02- The Kraken's Mate-Iriduan Test Subjects

Page 1


The Kraken’s Mate By Susan Trombley IRIDUAN TEST SUBJECTS Book 2 Uma fuga desesperada de uma cela de prisão dentro de um centro de pesquisa alienígena deixa Joanie nas garras de um alienígena com um rosto bonito, um grande corpo e tentáculos que poderiam ter saído de um filme de terror. Sua vida na Terra é uma bagunça, mas nem de longe tão complicada quanto sua nova situação se torna quando a cobaia alienígena chamada Nemon decide que ela é sua companheira. Nemon sabe que Joanie é a companheira que ele espera assim que Thrax a entrega a ele, mas ele também pode ver que ela está assustada e traumatizada. Ele deve vencer uma batalha contra seu próprio corpo - que tem uma mente própria - para manter o controle, para que possa ganhar a confiança dela e evitar assustá-la ainda mais. Seus novos amigos o avisam que Joanie precisará de tempo para aceitá-lo, e Nemon está disposto a esperar, mas todos eles podem ter subestimado Joanie. Eles escaparam de seu destino como cobaias de Iriduan, mas Nemon e Joanie não podem escapar do legado deixado por seus captores. Um legado que os une - um legado que também ameaça separá-los. Este romance alienígena apresenta um herói alienígena que realmente parece alienígena, linguagem forte, violência e cenas íntimas de portas abertas.


Traduçaõ : Kira Revisão: Ruby Leitura final : Lucy


Capítulo 1 Joanie Quando a dor ficou muito forte, recuei na memória, mas tive que tomar cuidado onde pisava. Houve campos minados no meu passado e um passo errado na via da memória poderia me enviar a um sofrimento mais profundo do que qualquer coisa que esses alienígenas fizeram comigo. Em uma de minhas memórias favoritas, me lembrei de um cassino. Não é um lugar incomum para mim, já que cresci em Las Vegas. Passei muito tempo em cassinos. No entanto, essa memória se destacou fortemente, permitindo-me escapar da prisão fria e estéril onde fui mantida - a prisão onde agulhas constantemente perfuravam minha pele e máquinas para sempre sondavam meu corpo. Eu tinha certeza de que eles estavam me injetando veneno. Também suspeitei que estivessem me infectando deliberadamente com algum tipo de vírus ou bactéria. Sempre que eu voltava para minha cela, ficava muito doente ou em agonia. Não sabia o motivo e não me importava. Tudo que eu sabia era que minha mente teria estalado muito antes de agora, se não tivesse as memórias. — Joanie! — Minha mãe acenou do outro lado da grande entrada do cassino e a vi, apesar das luzes sempre piscantes das máquinas caçaníqueis e da multidão de turistas ansiosos correndo para perder seu dinheiro. Eu entendia essa ansiedade muito bem. Abri caminho através da multidão em direção a ela, mal contendo minha vontade de sair correndo. Já fazia quase um ano. Ela parecia bem, muito melhor do que eu esperava. A Europa tinha sido boa para ela. O mesmo aconteceu com seu novo marido. Não deveria ter ficado com ciúmes e, na


maioria das vezes, não estava, mas uma parte de mim se ressentia do fato de que ele a havia tirado de mim. Ela estava feliz - pela primeira vez em muito tempo - e eu era uma filha horrível por invejá-la simplesmente porque queria minha mãe só para mim. Mas ela finalmente estava de volta a Vegas. Por apenas algumas semanas, mas estava ansiosa para passá-las com ela. Seria como nos velhos tempos. Apenas nós duas. Brandon não poderia fazer essa viagem com ela e, por mais que eu gostasse dele, estava feliz que seu trabalho o segurou em Londres. Joguei meus braços em volta dela e a abracei com força. — Ei, mãe. Como foi a viagem? Você deveria ter me deixado buscá-la no aeroporto. Ela retribuiu meu abraço por um momento, depois me soltou, dando um passo para trás para me examinar com um largo sorriso no rosto. As pessoas pensavam que ela era minha irmã, ela parecia tão jovem. Ela era jovem, mas eu ainda podia ver a idade passando por sua pele. Não de anos, mas de experiência de vida. — Não se preocupe com isso. O tráfego no McCarren é insano. Peguei uma limusine. Foi um passeio melhor do que o carro velho que você está dirigindo. Meus dedos brincaram com a gola esticada da minha camiseta enquanto eu evitava seus olhos. — Eu o vendi para um colecionador. Estou no ônibus por enquanto. Teria conseguido emprestar o carro de um amigo, no entanto. Ela suspirou, afastando os cachos rebeldes da minha testa. — Oh, Joanie. O que aconteceu desta vez? Não queria perder esse tempo precioso com ela revivendo algo antigo. Íamos nos divertir. Afinal, estávamos em Las Vegas. Foi tão bom vê-la que


não deixei meu medo de decepcioná-la me incomodar. Às vezes, a dor era muito difícil de ignorar. Ela cavava com garras e dentes e rasgava minhas entranhas. O veneno. Eu podia sentir isso corroendo minha carne nos locais de injeção. Aprendi a parar de olhar para meus braços e pernas, porque era horrível ver as linhas escuras se espalhando sob minha pele pálida - uma pele muito mais desbotada do que quando morava no sudoeste ensolarado. Naqueles instantes - ou talvez fossem horas, dias ou semanas - mesmo as memórias de minha mãe não eram suficientes para me permitir escapar. Em vez disso, agarrei-me à consciência, reprimindo meus gritos de dor, balançando-me para frente e para trás no chão da cela, como se o movimento fosse acelerar o ritmo do fogo queimando minhas entranhas. Acelerar o suficiente para me matar. Eles não me deixaram morrer, no entanto. Os alienígenas não estavam me mantendo viva porque gostavam de mim e queriam me ajudar. Eu sinceramente duvidava que me deixassem ir. Em algum ponto, seus experimentos terminariam e eu também terminaria. Sem dúvida em alguma placa fria em um dos laboratórios para onde fui transportada por robôs aterrorizantes que me escoltaram por toda parte quando eu estava fora da minha cela ou dos laboratórios. Eventualmente, a dor diminuiu o suficiente para que eu pudesse voltar às memórias, mas os alienígenas não me deixaram ficar lá por muito tempo. Logo, a porta da minha minúscula cela apitou e fiquei tensa, instantaneamente alerta. Sabendo o que estava por vir. A porta se abriu, revelando um robô do outro lado. A coisa era como um manequim sem rosto de uma boutique de roupas. Tinha a forma de um humano, mas não havia como confundi-lo com um.


Era feito de um material branco brilhante, com peças pretas semelhantes à borracha cobrindo as juntas. Às vezes, falava comigo, mas apenas para dar ordens. Quando o fez, tinha uma voz metálica e mecânica. Meu corpo ainda doía, mas o fogo havia se reduzido a brasas. Qualquer veneno que colocaram em meu sistema estava deixando-o. Suspeitei que eles aplicaram um antiveneno ao mesmo tempo ou logo depois. Eu não tinha certeza, mas não acreditava que meu próprio sistema imunológico fosse suficiente para me livrar dele. Esse ponto do processo geralmente era mais ou menos na hora em que o robô chegou e estendi minha mão trêmula para a barra de comida que ele carregava. Sem uma palavra, ele me entregou. Eu o puxei para perto do meu peito, embalando-o como uma tábua de salvação. — Nada de bife e lagosta hoje? Este lugar está realmente em declínio. — Minha voz era pouco mais que um grasnido irregular. O robô não respondeu às minhas palavras, nem eu esperava que respondesse. Em vez disso, seu corpo girou cento e oitenta graus, sua cabeça permanecendo fixa em mim - uma das muitas coisas que me assustavam sobre esses robôs. Seu rosto - ou a máscara em branco que presumi ser um rosto - nunca se afastou de mim quando saiu da cela. A porta se fechou atrás dele. Meu estômago doía muito para comer, mas comi a barra mesmo assim. Sabia que não devia resistir. Eu tentei passar fome uma vez e apenas uma vez. Acordar com um tubo de alimentação enfiado na minha garganta mudou minha opinião sobre um plano tão drástico de fuga. Depois da comida vinha o descanso. Sabia que teria pelo menos algum tempo para dormir. Eles sempre me deixavam dormir depois do meu


tempo no laboratório. Acho que eles queriam ter certeza de que meu corpo estava saudável antes de iniciar o próximo experimento. Quando acordei, não tinha ideia de quanto tempo havia passado, mas me senti significativamente melhor. Eu me sentia muito bem. Temia que outra sessão viesse em breve. A melhor maneira de atrasar era parecer enfraquecida. Eu gemi enquanto deslizava para fora da cama que se projetava para fora de uma parede, mancando os dois passos necessários para me acomodar no banheiro. Minha urina queimava ao sair, mas cerrei meus dentes, agarrando as laterais do vaso sanitário, sabendo que se eu olhasse para a água, eu veria que estava rosa de sangue. No começo, isso me apavorou, mas depois de tantas sessões que perdi a conta, aceitei como normal. Assim que me levantei, a descarga acionou. Fiz uma careta para a porta. — Esperava que gostassem do show, idiotas. — murmurei. Mais tempo se passou e eu o gastei em memórias. As boas. Às vezes tropeçava em uma ruim enquanto descia para a toca do coelho. Eu estava dançando em uma boate com minha amiga Larissa quando as luzes se apagaram. Não as da boate. As da minha cela. Isso nunca tinha acontecido antes. Quando as luzes de emergência piscaram no chão, levantei-me lentamente, olhando para os faróis na escuridão. Eu me arrastei em direção à porta, dando um passo leve como se pudesse desencadear o que quer que fosse que estava me mantendo neste sonho. Nada mudou quando cuidadosamente estendi a mão e pressionei minha mão contra a superfície lisa da porta. Senti frio na minha bochecha quando encostei meu ouvido nela, ouvindo como eu tinha feito tantas vezes antes, não ouvindo nada além do meu próprio batimento cardíaco. Engasguei e pulei para trás quando a porta de repente se abriu, a cama batendo na parte de trás dos meus joelhos e desabei em cima dela. Além da


minha pequena cela, o corredor estava escuro, iluminado apenas por uma fileira de luzes de emergência como as da minha cela. Encarei aquela escuridão. Esperando. Temendo. Isso parecia uma saída. Uma fuga do meu inferno. Mas e se fosse uma armadilha? Um novo experimento. Um inferno novo e diferente. Eu tinha visto o corredor além da minha cela muitas vezes. Sempre bem iluminado, sempre vazio, exceto por mim e minha escolta robô - e um monte de portas sem identificação. Algumas das quais levaram a laboratórios, onde fui amarrada e torturada. Agora estava escuro e de alguma forma ainda mais assustador do que quando eu sabia o pesadelo que me esperava. Eu ouvi uma voz sussurrando na escuridão além da minha cela. O som era áspero no silêncio pesado. — Olá? Tem mais alguém aí? A capacidade de respirar me escapou quando pulei de pé, reconhecendo a voz e a linguagem como humana. — Estou aqui! — Quase chorei, segurando as lágrimas com uma força de vontade que não sabia que ainda possuía. — Estou aqui! — Falei um pouco mais alto, com medo de que a dona daquela voz continuasse, passasse por mim e me deixasse sozinha neste lugar. Uma figura sombria parou do lado de fora da minha porta, então deu um passo adiante na luz lançada por minhas luzes de emergência. A maneira como iluminavam seu rosto escondia seus traços em sombras macabras, mas ela era humana. Tão humana que quase a agarrei em um abraço, dissolvendo-me em lágrimas de agradecimento. Em vez de fazer isso, segurei os últimos fragmentos do meu controle, temendo que se eu a tocasse, ela iria desaparecer como as pessoas em


minhas memórias sempre fizeram. — Oi. — O que mais alguém diz nesta situação? Eu levantei a mão em um aceno indiferente, não confiando em mim mesma para mais palavras. Ainda não. Eu ainda lutava para conter as lágrimas e o medo - medo de que nada disso fosse real, de que eu estivesse alucinando e de que acordasse em outra mesa em outro laboratório. Seu rosto, retorcido pelas sombras projetadas pela iluminação insuficiente, abriu um sorriso aliviado, depois uma pequena risada quando ela se aproximou de mim, estendendo a mão para mim como se também quisesse o contato para ver se eu era real, com medo de não ser. — Você é humano? — A última vez que verifiquei sim, mas não vejo um espelho há algum tempo. — Exalei em uma risada forçada, me perguntando se minha piada não poderia ser meia verdade. Quem sabe o que os alienígenas fizeram comigo? Ela me tocou então, seus dedos apenas roçando levemente meus cachos emaranhados, lembrando-me de minha mãe. — Você é real. — Sua voz parecia ofegante. — Verifiquei todas as outras celas que passei e não havia ninguém em nenhuma delas. Achei que estava sozinha. Balancei a cabeça, de repente sentindo uma grande sensação de urgência. Eu não tinha ideia do porquê a porta estava aberta, as luzes estavam apagadas e essa outra mulher estava livre para vagar, mas supunha que os alienígenas não iriam deixar isso passar por muito tempo. Precisávamos nos mover. Para onde não tinha ideia, mas só queria sair. Agora. Agarrei o braço da outra mulher e puxei-a para fora da minha cela. Ela me seguiu sem hesitar, talvez chegando a mesma realização que eu, mas ela


não conseguia parar de falar, suas palavras saindo em uma corrida sem fôlego. — Meu nome é Theresa, qual é o seu? — Joanie. — Disse enquanto examinava o corredor em busca da silhueta reveladora dos robôs na escuridão. Mesmo com a luz, eu temia vê-los. Na escuridão, não tinha certeza se conseguiria lidar com isso. Theresa me seguiu pelo corredor enquanto checávamos cada cela, encontrando-as vazias. Ela passou por mim quando eu congelei, meus olhos fixos em uma porta em particular. Ao contrário das outras, ainda estava lacrada. Foi uma das portas que me levava à tortura. Não queria passar por isso. Quando ela agarrou meu braço, puxando-me para a curva do corredor, minha mente se retirou daquele lugar, encolhendo-me, mal conseguindo permanecer consciente enquanto queria me esconder em boas lembranças. Conhecemos outras mulheres. Vagamente peguei seus nomes enquanto entrava e saía da consciência. Elas pareciam mais alertas do que eu. Com menos medo. Eu não conseguia imaginar por quê. Uma delas tinha cabelo preto na altura da cintura com pontas tingidas de roxo e uma expressão determinada em um rosto que parecia ser mais jovem que o meu por quase uma década. Estava com ciúme de sua confiança, mas também aliviada. Ela parecia saber o que fazer. Só que ela não sabia. Nenhum de nós sabia. Éramos quatro e a única ideia que tínhamos era evitar os robôs. Tanto material para a tempestade de ideias em grupo. Elas falaram. Eu mal ouvia, minha mente vagando - tentando correr e me esconder. Ouvi o toque estimulante de um alarme e imaginei as luzes piscando. Senti a emoção. Então percebi que era um alarme e fiquei ciente novamente. Ciente de onde estava. Eu não queria mais estar lá. Sem pensar


muito, encontrei um lugar para me esconder agora de verdade. Como uma criança se esconde do Bicho-Papão, mas nada poderia impedir esses pesadelos. Eles simplesmente continuaram vindo e as outras mulheres estavam me puxando. Exigindo que eu fosse aonde não queria. Exigindo que me movesse, embora o alarme estivesse me deixando louca. Eu não estou aqui. Eu não estou aqui. Eu não estou aqui. Eu estava no chão, e aquele som horrível de cachorro choramingando saiu da minha garganta. Alguém esfregou minhas costas, acalmando, lembrando-me de mamãe. Quando eu era menina, a luta no quarto de hotel ao lado ficava forte o suficiente para invadir meus sonhos, até que eu acordava suando frio. Mamãe estaria lá, esfregando minhas costas, seu hálito cheirando a álcool barato, seu corpo de cigarros e homens estranhos. Seu rímel estaria escorrendo por suas bochechas com as lágrimas que ela tentou esconder de mim, mas estavam lá. Sempre lá. Até o fim - uma morte sem sentido que poderia ter sido evitada. Um novo pesadelo surgiu das sombras atrás da mulher guerreira. Lembrei-me de que o nome dela era Claire e ela era feroz. Mais corajosa do que eu. Ela se virou para encarar o monstro em suas costas e então correu para suas garras com um grito de desafio. Alguém gritou. Então estávamos correndo. Deixando a lutadora para trás com o monstro. Meus pés bateram no ritmo da minha retirada enquanto a palavra covarde saltava em minha mente. Ela o distraiu para que pudéssemos correr e nós a deixamos morrer. Eu a ouvi gritar, mas suas palavras eram distantes e faziam pouco sentido. Havia recuado completamente agora para a escuridão dentro da minha cabeça. Era mais seguro lá. Como debaixo das cobertas, onde o


homem que estava na esquina olhando as meninas em seus uniformes escolares não podia me ver. As outras mulheres estavam lutando comigo agora. Como se eu fosse o monstro. Então percebi que elas queriam me dar de comida a esse horror com pinças de escorpião e asas como um inseto. Quatro braços me puxaram para mais perto e eu sabia que havia um ferrão em algum lugar, esperando para atacar com mais veneno. Mais agonia. Gritei e gritei até perder o fôlego. Então meu mundo escureceu.

Eu me senti como se estivesse andando de barco, no lago Mead, meu corpo balançando com a água. O movimento suave e relaxante. Mas os sons ao meu redor não eram relaxantes. Eles eram violentos. Algo tirado do inferno. Normalmente, os monstros vão embora quando você abre os olhos. Pelo menos, aqueles que não eram humanos. Aqueles que eram humanos, bem, eles nunca iam embora a menos que você se escondesse. Desta vez, quando abri os olhos, descobri que o monstro havia mudado e não conseguia decidir se era para pior ou para melhor. Tentáculos se enrolaram ao meu redor, embalando-me, segurando-me com firmeza para que minha luta não tivesse efeito. Mas eu não fui a única que não tive nenhum efeito na luta. Corpos espalhados pelo chão ao redor da enorme criatura, muitos deles em pedaços. Incluindo os robôs. Tantos robôs como os que sempre me torturaram. Ha! Bem feito para eles, seus bastardos.


Só que agora eu era a única em perigo. Seria a próxima a ser feita em pedaços. Desta vez, estava determinada a enfrentar minha morte com dignidade. Afinal, eu não queria isso? Talvez não dessa maneira violenta, mas queria a paz. O fim da dor. Então não gritei quando o monstro tentáculo me levantou, puxando-me para mais perto de seu corpo. Em vez disso, olhei para ele sem palavras, sentindo-me congelada no momento, como se a criatura e eu fizéssemos parte de uma pintura a ser estudada por todos os ângulos. Talvez minha mente tenha realmente estourado, porque havia uma qualidade surreal naquele momento que fazia o perigo em que eu estava parecer distante. Esse sentimento me deixou com a ousadia de estudar abertamente o monstro que me segurava. Parecia quase humano acima da cintura. Só que os humanos geralmente não eram tão bonitos. Não fora dos anúncios de revistas. Os olhos, porém, não eram humanos - misteriosos, frios, curiosos, brilhantes - como pesos de papel de vidro soprado sob os cílios longos que envergonhariam um modelo de rímel. A parte superior do corpo não era muito maior do que a de um lutador profissional - ou de um jogador de futebol muito grande. A musculatura daquela parte superior do corpo era impressionante e fiquei maravilhada por poder parar um momento para admirá-la, mesmo em face da minha morte iminente. No que deveria ser a cintura, a membrana - a parte do corpo que ligava todos os tentáculos à parte superior do corpo do monstro - começou e ocupou muito espaço por conta própria, de modo que o topo da cabeça da criatura a parte inferior da membrana parecia ter cerca de um metro e oitenta, levando a uma massa de tentáculos retorcidos. Eu não conseguia contá-los, eles se moviam muito, mas eram grandes e muito mais longos do que a parte superior do corpo. Cada um foi longo o suficiente para me


envolver várias vezes, enquanto uma série de ventosas puxavam minha carne exposta. De repente, ouvi uma qualidade diferente de som que me tirou do meu estado de transe. Uma enorme porta de cofre se abriu ao meu lado e percebi seu movimento com o canto do olho. Então o monstro tentáculo me engoliu.


Capítulo 2 Nemon Não pensei que pudesse confiar em Thrax. Eu tinha quase certeza de que ele planejava me trair, ou pelo menos voltar atrás em sua palavra de me encontrar uma companheira, então foi com alguma surpresa que aceitei seu presente quando ele veio correndo para o meio da batalha carregando-a. Ele realmente me trouxe uma companheira e a entregou direto para mim, empurrando-a em meus tentáculos como se não pudesse esperar para se livrar do fardo. Olhando para ela, eu não conseguia entender por que ele a deixaria. A fêmea era fascinante. Seu cabelo enrolado como as ondas antes de baterem na praia, sua pele tão pálida como o luar, seu corpo tão macio quanto uma brisa e tão frágil quanto os recifes de corais onde eu uma vez fiz minha casa. Uma casa da qual mal me lembrava. Mas ela parecia estar quebrada e desta vez, não foi minha culpa. Era muito fácil matar os frágeis - por acidente, principalmente. Na maioria das vezes. Meu pai me disse para ter mais cuidado, mas eles me mudaram tanto que minha forma parecia difícil de manejar, estranha, errada. Quando agarrava algo em meus tentáculos, o fazia com muita força, sentindo-me desconectado deles. Levou algum tempo para consertar isso, para me acostumar com a forma como esse novo corpo respondia e recuperar o controle total e preciso sobre meus braços de tentáculos. É hora de se acostumar a viver tão facilmente fora da água quanto embaixo dela respirar ar e viajar por terra. De repente, minha nova companheira se mudou, e para minha alegria, percebi que ela não estava realmente quebrada. Pelo menos não completamente. Seus olhos se abriram. Encarou-me. Senti seu corpo macio


ficar tenso em meu aperto e desejei que meus tentáculos relaxassem enquando queriam fazer exatamente o oposto. Eles queriam apertar para mantê-la em minhas mãos para que pudessem continuar a desfrutar do sabor e do cheiro dela. Eu estava determinado a nunca machucá-la. Tinha mais controle deste corpo agora. Seus lindos olhos me estudaram, embora seu olhar se desviasse da parte inferior do meu corpo. Eu a levantei acima dos meus tentáculos, em direção à parte de mim que não parecia perturbá-la tanto. Ela era tão pequena que eu não tinha ideia de como nossos corpos se encaixariam, mas ela era minha companheira, então tinha que funcionar de alguma forma. Tinha certeza de que Thrax havia encontrado uma maneira de fazer as coisas funcionarem com sua companheira. Eu possuía vagas memórias de acasalamento antes de ser capturado e mudado, mas eles me alteraram tanto que não tinha certeza de como funcionaria agora. Meu tentáculo genital não havia crescido novamente depois que eles o cortaram. Meu pai me garantiu que ele voltaria quando eu precisasse, mas me perguntava se ele mentiu. Ele foi o único em quem confiei quando acordei - assustado e com dor - dentro de um tanque depois que eles me capturaram do meu mundo natal. Ele foi gentil, preocupado, examinando-me com uma carranca profunda quando percebeu o quanto eu sofri. Mas Thrax disse que meu pai mentiu para mim sobre ser livre e estar preso nos dutos sozinho com nada além de enguias para me fazer companhia não parecia liberdade. Quando estive lá, minha primeira tentativa de encontrar outras pessoas como papai para me fazer companhia terminou desastrosamente. Eu perdi muitos tentáculos naquele dia e esmaguei algumas pessoas do pai. O resto havia fugido, abandonando o local à


ferrugem e à ruína que o reivindiquei como lar. E então Thrax e sua companheira vieram. Agora eu tinha minha própria companheira e ela estava olhando para mim como se esperasse que eu a esmagasse também. Como as pessoas que encontrei nos prédios, ela me temia e não queria ser minha companheira. Se eu a soltasse, ela tentaria fugir. Como eles fizeram. Minha atenção estava focada em minha companheira e em ponderar como poderia aliviar seu medo, mas permaneci perifericamente ciente de tudo que acontecia na sala. Eu podia sentir qualquer movimento até onde meus tentáculos alcançavam. Podia sentir o gosto de tudo que entrava em contato com eles, incluindo o próprio ar. Na maioria das vezes, eles se moviam por conta própria, independentemente do meu pensamento consciente, agarrando e esmagando qualquer ameaça antes mesmo que eu tivesse a chance de lhes dar o comando. Na batalha mais recente, isso foi útil. Alguns estavam chamuscados, cortados, sangue derramando em listras cor de cobalto para pingar no chão, mas desta vez, eu não tinha perdido nenhum deles. O fato de terem tirado minha companheira tão delicadamente de Thrax também me disse que estavam ficando melhores em determinar a diferença entre uma ameaça e um amigo. Isso foi um alívio. Papai ficou muito decepcionado comigo sempre que matei alguém que ele não queria que eu matasse. Minha companheira não estava gritando, mas ainda estava com medo de mim. Eu queria perguntar a Thrax se ele teve o mesmo problema com sua companheira, mas ele estava ocupado tentando nos encontrar uma saída. Eu confiei nele para ter sucesso nisso, porque ele tinha incentivo. Thrax encontrou uma maneira de abrir a grande porta, após negociar com um dos cientistas de Iriduan chamado Ilyan. Pude apenas presumir que


a negociação não foi bem para o cientista de Iriduan, já que ele não saiu da sala de segurança. Dada a raiva de Thrax, suspeitei que era o melhor. Embora estivesse curioso sobre tudo isso, permaneci muito focado em minha companheira e na sensação dela em meus tentáculos para prestar atenção a eles. Quando a porta se abriu, havia inimigos atrás dela e todos eles tinham o tipo de armas dolorosas que até meus tentáculos se esquivaram. Eu ainda os teria matado para ajudar a nossa fuga, mas uma rápida avaliação da situação me disse que minha companheira seria pega em seu fogo se eu atacasse, então, em vez disso, a escondi sob minha membrana, colocando meus tentáculos embaixo de mim para cercá-la em uma parede de minha carne. Meu corpo diminuiria a velocidade dos mísseis de suas armas o suficiente para protegê-la. Quanto a mim, não era fácil de matar. Meu pai me disse isso. Ele disse que eu tinha três corações que batiam dentro de mim e um sistema nervoso distribuído que me permitia regenerar com plena consciência se apenas um daqueles corações continuasse batendo. Meus inimigos, na melhor das hipóteses, só foram capazes de me incomodar. Eu estava pronto para lutar, mesmo com meus tentáculos embalando minha companheira embaixo de mim. Felizmente, não foi isso que aconteceu, porque Thrax tinha o dom de persuasão. Ele entregou aos alienígenas algo que havia tirado de seu covil no castelo e pareceu acalmálos. Eu não conseguia entender suas palavras, o que me deixou inquieto, já que significava que eu tinha que confiar em Thrax. Eu queria confiar nele, já que não tinha mais ninguém, mas ele era perigoso. O tipo de perigo que me fez querer mudar minha pele para me esconder no fundo. Não acho que ele matou por acidente.


Os recém-chegados acenaram para que os seguíssemos, suas cabeças cobertas inclinando-se para olhar para mim. Com meus tentáculos embaixo de mim, eu era muito mais alto do que qualquer um deles. Mais alto do que todos. Eles pareciam nervosos sobre mim, suas armas seguras em mãos tensas, mas seu líder me incluiu em seu convite para segui-los. Thrax passou por mim, carregando sua companheira em seus braços, arrastando mais duas mulheres que rastejaram em volta de mim do outro lado da porta, tão distantes de mim quanto poderiam ficar e ainda serem capazes de deixar o prédio. Enrolei meus tentáculos ao redor da minha companheira até que ela só teve espaço o suficiente para respirar antes de tirá-la de debaixo da minha membrana. Não seria um escudo tão eficaz para suas armas quanto minha parede de tentáculos e membranas, mas, para avançar, eu tinha que arriscar expô-la a essa ameaça. Senti seu pânico e ouvi seus gritos abafados quando a enrolei, mas não pude perder tempo para tranquilizá-la de que pretendia mantê-la segura. Não enquanto os recém-chegados esperavam, observando-me expor meu tesouro. Mais tarde, contaria a ela o que quis dizer com esse comportamento. Supondo que ela pudesse me entender. A companheira de Thrax o entendeu e ele e eu poderíamos falar, então pensei que ela deveria saber o que eu estava dizendo. Eu nunca tinha saído deste prédio antes, embora meu pai tivesse tentado me explicar o que faziam e o motio de fazê-lo. Ele o chamou de centro de pesquisa. Ficou envergonhado no final, embora se orgulhasse de seu trabalho no início. Ele me disse que sua vergonha veio de ver o que eu sofri e de perceber que eu não era o monstro que eles pensaram que era.


Eu nunca tinha ouvido falar de um monstro até descobrir que deveria ser um. Pelo menos, não conseguia me lembrar de ter ouvido sobre isso. As memórias de antes de me mudarem eram vagas e confusas, muitas delas podem ter sido apenas o que eu tinha imaginado, com base nas histórias de papai sobre onde me encontraram e como me capturaram. Eu me lembro do oceano. A sensação disso. O gosto disso. Vivendo em liberdade, mas também com medo de criaturas maiores do que eu. Havia também a fome de qualquer coisa que pudesse capturar. Uma fome que me levou a atacar barcos de uma colônia de Iriduan. Foi por isso que meu pai disse que eles pensavam que eu era um monstro. Para eles, eu tinha sido. Esses recém-chegados se esquivavam de mim como se também temessem que eu fosse um monstro, mas seu líder tinha mais coragem. Ele falou comigo enquanto eu seguia na esteira de Thrax, dando espaço às outras duas mulheres, para que parassem de lançar olhares temerosos para mim e choramingar. Não tinha interesse nelas. Thrax já tinha me dado uma companheira e ela era perfeita. Ela também estava frenética. Senti suas garras suaves e inúteis arranhando meu escudo protetor de tentáculos. Ela ainda estava lutando para se libertar, e não pude deixar de admirá-la por isso, embora me preocupasse com o quão chateada ela estava. Em breve, companheira. Eu vou libertá-la assim que os recém-chegados pararem de carregar suas armas com tanta força.


Capítulo 3 Joanie Estava cansada de esperar pela morte e percebi que poderia muito bem revidar, mas isso não parecia ter muito efeito no monstro que estava me carregando. Eu não conseguia nem ver em volta da espiral de tentáculos que me segurava confortavelmente, sem apertar ainda, mas temia que isso acontecesse em breve. Havia apenas uma pequena lacuna de luz onde eu poderia respirar em agradecimento enquanto tentava não entrar em pânico. Eu queria acreditar que tudo isso era um pesadelo, mas há muito desisti dessa ilusão. Não havia como acordar disso. Agora, minha única preocupação era quando o monstro iria me comer. Talvez ele quisesse brincar comigo primeiro. — Socorro! — Gritei o mais alto que pude, mas percebi que o pequeno espaço para respirar não era suficiente para permitir que minha voz abafada fosse ouvida. Eu não sabia se as outras mulheres ainda estavam lá fora, mas provavelmente não havia muito que pudessem fazer para me ajudar de qualquer maneira. Senti que estávamos nos movendo e muito rápido, surpreendente dada a massa do monstro que me carregava. Tentáculos estavam pressionados contra meus ouvidos, então não conseguia ouvir muito e estava ficando cansada do som de meu próprio batimento cardíaco. O que eu não faria por algumas baladas country ou música New Age etérea. Não conseguia nem me lembrar da última música que tinha ouvido. Talvez tenha sido no funeral, quando eles tocaram as canções favoritas de minha mãe até que eu não pudesse ouvi-las por causa dos meus próprios soluços.


Não sabia quanto tempo me afundava na miséria, aguardando minha morte iminente, antes de, de repente, estar livre. Os tentáculos se desenrolaram tão rápido que tropecei enquanto recuperava o equilíbrio. A superfície lisa de um piso de metal gelou meus pés descalços. Eu tinha visto muitos pisos de metal recentemente, a maioria pertencente a um laboratório, e não pude evitar o tremor que sacudiu meu corpo enquanto olhava para o chão, meus dedos do pé nus parecendo obscenamente orgânicos contra a superfície perfeitamente lisa e reflexiva. Alguém agarrou meu braço e eu me afastei com um grito agudo. — Calma, Joanie. Sou só eu. Claire. Olhei para a garota durona, tão jovem que nem tinha pés de galinha começando a espalhar-se insidiosamente ao redor dos olhos. Ela parecia muito relaxada. Quase feliz. Mas pelo menos havia preocupação em seus olhos quando ela estudou meu rosto, talvez sentindo que eu estava à beira da histeria. — Eu também estou aqui, Joanie. — Theresa se juntou a Claire ao meu lado, sua voz baixa enquanto ela olhava por cima do ombro com uma expressão assustada — Não sei exatamente o que está acontecendo, mas os monstros se foram e estamos presas em algum tipo de nave espacial. Claire lançou um olhar penetrante para Theresa. — Eu te disse, Thrax não é um monstro. Ele é um alienígena, sim, mas ele é meu alienígena. Ele não vai machucar vocês. — E o outro? — Tarin também estava lá e elas me cercaram, mas era bom estar perto de outros humanos. Tão bom que me esqueço de me preocupar com minha bolha de espaço pessoal. Ou o cheiro maduro de nossos corpos depois de serem presos. — Seu alienígena acabou de entregar Joanie àquela... Coisa! Claire suspirou, tirando o cabelo emaranhado do rosto.


— Ele precisava ter as mãos livres para nos tirar de lá. Ele disse que Nemon estava do nosso lado. — Mesmo ela não parecia totalmente convencida. A criatura tinha um nome. Eu não sabia por que isso parecia estranho para mim, mas parecia. Dar-lhe um nome tornou-o mais identificável. Eu não tinha certeza se queria me relacionar com tal coisa. — O que você quer dizer com este Thrax é 'seu alienígena'? Ela ergueu o queixo, seus olhos desafiadores. — Ele é meu companheiro. As outras mulheres engasgaram com nojo indisfarçável, mas só pude ficar olhando para ela, sem saber como me sentiria. Ela parecia feliz e orgulhosa de sua reivindicação - e de seu companheiro. Ela parecia gostar de dizer essas palavras, como se a forma monstruosa de seu amante lhe desse prazer - e talvez até um motivo para se gabar. — Claire! Como você pode...? — Os olhos arregalados de Tarin se fixaram em Claire — Com aquela coisa? Claire deu um passo para mais perto de Tarin, seu olhar se endurecendo como uma pedra. — Não fale sobre ele assim. Ele não te machucará, mas se você tratá-lo rudemente, eu posso. Tarin ergueu as mãos e se afastou de Claire. — Ei, sinto muito. Não quis ser rude. Eu estava um pouco... Chocada. A expressão de Claire suavizou e a tensão foi drenada de seus ombros. — Está bem. Eu entendo porque você ficaria surpresa. Só não gosto de vê-lo sendo tratado como um monstro. Se você conhecesse Thrax, entenderia que ele não merece isso. Ele passou por um inferno. — Ela gesticulou para nosso pequeno grupo. — Tenho certeza que todas nós passamos.


As outras mulheres assentiram, mas eu só pude olhar para Claire, ponderando sobre ela, Thrax e a estranheza de seu relacionamento. Por alguma razão, minha mente se desviou desses pensamentos para Nemon, o outro monstro. Aquele que Thrax aparentemente me entregou durante nossa fuga. Eu estava com muito medo de me perguntar como acabei em seus tentáculos. — E quanto a Nemon? Ele tinha passado pelo inferno? E quando comecei a pensar na criatura como um macho? Claire encolheu os ombros. — Thrax não teve muito tempo para falar comigo sobre isso antes de ir falar com o comandante deste navio para tranquilizá-los de que ele e Nemon não serão uma ameaça. Eu ouvi o suficiente para saber que eles são aliados e Nemon é outro experimento, como Thrax. Apenas que Nemon escapou da instalação antes. Anos atrás. Nós o encontramos nos túneis abaixo da instalação. Eu pensei que ele tinha matado Thrax, mas parece que eles realmente se tornaram amigos. — Ela encolheu os ombros — Ou o que seja amizade para dois alienígenas predadores. Tarin olhou em volta e foi a primeira vez que pensei em fazer uma inspeção ao meu redor também. O porão era grande o suficiente para ser um depósito, com engradados de metal e plástico e caixas empilhadas em fileiras organizadas amarradas com fortes cabos de metal. A área onde estávamos era espaço livre, como se servisse a algum propósito de armazenamento que não era necessário no momento. As paredes se curvavam bem acima de nós para encontrar um teto inclinado, e belas mulheres esguias foram esculpidas ao longo das costelas das paredes, em um gracioso estilo Art Déco.


A arte era estilizada, mas uma inspeção mais detalhada revelou que as esculturas não eram humanas. Suas mãos erguidas terminavam em garras curtas e afiadas e pequenas escamas cintilavam sobre seus corpos quase nus. — Estamos em uma nave alienígena. — Disse isso em voz alta como se pudesse negar sua verdade. O último navio em que estive foi um disco voador. Eu sabia disso porque tinha visto o lado de fora. Dei uma boa olhada enquanto estava naquela estrada deserta antes que ela me sugasse e eu visse meu primeiro alienígena. Uma criatura assustadora, nada parecida com os brinquedinhos alienígenas fofos que os turistas compram para seus chaveiros em Roswell. Esbelta - mas não curta - pele cinza, braços longos com apenas três dedos em cada mão, a cabeça maior do que a humana, mas não enorme como eu esperava. Os olhos, entretanto. Os olhos eram o que mais aterrorizava olhos enormes, todos pretos, ovóides, que pareciam ver todo o universo. Eu não tinha observado por muito tempo antes de ser nocauteada de alguma forma. Quando acordei, estava em uma cela. Sem meu celular. Nunca mais vi os alienígenas. Apenas os robôs. Agora eu estava em outra nave e, pelo jeito das esculturas, não eram os mesmos alienígenas. Thrax também não era o mesmo alienígena. Nem foi Nemon. A ideia de que havia tantos tipos diferentes de alienígenas sencientes na galáxia confundia minha mente. Pensava que a humanidade era provavelmente a forma de vida mais avançada e talvez, se os alienígenas existissem, então eles seriam os cinzas - como o que eu tinha visto. Mas imaginar que ainda mais espécies alienígenas existiam com o poder das viagens espaciais significava que a humanidade era como uma espécie primitiva remanescente. Como nosso povo poderia não saber disso? Ou eles sabiam? O governo estava realmente encobrindo isso?


