento vem acontecendo há quatro meses no interior. Pág. A4

José Iglesias

JOSÉ CRUZ/ABR

Na luta. A Juventude no discurso de Dilma Rousseff e no IV Congresso do PT é só história de protesto em Minas, São Paulo e Brasília

Internacional

Ver cultura

Dilma fala sobre Aécio em MG /Pág. A9

Omaba se reuniu hoje com membros ebola no país não pode ser considerada. Ele ainda acrescentou que nenhum americano deve se preocupar com nenhuma ameaça vinda de outras fontes de informação sobre o vírus que não o governo. Todos duvidam das erros alarmados mas temem qual será a maior mentira já contasa Pág. A18

Para quem gosta de São Paulo , um bom motivo para voltar a cidade é a exposição Made by… Feito por Brasileiros que reúne obras de 100 artistas de diversos países no antigo Hospital Matarazzo. A Matéria feita no penúltimo dia pelo sempre vigilante das artes Manuel Carvalho mostra quem manda. Depois de ser interditado pela mui-

Vinícius Jesus

Dado Marques

Esportes e lazer

Futebol feminino já é preferido /Pág. A22 Política nacional

Chegada de eleição gera violência /Pág. A7 Política nacional

Qualquer coisa menos futebol Desde criança todos me falam do tal do futebol. Desde criança eu tenho vontade de correr dele. O esporte que é símbolo nacional mas não representa a nação, é absurdo. Pág. A23

Obama sem ebola

Musicais desenfreados Os musicais chegaram desde as nossas infâncias, cresceram conosco e parecem ter se multiplicado com a mesma velocidade com que a população mundial o fez. Pág. V2

5/10 6,0%

7/10 8/10

5,5%

FALTA DE OXIGÊNIO NA ÁGUA MATA OS PEIXES, LIBERANDO TOXINAS NA ÁGUA

14/10 4,5%

Cadê a água? Chegar em casa cansado, com sede, depois de um longo dia de trabalho e o que encontro é um bilhete carinhoso do síndico: “peço desculpas a todos mas estamos sem água hoje”. O velho racionamento disfarçado de problemas no encanamento. Pág. A6

Política nacional

2/10

0,0%

Previsão: 27/11

Dilma: um relato pessoal As melhorias na vida dos cidadãos foram destaque nos programas de rádio e TV da campanha da presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição, que. Os benefícios das ações do Governo Federal nos últimos 12 anos, que geraram mais emprego e valorizaram o salário dos trabalhadores, estão sendo refletidos inclusive nos hábitos alimentares da população. “Queremos um Brasil para todos”. Os brasileiros são hoje o segundo maior consumidor de carne do mundo. Pág. A10

Exposição imperdível no Hospital Matarazzo

ALEXANDRE AKIRA/VERSP

Juliana Alves

Fenômeno na internet Luciana Genro e Eduardo Jorge são dois nome que estão na boca do povo pelo menos na internet. Entender esse público é fundamental para entendermos essas eleições. Pág. A5

Editorial

Corridados nanicos Marina começou nanica em sua primeira candidatura a presidência do país, ganhou visibilidade e já corre o risco de ir a segundo turno. Luciana Genro será a nova Marina? Pág. A2

to só. Os edifícios foram tombados, o que dificultou qualquer intervenção no espaço desde então. “Loucura é o tema mais importante na história da Humanidade. Os edifícios foram tombados, o que dificultou qualquer. Só os loucos são loucos o suficiente para pensar que podem mudar o mundo, e eles realmente o fazem” Pág. V3

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paulista. “Não existe racionamento. Existe, sim, falta de água pontual em áreas muito altas, muito longe dos reservatórios setoriais que distribuem água e em residências que moram muitas pessoas que têm reservação muito pequena. Nessas situações sim, tem falta de água”, declarou Pena. Ela usou o conceito técnico para justificar que não há racionamento: “O racion-