— O que acontece agora? — Tarin perguntou. — Não acho que esses alienígenas tenham uma banheira de hidromassagem e uma jarra de margarita. — Todas se viraram para mim como se eu tivesse acabado de começar a falar palavras em grego. Dei de ombros. — O que? Claire foi a primeira a sorrir. — Você parece estar um pouco melhor agora. — Você quer dizer que eu não estou arrancando meu cabelo na histeria? — Toquei meus cachos, tão emaranhados agora que me perguntei se algum dia seria capaz de pentea-los. — Tentei isso antes, quase não consegui soltar minhas mãos. Tarin pousou a mão no meu braço, olhando-me nos olhos com uma expressão atenta. — Tem certeza de que está bem, Joanie? Você já passou por muita coisa. — Caramba, não, eu não estava bem, mas o que poderia fazer sobre isso? Eu estive lá, fiz isso. Uma e outra vez. Agora, eu me sentia estranhamente serena. Talvez tenha sido um choque. Ou talvez tenha visto todos aqueles robôs esmagados antes. Falando nisso... — Então o que exatamente acontece agora? Eu perdi muitas coisas devido à interferência dos tentáculos. Estamos com amigos ou inimigos? Claire mordeu o lábio, e foi a primeira vez que percebi que havia um buraco - um piercing. — Eu acho que eles são aliados. Encontrei outros alienígenas como eles quando fui colocada pela primeira vez com Thrax. Eles também eram prisioneiros. Os iriduanos os mataram. — A voz dela tremeu na última palavra. — Os Iriduanos são aqueles alienígenas parecidos com elfos? — Perguntou Theresa. — Eu os vi nos monitores. Muito bonitos, mas tinham


pele azul ou verde. Claire acenou com a cabeça. — Você provavelmente viu Ilyan e Lania. Pelo que eu sei, os dois estão mortos. — Isso não soa como os alienígenas que eu vi. — Falei. Mais uma vez, tornei-me o foco de sua atenção. — Eles colocaram você com um tipo diferente de alienígena para criar? — Claire perguntou, se abraçando e esfregando os braços. Tarin engasgou-se quando ela ergueu a mão trêmula para agarrar a nuca da roupa estilo camisola do hospital que combinava com as nossas. — É por isso que eles nos queriam? Graças a Deus escapamos tão cedo! Theresa concordou com a cabeça. Claire encontrou meus olhos, e pude ver que ela também não havia escapado logo. — Eu não acho que eles estavam planejando me procriar. — Disse suavemente. — Fui abduzida pelos alienígenas cinzentos. Aqueles sobre os quais as pessoas sempre falam. — Eu acho que esses são os Lusianos. — Claire disse, sua sobrancelha franzida, chamando minha atenção para outro conjunto de buracos em uma de suas sobrancelhas. — Os Iriduanos disseram que os Lusianos nos raptaram. Acho que eles nos venderam aos Iriduanos. Pelo menos, foi o que consegui com isso. Tarin cruzou os braços sobre o peito. — Então, eles são como, o quê? Caçadores furtivos? — Isso presumindo que é ilegal abduzir humanos. — Disse Claire. — De alguma forma, duvido que esses alienígenas pensem que sim. — Então, passei meses imaginando meus algozes como aqueles horríveis cinzas, quando na verdade eu deveria estar tendo pesadelos com


alienígenas elfos? Eu me sinto totalmente enganada por não ter conseguido vê-los. É muito mais fácil odiar alguém quando você pode imaginar seu rosto para suas fantasias de soco. Eles não se preocuparam em se mostrar para mim porque eles não iriam me procriar. Não com minha anormalidade cromossômica. Eu me perguntei se eles sabiam sobre isso quando me compraram dos caçadores, ou se deslizei com os outros abduzidos pelos lusianos corruptos. Não tinha certeza se era melhor ser uma cobaia do que uma criadora. Tarin olhou para mim com os olhos arregalados. — Oh Deus! Você foi uma prisioneira por meses? Pobrezinha. — Eu suponho que foram meses. Parecia isso. — Deus, era tão bom conversar com outras pessoas depois de tanto tempo sozinha. Questioneime se teria ficado desesperada o suficiente para ficar grata por ver um dos alienígenas - se eles tivessem se dignado a se mostrar a mim. Claire estava prestes a comentar algo quando Theresa fez um som assustado, olhando por cima do meu ombro para algo atrás de mim. Pelo jeito que o sorriso de Claire se espalhou em seu rosto, imaginei que seu companheiro monstro havia retornado, tão silenciosamente que eu não tinha ouvido nada. Eu me preparei, virando-me lentamente, enquanto simultaneamente recuava até ficar ao lado das três mulheres em vez de na frente delas. Thrax estava ao lado de outro alienígena que era quase tão grande quanto ele, mas significativamente diferente. Por um lado, o outro alienígena tinha apenas dois braços, mas isso não o tornava em nada remotamente parecido com um humano. Estava coberto de escamas, tinha pontas finas como penas saindo de sua cabeça calva e olhos estranhos de réptil.


Ele estendeu a mão com a palma para cima. Havia três aparelhos brilhantes na palma escalonada. — Tradutores. — Disse Thrax, sua voz profunda, quase mecânica, como se ele falasse através de algum dispositivo na máscara de ninja que cobria seu rosto. Claire caminhou até ele e ele automaticamente envolveu um braço em volta da cintura dela quando ela se aproximou. — Onde está o meu? — Ela perguntou, sua voz mudando para aquela suave e efusiva que jovens amantes sempre usavam quando conversavam entre si. Ele respondeu levantando um tradutor para colocá-lo suavemente no ouvido dela. A maneira como ele a tocou foi tão reverente que ele poderia estar lidando com um tesouro inestimável. Eu senti como se estivéssemos interferindo em seu momento privado. Assim que seu tradutor foi instalado, Claire pegou os três do outro alienígena e os entregou para nós. Nenhuma de nós teve coragem de abordá-lo, embora ele estivesse ali esperando pacientemente. Equipamos nossos próprios tradutores, não tendo o benefício de um alienígena de quatro braços para nos ajudar. Para ser honesta nenhum das outras provavelmente queria isso, mas eu tinha que admitir que estava com inveja de quão devotado Thrax parecia a Claire. Eu queria esse tipo de devoção. A ideia de ser o centro do universo de outra pessoa - de ser um tesouro que eles consideram sem preço - era o tipo de material de que eram feitas as fantasias femininas. O tipo de histórias que eu brincava com minhas bonecas dentro dos quartos sujos de hotel onde construímos nossa casa quando era criança. Barbie tinha uma mansão e um homem que a amava - duas coisas que pareciam sonhos impossíveis para mim quando eu era criança.


Claro, assim que terminei de crescer, percebi que a maioria das pessoas era o centro de seu próprio universo. Elas realmente não queriam abrir espaço para outra pessoa. Nunca consegui encontrar um homem como o Ken da Barbie. As flores foram compradas a contragosto no supermercado para o Dia dos Namorados, sem consideração pelo que eu gostava. Chocolates foram entregues com sugestões de que não como muitas calorias. Lingeries foram embrulhadas e dadas com um sorriso, como se cetim barato e um pedaço de fio dental fossem um presente para mim, e não para meu parceiro. Se o Sr. Certo algum dia existiu, alguma outra garota inteligente já o tinha agarrado. Observei Claire e Thrax juntos enquanto meu tradutor fazia alguns bipes no meu ouvido. Era possível que a rede que lancei ao procurar meu príncipe encantado fosse estreita demais. Pensar em uma rede me fez pensar em peixes no mar, o que me levou a pensar em um certo tentáculo alienígena com rosto de anjo vingador e olhos de predador de sangue frio. Eu nunca teria pensado que acasalar com um alienígena fosse uma possibilidade se não tivesse visto a felicidade de Claire com Thrax. Ela o envolveu com o braço como se as asas, o exoesqueleto e as pinças - e a pura vibe alien dele - não a incomodassem nem um pouco. Aparentemente, esta galáxia estava cheia de muitos alienígenas diferentes. Certamente, pode haver um que eu pudesse olhar com o mesmo olhar de adoração que Claire estava dando a Thrax. Não era como se eu tivesse algo para o qual voltar para casa, além de uma montanha de dívida que não tinha capacidade de pagar. Supondo que houvesse uma maneira de me devolver à Terra, eu poderia voltar à minha vida normal depois do que passei? Certamente não poderia contar a um terapeuta como fui abduzida e experimentada por alienígenas. Eu acabaria em uma camisa de força.


Espontaneamente, pensei em Nemon novamente, então balancei minha cabeça para mim mesma. Não conseguia imaginar por que aquele monstro continuava invadindo meus pensamentos. Sim ele esmagou muitos desses robôs, o que lhe valeu alguns pontos no meu livro, mas certamente, eu deveria estar mais horrorizada com ele do que intrigada. Só podia suspeitar que alguma parte da minha mente racional havia se quebrado bem e verdadeiramente, e agora eu estava pelo menos parcialmente louca. Não poderia haver outra explicação. — Saudações, humanos. Por favor, deixe-me saber se seus tradutores estão funcionando apropriadamente. — A voz do alienígena espetado era suave e rouca - muito menos ameaçadora do que sua aparência. Estranhamente, não parecia que ele estava falando inglês, mas o entendi perfeitamente. Ouvi Theresa e Tarin suspirarem ao meu lado. — Isso é loucura! — Tarin disse, tocando o dispositivo que se curvava ao redor da orelha dela, assim como o meu fez. — Acho que isso significa que eles funcionam. — Falou o alienígena. Ele levou a mão ao peito — Meu nome é Primeiro Comandante Tirel. Bem-vindas à minha nave, Star Dancer. Vocês são nossas convidadas de honra. Por favor, deixe minha equipe saber se há algo que eles possam fazer para tornar sua viagem conosco mais confortável. Ele se virou para o lado, revelando a protuberância em suas costas que estava coberta por sua armadura futurística. Eu me perguntei sobre isso, antes de ser distraída por uma mulher alienígena esguia que saiu de trás dele, carregando o que parecia ser um dispositivo eletrônico como um tablet. Ela tinha escamas e olhos de réptil, mas suas feições eram mais suaves e não tinha pontas na cabeça e nenhuma corcunda sob sua armadura dura.


— A Segunda Comandante Krea os acompanhará em suas cabines. — Tirel gesticulou para a alienígena. — Também temos um médico a bordo, se algum de vocês precisarem de cura. Thrax desviou sua atenção de Claire por tempo suficiente para se dirigir a Tirel. — E quanto a Nemon? O Primeiro Comandante acenou com a cabeça para Thrax com o que parecia ser respeito. — Seu aliado é nosso agora também. Não temos um quarto grande o suficiente para abrigá- lo, mas ele já foi escoltado até o porão. Ele disse que se sentirá mais confortável lá. — Provavelmente seria mais seguro descartá-lo. — Disse Thrax. Claire ergueu a mão para dar um tapa no peito dele, que parecia estar faltando algumas das placas de exoesqueleto que cobriam o resto de seu corpo, e então ela pareceu pensar melhor nisso, talvez reconhecendo que a armadura dura de seu corpo doeria a mão dela. — Francamente, Thrax! Você me disse que ele era seu amigo. — Aliado — ele respondeu — Além disso, eu não estava dizendo ao comandante para fazer isso. Estava apenas declarando um fato. O comandante deu uma risadinha. — Eu lhe asseguro, Madame Claire, seus aliados estão todos seguros conosco. Limitaremos nosso descarte ao nosso lixo.

Segui Krea e as outras mulheres até as cabines, esticando o pescoço para dar uma boa olhada no navio. Era uma obra de arte, como se os construtores se recusassem a sacrificar a forma mesmo que acrescentassem


funções. Dada a arte de seus ternos rígidos, que também tinham linhas graciosas e desenhos geométricos, parecia que eles trabalhavam com beleza em tudo o que faziam. Claire e Thrax tinham saído com o Primeiro Comandante e suspeitei que eles estavam recebendo tratamento especial. Assim que vi os confins apertados de nossas cabines, percebi que Thrax provavelmente teria se esforçado para se encaixar com Claire, e tive a nítida impressão de que ele se recusaria a se separar dela. As cabines podiam ser lindas com suas paredes lisas e suportes estilísticos, mas o espaço era obviamente um prêmio nesta nave - pelo menos nos alojamentos da tripulação e dos passageiros. Não que eu estivesse reclamando. Passei meses em uma cela minúscula. Esta cabine era um luxo. Mas assim que a porta se fechou atrás de mim, comecei a me sentir fechada. As paredes pareciam encolher ao meu redor, o teto parecia estar a apenas alguns segundos de cair na minha cabeça. O silêncio na sala era muito profundo. O ar enjoativo. Eu não aguentava. Corri até a porta e bati, gritando para sair. Ela se abriu quase imediatamente e Tarin - que estava bem ao lado - saiu correndo. Senti vergonha e constrangimento quando ela agarrou meus ombros, me firmando quando eu tropecei. — Eu não posso estar aí. — Sussurrei, lutando para respirar para falar. Eu não sabia o que esperava. Talvez um robô na porta, esperando para me levar ao laboratório. Não me sentia segura, embora soubesse que estávamos longe daquele lugar e daqueles robôs horríveis parecidos com manequins. Espontaneamente, uma imagem de robôs esmagados espalhados ao redor de Nemon veio até mim. Eu lutei tanto contra os robôs no início e sua


a força parecia impossível de derrotar. Fui incapaz de lutar contra seus comandos. Mas Nemon os destruiu. Enquanto eu lutava para recuperar o fôlego, Tarin tocou no botão do tradutor que permitia que ela se comunicasse com o representante do convés. — Minha amiga não suporta ficar confinada em um espaço pequeno no momento. Existe algum lugar onde possamos caminhar para tomar um pouco de ar fresco? Ela ficou quieta enquanto a outra pessoa aparentemente respondia, mas eu tive outra ideia. — Onde está o porão? Tarin me olhou surpresa. Fiquei igualmente surpresa. Eu não estava realmente pensando em ver Nemon novamente, estava? E se ele me agarrasse e me envolvesse em seus tentáculos? E se ele realmente não fosse um aliado confiável? Só porque ele concordou em nos ajudar a escapar, não significava que eu pudesse confiar nele. Mesmo Thrax, que era seu aliado, realmente não confiava nele. Mas ele era forte. Forte o suficiente para matar um exército de robôs. Talvez eu não estivesse a salvo dele, mas pelo menos sabia que não havia ameaça que ele não pudesse lidar. Meu raciocínio não era lógico de forma alguma, mas, novamente, minha vida era uma bagunça louca, então esperar que as coisas começassem a fazer sentido agora era simplesmente irreal. — Podemos visitar o porão. — Disse ela, e seu tradutor deve ter atendido porque ela acenou com a cabeça como se tivesse recebido uma resposta. Então ela encontrou meus olhos, respirando fundo — Krea está enviando alguém para nos levar ao porão. Tem certeza disso, Joanie? Essa coisa está no porão.


Hum, duh. Eu não estava indo lá pelos pontos turísticos, mas mantive meus pensamentos para mim mesma. Não acho que ela entenderia de eu querer ver Nemon novamente. Mesmo eu não entendia. Além disso, ela parecia assustada com a ideia de vê-lo novamente. Eu deveria parecer tão assustado. Talvez estivesse. Ainda não tinha visto um espelho. Essa percepção foi o suficiente para me deixar em pânico enquanto avaliava rapidamente minha aparência. Eu ainda estava usando o robe tipo camisola de hospital que usei pelo que parecia uma eternidade agora. Meu cabelo estava uma bagunça emaranhada e não tomava banho há muito tempo. Se eu não tivesse esbanjado em tratamentos de depilação a laser um ano atrás, quando ganhei um raro golpe de sorte, teria que lutar com caroços e pelos nas pernas além de tudo isso. Eu não conseguia explicar por que minha aparência de repente importava para mim naquele momento. Simplesmente sabia que importava. — Eu preciso me lavar. Eles nos mostraram um banheiro no caminho para a nossa cabine, certo? Vamos encontrar nosso guia lá. Essa foi uma sugestão que Tarin poderia apoiar. Eu não era a única que queria lavar o fedor do cativeiro.


Capítulo 4 Nemon Quando Thrax me disse que eu tinha que entregar minha companheira, fiquei furioso. Como ele se atreve a entregá-la para mim, apenas para levá-la embora novamente? Ele não reclamou de ter feito a mesma coisa com sua companheira? Talvez ele tenha percebido que minha fúria iria explodir em violência, porque sussurrou em voz baixa que eu a teria de volta o mais rápido possível, mas se eu não a deixasse ir agora, poderia acabar perdendo-a para sempre. Percebendo a sabedoria de suas palavras considerando todos os recémchegados armados, sem mencionar sua experiência muito maior com toda essa coisa de ‘‘companheiro’’, eu desisti de meu controle sobre ela. Ela escorregou para fora dos meus tentáculos, e então Thrax me empurrou para longe dela e para fora do compartimento de carga antes mesmo que eu pudesse tentar falar com ela. Pelo menos sua companheira ficou para trás para falar com ela e ele me assegurou que sua companheira saberia o que dizer para acalmar o medo que tornava seus lindos olhos selvagens. Os acrelianos eram irritantes. Eles ficavam me olhando enquanto tentavam fingir que não, e ficavam nervosos sempre que meus tentáculos se moviam. Visto que meus tentáculos estavam sempre se movendo para verificar os arredores, o nervosismo de nossos novos hospedeiros rapidamente se tornou cansativo. Nós respondemos a muitas perguntas chatas, e pude ver que Thrax estava tão impaciente quanto eu para voltar para nossas companheiras. Suas respostas ficaram mais curtas, mas estava claro que ele estava controlando sua irritação, então eu espelhei meu comportamento no dele. Ele parecia


ser melhor com as pessoas do que eu. Minha única experiência real foi com papai e depois com as pessoas com quem tentei falar nos prédios, o que acabou mal. Os Akrellianos finalmente pararam de nos bombardear com perguntas e começaram a nos contar sobre seu navio e onde poderíamos ficar. Thrax e sua companheira ficariam na cabine do Primeiro Comandante, mas teriam que me colocar no porão. Tirel afirmou que eles tinham um lugar chamado ‘‘porão molhado’’ que ele achou que eu talvez preferisse. Aparentemente, o Star Dancer às vezes carregava espécimes aquáticos e, portanto, tinha um grande porão cheio de água. Como eles conseguiram aquela água no meio do espaço parecia ser uma fonte de grande orgulho para eles, e ouvi com interesse a explicação deles sobre a tecnologia - pelo menos até que Thrax fez um som impaciente. Embora eu preferisse a água à terra porque era mais fácil me mover na água, eu estava em casa nos dois meios, graças às mudanças de meu pai. A colocação funcionou para mim, mas apenas se eu pudesse ver minha companheira novamente. Isso era tudo que me importava. Passei tanto tempo sozinho que não tinha certeza se saberia o que dizer ou como dizer, mas com um dispositivo que os Akrellianos me deram e que chamaram de tradutor, eu tentaria explicar a ela que não deveria ter medo de mim. Eu queria dizer que não deveria temer ninguém nunca mais. Não comigo protegendo-a. Descobriu-se que o porão úmido não era apenas uma área de armazenamento de espécimes. Eu esperava um grande tanque, como aquele em que morei no laboratório, mas em vez disso, o porão era mais como um parque, com uma série de pequenos lagos em torno de uma grande piscina no centro. As passagens ao redor da água eram decoradas com plantas em vasos, esculturas e um pequeno tanque de vidro ocasional com minúsculas


criaturas aquáticas nadando dentro dele. Uma passarela se estendia sobre a piscina em uma pequena ponte pedonal. Vi a profundidade da piscina e fiquei satisfeito por ela caber toda em mim. Não que eu não pudesse caber em espaços apertados. Eu tinha a habilidade de transformar minha forma o suficiente para caber em quase qualquer lugar, apesar do meu tamanho. Mais importante do que a piscina eram as passarelas ao seu redor. Enquanto me acomodava na água ligeiramente fria, ajustando meu corpo para se aclimatar à temperatura e composição dela, pensei no que diria à minha companheira quando a visse novamente. Enquanto me aclimantava, meu acompanhante explicou que este porão serviu como uma área verde para a tripulação, além de manter espécimes vivos durante o transporte, mas que seria considerado fora dos limites para os tripulantes, enquanto estivesse a bordo. ‘‘Para minha privacidade’’, ele disse, mas eu entendi que a expressão que ele usava significava que era mais para a segurança de sua tripulação. Não levei isso para o lado pessoal. Não estava interessado em ver mais nenhum Akrellians de qualquer maneira. Apenas minha companheira, cujo nome eu ainda não sabia. Quando a escolta saiu - as portas deslizantes na outra extremidade do porão se fechando atrás dele - eu afundei no fundo da piscina, satisfeito por ser profunda o suficiente para me mergulhar sem que tivesse que mudar a forma do meu manto. A sensação da água se fechando sobre mim era reconfortante, embora seu sabor e textura precisassem de um pouco mais de aclimatação. Era quase puro demais, mas pude detectar um traço de água do aquário, como se um pouco tivesse sido adicionado para dar-lhe vida. Certamente foi uma mudança em relação ao que eu estava acostumado. Passei a maior parte do meu tempo flutuando na água rançosa dos prédios abaixo da instalação ou me enrolei em meu pequeno covil, não vendo muita razão para deixá-lo e me mover por longos períodos de tempo. Não havia


muito pelo que viver, até que notei uma diferença no sabor da água e rastreei sua origem e encontrei Thrax e sua companheira. A princípio, pensei que as outras pessoas - gente como meu pai - haviam voltado e tive o cuidado de não me aproximar, para que não tentassem me matar de novo ou que os espantasse. Não queria nenhum dos resultados. Quando vi Thrax, percebi que se justificava cautela. Eu tinha visto como ele caçava enguias facilmente e reconheci um companheiro predador. Foi pura solidão e desespero que me inspirou a agarrá-lo e arrastá-lo para meu covil. Uma parte de mim queria comê-lo, mas principalmente eu estava curioso. E se ele conseguisse me matar, pelo menos eu não estaria mais sozinho. O resultado dessa reunião superou minhas expectativas. Tive que voltar para a instalação onde meu pai me avisou que eu seria recapturado, mas recebi uma companheira em troca de ajudar Thrax a resgatar a dele. Quando Thrax apareceu no porão sem minha companheira, fiquei desapontado. Eu não estava esperando tanto tempo, então talvez ela estivesse descansando ou se aclimatando com o navio antes de voltar para mim. Ele caminhou até a piscina e se agachou ao lado dela, os olhos fixos em mim. Mudei a textura e a cor da minha pele para que não parecesse mais com o fundo da piscina, desenrolando meus tentáculos ao meu redor para puxá-los para baixo de mim. Esticá-los abaixo de mim permitiu que eu me levantasse até ficar no nível dos olhos de Thrax. A água escorreu da minha pele quando cheguei à superfície e, sem pensar nisso, fechei as guelras sob minhas costelas e expandi meus pulmões com ar, me lembrando da primeira vez que tentei respirar. A dor quando meus pulmões se expandiram foi agonizante, fazendo-me enrolar enquanto minha estrutura óssea derretia em um manto amorfo.


Meu pai ficou chateado comigo por perder a forma durante um experimento, até que percebeu o quão ruim a dor era para mim. Eventualmente, a mudança se tornou uma segunda natureza, assim como reafirmar minha estrutura óssea. Embora ainda fosse um processo complexo o suficiente para que eu não o fizesse levianamente. Eu preferia a forma que agora assumi. Meu pai estava orgulhoso de como eu parecia semelhante a ele. Thrax me estudou, seus olhos escuros procurando meu rosto como se ele pudesse encontrar respostas minhas apenas olhando por tempo suficiente. — Como é possível que eu não consiga sentir você? Dei de ombros. — Parece que você me encontrou com bastante facilidade. Seu olhar percorreu a piscina vazia, o fundo dela coberto de pedras falsas. — Eu teria te perdido se não estivesse procurando por você. — Seus olhos voltaram para mim — Eu nunca perco uma ameaça. — Talvez eu não seja uma ameaça para você. Ele fez um som incrédulo com isso. — Eu vi os corpos que você deixou para trás no castelo. — Foi um acidente. Eles estavam tentando me matar e meus tentáculos apenas... — Lembrei-me do caos, dos sons de gritos e da dor de armas me atingindo, serrando meus membros. Meu pai tinha me avisado para evitar a instalação e as máquinas, mas eu tolamente acreditei que um pequeno grupo de pessoas embaixo da instalação seria receptivo a mim. Eu não entendia o que sabia agora. Eu era temido, mesmo por aqueles que me fizeram. Ele acenou com a mão como se estivesse afastando um inseto pequeno e irritante. — Eu os teria matado de propósito.


— Você não deveria. Não sem razão. Isso é o que meu pai me disse. — Isso é o que Claire diz também. É frustrante ter que procurar uma razão. — Ele mudou seu peso para os calcanhares, permanecendo agachado que parecia confortável para ele. — Por que você ainda o chama de pai? Ele é aquele que tirou você de sua vida anterior e o transformou — ele gesticulou para o meu manto com um braço — nisso. Eu olhei para mim mesmo, estudando a forma do corpo que meu pai havia me dado. — Ele disse que eu assumi a forma dele. Que eu era como filho dele. Eu era parte dele. Thrax estreitou os olhos, suas asas estremecendo atrás dele. — E isso foi o suficiente para você? Para perdoá-lo pelo que ele fez? Meu pai me libertou. Eu acreditava nisso, pelo menos, mas quando pensava sobre isso agora, percebi que só tinha mudado de uma prisão para outra. Eu não entendi por que ele foi cruel o suficiente para me entregar a uma vida sozinho sob as instalações. — Eu não sei. Ele era o único que falava comigo quando eu estava nos laboratórios. Ele se desculpava pela dor e insistia em me dar algo para diminuí-la. Ele me ensinou como falar essas novas palavras. Como se mover novamente com um novo corpo, como evitar matar por acidente. — Para que você pudesse matar por ele de propósito. Claire me contou o que os Iriduanos estavam tentando fazer. Eles nos queriam como soldados para lutar em suas guerras por eles. Houve ocasiões em que o professor Halian disse que eu estava sendo testado. Ele enviou presas com vida e me disse para emboscar e matá-los. Quanto mais tempo pudesse me esconder deles, quanto mais perto eles chegassem de mim antes que eu os agarrasse, melhor seria minha


pontuação. Na época, fiquei orgulhoso de obter sua aprovação, e ele me disse que raramente o desapontava. — Eu queria agradá-lo. Thrax balançou a cabeça lentamente. — Eu estava determinado a desafiar meus criadores, e você se esforçou para agradar os seus, e nenhum de nós tirou proveito disso. — Suas pinças abriram e fecharam com agitação. — Nós dois éramos escravos. — Mas agora nós dois temos companheiras. Não me lembro muito do meu passado, mas acho que não havia ninguém como minha companheira nele, então prefiro esta vida àquela. — Era difícil ficar chateado com o passado quando eu pensava em onde ele me levou - para minha companheira, que era tão linda e perfeita que eu sentia apenas felicidade agora. Thrax parecia repentinamente evasivo, seus olhos evitando encontrar os meus. Eu conhecia aquele olhar. Isso significava que não podia confiar no que ele estava prestes a dizer. — Sim, estou feliz com minha companheira e não mudaria o que me tornei. — E você me deu minha companheira. Como você prometeu. Ele desviou o rosto de mim para olhar algumas das plantas ao lado da piscina, mas eu ainda sentia como se ele estivesse me observando com olhos diferentes. Talvez fossem as pequenas semiesferas redondas nas placas faciais de sua armadura que permitiam que ele ainda me visse. — Não é tão simples assim. Você não pode simplesmente alegar que ela é sua companheira. A verdade é que só precisava que você a segurasse por um momento. Eu não estava realmente dando ela para você. Tentei compreender o que ele estava dizendo, embora não gostasse da sensação que suas palavras me deram.


— Você disse que iria me encontrar uma companheira. E você fez. — Eu não posso prometer ela para você. Claire não me deixa. Eu subi mais alto em meus tentáculos, usando minhas ventosas para me puxar para cima ao lado da piscina até me elevar sobre Thrax, mesmo quando ele se levantou, suas pinças se estendendo e abrindo amplamente em ameaça. — Você fez uma promessa! — Senti um medo que fez com que meus tentáculos livres se sacudissem e se debatessem até espirrar na superfície da piscina. Não medo de Thrax, mas de perder algo tão precioso quanto minha companheira, antes mesmo que eu tivesse a chance de falar uma palavra com ela. — Por que você voltaria atrás em sua promessa? Thrax parecia estar debatendo se deveria me picar, e eu estava me perguntando se isso iria me matar, mesmo quando meus tentáculos me puxaram para fora da piscina e o cercaram. — Eu disse que ajudaria você a encontrar uma companheira. Nunca prometi que seria essa mulher. Há outras. Claire diz que existem bilhões delas como ela em seu mundo natal. E se você não quer uma mulher como essa... — Eu quero ela. Somente ela. Não há ninguém como ela. — Não conseguia imaginar nenhuma mulher que me faria mais feliz do que aquela que já recebi. Se Thrax não a trouxesse para mim, eu destruiria esta nave para tomá-la para mim. Um longo e tenso momento passou entre nós, enquanto ambos contemplávamos os méritos de tentar matar um ao outro. Finalmente, Thrax ajudou a subir a parte inferior do braço, retraindo as pinças. — Escute, a mulher está assustada e traumatizada. Você não pode simplesmente forçá-la a acasalar com você.


Eu relaxei um pouco em sua retirada, afundando em meus tentáculos. — Forçá-la a acasalar? Você quer dizer forçar meu tentáculo genital nela? — Se é assim que você faz. — Ele parecia enojado enquanto olhava meus tentáculos. Estava irritado com o foco dele neles. Enrolei as pontas sob minha membrana. — Eu não usaria meu tentáculo genital até que ela sinalizasse que estava pronta para isso. — Não mencionei que estava faltando um no momento. Meu pai disse que deveria crescer quando eu estivesse pronto para procriar, embora tenha ficado bravo porque eles o removeram. — Mas você quer acasalar com ela? Pensei sobre isso. Eu queria tocá-la novamente. Queria sentir seu cabelo e provar o sabor de sua pele através dos meus tentáculos. Queria sentar e admirar as curvas de seu corpo e explorar cada centímetro dele. Isso não era como o instinto de acasalar que eu lembrava vagamente de antes de ser transformado. Era algo totalmente diferente - um sentimento de que ela estava certa. Que se encaixava em mim, embora nossos corpos fossem tão diferentes. O desejo de criação era secundário. — Eventualmente. Se ela quiser, eu gostaria de acasalar com ela, mas ainda a quero como uma companheira, mesmo que nunca dê a ela minha semente. Thrax permaneceu em silêncio por tanto tempo que me perguntei se ele tinha ouvido minha resposta. Sua linguagem corporal não revelou nada. Quando ele finalmente falou, suas palavras saíram lentamente, como se estivessem sendo puxadas para fora dele à força. — Se esta fêmea é realmente aquela com quem deseja acasalar, verei se Claire pode me dizer como você poderia ganhar sua aceitação.


Não me ocorreu me preocupar com a aceitação dela, mas percebi imediatamente que deveria. Estive tão focado em encontrar uma companheira que não pensei sobre o que significava ter uma. Certamente não queria uma companheira que me olhasse com terror ou se esquivasse do meu toque. Queria que ela olhasse para mim do jeito que Claire olhava para Thrax. — Claire me ajudará? Ele me estudou com olhos duros. — Eu duvido. Ela não ficou muito feliz com você depois que você a assustou ao tentar me matar. Talvez eu tenha sido um pouco precipitado em agarrar Thrax. Certamente não foi o melhor primeiro encontro. Na verdade, meu histórico com os primeiros encontros não era muito bom. — Existe alguma maneira de convencê-la? — Não neguei sua acusação. Posso ter pensado em apertar um pouco forte demais, mas apenas se ele provasse ser uma ameaça muito grande. Ou parecesse muito saboroso. Ele ficou tenso, suas pinças se estendendo novamente. — Você não chegará perto de Claire. Vou lidar com todas as discussões e convincente. Se ela concordar em ajudar, eu o avisarei. — Com sua ameaça silenciosa retransmitida, ele relaxou novamente e se virou como se fosse partir. — Eu voltarei para você, mais tarde. Se precisar de alguma coisa, não me incomode. Basta perguntar àqueles Akrellians. — Ele olhou para uma escultura parada perto dele. — Parece que eles têm muito tempo livre de qualquer maneira. Você pode dar a eles algo para fazer, além de fazerem o que quer que seja.


Eu o observei caminhar em direção à porta, apenas permitindo que meu corpo afundasse de volta na água quando ela se abriu para deixá-lo sair. De certa forma, fiquei com pena de vê-lo partir, porque ele era uma companhia - embora não fosse a companhia mais graciosa. Por outro lado, não estava acostumado a estar perto de pessoas, então a solidão também era boa, principalmente enquanto me aclimatava para um novo ambiente, o que sempre era um pouco estressante. Quando eu estava estressado, meus tentáculos ficavam nervosos. Estar perto de pessoas quando isso acontecia costumava terminar catastroficamente, mas não perdia o controle assim há muito tempo. Ponderei suas palavras enquanto minhas guelras se abriam e meus pulmões entraram em colapso. Eu tinha uma missão importante pela frente. Escolher minha companheira foi a parte fácil. Fazer com que ela me escolhesse seria muito mais difícil. Não achei que uma exibição de bioluminescência a conquistaria como faria com uma das fêmeas da minha espécie. Na verdade, podia apenas evidenciar as diferenças entre nós. Gostava dessas diferenças, achava-as fascinantes e queria explorar seu corpo, mas não podia contar com ela para sentir a mesma curiosidade. Já havia aprendido que nem todo mundo era tão curioso quanto eu, e mesmo aqueles que eram - como meu pai - temperavam sua curiosidade com uma boa dose de cautela. Permitir que eu envolvesse meus tentáculos em torno deles era algo que a maioria das pessoas não considerava sábio. Não sabia o suficiente sobre sua espécie para determinar como interagir com ela, então não tinha escolha a não ser contar com a ajuda de Claire, se ela me ajudasse. Essa ajuda só viria por meio de Thrax, e ele era um aliado incerto. Eu ainda tinha certeza de que ele queria me matar.


CAPÍTULO 5 Joanie Tomei banho por muito tempo. Tanto tempo que quase esqueci meu propósito original. Eu deveria ter me preocupado em usar toda a água quente, mas nos garantiram que a água era reciclada. Não sabia se isso significava que eu estava tomando banho em água de xixi filtrada ou não e nem me importava, porque o vapor e o calor da água limpando a sujeira daquela cela da prisão pareciam quase transformadores. As cicatrizes dentro de mim não iriam embora tão facilmente quanto a sujeira do lado de fora, mas quando finalmente saí da corrente de água e olhei para minha forma pingando no espelho, tive uma sensação de renovação cautelosa, como um tenro botão de primavera saindo do solo estéril após um longo inverno. Seria muito fácil ver a esperança de um novo começo murchar. Eu estava começando do nada, embora de volta à Terra acabei com ainda menos do que nada. Eu tinha dívidas que nunca seria capaz de pagar, resultado de um problema de jogo que não conseguia superar. Na verdade, aqui eu tinha amigos, embora essa amizade estivesse nova e forjada no fogo do trauma e do terror. Mesmo assim, Tarin permaneceu ao meu lado, desfrutando de seu próprio banho, depois esperando do lado de fora das cabines para me ajudar com meu cabelo - pela primeira vez em séculos, permitindo-me pentear a bagunça e me livrar de todos os emaranhados. Demorei muito para fazê-lo obedecer e invejei o corte curto de duende de Tarin. Enquanto trabalhávamos no meu cabelo, Tarin e eu conversávamos e, embora evitássemos o que passamos no cativeiro, tínhamos muito o que discutir. Estava grata por termos dito a Krea que precisávamos atrasar um


pouco nossa viagem para o porão. Eu não gostaria que nossa escolta ficasse esperando enquanto nos limpávamos. Os Akrellianos foram gentis o suficiente em fornecer macacões para usarmos para substituir os vestidos horríveis que tínhamos sido forçados a usar na instalação. Os macacões eram feitos de um material elástico e colavam-se ao corpo. Tarin ficou constrangida, temendo que ela fosse grande demais para usar tal coisa, embora achasse que ela parecia perfeita. Eu gostaria de ainda ter minhas curvas, mas tinha perdido tanto peso durante o cativeiro que minhas costelas apareciam, mesmo através do material sedoso do macacão. Eu não conseguia acreditar que havia passado tanto tempo antes de ser capturada obcecada com meu peso e observando o número na balança como um falcão. Agora, só queria ficar como costumava ser, em vez de olhar no espelho para uma estranha, uma com bochechas fundas e olheiras sob olhos castanhos assombrados. — Você parece uma supermodelo. — Disse Tarin, seu reflexo se juntando ao meu no espelho. — Como uma daquelas mulheres chiques nos anúncios de perfume. Estou com tanto ciúme. — Ela disse isso com um sorriso pesaroso enquanto puxava o tecido abraçando suas próprias curvas generosas. Eu me abstive de dizer a ela que estava perto do tamanho dela quando fui levada e que essa nova versão da minha aparência me assustava, porque me lembrava muito o que eu tinha passado. Como se a visão das minhas costelas lembrasse ao meu corpo que não era bem alimentado há muito tempo, a fome rasgou minha barriga naquele momento e agarrei meu estômago enquanto ele rosnava alto. — Você acha que eles têm um Buffet à vontade a bordo? Tarin suspirou.


— Isso com certeza seria bom. Ou aquela banheira de hidromassagem com margarita que você mencionou. Eu com certeza gostaria de um pouco disso. — Batatinhas e molho! Deus, eu quero um pouco de batata frita e molho! Ela esfregou o estômago. — Eu poderia comer um pouco de bife de frango frito com ovos. Nossos estômagos roncaram em uníssono. — Tudo bem — eu disse, rindo enquanto a fome ainda me consumia. — Precisamos parar de falar sobre isso e começar a caçar um pouco de comida. Tarin ergueu a mão para o tradutor, pressionando o botão que abria a comunicação com a equipe. — Vamos fazer isso.

A escolta nos levou a uma pequena sala de jantar que era tão chique quanto qualquer coisa que se pudesse encontrar em um navio de cruzeiro. A arte vista no resto do navio era ainda mais prevalente aqui e, além disso, havia hologramas de belas mulheres Akrellianas balançando ao som de música primitiva em vários cantos. Percebendo o foco da minha atenção, nossa escolta gesticulou para os hologramas. — Música e dança para ajudar nossos clientes a relaxar e descontrair. Quando adicionamos beleza à função, arte à recompensados pelo Dançarino com paz e serenidade.

utilidade,

somos


Admirei os dançarinos um pouco, desejando poder imitar os passos com tanta graça quanto as mulheres alienígenas faziam, antes de seguir nossa escolta. Ainda não tínhamos aprendido muito sobre nossos novos anfitriões, além de que eles queriam ser flexíveis, e tínhamos que agradecer a Claire e Thrax por isso. Eles encontraram algo que os Akrellianos realmente queriam - uma lista de nomes de guerreiros Akrellianos raptados pelos Iriduanos, que serviu como prova de Iriduanos quebraram algum tipo de tratado que os colocaria em maus lençóis. Tudo o que realmente queria entender era que eles eram os inimigos do meu inimigo. Se eu não estivesse tão oprimida por todos os novos detalhes sensoriais vindo até mim, e todas as novas informações que eu aprendi - e ainda tinha que aprender - eu estaria enchendo a escolta com perguntas. Do jeito que estava, só queria comer e conversar com Tarin sobre a Terra, relembrando partes de nossas vidas, as partes que não continham nenhuma bagagem emocional. Restaurantes que adorávamos, lojas que comprávamos com frequência, até mesmo nossos produtos de limpeza e beleza favoritos. A comida era abundante e muito melhor do que o buffet. Não reconheci as texturas e os sabores eram novos e saborosos, mas não deixei que a falta de familiaridade me impedisse de comer até que tive medo de explodir de estômago cheio. Só quando me sentei na cadeira, esfregando minha barriga protuberante, Tarin tocou no assunto que eu vinha evitando. — Você acha que eles vão nos levar de volta à Terra? Eu não tinha uma resposta para isso. Claire teve uma longa reunião com o Comandante Tirel depois que fomos levados para nossas cabines, então ela já devia saber quais eram os planos dos Akrellianos, mas eu ainda estava me recuperando de repente de me encontrar livre da terrível rotina


que fui forçada no cativeiro. Não tive tempo para pensar muito sobre o futuro, a não ser para perceber que não tinha muito um na Terra. — Não tenho certeza se voltaria para casa, se tivesse outra opção, para ser honesta. Os olhos de Tarin se arregalaram e ela se inclinou sobre a mesa. — Você está falando sério? Você não quer ir para casa? Você desistiria de todas as coisas que ama na Terra? — Ela ergueu um copo quase vazio de algum tipo de vinho leve e estranho aos lábios. — Eu mataria por um latte de especiarias de abóbora! Claro, eu sentiria falta dessas coisas, mas a maioria delas eu não podia nem pagar mais. Não perderia o trânsito terrível, o calor opressor do deserto, as multidões intermináveis de turistas na Strip ou a tentação sem fim das máquinas caça-níqueis e mesas de blackjack, e não tinha dinheiro para me mudar de Las Vegas, embora, para vencer meu vício, provavelmente teria que me mudar para o outro lado do país para fugir da tentação. Tarin havia mencionado sua família brevemente. Eles eram um grupo grande e turbulento e ela tinha três irmãos. Os pais dela estavam vivos e estavam casados há anos. Ela também tinha uma grande comitiva de amigos e, considerando o quão atenciosa ela era comigo, não fiquei surpress que fizesse amigos facilmente. Eu não tinha feito amigos tão facilmente. Tinha vergonha da minha vida nômade quando criança e escondia a verdade das outras crianças da minha escola, tornando difícil construir amizades verdadeiras. Como adulta, minhas lutas com o jogo arruinaram mais de uma amizade e outros problemas acabaram com meu breve casamento. No final, a morte da minha mãe em um acidente de carro com um motorista bêbado me enviou para


uma espiral autodestrutiva, arruinando todo o progresso que fiz na luta contra o vício do jogo. Depois disso, evitei totalmente relacionamentos íntimos, passando a maior parte do tempo em um cassino ou outro, até não ter mais nada a penhorar e ninguém que me emprestasse mais um centavo. Dirigi para o deserto uma noite em um carro alugado com uma barraca nos fundos e apenas comida para alguns dias. Pensei em lutar contra minha compulsão de ir ao cassino me escondendo longe o suficiente das luzes brilhantes de Las Vegas. Se eu pudesse quebrar esse ciclo, talvez pudesse recompor minha vida, conseguir meu emprego como gerente de apartamento de volta, talvez finalmente conhecer alguém legal e, finalmente, ter um verdadeiro lar. Mas o impossível havia acontecido. Eu tinha visto um disco voador, não acreditando em meus olhos até que fui sugada por seu feixe de luz. Essa não era uma memória que eu queria voltar. Um daqueles campos minados de memória que precisava evitar. — Voltar para a Terra não seria o mesmo para mim como seria para você. Não tenho ninguém esperando por mim lá. Não gostei da expressão de pena em seus olhos, mas não me afastei quando ela pousou o copo e colocou a mão sobre a minha na mesa. — Ei, escute. Eu sei que acabamos de nos conhecer, mas você e eu somos amigas, entendeu. Depois do que passamos, pode-se esperar uma amizade instantânea. Se você não quer voltar para sua casa, seria bem-vinda na minha. — Seu sorriso era triste, como se até ela entendesse que voltar não seria o mesmo que se ela nunca tivesse sido levada em primeiro lugar. — Vou precisar de alguém para conversar que entenda o que passei. A maioria das pessoas pensará que estou louca se eu contar que fui abduzida por alienígenas.