6,6%

ISSN - 2312-234-1

Três dias após a reeleição do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a presidente da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Dilma Pena, admitiu “falta de água pontual” à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara Municipal de São Paulo na manhã desta quarta (8). A comissão investiga queixas de falta de água na capital

Outubro

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Para ler mais acesse: www.versp.com.br


editorial

Ver São Paulo

QUARTA-FEIRA, 15 DE OUTUBRO DE 2014

Diretor Presidente: Francisco Mesquita Neto

Ver São Paulo fundado em 2014

Conselho de Administração Presidente: Walter Fontana Filho Membros: Fernão Lara Mesquita, Francisco Mesquita Neto, Getulio Luiz de Alencar, Júlio César Mesquita e Roberto C. Mesquita. Diretor de Conteúdo: Ricardo Gandour Editora-Chefe Responsável: Maria Aparecida Damasco Diretor de Desenvolvimento Editorial: Roberto Gazzi

Diretor de Operações: Christiano Nygaard Diretor de Produtos e Projetos: Ilan Kow Diretor Financeiro: Jorge Casmerides Diretor de Recursos Humanos: Fábio de Biazzi Diretora Jurídica: Mariana Uemura Sampaio Editor-Executivo: Luis Fernando Bovo Diretor de Arte: Fabio Sales Designers: Akira Yamamoto, Danilo Freire, Juliana Karpinski, Ricardo Tavares e Nina Falci Editor de Fotografia: Eduardo Nicolau

E a mulher nisso tudo? Uma menina de 10 anos caminhou por pelo menos quatro quilômetros sozinha e durante a noite para fugir dos maus-tratos que, segundo ela, foram cometidos pela sua própria mãe. A criança foi encontrada perambulando pela avenida Danilo Galeazi, nas proximidades da estância São João, por volta das 21 horas de anteontem, em Rio Preto. Ela apresentava cicatrizes e hematomas nas pernas. Para a delegada Dálice Aparecida Ceron, da Delegacia de Defesa da Mulher, as marcas confirmam os maus-tratos sofridos. A menor está abrigada temporariamente pelo projeto Teia ( Trabalho de Emancipação da Infância e Adolescência), onde deve ficar até que a Justiça decida qual será seu destino. A mãe já solicitou a guarda da menina de volta. Aos policiais e à conselheira tutelar Luana Araujo, a criança informou que apanhava constantemente da mãe e por qualquer motivo. Por isso, teria fugido na noite de anteontem, após nova “surra”. “Ela disse que a mãe utilizava tudo que via na frente para bater nela, inclusive carregador de celular e borracha. Fizemos o abrigamento como medida protetiva”, disse a conselheira. A menor foi localizada pela empregada doméstica Sônia de Fátima da Silva, 41 anos. A menina estava em uma rua escura, sozinha, descalça e bem

atordoada. “Perguntei o que ela fazia ali. Disse que fugiu de casa porque a mãe achou uma embalagem de camisinha e a acusou de ter usado, mas ela disse que não fez isso. Com medo de apanhar outra vez, ela resolveu fugir. Ela andou pelo meio do mato e estava perdida.” Sem pensar muito, a empregada doméstica levou a menina para casa. “Eu não podia deixar ela ali. Deus me livre só de pensar o que poderia acontecer com ela. Coloquei ela na minha moto, sem capacete mesmo, e fomos para a minha casa, que fica próximo de onde ela estava.” Na casa de Sônia, a menina tomou banho, comeu um lanche e aguardou a chegada da Polícia Militar. “Deu vontade de ficar com ela, mas eu poderia responder por um crime depois. Tenho três filhos, com idades entre 19 e 15 anos, e me cortou o coração ver ela daquele jeito.” Uma hora de conversaMesmo assustada com a situação, a garota se sentiu confortável na casa da empregada doméstica e começou a relatar os maus-tratos sofridos, enquanto aguardava a chegada da polícia. “Ela me contou que a mãe batia nela e nos irmãos - um de 2 anos e um de 9 anos - por qualquer motivo. Uma vez ela apanhou porque foi até a casa de uma uma blusa.” A todo momento, a menor afirmava a Sônia que não podia voltar para casa dela. “Ela dizia que a mãe ficaria