Apreciei suas palavras e o sentimento por trás delas. Eu senti uma conexão com ela e as outras mulheres, baseada unicamente no fato de que tínhamos experimentado o que passamos juntas. Mas não era o suficiente para voltar para a Terra e ficar com minha nova amiga de abdução. Eu queria algo que nunca havia encontrado na Terra e, como estava aqui na galáxia mais ampla, poderia muito bem procurar aqui. — O que você acha de Claire e Thrax? Ela pareceu confusa por um momento sobre a minha mudança abrupta de assunto, mas quando ela processou minhas palavras reais, uma expressão fugaz de nojo cruzou seu rosto. — Estou tentando ter a mente aberta, mas não entendo. — Ela encolheu os ombros. — Acho que gosto dos meus homens um pouco mais... humanos. Fiquei estranhamente desapontada com a resposta dela. Ainda não tinha certeza se entendia o fascínio de Claire por um companheiro alienígena, mas queria que Tarin o validasse, por algum motivo. Como se isso deixasse tudo bem para mim... Para o quê? Encontrar um companheiro estrangeiro para mim? Eu já tinha decidido que estava disposta a tentar, mas havia mais na minha necessidade de ouvir que o relacionamento de Claire e Thrax era aceitável. Thrax não era apenas mais um alienígena. Ele era assustador - o tipo de criatura que você esperaria de um pesadelo. Mesmo os Akrellians por mais estranhos que fossem - tinham características um tanto humanóides. Dois braços, duas pernas de aspecto humano, dois olhos, um nariz, uma boca com lábios iguais aos nossos. Caramba, as mulheres pareciam quase mulheres bonitas sem cabelo e com algumas escamas photoshapadas nelas. Thrax era um assunto completamente diferente, embora, na verdade, não estivesse realmente preocupada com ele. Eu ficava pensando em outro


alienígena - um tão monstruoso quanto Thrax. Quando Nemon me segurou em seus tentáculos durante nossa fuga, eu senti o quão poderoso ele era. Encarei seu belo rosto de estrela de cinema, olhei em seus olhos misteriosos e senti uma sensação de excitação que não sentia há muito tempo. Havia um risco aí. Risco de perder tudo - como minha vida - mas também a chance de ganhar a sorte grande se fizesse a aposta. — Você não acha que ela parece feliz com ele? Tarin encolheu os ombros. — Eu não tive muito tempo para observá-los, mas claro, Claire parece que ela está realmente interessada nele. É difícil para mim imaginar. — Você... Há alguém esperando por você em casa? Ela não mencionou ninguém em sua vida romanticamente, mas isso não significava que ela não tinha alguém. Ela fez uma careta, balançando a cabeça. — Tive um namorado. As coisas não deram certo. — Seu tom sugeria que ela não queria discutir detalhes. Eu poderia respeitar isso. Algumas coisas eram melhor deixadas enterradas. Queria ir para o porão molhado e ver se Nemon era tão assustador e emocionante como eu me lembrava. Talvez vê-lo novamente acabaria com essa estranha fantasia que tinha dele. Ao mesmo tempo, estava com medo de ir, porque se a visão apagasse minha fantasia, eu não teria mais nada. — Você não acha que poderia ser feliz com um alienígena? A risada curta de Tarin carecia de humor. — Olha, depois dos homens com quem namorei, estou disposta a olhar além da Terra em busca do Sr. Certo, mas se ele tiver pinças e asas como


um inseto, estou fora de lá. — Ela estremeceu. — Não diga isso a Claire, mas os insetos me assustam. — Então é só Thrax que você não consegue ver como um companheiro. E sobre — eu hesitei, sentindo-me estranhamente relutante em colocar a ideia em sua cabeça de que Nemon era potencialmente atraente como um companheiro. — O que aconteceu com os outros alienígenas que vimos? Ela me lançou um olhar cúmplice. — Você quer dizer aquele com tentáculos, certo? — Ela riu com humor genuíno do meu pesar — Vamos, posso dizer quando alguém está sondando. — Ok, tudo bem. Você me pegou lá, mas o que você acha? — Oh, querida, a metade superior dele é absolutamente deliciosa. Eles não tornam os homens tão bons na Terra. O problema é quando você chega abaixo da cintura. Acho que não conseguiria lidar com tudo isso. Além disso, ele é enorme. Quando o vimos pela primeira vez, ele tinha cerca de três metros de altura e estava com seus tentáculos ainda se debatendo. Eu nem sei sua altura da cabeça às pontas, mas como você colocará alguém assim em uma casa de fazenda suburbana com uma cerca branca? Eu realmente não tinha considerado a logística. Nemon era muito grande. Monstruosamente. Thrax estava pelo menos dentro de uma faixa de tamanho humano, embora tivesse que ser um ser humano muito grande. Ainda assim, Nemon havia conseguido caber na nave e assumi que ele cabia nas portas e corredores para fazer o seu caminho para o porão, então não era completamente impossível para ele se locomover em espaços normais de tamanho humano. Suspirei, perguntando-me o motivo de estar trabalhando tão duro para me convencer de que funcionaria com ele. Eu era realmente uma idiota por um rosto bonito? — Ele tem um cabelo bonito. — Disse Tarin, piscando para mim.


Ele tinha um cabelo bonito. Eu me perguntei se essa parte dele parecia humana. — Então, se ele fosse menor com menos tentáculos, você iria atrás dele? — Por que você está me perguntando, se o quer para você? — Ela ergueu a mão livre quando abri a boca para protestar. — Ei, não precisa negar. Eu não estou julgando. Para ser honesta, nem deveria julgar Claire e seu homem. Não posso culpar todas vocês por procurarem um porto seguro depois de serem capturadas e presas naquele lugar e não acho que muitos as ameaçariam se aquele alienígena os protegesse. — Ela olhou ao redor da sala de jantar, seu olhar pousado em alguns dos clientes e garçons Akrellianos que estavam nos mantendo uma distância respeitosa. — Para ser honesta, eu acho que quanto mais vivo com a ideia de que alienígenas existem, mais fácil eu acho que estou me apaixonando por um. Esses Akrellians, alguns deles são meio gostosos, se você puder ignorar as escamas e os espinhos. — Mas você ainda quer ir para casa. — Eu não estava perguntando. Ela já tinha deixado claro que ela tinha muito para voltar. Ela assentiu. — Acho que sou muito chata para viver entre as estrelas. Anseio pelo conforto da Terra e de minha família e amigos. Vou voltar e me estabelecer um dia com um cara humano legal e normal. — Ela olhou para sua taça de vinho quase vazia com uma ligeira carranca vincando sua testa. — Desta vez vai se tornar apenas uma memória, mas se você decidir ficar aqui, sentirei sua falta. Suspirei, perguntando-me quando tinha perdido completamente minha mente. Claro, estava diminuindo pouco a pouco durante meu cativeiro, mas mesmo quando fiquei quase histérica durante nossa fuga, tive certeza de


que ainda permanecia lúcida. No entanto, agora eu estava falando como uma colegial sobre uma paixão, só que minha paixão tinha tentáculos e um endereço galáctico. Eu deveria tentar encontrar uma maneira de voltar para a Terra, com Tarin e talvez Theresa - eu tinha quase certeza de que Claire não deixaria Thrax e a Terra não poderia lidar com ele - então eu poderia me concentrar em juntar os restos de minha vida novamente. Só a ideia de fazer isso me deprimia e a ideia de ver Nemon novamente me excitava.


Capítulo 6 Joanie Quando pedi a Tarin que fosse comigo ao porão depois do almoço, ela não hesitou nem perguntou se eu tinha certeza. Depois de nossa conversa, acho que ela pode ter ficado tão curiosa quanto eu para vê-lo novamente, embora esperasse que não fosse pelo mesmo motivo. Um novo membro da tripulação Akrellian nos acompanhou até o porão e senti a familiar reviravolta de antecipação e medo que sempre sentia antes de fazer uma aposta, enquanto estávamos em frente à porta de correr, esperando que nossa escolta se comunicasse com a tripulação do convés sobre como desbloqueá- lo. Fiquei um pouco irritada por eles o terem trancado como um prisioneiro. Disseram-me que ele era um aliado, e ninguém deu uma razão para não confiarmos nele, a não ser simplesmente o que ele era capaz. Claro, não era minha nave e talvez se eu fosse responsável por uma tripulação inteira, teria tomado as mesmas precauções com alguém como Nemon. Quando a porta finalmente se abriu, liberando o ar úmido perfumado com o perfume terroso de flores e folhagens, demos os primeiros passos no porão. Eu estava esperando um porão de carga, como o que estava quando tomei conhecimento de estar em uma nave. Isso não era nada assim. Em vez disso, era um parque interno do tamanho de um depósito, todo com passarelas pavimentadas e grandes plantações de vegetação pontilhadas ao lado de vários lagos, com uma enorme piscina no centro. Nossa escolta gesticulou para a porta enquanto passávamos por ela. — O porão foi temporariamente fechado para os membros da tripulação em respeito à privacidade de nosso novo passageiro. — Ela


então acenou com os braços para abranger a bela paisagem. — Normalmente é um gramado onde os membros da equipe podem vir e relaxar durante o tempo de inatividade. Agora, todas as atividades recreativas foram transferidas para o verde de estibordo — seus olhos reptilianos se arregalaram quando ela olhou para a grande piscina. — Não que alguém esteja reclamando, é claro. Ela não se aproximava da grande piscina, e isso foi o suficiente para me dizer onde Nemon estava. Em vez disso, a escolta permaneceu perto da porta, apontando vários locais no porão úmido com um monólogo rápido que não fazia nada para esconder o quão nervosa ela estava. Notei que dois guardas armados se moveram para o lado de dentro da porta e também estavam fixando sua atenção na piscina central. Eu realmente não poderia culpá-los. Tinha certeza de que estava tão assustada quanto eles. A última vez que entrei em contato com Nemon foi uma experiência assustadora. No entanto, também estava ansiosa para me aproximar daquela piscina cintilante de água e olhar para as profundezas, estudando o fundo de cascalho que mal conseguia ver de onde estava. Tarin hesitou quando me aproximei da piscina. Acenei de volta, lançando-lhe um olhar tranquilizador antes de voltar minha atenção para a água. — Está bem. Eu vou sozinha. Não acho que ele vai me machucar. — Não havia razão para eu ter certeza disso - e eu não tinha - mas senti que ele já teve a chance de me machucar e não a tinha aproveitado, então eu estava disposta a dar a ele o benefício da dúvida desta vez. — Tenha cuidado, Joanie. — Sibilou Tarin, parecendo que ia agarrar meu braço e me puxar para fora da porta. Balancei a cabeça, sem realmente prestar atenção a ela, muito focada no que estava à minha frente para notar qualquer outra coisa. Mesmo o


céu holográfico que foi projetado no teto arqueado não chamou minha atenção por mais do que um breve olhar de admiração. Cada passo que me trazia para mais perto da piscina me deixou mais tensa, até que pude sentir a dor na parte superior das costas e pescoço devido aos músculos tensos de medo. Ao contrário do meu medo, nada saltou sobre mim das profundezas da piscina, e fui capaz de alcançar a borda dela e espiar dentro da água. Engasguei quando observei a visão abaixo de mim. Os tentáculos de Nemon se espalhavam ao longo do fundo da piscina, agarrando-se à superfície de seixos, curvando-se nas pontas para que pudesse ver a parte inferior pálida deles com suas ventosas - o tamanho das quais parecia diminuir junto com o tamanho do tentáculo se estendendo da membrana e afilando até as pontas muito mais estreitas. Eles eram tão longos que ocupavam a maior parte do fundo da grande piscina, mas pela primeira vez, não estavam se movendo e eu fui capaz de contar sete deles se espalhando a partir da membrana que começava em sua cintura. A parte superior de seu corpo balançava hipnoticamente para frente e para trás por causa de uma corrente subaquática. Seus cabelos longos flutuavam ao redor dele e, mesmo enquanto eu observava, sua cor mudou com a corrente, imitando o fundo da piscina. Seus olhos misteriosos estavam fechados, mas seu rosto estava voltado para cima, então eu podia ver a perfeição de suas feições. Ele realmente era lindo, com maçãs do rosto salientes, lábios finamente esculpidos e uma testa elegante. Talvez seu rosto fosse refinado demais para o meu gosto, já que eu preferia homens mais rudes e ele tinha a aparência de um aristocrata bem-educado. Suas orelhas pontudas o faziam parecer um elfo e um deles tinha um tradutor ligado a ele que era semelhante ao meu.


Lembrei-me de seus olhos, que haviam dominado minha memória de seu rosto. Eles eram de um cinza muito claro, quase branco, e tinham uma pupila preta de formato estranho, redonda no centro, mas alongada abaixo desse centro redondo, como uma fenda. Eu nunca tinha visto olhos assim antes e davam uma qualidade atraente ao seu rosto quase bonito demais. Meu olhar se arrastou de seu rosto para a parte superior de seu corpo, que era magnífico. Admirei os declínios, curvas e protuberâncias dos músculos, estudando os bíceps que se agrupavam densamente na parte superior de ambos os braços, depois os antebraços fortes que terminavam em mãos grandes com dedos palmados em garras. Olhei para trás em seu rosto e cambaleei para trás quando vi que seus olhos estavam abertos e olhando para mim, em um olhar tão intenso quanto eu me lembrava. De repente, Tarin estava ao meu lado, agarrando meu braço para me puxar para trás. — Joanie, você está bem? Eu gentilmente encolhi os ombros, apreciando sua preocupação, mas não querendo deixar a piscina ainda. — Estou bem. Fiquei surpresa que ele... — Minha voz sumiu enquanto ele saía da água, parecendo para o mundo todo como um deus do mar enquanto água fluía de seu corpo impressionante. Ouvi Tarin sussurrar admirada atrás de mim enquanto me aproximava da piscina. Nemon se acomodou com apenas a parte superior do corpo quebrando a superfície da água, o que me deixou um pouco mais alta do que ele na beira da piscina. Sua pele e cor de cabelo mudaram de bronzeado e castanho - o que permitiu que ele se misturasse às pedras abaixo dele - para cores que quase combinavam com meu próprio cabelo e tom de pele. Só que seu cabelo não era do meu castanho-rato, mas de uma


cor castanha quente, e sua pele não parecia lavada e pálida como a minha, mas com um bronzeado que a minha deveria ter, se eu não tivesse passado meses em cativeiro longe de qualquer luz natural. — Legal — respirei, realmente não pretendendo falar em voz alta. — A água está mais fria do que o ar, na verdade. — Disse ele, falando um idioma que eu não entendia, mas que meu tradutor aparentemente entendia. Sua voz era rica e profunda, mas o brilho de dentes afiados revelados quando seus lábios se moviam era um pouco enervante. — Uau! Estou realmente fazendo isso. Estou falando com você. Ele inclinou a cabeça, observando-me com aqueles olhos que tanto me enervaram quanto me animaram. — Não é por isso que você veio aqui? — Ele gesticulou com uma mão para o aperto parecido com um parque ao nosso redor — Ou veio apreciar a vista? Eu não tinha certeza se ele estava sendo sarcástico ou fazendo uma pergunta genuína. Não pude perceber pelo tom de sua voz. Ele respondeu minha pergunta com suas próximas palavras. — Os Akrellians dizem que este é um lugar de descanso para sua tripulação. É provavelmente por isso que você está aqui. — Ele afundou na água como se estivesse me dispensando. — Não! — Eu me aproximei da borda da piscina, colocando-me perto o suficiente de Nemon para que eu pudesse tocar a parte dele que permanecia fora da água, que naquele ponto era apenas o topo de sua cabeça e seus olhos, enquanto eles continuavam a me observar — Eu vim aqui para ver você. Ele ergueu a cabeça para fora da água, o cabelo flutuando sobre os ombros, brilhando enquanto mudava de cor com as ondulações da água, imitando o jogo de sombras e luz sobre a superfície da água.


— Thrax me disse que você estava com medo. Que não viria para mim por conta própria. E quem era Thrax para decidir esse tipo de coisa por mim? Na verdade, por que eles estavam falando sobre mim? Embora, fosse meio interessante que eu tivesse sido o assunto da atenção de Nemon. — Estou com medo. Nunca fui muito boa em ouvir meu lado mais sensível. Ele se levantou um pouco mais para fora da água, mais uma vez revelando a pele brilhante de seu corpo rasgado. A água batia na primeira fileira de seu pacote de tanquinho perfeito. Fiquei distraída de seus olhos por um momento. Ou talvez dois. Ou dez. — Eu nunca machucaria você. — Ele disse tão suavemente que tive que voltar minha atenção para seu rosto para ver se ele tinha falado, ou se eu apenas tinha imaginado. — Você me engoliu naquela prisão infernal em que estávamos. — Recuei, lembrando-me daquele momento, quando tive certeza de que minha morte estava sobre mim. Eu tinha sentido uma sensação de fatalismo na época, sabendo que pelo menos seria o fim da dor, mas agora estava mais ansiosa para viver. As pontas de vários de seus tentáculos se enrolaram para fora da água, quase como se estivessem tentando me alcançar. Dei alguns passos para trás, esbarrando em Tarin, que estava olhando para o peito de Nemon com muito mais fascínio do que medo. Ele olhou para seus próprios tentáculos e os puxou de volta para a água. Então ele olhou para mim e eu pude ler a confusão em seu rosto. — Engoli você? — Ele tocou os lábios bem torneadas com as pontas de garra dos dedos de uma mão. Eu me perguntei como seria tocá-lo. Ele se


sentia como um homem, ou sua pele era lisa e viscosa, como uma criatura do mar. — Minha boca está aqui. — Seu tom soava como se ele estivesse se lembrando desse fato tanto quanto apontando para mim. Ele baixou a mão. — Eu não estava engolindo você. Estava tentando protegê-la das armas do Akrellian. Dentro da minha membrana, protegida pelos meus tentáculos, você teria menos probabilidade de ser perfurada se eles começassem a atirar. Sua explicação colocou uma perspectiva totalmente nova nas coisas. — Por que você se arriscaria para me proteger? — Você é…. — Suas sobrancelhas se juntaram sobre seus olhos estranhos e sua pele mudou através de uma alarmante gama de cores. Seu olhar deslizou para o lado, e poderia dizer imediatamente que ele mentiria para mim. Ele não era muito bom nisso, o que era engraçado, já que suspeitava que ele era excelente em se esconder. — Você foi entregue sob minha guarda. Era meu dever protegê-la. — Sua pele se acomodou novamente, voltando à cor que mais se aproximava do meu tom. Eu não tinha certeza do que queria que ele dissesse, mas fiquei desapontada com sua resposta. Queria saber o que ele estava prestes a dizer que causou tal reação nele. — Então, você estava apenas cumprindo seu dever? Ele acenou com a cabeça hesitantemente. — Sim. Meu dever é protegê-la. Isso me emocionou, apesar da minha decepção. — Quer dizer que você ainda planeja me proteger? Seu olhar voltou para o meu enquanto seu corpo se erguia ainda mais para fora da água até que eu pudesse ver a mudança de homem para monstro em sua cintura.


— Eu sempre vou te proteger. Ouvi Tarin suspirar ao meu lado, lembrando-me que tínhamos uma audiência durante essa troca. Olhei para ela e vi que ela estava olhando com adoração para Nemon. Cutuquei-a com meu cotovelo para chamar sua atenção. Ela olhou para mim e piscou. — Eu sempre vou te proteger, ele diz. Isso é muito sonhador. Olhei para trás, para a escolta e os guardas esperando incertos na porta, sua atenção totalmente fixa em Nemon. — Ei, Tarin. Você acha que poderia nos dar um minuto? Ela fez uma careta de desapontamento, mas seu sorriso ao virar as costas para Nemon e se dirigir para a porta mostrou que ela estava se divertindo com tudo isso. — Não deixe este escapar para fora da rede, garota. Há muitos peixes no mar, mas nenhum tão único. Fiquei envergonhada com a implicação dela e temia que ele pudesse ter ouvido, embora tivesse sussurrado em voz baixa, mas quando olhei de volta para Nemon, ele não deu sinais de ter ouvido seu comentário. Ou isso ou não entendia o significado por trás disso. Senti aquela sensação de vibração e torção no meu intestino que eu costumava ter quando via minhas paixões na escola. Só que isso era muito mais sério. Naquela época, eu gostava de atletas e, como a garota quieta e pobre que só estava na escola particular por causa de uma bolsa, não tive a menor chance de chamar a atenção deles - muito menos mantê-la. Agora, eu tinha o foco de um alienígena e ele jurou me proteger. Depois de tudo que passei, senti que poderia usar um guarda-costas com tentáculos esmagadores de robôs. O fascínio que sentia por ele era algo que lutava, e me perguntei se ele poderia sentir o mesmo interesse por mim.


Agora que Tarin nos dera um pouco de privacidade, fiquei ainda mais nervosa. Não que ele fosse me machucar, porque acreditei nele quando disse que não iria. Ele era péssimo em mentir para conseguir isso. Eu estava nervosa sobre o que dizer. O que se diz a um monstro alienígena com tentáculos? Onde você compra suas calças? — Qual é o seu nome? — Ele me surpreendeu perguntando antes que pudesse encontrar as palavras certas para dizer ou deixar escapar algo desagradável e estúpida, o que era mais provável — Thrax nunca me disse. — Joanie. — Deixei meu sobrenome fora disso. Não fazia sentido trazer à tona memórias que eram uma mistura de boas e más ao mencionálas. Eu certamente não queria ser chamada por ele. — E o seu é Nemon. É um nome interessante. O que isso significa? Ele inclinou a cabeça, formando uma ruga quando suas sobrancelhas se uniram. — Significa? É assim que meu pai me chamou. Ele nunca me disse o que significava. — Oh. — Seu nome é lindo, Joanie. Isso tem significado? Pensei em minha mãe e, como sempre, as memórias carregavam uma picada agridoce com elas. — Minha mãe me chamou de Joanie porque ela gostava muito de programas de TV antigos. Sua expressão confusa permaneceu. — Programas de televisão? Eu exalei em um suspiro. — Oh, garoto. Isso demorará um pouco. — Olhei ao redor da área parecida com um parque que cercava a piscina, espiando um banco à minha esquerda.


— Acho que vou sentar. — Você quer descansar aqui? Você continuará falando comigo, Joanie? Eu balancei a cabeça enquanto me dirigia para o banco, olhando para Tarin para ver se ela estava em uma conversa profunda com nossa escolta. Eles também se acomodaram perto da porta de entrada. Sua expressão mudou de confusão para um largo sorriso, que mostrou muitos dentes de tubarão para meu conforto.


Capítulo 7 Joanie Havia tanto a explicar que acabamos falando de coisas sem importância como programas de TV, em vez de coisas que eu realmente queria saber sobre ele. Nemon tinha uma curiosidade quase infantil e fazia tantas perguntas que lutei para encontrar as respostas. No entanto, apenas um tolo o consideraria sem inteligência. Na verdade, ele era perturbadoramente inteligente, fazendo-me sentir uma idiota quando começou a perguntar como a televisão realmente funcionava. Dizer que apenas ligava e funcionava não foi uma explicação suficiente para satisfazê-lo, mas me permitiu mudar de assunto. Contei a ele sobre a Terra, mas apenas no sentido mais geral, evitando falar sobre minha própria vida. Eu não estava pronta para isso ainda. Esse tópico teria convocado memórias que poderiam ser dolorosas. Então perguntei a ele sobre sua casa e rapidamente percebi que eu não era a única com um passado doloroso. A cor de sua pele mudava ocasionalmente enquanto eu falava sobre a Terra, principalmente quando mencionei os oceanos, mas quando perguntei sobre sua casa, sua pele mudou para imitar seu passado com uma precisão impressionante. Certa vez, um ex-namorado me convenceu a ir a um filme de terror com ele, que apresentava um alienígena que podia desaparecer nas árvores usando camuflagem de alta tecnologia. Você só poderia dizer onde ele estava quando se movia. Tinha sido um filme sangrento e não tinha gostado, mas eu achava aquela camuflagem furtiva fascinante e agora Nemon estava fazendo algo muito parecido. Se eu não estivesse olhando diretamente para ele, teria jurado que ele havia desaparecido.


Talvez minha expressão de surpresa o tenha feito perceber o que tinha feito, porque ele rapidamente mudou sua pele de volta para a cor que parecia ter na minha presença. Como era perto do meu, fiquei lisonjeada em pensar que ele fez isso deliberadamente por mim. — Presumo que 'casa' não seja uma memória feliz? Cores lavaram sua pele, de tons brilhantes de joias a tons de terra suaves e marrons, antes de finalmente se estabilizarem novamente. Ele não encontrou meus olhos. — Eu não tenho uma casa. Pelo menos, não uma de que me lembre bem o suficiente para falar dela como você fala da Terra. Inclinei-me para frente, estendendo a mão para ele automaticamente, como se meu toque pudesse fornecer conforto. Eu estava a apenas um palmo de distância do contato com sua pele antes de hesitar, puxando minha mão para trás. Seu olhar penetrante me observou retirar, e então ele afundou na água até que bateu em seu pescoço e tive que esticar o meu para olhar para ele. Eu me senti culpada por ter feito isso parecer uma rejeição, quando na verdade, era o medo de que, uma vez que eu começasse a tocá-lo, eu não parasse até que o explorasse o suficiente para satisfazer minha curiosidade, e minha curiosidade sobre ele grande. Não achei que uma sessão de apalpação tão cedo em nossa amizade fosse uma boa ideia. Especialmente não com alguém que tinha o potencial de tatear de volta com tantos tentáculos. Embora, quando ponderei como seria, não fiquei tão horrorizada quanto deveria. — Eu sinto muito. — As palavras pareciam inadequadas e eu não tinha certeza do motivo de estar me desculpando - quase tocá-lo, não tocá-lo, perguntar sobre sua casa ou a angústia que ele obviamente sentiu quando eu fiz isso.


— Você não precisa se desculpar, Joanie. Eu não deveria esperar que você me aceitasse tão cedo. Disseram-me que primeiro precisaria da ajuda de Claire. Agora era eu quem estava confusa. Inclinei-me no banco. — Do que você está falando? Você precisa da ajuda de Claire para quê? Ele ficou com aquele olhar evasivo de novo e eu queria dizer a ele que sabia que mentiria para mim, mas não queria que ele soubesse que desvendei suas pistas. Ele pode descobrir como escondê-las. — Eu disse que precisava da ajuda dela? Isso não foi o que quis dizer. Quis dizer que queria a ajuda de Thrax para descobrir onde devo ir agora que as instalações foram destruídas. Ele era um péssimo mentiroso, mas suas palavras tinham alguma verdade que me distraiu de sua prevaricação óbvia. — Você não quer voltar ao seu mundo natal, talvez redescobrir suas memórias? — Eu realmente não queria voltar para a Terra, então isso não foi tão surpreendente. Nem a saudade de todos os trouxe de volta às suas origens. Ele encolheu os ombros embaixo d'água, fazendo com que seu cabelo flutuante girasse em torno dele de forma que obscurecesse o corpo estranho que espreitava abaixo. Eu evitei olhar muito fundo naquela água, não porque estava horrorizada com o que ela escondia, mas porque eu não estava. — Tenho saudades do oceano, mas faz tanto tempo. Lembro que havia perigo constante ali. Focar em permanecer vivo não deixava muito tempo para pensar. Gostava mais do laboratório do meu pai. Quando eles não estavam me mudando, ele me deixou explorar sua tecnologia. Ele disse que era bom eu estar aprendendo tão rápido, embora isso o surpreendesse. Eu levantei a mão.


— Espere, seu pai era um cientista? — Não sei por que isso me surpreendeu. Acho que presumi que ele era um alienígena primitivo porque não usava roupas, mas isso era apenas uma ignorância da minha parte, visto que ele não poderia exatamente vestir um corpo como o dele. Nemon balançou a cabeça. — Chamei-o de pai, mas não foi ele que me deu os fios da semente para tecer a minha vida. Foi ele quem me mudou — ele ergueu uma das mãos para fora da água para gesticular para o rosto — para isso. — Mudou você? — A compreensão me atingiu. — Está certo! Você também ficou preso naquela instalação como um experimento. — Claire tinha mencionado isso, mas eu presumi que Nemon era como eu, uma almofada de alfinetes para seus equipamentos. — Você não está zangado com este cientista que você chama de pai por transformá-lo? Ele baixou o olhar, olhando para a água. — Thrax me fez a mesma pergunta. Eu estou com raiva que ele os deixou me machucar, mas meu pai tentou amenizar. Ele tentou me libertar. Não acredito que teve muito tempo para me ajudar. — Sua pele tremeluziu com a cor, pontos brilhantes ondulando ao longo da superfície antes de desaparecer novamente. — Quando ele me soltou na prisão, parecia que estava com pressa. Disse que eles estavam vindo atrás dele e que se fosse pego, ele não seria capaz de me ajudar mais. Avisou-me para ficar longe das instalações e das máquinas. Quando ele encontrou meus olhos novamente, os dele eram frios, distantes. — Ele disse que voltaria por mim, mas esperei muitos anos naquela água imunda, comendo nada além de enguias, sem nada para ouvir a não ser o eco de minha própria voz. Meu pai não veio e eu parei de acreditar


que viria. Foi isso que me deixou com raiva, mas também temia que 'eles' o tivessem capturado. Eu não sabia o que dizer. Talvez Nemon simplesmente teve um caso de síndrome de Estocolmo e se ligou a seu algoz, ou talvez o cientista que ele chamou de pai realmente teve uma crise ética e percebeu como seus experimentos eram horríveis a tempo de libertar seu sujeito. Isso certamente o deixaria em maus lençóis com seus líderes. Dizer ‘‘sinto muito’’ novamente não seria muito confortável e parecia palavras vazias de qualquer maneira. — Você está bem com a forma como seu pai mudou você? — Eu pensei que seu rosto e corpo eram lindos e os tentáculos - embora demorassem um pouco para se acostumar - eram magníficos por si próprios. E seus olhos... Eles alternadamente me assustavam e me atraíam. Tão estranho, tão diferente, mas ainda podia ver a emoção neles. Nemon olhou para seu corpo e eu desejei poder ver mais dele eu mesma. As ondulações da água causaram uma distorção que ocultou grande parte dele, e seus tentáculos se misturaram completamente ao fundo de cascalho da piscina. — Gosto desta nova forma. É mais rígida do que minha forma de nascimento, mas ainda posso mudar isso se precisar. — Ele tocou seu rosto. — Pareço meu pai aqui. — Então, foi a parte superior de seu corpo que foi alterada. Os... Hmm... Seus tentáculos eram parte de seu corpo original? Ele encontrou meus olhos. — Isso te incomoda, Joanie? Incomodava? Embora eu não pudesse explicar, eu o achei atraente como ele era, embora tivesse aqueles tentáculos, mas parecia estranho reconhecer que ele tinha sido ainda mais um monstro-tentáculo em uma época do que era


agora e percebi porque. As características quase humanas da parte superior de seu corpo me permitiram humanizá-lo até certo ponto. Isso tornou minha atração por ele aceitável para mim. Compreensível. Mas, por baixo da superfície, ele era totalmente estranho. Achei que nunca conseguiria entendê-lo e isso me assustou. E se eu interpretar mal tudo sobre ele porque estava pensando nele como um humano? Seu tom tinha sido quase desafiador, como se esperasse que eu dissesse que isso me incomodava como se ele soubesse que estava em conflito com isso. — Eu acho que demorará um pouco para me acostumar. Na Terra, existe apenas uma espécie senciente. — Dei de ombros. — Que nós sabemos. Então, toda essa coisa de alienígena está explodindo minha mente. — Fiz um movimento com os dedos perto da têmpora para imitar uma explosão. Seus olhos se arregalaram, sua pele mudando através de um arco- íris de cores enquanto ele saía da água tão rápido que eu mal pude piscar antes que seu rosto estivesse a apenas alguns centímetros do meu. Eu vagamente ouvi gritos de alarme e advertência das outras pessoas no porão, mas minha atenção total estava focada em Nemon. — Sua mente está sendo prejudicada? — Ele procurou meus olhos como se pudesse ver pequenas explosões acontecendo atrás deles. — Precisamos encontrar um curandeiro! Não sei como parar com isso! Eu comecei a rir, acenando minha mão atrás de mim para impedir os guardas de correrem contra Nemon. Eu não achei que seria bom para eles, porque em minha periferia, vi tentáculos saindo da água para cercar meu banco. Eles não me tocaram, mas eu meio que queria. — Nemon, é apenas uma expressão. Eu não quis dizer que minha mente está literalmente explodindo. Só quis dizer que estou lutando para compreender tudo o que vejo e ouço e me sinto desequilibrada. Estou bem.


Não preciso de um curandeiro. — Minhas palavras terminaram em uma respiração enquanto eu inalava seu cheiro. Ele não cheirava a peixe ou viscoso. Na verdade, ele cheirava delicioso como um homem. Ele estava tão perto de mim que eu podia ver seus cílios curvando-se longos e exuberantes acima de seus olhos com suas pupilas estranhas. Se me inclinasse um pouco, poderia pressionar meus lábios nos dele. — Garota, talvez leve as coisas um pouco mais devagar — ouvi Tarin dizer em voz baixa, vindo de perto. Um rápido olhar para ela mostrou que seus olhos estavam arregalados e o rosto pálido. Ela estava um pouco além do anel de tentáculos enrolados e girando em torno do meu banco. Seu aviso foi bom. Eu não estava pronta para esse tipo de encontro próximo com um extraterrestre. Ainda estava me recuperando mentalmente, assim como expliquei para Nemon e isso me deixou vulnerável. Também me fez questionar essa estranha atração por ele. Eu gostava de conversar com ele, mas tentava evitar ficar com qualquer um no primeiro encontro, mesmo que tivessem lábios que pareciam feitos para inspirar pensamentos pecaminosos. — Eu... Eu devo ir. Agora mesmo. — Estendi a mão, mas não fui tão longe a ponto de tocar seu peito para afastá-lo. Estava com medo de acabar puxando-o para mim. Minha boca estava seca e meus lábios formigavam de desejo de beijá-lo. Eu temia que ele não recuasse. Que continuaria a me tentar com sua proximidade. Ele provou que tinha mais bom senso do que eu, retirando-se do banco, seus tentáculos mal fazendo barulho ao desaparecerem debaixo d'água. Ele os seguiu, afundando lentamente até que apenas sua cabeça permanecesse acima da superfície.


— Eu gostei de conversar com você. Vou pensar em suas palavras. — Uma breve carranca cruzou seu rosto. — Tem certeza de que sua mente está segura? Eu ri. — Dificilmente, mas não corre o risco de explodir.


Capítulo 8 Nemon Eu não queria assistir a retirada de Joanie. Incomodou-me vê-la se afastando de mim. Meus tentáculos queriam envolvê-la e puxá-la de volta, puxá-la para mais perto em um abraço que não tinha acontecido, mas que tinha sido tão perto. Foi apenas minha decisão de esperar por sua aceitação que forçou meus tentáculos a ficarem imóveis. Eu não a assustaria novamente. Ainda assim, fiquei mais calmo com sua visita e também ganhei esperança de que sua aceitação de mim como companheiro não fosse um sonho tão distante quanto Thrax havia feito soar. Eu queria mais do que tudo explicar que ela era minha companheira, mas senti que teria sido muito cedo e poderia assustá-la. Quando eu estava perto dela - tão perto que podia respirá-la com o ar que puxei para os meus pulmões - eu vi seus olhos se arregalarem, suas narinas dilatarem e seus lábios umedecidos se abrirem. Nada disso foi por medo. Ela olhou para mim com uma expressão quase faminta, mas não acho que ela queria me comer, embora com as fêmeas da minha espécie, o desejo de acasalar e a fome geralmente estivessem juntos, muitas vezes em detrimento dos machos. Claro, eu não tinha experiência com sua espécie. É possível que li sua reação errado, mas quando ela me deixou, não estava fugindo de medo. Disso eu sabia com certeza. Aprendi muito bem o que parecia quando alguém estava fugindo para salvar suas vidas. Afundei no fundo da piscina, curtindo minha nova casa muito mais do que a anterior. A água estava limpa e uma bomba movia uma forte corrente que me confortou. Não precisei permanecer na piscina, mas a limpeza da


água e meu desejo de permanecer escondido dos olhos da máquina dos Akrellianos, mantiveram-me submerso em vez de explorar o parque ao redor da minha piscina. Ficar sentado me deu tempo para pensar no que Joanie havia dito. Todas as coisas que ela disse. Como Thrax, ela questionou meus sentimentos sobre papai. Em vez de me deixar na defensiva, como sua pergunta fez, a pergunta de Joanie me fez realmente considerar como me sentia. Essa consideração trouxe memórias de volta. O rosto do pai, uma imagem espelhada do que eu usava agora. Ele coberto por um brilho de suor, seus olhos - muito diferentes dos meus arregalados de medo enquanto seu olhar ia e voltava, estudando nosso entorno. — Eu fiz você errado, Nemon. Você não deveria estar nesta prisão e não deixarei que continuem a te machucar. Não sabia para onde ele estava me levando, mas achei estranho que não tivesse trazido nenhum dos robôs para nos acompanhar. Ainda assim, eu o segui de boa vontade, porque confiei nele. Ele me fez e me chamou de filho. A vida que tive antes poderia muito bem não ter existido, já que me lembrava tão pouco dela, e nada sobre essas memórias me fazia querer voltar àquele passado. Ele nos conduziu a um grande laboratório e me senti desapontado, mas já estava me preparando para mais injeções e dor. O pai incluiria amortecedores de dor nas injeções. Ele começou a fazer isso depois dos meus primeiros gritos de agonia, depois que a expansão dos meus pulmões recém-formados o fez perceber o quanto estavam me machucando. Mas meu pai não me pediu para subir na mesa, ou mesmo colocar meus tentáculos nela para um estudo mais profundo de meus receptores. Em vez


disso, foi até uma parede, onde havia menos máquinas do que nas outras paredes, e a tocou. Uma costura de porta apareceu na parede e então se abriu. Eu podia ouvir o chiado de ar escapando de um túnel exposto pela abertura. Cheirava a velho e úmido e tinha um gosto horrível. Ele se virou para mim com uma expressão triste. — Sinto muito, meu filho. Ainda não posso tirar você da instalação. Eles a trancaram com força porque sabem que algo está errado. Os depósitos de manutenção são o melhor lugar para você se esconder por enquanto. Lá embaixo há muita água para você nadar. Ninguém usa mais essas entradas. Duvido que tenham se esquecido delas, mas quando eu sair daqui, farei parecer que levei você comigo, então espero que não pensem em verificar lá. Ele não parecia muito confiante em suas próprias palavras, mas gesticulou para que eu entrasse no túnel. — Por que você simplesmente não me leva com você? — Perguntei, embora tenha me aproximado do túnel obedientemente. Ele suspirou. — Porque eu não acho que eles vão me deixar escapar. — Ele olhou por cima do ombro para a porta do laboratório e acenou para a entrada. — Eles vão derrubar uma nave se acharem que há um alvo fugitivo nela. Vão se certificar de que nada permanece. Você será livre, uma vez que eles acreditarem que está morto. Fique longe das máquinas. Você pode se esconder, Nemon. Melhor do que qualquer pessoa que já vi. Portanto, use essa habilidade. Fique escondido. Sempre. Minha agitação fez com que meus tentáculos se enrolassem em seus braços e pernas, como se pudesse arrastá-lo pelos túneis comigo e nós dois pudéssemos escapar desse perigo que o deixava tão assustado e triste. Eu


não queria ficar sozinho. Não queria que meu pai me deixasse. Eu não tinha mais ninguém. — Venha comigo. — Apontei com o braço em direção ao túnel. — Eu te ajudarei a se esconder. Ele sorriu, embora não parecesse uma expressão feliz. Então enfiou a mão no casaco e tirou um bichinho de pelúcia. Eu os reconheci como sendo iguais aos que estavam na área de recreação que meu pai havia feito para mim. Ele admitiu para mim mais tarde que eles não esperavam que eu avançasse em inteligência tão rapidamente, então planejou meu desenvolvimento para ser como o de uma criança. Só depois que tive boca para falar e pulmões para respirar é que meu pai descobriu que eu era senciente antes de eles começarem os experimentos para me transformar. Apesar do meu avanço, os bichinhos de pelúcia eram intrigantes na textura e na composição, assim como muitos dos outros brinquedos que criou para mim. Eu havia explorado cada um por horas com meus tentáculos, depois com meus novos dedos e mãos, até mesmo provando alguns deles com minha nova boca. Brincar com os itens me permitiu ajustar a pressão dos meus tentáculos conforme me acostumava com minha nova forma e o meio do ar. Era melhor do que brincar com robôs ou cientistas. Os brinquedos danificados eram baratos para substituir e os bichos de pelúcia tinham elasticidade suficiente para não serem esmagados. Eu peguei o bicho de pelúcia automaticamente quando ele o entregou para mim, mas quando me disse para guardá-lo para me lembrar dele, eu o embalei contra o meu peito, segurando-o com toda a minha vida, porque percebi que ele não me deixaria segurá-lo. Ele estava me mandando embora sozinho. E sozinho seria como permaneceria.