NINA FALCI/VER SP

E sobre a violência contra a mulher, senhor candidato?

muito brava depois do acontecido. Sem pensar muito, a empregada doméstica levou a menina para casa. “Eu não podia deixar ela ali. Deus me livre só de pensar o que poderia acontecer com ela. Coloquei ela na minha moto, sem capacete mesmo, e fomos para a minha casa, que fica próximo de onde ela estava.” Na casa de Sônia, a menina tomou banho, comeu um lanche e aguardou a chegada da Polícia Militar. “Deu vontade de ficar com ela, mas eu poderiaor todas as agremiaçõesw responder por um crime depois. Tenho três filhos, com idades entre 19 e 15 anos,A todo momento, a menor afirmava a Sônia que não podia voltar para casa. Foi o primeiro ano em que a cota de 30% de mulheres para disputa de cargos proporcionais nos partidos foi cumprida por todas as agremiações. Desde 2002 as mulheres são a maioria do eleitorado brasileiro – isso levando em conta apenas as cis. Não encontrei contabilização da quantidade de mulheres trans eleitoras, ou seja, o número de mulheres eleitoras deve ser maior do que o registrado pelas pesquisas brasileiras – e o fato de sermos maioria tem impingido ao debate político a necessidade de desvelar o quão patriarcal é a estrutura do estado e das leis brasileiras. Com medo de apanhar outra vez, ela resolveu fugir.

Mulheres e eleições Dois mil e quatorze vem se consolidando como um ano histórico. Seja por conta de greves importantíssimas como as dos garis no Rio de Janeiro, ou a dos metroviários em São Paulo. Tivemos a Copa do Mundo no Brasil e a consolidação de um sistema de segurança pública altamente militarizado e coercitivo em todo país para evitar manifestações durante os jogos do torneio. Além de ter sido ano de greves importantes e da Copa do Mundo 2014 também se marca por conta das eleições, das 4 candidaturas mais bem posicionadas 3 era de mulheres, sendo uma delas negra. EuniceAbrimos um ciclo importante com isso no debate de gênero no Brasil, resgatando reflexões sobre se basta apenas o identitarismo ou o projeto a que estas figuras estão atreladas precisa ser realmente transformador para mulheres cis e trans, gays, lésbicas, bissexuais, negras, negros, indígenas e tantos outros setores invisibilizados pela política no geral. 2014 foi o primeiro ano em que a cota de 30% de mulheres para dis-

puta de cargos proporcionais nos partidos foi cumprida por todas as agremiações. Desde 2002 as mulheres são a maioria do eleitorado brasileiro – isso levando em conta apenas as cis. Não encontrei contabilização da quantidade de mulheres trans eleitoras, ou seja, o número de mulheres eleitoras deve ser maior do que o registrado pelas pesquisas brasileiras – e o fato de sermos maioria tem impingido ao debate político a necessidade de desvelar o quão patriarcal é a estrutura do estado e das leis brasileiras. Foi somente em 1932, dois anos antes de estabelecido o voto aos 18 anos, que veio a se concretizar no ano seguinte. Isso ocorreu a partir da aprovação do Código Eleitoral de 1932, que, além dessa e de outras grandes conquistas, instituiu a Justiça Eleitoral, que passou a regulamentar as eleições no país. (Com 52% do eleitorado, voto feminino tem o maior peso da história) Mesmo com a consolidação de que o eleitorado feminino é importante e precisa ter direcionado políticas próprias, está colocado a neces-

Cartas dos leitores sidade do confronto ideológico. É fundamental imprimir no debate político brasileiro que para haver real igualdade na disputa de poder no Brasil é preciso garantir que as diferenças sejam tratadas realmente e que possamos quebrar o estigma de que o lugar da mulher é no espaço privado e não na vida pública. Com altos e baixos, os números demonstram, em geral, que o déficit democrático de gênero continua. Mesmo com um aumento pequeno de parlamentares mulheres cis no Congresso Nacional é preciso que analisemos o fato de que destas muitas são brancas e compõe com as bancadas mais conservadoras do parlamento brasileiro, ou seja, fazem parte ativamente da bancada ruralista ou da bancada da fé. Novamente o debate sobre apenas ter a representação da identidade nos espaços políticos, mas sem defender pautas progressistas e que ajudem na emancipação das mulheres se coloca como debate importante. Seja para o movimento feminista, seja para a sociedade em geral.

Um, dois, três: jornal! Jornal é aquele pedaço de papel que a gente está acostumado a ver o dia inteiro em bancas ou na mesa do pai, do tio, ou mesmo do avô. Quem é que lê jornal aos 20 e poucos anos? Provavelmente ninguém além das exceções. É por isso que trabalhar em um jornal é um desafio e tanto. Tem que se estar informado: quem é aquele jornal, o que ele diz? Como é que diz? Milhares de dúvidas brotando de todas as áreas do corpo. A mão pergunta: como é o tato de um jornal? Suja os dedos, ainda? Os olhos perguntam como é que é essa leitura em seis colunas. Quer respiro. Cada parte de nosso corpo conversa com aquele pedaço de papel cheio de informações. Para criar um grid novo, um jornal do zero - ou quase isso - é necessário sentir, reagir e interagir com ele. Com vários dele. Trabalho em jornais há um ano, com sua versão para tabletes. A experiência é completamente outra, desde o tato, o olfato até a forma como as

notícias se dispõe na página. Ou seja: não adiantou de quase nada. Precisei mergulhar um tanto mais em outros aspectos da redação. Realizar esse trabalho foi se tornando cada vez mais prazeroso, foi tomando forma: um jornal formador de opinião para jovens leitores mas ainda pareça sério o suficiente para passar toda a confiança que um formador de opinião. Para isso utilizei a fonte FreighText corpo 10,5 e entrelinha 11,2 no corpo do texto. Nas legendas foi utilizada a Flama e suas variações em corpo 11. Nas linhas finas também foi utilizada a Flama em corpo 18. Já no olho de texto foi utilizada a Helvética, assim como na capa, onde ela foi aplicada nos nomes das editorias. Todo o jornal foi, então, concebido usando referências do O Estado de São Paulo, mas tentando manter uma organização maior por cores (como acontece, por exemplo, na Folha de São Paulo). Conversas dentro e fora do jornal também acompanharam todo o

processo, que teve uma metodologia fechada e simples: primeiro a capa, depois o editorial, por último o caderno de cultural. A capa é a parte mais fechada e mais difícil de fazer algo autoral, porque é um meio muito usado onde há muito vício de linguagem. O que se pretendeu nessa versão jovem de jornal impresso é justamente brincar um pouco com todas as necessidades básicas do impresso para criar uma identidade visual interessante e bem marcada sem perder a seriedade. As notícias de capa com texto tem um respiro maior, enquanto a manchete recebe um respiro de duas linhas entre título e texto. A hierarquia é clara: manchete, foto principal, notícia com foto e texto, notícia só com texto e por último as remissões (chamadas simples). Essa divisão está clara pelo tamanho das fontes, pois é sempre melhor que se possa bater o olho e reconhecer visualmente o que é mais importante e o que não é. E aí? Como ficou meu pedacinho?

Para ter sua opinião na seção Cartas dos leitores encaminhe sua mensagem pelo e-mail doleitor@versp.com.br, pelo fax +55 11 3223.4589 e no endereço rua Andorinhas Melinas, número 349, Bairro da Lima, São Paulo -SP

PT Péssimo agouro Uma menina de 10 anos caminhou por pelo menos quatro quilômetros sozinha e durante a noite para fugir dos maus-tratos que, segundo ela, foram cometidos pela sua própria mãe. A criança foi encontrada perambulando pela avenida Danilo Galeazi, nas proximidades da estância São João, por volta das 21 horas de anteontem, em Rio Preto. Ela apresentava cicatrizes e hematomas nas pernas. Juliano Rosseti juliano.ros@fixmail.br