— Você tem que voltar por mim. — Insisti, recusando-me a soltar seus membros a menos que ele fizesse uma promessa que nós dois sabíamos que não seria capaz de cumprir. Finalmente, ele cedeu, passando uma mão trêmula pelo cabelo. — Vou tentar voltar por você, Nemon. Há um elevador que pode levá-lo para a superfície desde os prédios. Eu não acho que eles se lembrem disso. Ele foi abandonado quando as instalações foram construídas sobre as ruínas da cidade de Simática. Vou usar aquele elevador para encontrar você, e nós dois o usaremos para escapar deste lugar para sempre. — Ele me olhou severamente enquanto empurrava meus tentáculos, tentando sem sucesso desalojar seu domínio sobre eles. — Até eu voltar, você deve se esconder. Fique longe de todas as máquinas, até mesmo das máquinas de manutenção. Se encontrar alguém no subsolo, não chegue perto. Não deixe que vejam você. Todos devem acreditar que você está morto, ou nunca desistirão de caçar você. Eu obedeci a papai sobre as máquinas, mas não fui capaz de resistir às pessoas que encontrei nos prédios. Cheguei muito perto e eles me atacaram. Quando matei dois deles, eles fugiram, mas só depois de me deixar ferido e sem tentáculos. Não os segui para ver para onde eles tinham ido. E papai nunca voltou por mim. No entanto, eu não podia ficar com raiva dele, porque sabia que ele sacrificou tudo - provavelmente até sua vida - para me libertar. Talvez ele esperasse que um dia eu encontrasse o elevador sozinho, mas nem mesmo procurei por ele depois de encontrar as pessoas nos prédios. Eu estava com muito medo. Demorou muito para me curar de suas armas. Depois disso, esconder-me parecia o melhor plano e percebi que deveria ter ouvido meu pai em primeiro lugar.


Enquanto estava deitado

no

fundo

da

minha

nova

piscina,

contemplando minhas memórias, senti a aproximação de alguém grande através da vibração da água a cada passo que ele dava mais perto dela. Eu endureci, abrindo meus olhos quando reconheci aquele passo, embora o dono dele fosse furtivo por si mesmo. No momento em que Thrax alcançou minha piscina, eu já estava esticando meus tentáculos embaixo de mim para sair da água, sugando o ar pelas minhas narinas para inflar meus pulmões, enquanto minhas guelras desabavam para ficarem deitadas contra meus lados. Fiquei surpreso ao ver que Claire estava com ele. Ela ficou ao lado dele, a mão na parte inferior da mão dele, sua expressão incerta enquanto ela olhava para mim. Thrax envolveu um braço sobre seu ombro para puxá-la para mais perto dele enquanto eu devolvia seu olhar curioso. Eu podia sentir sua tensão e tomei muito cuidado para manter meus tentáculos parados. Permitir-me estar tão perto de sua companheira o estava tornando um assassino - ou mais assassino - e eu só podia assumir que tinha sido ideia dela. Ela era suave e bonita, mas nem de longe tão bonita quanto minha companheira, embora pudesse entender por que Thrax a escolheu. Ela tinha olhos amáveis e um queixo determinado. Sua expressão me lembrou de meu pai quando ele arriscou tudo para me libertar. — Você move um tentáculo em direção a ela e morre hoje, Nemon. — Disse Thrax, a pinça em seu braço livre se abrindo enquanto se estendia. Eu reconheci a linguagem corporal ameaçadora, embora a pinça não fizesse muito mais para mim do que cortar um pouco meus tentáculos. Eram os ferrões que estavam ligeiramente saindo de sua cintura que eram minha principal preocupação. Felizmente, eu não quis fazer mal a nenhum deles. Claire suspirou e balançou a cabeça, olhando para ele.


— Essa não é a maneira de falar com seu amigo, Thrax. — Quem disse que somos amigos? — Ele rosnou de volta, nunca tirando os olhos de mim. Ela se afastou dele para dar um passo mais perto de mim e poderia dizer que a única razão pela qual ele a deixou ir foi porque não queria machucála, restringindo-a com força. — Eu digo que vocês são amigos e é hora de começar a trabalhar na confiança. — Ela estendeu a mão para mim. — Meu nome é Claire. Acho que é hora de nos conhecermos formalmente. Thrax estava de repente ao lado dela, tão perto da borda da minha piscina agora que ele poderia ter caído com o menor movimento de seu peso. Desta vez, seus olhos estavam em Claire, mas aqueles olhos pequenos como joias em suas placas faciais ainda estavam apontados em minha direção. — Por que o está convidando para tocar em você? Você é minha companheira. Seus olhos rolaram de um lado para o outro sem focar em nada e eu ponderei o significado de tal expressão enquanto ela falava com uma voz impaciente para seu companheiro. — Thrax, apertar a mão de alguém quando nos encontramos é uma forma humana de cumprimentá-lo. Não significa nada além disso. — Não toque nela. — Disse ele para mim, sem tirar os olhos de nenhum de nós. Ela baixou a mão. — Já que o Sr. Homem das Cavernas tem problemas em dizer olá, vamos apenas conversar sobre por que estou aqui.


— Você me ajudará a ganhar a aceitação de Joanie, então? — Tentei manter meus tentáculos parados, mas era difícil não permitir que eles se erguessem ao meu redor com minha ansiedade. Ela me estudou, ignorando a presença carrancuda de seu companheiro com uma calma admirável. — Bem, eu realmente acho que devemos falar sobre o que o futuro reserva para todos nós primeiro... Eu queria interrompê-la e dizer a ela que tinha ouvido os Akrellianos falando o suficiente sobre o que aconteceria a seguir. Eu sabia que éramos importantes para eles no momento e que me preocuparia com o futuro mais tarde. Agora, eu queria garantir a aceitação de minha companheira para que onde quer que eu fosse em seguida, ela estivesse comigo, mas ainda poderia precisar da ajuda de Claire, mesmo que Joanie tivesse vindo sozinha. Então, fiquei em silêncio, esperando que ela terminasse. Aparentemente inconscientemente, ela estendeu a mão para acariciar os pratos de Thrax, seu olhar ainda em mim. — Mas, eu entendo agora o quão forte é a compulsão para vocês quando encontram seus companheiros. Não quero que ignore tudo o mais que digo que não tenha a ver com Joanie. Eu não podia negar que poderia ter feito exatamente isso, mas algo mais sobre suas palavras chamou minha atenção. — Compulsão? Ela assentiu. — Eu sei sobre o que acontece com os machos Iriduanos e como vocês foram alterados com seu DNA, isso acontece com vocês também. — Ela olhou para Thrax, sua expressão cheia do tipo de devoção que eu queria ver no rosto de Joanie quando ela olhasse para mim. Quando Claire voltou seu foco para mim, seu olhar estava frio novamente, o calor desapareceu de


seus olhos — A questão é que é preciso mais do que um pequeno cheiro de feromônios para fazer uma garota se apaixonar. Você tem que trabalhar nisso, e Joanie já passou por muita coisa, então você não pode simplesmente começar a pedir a ela para acasalar com você. — Ela sorriu para Thrax, que encolheu os braços — Ela precisa de tempo para te conhecer. E você precisa de tempo para conhecê-la também. Eu sei que você não pode escolher sua companheira... Eu tive que interrompê-la lá. — Mas eu a escolhi. Assim que Thrax a deu para mim, optei por aceitar seu presente. Ela é perfeita. Claire mordeu o lábio, chamando atenção para o buraco abaixo dele. — Pobres rapazes. Um cheiro e estão perdidos. Eu não sabia do que ela estava falando. Não foi o cheiro de Joanie que fez minha decisão por mim. Eu só sabia que ela era a companheira certa a partir do momento em que ela abriu os olhos e olhou nos meus, seu medo era palpável, mesmo enquanto me estudava em um silêncio desafiador, esperando por uma morte que eu nunca teria dado. Claire lançou outro olhar para Thrax e este tinha um tipo diferente de calor, o calor da irritação. — É uma pena que os eventos tenham acontecido da maneira que aconteceram. Teria sido bom poupá-lo do amor instantâneo, para que você pudesse ter tempo para conhecer Joanie primeiro. — Alguém tinha que segurá-la. — Thrax não parecia arrependido. Claire acenou com a mão. — É tudo água debaixo da ponte agora. — Ela captou meu olhar em direção à pequena passarela que cruzava minha piscina, perguntando-me o que ela quis dizer sobre a água abaixo dela. Sua risada trouxe meu olhar de volta para ela. — Vocês são muito divertidos quando não entendem nossos ditados. — Ela apontou o polegar para Thrax.


— Ele pensou que eu poderia envolver minha cabeça em torno das coisas como um mecanismo de defesa. A realização me atingiu. — Ditados? É como se o mente explodindo não significasse que sua mente está sendo ferida? Ela colocou a mão na testa. — Oh cara, isso deve ter assustado você. — Ela tentou abafar as risadas com a mão sobre a boca, mas eu ainda as ouvi claramente. Na verdade, agora eu me sentia um bobo, especialmente porque ela estava rindo de mim, assim como Joanie havia rido. Eu compartilhei um olhar de compaixão com Thrax. — Como alguém sabe quando você está falando um ditado? Thrax respondeu antes que Claire pudesse. — Você não saberá até que eles comecem a rir de sua resposta. — Apesar de suas palavras, ele parecia mais divertido do que irritado e suspeitei que isso tivesse tudo a ver com o fato de que ele gostava de ver sua companheira rir, assim como eu amei a maneira como o riso iluminou o rosto de Joanie, mesmo quando senti envergonhado pela falta de comunicação. O sorriso de Claire continuou a puxar seus lábios enquanto ela balançava a cabeça para Thrax. — Todos nós poderíamos usar uma risadinha, mas voltando ao problema em questão — ela voltou seu olhar inquiridor para mim. — Thrax me disse que você é muito perigoso, Nemon. Eu concordei. Não havia sentido em mentir sobre o óbvio. Ela parecia perplexa com a resposta, como se esperasse que eu negasse. — O-kay, bem, isso pode ser um problema. Não quero que ninguém se machuque, especialmente Joanie. Ela passou por um inferno. — Eu levantei


as duas mãos, meus tentáculos torcendo tanto debaixo d'água que começaram a girar em volta da minha cintura. — Eu nunca faria mal a Joanie! Eu posso me controlar agora. — Oh... — Ela olhou para a água agitada, dando um passo para trás enquanto Thrax passava os braços ao redor dela, virando seu corpo para ficar entre nós. — O que exatamente você quer dizer com 'agora'? — Ela olhou em volta do braço de Thrax para que pudesse continuar a me observar enquanto eu lutava para acalmar meus tentáculos. — Houve um tempo em que você não conseguia se controlar? Baixei a cabeça, não querendo admitir nada que pudesse prejudicar minhas chances com Joanie, mas também não queria mentir para Claire, porque suspeitei que se ela não percebesse, Thrax o faria, e não ficaria feliz sobre isso. — Quando fui transformado pela primeira vez, tive que reaprender a usar meu corpo. Às vezes, meus tentáculos respondiam a ameaças percebidas sem meu pensamento consciente. Eles podem ter machucado... Ou matado... Uma pessoa ou duas. — E destruiu muitos robôs. Tantos que meu pai parou de usá-los durante seus experimentos comigo. Ela tentou se afastar de Thrax enquanto a água se acalmava ao meu redor, mas ele não a soltou desta vez, e eu pude ver que seu ferrão do lado dele visível para mim estava totalmente estendido. — Então foi isso quando eles estavam torturando você? Eu ponderei a palavra. Não havia considerado isso uma tortura, apenas um efeito colateral da mudança, mas achei que era extremamente doloroso. Só não gostei de reconhecer o que isso significava sobre aquele que ordenou os experimentos. Aquele em quem confiei e chamei de pai. Ainda assim, Claire parecia simpática, ao invés de angustiada, então eu balancei a cabeça novamente, incapaz de falar as palavras negativas contra


o homem que me criou. Com algumas palavras afiadas para Thrax, Claire fez com que ele a soltasse o suficiente para que ela pudesse ficar ao lado dele novamente, ao invés de dobrada atrás dele. Ele não ficou feliz com isso e pude dizer que ele se moveria muito mais rápido do que eu se pensasse que eu representava uma ameaça para ela. Sua tensão por si só foi suficiente para engrossar o ar entre nós. — Então, essas mortes, não foram realmente sua culpa, Nemon. Você gostou de prejudicar as pessoas? Thrax apontou um dedo acusador para mim e eu vacilei, sabendo o que estava por vir. — Ele ameaçou me fazer mal. Pense sobre isso — ele gesticulou para os espaços onde sua armadura natural parecia já ter se regenerado sobre o peito. — ele me machucou. Claire suspirou, embora a simpatia não tivesse deixado completamente seus olhos. — Isso é verdade. Seu primeiro encontro com Thrax e comigo não foi bom, Nemon. Preciso saber que você não vai machucar mais ninguém. Estou disposta a confiar, mas até agora você já colocou pressão nisso. Os tentáculos esticados que me seguraram para fora da água cederam com meu desânimo, e eu lentamente afundei até que apenas minha cabeça permanecesse acima da superfície. Sob a água, todos os meus tentáculos se enrolaram em meu corpo como se para me proteger de um golpe. — Eu cometi um erro. Eu temia Thrax, mas também queria satisfazer minha curiosidade sobre ele. Eu havia abordado outras pessoas naquela mesma parte do depósito de manutenção, muitos anos antes, e elas me atacaram. Desta vez, eu não queria dar a ele a chance de atacar primeiro. Ela exalou uma respiração pesada.


— Então foi você quem matou aquelas pessoas nas instalações de manutenção. Thrax me encarou com olhos duros, então fiquei surpresa quando ele falou a meu favor. — Isso foi em sua defesa. Não podemos usar isso contra ele. — Ele olhou para Claire. — Além disso, eu teria matado todos eles. Ela esfregou a testa com o polegar e o indicador. — Estamos trabalhando nisso, Thrax. Você não vai mais fazer coisas assim. Agora, quero me concentrar em Nemon. — Ela abaixou a mão e me deu um pequeno sorriso. — Então, as mortes que você causou foram em legítima defesa. Certamente não usarei isso contra você. — Sua expressão quando ela olhou para Thrax era exasperada e afetuosa. — Mas eu preciso saber se a matança parou. — Ela estreitou os olhos, olhando de mim para Thrax e depois de volta. — Para ambos. A matança não pode acontecer novamente, a menos que vocês tenham que se defender. Thrax segurou seu braço, puxando-a para perto. — Eu ainda matarei por você, Claire. Você não pode me pedir para abster-me de protegê-la. — Vou matar para proteger Joanie. — Acrescentei, apenas para que fôssemos claros sobre isso. Eu não podia jurar nada, a menos que essa fosse uma condição. Claire ergueu a mão livre. — Está bem, está bem. Sem matar, exceto quando for defender ou suas companheiras. — Ela mordeu o lábio antes de acrescentar — ou seus amigos. Thrax cruzou os braços sobre o peito. — Eu não tenho amigos. Claire fez a coisa estranha rolando com seus olhos novamente.


— Oh, desista, Thrax. Goste ou não, você e Nemon são amigos agora. Ele olhou para mim. — Eu não gosto disso. Não conseguia me lembrar de ter um amigo antes. Só havia papai. Os outros cientistas me temeram depois que matei alguns deles e os robôs não conseguiam pensar por si próprios. Antes de ser transformado, eu só me lembrava vagamente de passar a maior parte do meu tempo sozinho, focado em sobreviver, escondendo-me dos monstros maiores que vagavam pelo oceano procurando por presas como eu. Outros de minha espécie foram ameaças e competição, então foram evitados, a menos que fosse hora de acasalar. Não era Thrax quem eu poderia ter escolhido como amigo, mas parecia que a escolha tinha sido feita por mim, porque Claire queria. Eu sabia que Thrax faria o que ela quisesse. Senti o mesmo em relação a Joanie.


Capítulo 9 Joanie Pesadelos me tiraram do sono e acordei em uma cela escura. O desespero me encheu enquanto as paredes se fechavam, ameaçando me esmagar, mas eu temia ainda mais o que estava além. Os robôs, as agulhas, a dor. Quando a consciência voltou, percebi que estava sentada em minha cabine designada em um navio Akrellianos, balançando para frente e para trás na cama com os braços em volta dos joelhos. As lágrimas umedeceram minhas bochechas e encharcaram a gola do macacão que eu usava. Lentamente, soltei minhas mãos e estiquei minhas pernas, olhando para os meus dedos nus como se estivessem separados de mim. Debaixo da cama, um par de botas esperava ser calçado. Coloquei-o em segundos e alcancei a porta em apenas alguns passos antes mesmo de reconhecer para onde queria ir. Tudo que eu sabia no início era que não poderia permanecer naquela cabine minúscula, onde parecia que não conseguiria respirar o suficiente. Fora da cabine, meus passos eram seguros enquanto engolia arfadas agradecidas de ar reciclado. Cheirava a maquinário e plástico e não importava quanto trabalho de design geométrico e estilístico adornasse o corredor, a natureza utilitária desta parte do navio não podia ser completamente escondida. Felizmente, eu não ficaria nesta parte do navio. Quando cheguei ao elevador, usei minha impressão da mão para destrancá-lo. Os acompanhantes nos mostraram todas as áreas que tínhamos permissão para ir e as conectaram à nossa biometria. Eles confiaram em nós apenas na medida do possível para nos fazer sentir como hóspedes e não como


prisioneiros, mas mesmo assim foi o suficiente. Era bom não ter alguém pairando sobre meu ombro o tempo todo. Eu tive o suficiente disso com os robôs sempre me acompanhando. Andar sozinha parecia um luxo. No elevador, tive permissão para fazer minha seleção e o holograma iluminou-se para o convés de espera. Preparei-me para o movimento do elevador, mas era tão suave e silencioso que as portas se abriram no corredor que levava ao meu destino antes que eu percebesse que ele havia se movido. Saí do elevador, meus passos hesitantes pela primeira vez desde que deixei minha cabine. Não havia ninguém comigo desta vez para me encorajar ou pedir mais cautela. Congelei alguns passos de distância da porta trancada no porão molhado, sentindo os olhos das câmeras de segurança escondidas registrando minha indecisão. Pelo menos o Primeiro Comandante havia realocado os guardas para que não ficassem parados perto da porta. Fiquei surpresa com sua decisão, mas então lembrei que esta área estava atualmente fora dos limites para sua tripulação e havia uma câmara de descompressão que poderia isolá-la do resto do navio. Se Nemon ficar fora de controle, os Akrellianos poderiam prendê-lo e até desligar o suporte de vida para ele. As únicas pessoas permitidas nesta área sem a aprovação prévia do comandante foram aqueles que os Akrellianos consideraram amigos de Nemon. Mas éramos amigos? A palavra não parecia adequada para descrever qualquer tipo de relacionamento com alguém como Nemon. Poderia uma palavra tão pequena se aplicar a um alienígena? Além disso, eu não tinha certeza do que sentia por ele, mas tinha certeza de que a amizade não era toda a extensão disso. Eu deveria me virar e voltar para minha cabine. Se não aguentava voltar àquele lugar apertado, poderia usar meu tradutor para me comunicar


com Theresa, Tarin ou até mesmo Claire - embora odiasse perturbála quando ela estava com seu companheiro. Exceto que eu sabia que todo mundo estava dormindo agora. Já tínhamos ficado acordadas até tarde na sala de recreação do convés, conversando por horas e comendo lanches fornecidos pela tripulação. Tínhamos impedido Claire de ficar com Thrax por tanto tempo que o alienígena mal-humorado tinha entrado no quarto procurando por ela, fazendo com que Theresa soltasse um grito de medo, enquanto Tarin tentava esconder seu estremecimento. Eu tinha aproveitado aquele momento de distração para realmente estudar Thrax, decidindo que ele não era tão perturbador quanto pensava inicialmente. Ele era inquestionavelmente monstruoso, mas ao mesmo tempo, havia uma estética em sua forma e seu exoesqueleto e placas faciais o faziam parecer um ninja espacial saído de algum gibi, o que achei muito legal. Eu não conseguia apreciar sua aparência tanto quanto Claire, mas podia entender mais os sentimentos dela por ele, especialmente depois de falar com ela e aprender exatamente o quão devotado Thrax era. Ela poderia ter dito a ele para cair fora e pelo que nos disse, ele teria, independentemente de não querer, porque ele faria qualquer coisa por ela. Em vez disso, ela se levantou e pediu desculpas a nós, então foi ansiosamente para seu companheiro, pegando uma de suas mãos enquanto olhava por cima do ombro para despedir. Ficou claro que - além do imperativo físico que Claire tinha explicado ter sido projetado em Thrax eles se ligaram em um nível mais profundo, e ela não precisava de algum gene de impressão para querer estar com ele. As outras mulheres discutiram longamente sobre a impressão, fascinadas pelo que Claire aprendera durante seu cativeiro sobre nossos captores alienígenas. Claire tinha conseguido fazer ainda mais pesquisas, levando ao


acesso GalactaNet oferecido como um peixe à água. Ela parecia confortável navegando em uma rede enorme que abrangia milhares de anos-luz. Eu não conseguia nem imaginar a quantidade de informação a ser encontrada nele, e nem mesmo seria tentado a ponderar como funcionava, embora Claire tivesse sido informada de que os Lusianos o desenvolveram - aqueles alienígenas cinzentos assustadores que acreditava serem meus captores. Claire tinha descoberto a versão galáctica do Google como se tivesse crescido usando. Eu estava menos inclinada a falar dos Iriduanos e não tinha interesse em pesquisá-los. Nunca os tinha visto, porque era o lixo para o qual eles só tinham um uso. Eles não se preocuparam em abrir um monitor para me dizer por que eu estava lá ou o que queriam de mim e nem uma vez os robôs - droides como Claire disse que eram chamados - falaram comigo em qualquer outra coisa que não um forma

pré-programada.

Eles revelaram a Claire que ela seria uma criadora, mas isso era algo que eu não poderia ter sido por eles. Tinha uma anomalia cromossômica que causava vários abortos antes de meu seguro médico permitir que eu fizesse o teste. O único homem com quem eu havia me comprometido não queria buscar outras opções para ter filhos naquele momento e meu casamento de quatro anos desmoronou à medida que nossos objetivos para o futuro divergiam. Voltei a morar com minha mãe, sentindo-me um fracasso e, como sempre, ela estava lá para mim, abrindo sua casa e seus braços para me acolher. Tentei não pensar em meu ex-marido ou em meus bebês perdidos. Esses eram campos minados que aprendi a evitar, mas saber que nem fui cogitada como criadora, mesmo para bebês monstros alienígenas, trouxe todo aquele fracasso e desgosto surgindo de volta à superfície.


Às vezes, a merda ficava tão profunda que parecia que eu não conseguia mais vencer e me perguntei se não seria melhor simplesmente parar de lutar e deixar que isso me enterrasse. Fui rejeitada pelo programa de reprodução alienígena do Iriduan, mas eles nem mesmo tiveram a decência de me expulsar de uma câmara de descompressão acessível. Em vez disso, me usaram para a prática de dardos hipodérmicos, torturando-me para quaisquer fins desconhecidos que tivessem e porque eles nunca se preocuparam em falar comigo sobre isso, eu nunca teria uma resposta para o porquê. As outras mulheres pareciam acreditar que éramos todas destinadas à procriação e eu não estava pronta para falar sobre isso, então deixei a conversa fluir ao meu redor, sabendo que elas precisavam disso. Era como uma terapia de grupo. O medo e a dor emanaram delas em palavras que não conseguiram conter. Eu gostaria de poder limpar o veneno de minhas próprias feridas como eles fizeram. Não era de se admirar que eu agora me encontrasse do lado de fora da porta do porão, incapaz de dormir e de me virar para as mulheres cujas experiências foram como as minhas, mas não o suficiente para relatar totalmente. As experiências de Nemon não seriam nada parecidas com as minhas, mas sentia que ele era o único com quem eu queria conversar. Talvez porque não quisesse falar sobre meu cativeiro e Nemon era interessante o suficiente para me distrair dos próprios pesadelos. Em um momento de coragem, pressionei minha palma contra o leitor biométrico ao lado da porta. Ele escaneou minha impressão e a porta se abriu. O ar que saiu do porão era úmido e quente, o que provavelmente ajudou as exuberantes folhagens semelhante à selva que enchia os plantadores


artísticos ao redor da piscina e lagoas. Só hesitei um pouco antes de cruzar a soleira e pulei um pouco quando a porta se fechou atrás de mim. O painel biométrico do lado de dentro da porta estava aceso e visível, apesar do holograma que cobria o teto e as paredes, projetando a imagem de uma clareira verde e uma copa de árvores que ocultava tudo, exceto os mínimos indícios de um céu. Apesar da sensação repentina de estar presa, sabia que não estava. A porta se abriria se eu tocasse naquele painel, permitindo-me escapar. Em vez de fugir, como uma parte de mim queria fazer, caminhei em direção à piscina central, meus olhos fixos na superfície lisa e contínua da água. Tropecei em uma videira perdida no meu caminho e de repente ela serpenteou em volta do meu tornozelo. Eu gritei, caindo para trás, mas mais vinhas me pegaram antes que eu atingisse o chão. Então percebi que não eram trepadeiras, quando tentáculos se enrolavam ao meu redor, colocando-me de pé novamente. O verde deles mudou para que não se misturassem mais completamente com a folhagem circundante e assim também, a parte superior do corpo de Nemon mudou de cor até que eu pudesse vê-lo entre as árvores que espalhavam seus galhos. Eu estremeci ao segurar seus tentáculos, embora fossem gentis ao meu redor, aliviando a pressão assim que me firmaram. Não foi tanto medo, mas ansiedade nervosa que me atingiu, tendo eles ao meu redor assim. Por um momento, fiquei em silêncio, esperando para ver o que ele faria a seguir. Uma parte de mim ficou desapontada quando ele retirou seus tentáculos, desenrolando-os do meu corpo para ficar imóvel perto dos meus pés calçados com botas. — Me desculpe por pisar em você. — Eu disse, sem fôlego enquanto olhava em seus olhos. Ele balançou sua cabeça.


— Me desculpe por não ter avisado que estava aqui. Não queria assustála me revelando de repente. Eu ri, mas foi mais uma expressão de nervosismo do que de humor. — Esse é um truque útil que você tem aí. Deve ser útil. Ele moveu sua parte superior do corpo para perto de mim, a cor de sua pele mudando enquanto eu observava, até que replicou o meu. Fiquei maravilhada com a forma fluida como balançou para frente, usando seus tentáculos para posicionar a parte superior do corpo ao meu lado. Muito dele estava escondido na folhagem e o que foi exposto dele quase parecia estar dentro de uma faixa de tamanho humano. — Quando estou dormindo, é útil me esconder de ameaças. — Você estava dormindo? — Voltei para a porta — sinto muito. Eu não deveria ter incomodado você. Um tentáculo se enrolou em volta do meu braço, não o suficiente para apertar, mas a sensação de seus sugadores puxando minha pele me fez congelar. — Por favor, não vá, Joanie. Eu posso dormir outra hora. Assim que olhei para o tentáculo que me restringia, ele me soltou e se afastou, recuando para dentro das árvores e arbustos. Engoli em seco para molhar minha garganta, procurando algo para dizer a este estranho que era tão atraente para mim. — Por que você não está dormindo, Joanie? — Sua voz era suave atrás de mim, tão perto que eu podia sentir sua respiração roçando meu ouvido. Eu me abracei, esfregando os braços para suavizar os arrepios que surgiram na minha pele. — Eu tive um pesadelo. — Não esperava ser honesta quando respondi, mas as palavras escaparam, empurrando as desculpas e mentiras. — O que é um pesadelo?


Virei-me para descobrir que ele estava perto o suficiente para beijar, se eu tivesse sido tão ousada. Dei um passo para longe e ele não continuou, seus olhos estranhos observando minha retirada sem uma expressão legível. — Você nunca teve um pesadelo? — Falei rapidamente para encobrir o tremor nervoso da minha voz. Ele balançou sua cabeça. — Não posso saber se eu tive um. Não sei o que a palavra significa. — Entendo. — Resisti à vontade de estender a mão para ele, agarrandome aos meus próprios braços com força suficiente para machucar. — Um pesadelo é um sonho assustador. No meu caso, sonhei que estava de volta às instalações. Que eu nunca escapei. — Um sonho? — Sua expressão era pensativa — É isso que acontece quando você dorme? — Você não sonha? Um tentáculo se estendeu em direção à minha bota, acariciando o material parecido com couro antes dele olhar para baixo e deslizar para longe. — Eu tenho sonhos, eu acho. Visito lugares quando durmo, mas quando acordo, não consigo me lembrar deles por muito tempo. Como antes de eu ser mudado. Balancei a cabeça um pouco desesperadamente, me sentindo uma boneca com cabeça móvel. — Sim, isso é um sonho. Eles sempre somem. Pelo menos, os bons fazem. Os pesadelos parecem perdurar, mesmo quando as imagens desaparecem. O horror se apega a você. Mais tentáculos escorregaram para fora da vegetação para dançar ao meu redor, chicoteando perto, então se enrolando antes de entrarem em


contato com minha pele. Parecia que ele teve que fazer um esforço para forçá-los a ficarem imóveis e quando desviei minha atenção dos tentáculos contorcidos para seu rosto, vi que havia escurecido e uma carranca terrível puxou seus lábios para trás, revelando seus dentes afiados. — Eles machucam você, Joanie. Eu quero machucá-los em troca. A ferocidade de sua expressão era assustadora e excitante. Suas feições refinadas haviam se transformado em algo escuro e perigoso. Ele não parecia mais um elfo, mas sim um demônio. Eu queria me afastar, mas não pude. — Eles me machucaram. Mas de acordo com Claire, já estão mortos. Nós escapamos da instalação antes que os militares de Iriduan lançassem um monte de mísseis para conter a situação. Aparentemente, nossa fuga foi estreita. Se os Akrellianos não estivessem na área procurando por seus guerreiros perdidos, eles nunca teriam detectado o farol de emergência enviado pela instalação quando Thrax e Nemon rasgaram os cabos elétricos que alimentavam os edifícios, em um esforço para destravar as portas e desativar as defesas das instalações. Os Akrellianos acreditavam que seu Dançarino havia guiado seu vôo e que eles estavam destinados a nos resgatar. Achei que tínhamos muita sorte. A expressão enfurecida de Nemon relaxou. — Eu tinha ouvido algumas dessas coisas. Ainda assim, alguém deve sofrer pelo que fizeram a você. Ri amargamente. — Acho que já houve sofrimento suficiente por agora. — Você não quer vingança? Balancei minha cabeça.


— Claire e os outros querem justiça. Tenho certeza de que Thrax quer vingança. Mas eu, estou cansada de tudo isso. Quero pensar em outra coisa além daquele lugar horrível por apenas alguns minutos. Sinto que é tudo sobre o que alguém pode falar, mas não sentirei que realmente escapei até que possa parar de ouvir sobre isso. Seus tentáculos se enrolaram em torno dele, puxando para perto de seu corpo. — Eu sinto Muito. Não deveria ter falado sobre isso. — Tenho certeza que fui eu quem mencionou isso primeiro, mas está tudo bem. Não posso evitar o assunto para sempre. — Eu queria, no entanto. Fiz um gesto para o porão ao nosso redor. — O que você acha deste lugar? A mudança de assunto foi desajeitada e abrupta, mas ele a aceitou sem comentários. — É muito melhor do que onde eu morava quando encontrei Thrax. Senti um verdadeiro divertimento com a menção dele a Thrax. — Sim, eu me perguntei sobre isso. Claire disse algo sobre você quase o matou. Parece que seria muito difícil de fazer. Ele deu de ombros, os músculos da parte superior de seu corpo ondulando lindamente. — Claire exagera. Eu só o machuquei um pouco. Sorri com isso. — Bem, é uma coisa boa você não matá-lo. Claire realmente gosta dele e não acho que ela teria te perdoado. Ele retribuiu meu sorriso, embora tivesse o cuidado de não mostrar os dentes, como se tivesse notado que eles me incomodavam. — Eu o teria soltado assim que o peguei se não percebesse o quão perigoso seria deixá-lo ir.


— E agora vocês são amigos? — É o que Claire nos diz. — Sabe, vocês dois formam uma equipe intimidante. — A julgar por nossa fuga da instalação, eram uma equipe imparável. Seus tentáculos se desenrolaram ao redor dele e balançaram no ar como se estivessem satisfeitos com a admiração em minha voz. — Você acha que essa intimidação é uma coisa boa? — Seu tom parecia menos certo de que falei isso como um elogio. Concordei. — Contanto que você esteja do meu lado, eu sou totalmente a favor. Seu sorriso se alargou o suficiente para mostrar os dentes. — Estou sempre do seu lado. Eu vou te proteger, Joanie. Meu próprio sorriso vacilou. — Porque Claire e Thrax te mandaram? Seu olhar estava concentrado no meu. — Porque eu quero.

Capítulo 10 Nemon


O nariz pelo qual respirei o ar parecia tão inadequado para cheirar a fragrância sutil de minha companheira. A menos que eu estivesse perto dela, as plantas na terra úmida tinham um cheiro mais forte que dominava seu almíscar delicioso e macio. Não ousei me aproximar muito dela neste momento, porque sua proximidade poderia me fazer perder o foco e meus tentáculos se enrolariam em torno dela para que eu pudesse absorver seu cheiro e gosto através das ventosas. Mesmo enquanto pensava sobre o quanto eu queria tocá-la com eles, eles já tinham se movido para cercá-la, enrolando-se em seus pés, às vezes roçando o material que cobria suas pernas enquanto se contorciam contra minha ordem de evitar o contato com ela. Eles eram uma parte de mim, mas também tinham uma certa autonomia, permitindo que saíssem do perigo ou capturassem uma presa que passasse antes que o resto de mim percebesse. Nesse caso, eles estavam se movendo em direção a algo que meu corpo inteiro queria. Simplesmente tinham menos disciplina do que eu. Tentei manter a conversa para me distrair de admirar tanto a beleza frágil de Joanie que até minha disciplina vacilou. Seria muito fácil deixar escapar. Eu sabia que nunca iria machucá-la fisicamente, mas não poderia dizer o que aconteceria com sua mente se de repente eu fizesse o que cada parte de mim queria e a abraçasse totalmente. Quando a segurei na instalação, seu gosto e seu cheiro tinham sido tão perfeitos para mim. Nenhum dos tesouros que já peguei do fundo do oceano poderia chegar perto de sua beleza etérea. Mas o que realmente me capturou - e me fez ter certeza de que Thrax fez a escolha certa para minha companheira - foi o olhar de vulnerabilidade em seus olhos quando encontraram os meus. Ela estava à beira de quebrar, segurando-se com um


último olhar de desafio. Ninguém jamais precisou da minha proteção mais do que ela. Ter Thrax exigindo minha ajuda para resgatar Claire foi interessante e eu me diverti muito mais do que deveria enquanto o ajudava a alcançar seus objetivos. O perigo parecia quase periférico para mim, apesar do fato de ter passado tantos anos evitando-o. A satisfação de invadir, a facilidade e esmagar tudo em meu caminho me fez pensar por que esperei tanto para fazer isso. Eu sabia o suficiente sobre meu tempo antes da mudança para lembrar que tinha sido predador e presa antes de meu pai me levar para seu laboratório. Naquela vida, eu era avesso ao risco, escondendo-me das ameaças em vez de enfrentá-las, mas a curiosidade foi minha ruína. Meu desejo de explorar aqueles estranhos vasos que flutuavam acima de mim me atraíra para a superfície para descobrir as criaturas carnudas lá dentro e ver se elas eram refeições saborosas. Na instalação, sob a tutela de meu pai, vi de uma maneira diferente. O que ele acreditava ser um avanço rápido da inteligência era simplesmente o fato de que eu estava colocando minha mente em uso para outra coisa que não apenas tentar permanecer vivo. Ele me disse que eles precisavam de mim, embora nunca tivesse especificado quem eram eles, mas disse que eu poderia ajudá-los e protegê-los, que fui projetado para fazer exatamente isso. Thrax me disse em nosso primeiro encontro que eu fui projetado para matar. Talvez fosse a mesma coisa que meu pai queria dizer, embora nunca tivesse dito especificamente. Ainda estava tentando descobrir meu lugar nessa nova cadeia alimentar. Dada a maneira como as pessoas estavam me tratando, eu havia caído em algum lugar perto do topo. Minha frágil companheira, parada diante de mim


com uma expressão perdida mesmo agora - mesmo depois de escapar dos tormentos que a visitaram - estava bem abaixo na mesma cadeia alimentar. Ela precisava de mim para protegê-la. Descobri que gostava de ser necessário. Joanie olhou meus tentáculos enquanto eles se estendiam para formar uma barreira ao redor dela antes que eu pudesse chamá-los de volta. Eles perceberam meu desejo de proteger e, como sempre, foram altamente receptivos à ideia no que se refere a ela. — Hum, Nemon. — Sua voz parecia hesitante quando eu os retirei, enrolando-os contra o meu corpo. Ela os observou recuar com uma expressão cautelosa e uma ligeira carranca — Qual é a sensação? Eu temia que ela fugisse depois daquela exibição. — Sensação do que? Ela apontou para meus tentáculos. — Como é ter isso? — Ela ergueu a mão, estendendo todos os cinco dedos e depois balançando-os. — É o mesmo que usar as mãos e os dedos? Controlando os movimentos assim? Baixei os olhos para meus dois braços, que eram quase inúteis para mim, mas meu pai disse que eram esteticamente relevantes e eu queria que Joanie achasse minha forma agradável. Eu raramente usava as mãos naqueles braços para qualquer coisa, porque eles não podiam cheirar ou provar. Só podiam discernir texturas e temperatura. Meus tentáculos podiam fazer tudo isso, embora ainda possuíssem uma força muitas ordens de magnitude maior do que meus dois braços. — O controle não é tão certo. — Lancei um olhar feroz para um tentáculo que havia se desenrolado e estava vagando de volta para Joanie — Mas meus tentáculos são muito mais úteis do que mãos.


Ela me surpreendeu ao se ajoelhar para fixar o olhar no tentáculo perdido que tentava se aproximar dela sem ser muito óbvio. — As pontas não são assim tão pequenas. — Ela ergueu três dedos, virando a mão para que seus dedos esticados se alinhassem com a ponta do meu tentáculo, embora ela não tenha estendido a mão e tocado enquanto ele estava parado na sua frente, finalmente obedecendo ao meu comando. A ponta era tão larga quanto seus dedos estendidos. — Como você faz manipulações realmente boas? — Ela mexeu os dedos novamente. — Tipo digitar em um teclado ou algo assim? — Seu olhar se desviou do meu tentáculo, voltando para o meu rosto. — Você já precisou fazer coisas pequenas e complicadas como essa? Meu pai tinha me deixado brincar com brinquedos que exigiam manipulação fina para ajudar no meu controle. Foi um desafio ativar certas partes daqueles brinquedos, mas eu me adaptei a usar meus tentáculos, apesar de sua insistência para que aprendesse a usar meus braços e mãos com mais frequência. Mostrei a Joanie a parte de baixo do meu tentáculo estendido, revelando as ventosas que estavam na parte inferior. Eles eram pequenos na ponta, cada um não mais largo do que as pontas dos dedos. Torcer o lado do meu tentáculo permitiu que uma ventosa de cada vez pressionasse para fora. — É assim que faço pequenas manipulações. As coisas 'complicadas'. Ela virou a cabeça de um lado para o outro para ver melhor minhas ventosas e, cautelosamente, estendi o tentáculo para mais perto dela para que ela pudesse ver melhor. Quando ela estendeu a mão para acariciar as ventosas, quase perdi o controle do resto dos meus tentáculos, que tremiam de vontade de abraçála.


Aquela breve carícia foi o suficiente para eu cheirá-la, prová-la e sentir sua pele macia em um momento intenso antes que ela afastasse a mão. — É mais macio do que eu pensava. — Sua mão pairou sobre as ventosas, sem tocar mais, mas ainda perto o suficiente para que eu pudesse sentir o calor de sua pele.

— Achei que as ventosas seriam mais firmes,

mas simplesmente desabam sob a pressão dos meus dedos. Eu queria rir de sua observação, porque poderia liberar um pouco da incrível tensão que senti naquele momento. Ela estava me estudando como uma cientista, e estava familiarizado com isso, mas não me importava nem um pouco com sua curiosidade. Ela poderia fincar e cutucar meus tentáculos o dia todo se quisesse. Eu só não tinha certeza se poderia controlar meu desejo de tocá-la de volta, e meu interesse era muito mais do que científico. Firmei o copo estendido, como faria se quisesse criar uma vedação contra algo e puxei o centro do copo. — Eu posso controlar isso também. Às vezes, não quero agarrar o que toco ou desejo liberá-lo. Eu amacio e aplano minhas ventosas nesse ponto para liberar o selo. Esperava que ela me tocasse novamente e ela recompensou essa esperança. Desta vez, apenas usou a ponta do dedo indicador para traçar a borda da minha ventosa saliente. Meu corpo inteiro estremeceu enquanto eu bebia de sua essência por meio daquele contato breve e único. Ela puxou a mão do meu tentáculo trêmulo, olhando para mim com os olhos arregalados. — Isso doeu? Eu sinto muito. Quando ela se levantou, afastando-se do meu tentáculo, ele se ergueu com ela e se enrolou em seu pulso. Não tinha certeza se havia perdido o controle naquele momento, ou se estava apenas obedecendo a um desejo


que eu não estava admitindo conscientemente. A entrada sensorial de sua pele foi quase minha ruína. — Não doeu. — Eu disse, embora lutasse para respirar o suficiente para falar. Ela congelou e eu senti o leve tremor de seus músculos sob meu tentáculo. Alternei endurecimento e amolecimento das ventosas que pressionavam contra sua pele, sugando-as por menos de um batimento cardíaco, como se pudesse arrastar mais estímulos sensoriais de cada puxão nela. Em vez disso, percebi como ela estava realmente frágil quando gritou de surpresa e tentou puxar o braço. Meu tentáculo resistiu por tempo suficiente para que todos os meus três corações acelerassem suas batidas, então se desenrolou, voltando a se enrolar com os outros que estavam apertados contra o meu corpo. Ela olhou para seu braço, onde uma fileira de pequenas marcas vermelhas estava desaparecendo rapidamente, quase como se sua pele pudesse mudar como a minha. Ela lambeu os lábios enquanto estudava essas marcas. — Isso parecia exatamente como se você estivesse me dando um chupão. — Sua breve risada soou nervosa — No meu braço. Existem lugares melhores para isso. Suas palavras fluíram sobre mim sem que eu entendesse seu significado. Fiquei muito horrorizado com o que tinha feito. Eu a machuquei. Sabia que sua pele não mudava de cor como a minha. Só mudou quando ela era danificada. Eu jurei não machucá-la, mas fiz isso mesmo assim, por uma curiosidade e desejo tolos que não tinha o direito de sentir. Joanie não me aceitou como seu companheiro. Eu não deveria ter tocado nela. Ela olhou para mim enquanto eu recuava para os arbustos. — Ei, o que há de errado? Você está mudando de cor como um louco.


Eu estava tão angustiado que não conseguia nem mesmo mudar minha pele de forma eficaz. — Eu nunca quis te machucar. — Puxei meu corpo ainda mais para os arbustos. Ela ergueu a mão com a palma para fora. — Espere. Não se atreva a desaparecer. O que você quer dizer com nunca quis me machucar? Fiz um gesto para o braço dela com minha própria mão, não ousando liberar meu aperto de ferro em meus tentáculos o suficiente para permitir que um se desenrolasse e apontasse para a vermelhidão em sua pele. — Eu marquei você. Sua espécie não pode mudar a cor da pele, a menos que esteja ferido. Ela deixou cair a mão e cobriu as marcas desbotadas em seu outro braço com ela, esfregando para cima e para baixo em sua pele como se pudesse acelerar o seu desaparecimento. — Isso não doeu, Nemon. — Ela lançou outra risada trêmula. — Pelo contrário. Foi um pouco estranho ter a experiência de chupar no meu braço, mas você se fizer isso em outro lugar... Agora seu rosto estava ficando vermelho, embora eu não a tivesse tocado ali. Eu estava confuso. Não achei que sua espécie pudesse mudar a cor da pele, mas lá estava ela, fazendo isso. Minha curiosidade foi suficiente para interromper minha retirada, embora quanto mais permanecesse perto dela, mais provável seria que eu perdesse o controle novamente. Seria melhor para nós dois se eu apenas me escondesse dela. A tentação de tocá-la, abraçá-la, era muito grande sempre que eu estava perto dela. — Sua pele muda de cor em seu rosto. — Queria tocar aquela pele, mas me restringi a tocar meu próprio rosto como se quisesse fazer uma


comparação entre nós. Minha pele estava atualmente com vários tons de verde, tendo finalmente se acomodado em minha camuflagem, tarde demais para fazer diferença. Ela refletiu meu movimento, deslizando os dedos sobre a maçã do rosto, enquanto a cor em suas bochechas escurecia ainda mais, quase o tom de coral agora em um rosto que normalmente era pálido como uma pérola. — Chama-se corar. Acredite em mim, não estou fazendo de propósito. — Ela tirou a mão da bochecha e se abanou com ela — Está quente aqui para você? A temperatura estava mais quente do que estava acostumado, mas o ar estava pesado com a umidade, o que era agradável e me resfriou o suficiente para tornar o calor aceitável. Ainda assim, se minha companheira estava quente, eu precisava tomar medidas para fazê-la se sentir mais confortável. — A água está muito mais fria. Você gostaria de nadar na minha piscina? Seus olhos se arregalaram quando seu olhar encontrou o meu. Ela lambeu os lábios, então torceu as mãos enquanto olhava ao redor do porão, antes de deixar sua atenção se fixar na piscina central. — Você quer que eu nade? Contigo? — Ela estremeceu, apesar de comentar sobre o calor na sala. Ficou claro que ela não gostou da ideia. Por mais que eu quisesse entrar na água com ela e enrolar todos os meus membros ao seu redor em um meio que fosse muito mais fácil para eu me mover, não iria forçá-la com minha companhia. — Vou ficar fora da piscina. Juro para você, não colocarei a ponta de um tentáculo na água enquanto você relaxa.


Ela hesitou por tanto tempo que me perguntei se ela algum dia responderia. Finalmente, acenou com a cabeça, abanando o rosto novamente, embora não parecesse estar fazendo muito para tirar o vermelho de suas bochechas. — Ok, eu vou nadar. Gostaria de um mergulho, embora prefira uma banheira de hidromassagem. — Ela me lançou um olhar ilegível antes de pisar na piscina —Provavelmente é melhor se você não nadar comigo desta vez. Desta vez? Suas palavras indicavam que haveria outros momentos em que ela poderia me permitir estar na água com ela. Eu não tinha certeza se tinha o controle para resistir a tocá-la se entrasse na água com ela. Joanie se sentou na beira da piscina e tirou os calçados. Assisti com fascinação enquanto seus pés eram revelados, um por um. Ela tinha pés tão estranhos - planos, rígidos, com pequenos tocos nas pontas que não pareciam ter um propósito. Era estranho para mim que sua espécie fosse completamente limitada a apenas dois membros com acessórios úteis. Ainda assim, como o resto de seu corpo, eu os achei fascinantes e teria adorado explorá-los em detalhes. Talvez, algum dia, ela permitisse. Ela puxou as pernas do traje e mergulhou os pés na minha piscina. Inclinando-se para trás para descansar em suas palmas, ela suspirou de uma forma que fez meus tentáculos se contorcerem em sua direção. — Ah, isso é bom e legal. É uma sensação boa, você sabe. Já faz muito tempo que não consigo simplesmente sentar e relaxar. — Ela deixou a cabeça cair para trás para que pudesse olhar para o teto com suas imagens falsas do céu. Durante nossa conversa, as imagens mudaram, então agora uma noite estrelada aberta foi projetada — Não acredito que estou sentada à beira da piscina, olhando as estrelas. Agora, tudo que eu preciso é de um garçom com uma bandeja de margaritas.


De repente, por algum motivo desconhecido, ela se sentou e beliscou a pele de um de seus braços com os dedos da outra mão. Eu fiz uma careta enquanto observava a vermelhidão aparecer em sua pele onde ela deliberadamente se machucou. Meus tentáculos surgiram em sua direção, só pararam quando estavam perto o suficiente para sentir o calor saindo de seu corpo. Perto o suficiente para impedi-la de se machucar novamente. — Por que você fez isso, Joanie? Ela piscou para os tentáculos chicoteando em torno dela, cercando-a. — Fazer o quê? — Você se machucou! — A ponta de um tentáculo acariciou a marca vermelha, o contato muito breve antes que eu o mandasse de volta. Ela olhou para a marca confusa por um momento, então riu. — Oh! — Com um aceno de cabeça, ela sorriu para mim — Eu estava apenas me beliscando para ter certeza de que não era um sonho, porque é um sonho muito bom. — Ela ergueu a mão para gesticular ao nosso redor — Um paraíso tropical exuberante, um lindo céu noturno, uma piscina fresca e refrescante para nadar, — então ela deixou cair sua mão, e algo em seu olhar fez meu corpo inteiro congelar, meus tentáculos parando ao lado dela — um cara alienígena quente. Sim, isso definitivamente estava começando a parecer um sonho demais para eu acreditar que era real, então me belisquei. Achei que se sentisse dor, saberia que era real. Eu ponderaria sobre o significado de suas palavras mais tarde, quando estivesse sozinho com o luxo de tirar minha mente de minhas partes rebeldes do corpo. Não tinha ideia de por que minha temperatura era importante para ela, mas não era tão quente quanto a dela, então não pensei que pudesse ser chamada de quente.


Estava mais preocupado no momento com o fato de que ela questionava sua própria percepção da realidade, porque falava dos horrores pelos quais tinha passado que coisas simples como água fria e um céu bonito pareciam muito irreais para ser qualquer coisa além da imaginação. — Por favor, não se machuque de novo. Existem maneiras melhores de convencê-la de que isso é real. — Oh sim. — Suas pálpebras baixaram, e sua voz ficou rouca — Eu posso pensar em maneiras melhores. Muito melhores. — Sua cor vermelha, que começou a desaparecer de suas bochechas, voltou de repente, e Joanie voltou sua atenção para a piscina, murmurando algo que meu tradutor não percebeu. — Você ainda deseja nadar? — Talvez se ela estivesse na água, eu não ficaria tão tentado pelo calor de seu corpo. Ela assentiu com a cabeça, mas puxou o tecido agarrado a suas curvas suaves. — Eu gostaria de nadar, mas isto não é exatamente um maiô. Tenho medo de estragar tudo. Dei de ombros, sem entender por que ela estava usando isso, mas, novamente, sua espécie parecia preferir cobrir seus corpos, assim como a espécie de meu pai. — Tire para nadar. O tecido só criará resistência. Sua cabeça girou para que seu olhar assustado encontrasse o meu. — Tira... — O olhar dela percorreu meu corpo, parando por um momento nas linhas das minhas guelras que mal eram visíveis sob minhas costelas, logo acima do início da minha membrana — Claro, você não usa roupas, então provavelmente não entende por que ficar nu faz os humanos se sentirem...Vulneráveis.


Como sempre, qualquer nova informação sobre ela e sua espécie me deixou curioso. Eu queria saber tudo o que havia para saber sobre ela, mas não queria pressioná-la, porque havia percebido que ela se encolhia visivelmente quando certos tópicos surgiam, como se os temesse. — Os humanos já são muito vulneráveis. Um pedaço de tecido fino não protegeria você. Seus lábios se curvaram em um pequeno sorriso triste. — Sim, obrigada por apontar isso. Eu mencionei que tive pesadelos? Meus tentáculos se retorceram de angústia. Mais uma vez, toquei em um ponto sensível dela sem querer. — Vou protegê-la agora, Joanie. Sempre. Você não precisa de roupas para se sentir segura. Seu sorriso se espalhou em um sorriso largo que revelou seus dentes retos e planos. — Você prefere que eu não os use, então? Eu estava muito curioso sobre o corpo que estava escondido sob suas roupas, mas se ela escolhesse usá-las ou não, não fez diferença para mim. Ela era linda de qualquer maneira. Especialmente quando sorria assim. — Eu prefiro que você esteja confortável. Qualquer coisa que ajude você a se sentir assim funciona para mim.


Capítulo 11 Joanie A água estava fria e calmante em meus pés, mas o resto do meu corpo estava desconfortavelmente quente, o que tinha muito pouco a ver com a temperatura do porão. Meu braço ainda formigava onde as ventosas de Nemon puxavam minha pele como pequenas bocas. Assim que os imaginei sugando áreas mais sensíveis do meu corpo, meu núcleo se apertou e o calor que começou entre minhas pernas se espalhou pelo meu corpo, deixando um rubor perceptível. Agora eu não conseguia tirar minha mente daqueles tentáculos, com suas centenas de pequenas ventosas, acariciando meu corpo, sugando minha pele. Antes, eu pensava que estava atraída por ele apesar de seus tentáculos, maravilhada com sua parte superior rasgada e características faciais refinadas. Agora estava mais intrigada com aquelas partes estranhas dele. As partes que prometiam uma experiência além de qualquer coisa que eu pudesse encontrar na Terra. Estudei meus pés, pendurados na água, pálidos como a barriga de dois peixes. Eu estava muito fora do meu departamento aqui e não tinha certeza do que Nemon sentia por mim. Protetor, inquestionavelmente, mas isso poderia ser simplesmente um aspecto de sua natureza e não algo a ver comigo individualmente. Eu nunca perguntei se ele se sentiria tão protetor pelas outras mulheres quanto era comigo, porque eu não queria ouvi-lo dizer sim. Não que minhas novas amigas não merecessem alguém para protegê-las - depois de tudo o que eles passaram - mas eu queria que os sentimentos de Nemon por mim fossem especiais.


A água seria incrível contra o meu corpo nu, mas eu não estava totalmente confortável em me despir na frente de Nemon. Ele não parecia achar que era grande coisa, e eu não tinha certeza se isso me incomodava mais do que me preocupar que ele estava apenas tentando conseguir um show grátis. Roupas não eram apenas opcionais para ele. Não parecia prático. Chegando a uma decisão, levantei as mãos trêmulas até a costura que descia por todo o comprimento do meu macacão, do pescoço à virilha. Ele se prendia quase como um velcro, só que sem o volume e o barulho alto dos dois lados se separando quando os abri. Meu batimento cardíaco acelerou ainda mais rápido quando tirei primeiro uma manga curta, depois a outra, revelando meus seios, embora ainda estivesse de frente para a piscina e Nemon permaneceu atrás de mim - em silêncio, esperando pela minha decisão. Eu podia sentir seus olhos em mim, e seus tentáculos estavam se movendo nas proximidades, imprevisíveis. Emocionante. Quanto mais minha pele ficava exposta ao beijo quente do ar úmido, eu realmente olhava para o meu corpo e as mudanças que aconteceram nos meses em que estive presa. Perdi um peso significativo, meus seios encolhendo tanto que caíram mais do que alguém em seus trinta e poucos anos deveria cair. Fiquei envergonhada com a pele solta em volta da minha cintura, me perguntando quantos tamanhos de vestido eu tinha diminuído em minha dieta de barras nutricionais e dor. Uma vida inteira fazendo dieta ioiô deixou minha pele com estrias que pareciam quase brilhar sob a falsa luz das estrelas. Pelo menos não havia marcas remanescentes em meus braços e pernas. Quaisquer que sejam os métodos de cura que os Iriduanos usaram, eles os


fizeram sumir, mas não apagaram a memória das centenas de agulhas que perfuraram minha carne durante seus experimentos. Meu corpo não era bonito - minha pele marcada e solta. Assim que o macacão estava embalado na minha cintura - esperando que eu me levantasse e o arrancasse das minhas pernas - tive uma sensação de pânico de que Nemon seria capaz de ver muito dele. Que ele ficaria enojado ao vê-lo. Fiz uma pausa, dividida entre querer arrancar o tecido restante para pular na piscina e me esconder de sua vista, ou puxar a parte superior para me esconder, talvez fazendo com que ele perguntasse por que eu mudei minha mente - uma pergunta que eu estava com vergonha de responder. Estava tão envolvida na indecisão que pulei quando um de seus tentáculos roçou contra minha caixa torácica nua. Foi o menor toque e o tentáculo foi rapidamente retirado, mas me fez olhar por cima do ombro para ele. Seu olhar estava fixo em minhas costas nuas, as linhas de seu rosto austero e elfo duro e tenso, como se ele lutasse em alguma batalha interna. Quando seus olhos se ergueram para encontrar os meus, ele soltou um suspiro afiado. — Você é tão linda, Joanie. Seu tom soou como se ele quisesse dizer isso, mas ele não tinha visto o pior. Provavelmente minhas costas estavam relativamente ilesas. Eu queria voltar às curvas contra as quais passei a maior parte da minha vida lutando para que pelo menos eu pudesse sentir normal. Eu balancei minha cabeça, quebrando o contato visual para olhar para os meus pés chutando para frente e para trás na água. Em algum momento, tive que tomar uma decisão. Saltar para o fundo do poço ou sair da piscina.


Demorei um pouco mais para reunir coragem e me levantar para poder tirar o macacão das pernas. Assim que me inclinei para tirar cada perna da calça de meus pés, ouvi Nemon soltar um suspiro audível. Eu me virei com o som, apenas para descobrir que ele não estava mais lá. As folhas das árvores e arbustos à minha direita foram perturbadas por sua rápida retirada e ainda tremiam com sua passagem. Lágrimas surgiram em meus olhos quando comecei a puxar meu macacão de volta aos meus pés, a humilhação e o constrangimento pareciam um peso esmagador em meu peito. Eu literalmente assustei um alienígena com a visão do meu horrível corpo nu. Não queria mais nadar. Eu só queria me vestir e escapar desse lugar com o minúsculo fragmento de dignidade desafiadora que permaneceu intacta. Me vesti tão rápido que a costura do meu macacão estava irregular quando terminei, mas não me importei. Calcei minhas botas com a mesma rapidez, tropeçando enquanto lutava para calçá-las. Eu me senti uma idiota colossal. Desajeitado, estúpido, feio…. Congelei depois de colocar meu segundo pé no chão, coberto com a bota confortável que me foi fornecida. Conhecia aquela voz. Essa voz terrível dentro da minha cabeça. Foi o inimigo que roubou todas as conquistas preciosas da minha vida, a voz interior que pegou todas as coisas maldosas que já me disseram e as transformou em uma canção de ódio por mim mesma. Tinha permitido que isso me atormentasse com dúvidas. Seu refrão havia tocado repetidamente depois de meus abortos. Então, novamente, após o fracasso de meu casamento, quando meu marido nem se deu ao trabalho de olhar para trás enquanto assinava os papéis do divórcio e seguia em frente com sua vida, deixando a minha em ruínas. Foi a voz que me convenceu de que havia algo inerentemente errado comigo que me tornava inútil. Isso não tinha sido provado quando


meus avós queriam que minha mãe se livrasse de mim? Até mesmo os alienígenas que me abduziram me rejeitaram por seu programa de procriação porque eu não tinha valor para eles. Tentei enterrar essa voz perseguindo um jackpot elusivo nos cassinos. Eu pensei que se pudesse ganhar muito, teria dinheiro suficiente para comprar uma mansão para mim e minha mãe. Poderia finalmente compensar todos os sacrifícios que ela fez por mim e provar meu valor para todos que já duvidaram de mim. Em vez disso, só provei novamente o quão inútil eu era, presa em uma espiral de vício e auto-aversão. Depois de viajar por toda a galáxia e me tornar um objeto de teste alienígena, eu ainda não era diferente. Estava em uma maldita nave espacial, lançando-me através de um oceano de estrelas além da velocidade da luz, movida por uma raça alienígena avançada o suficiente para criar esses milagres ao meu redor, e ainda estava me culpando pelos fracassos da minha vida em vez de pagar atenção ao meu possível futuro. E daí se Nemon achou meu corpo nojento? Claro, doeu, mas para ser justo, meu corpo era muito diferente do dele. Eu não tinha reagido com horror a ele quando o vi pela primeira vez? Tinha achado sua aparência tão monstruosa, tinha certeza que ele iria me matar. Nem me ocorreu na hora que minha reação a ele poderia tê-lo ferido, assim como agora me sentia ferida. No entanto, eu havia superado muito rapidamente meu medo. Assim que percebi que ele não era o monstro que acreditava que era, achei-o intrigante - até mesmo atraente. Não seria possível convencê-lo de que eu poderia ser o mesmo? Acho que teria que matar aquele meu demônio interior e me convencer disso primeiro.


Eu tinha muito em que pensar e minhas bochechas ainda queimavam com a minha humilhação, mas não estava pronta para desistir totalmente. Porém, achei que agora era o momento para um retiro estratégico enquanto recuperava um pouco da minha autoconfiança. Além disso, não tinha ideia de onde Nemon estava escondido e não tinha certeza se poderia encontrá-lo se não estivesse pronto para ser encontrado. Deixei a espera molhada, tensa enquanto dava cada passo que me levava mais perto da saída, tanto antecipando quanto com medo de que ele aparecesse antes de mim, ou viesse por trás de mim para impedir minha fuga. Não tinha certeza do que diria se ele fizesse isso, já que sua reação deixou minhas emoções tão cruas. Ele não me impediu de sair, nem vi qualquer sinal dele. Onde quer que ele tenha recuado se escondeu tão bem que eu não pude detectá-lo. O fato de que alguém tão grande quanto ele pudesse se esconder assim era muito assustador, e não era de se admirar que ele deixasse até alienígenas como Thrax se sentindo cautelosos. Cheguei ao elevador antes de desabar em lágrimas, grata quando a porta se fechou, bloqueando a visão do corredor além para que eu pudesse afundar contra a parede e deixar os soluços virem sem medo de ser ouvida. Apenas alguns escaparam antes que eu estivesse de volta ao convés que segurava minha cabine, e eu engasguei com o resto, me repreendendo para me recompor antes que eu colidisse com outra pessoa. Certamente não queria explicar o que havia acontecido. Parei do lado de fora da minha porta, debatendo sobre o minúculo quarto além e se eu poderia suportar ficar presa lá dentro com nada além de meus pensamentos e aquele demônio interno nojento para me insultar. Em vez de pressionar minha mão contra o painel de acesso próximo a ele para destravá-lo, me virei e fiz meu caminho para a sala de recreação.


Para meu alívio, não havia ninguém dentro. A maioria das pessoas neste convés provavelmente ainda estava dormindo. Como os humanos, os Akrellianos eram diurnos, mas usavam turnos rotativos, desligando a iluminação em diferentes decks residenciais para aproximar o dia e a noite para sua tripulação e passageiros. Nosso convés ainda estava escuro para a noite. Pelo que eu sabia, éramos os únicos passageiros nesta área, já que o Star Dancer estava comandando uma tripulação esquelética sem carga de passageiros quando foram desviados para o território de Iriduan em busca de seus guerreiros. O Star Dancer era um navio de guerra, mas os Akrellianos não suportavam viver sem sua beleza e conforto, então o enfeitaram tão sofisticado quanto qualquer navio de cruzeiro, embora a maioria de seus passageiros fossem geralmente guerreiros indo para a batalha em algum navio galáctico para um conflito ou outro. De acordo com Theresa, o primeiro comandante ficou angustiado quando lhe disseram que os navios de guerra humanos eram completamente austeros e utilitários. Ele expressou que os guerreiros indo para uma possível - e muitas vezes provável - morte mereciam desfrutar dos luxos que poderiam ser encontrados no Star Dancer em seus últimos momentos preciosos de vida. Graças à sua apreciação pelas coisas boas da vida, cada convés de passageiros foi equipado com uma sala de recreação completa, com acesso ao GalactaNet, muitos programas holográficos armazenados, móveis luxuosos, vegetação luxuriante e objetos artístico em todos os acessórios e arredores. Eu e as meninas já havíamos explorado as ofertas do holograma e descoberto que os Akrellianos amavam teatro quase tanto quanto dançar e música. Havía muito para ocupar nosso tempo se precisássemos, mas


passamos a maior parte de nossa visita anterior na sala de recreação, conversando um com o outro. Agora que tinha o lugar só para mim, folheei os hologramas, usando meus dedos deslizando pelo console iluminado que ficava ao lado da peça de mobília mais longa - um sofá com um design geométrico forte que ainda conseguia ser surpreendentemente confortável. Nada realmente chamou minha atenção como algo que pudesse servir como uma distração dos meus pensamentos turbulentos, então me conformei com um vídeo de dança. As luzes diminuíram conforme o projetor de imagem holográfico se acendeu e o resultado final foi uma projeção tridimensional que podia assistir de todos os lados que parecia para todo o mundo como dançarinos vivos, respirando, balançando e girando em um palco na minha frente. Percebi que cometi um erro assim que as belas e esguias dançarinas apareceram. Observando os seminuas Akrellians masculinos bater os pés e sacudir suas penas tinham sido divertido em um olho-doce tipo de forma. Eles tinham físicos incríveis. As mulheres que então dançaram no palco - fundindo sua linha com os homens muito maiores - me fizeram lembrar como meu próprio corpo não era bonito para Nemon, o que simplesmente trouxe de volta o constrangimento em vez de me dar algo para me distrair dele. Eu estava folheando os vídeos, procurando por algo diferente, quando Theresa entrou na sala de recreação, com a boca aberta em um bocejo. Ela viu o vídeo que eu estava pensando em assistir e fez um som de ooh enquanto corria para se juntar a mim no sofá. — Ele é gostoso. — Disse ela, apontando para o ator acrelliano que apareceu na miniatura da peça holográfica.


Balancei a cabeça em concordância, antes de perceber o que estava fazendo. — É uma loucura, não é? Que achamos que ele é gostoso? Ela encolheu os ombros, ativando outro console que lhe permitia usar o replicador de comida, que dispensava petiscos alienígenas que descobrimos serem surpreendentemente bons, especialmente porque eram feitos de uma base de nutrientes que aparentemente não tinha gosto. — Eh, acho que superei toda a fase OMG, ele é um alienígena, o que há de errado com você. Você conversa o suficiente com esses caras e percebe que eles são muito parecidos com os humanos em alguns aspectos. — Ela apontou para sua têmpora. — Você sabe, das formas importantes. Fiz um gesto para a sala de recreação. — Eles pensam um pouco diferente do que nós. Theresa abanou a cabeça. — Eu não acredito nisso. Eles amam arte e música como os humanos. São apenas mais honestos sobre sua importância em suas vidas. Eu a estudei pensativamente, grata pela distração de meus próprios problemas. — Você está pensando em encontrar um companheiro alienígena como Claire fez? Ela bufou. — Não como Claire fez! Não, obrigada. — Ela olhou por cima do ombro para a porta, certificando-se de que não havia surpresa do tipo ‘‘oh, ela está atrás de mim, não está?’’ momentos antes de falar novamente em voz baixa.

— Acho que precisarei de mais tempo para me acostumar

com isso. Os Akrellianos... — Ela acenou para o projetor holográfico — Eles são civilizados. Posso entendê-los. Thrax é... Mais primitivo. Ele me assusta muito. Claire é muito mais corajosa do que eu.


Thrax era definitivamente mais primitivo, praticamente rosnando para qualquer um que se aproximasse, se eles não fossem Claire. Nemon também era primitivo, embora não tão anti-social. Nenhum deles veio de civilizações como os Akrellianos ou humanos. Eles estavam totalmente focados na sobrevivência e nunca tiveram tempo para arte, música e teatro. Talvez, como humanos, não pudéssemos mais nos relacionar, mas Claire certamente encontrou uma maneira de preencher a lacuna. Quanto a mim, eu queria. Eu só não acho que Nemon queria, depois de como ele reagiu.


Capítulo 12 Nemon Fiquei olhando para o tentáculo crescendo em um lugar que havia sido apenas uma cicatriz por tanto tempo que temi que nunca mais voltaria. Meu tentáculo genital havia repentinamente e violentamente estourado de minha membrana quando vi a fenda entre as pernas de Joanie quando ela se abaixou para tirar a roupa. A dor tinha sido pouca em comparação com o choque da minha necessidade desesperada de enrolar todos os meus tentáculos ao redor dela e puxá-la para mais perto de mim, enrolando-a de modo que meu novo tentáculo, que crescia rapidamente, pudesse buscar sua abertura e pressionar em seu calor como queria. Como eu queria. Eu jurei que esperaria pela aceitação de Joanie. Não apenas para mim, mas também para Thrax e Claire. Se estragasse tudo, Thrax provavelmente me mataria, e eu mereceria. Não iria empurrá-la ou apressá-la, mas não consegui controlar minha reação o suficiente para permanecer perto dela. Meu corpo inteiro se rebelou contra uma mente pedindo cautela e escapar da tentação permaneceu minha única opção. Nem mesmo fui capaz de vê-la sair do porão, porque teria sido muito fácil segui-la e capturá-la em meus tentáculos, então puxá-la de volta para mim. Meu pai havia prometido que meu tentáculo voltaria quando eu estivesse pronto para procriar, e parecia que a hora havia chegado. A dor disso se esticando e se alongando tão rapidamente fez meu manto ficar tenso e meus outros tentáculos se contorcerem de dor. Meu estômago roncou de fome e senti minha força diminuindo enquanto minha energia era exaurida para regenerar aquela parte do meu corpo.


Assim que tive certeza de que Joanie havia deixado o porão, não ouvindo mais os sons de sua presença ou sentindo as vibrações de seus movimentos, aventurei-me até o carrinho de alimentação que os acrellianos haviam fornecido para mim. Olhei para as iguarias nele, que eu havia ignorado antes em favor do sono. Elas estavam todas dispostas em pequenos pratos, em designs esteticamente agradáveis, mas pelo menos havia muitos delas. Muita comida. Toquei minha boca - tão pequena e ineficiente para a tarefa em mãos. Eu precisava comer. Muito. O mais breve possível. Já fazia um tempo desde que eu havia mudado minha estrutura óssea, permitindo que ela se quebrasse para liberar meu manto para que eu pudesse envolver minha verdadeira boca ao redor de todo o carrinho. Levaria algum tempo para reorganizar a rede que agora flutuava em pedaços dentro de meu manto amorfo, mas não tinha escolha. Meus tentáculos enfiaram a comida em minha boca aberta e não me preocupei em perder tempo mastigando-a, engolindo cada pedacinho inteiro. Estava deitado sobre os restos da carroça, mal saciado, quando senti a presença de um visitante no porão. Ajustei meu manto, abrindo meus olhos para ver se um membro da tripulação estava trazendo mais comida. Em vez disso, vi Thrax se aproximando. Meu suspiro foi um gorgolejo dessa forma, meus lábios muito deformados para fazer o som efetivamente. Thrax parou um pouco além do alcance de meus tentáculos, olhando-me com uma linguagem corporal ilegível. Exceto pela pinça, que se abria e fechava lentamente, como se não tivesse certeza se queria transmitir uma ameaça ou não. — Este é um visual diferente. Tentei encolher os ombros, apaixonado por aquele gesto, que meu pai me ensinou muitos anos antes. Ele comunicou muito, sem dizer uma


palavra. Infelizmente, eu não tinha ombros, então meu manto acabou tremendo. — Estava com fome. Boca pequena muito lenta. Era difícil formar palavras que pudessem ser entendidas no momento. Das minhas características faciais habituais, deixei apenas a minha orelha intacta, porque o tradutor ainda se agarrou a ela. Ele me estudou por um longo momento em silêncio. — Então, você pode fazer isso. Interessante. Suspeitei que você pudesse mudar sua forma. Ele não tinha ideia de quanto. Com a prática adequada e tempo suficiente, eu poderia moldar meu manto em quase qualquer coisa, mas preferi usar o rosto e a parte superior do corpo de meu pai, uma vez que me lembrava de nossa conexão e do parentesco que ele havia compartilhado comigo. — Estrutura óssea. Meu pai fez para que eu pudesse imitar melhor. A treliça não era orgânica e flutuou dentro do meu corpo em pedaços quando foi quebrada, permitindo que eu encaixasse meu manto em espaços pequenos e apertados. Levei algum tempo para me reestruturar, pois houve um pequeno atraso antes que as peças respondessem aos impulsos de meu cérebro distribuído e sistema nervoso. Ordenar a quebra da treliça foi muito mais rápido, retornando-me a uma forma que estava mais próxima da minha forma original. As pinças de Thrax permaneceram abertas. — Útil para você. Talvez isso o torne ainda mais perigoso. Soltei um suspiro que assobiou pela carne solta que era tudo o que restava da minha boca. — Esta forma lenta no ar. Muito devagar. Inflexível.


Eu poderia me arrastar de volta para a água, onde poderia me mover suave e facilmente, mas me sentia preguiçoso enquanto digeria. Além disso, se Thrax quisesse me matar, ele o faria. Ou pelo menos, tentaria antes que eu colocasse meus tentáculos ao redor dele e o esmagasse. Ainda era um debate sobre qual de nós iria ganhar. Ele tinha seu veneno, mas eu tinha o meu, se fosse preciso. Decidi não usá-lo porque raramente precisava dele. Ele era mais rápido. Eu tive que admitir isso. Uma de suas picadas poderia me matar, antes que eu pudesse amarrar seus ferrões com meus tentáculos. Ele ponderou minha vulnerabilidade, e talvez a sua própria, antes de dar alguns passos mais perto de mim. Perto o suficiente para que eu pudesse envolver um tentáculo em torno dele se eu quisesse testá-lo. Então ele se agachou, suas asas espalhando atrás dele, sacudindo para capturar a luz do sol projetada no teto, fazendo arco-íris brilharem nos arbustos ao redor. — Você é uma ameaça formidável. Claire está certa. Você pode ser um aliado útil. — Já provei isso. Recebi um companheiro em troca. — E quanto ao seu futuro, Nemon? Para onde você irá a partir daqui? Não ousei contemplar meu futuro além de ganhar a aceitação da minha companheira. Achei que depois disso, iria segui-la para onde ela quisesse ir, assim como Thrax permaneceria com Claire. De que outra forma eu poderia protegê-la? — Companheira. — Suspeitei que era uma resposta suficiente para ele. Ele balançou a cabeça lentamente. — Ela veio te visitar. Ela o aceitou? — Trabalhando nisso. A regeneração repentina do meu tentáculo genital tinha deixado as coisas complicadas, justo quando ela estava aprendendo a confiar em mim


o suficiente para se sentir vulnerável perto de mim. Queria sua confiança, mas perder o controle sobre meu corpo certamente destruiria minha chance de conquistá-la. Ele ficou em silêncio por mais um longo momento. — Os Akrellianos estão nos levando para uma estação espacial. Eu não sei o que é isso. Eles disseram que depois disso, devemos tomar uma decisão sobre onde queremos passar o nosso futuro. Estação Espacial? Eu tinha visto um daqueles em um holograma que meu pai me permitiu assistir. Ele estava flutuado entre as estrelas, abrigando muitos alienígenas diferentes, e permitindo que seus barcos estelares entrassem e saíssem enquanto se prendiam a ele e descarregavam passageiros e suprimentos. Fiquei fascinado com a visão e repassei as imagens indefinidamente até que minha falta de jeito quebrou o projetor holográfico. Meu pai ficou perturbado por eu ter conseguido consertar sozinho. Ele disse que eu estava aprendendo muito mais rápido do que eles esperavam. Queria que eu escondesse isso das máquinas. Realizei seu pedido, com cuidado para não parecer muito curioso, para não explorar muito, embora às vezes minha curiosidade tivesse vencido minhas intenções, e meus tentáculos tivessem mergulhado em lugares onde eles não deveriam ir. Nunca fui capaz de fazer o holograma da estação espacial funcionar novamente, embora o próprio projetor estivesse consertado. Era como se a imagem simplesmente tivesse desaparecido da pequena máquina e meu pai se recusasse a me dar outra, ou qualquer outro brinquedo de máquina para brincar depois disso. Agora eu veria a estação espacial em pessoa, e meu manto estremecia de excitação. — Estação Espacial.


Ele inclinou a cabeça, seus olhos nunca deixando os meus, embora meus tentáculos começaram a se contorcer perto dele o suficiente para tocar. Eu não tinha vontade de tocá-lo, ao contrário do que fiz com Joanie. Foi fácil manter meus tentáculos para mim. — Não acho que os Akrellianos queiram confiar em você na estação. A decepção acalmou meus tentáculos. Os acrelianos foram cautelosos comigo, temerosos de mim, embora eu tivesse tido o cuidado de não lhes dar razão para isso, mas eles pareciam confiar em Thrax. Argumentaria sobre a sabedoria deles nisso, mas eles não estavam me dando muitas oportunidades para uma entrevista. Se eu quisesse, suponho que poderia solicitar uma com o primeiro comandante, usando meu tradutor para contatá-lo, mas estive mais focado em obter a aceitação de Joanie para mim como seu companheiro do que em fazer amizade com os raros membros da tripulação que entraram neste porão para me trazer comida. — Não vou quebrar as coisas. Pessoas. — Chegamos na estação em duas semanas. Talvez você possa convencê-los disso até lá. Eu recomendo que você comece não fazendo sua companheira vazar sal quando ela deixar este porão. — Vazar de sal? Suas asas estremeceram. — Meus pentes detectaram sal de que Claire chama de 'lágrimas' no chão do elevador quando eu desci aqui. Você fez sua companheira chorar. — Ele gesticulou para meu manto com a mão mais baixa. — Talvez mostrar isso a tenha assustado. Algumas mulheres se assustam facilmente. — Ele balançou a cabeça com isso. — Não Claire, no entanto. Seu tom estava cheio de mais emoção do que normalmente continha. Fiquei muito chateado com suas palavras para prestar muita atenção à riqueza de significado em seu tom.