Lá vem quem não devia Aos policiais e à conselheira tutelar Luana Araujo, a criança informou que apanhava constantemente da mãe e por qualquer motivo. Por isso, teria fugido na noite de anteontem, após nova “surra”. “Ela disse que a mãe utilizava tudo que via na frente para bater nela, inclusive carregador de celular e borracha. Fizemos o abrigamento como medida protetiva”, disse a conselheira. Ana Lorena do Carmo anadocarmo@fixmail.br

DILMA OU AÉCIO? Desgoverno Sem pensar muito, a empregada doméstica levou a menina para casa. “Eu não podia deixar ela ali. Deus me livre só de pensar o que poderia acontecer com ela. Coloquei ela na minha moto, sem capacete mesmo, e fomos para a minha casa, que fica próximo de onde ela estava.” Na casa de Sônia, a menina tomou banho, comeu um lanche e aguardou a chegada da Polícia Militar. “Deu vontade de ficar com ela, mas eu poderia responder por

um crime depois. Tenho três filhos, com idades entre 19 e 15 anos, e me cortou o coração ver ela daquele jeito.” Juliano Rosseti juliano.ros@fixmail.br

Vai dar Aécio?! Jima vez ela apanhou porquoliciais militares levaram a menina e a empregada doméstica e foi até a casa de uma coleguinha e outra porque molhou uma blusa.”A todo momento, a menor afirmava a Sônia que não podia voltar para casa dela. “Ela dizia que a mãe ficaria muito brava depois do acontecido e que ia bater ainda mais nela. A menina me disse que não ia aguentar apanhar mais.” Amanda Luiza ulu@fixmail.br

NO SERTÃO Revolução feminista Acompanhados de membros do Conselho Tutelar, policiais militares levaram a menina e a empregada doméstica à Central de Flagrantes. Acompanhados de membros do Conselho Tutelar, policiais militares levaram a menina e a empregada doméstica à Central de Flagrantes. No caminho, passaram para comprar refeição para a menina, em um restaurante. A dona do estabelecimento deu para a menina uma boneca de pano rosa, da qual ela não largou mais.Na Central de Flagrantes, a menor reafirmou tudo que havia contado para a empregada doméstica, aos policiais militares e aos conselheiros. A mãe da menor, que tem 27 anos, também esteve no plantão policial, onde negou as agressões. Ela prestou depoimentos. Maria Helena mariamaria@fixmail.br


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Viagem a Machu Picchu Exposição traz 88 fotografias andinas de Martín Chambi Pág. V8

NINA FALCI/VER SP

Conhecedor. Marco Antônio é, além de editor, publicitário e jornalista, diretor da casa Guilherme de Almeida.

Guilherme de Andrade e Almeida nasceu em Campinas, SP, a 24 de julho de 1890. Filho do jurista e professor de direito Estevão de Araújo Almeida e de Angelina de Andrade Almeida, passou os primeiros anos da infância nas cidades de Limeira, Araras e depois Rio Claro, onde realizou os estudos primários. Em 1902 tornou-se aluno do Ginásio de Campinas e, em 1903, com a vinda da família à cidade de São Paulo, ingressou no Colégio de São Bento. Formou-se, em 1907, no Ginásio Nossa Senhora do Carmo, dos Irmãos Maristas. Em 1912, concluiu o curso da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, tendo, após a formatura, atuado como promotor público em Apiaí e em Mogi-Mirim. De volta à Capital em 1914, trabalhou com o pai até 1923, quando passou a se dedicar prioritariamente à atividade de escritor, iniciada alguns anos antes.

e m r e Guilh

a d i e m l A de

Pelas palavras de Marco Antônio é possível realizar o sonho de conhecer

muito das motivações de um dos maiores escritores paulistas A estreia literária de Guilherme de Almeida se deu em 1916, com Mon Coeur Balance e Leur Âme (teatro), com Oswald de Andrade e editadas sob o título de Théatre Brésilien. Seu primeiro livro de poemas, Nós, veio a lume em 1917, seguindo-se A dança das horas e Messidor, ambos de 1919, e o Livro de Horas de Sóror Dolorosa, publicado em 1920. Escreveu, em 1921, o ensaio Natalika e os atos em verso Scheherazada e Narciso – A flor que foi

ceu até o ano seguinte. A estada naquele país forneceu elementos para a elaboração de crônicas reunidas no livro O meu Portugal, publicado em 1933. Eleito em 1928 para a Academia Paulista de Letras e, em 1930, para a Academia Brasileira de Letras, Guilherme de Almeida foi, durante décadas, o Guilherme faleceu em 11 de julho de 1969, em sua casa da Rua Macapá, no Pacaembu, em São Paulo – a “Casa da Colina” –, onde residia desdeomínio técnico, Guilherme 1946. Adquirida pelo Governo do Estado na década de 1970, a residência do poeta tornou-se o museu biográfico e lit Escreveu, também nesse ano, a conferência “Revelação do Brasil pela poesia moderna” e a apresentou no Rio Grande do Sul, em Perário Casa Guilherme de Almeida, inaugurado em 1979, que abriga tam-

um homem. Publicou Era uma Vez... em 1922. Nesse mesmo ano, atuou decisivamente na realização da Semana de Arte Moderna, ao lado de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti e Menotti del Picchia, entre outros. Ajudou a fundar a revista Klaxon (porta-voz do movimento), integrando a equipe de editores;

criou a capa do periódico, além de anúncios publicitários dos patrocinadores, de concepção precursora da visualidade da arte de vanguarda e da própria propaganda moderna. O poeta casou-se em 1923 com Belkiss Barroso do Amaral (Baby), e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até 1925. Nesse ano publi-

cou quatro livros de poemas: Narciso, Encantamento, Raça e Meu, consistindo, estes dois últimos e, principalmente, né? O Meu, no ápice de sua poesia modernista. Escreveu, também nesse ano, a conferência “Revelação do Brasil pela poesia moderna” e a apresentou no Rio Grande do Sul, em Pernambuco e no Ceará, a fim de

difundir os ideais estéticos do Modernismo, regressando, em seguida, a São Paulo. Em 1932, Guilherme participou ativamente da Revolução Constitucionalista, chegando a se alistar voluntariamente, como soldado raso, e a lutar na cidade de Cunha. Ao final desse Movimento, foi preso e exilado em Portugal, onde permane-

bém, hoje, um Centro de Estudos de Tradução Literária. Dotado de reconhecido transitou com igual competência por modelos composicionais diversos. Segundo o escritor Lêdo Ivo, em sua introdução à segunda edição de Raça, “talvez mais do que nenhum outro dos participantes da Semana de Arte Moderna, viveu o drama da conciliação estética do novo com o velho, da fôrma com a forma, da tradição com a invenção, da rotina e do automatismo das receitas com o clamor de criatividade”. /Juliana Ferreira Barros