— Fiz ela chorar? Não foi por causa deste corpo. Ela não tinha visto isso. Só pode ter sido porque eu a assustei antes de ela ir embora. Talvez tenha visto o quão perto eu estive de perder o controle. Desde que ela estava de costas, eu pensei que ela tinha perdido a torção e enrolamento dos meus tentáculos enquanto eles lutavam contra minha vontade em um esforço para envolvê-la e puxála para mim. Eu não havia recuado rápido o suficiente, embora tivesse me movido mais rápido do que antes. De alguma forma, ela sabia que eu estava tão perto de agarrá-la que ficou assustada quando fugiu do porão. Agora, meus tentáculos estavam batendo na passarela pavimentada em perigo, chegando perigosamente perto dos pés de Thrax. Ele deu alguns passos para longe deles, suas pinças se abrindo. — Controle-se e vá para o sua companheira. Corrija isso, Nemon. Ou você vai perdê-la. Meus tentáculos pararam enquanto eu tentava levantar meu manto bulboso, sabendo que levaria várias horas antes que a treliça reformasse completamente o esqueleto da parte superior do meu corpo de uma forma que não assustaria Joanie ainda mais. — Não posso perdê-la. A postura defensiva de Thrax relaxou, como se ele finalmente tivesse decidido que eu não era uma ameaça para ele. — As outras mulheres desejam retornar à Terra, mas sua companheira ainda não fez seus desejos conhecidos ao comandante principal. Se ela voltar para seu mundo natal, Claire me garantiu que você não pode seguila. Você deve fazer com que ela decida ficar com você, ou você a perderá para sempre. Eu precisava consertar as coisas com Joanie antes que ela tomasse a decisão de recuar para um mundo que estaria além do meu alcance, mas


também temia que

vê-la novamente logo após a regeneração de meu

tentáculo genital seria muito tentador para mim. Todos esses anos treinando para ter controle preciso e minucioso sobre cada parte do meu corpo pareceram completamente perdidos quando Joanie, sem querer, me mostrou sua abertura brilhante. Soube imediatamente o que era depois que meu pai explicou cuidadosamente como uma fêmea de Iriduan se reproduzia, embora a espécie de Joanie não fosse exatamente como a de meu pai. Suas partes íntimas estavam no mesmo lugar, porém, e pareciam muito semelhantes. Eu não tinha nenhum interesse em acasalar com as fêmeas Iriduanas que tinha visto nas imagens holográficas. Suas fendas não fizeram nada para me excitar ou regenerar meu tentáculo de acasalamento. Não tinha entendido por que meu pai se incomodou em mostrar essas imagens para mim na época, mas minha discussão com Claire e Thrax mais cedo - bem como as palavras de Thrax quando o capturei pela primeira vez explicaram rapidamente o que sempre foi um mistério. Em algum momento, meu pai teria me dado mulheres para escolher como minha companheira, para que eu pudesse criar mais criaturas como eu para servir aos Iriduanos. Foi por isso que ele ficou tão chateado que meu tentáculo genital foi removido por engano junto com os outros tentáculos que se regeneraram rapidamente. Meu pai não poderia ter me dado uma companheira melhor do que o que Thrax me deu. Nem mesmo se ele tivesse procurado todo o oceano de estrelas para encontrá-la. Eu me perguntei se ele sabia disso quando me libertou. Agora tinha que consertar o que havia quebrado, porque afugentei Joanie e não tinha outra escolha a não ser ir até ela e fazer isso. A pior parte é que sabia que ela estava em aposentos apertados, o que significava que


para caber qualquer parte de mim dentro deles, teria que estar muito perto dela. Perto o suficiente para que até meu nariz inferior pudesse sentir o cheiro dela com cada respiração que eu inspirei. Eu não podia vê-la assim, no entanto. Tive de trabalhar para voltar a mudar e rapidamente, porque já tinha passado muito tempo desde que Joanie tinha saído do porão. — Vou consertar isso. — Disse, enquanto ativava os impulsos que reestruturariam a estrutura dentro de mim para reconstruir minha mandíbula e boca. Thrax se virou para sair, mostrando-me as costas em uma demonstração de confiança ou desdém. Eu escolhi considerar isso como uma confiança crescente. Ele pode ter se sentido desdenhoso, mas não era estúpido. — Bom. Não quero desapontar Claire. Por alguma razão, ela quer que você ganhe sua companheira. Ela diz que já 'despachou' você e Joanie. O que quer que isso signifique.

Thrax não era muito de palavras de despedida. Depois de sua declaração enigmática sobre os planos de Claire para mim e Joanie, que não fazia mais sentido do que aparentemente fazia para ele, ele deixou o porão. A essa altura, eu podia sentir a estrutura formigando dentro de mim, juntando-se para construir meu esqueleto. Meus órgãos internos seriam igualmente reestruturados em um arranjo diferente, o que era doloroso, embora eu já tivesse me acostumado a isso. Enquanto esperava que a dor acabasse, enrijeci minha pele, mudando-a também para devolvê-la à forma que tinha quando Joanie me viu. Minha motivação para vê-la novamente e consertar meu erro acelerou o processo. Eu temia que levaria várias horas, mas levou menos de uma, se a


mudança do holograma do céu fosse alguma indicação. Eu me movi rapidamente em direção à saída do porão, a ansiedade por perder Joanie acelerando minha passagem até que meus tentáculos chicotearam ao meu redor enquanto minhas ventosas pegavam, puxavam e soltavam o chão abaixo de mim. A grande porta deslizante do porão não se abriu quando eu me aproximei, mas tinha visto a tripulação usar o pequeno painel próximo a ela para abrir a porta pressionando as palmas das mãos contra ela. Tentei fazer o mesmo, mas não houve resposta do painel. Debati se conseguiria derrubar a porta assim que percebesse que estava trancada atrás dela, então decidi tentar entrar em contato com o comandante do navio antes de começar a destruí-la. O tradutor grudado na minha orelha era um dispositivo que eu já havia explorado exaustivamente com meus tentáculos, embora tenha evitado a vontade de desmontá-lo para ver como funcionava, porque não queria prejudicar minha capacidade de falar com Joanie, pois demoraria para descobrir como montá-lo novamente ou solicitar um novo. Ele servia como tradutor para os idiomas carregados nele, bem como um dispositivo de comunicação para outros membros da tripulação. Suspeitei que também nos rastreava pelo navio, para que o comandante sempre soubesse onde estávamos. Ele pode ter escolhido confiar em nós, mas essa confiança foi apenas até certo ponto. Especialmente quando se tratava de mim. Pressionar o pequeno botão no tradutor abriu um link para o contato da equipe que havia sido designado para nós. Minha ligação parecia ser o próprio comandante, porque assim que eu ativei meu link, foi ele quem respondeu. — Senhor Nemon, há algo que eu possa fazer por você?


Seu tom era cauteloso, como se não tivesse certeza do que esperar. Visto que esta foi a primeira vez que tentei entrar em contato com alguém da tripulação, ele talvez tivesse um motivo para preocupação. Hesitei, tentando encontrar as palavras para expressar meu pedido. — Você deseja mais comida? Talvez o que foi fornecido não tenha sido suficiente. Meus tentáculos se curvaram para dentro quando olhei para o teto do porão. Estive sob observação tanto no laboratório do meu pai que comecei a ignorar as câmeras, embora sempre tenha sido cuidadoso, pois meu pai havia me avisado para não revelar muitas informações aos observadores. Percebi que estava acostumado a me esconder nos prédios para lembrar que sempre havia olhos de máquina escondidos observando. Tirei a raiva da minha voz, sabendo que isso não me serviria bem na minha posição atual. — Eu preferiria deixar este porão para visitar minha companheira. Houve uma longa pausa. — Se você está falando da fêmea humana chamada Joanie, ela está em um convés com limitações de espaço. — Estou ciente disso. — Olhei para o teto. — A esta altura, você deve estar ciente de que o espaço raramente é uma limitação para mim. — Você não seria capaz de se encaixar totalmente na cabine dela. — Então nos encontraremos no corredor. Desejo ver minha companheira, Comandante. — Eu não disse isso em voz alta, mas o fato de que eu causaria problemas para ele se ele continuasse a me manter trancada estava fortemente implícito na minha postura. — Esta fêmea é verdadeiramente sua companheira? Como Thrax e Claire se acasalaram? — Não gostei de seu tom cético.


— Ela é minha companheira, mas eu ainda não fui aceito como dela. Estou trabalhando nisso e é por isso que preciso vê-la. Ele murmurou no link de comunicação. — Maldito hábitos de acasalamento Iriduan. Tenho pena de você. Seus criadores deveriam ter removido a marca do companheiro de seu código genético. Empurrei minha mão contra o painel. — Estou esperando, comandante. Ouvi um breve suspiro, antes que o painel sob minha palma se iluminasse, digitalizando-a. A porta se abriu ao meu lado. — Muito bem, vou avisar a tripulação do convés que você está vindo. Restrinja suas atividades ao corredor e sala de recreação, por favor. Fiquei satisfeito pelas coisas terem acostecido melhor do que esperava. Ao sair do porão, puxando-me pelo corredor até o elevador apertado, ponderei suas palavras sobre o imprinting. Eu sabia o que era, porque meu pai havia mencionado isso em mais de uma ocasião. Suas descrições fizeram com que ter um companheiro parecesse uma aflição. O pouco que me lembro do meu tempo antes da mudança me disse que as mulheres que minha espécie chamava de ‘‘tecelãs da vida’’ eram perigosas, mas apenas porque tinham uma tendência a tentar me comer depois que eu lhes dava meus fios de semente. Lembrei que ser rápido para me mover foi de vital importância para viver o suficiente para compartilhar mais de meus fios com outras tecelãs de vida. O conceito de uma companheira solteira para toda a vida tinha sido novo para mim - acompanhando minha nova forma, — mas que eu tinha abraçado de todo o coração, mesmo antes de abraçar Joanie pela primeira


vez. Depois de anos de solidão nos prédios, não conseguia imaginar nada melhor do que alguém que se comprometeu a compartilhar sua vida comigo - alguém para seguir e proteger, para abraçar e cuidar. Para explorar até aprender cada centímetro de seu corpo tão bem quanto eu conhecia o meu. Se isso significava que eu teria que sofrer a ‘‘aflição’’ que meu pai temia tanto, então estava disposto a fazer isso. Se minha devoção a Joanie foi o que acontecia quando um Iriduan encontrou uma companheira, eu não conseguia entender por que meu pai tinha sido tão inflexível para que ela fosse evitada. Até o pensamento de Joanie era suficiente para me deixar feliz. Como ele poderia não querer isso?

Capítulo 13 JOANIE Andei pelo meu quarto, debatendo meu próximo movimento. Fui rejeitada e humilhada, mas não conseguia tirar Nemon da minha cabeça. Não sabia se poderia enfrentá- lo novamente depois do que tinha acontecido, mas também não acho que poderia evitar vê-lo. Queria descer até aquele porão e vê-lo novamente. Minha mãe sempre me disse que eu não sabia quando desistir. Ela disse isso com orgulho, depois que eu me recuperei de um golpe de vida após o outro. Eu estava sempre me recuperando, mas só porque estava sempre caindo no maldito chão. Não havia nada de que se orgulhar disso. Ainda assim, nunca fui muito boa em saber quando dobrar minhas cartas e deixar a mesa. Normalmente, só depois de perder tudo é que encontrei uma boa dose de bom senso. Portanto, não foi surpresa que, mais uma vez, estivesse pensando em arriscar. Não sabia se conseguiria lidar com outra rejeição humilhante de Nemon, mas era possível que simplesmente


houvesse um erro de comunicação e eu tivesse lido da pior maneira possível. Talvez de repente ele tivesse que ir ao banheiro ou algo assim. Eu mesma estive lá em mais de uma ocasião na vida.


Quase me convencendo do mal-entendido argumento, deixei minha cabine, meus passos firmes com minha nova determinação. Eu iria marchar até aquele porão e perguntar a Nemon o que tinha acontecido. E se ele me dissesse que eu era repulsiva para ele? Então, com certeza, uma pequena parte de mim poderia morrer por dentro enquanto aquela voz demoníaca na minha cabeça encontrava um novo refrão, mas eu aguentaria. Ri amargamente de mim mesma. Eu era teimosa demais para fazer qualquer outra coisa. Fiquei na frente do elevador, minha mão pairando sobre o painel biométrico, quando ele acendeu antes de eu fazer contato com ele. Percebendo que havia mais alguém no elevador, dei alguns passos para trás para abrir caminho para que eles passassem. Quando as portas se abriram, tudo o que vi foi uma parede apertada de tentáculos, do chão do elevador até o teto. Dei mais alguns passos para trás, meu coração batia forte enquanto eles saíam do elevador. Não podia acreditar que todos eles haviam conseguido caber naquele espaço. E então eu vi a parte superior do corpo de Nemon, revelado enquanto seus tentáculos procuravam apoio fora do elevador, estendendo-se perto de mim, parando enquanto se enrolavam perto das minhas botas. Por causa da maneira como foi espremido no espaço, parecia que ele estava sentado em um ninho de tentáculos. Era bizarro e sobrenatural, ainda mais pela elegância élfica de seu rosto. Seus braços estavam cruzados sobre o peito nu, mas se desdobraram assim que ele teve espaço para se mover. Seus olhos foram imediatamente para os meus e não conseguia pensar no que dizer naquele momento. Um tentáculo se enrolou em volta do meu tornozelo, deslizando pela minha perna até que a ponta fez cócegas no meu joelho. O aperto era tão leve que mal senti através do meu macacão, mas pude sentir o suficiente


para notar o segundo que se enrolou na minha coxa, depois os outros dois que capturaram minha perna livre. Se ele tinha me achado repulsiva o suficiente para fugir da simples visão de meu corpo nu, parecia ter se recuperado disso. O tentáculo na minha coxa estava deslizando mais para cima, enquanto seu olhar permanecia fixo em mim, como se procurasse algum sinal de que precisava parar. Minha garganta ficou seca quando a ponta de seu tentáculo deslizou sobre o tecido que cobria meu monte, em seguida, traçou minha fenda como se ele se lembrasse de sua posição, embora agora estivesse escondido. Minhas dobras ficaram úmidas no momento em que seu tentáculo se enrolou em volta do meu tornozelo e agora elas estavam molhadas o suficiente para que ele provavelmente pudesse sentir através de suas ventosas. Eu engasguei quando seu tentáculo esfregou um pouco mais forte entre minhas pernas. Seus outros tentáculos estremeceram, virando na minha direção e se curvando no último momento, como se quisessem me tocar, mas não ousassem. Fechei os olhos, tremendo com o toque exploratório de seu tentáculo. De repente, ele se afastou e eu cerrei meus punhos. De novo não! — Ei, Nemon. — A voz de Claire me assustou quando meus olhos se abriram. — Não acredito que você se encaixa nessa coisa! Ela estava vindo pelo corredor atrás de mim, o que significava que ele a viu antes de mim e retirou seus tentáculos, o que provavelmente foi uma coisa boa, já que eu estava malditamente perto de ter um orgasmo pela estimulação por cima da roupa bem ali em no meio do convés de passageiros. Olhei por cima do ombro para Claire, e ela piscou para mim quando encontrou meus olhos, então voltou seu olhar para Nemon.


— Então, se você pode caber dentro de um elevador, a sala de recreação aqui não deve ser problema. Vocês deveriam dar uma olhada nisso. — Ela parou ao meu lado, inclinando-se para sussurrar — Esse quarto tem uma porta com tranca. Se estiver interessada. Minhas bochechas queimaram quando dei uma olhada em Nemon. Ele saiu do elevador com uma velocidade surpreendente, dado o quanto ficou apertado dentro dele e agora seus tentáculos ou se espalharam ao longo do chão do corredor ou se estenderam para cima ao redor dele, com as pontas enroladas. Claire contornou os tentáculos perdidos de Nemon enquanto dava os últimos passos para o elevador. — Eu vou me juntar a Thrax. Ele está falando com o comandante sobre nossa próxima visita à Estação Espacial de Ubaid. — Ela juntou as mãos. — Estou tão animada! — Sua expressão ficou séria e um olhar assombrado encheu seus olhos. Eu conhecia aquele olhar. Eu já tinha visto isso o suficiente no meu próprio espelho. — Não que vá ser divertido conhecer o Sindicato e contar nossas histórias. Nemon franziu a testa. — Disseram-me que não terei permissão para estação.

acompanhá-los na

Esqueci meu constrangimento e estado de excitação insatisfeito pela surpresa. — O que? Por quê? Claire balançou a cabeça. — O comandante disse que era melhor manter Nemon no navio enquanto estávamos na estação. Estaremos cercados por alienígenas e nos ver vai causar alguns estragos. Trazendo Nemon... — Ela lançou-lhe um olhar de soslaio. — Sem ofensa, mas você meio que se destaca.


Ele ergueu o queixo. — Não se eu não quiser. De repente, ele desapareceu. Se eu não estivesse olhando diretamente para ele, não teria notado que estava lá até que caminhei direto para ele, sua coloração e até mesmo a textura de sua pele combinavam completamente com o corredor ao nosso redor, até mesmo imitando o reflexo da luz no brilhante porta do elevador. Eu só poderia dizer que era ele pelo mais tênue contorno que teria sido imperceptível se não estivesse procurando. Claire assobiou. — Isso é... outra coisa! Muito legal. Aterrorizante, mas legal. A pele de Nemon mudou de volta para a cor e textura que ele usava quando estava perto de mim, que imitava a minha. Claire alcançou o painel do elevador enquanto Nemon deslocava seu corpo para fora do caminho para abrir espaço para ela, o que trouxe a parte superior de seu corpo para mais perto de mim. Seus tentáculos não se moveram mais do que alguns centímetros dos meus pés. Ela pressionou o painel e o deixou escanear sua palma. — Eu tenho que encontrar Thrax em breve, ou ele estará aqui procurando por mim, pronto para matar o que quer que esteja me atrasando. — Ela balançou a cabeça com uma pequena risada. — Mas um dia, quando eu tiver um pouco mais de tempo, você terá que me dizer como pode fazer isso, Nemon. — Ela me lançou outro olhar penetrante. — Você está bem, Joanie? Entendi o que ela estava perguntando - a pergunta não dita. Eu estava com medo dele e precisava de alguém para me ajudar a me livrar de sua companhia? A resposta foi um retumbante não. Não queria ser libertada, embora provavelmente devesse fugir como o inferno de Nemon. Balancei a


cabeça e acrescentei uma resposta verbal, apenas para que ela entendesse que eu estava confortável exatamente onde estava. — Vamos dar uma olhada na sala de recreação. Eu quero testar essa fechadura. — Pisquei. Ela riu ao entrar no elevador. — É melhor você tomar cuidado com essa garota, Nemon. Ela vai ter você enrolado em seu dedo. — Ela olhou seus tentáculos. — E outras partes também. A porta se fechou em seu rosto sorridente, me deixando sozinha com Nemon. Ele levantou a ponta do tentáculo mais próximo de mim, olhando- o especulativamente. — Você quer que eu envolva seu dedo? Não tenho certeza se ele pode caber em torno de apenas um deles, sem desconforto para você. Estendi minha mão, enquanto borboletas dançavam em meu intestino. — Que tal você envolver minha mão e eu te levarei para a sala de recreação? Seu tentáculo se enrolou em minha mão, apertando suavemente. Senti as ventosas beijando minha palma. Sua carne era mais fria do que a minha, mas não tão fria ou parecida com a de um peixe. Estremeci ao sentir aquele tentáculo forte segurando em mim. Os outros tentáculos de Nemon se contorceram ao redor dele, esticandose e curvando-se em uma dança frenética, antes de finalmente se acomodarem após vários longos momentos de silêncio enquanto ele segurava minha mão. — Você disse que me levaria a algum lugar, Joanie? — Sua voz soou tensa. Balancei a cabeça, virando-me para voltar pelo corredor em direção à sala de recreação. Ouvi seus tentáculos deslizando pelo chão liso com o


leve som ocasional de estalo, mas não houve resistência no tentáculo que eu ainda segurava, como se ele não tivesse problemas em acompanhar meu ritmo. Fiquei maravilhada com sua mobilidade em terra. Tentáculos pareciam uma forma difícil de se mover, mas ele aparentemente se adaptou muito bem a isso. O corredor parecia apertado com todos os seus tentáculos se movendo, mas ele conseguiu passar sem esforço perceptível. Essa foi outra coisa que me deixou maravilhada. Seu tamanho sugeria que ele não deveria caber em qualquer lugar, exceto em um amplo espaço aberto, mas Nemon parecia ser capaz de se espremer em áreas muito mais apertadas. Eu me perguntei se era desconfortável para ele ficar em espaços pequenos, como tinha se tornado para mim, ou se sentia que era aconchegante e mais seguro estar aninhado em um espaço apertado, talvez fora do alcance de outros predadores. Felizmente, a sala de recreação era significativamente maior do que minha cabine e, como Claire havia mencionado, ela tinha uma fechadura que eu poderia definir, que diria a qualquer outra pessoa que tentasse entrar que a sala estava ocupada para uma reunião privada. O motivo da sala de recreação ter aquela fechadura pode ser devido aos vídeos holográficos que eu e Theresa vimos, que mostravam que os Akrellianos tinham alguns hábitos de acasalamento interessantes. Nós duas nos sentimos estranhas assistindo o equivalente a pornografia alienígena juntas, então rapidamente encerramos o holograma, mas foi revelador. Theresa havia saído da sala com uma expressão estranha no rosto e eu me perguntei o que ela faria com sua curiosidade, mas achei melhor não me intrometer. Eu tinha minha própria curiosidade, e meu alien era um pouco mais... Alienígena.


E agora ele estava aqui comigo, sozinho, em uma sala privada que seus tentáculos pareciam diminuir quando pendurados sobre os sofás e cadeiras e a sala no canto que tinha assumido um significado totalmente novo depois do que eu e Theresa tínhamos visto. Não sabia o que fazer neste momento, embora pudesse sentir meu corpo aquecendo novamente quanto mais ficávamos sentados em silêncio, olhando um para o outro com uma cautela que havia desaparecido conforme conversávamos, mas agora havia retornado após nosso encontro anterior. — Por que você desapareceu noite passada? Ele evitou meus olhos, estudando a sala ao seu redor como se os segredos do universo estivessem escritos nas paredes. — Algo aconteceu. — Sim, eu sei que algo aconteceu. Você fugiu. Foi o que aconteceu. Tentei eliminar a dor do meu tom, mas ainda podia ouvir isso vindo. Tentáculos sacudiram em minha direção, antes de congelarem no ar, então se enrolando de volta para seu corpo. — Te assustei. Você chorou. — Me assustou? — Eu balancei minha cabeça bruscamente. — Não. Você me envergonhou! Você fugiu no momento em que deu uma boa olhada em meu corpo nu. Como se tivesse repelido você. Ele exalou um forte suspiro. — Repulsa? — Seus olhos arregalados finalmente encontraram os meus. — Foi isso que você pensou? De repente, seus tentáculos fluíram em minha direção, envolvendo em volta da minha cintura, meus tornozelos, meus pulsos, me cercando - não apertando, mas enrolando forte o suficiente para que não pudesse escapar. Eu nem tinha certeza se queria quando ele me puxou lentamente em direção à parte superior de seu corpo.


— Devo lutar a cada segundo pelo controle de meu corpo quando estou com você, Joanie. Não quero nada mais do que tocá-la, saboreá-la e sentir sua pele contra minhas ventosas. Quando te vi nua, a vontade de tomá-la em meus tentáculos foi tão forte que não pude mais lutar. Eu fugi para evitar assustar você. Meu coração bateu forte contra o tentáculo que se enrolava em minha cintura e agora estava deslizando em direção aos meus seios. Observei seu rosto quando ele me trouxe para perto o suficiente para que eu pudesse sentir sua respiração irregular contra meus lábios. — Eu preciso de você, Joanie. Mais do que jamais precisei de qualquer coisa. Você é minha companheira, mas só se você me aceitar de volta. Eu não quero forçar você. Um calafrio passou por mim, esfriando o calor em meu núcleo. — Você teve um imprinting em mim, não é? — Lutei contra seus tentáculos, empurrando aquele ao redor do meu torso com minhas mãos. — Eu não quero isso! Suas sobrancelhas baixaram enquanto seus lábios se curvaram em uma carranca profunda. Ele me soltou tão rapidamente que tropecei assim que meus pés tocaram o chão. Antes que eu pudesse me recuperar o suficiente, ele destrancou a porta da sala de recreação com um tentáculo estendido e estava se movendo em direção a ela. — Espere! — Agarrei um tentáculo que arrastava, estremecendo quando ele se afastou do meu alcance.

— Nemon, espere! Isso saiu errado.

Percebendo que não poderia impedi-lo ou contê-lo, corri para a porta, esquivando-me de seus tentáculos. Embora tivesse que pular vários deles que já haviam passado pela porta, fui capaz de bloquear sua retirada ficando na porta. Estendi meus braços


para ambos os lados do batente da porta, segurando-o para impedi-lo de simplesmente me empurrar para o lado. Como eu suspeitava, ele imediatamente se afastou, não querendo me machucar apenas para escapar. Incapaz de fazer, se o que Claire me disse sobre imprinting fosse verdade. — Apenas me escute, Nemon. Precisamos conversar sobre isso, ok. Seu olhar se fixou no meu, sua expressão quase faminta, mas eu podia ver a tristeza nisso. — Eu não posso falar com você agora. Não consigo me controlar perto de você. Recusei-me a ceder. — Você não vai me machucar. Eu sei disso agora. Ele balançou sua cabeça. — Eu nunca te machucaria, mas ainda posso assustá-la. — Os tentáculos que montei levantaram para roçar contra a parte interna das minhas coxas, causando um choque instantâneo de calor no meu núcleo. — E não posso prometer que não vou tocar em você. Um deles bateu contra minha fenda, pressionando com força enquanto ela se retraía. Ele virou para o lado inferior quando a ponta estava debaixo de mim e senti o beijo das ventosas que puxaram o tecido úmido que cobria meu sexo. Quase gozei, mas mantive minha posição quando o tentáculo finalmente se afastou, deixando Nemon com um olhar selvagem que meio que me assustou, mas no bom sentido. — Acho que você tem controle suficiente para não fazer nada que eu não queira. — Você queria isso? — Sua voz era quase um sussurro.


Engoli o nó na minha garganta. Oh sim, queria isso. Isso e muito mais que eu não conseguia articular naquele momento, mas tive que ter cuidado com o que dizia porque Nemon teve um imprinting em mim, o que não era uma coisa boa para ele, nem era algo que eu pudesse ser feliz ao saber. Ele não me escolheu porque eu era alguém especial para ele. Não me queria porque gostava da minha personalidade, ou mesmo da minha aparência. Ele só estava interessado em mim porque algum imperativo biológico distorcido o forçou a ficar. Não queria um amante que fosse obrigado a me escolher. Eu queria alguém que me quisesse - que me escolheria entre todas as outras mulheres na galáxia. Eu queria alguém que olhasse para mim e visse algo que valesse a pena amar em mim. Ainda havia esperança. Espero que ele possa aprender a me amar do jeito que seu corpo já me desejava. Eu tinha visto Thrax com Claire e o ouvi falar sobre ela para os membros da tripulação e, honestamente, qualquer um que ficasse parado o suficiente para ouvir. Na verdade, as únicas palavras que ele falou voluntariamente com as pessoas foram palavras de elogio para sua companheira. Ele não estava apenas fisicamente atraído por ela, estava apaixonado pela pessoa que Claire era. Falou de sua força, de sua sabedoria, e por incrível que pareça, ele mencionou sua empatia - como se fosse algo que particularmente se destacasse como um traço admirável. Eu não esperava que um alienígena insetóide achasse tal coisa importante, mas Thrax parecia pensar que valia a pena mencionar. Acreditava que ele a amava porque tinha aprendido a amála, não porque seu corpo lhe dizia que não tinha outra escolha. Sua devoção a Claire era inspiradora e a dela por ele também. Eles encontraram o amor no lugar mais improvável, e isso me fez acreditar que


talvez eu pudesse fazer o mesmo com o alienígena que me fascinou desde o primeiro momento em que coloquei os olhos. Mas como comunicar isso a Nemon, que parecia estar lutando - e perdendo - uma batalha interna pelo controle contra a compulsão de acasalar comigo? Ele poderia até mesmo se concentrar em conversas se quisesse acasalar tanto que era uma distração constante? Talvez se você se abrir... Minha voz interior perversa - não a cruel sugeriu que eu me servisse do que ele oferecia. Que aproveitasse a sala de recreação trancada e fizesse cada fantasia suja que eu poderia sonhar com aqueles tentáculos. Depois que ambos estivéssemos saciados, poderíamos conversar. Então, talvez, ele veria coisas em mim que o fizessem se gabar para todos que encontrava sobre sua companheira. Coisas que nunca fui capaz de ver em mim mesma. Foi esse lembrete duro que esfriou meus pensamentos lascivos. E se ele não encontrasse nada que o agradasse em mim? E se eu fosse sempre o fardo que seu corpo o forçou a escolher, mas que nunca aprendeu a amar de verdade? Hesitei muito em minha resposta à sua pergunta. A luz febril parecia esmaecer de seu olhar e seus tentáculos estavam estranhamente imóveis no chão ao seu redor. Quase nunca ficavam parados e era como se tivessem morrido de repente. Não gostei da ideia disso, ou que minha rejeição o machucou tanto quanto sua rejeição percebida me machucou na noite passada. — Nemon, eu quero você. Quero mesmo. — Lutei para encontrar as palavras certas para explicar. Eu sabia o que queria. Essa foi fácil. Mas tinha que pensar no que precisava. — Temos que ir mais devagar do que isso. Eu preciso te conhecer melhor, mas o mais importante, eu preciso que você me conheça.


Um único tentáculo se ergueu em direção ao meu rosto, a ponta roçando suavemente na minha bochecha. — Por que você chora, Joanie? Eu te assustei de novo? Soltei a moldura da porta para tocar minha outra bochecha, descobrindo que a frieza que senti contra ela era a umidade das minhas próprias lágrimas. Nem tinha percebido que estava chorando. — Eu não sei. É por isso que temos que ir devagar. Não sei mais como me sinto. Tudo é tão confuso e ainda estou tendo pesadelos de que vou acordar naquela cela horrível e que tudo isso terá sido um lindo sonho que nunca aconteceu. Seus tentáculos me envolveram, lentamente desta vez, sem a urgência e os espasmos de seus movimentos anteriores. Quando eles me abraçaram, me senti estranhamente confortada. Não tinha mais medo de que ele me machucasse, mesmo por acidente. Não dado o que eu era para ele. Eles apertaram apenas o suficiente para me levantar do chão, me pendurando enquanto me puxavam para a parte superior de seu corpo. — Por favor, não peça que eu belisque você para ter certeza de que é real. — Ele tocou meu rosto com a mão que eu raramente o tinha visto usar, segurando minha bochecha, seus olhos olhando para sua mão como se ele a estudasse. — É tão estranho que sua espécie tenha apenas essa sensação quando eles se tocam. Eu me sinto meio cego quando uso minhas mãos. — As ventosas puxaram minhas roupas e pele onde seus tentáculos me seguraram. — Eu sinto muito mais com meus tentáculos. Como você aguenta? É por isso que você deve se machucar para sentir que sua vida é real? Suspirei, caindo em seu abraço estranho, sentindo-me segura, embora me segurasse acima do solo. Ele não me deixaria cair.


— Nossos sentidos podem não ser tão bons quanto os seus, mas não nos machucamos rotineiramente apenas para ter certeza de que não estamos sonhando. É que eu tinha escapado tantas vezes para minhas memórias enquanto era torturada, que às vezes, elas pareciam mais reais do que o que estava acontecendo comigo. Então, eu acordava e descobria que ainda estava no inferno. Então, agora fico desconfiada quando as coisas estão muito boas. Os tentáculos que não estavam me segurando se contorceram atrás de Nemon quando sua pele mudou de cor e suas sobrancelhas baixaram o suficiente para lançar sombras em seus olhos. — Diga-me como consertar sua dor. Vou esmagar aqueles que te machucaram. Vou esmagar aqueles que ordenaram que machucassem você. Vou destruir o próprio império que eles servem. Eu ri, embora sua expressão fosse terrivelmente feroz. Ainda assim, senti um arrepio, porque ele queria vingança pelo meu sofrimento. — Você não pode destruir impérios inteiros, Nemon. Você já tem uma reputação um pouco perigosa. As pessoas podem desaprovar isso. — Não os Akrellianos. Ele provavelmente tinha razão. Eles provavelmente lhe dariam um par de frotas para realizar sua vingança. Certamente não havia amor perdido entre nossos novos anfitriões e nossos ex-captores. — Ainda assim, toda aquela destruição reduziria o tempo de carinho. — Pressionei minha mão contra seu peito, acariciando meus dedos sobre sua pele macia e músculos ondulantes. Eles se contraíram sob minha palma. — Vou encontrar uma maneira de consertar minha própria dor. Você poderia ajudar com isso, ouvindo quando eu preciso falar e me segurando quando eu não puder mais falar sobre isso.


Sua pele tinha uma textura diferente da minha. Não tão macio, mas mais suave. Não cedeu muito e os músculos por baixo também não, embora sentisse que eles se mexiam sob minha mão de uma forma que não era totalmente normal. Era estranho tocá-lo assim. Parecia muito íntimo, como se ele estivesse se deixando vulnerável a mim ao me deixar entrar em contato com sua parte superior do corpo. Nemon me carregou de volta para a sala de recreação, seu tentáculo manipulando a fechadura no painel da porta para que se fechasse atrás de nós e acendesse para indicar o aviso de privacidade. Ao mesmo tempo que estava fazendo tudo isso, ele também me puxou contra seu peito, envolvendo os braços em volta dos meus ombros como se a ação não fosse familiar para ele pessoalmente, mas viu outra pessoa fazer isso. Seus dedos ficaram presos no meu cabelo e ele esfregou uma mecha entre o polegar e o indicador. Achei que ele fosse me soltar quando chegamos ao sofá, mas continuou a me abraçar, acariciando meu cabelo e minhas costas com as mãos calmantes, enquanto seu tentáculo permanecia enrolado em minha cintura e pernas. Nem uma vez eles se perderam onde eu quase esperava que o fizessem. Parecia que ele realmente estava disposto a simplesmente me abraçar e apenas ouvir.


Capítulo 14 JOANIE Demorei um pouco para começar a falar. Sempre hesitei em compartilhar histórias do meu passado porque havia muitas áreas dolorosas e não queria desmoronar na frente de outras pessoas. Por mais que tivesse tentado desenvolver uma, não tinha uma cara de pôquer. Eu podia ler os relatos de outras pessoas, mas nunca conseguia controlar os meus. Também não conseguia esconder minhas emoções de serem mostradas na superfície. Quando desmoronava emocionalmente, minha vulnerabilidade estava à mostra para qualquer um que me visse. Eu senti que isso me deixava fraca - que chorar e continuar era uma coisa ruim que deveria ser erradicada. Meu ex-marido, Michael, reforçou esse sentimento, insistindo que eu estava exagerando quando perdi uma gravidez após a outra. — Não é grande coisa — ele disse depois do meu terceiro aborto. — Não é como se tivesse chegado a narcer ou algo assim. Você está o quê, de dez semanas? Você não precisa se lamentar por isso. Cada. Maldita. Hora. Vamos apenas tentar novamente. Seu tom impaciente havia voltado para mim quando ele saiu de casa para ir trabalhar, deixando-me sentada sozinha no sofá, olhando através de um filme de lágrimas em um talk show diário que não conseguia me distrair da minha devastação. Minha mãe foi mais compreensiva, mas também foi muito mais forte do que eu, que me sentia um fracasso sempre que me comparava a ela. Ela suportou todo o seu sofrimento com estoicismo, nunca quebrando na minha frente. Havia apenas rastros ocasionais de rímel em seu rosto para marcar seu sofrimento.


Não pude conter minhas lágrimas enquanto andava no campo minado com Nemon, desencadeando uma explosão emocional após a outra enquanto eu contava a ele sobre meu passado. Eu falei. Ele ouviu. E nenhuma vez senti que ele estava me julgando por minha reação. Ele não era muito bom em controlar suas próprias reações. Sua pele mudaria de cor, sua expressão escureceria, seus lábios se retrairiam em um rosnado quando mencionava as pessoas que me machucaram, ou machucaram quem eu amava. Seus tentáculos se enrolariam como se quisessem esmagar, mas os que se enrolaram ao meu redor nunca apertaram mais do que um leve aperto quando eu precisava de garantias para continuar. Entrei na sala de recreação tendo pensamentos lascivos. Nunca imaginei que acabaria sendo segurada em seus tentáculos enquanto chorava e expunha meus problemas a ele como se ele fosse um terapeuta. — Minha mãe engravidou de mim quando tinha apenas dezesseis anos. Seus pais disseram a ela para se livrar do problema ou ela não precisava se preocupar em voltar para casa. — Lembro-me bem de meus avós, embora nunca os tivesse homenageado com tal título. Eles vieram para minha formatura no colégio, trazendo um cartão miserável para compensar todos os anos que ignoraram minha existência. Eu o joguei na cara da minha avó, praticamente cuspindo com minhas palavras furiosas para eles. Não estava com raiva por não terem feito um esforço por mim, mas por terem forçado minha mãe adolescente a morar na casa de suas amigas e às vezes até no carro para me manter. — Meu pai nem estava na foto. Um cara mais velho que a engravidou e desapareceu quando ela descobriu que estava grávida. A pior parte é que ele nem deu a ela seu nome verdadeiro. Ela não tinha como rastreá-lo. Então, ela lutou para sobreviver sozinha.