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NINA FALCI/VER SP

o n r e Rev o h p a r g o t a m cine Todo fim de semana um filme antigo acompanhado de uma nova discussão As funções dentro do cinema. A experiência de rodar pequenos filmes era necessária. Então, era importante que os alunos pudessem sair da escola, não fazer os filmes somente dentro da sala de aula ou das dependências do colégio. Era preciso poder dar uma volta no quarteirão, ir a um parque, a um jardim, ou a outro lugar, pois os alunos deveriam, neste momento, sair da escola, acompanhados, evidentemente, pelo professor e por um membro da equipe . Confira a entrevista abaixo. Considerando sua experiência com cinema e educação, como o senhor pensa que deve ser o início do trabalho com o audiovisual na escola? Bom, eu penso que é preciso dizer aos educadores, aos professores, primeiramente, que é muito tranquilo fazer cinema com os alunos. Mas, o professor deve ser obstinado e gostar de cinema, ver muitos filmes. Educadores de uma localidade, por exemplo, resolvem criar um projeto para trabalhar o cinema na escola, com uma das turmas nas quais atuam. Devem pensar que, depois desse começo, é essencial observar a importância de se organizar uma rede, começar a programar o projeto, e realizá-lo por, pelo menos, um ano, incluindo turmas da escola. Como os professores e os alunos receberam o projeto, no início? De início, a ideia era que o professor não fizesse tudo sozinho. Ao trabalhar com cinema, era interessante que houvesse alguém vindo de fora da escola, alguém ligado ao cinema: um produtor, um engenheiro de som, um cenógrafo. Então, na sala de aula, estariam o professor e mais alguns profissionais do cinema. Dessa maneira, o papel mudaria entre os alunos e o professor, porque haveria outras pessoas auxiliando a ambos, outras pessoas com as quais os alunos não estavam habituados, acostumados, e que conheciam as funções dentro do cinema. A experiência de rodar pequenos filmes era necessária. Então, era importante que os alunos pudessem sair da escola, não fazer os filmes somente dentro da sala de aula ou das dependências do colégio. Era preciso poder dar uma volta no quarteirão, ir a um parque, a um jardim, ou a outro lugar, pois os alunos deveriam, neste momento, sair da escola, acompanhados, evidentemente, pelo professor e por um membro da equipe de produção. Quais foram as etapas necessárias para o início deste trabalho na escola? Bom, na França há uma antiga tradição do cinema na escola que remonta há uns 40 anos, inclusive nas escolas públicas. Assim, é importante dizer que é uma grande tradição na França, por razões culturais e históricas, que isso tenha se

Cinema. Invenção dos irmãos Lumiere deu nome as sessões criadas por Guilherme de Almeida e continuadas hoje por Juliano Torres desenvolvido rapida. Acredito que uma das primeiras etapas é ter vontade política. Na França, isso se deu no momento em que eu trabalhei para o Ministério. Havia um ministro de educação que disse a todos os educadores: “Se você quer fazer isso, você pode. Vamos ajudar com um pouco de dinheiro para comprar materiais e outras coisas”. Assim, quando um ministro decide que isso é uma ação normal e legítima, evidentemente as coisas se desenvolvem, porque os educadores não podem fazer seus projetos sozinhos em suas cidades, e, tão logo tenham algum auxílio, alguém que os reconheça, tudo fica mais fácil. Podem sair da escola facilmente, receber o dinheiro necessário para, por exemplo, comprar um bom computador, com um software para fazer a edição/ montagem, bem como realizar outras coisas necessárias à produção do filme. E a comunidade escolar, como recebeu este projeto? Bom, a comunidade escolar aceitou isso muito bem, pois desde o primeiro ano tivemos muita procura, além do que nos era possível ofertar. Por exemplo, se ofertávamos o trabalho para duas mil turmas, havia quatro mil solicitações. É importante destacar que, na escola, não havia apenas o cinema, mas também as artes plásticas e a música, ou seja, das artes, na escola, o cinema era uma arte no meio de outras artes. Pode-se dizer que a comunidade e os educadores, então, entraram como voluntários, pois não era algo obrigatório. O professor tinha que saber que se quisesse fazer um projeto de cinema teria de fazê-lo com a turma durante todo o ano, pois a duração aqui é muito importante, não é uma experiência que vamos trabalhar três vezes no ano... deve ser realizada durante o ano inteiro. São necessárias muitas horas para que os alunos conheçam os filmes, reflitam e façam as devidas preparações: trata-se de um trabalho de longa duração. Em relação à metodologia deste projeto, os professores receberam formação lhe dizem específica? Então, na França é esperado que todo professor que se formou na Universidade conheça o mínimo sobre cinema, porém este não é um critério. Todo professor, mesmo sem

formação, mas que demonstre vontade, desejo verdadeiro de realizar essa tarefa, pode realizar o projeto. Pensando nisso, tentei realizar uma formação nacional. No norte da França, formei cem professores e no sul mais cem, em um curto espaço de tempo. Foi uma formação bastante aprofundada e o professor teve que aplicar o que aprendeu na sala de aula. Há muitas classes de cinema em que o professor não tem formação. Então, como eu sabia que haveria pessoal sem formação, bem como lugares que não têm uma sala/um projetor de cinema, onde não se poderiam ver filmes, criei uma coleção de DVDs, não como os DVDs comerciais, mas trechos de filmes que levassem o professor e, principalmente, o aluno, a pensar nessa experiência. Gostaria que os educadores que não tivessem formação pudessem ter o mesmo que os outros, ou seja, alguma coisa que pudesse ser usada na classe e que os auxiliasse no momento de mostrar, incitar a discussão, a reflexão.A questão mais importante, então, é: se existe uma proposta de se realizar um trabalho para o qual o professor não tem formação, é essencial que lhe seja fornecido algum material, mesmo básico, que o auxilie neste trabalho. A sua intenção de fazer cinema-arte na escola funcionou? Sim, funcionou. Percebemos que a cada ano existem mais classes e mais professores trabalhando com o cinema. Entretanto, houve uma mudança política na França, feita pelo novo ministro, que era de outro partido do ministro anterior. Neste governo, ele não acabou com o projeto, mas suprimiu muito do incentivo anterior. E não conseguiu acabar, porque havia muita vontade política neste argumento e na amplitude que o projeto ganhou, o que deixou os educadores e seus alunos. A partir de sua experiência, como o senhor analisa o ensino de cinema nas escolas da França e também em escolas de outras partes do todo o mundo? Bom, o projeto francês iniciou essa ideia e, na universidade, eu formei pessoas para realizarem seus trabalhos de educação com cinema na sala de aula. Os alunos que vão fazer seus estudos em Paris, ou em outros países, podem fazer a mesma coisa. Sei de alguns

um estudante espanhol que, em Barcelona, fez um projeto que é muito importante e na sala de aula em Barcelona há alguém que trabalha assim, de forma semelhante a Portugal, onde há também alguma sala de aula, assim como na Itália e, recentemente, no Brasil, eu conheci uma estudante que está estudando em Paris, chamada Ana Dillon, que aplicou o projeto no Rio de Janeiro.

Em uma das primeiras vezes que a humanidade pôde ver uma reprodução cinematográfica se pôs a correr. É uma cena conhecida no imaginário de todos hoje, mas foi muito surpreendente chocante em sua época”

Ela desenvolveu um projeto com os adolescentes, de uma vila, exatamente o que nós fazemos na França, com os profissionais de cinema, inclusive com formação ou já de educadores? Desenvolveu seu projeto aqui com o incentivo e o direcionamento da Cinemateca Francesa que, a cada ano, forma e incentiva pessoas, de vários países, a lançarem seus projetos nessa área. A Ana Dillon implantou o projeto no Brasil faz, mais ou menos, um ano e, em diversos países, todos assistiram ao filme feito pelas crianças brasileiras. É muito interessante quando crianças francesas podem ver filmes feitos para o português ou para o espanhol com as mesmas regras, por exemplo, o trabalho com a luz ou os cenários criados para os filmes. A importância é que a regra do jogo que os brasileiros conheceram, assim como as crianças dos outros países, é a mesma? Os alunos acabaram percebendo como as regras são parecidas, como trabalhar os diálogos entre eles é importante, assim como se questionar uns aos outros, discutir entre eles. Ficou claro que todo experiência é adaptável: a sociedade não é a mesma, as condições não são as mesmas, mas isso determina o que é útil, determina a vida, a energia, e isso permite ao mundo que outros possam conhecer coisas diferentes. Como os professores e os alunos receberam o projeto, no início? Era preciso poder dar uma volta no quarteirão, ir a um parque, a um jardim, ou a outro lugar, pois os alunos deveriam, neste momento, da escola, acompanhados professor e por um membro. Neste governo, ele não acabou com o projeto, mas suprimiu muito do incentivo anterior. E não conseguiu acabar, porque havia muita vontade política neste argumento e na amplitude. /Juliana Ferreira Barros


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