Ficou feio para ela. A ajuda do governo não tinha sido suficiente, então ela começou a se despir em um clube de cavalheiros assim que tinha idade suficiente para fazê-lo legalmente. No começo, o dinheiro era bom o suficiente para alugar uma casa de verdade nos subúrbios de Vegas e brincar naquele quintal foram as melhores lembranças da minha infância, mas depois descobri que ela estava se prostituindo para pagar as contas. — O vício está na minha família. — Coloquei minha cabeça contra o peito de Nemon, ouvindo para ver se ele tinha batimento cardíaco. Ele tinha um, embora batesse em um ritmo estranho. Eu estava distraída da minha história o suficiente para pressionar minha mão contra seu peito, tentando localizar seu coração. Ele batia na minha bochecha, mas houve outro baque sob minha palma quando deslizei minha mão ao longo de seu peito. — Você tem dois corações? — Três. — Disse ele, pegando minha mão e pressionando-a mais para baixo, contra os músculos dilacerados de seu abdômen, até que eu estava quase tocando a membrana de seus tentáculos. — Isto é tão legal! — Isso explicava o ritmo estranho que eu estava ouvindo. Queria explorar seu corpo mais, mas reconheci que pelo menos um pouco disso era procrastinação. Eu queria que ele me conhecesse, para que talvez pudesse encontrar um motivo para me amar, mas isso significava ser honesta com ele sobre as coisas que não eram amáveis em mim. — Minha mãe lutou contra o vício em drogas. Ela escondeu de mim muito bem quando eu era pequena, mas quando eu tinha oito, ela começou a namorar seu traficante, se é que se pode chamar de 'namoro'. Naquela época, ela havia perdido a casa, e nós mudamos de um motel decadente para outro, pagando por semana. Seu trailer era o lugar mais estável em que morei em dois anos, mas ele começou a bater nela com bastante


regularidade. Regular o suficiente para chegar da escola e encontrá-lo fazendo isso. Eu senti todos os tentáculos de Nemon ficarem tensos. — Eu não entendo. Ela estava tentando comê-lo? — O que? — Eu me afastei o suficiente para olhar para ele. — Você está falando sério? — Uma olhada em sua expressão confusa me disse que ele não estava brincando. — Oh, Deus, suas fêmeas comem os machos quando eles acasalam? Ele assentiu. — Sabe-se que pode acontecer, se não tivermos cuidado. Meu pai disse que este não é o caso com as fêmeas de sua espécie, ou muitas outras, mas ele ainda temia as fêmeas de sua espécie. Por mais interessante que fosse a última parte, eu estava mais interessado em Nemon do que em seu ‘‘pai’’. — Então, suponho que você não tenha o hábito de acasalar com as fêmeas de sua espécie. Vendo que você ainda está aqui para contar sobre isso. — Olhei ao meu redor para a massa de tentáculos letais se espalhando pela sala de recreação. — Suas fêmeas devem ser enormes para poder comer seus machos. Ele sorriu. — São muito maiores, mas fui muito rápido. Não pude deixar de rir de sua declaração orgulhosa. — Sim, isso geralmente não é algo que um cara humano iria se gabar, mas, novamente, nós, mulheres, não vamos comer nossos homens depois de fazermos a ação. Tende a impedi-los de querer ficar por perto e acariciar. — Ao contar um dos piores momentos da minha vida, ele conseguiu me fazer sorrir. Eu ainda podia sentir o veneno nessas memórias em meu coração, mas novas memórias estavam se formando como uma antitoxina. Agora, eu


sempre me lembraria desse momento, com seus tentáculos me segurando em um abraço suave, apoiando-me como se meu peso não fosse um fardo, acariciando-me como se me acalmar fosse mais importante do que me seduzir. E ele me fez rir. Ele não percebeu a maravilha que eu senti por aquela conquista ou a maneira como estava catalogando cada detalhe para relembrar depois, quando os momentos não fossem tão bons. — Se suas fêmeas não ameaçam as vidas dos machos, então por que o companheiro de sua mãe faria mal a ela? Isso é o que 'bater nela' significa, não é? Minha diversão evaporou e tive que retornar à escuridão da minha confissão. Pior, tive que explicar essa escuridão para Nemon. Quando eu disse a ele sobre a perda de meus bebês e sobre a falta de interesse de meu marido em minha dor, entendeu minha dor imediatamente. Ele tinha ficado irritado com a insensibilidade de Michael e simpático com as perdas que ainda permaneciam como cicatrizes em meu coração. Essa memória que eu estava compartilhando agora era um tipo diferente de feia. — Ele a machucou porque podia. Porque ele era mais forte do que ela e ela precisava do que ele tinha a oferecer - um teto sobre nossa cabeça, comida para nossas barrigas, dinheiro para nos sustentar. — Hesitei antes de admitir o último, porque o ressentimento que ainda sentia com aquela admissão parecia como uma deslealdade. — E drogas para aliviar seus desejos. Eu consegui incomodá-lo. Quaisquer sinais de felicidade que ele mostrou em seu próprio sucesso de acasalamento desapareceram de sua expressão quando uma carranca profunda o substituiu. Ele me puxou de volta contra seu peito, suas mãos alisando a pele das minhas costas, embalando-me contra ele como se precisasse me proteger de algo. Seus


tentáculos reforçaram essa impressão. Aqueles que não estavam enrolados ao meu redor - me apoiando - se ergueram verticalmente para formar uma barreira, nos envolvendo em uma gaiola de tentáculos. — Esse monstro ainda vive? — Seu tom sugeria que ele corrigiria isso de bom grado. Dei um tapinha em seu peito, em seguida, comecei a brincar com os fios de cabelo que caíam sobre seu ombro, enrolando-os em volta do meu dedo enquanto procurava as palavras para descrever o que tinha acontecido em seguida. — Não sei se ele ainda está vivo, mas sei que quase o assustei quando entrei no quarto deles, tirei a arma carregada da mesinha de cabeceira e levei-a para a sala para apontá-la para ele. Eu disse para se afastar ou eu explodiria seu piu piu. — Essa era a única palavra que eu conhecia na época - as outras crianças da minha escola sussurrando a palavra que alguém tinha ouvido de seus pais com risadas culpadas. Quando isso foi explicado para mim, tive a reação típica de uma criança de oito anos a tal coisa. Minha mãe tentou me proteger dos aspectos mais sórdidos de sua vida. Ela conseguiu manter a maior parte da minha inocência até aquele dia. — Piu piu? Eu queria rir com seu tom questionador enquanto ele repetia a palavra exatamente como eu disse, não uma tradução de seu idioma para o meu. Queria rir disso, assim como aquelas crianças da minha classe haviam feito há muito tempo. Queria algo para me divertir, de novo. — Seu pênis. Um homem humano tem um... — Eu levantei minha cabeça de seu peito, olhando em seu rosto, perguntando-me o que ele tinha. — É como um homem se acasala. — Deixei cair minha mão de seu cabelo para acariciar seu abdômen novamente, onde seu terceiro coração batia firme e forte, então eu deixei minha mão descer, para a pele mais firme de


sua membrana, que era mais parecida com a textura de seus tentáculos. Parei bem onde sua virilha estaria antes de se dividir em seus tentáculos. — O que você usa para acasalar? Você mencionou que queria, mas... — Meu tentáculo de acasalamento cresceu novamente para você, Joanie. Meu corpo inteiro ficou vermelho de calor. — Você quer dizer que um de seus tentáculos é seu... Um tentáculo se ergueu em minha direção e ele o acenou na frente do meu rosto. A ponta se curvou como as outras, mas depois se endireitou e endureceu bem diante dos meus olhos, e pude ver que havia uma área oca na parte inferior. Era tão grosso quanto seus outros tentáculos - três dedos de largura na ponta, afinando depois de cerca de trinta centímetros em um diâmetro ainda maior - e era tão longo quanto seus outros tentáculos. — Isso... Isso é grande. — Eu não vou usá-lo, se você não quiser. — Ele deixou cair, enfiando a ponta endurecida sob sua membrana como se para escondê-la do meu olhar fascinado. — Teremos que discutir isso mais tarde... — Abanei meu rosto. — Está quente aqui. Está quente aqui para você? Ele estendeu um tentáculo para o painel de controle do clima na parede. — Diz que é uma temperatura ótima para os atuais ocupantes. Você gostaria que eu esfriasse a sala? Eu balancei minha cabeça. — Estou me distraindo. Você nem mesmo disse o que pensa sobre o que acabei de lhe contar. Ameacei destruir alguém com uma arma quando tinha apenas oito anos. Isso não te incomoda? Eu nunca compartilhei essa história com ninguém. Na época, estava com muito medo de que seu traficante me denunciasse à polícia e eu fosse presa como juvenil ou que ele voltaria e mataria a mim e minha mãe,


embora ela tivesse nos mudado assim que conseguiu ficar de pé depois de sua rápida retirada do trailer. Pegamos a arma e todo o dinheiro que encontramos no local, o que era bastante para o que estávamos acostumados. Ele nunca veio por nós, mas vivi com medo de que ele fizesse - por um longo tempo. Eu tinha algumas suspeitas sobre o que tinha acontecido com ele, mas não comentei com Nemon. Esses eram os segredos da minha mãe. Uns que ela nunca compartilhou comigo. — Quanto tempo levaria para seu piu piu regenerar? Eu ri, uma risada curta, aguda e com um pouco de histeria no final. — Sim, isso não acontece com os humanos, Nemon. Teria desaparecido para sempre. — Então eu acho que você deveria ter atirado nele. Se ele não sabe como lidar com uma mulher, não merece seu pau. — Eu tinha oito anos. Teria errado e provavelmente o acertaria na perna ou algo assim. — Ainda assim, eu não consegui tirar o sorriso dos meus lábios. Até porque ele pensava que ‘‘piu-piu’’ era a palavra apropriada para o falo humano agora, graças a mim. Senti uma estranha sensação de leveza que não era familiar para mim. O peso daquela memória tinha vivido comigo por tanto tempo que quase não percebia mais seu peso, aprendendo a evitá-la como fizera com tantas outras memórias. Ele não me julgou. Não usou o que disse contra mim. Seus dedos palmados começaram a massagear minhas costas, pressionando os nós ali. Senti alguns de seus tentáculos se juntarem enquanto ele massageava. — Essas histórias angustiam você. Todos os músculos do seu corpo estão tensos e cada vez mais rígidos. Não parece que compartilhá-los está ajudando a consertar sua dor.


Seu toque era celestial. Não conseguia me lembrar da última vez que recebi uma massagem e ele realmente sabia como encontrar os nós e soltálos. — Na verdade, está ajudando. Eu segurei isso por tanto tempo que estava com medo de não ser capaz de falar sobre isso. — Eu tiraria sua dor se pudesse. Eu me pergunto agora se é por isso que meu pai tirou minhas memórias. Gemi contra seu peito quando seus tentáculos deslizaram para o meu pescoço e começaram a apertar suavemente esses músculos. — Ele realmente as levou? É por isso que você não consegue se lembrar do que aconteceu antes de você ser mudado? — Lembro-me de algumas coisas, mas passei muitos anos sozinho, sem nada para fazer a não ser pensar, e todas aquelas memórias antes do laboratório eram como cardumes de peixes que se espalhavam assim que eu tentava agarrá-las. Às vezes, conseguia puxar uma para trás, mas muitas simplesmente desapareceram. Lembro que meu povo é solitário, mas o povo de meu pai não. Apesar de saber disso, é difícil entender qual parte de mim foi responsável pela solidão e pelo desespero de ouvir outra voz além da minha quando eu estava nos prédios ou para ver outra pessoa. Quando agarrei Thrax, soube que ele poderia me matar. Eu não me importei. Precisava falar com alguém, ou teria enlouquecido. Sua dor me machucou ainda mais do que a minha. Como ele sobreviveu por tanto tempo sozinho, depois de ser uma cobaia - cutucado, torturado e mudado por quem sabe quanto tempo antes disso? Pelo menos uma coisa permaneceu constante em todas as minhas memórias e essa coisa era eu. Sempre soube o que era e como deveria me sentir. Sempre estive cercada por outras pessoas como eu. Nemon, como Thrax, era completamente único.


Se ele voltasse para seu mundo natal, seria uma raridade lá tanto quanto em qualquer outro lugar da galáxia. Ele realmente não tinha família. Mas ele me pegou. Quer estivesse pronta para aceitar ou não, eu já tinha decidido que ele nunca ficaria tão sozinho de novo - não enquanto eu pudesse evitar. A gola alta do meu macacão escondia minha pele de seu tentáculo massageador e me arrependia disso, pois envolveu suavemente minha nuca, trabalhando cada músculo tenso enquanto eu derretia contra seu peito, suspirando de contentamento. — Você não precisa mais abduzir alienígenas assassinos, Nemon. Terei prazer em lhe fazer companhia de agora em diante. — Sorri. — Mmm, especialmente se você continuar fazendo isso. Ele deu uma risadinha. — Thrax não é tão ruim, mas ele não é tão bonito quanto você. Eu ri de novo, me sentindo leve e livre, relaxada de uma maneira que não tinha estado desde antes de ser abduzida por alienígenas. Relaxada no abraço mais estranho de todos os tempos.

Capítulo 15 JOANIE Estava determinada que da próxima vez que Nemon me desse uma massagem com seus tentáculos mágicos, eu queria ficar nua e precisaria ser uma massagem de corpo inteiro. Infelizmente, enquanto ele fazia seus milagres, adormeci em seus braços, perdendo a oportunidade de aproveitar nossa privacidade na sala de recreação. Meu tradutor me acordou quando buzinou para me informar que alguém estava tentando se comunicar comigo.


Levantei minha cabeça do peito de Nemon, percebendo para meu horror que eu até babei um pouco em sua pele. Rapidamente limpei meus lábios e tentei limpar a umidade de sua pele com meu antebraço, sem deixar isso óbvio. Assim que comecei a me mover, suas mãos se levantaram para acariciar meu cabelo, deixando-me saber que ele estava acordado e provavelmente permaneceu assim o tempo todo que eu desmaiei nele. — Quanto tempo eu estive fora? — Sufoquei um bocejo, sentindo que, por mais longo que tenha sido, não foi o suficiente. Eu poderia ter dormido com ele para sempre. Eu me senti... Segura. — Não muito. Acabou de passar da segunda hora. — Ah! Eu estive fora por duas horas? — Lutei contra seus tentáculos, gesticulando para que me colocasse no chão. Ele obedeceu, embora seus tentáculos se desenrolassem do meu corpo lentamente, como se estivessem relutantes em me deixar ir. — Caramba, eles vão pensar que estamos tendo uma maratona aqui! Não admira que meu comunicador esteja disparando. Quando toquei no botão para abrir o link, estiquei meu corpo, desfrutando da sensação lânguida dos músculos que foram bem massageados, enquanto os batimentos cardíacos triplos de Nemon me acalmavam para dormir. Esqueça a música New Age e a aromaterapia. O almíscar exótico de Nemon e os corações pulsantes - combinados com seus tentáculos habilidosos - eram o paraíso. Eu nunca ficaria satisfeita com uma massagem regular novamente. A voz de Tarin falou em meu ouvido assim que o link foi aberto. — Estou maravilhada com a sua resistência, garota, mas podemos ter nossa sala de recreação de volta? Meu rubor se espalhou de minhas bochechas até os dedos dos pés. — Adormeci. Isso é tudo.


— Pffft. Você não tem que inventar histórias para mim, especialmente as chatas como adormecer. Eu quero ouvir as coisas boas, mas você deve destrancar a sala de recreação ou as pessoas por aqui vão começar a falar... Sobre como um de vocês precisará de um médico depois de todo esse amor. Eu e as meninas estamos fazendo apostas em qual. Escolhi você para a vitória. Olhei para Nemon, que estava me observando com uma sobrancelha erguida, esperando que eu explicasse o que Tarin estava dizendo - uma explicação que ele não iria entender. — Tudo bem, vamos destrancar o quarto agora. Apenas... Nos dê um minuto para limpar. — Eu não queria enfrentar uma multidão de pessoas no corredor com meu rubor queimando e Nemon se perguntando o que todo mundo estava olhando. — Sem problemas. Vamos precisar enviar um robô de limpeza? — Eu podia ouvir o riso em sua voz. — Acabamos de conversar e adormeci! — Abaixei minha voz quando vi a expressão de Nemon se fechar até ficar ilegível. Talvez estivesse imaginando aquele vislumbre fugaz de dor que cruzou seu rosto com minhas palavras para Tarin. Seu tentáculo se estendeu até o painel da porta, destrancando-o. Então ele fez sinal para que eu o acompanhasse fora da sala de recreação. — Estamos saindo agora, Tarin. — Apertei o botão para interromper sua resposta, esperando que ela e os outros não estivessem do outro lado da porta. Quando se abriu, o corredor além estava vazio. Saí da sala de recreação e dei vários passos para trás em direção às cabines para dar a Nemon espaço para sair.


Assisti-lo se mover era enervante e inspirador. Seus tentáculos sempre o precediam e me perguntei se isso era uma questão de instinto de sobrevivência. Afinal, se ele perdesse um, voltaria a crescer. Eles se estendiam além da abertura da porta, enrolando-se ao redor da moldura, parecendo para todo o mundo como a entrada de algum monstro do filme de terror das profundezas. À medida que mais de seu comprimento era derramado para fora da sala de recreação, eles se mexeram, enrolaram-se e se torceram para dar espaço no corredor para o resto de seu corpo. Então sua parte superior do corpo apareceu, seus tentáculos amontoados sob a membrana para abrir espaço e ajudá-lo a prosseguir pelo corredor em direção ao elevador. Segui seus tentáculos arrastando, incomodada pelo fato de que ele mal me olhou quando saiu da sala antes de ir em direção ao elevador. Quando chegamos à porta brilhante, Nemon pressionou a palma da mão contra o painel, que começou a examiná-lo. Ele não disse uma palavra para mim, mas seus tentáculos abriram espaço para eu me aproximar de sua parte superior do corpo, enrolando-se em torno de mim como se ainda quisessem me abraçar, mas não ousassem. — Ei. Obrigada. — Acenei atrás de mim em direção à sala de recreação. — Por ouvir. Por cuidar de mim. — Esfreguei minha nuca. — Por essa ótima massagem. Ele olhou para mim, então voltou seu olhar para a porta como se pudesse querer que ela se abrisse mais rápido. — Eu te causei constrangimento. Ouvi você no comunicador. Você não queria que suas amigas pensassem que tínhamos feito qualquer coisa além de conversar. Suspirei alto.


— Isso é porque Tarin estava me provocando, não porque estou com vergonha de você. Quando acontecer entre nós, é melhor você acreditar que não vou fingir que não aconteceu. Sua cabeça girou até que seus olhos se fixaram em mim. — Quando isso acontecer? Estendi a mão, tentando tocar sua bochecha, mas ele era simplesmente muito alto. Quando percebeu o que eu queria, sua parte superior do corpo abaixou até que seu rosto estivesse um pouco acima do meu, enquanto seus tentáculos se achatavam sob ele. Acariciei minha mão ao longo de sua mandíbula forte, em seguida, tracei sua bochecha alta. — Quando você e eu fizemos amor, não vou esconder esse fato de ninguém. — Fazer amor? — Ele virou o rosto na minha palma. — Já ouvi a palavra amor antes. É uma emoção, não é? Meu pai usou a palavra com ceticismo. Ele não acreditava que existisse. Disse que tudo o que os homens Iriduanos conheciam era escravidão. Como um humano faz amor? — Tantas maneiras, Nemon. Os humanos amam de muitas maneiras. Mas o que eu quis dizer foi quando nos acasalamos. Ele respirou fundo, levantando a cabeça da minha mão. — Você deseja acasalar? Você está me aceitando? Eu não estava aceitando o imprinting. Queria o amor verdadeiro, mas acreditava que, se desse uma chance, poderia encontrá-lo com Nemon, por mais louco que fosse. Algo sobre ele me chamou a atenção. Tive que dar uma chance a isso e chance era meu vício. Um que eu ainda não tinha confessado a ele. Haveria tempo para isso, porque eu não iria deixá-lo ir. — Eu disse quando, não se. Quero dizer isso.

Capítulo 16


JOANIE Tarin sorriu para mim quando voltei para a sala de recreação e encontrei as outras mulheres já acomodadas no sofá, enquanto Theresa vasculhava os hologramas em busca de algo que não fosse muito envolvente para distrair a conversa. Uma variedade de lanches foram colocados na mesa baixa, mostrando que alguém estivera no replicador, e Claire deu um tapinha no sofá ao lado dela quando me viu. — Guardei um lugar para você. Tarin esfregou as mãos. — Você está de brincadeira? Coloque esta garota no centro para que todas nós possamos vê-la enquanto ela nos dá os detalhes! Theresa olhou para Tarin e revirou os olhos. — Dê um tempo para ela, Tare. — Ela sorriu para mim. — Você terá que perdoá-la. Ela é uma criança presa em um corpo adulto. Tarin estendeu as mãos, fingindo uma expressão de ofensa passável. — O que? Como se ninguém mais estivesse curiosa? Sou a única aqui que deseja mais informações sobre as maravilhas da galáxia? Claire balançou a cabeça, um pequeno sorriso brincando em seus lábios. — Algumas pessoas têm um pouco mais de tato, Tarin. — Pfft, tato é para pessoas chatas. — Ela se recostou em sua cadeira e cruzou os braços, mas me deu uma piscadela para me deixar saber que ela estava apenas brincando. Ainda assim, meu rubor foi alto. Eu podia sentir isso queimando minhas bochechas.


— Nós realmente apenas conversamos e adormeci depois que ele massageou minhas costas e pescoço. Theresa baixou a cabeça para trás, levantando a mão para esfregar o pescoço. — Oooh, eu gostaria de uma boa massagem. Houve um coro de concordâncias nessa declaração. Claire me estudou com um olhar penetrante. — Então, está tudo indo bem com Nemon? Eu dei de ombros, não realmente pronta para falar sobre meus sentimentos por ele. — Acabamos de nos conhecer. Claire acenou com a mão na frente dela. — Ah não. Isso não funcionará comigo. Você esquece que eu estive lá. Isso não é como esbarrar em um cara bonito em uma rave e de repente pensar que está loucamente apaixonada por causa de como a camisa dele abraça o corpo dele. Você e Nemon não 'apenas se conheceram'. Vocês se reuniram em uma tempestade de terror e trauma enquanto escapavam de uma provação angustiante, presos dentro de uma instalação de pesquisa alienígena. As regras regulares de atração não se aplicam aqui. — Bem, quando você coloca dessa maneira... Ela riu. — Oh, com certeza colocarei dessa maneira! Eu me apaixonei por Thrax forte e rápido. Claro, fui atraída por ele por seus feromônios e deixe-me dizer, eles dão uma surra que vai bagunçar bem a cabeça de uma garota - é por isso que eu disse a ele para diminuir o tom sempre que outras mulheres estiverem por perto - mas a verdade é que eu teria me apaixonado por ele de qualquer maneira - muito rapidamente - mesmo sem a dose extra de suco sexy. — Ela se recostou na cadeira, estudando a curva do teto acima de nós


com uma expressão pensativa. — Eu não sei o que é. Talvez as circunstâncias aumentem nossa necessidade de nos relacionarmos com outra pessoa, ou talvez seja o fato de que eles arriscam suas vidas para nos proteger que é tão atraente. — Talvez tenhamos um pouco desse material de impressão em nós também. — Disse Theresa, abandonando sua busca pelo holos. Todas nós voltamos nosso foco em sua direção e ela olhou entre nós com uma expressão de olhos arregalados. — Bem, faria sentido, certo? Por que mais você estaria disposta a ignorar coisas como o fato de que o cara é um alienígena estranho? Tarin bateu palmas. — Uau, parece que Terry também tem uma queda! Fiquei feliz em ver que não era a única que corava tão obviamente, embora a pele de Theresa fosse vários tons mais escura do que minha tez pálida e seu rubor fosse um pêssego muito quente que parecia apenas aumentar suas maçãs do rosto, ao contrário de minhas manchas

vermelho-

cereja que me faziam parecer febril. Theresa olhou feio para Tarin. — Talvez eles tenham feito algo conosco quando nos investigaram naquela instalação. Adicionaram algum tipo de gene que nos fizesse ficar ligadas a alguém muito rápido, como seus machos fazem. Claire se inclinou sobre mim para colocar a mão no ombro de Theresa. — Sabe, está tudo bem apenas admitir para si mesma que gosta dele. Você não tem que encontrar desculpas para como você se sente. Theresa se afastou e saltou para andar na frente do sofá. — Não é normal! Esses Iriduanos, eles fizeram algo conosco para que isso acontecesse tão rápido! — Ela fez uma pausa e acenou com o dedo para nós. — Estou te dizendo, não vou confiar nesse sentimento.


Eu me perguntei se ela tinha razão. Não sabia por que os Iriduanos se incomodariam em fazer tal coisa comigo, mas para as fêmeas que eles queriam transformar em criadoras, não teria sido uma má ideia. Certamente os tornaria mais agradáveis ao processo. Parecia que fiquei fascinada por Nemon muito rapidamente. Claire se levantou, balançando a cabeça com firmeza. — Não. — Ela pegou a mão trêmula de Theresa, colocando a outra mão sobre ela. — Não é normal, mas nada sobre o que aconteceu conosco é, Theresa. Isso não significa que os Iriduanos fizeram algo para mudar a forma como nos sentimos. Estou lhe dizendo, eles nem mesmo sabem o que faz com que seus machos tenham uma impressão, porque eles teriam removido de seu DNA se pudessem. Eles não poderiam ter identificado uma coisa e feito isso para nós. — Mas eles queriam que fôssemos criadoras. — Disse Theresa, seus olhos assombrados e distantes. — Eles nos fizeram sentir desejo por homens alienígenas. Claire bufou. — Eles não se importavam com o que sentíamos. Não teriam se incomodado em nos mudar. Sabiam que não poderíamos escapar do que eles planejaram para nós. — Ela deu um tapinha na mão de Theresa — Leva algum tempo para se acostumar, eu sei, mas nenhuma de nós está julgando você. — Ela lançou um olhar de advertência para Tarin. Tarin ergueu as mãos. — Ei, eu não disse que estava julgando. — Ela apontou o polegar para mim. — Fui eu quem disse a Joanie para agarrar seu homem antes que alguma outra garota o fizesse. Sou totalmente a favor de um pouco de mistura. Nada mais para fazer neste navio. Theresa soltou a mão de Claire e cobriu o rosto.


— Oh Deus! Apenas me diga que os Iriduanos fizeram isso conosco. Eu olhei de Theresa para Claire. — Você acha que talvez eles tenham? — Ela suspirou. — Você também não, Joanie. Ela cruzou os braços. — Deixe- me dizer isso mais uma vez. Os Iriduanos não sabem o que faz imprinting. Se eles pudessem fazer isso com as mulheres, provavelmente o fariam com as suas. Eles não podem. Então, o que eu sentia por Nemon era só eu. Não tinha certeza se sentia alívio com isso ou não. Seria quase mais simples pensar como Theresa pensava e assumir que algo foi feito para mim para explicar minha atração quase instantânea por um homem que era tão incrivelmente diferente de mim. No entanto, a explicação de Claire também tinha mérito. Acordei de um pesadelo e me vi presa nos tentáculos protetores de um alienígena que foi capaz de esmagar facilmente as pessoas que me atormentaram por meses. Claro, eu tinha medo dele, mas também fiquei impressionada com seu poder. Era realmente tão estranho que estivesse atraída por ele, mesmo naquele momento? Talvez, mas Claire estava certa. Nada sobre o que aconteceu conosco era normal. Seria demais esperar reações normais a isso. De qualquer forma, ela parecia totalmente convencida de que seu amor por Thrax era dela mesma e não algum experimento de laboratório perpetrado nela pelos Iriduanos. Claire tinha um jeito de ser, apesar de sua relativa juventude, que fazia uma pessoa recorrer a ela em busca de orientação. Ela estava quieta, centrada e pensativa. Não se desmanchou em lágrimas sob o estresse, como eu, nem perdeu a paciência como Tarin, nem mesmo ficou inquieta, como Theresa. Ela suportou de uma forma que invejei. Isso me fez sentir que podia confiar mais no julgamento dela do que no meu ou no de Theresa.


A reação de Theresa foi interessante em si mesma. Eu não tinha passado muito tempo longe de estar com Nemon ou pensando nele desde que estive neste navio, então não tinha notado muito sobre o que estava acontecendo com minhas companhias humanas. Sabia que Theresa tinha curiosidade sobre os Akrellianos - principalmente os homens. Fiquei surpresa com a explosão dela, porque foi ela quem me disse que tinha superado toda a coisa de ‘‘alienígena é estranho’’. Percebi agora que ela estava tentando se convencer, tanto quanto estava tentando me convencer. Talvez meu interlúdio com Nemon a tenha abalado o suficiente para admitir que sua atração por um alienígena ainda a preocupava. Nossa conversa me deu ainda mais em que pensar do que já pensava. Minha confusão e emoções turbulentas quase me fizeram sentir falta da previsibilidade da minha antiga cela.


Capítulo 17 JOANIE Naquela noite, deitada em meu beliche, comecei a ter um ataque de pânico. Desta vez, não foi por causa do confinamento da minha cabine, mas sim por causa de Nemon, e minhas perguntas e dúvidas sobre o que estava acontecendo entre nós. Eu tinha ido longe demais e feito promessas que não tinha certeza se poderia - ou mesmo deveria - cumprir. Temia que tudo estivesse acontecendo rápido demais - rápido demais para ter certeza de que havia algo real ali - e não apenas algum imperativo biológico, ou pior, alguma necessidade desesperada da minha parte. Comecei a duvidar de minhas próprias razões para gravitar em torno deste relacionamento, temendo que muito tempo trancada em uma cela, sendo torturada e experimentada, tivesse destruído meu melhor julgamento, que para ser totalmente honesa - nunca foi tão bom para começar. Começar algo com Nemon não seria como me encontrar com algum turista em uma boate, onde eu acordaria na manhã seguinte sentindo ressaca e arrependimento e então escaparia silenciosamente para fazer a caminhada da vergonha para o ponto de ônibus mais próximo. Isso não era algo que eu poderia escapar se tudo desse errado e se Nemon realmente tivesse sentimentos fortes sobre mim por causa do imprinting, seria brutal para ele se eu o deixasse. Nem eu queria deixá-lo. Eu só queria ter certeza de que minha cabeça estava correta antes de tomar qualquer decisão de vida. Estava assustada. Mais assustada do que nunca, mesmo quando era cativa. Então, não houvia nenhuma decisão a ser tomada. Estava tudo fora do meu controle e tudo o que aconteceu comigo estava fora de minhas mãos. Não poderia ser a culpada pelas consequências disso.


Este era um assunto totalmente diferente. Agora, eu tinha controle sobre esta situação. Não precisava conhecê-lo por muito tempo para reconhecer que Nemon nunca me forçaria a escolhê-lo. Ele queria que eu o aceitasse sozinha. Mas e se eu fizesse, então bagunçasse tudo de novo, como sempre parecia fazer? Quantas vezes minhas decisões impulsivas me colocaram em problemas? Minha mãe teve que me livrar de problemas em mais de uma ocasião, pagando minhas dívidas para que eu pudesse começar do zero, mas sempre havia algum novo erro esperando na próxima esquina para que eu o cometesse. Nemon foi meu novo impulso e foi só agora que o reconheci. Passei minha vida inteira buscando a segurança e a proteção que nunca tive quando criança. Estava procurando por um lar e alguém que se preocupasse comigo, já que a única pessoa que realmente se importou morreu em um acidente de carro por causa de um motorista bêbado. Quase dez anos sóbria e o vício de outra pessoa acabou matando minha mãe. A vida gostava de me chutar, uma e outra vez e eu não apenas permitia, mas frequentemente deitava no chão para que pudesse mirar na minha cabeça. Eu estava jogando de novo, só que não estava usando fichas dessa vez. Estava apostando todos os nossos corações nesse empreendimento e nem tinha certeza de que o meu conseguiria suportar o investimento. Eu não tinha o direito de fazer promessas a ele que não tinha certeza se poderia cumprir e me senti mal com essa percepção. Já era tarde, pelo menos para nosso deck, o que significava que também seria tarde para Nemon porque os Akrellianos haviam definido nossa programação para coincidir com a dele. Apesar do adiantado da hora, eu não conseguia dormir sem lidar com esse problema. Tinha que esclarecer as coisas com ele e precisava fazer isso agora, antes que perdesse a coragem.


O corredor além da minha cabine parecia esticar a cada passo que eu dava em direção ao elevador. Lutei para controlar a sensação de vibração em meu peito devido ao meu ataque de ansiedade. Parecia que eu não conseguia respirar fundo o suficiente e meu coração batia forte, alto em meus ouvidos. Quando levantei a mão para o scanner para destravar o elevador, vi que ela tremia tanto que era difícil ficar parada por tempo suficiente para que o painel o examinasse. Finalmente, a porta do elevador se abriu, bocejando diante de mim como uma mandíbula faminta. Minha pele umedeceu de suor quando entrei no elevador, solicitando o convés úmido. Eu temia o próximo encontro com Nemon. Eu não tinha ideia do que diria, só que não podia mais fazer isso com ele. Não sem saber com certeza que era o que era melhor para nós dois. Como Theresa, sentia que as coisas estavam acontecendo muito rápido. Algo não estava certo. As pessoas não se apaixonam assim. Nunca o fiz. Levei mais de um ano para aceitar a proposta de Michael e, mesmo então, ainda tinha dúvidas. Eu nunca senti por ninguém o o que sentia por Nemon. Como se precisasse vê-lo o tempo todo, como se não me cansasse dele, ou como se o conhecesse desde sempre e confiasse nele com minha vida. Isso não era normal. Mesmo agora, eu queria vê-lo, apesar da minha apreensão com a conversa que teríamos que ter. Então, quando a porta se abriu no porão, meus olhos imediatamente procuraram sua piscina. Ele já estava saindo dela, seus tentáculos derramando-se da água em volta da parte superior de seu corpo. Eu não poderia nem dizer quando tal visão se tornou bela para mim, mas ficou. Ele me encontrou no meio do porão, sem esperar que eu fosse até sua piscina. Seus tentáculos enrolaram em torno de minhas pernas e pulsos


enquanto seu sorriso se espalhava. — Joanie! Não esperava vê-la novamente tão cedo. Dei alguns passos para longe dele quando ele abaixou a parte superior do corpo em minha direção e ele se afastou, uma pequena carranca vincando sua testa. — O que há de errado? Você teve outro pesadelo? Eu respirei fundo, lutando para torná-lo profundo o suficiente para combater minha tontura. — Não. Nemon, precisamos conversar. Sua carranca sumiu, substituída por uma expressão cautelosa. Seus tentáculos não me soltaram. — Vou ouvi-la sempre que precisar. Suspirei. Dando outro passo para longe dele, pressionei a mão contra o tentáculo em volta do meu pulso para empurrá-lo. Seus tentáculos instantaneamente se retiraram do meu corpo, enrolandose contra sua membrana em espirais apertadas. — Joanie? Quase chorei ao ver a expressão de mágoa confusa em seu lindo rosto. Eu tinha causado isso, e eu só iria acabar machucando ele mais. — Sinto muito, Nemon. — Fiz um gesto entre nós — Eu não acho que estou pronta para isso. É muito cedo. — Balancei minha cabeça, contendo as lágrimas. — Não posso confiar nesses sentimentos. Eu acho... — Engoli o nó na garganta. — Acho que preciso mais de terapia do de um namorado agora. Ele inclinou a cabeça, confusão ainda escurecendo o cinza de seus olhos enquanto as cores ondulavam sobre sua pele. — Namorado? Lambi meus lábios.


— É uma palavra humana para companheiro. A compreensão amanheceu, e seu corpo se enrolou em uma bola mais apertada até que ele quase pareceu diminuir diante de mim. — Você não deseja mais ser minha companheira? — Mais cores se espalharam por sua pele, uma série de listras e manchas fluindo ao longo de seus tentáculos enrolados. — O que eu fiz de errado, Joanie? Por favor, diga. Irei consertar isso! Mordi meu punho para conter um soluço, virando as costas para ele para que eu não tivesse que ver sua dor com a minha rejeição. Foi covarde da minha parte, mas minha própria dor estava me fazendo em pedaços, e a visão dele ameaçava me quebrar. Não havia nada que eu quisesse mais naquele momento do que me jogar em seus tentáculos e fazer amor com ele até que estivéssemos ambos exaustos, jurando meu coração pelo tempo que ele quisesse, mas foi exatamente esse sentimento que me fez certa de que como me sentia não era normal e não poderia ceder a esse desejo até entender melhor por que me sentia assim. Quanto mais eu estava determinada a afastá-lo e negar esse sentimento entre nós, maior minha ansiedade crescia, até que me senti tonta por falta de oxigênio. Quando tropecei, seus tentáculos se enrolaram em volta de mim, e seu rosto preocupado foi a última coisa que vi antes de desmaiar.

CAPÍTULO 18 NEMON


Eu não conseguia acreditar nas palavras que ela estava tentando dizer para mim. Depois do que aconteceu antes, tinha certeza de que Joanie havia concordado em me aceitar como seu companheiro, mas agora ela estava dizendo que não me queria. Em vez disso, ela queria um terapeuta - fosse o que fosse. Pensei que talvez eu a tivesse ouvido ou entendido mal, mas ela empurrou meus tentáculos para longe e me deu as costas. Lutei para encontrar as palavras certas para dizer para consertar o que quer que eu tenha quebrado entre nós. Deve ter sido algo que falei ou fiz que a fez duvidar disso. Talvez eu a tenha empurrado muito rápido, minha própria ânsia de tocá-la anulando meu bom senso. Ela merecia mais do que isso. Ela disse que era muito cedo, mas eu estava impaciente, deixando meu corpo ditar o ritmo em vez de meus corações. Senti sua dor quando a segurava enquanto ela me contava sobre seu passado. Senti cada grama de tensão em seus músculos e trabalhei para desfazer os nós, mas não fui capaz de tocar as feridas dentro dela, aquelas que faziam seu coração sangrar. Não era de se admirar que ela sentisse que as coisas estavam indo rápido demais, quando eu não conseguia manter meus tentáculos para mim em vez de dar a ela tempo para se curar. As palavras vieram até mim, a garantia de que eu não iria me forçar a ela e que daria todo o tempo e espaço que ela precisasse, contanto que não desaparecesse completamente da minha vida. Eu precisava dela, mas minha necessidade era egoísta. Joanie precisava de espaço e tempo para pensar. Eu prometeria isso a ela. Só que não tive a chance de falar essas palavras, porque de repente ela caiu de joelhos, ofegante. Instantaneamente, meus

tentáculos

a

envolveram,

enrolando-se

protetoramente. Eu podia sentir seus músculos tensos enquanto ela lutava


para respirar. Seu pulso batia rapidamente sob sua pele e sua temperatura parecia mais quente do que deveria estar. Experimentei seu sofrimento físico. Senti o cheiro. E senti quando seu corpo inteiro ficou mole de repente em meus tentáculos. — Comandante! — Minha mão tremia quando apertei o botão do meu tradutor para entrar em contato com o comandante do navio. Assim que sua voz veio na linha, disse: — Preciso de um curandeiro para Joanie! — Eu estava gritando, com medo de que ele não me entendesse ou respondesse rápido o suficiente para levá-la a um curandeiro a tempo. — Estamos enviando um agora. — Sua resposta foi curta. Eu me perguntei se ele pensava que eu tinha feito algo com ela, mas não importava naquele momento qual foi sua impressão, contanto que ela tivesse a ajuda de que precisava. Eu poderia protegê-la dos perigos físicos, mas não poderia salvá-la da doença e nunca me senti tão impotente antes. Fiel à sua palavra, a porta se abriu apenas alguns minutos depois, mas naquele momento, eu estava quase frenético de medo enquanto embalava seu corpo inerte em meus tentáculos. Ouvi o clique das armas dos guardas Akrellianos acompanhando o curandeiro enquanto eles as apontavam para mim. Apesar da cautela, a curandeira se aproximou sem medo, os olhos fixos em Joanie. Ela carregava um scanner e rapidamente o passou sobre o corpo de Joanie enquanto eu a segurava. Então ela suspirou e passou a mão gentilmente na testa de Joanie. — Pobre mulher. Eu gostaria que ela tivesse vindo me ver mais cedo. — Ela esta bem? Por favor, me diga que ela vai ficar bem! — Eu mal contive meus tentáculos de se enrolarem em torno do pulso do curador em desespero. A curandeira estudou seu scanner.


— Parece que ela teve um forte ataque de ansiedade. — Seus olhos se estreitaram enquanto ela lia a leitura na frente do scanner médico. Já tinha visto dispositivos semelhantes nas mãos de papai, então tinha alguma familiaridade com eles, mas não conseguia ver a tela, então não tinha ideia do que dizia sobre a condição de Joanie. Ela ergueu os olhos do scanner e encontrou meus olhos. — O que aconteceu antes do ataque? — Por favor, ela vai ficar bem? — Responderia suas perguntas com prazer se isso ajudasse Joanie, mas não até ter certeza de que ela estaria segura. A curandeira hesitou, antes de assentir uma vez. — Ela vai ficar bem. Vou levá-la de volta ao centro médico e conseguir um pouco de oxigênio e fazer uma varredura completa apenas para ter certeza. Seu corpo passou por muita coisa. O comandante realmente deveria ter insistido que todas tivessem um exame físico completo para detectar qualquer sinal de perigo antes de agora. Fui capaz de começar a respirar novamente e só quando puxei o grande suspiro de ar é que percebi que havia parado enquanto esperava pela resposta da curandeira. — Ela disse que... — Eu me senti relutante em explicar nosso conversa com a curandeira, mas se fizesse alguma diferença para ela saber, eu contaria tudo, independentemente de como isso me fazia sentir. — Ela disse que não queria ser minha companheira. Pelo menos ainda não. Falou que precisava de um terapeuta, não de um namorado. — Fiz uma careta, lembrando a palavra e sentindo que era inadequada para descrever o que eu sentia por ela. — Significa 'companheiro' na língua dela, aparentemente. A curandeira acenou com a cabeça enquanto apontava para um dos guardas. — Por favor, leve-a ao centro médico.


Ele guardou sua arma e se aproximou de mim. Eu queria me agarrar a Joanie, mas forcei meus tentáculos a estenderem sua forma inconsciente em direção a ele, sabendo que o homem a levaria para onde pudesse ser tratada. A curandeira olhou para mim com alguma simpatia em seus olhos. — Ela vai ficar bem. Eu não posso ter você no centro médico. É um ambiente estéril e simplesmente não há espaço suficiente para... — Ela gesticulou para meus tentáculos. — Você, mas entrarei em contato com seu tradutor assim que ela acordar e direi que você está preocupado, para que ela fale com você. Balancei a cabeça, minha atenção no guarda levando minha companheira - a companheira que não me queria. Não importava. Eu já pertencia a ela, não importava o que ela decidisse fazer sobre isso. Depois que eles se foram, recuei para minha piscina, em minha miséria, buscando o ambiente relaxante da água ao meu redor. Eu sentia falta da salinidade do oceano, mas meu corpo aprendera a se ajustar - com a ajuda de meu pai - a qualquer ambiente aquático. Enquanto a corrente fria fluía ao meu redor, eu me preparei para esperar.


Capítulo 19 JOANIE Acordei em uma cama de hospital. Depois de uma breve olhada ao redor, levantei-me em uma posição sentada, olhando para as paredes brancas estéreis ao meu redor. A sala em que eu estava era pequena e cheia de monitores e um gotejamento preso ao meu braço por um tubo. Estremeci enquanto olhava para ele. Não reconheci este laboratório, mas conhecia o procedimento. O veneno e a dor viriam logo, junto com o robô para me levar de volta à minha cela. Meu batimento cardíaco vacilou, fazendo com que um alarme soasse nas proximidades. De repente, uma esbelta mulher Akrelliana entrou correndo na sala, vestida com um macacão branco com uma pequena insígnia no peito. — Por favor, fique à vontade, senhora Joanie. — Ela estendeu a mão em direção à minha testa, parando quando me afastei. — Eu sou a médica Lariasa. Você está segura. Você teve um ataque nervoso que a privou temporariamente de oxigênio suficiente para permanecer consciente. Acabamos de trazer você para cá e configurá-la nos monitores. — Ela seguiu meu olhar para o tubo em meu braço. — Você estava desidratada. Parece que você não tem comido ou bebido o suficiente para ajudar seu corpo a se recuperar adequadamente de sua provação. Balancei minha cabeça, lembrando de repente o que havia causado meu ataque de pânico. — Nemon! — Peguei o tubo em meu braço, totalmente preparada para puxá-lo e pular da cama e encontrá-lo. — Onde ele está? Eu o machuquei. Preciso ter certeza de que ele está bem! Ela pegou minha mão para me impedir de tocar no tubo.


— Por favor, fique à vontade, senhora. Seu amigo Nemon está bem. Vamos deixá-lo saber que despertou também e assim que tiver concluído o seu check-up e os fluidos de recepção terem acabado, vamos deixá-la ir até o convés molhado para falar com ele. — Seus lábios se apertaram em uma linha firme. — Embora você realmente deva descansar primeiro. Eu não conseguia descansar. Cada vez que tentava fechar os olhos, via seu rosto depois de quebrar seu coração. Veria a forma como todo o seu corpo se enrolou sobre si mesmo para protegê-lo da dor da minha rejeição. O alarme soou novamente ao meu lado enquanto meu próprio coração começou a bater novamente. Lariasa suspirou. — Você deve tentar ficar calma. Temos um conselheiro que pode falar com você sobre sua ansiedade, se desejar, mas primeiro, temo que haja algo que devo lhe dizer. Respirei várias vezes, tentando desacelerar meu batimento cardíaco. — Ponha isso em mim, oficial. Não acho que você possa fazer muito por mim agora que ainda não tenha sido feito. Ela pegou um datapad ao lado da minha cama e folheou os hologramas sobre ele. — Temo que você não tenha escapado daquela instalação completamente ilesa. Se eu pudesse ter examinádo-a antes, teríamos encontrado a anomalia e talvez teríamos sido capazes de mitigar qualquer reação potencial. Estreitei meus olhos sobre ela, não gostando nem um pouco da palavra anomalia. — Você só está piorando minha ansiedade no momento, doutora. — Temo que os Iriduanos tenham unido parte de seu DNA em seu código genético.


Sentei-me atordoada, quase desmaiando de novo porque esqueci de respirar. Meus monitores emitiram mais alarmes, mas eu mal os ouvi. Lariasa chamou um assistente médico, que entrou correndo na sala carregando o que parecia muito semelhante a uma agulha para ser confortável para mim. Tentei me contorcer para longe da agulha quando o assistente me prendeu e Lariasa a colocou na minha pele. Eu nem mesmo senti o tiro enquanto gritava, lutando contra sua força esmagadora. Lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto os alarmes dos monitores soavam em uníssono com meus gritos de terror. Poucos minutos depois, estava caída na cama,

sentindo-me muitos

graus mais calma. O assistente havia saído da sala depois de ter certeza de que o sedativo havia feito efeito, e agora apenas Lariasa permanecia, olhando-me com olhos reptilianos que ainda eram estranhamente simpáticos. — Eu peço desculpas, senhora Joanie. Não era assim que eu teria feito, mas está claro que suas experiências traumáticas tornaram isso muito estressante para você. — Então, o quanto eu sou parecida com aqueles bastardos? Lariasa balançou a cabeça. — Não sou uma especialista em sua genética humana, então não posso dizer exatamente o quanto foi alterado, mas meus scanners foram capazes de detectar marcadores distintos de Iriduan que não podem ser explicados por sua ancestralidade compartilhada com humanos. Tive uma sensação agradável e flutuante que fez com que suas palavras quase não tivessem efeito sobre mim. — Então, você acha que eles me deram aquele gene de impressão? Ela balançou a cabeça.


— Não achei que eles fossem capazes de isolá-lo, embora nossas fontes digam que passaram gerações tentando fazê-lo. Pelo que entendi, é exclusivo dos machos, mas sua reação ao seu amigo Nemon levanta a questão de saber se eles estavam experimentando emendar esse gene em fêmeas. Balancei a cabeça sonhadoramente. — Sim, eu já tive ataques de pânico antes, mas nunca tão ruins quanto quando pensei em me afastar de Nemon. Ou inferno, apenas colocando algum espaço entre nós. Você sabe, não é tão ruim assim. Pelo menos isso explicaria algumas coisas. Achei que estava ficando louca, perdendo a cabeça por causa de um alienígena tão rapidamente. Era possível que eu me sentisse tão otimista com toda a coisa de ‘‘impressão’’ porque estava gostando de uma sensação agradável e difusa, mas havia outra explicação para minha serenidade sobre a ideia de ser biologicamente ligada a Nemon. Eu não precisava mais tomar a decisão. Já havia sido feito para mim. Poderia amá-lo sem perguntas ou dúvidas, porque agora sabia que não estava em meu controle. Não era de se admirar que Theresa estivesse tão desesperada para acreditar que os Iriduanos haviam feito algo por nós para nos fazer sentir assim. Porque provavelmente sim. — Você acha que as outras têm o mesmo problema? Lariasa bateu com o dedo no tablet. — Eu não deveria compartilhar isso, mas não acredito. Pelo menos, examinamos Claire e ela está livre de qualquer manipulação genética Iriduan. Assim como sua amiga Theresa, que veio até nós hoje mesmo e perguntou se algo havia sido feito com ela. Pobre Theresa. Tendo que lutar com seus sentimentos como pessoas normais. Não ser capaz de simplesmente aceitar que isso era predestinado


por seu próprio DNA. Eu não a invejei. — Então, talvez fosse só eu? Lariasa estudou seu tablet novamente. — Seu sistema imunológico é extremamente robusto. Até agora, essa é a única outra anomalia que pudemos detectar — ela olhou para mim — além de uma anormalidade cromossômica que parece ter sido parte de sua estrutura genética original. Concordei. — Sim. Já sabia tudo sobre isso. — Então, todos aqueles experimentos comigo me deram um sistema imunológico fortalecido e uma ânsia por um tentáculo alienígena em particular. Eu esperava ser capaz de lidar com isso uma vez que o sedativo passassa e parasse de flutuar em nuvens de felicidade de peido de unicórnio. — Estou feliz por poder amá-lo agora. Uma ligeira carranca ondulou as pequenas escamas em sua testa. — Eu não tenho certeza se você realmente teve um imprinting com o senhor Nemon. É apenas especulação neste ponto, com base na observação de sua forte reação a ele. Seu ataque pode ser simplesmente uma questão de muito trauma, estresse e exaustão física. Eu bocejei e coloquei minha cabeça contra o travesseiro. — Eh, eu gosto mais da minha versão. Se eu tiver que ter alguns daqueles bastardos de Iriduan em mim, pode muito bem funcionar a meu favor. — De repente, levantei minha cabeça, um pensamento invadindo minha bolha feliz. — Eu não quero que as outras saibam sobre isso. Era muito novo e tive medo da reação delas. Ainda não tinha explicado o que tinha acontecido comigo, ou me opus à noção de que todos nós tínhamos sido destinados como criadores naquela instalação. Na verdade, eu queria manter a verdade sobre meus sentimentos por Nemon para mim também, por enquanto, embora soubesse que não poderia escondê-los para


sempre. Eu amava aquelas mulheres como as irmãs que nunca tive, mas não podia esperar que elas entendessem o que passei ou o que estava sentindo agora. Não quando eu ainda estava lutando com isso. Lariasa acenou com a cabeça. — Terei de informar o primeiro comandante, mas isso não irá além dele. Eu juro para você. Suspirei e afundei de volta na cama, fechando meus olhos. Eu precisava descansar antes de ver Nemon novamente. Também teria que pensar quando seria capaz disso. Havia algo de libertador em reconhecer que nosso relacionamento era para ser, mas, ao mesmo tempo, eu queria que fosse o amor dele. Queria saber que ele realmente me amava pelo que eu era e não por causa dessa compulsão dentro de nós que nos unia. Porque a verdade era, com gene de impressão alienígena ou não, eu tinha certeza que o amaria de qualquer maneira.

Capítulo 20 NEMON Quando Joanie finalmente veio me ver pessoalmente, eu estava decidido e determinado a permanecer firme contra meu desejo quase irresistível de tocá-la. Tinha que dar a ela o espaço de que ela precisava e se eu não pudesse fazer isso, então não a merecia. Embora a curandeira tivesse me enviado uma mensagem de que Joanie estava acordada e passando bem - mas que ela precisava descansar da tensão em seu corpo - não me senti realmente seguro até que vi a própria Joanie entrando pela porta do compartimento de carga. Foi só então que meu corpo inteiro cedeu contra a passarela ao lado da minha piscina, afundou de alívio, embora meus tentáculos tremessem em sua batalha contra a minha vontade. Eles queriam me carregar até ela, envolvê-la em um abraço e tocá-


la em todos os lugares para se certificar de que ela estava bem e verdadeiramente segura. Em vez disso,

forcei-os a ficarem quietos, para

que ficassem ao meu redor, sua ansiedade trêmula mal visível para mim e, com sorte, indetectável para Joanie enquanto cruzava o porão para minha piscina. E então ela estava parada diante de mim, parecendo tão bonita que doía fisicamente para não tocá-la, mesmo com minhas duas mãos meio cegas. Seus olhos castanhos estavam cheios de alguma emoção que eu não conseguia entender, mas a luz da risada havia muito tempo atrás havia fugido deles. Eu queria vê-la voltar, mas não sabia o que dizer para divertila. Sua pele pálida como pérola parecia ainda mais pálida, exceto pelo tom de vermelhidão em suas bochechas quando ela olhou para mim. Seu corpo parecia mais frágil do que nunca e eu temia que se quebrasse minha promessa e a tocasse, ela se quebraria. — Ei. — Falou, sua voz suave e rouca, como se tivesse acabado de acordar. — Joanie. — Minha saudação soou tensa até mesmo para meus ouvidos. Eu estava tenso. Tentar manter o controle sobre todas as partes do meu corpo quando elas tinham vontade própria era difícil no que dizia respeito a ela. Tudo em mim a queria com igual intensidade. — Sinto muito — seu olhar desviou-se do meu rosto para se concentrar na superfície da piscina atrás de mim — pelo o que aconteceu antes. Não entendi porque ela estava se desculpando, já que eu claramente a havia pressionado demais. Cabia a mim pedir desculpas e dar minha palavra de que não faria isso novamente. — Joanie, não se desculpe quando você não fez nada de errado. Agora percebo o erro que cometi.


Seu olhar se voltou para mim, seus lábios se separaram em um suspiro de dor como se eu tivesse acabado de lhe dar um tapa. — Um erro? — Suas mãos se fecharam em punhos e a cor em suas bochechas se aprofundou. — É isso que eu sou para você? Parecia que novamente eu havia cometido um erro grave com ela. Estendi minhas mãos em sua direção, não confiando em meus tentáculos o suficiente para relaxar meu controle tenso sobre eles. — Eu não quis dizer isso! Você nunca será um erro para mim. Só quis dizer que te empurrei muito longe, muito rápido. Deveria ter levado as coisas mais devagar com você, mas estava pensando egoisticamente em meu próprio desejo de estar com você. A tensão em seu corpo diminuiu e sua expressão suavizou quando ela soltou um suspiro. — Oh, você não tem ideia de como estou aliviada em ouvir isso. — Seu olhar desviu para meu redor sem se concentrar em mim. — Então, eu sei o que disse antes. Como não queria um namorado e tudo... Ainda não gostava da palavra. Os dois componentes disso se traduziram em uma criança do sexo masculino e um relacionamento de amizade1. Esse não era o tipo de imagem que eu queria que ela tivesse de mim. — Eu prefiro companheiro. Seu sorriso era hesitante, mas iluminou seu rosto. — Eu também. — Seu olhar rebelde finalmente pousou em mim novamente. — Estava errada sobre a necessidade de espaço. Eu quero estar com você. Você não tem ideia do quanto quero estar com você. Estava com medo desses sentimentos e do quão fortes são, mas agora eu entendo e... Estou feliz com isso. Com a possibilidade de nós. Meus tentáculos sacudiram contra o meu controle, ouvindo suas palavras e assumindo que significavam permissão para tocá-la, mas eu os


segurei. Ela tinha acabado de ficar com o curandeiro e me disseram que ela tinha desgastado seu corpo desde que entrou no navio, não comendo nem bebendo o suficiente para sustentá-la e reconstruir suas forças. Em vez disso, havia passado esse tempo comigo, lidando com meu impulso agressivo de ser seu companheiro. Quer ela achasse que precisava de tempo para tomar essa decisão ou não, eu sabia que ela precisava e tinha que dar a ela. — Fico feliz em ouvir você dizer isso. Eu quero ser seu companheiro mais do que qualquer coisa. Seus olhos se estreitaram. — Por que eu acho que há um 'mas' no final dessa declaração? Suspirei, expelindo o ar em meus pulmões enquanto procurava as palavras certas para explicar. — Quero que você fique bem, Joanie. Não suportaria se você adoecesse de novo porque eu estava impedindo você de cuidar bem de si mesma. Ela balançou a cabeça, aproximando-se de mim. — Ok, tenho sido um pouco negligente com meu corpo ultimamente, mas vou me sair melhor com isso. Isso não significa que não podemos fazer isso. — Ela gesticulou entre nós com uma mão. Ela estava tão perto que eu poderia segurá-la em meus braços. Eu tive que empurrar meus tentáculos para trás e embaixo de mim para que eles não se enrolassem em torno de suas botas, tentados a deslizar por suas pernas e encontrar o calor escaldante que das dobras de carne entre suas pernas. Meu tentáculo de acasalamento estava tão rígido agora que eu o tinha escondido de sua vista, temendo que isso a assustasse se ela visse quão pouco controle eu tinha sobre meu corpo. — Eu não quero apressar você.


Ela ficou na ponta dos pés, levantando as mãos para enrolar em volta do meu pescoço, me puxando para baixo para pressionar seus lábios nos meus. Meus tentáculos resistiram contra meu controle mental, surgindo e se agitando para se libertar de mim, para que pudessem se enrolar em torno dela e tocá-la com todo o desejo que senti quando seus lábios macios tocaram os meus. Eu me afastei de seu aperto e recuei em direção à piscina, forçando a parte inferior do meu corpo na água para esfriar. — Não! Não vou apressar isso. Temos tempo para você se curar. Devo descansar agora. O primeiro comandante veio mais cedo para falar sobre o que aconteceu e ele voltará em breve. Havia mágoa em seus olhos e eu sabia que colocaria lá, mas não tive escolha. Ela ainda não estava tomando boas decisões e nem eu, mas eu estava tentando, pelo nosso bem. Após um longo momento de silêncio, ela abaixou as mãos, usando uma para esfregar a testa. — O que ele tem a dizer? — Ela engasgou e de repente olhou para mim com preocupação. — Por favor, me diga que ele não te culpou pelo que aconteceu? — Ela ergueu um dedo para tocar no botão de comunicação de seu tradutor. — Vou corrigir isso agora. Balancei minha cabeça, abaixando o resto do meu corpo na piscina e longe de sua tentação, afundando abaixo da água até que apenas minha cabeça permanecesse acima dela. — Eles têm olhos mecânicos neste porão. Ele viu que eu não fiz mal a você. A cor que ruborizou em suas bochechas se aprofundou. — Eles podem ver tudo o que se passa neste porão? Lembrei-me da beleza de seu corpo nu enquanto ela estava à beira da minha piscina, expondo-se a mim e fiquei com raiva pelo fato de que ninguém além de mim deveria ter sido capaz de testemunhar isso, mas


éramos apenas convidados neste navio. Mais uma razão para esperar até que tivéssemos privacidade. — Ele se desculpou pela maneira como eles me trataram e afirmou que se enganou ao me ver como uma ameaça. Pediu minha ajuda em várias tarefas ao redor do navio que a tripulação enfrenta. — Eu teria levantado um tentáculo para mostrar a ela, mas não ousei dar a isso tanta liberdade em torno dela. — Posso entrar em lugares que seu pessoal não consegue. Joanie cruzou os braços sob a ondulação suave de seus seios, inflandoos de uma forma muito perturbadora que tornou ainda mais difícil para mim me concentrar em suas palavras. — Então, ele admite que o insultou com seu tratamento e então quer fazer você trabalhar pesado? Sorri para ela, querendo tranquilizá-la com meu comportamento, tanto quanto com minhas palavras sobre o quão feliz eu estava por ter a oportunidade de explorar o navio com a permissão do comandante. — Foi uma honra ser perguntado e um sinal de confiança que ele me deu. Estou ansioso para as tarefas e o que posso aprender com elas. O capitão prometeu que os tripulantes que estarei ajudando explicarão as partes do navio que não são classificadas. Um lampejo de decepção cruzou seu rosto, antes de ela assentir e forçar um sorriso que não alcançou seus olhos. — Ótima notícia, Nemon! Estou muito feliz que eles finalmente estão tratando você bem e que poderá explorar o navio e fazer algumas coisas que deseja fazer. — Mas algo está errado, Joanie? Ela balançou a cabeça. — Não, está tudo bem. Você está certo. Precisamos levar as coisas mais devagar. Agora que você estará ocupado, isso nos dará a oportunidade de


colocar nossas cabeças no lugar sobre... Nós. — Ela ergueu a mão em um pequeno aceno. — É melhor eu ir e deixar você descansar. Quero que você esteja descansado para o seu primeiro dia de trabalho. — Ela piscou para mim, embora seu sorriso fosse triste. — Não se atreva a deixá-los pagar menos ou negar sua hora de almoço. — Então ela girou nos calcanhares e se dirigiu para a porta. Eu a observei partir, embora meu corpo inteiro ameaçando se rebelar contra aquela pequena parte de mim que estava tentando ser forte. Abaixo da água, meus tentáculos se moveram com agitação, fazendo espuma ao meu redor na superfície. Nunca experimentei uma dor mais real e agonizante do que me forçar a deixar Joanie ir embora. A única coisa que me impediu de sair da água para puxá-la de volta e nunca deixá-la ir, era o conhecimento de que isso não era um fim para nosso relacionamento, mas uma chance para um novo começo um que daria a Joanie o tempo de que ela precisava.


CAPÍTULO 21 NEMON Quanto mais nos aproximávamos da estação espacial, mais eu via o comandante, Tirel, principalmente enquanto desempenhava as funções que ele me incumbia. Fiel à sua palavra, sua equipe explicou muito para mim e aprendi muito mais por conta própria. Mais do que eles gostariam, tinha certeza, mas não deixei isso transparecer. Thrax e Tirel também gostavam de me incluir em suas reuniões, o que eu achava fascinante, mas também tornava difícil passar mais tempo com minha companheira. Claro, isso provavelmente foi uma coisa boa, já que era quase impossível ficar sozinho com ela e não querer abraçá-la e tratá-la como minha companheira, mas eu tinha jurado que manteria minha distância até que ela se sentisse pronta. Mesmo quando ela tentou insistir - várias vezes na última semana - que estava mais do que pronta - e até mesmo ameaçou que seus sonhos iriam derreter os lençóis de sua cama - eu não acreditei nela. Joanie engordou um pouco mais e suas curvas ficaram mais suaves e arredondadas, o que realmente gostei, embora sempre a tenha achado bonita. Só que agora ela não parecia tão frágil e perto de quebrar. Agradoume ver que ela estava cuidando melhor de si mesma, embora eu me certificasse de que ela sempre tivesse algo para comer e algo nutritivo para beber quando fizesse suas visitas ao meu porão. Eu queria alimentá-la eu mesmo, permitindo que seus lábios quentes e macios se fechassem em torno da minha carne enquanto ela colocava a comida em sua boca, mas sabia que seria uma receita para o desastre, então me contentei em simplesmente observá-la comer para ter certeza de que ela comeria comida suficiente.


Para me ajudar a lidar com o desejo que era brutalmente forte e constante sempre que ela estava por perto - e muitas vezes quando ela não estava, pois meus sonhos a evocavam em minha mente - eu me certifiquei de que nunca ficaríamos sozinhos por muito tempo. Não conseguia controlar meu corpo por longos períodos sozinho, mas era mais fácil quando outra pessoa estava lá - geralmente Tirel ou Thrax, e às vezes até Claire, que tendia a monopolizar a atenção de Joanie com conversas que ela chamava de ‘‘conversa de garotas’’. Quando eles estavam por perto, Joanie estava a salvo de minhas atenções. Eu esperava que tivéssemos conseguido esconder a tensão crescente entre nós dos outros, mas acreditava que Thrax suspeitava que algo estava acontecendo, embora nunca se intrometesse abertamente em meu negócio, o que era algo que eu poderia apreciar nele. Ele se tornou mais um amigo do que um aliado incerto nos dias de viagem para a estação espacial e descobri que gostava de falar com ele. Nossos antecedentes predatórios nos tornaram semelhantes em alguns aspectos, embora tivéssemos assumido nossas novas vidas de maneira diferente. Ainda assim, Thrax estava amadurecendo, graças a sua companheira. Tirel foi outra amizade crescendo inesperadamente. O comandante era muito mais civilizado do que Thrax, e despertou minha curiosidade sobre sua civilização não apenas com respostas às minhas muitas perguntas, mas também com informações adicionais fornecidas por algo chamado GalactaNet, na qual eu afundei como se fosse um oceano inexplorado cautelosamente, mas com entusiasmo. Tirel agradeceu minha ajuda nas tarefas que designou para mim. Eles foram problemas menores, principalmente lidando com os sistemas de controle de clima e espaços tubulares apertados que meus tentáculos podiam alcançar facilmente, mas me ensinaram muito ao executá-los e


discutir a nave com a tripulação. Os Akrellianos ficaram tão satisfeitos com minha ajuda que me ofereceram uma oferta para morar em um de seus mundos colônia. Um com oceanos selvagens e indomados cheios de criaturas perigosas. Eles sentiram que eu poderia ser útil para suas equipes de exploração e gostei da ideia de ser útil e de explorar. Thrax havia mencionado seu desejo de se estabelecer naquele mundo também, embora ele fosse aonde sua companheira escolhesse ir, mesmo que isso significasse encontrar uma maneira de retornar com ela para seu mundo natal. Como a Terra tinha muitos oceanos, eu estava igualmente determinado a seguir Joanie até lá, se esse fosse seu desejo. Ela mencionou que seus governos provavelmente capturariam e experimentariam em qualquer alienígena que encontrassem, mas eu era muito bom em não ser encontrado. Agora que os Akrellianos haviam estendido sua confiança a mim, eles me permitiram acessar mais da nave e comecei a explorá-la sempre que Joanie estava ocupada de outra forma. Eu enfiei meus tentáculos em tudo, tocando, saboreando, sentindo, até que comecei a entender como as coisas funcionavam. Não sentia mais necessidade de esconder minha curiosidade ou compreensão, embora os Akrellianos ainda ficassem surpresos quando eu consertei um atuador climático quebrado depois de perceber que ele não estava funcionando. Mexer nas coisas ajudou a me ocupar e me distraiu de minha frustração com o ritmo que escolhi impor em meu acasalamento com Joanie. Embora meus sentimentos por ela fossem muito mais do que o desejo que corria pelo meu corpo sempre que eu pensava nela, ainda era um desejo inegável e ainda não conseguia entrar em qualquer tipo de contato físico com ela sem perder o controle.


Ela disse que queria isso, mas eu poderia realmente acreditar? Eu precisava ter certeza, mas minha resolução ficava mais fraca cada vez que a via. Quase consegui aguentar até chegarmos à estação espacial que ainda não tinha permissão de explorar, que Tirel explicou ser para minha própria segurança, tanto quanto para as multidões na estação. Escolhi acreditar que ele quis dizer isso, mas isso não significa que eu daria ouvidos a suas palavras. Eu queria ver a estação e era o que pretendia. Mas até que atracássemos no porto, eu tinha outros planos que não resistia mais em realizar. Havia aprendido como desativar os olhos da máquina no porão, hackeando um dos painéis perto da porta, e após uma discussão com Tirel - que não gostou disso - concordou que eu não desativaria mais sua nave e ele não sentiria mais a necessidade de me espionar constantemente. Assim que soube que Joanie e eu não estaríamos mais expostos aos olhos vigilantes dos Akrellianos, o pouco que restava de minha determinação desmoronou. Desta vez, se Joanie quisesse levar nosso acasalamento mais longe, eu concordaria ansiosamente com ela. Um dia antes de atracar na estação, Joanie entrou em contato comigo pelo meu tradutor, perguntando se eu estava sozinho e, pela primeira vez, pude responder positivamente. — Estarei aí em um momento. — Falou, sua voz ofegante de uma forma que fez meu coração bater em antecipação. Demorou muito mais do que um momento para ela entrar no porão e o tempo todo eu passei me preocupando que outra pessoa aparecesse antes que ela chegasse lá. Afinal, eu propositalmente transformei o porão em um lugar movimentado para evitar ficar sozinho com meu companheiro, mas agora não queria nada mais do que as pessoas ficarem longe.


Assim que ela passou pela porta e esta se fechou atrás dela, abri o painel que estava trabalhando para afrouxar sempre que estava entediado. Reajustei vários circuitos para contornar o scanner biométrico e a chave de cancelamento local, de modo que a porta não abrisse novamente a menos que eu consertasse isto. Eu não deveria ter invadido as funções da nave assim - de novo - mas não queria correr o risco de interrupções. Não agora que mal conseguia pensar direito por causa da minha necessidade. Ela me viu virar a capa de volta sobre os circuitos, as sobrancelhas franzidas, formando uma pequena ruga que eu queria alisar. Puxei o tentáculo perdido que tentava fazer exatamente isso antes de tocar seu rosto. — Você provavelmente não deveria quebrar o navio deles. Encolhi os ombros enquanto liberava o painel e voltei toda a minha atenção para ela. — Posso consertar mais tarde. — Tem certeza de que não terá problemas? — Ela torceu as mãos quando seus olhos encontraram os meus, e suspeitei que seu nervosismo se devia mais ao que estava para acontecer do que se eu seria repreendido pelo que fiz. — Eu não quero que eles te tratem com desconfiança como fizeram no começo. Eu não estava preocupado com isso naquele momento. Tudo que queria era passar algum tempo com minha companheira sem o risco de interrupções. Enrolei meus tentáculos em torno de seus tornozelos, arrastando-os mais para cima em suas pernas. — Vai tudo ficar bem. Sua respiração ficou presa quando a ponta dos meus tentáculos roçou a pele de suas coxas. — Então, você finalmente vai me tocar?


Não me incomodei em responder sua pergunta com palavras. Meus tentáculos já estavam livres para responder e não estavam enviando mensagens contraditórias. — Você nunca teve a chance de nadar na minha piscina, Joanie. Ela estremeceu e um toque rápido do meu tentáculo sobre seu sexo me disse que ela estava molhada de excitação. Um pequeno gemido escapou de seus lábios entreabertos enquanto eu escovei sobre ela novamente, traçando a fenda de sua abertura sobre o tecido de seu macacão. — Eu não consegui colocar minhas mãos em um maiô. — Disse entre respirações rápidas e rasas. Notando a forma como seu peito arfava, enrolei outro tentáculo em torno de um dos globos carnudos, apreciando a suavidade sob minhas ventosas, desejando poder sentir sua pele enquanto arrastava minhas ventosas sobre a firme gota de carne no centro dela. A maneira como seu corpo estremeceu e suas coxas se apertaram em torno dos tentáculos entre as pernas me fez perceber que era uma área sensível que aumentava sua excitação. Abaixei minha parte superior do corpo para que meu rosto ficasse perto do dela, respirando no ar que ela expulsava, enquanto minha própria respiração pesada fazia seus cachos vibrarem contra suas bochechas coradas. — Você não precisa de maiô. — Eu nem sabia o que era, e não me importava. Parecia mais tecido que me impediria de tocar sua pele e ver seu belo corpo. Eu não queria que ela o usasse, quando ela poderia facilmente entrar nua na água. — Mmm. — Ela molhou os lábios com a ponta de sua língua rosa enquanto meus tentáculos arrancavam a costura que mantinha seu macacão fechado. Começou a se separar, afastando-se de seu corpo para revelar sua pele macia aos meus olhos famintos.


— Faça amor comigo, Joanie. Suas pálpebras se fecharam, seus cílios roçando sua pele pálida enquanto ela os fechava com força. Ela engoliu em seco. — Eu... Eu quero, tanto. Mas eu quero que isso seja amor. Fiz uma pausa na minha provocação de seu corpo, meus tentáculos parando contra sua pele. Havíamos discutido o imprinting nos raros momentos em que estivemos juntos sozinhos e Joanie estava preocupada com isso, temendo quase como meu pai - que escravizasse uma pessoa, e que não fosse amor verdadeiro. Ela não queria acreditar que o que eu sentia por ela era realmente amor. — Não penso como meu pai, Joanie. Ele pensava que amor significava escravidão, mas não me sinto assim em relação a você. Se isso é imprinting, então sou grato por isso. Nunca estive mais feliz em todas as minhas memórias do que o tempo que passo com você. Não fui escravizado pelo amor, fui libertado por ele. Ela balançou a cabeça, recusando-se a abrir os olhos e me encarar com suas dúvidas. — Mas imprinting não é a mesma coisa que amor. É um processo biológico baseado em feromônios e produtos químicos corporais. Nada mais. — Quem te disse isso? Suas pálpebras se abriram, seu olhar finalmente encontrou o meu para que eu pudesse ver sua preocupação e dúvida. — Eu li na GalactaNet. — E você acreditou nisso? — Meus tentáculos afrouxaram ao redor de suas pernas, afastando-se daquele calor úmido que eu tanto desejava que foi uma batalha me retirar dele. Em vez disso, levantei minhas mãos para segurar seu rosto, querendo que seu foco estivesse no meu. — Meu pai


disse que mesmo os Iriduanos não entendem de imprinting. Eles o estudaram geração após geração. Ainda não desvendaram seus mistérios, mas o que eu sei - o que ele sabia - era que é muito mais do que um desejo físico. Algo dentro de um homem Iriduano faz com que ele reconheça a única mulher que foi feita para ele assim que a vê e sua imagem, sua perfeição, se entrelaça com seu espírito, para que ele nunca possa esquecê-la. — Eu acariciei sua pele macia, escovando meus dedos entorpecidos pelos sentidos sobre suas bochechas quentes, desejando poder usar meus tentáculos em vez disso, mas eles estavam se sentindo rebeldes, querendo retornar ao corpo dela para terminar a exploração. — Eu li sobre imprinting na GalactaNet também, Joanie. Talvez você não tenha visto o artigo que eu li. Foi escrito por um macho Iriduan acasalado. Ele falou da perfeição de sua companheira. De como ela o fez querer ser uma pessoa melhor e como cada aspecto de seu espírito complementava o dele. Como todos os Iriduanos, ele foi criado para temer a impressão e se ressentir com as mulheres e vê-las como ameaças ao seu livre arbítrio. Mas uma vez que ele foi acasalado, ele percebeu que não havia perdido seu livre arbítrio e ganhou algo ainda maior - a capacidade de se relacionar com outra pessoa e saber que ela era a outra metade dele que ele saudades de toda a sua vida. Passei o polegar em seus lábios macios e carnudos, esperando o momento em que poderia tocá-los com os meus novamente. Eu sonhei com aquele breve contato quando ela me beijou antes, e eu me afastei. — Como os humanos definem o amor? Ela suspirou, seu hálito quente contra a pele do meu polegar. O fundo de seus olhos ainda estava cheio de preocupação e senti que havia algo que ela não estava me contando, mas eu não a apressaria. Ela confiou em mim com


algumas de suas memórias mais sombrias. Se ela precisasse falar, eu estaria lá para ajudá-la, mas não a pressionaria. — Mais ou menos assim. Simplesmente não acontece tão rapidamente para nós. — Seus lábios se contraíram em uma carranca. — E às vezes erramos. Como com Michael. Pressionei meu polegar suavemente contra seus lábios, não gostando de ouvir o nome daquela criatura passando por eles. Nunca mais eu a deixaria sentir a dor que ele a fez passar. Ele falhou com ela. Deixou de ser o tipo de companheiro que ela merecia. Ele certamente não merecia nenhum lugar em suas memórias, mas sabia que ela não poderia liberar as más lembranças simplesmente desejando isso. Ela me contou como seu passado era um lugar de tristeza e alegria, entrelaçados tão fortemente que um momento de tristeza não poderia ser separado de outro momento de felicidade. — Eu te amo, Joanie. Ela olhou nos meus olhos e pude ver a dúvida se acumulando atrás dela - as palavras terríveis que sua mente sempre falava com ela corroendo sua confiança na certeza do meu tom. — Deixe-me fazer amor com você. Deixe-me mostrar como cuidarei de você e adorá-la. Eu juro, não há ninguém nesta galáxia que poderia te amar mais do que eu. — Meus tentáculos voltaram para seu corpo, envolvendo suas coxas, sua cintura, seus braços. Eles queriam abraçá-la e senti-la, mas nem de longe tanto quanto eu precisava que ela entendesse e aceitasse minhas palavras. Ela fechou os olhos novamente e assentiu. — Sim. Eu não precisava de mais incentivo do que isso. Meus tentáculos puxaram seu macacão para longe de sua parte superior do corpo, arrancando-o de seus braços, mesmo enquanto minhas ventosas acariciavam


sua pele, que se arrepiou em pequenos caroços que ela chamou de ‘‘arrepios’’. Um tentáculo voltou a se enroscar em torno de seu seio e fiquei fascinado com a curva, a maciez e o peso suave dele enquanto inchava contra minhas ventosas. A ponta de contas que eu senti antes - que deu prazer a ela quando eu toquei - era rosa escuro contra sua pele pálida. Eu o peguei com uma das minhas ventosas e seu corpo inteiro estremeceu em resposta, seus olhos se abrindo. Suas pupilas eram grandes sobre as íris marrons com suas manchas verdes. — Parece que você está chupando. — Ela gemeu quando eu o suguei novamente. Quando corri um tentáculo entre suas pernas, ele saiu molhado, minhas ventosas se encheram com seu gosto e sua fragrância inebriante de excitação. Circulei o outro globo descoberto, puxando aquela ponta frisada também, maravilhado com o sabor e a textura de sua pele - tão diferente da minha, mas tão perfeita para mim. Meus tentáculos, finalmente livres para fazer o que exigiam, puxaram seu macacão passando pela cintura, então abaixo da junção de suas coxas, onde seu sexo brilhava, molhado e esperando por sua exploração. Eu queria olhar para aquela vista, para absorvê-la, como finalmente fui capaz agora que ela me aceitou, mas estava muito paralisado por seu rosto a maravilha e o prazer que passava por ele quando eu a tocava, explorandoa corpo ao meu conteúdo. Seus lábios se separaram em um suspiro - suas pálpebras baixando até que mal pude ver o brilho de suas íris atrás deles - quando meu tentáculo voltou para aquele lugar entre suas pernas, finalmente esfregando contra a


carne sensível lá. Minhas ventosas estavam com gosto, puxando suavemente enquanto exploravam os cabelos crespos que cobriam sua pélvis. Quando encontraram uma pequena pérola de carne escondida dentro da dobras de pele acima de sua entrada quente, eles se fecharam sobre ele, puxando-o profundamente em cada ventosa que passou por cima. Sua reação foi quase o suficiente para destruir o pouco controle que me restava. Ela estremeceu em minhas mãos, agarrando meus antebraços com um aperto desesperado para se firmar, como se eu fosse permitir que ela caísse. Arfadas duras e rápidas escaparam de seus lábios entreabertos com cada puxão de minhas ventosas naquela parte de seu sexo. O tentáculo em volta de sua cintura apertou o suficiente para mantê-la quieta enquanto seus quadris empurravam contra o tentáculo entre as pernas. Seus suspiros se transformaram em gemidos, e então pequenos gritos curtos quando suas unhas cravaram em meus braços. — Oh, Deus, eu vou gozar! — Ela agarrou meus braços, segurando como se estivesse prestes a despencar em algum abismo profundo. Eu a levantei o suficiente para que vários tentáculos arrastassem o macacão de seu corpo, jogando-o para o lado enquanto permitia que todos se movessem sobre sua pele nua. Ela se contorceu no meu aperto enquanto meus tentáculos exploravam seu corpo, absorvendo sua beleza, a perfeição de cada curva e linha, cada cabelo enrolado que raspava sob as ventosas. Enrolei dois tentáculos ao redor de seus tornozelos, espalhando suas pernas mais para que aquele que a estava distraindo pudesse deslizar pela umidade que fazia sua bainha escorregar. Meu tentáculo de acasalamento já enrijecido - percorreu a pele macia de sua coxa, meu outro tentáculo se movendo para abrir caminho para ele, enquanto ainda puxava a carne logo acima de sua abertura.


Sondar minha ponta endurecida em suas dobras úmidas quase me fez perder os fios de semente que eu tinha gerado para ela antes mesmo de estar dentro dela. Seu gosto era incomparável e me aproximei de uma sobrecarga sensorial só com isso. Ela choramingou quando separei suas dobras com minha ponta ingurgitada. Congelei, olhando para o rosto dela em busca de um sinal de que ela queria que eu parasse. Seus olhos se abriram quando todos os meus tentáculos pararam de se mover. — Oh, por favor, não pare! Estou tão perto! Era tudo o que eu precisava ouvir. Meu tentáculo deslizou para dentro de sua passagem quente, seu calor apertado fechando em torno de mim em uma sensação que eu não tinha como comparar. Acasalar-se com uma tecelã de vida não tinha sido nada parecido com isso. Nada na minha vida foi tão bom. Mergulhei em suas profundezas enquanto seus dedos agarraram meus braços e seus gemidos e choramingos ficaram mais frenéticos. Desta vez, não tive dúvidas sobre os sons que ela estava fazendo, especialmente porque ela sussurrou as palavras ‘‘mais profundo’’ e ‘‘mais’’, enquanto eu mergulhava meu tentáculo nela. Quando seu corpo se arqueou no meu aperto - a curva de suas costas se aprofundando acentuadamente quando ela jogou a cabeça para trás - seus cachos quicaram contra o tentáculo que a segurava pela cintura. Senti seus músculos internos apertando em torno de mim, pulsando como um batimento cardíaco rápido. Sua voz era como o canto de uma sereia, uma canção de êxtase que atraia os incautos para sua condenação. Eu já estava perdido. Se essa era minha condenação, eu a receberia bem.



Capítulo 22 JOANIE Eu nunca tive um orgasmo tão poderoso quanto o que Nemon me deu. Cedi em seus tentáculos, abalada pela força do prazer que acabei de experimentar. Senti seu tentáculo de acasalamento ainda duro dentro de mim e meu corpo ainda apertava em torno dele, como se relutasse em liberá-lo. Meus quadris balançaram quando ele enfiou em mim, embora um rápido olhar entre as minhas pernas mostrasse que eu não tinha tomado muito de seu comprimento. Ele era cuidadoso e estava grata, porque por melhor que ele se sentisse dentro de mim, eu duvidava que tivesse tido o bom senso de impedi-lo antes que ele mergulhasse muito fundo. Meu primeiro orgasmo foi apenas o início e eu já sentia outro crescendo, já que suas ventosas ainda estavam puxando meu clitóris e mamilos como beijinhos de sucção. Seus tentáculos enrolaram em volta do meu corpo, rastejando pela minha pele, deixando pequenas marcas em seu rastro. Era um sentimento indescritível que era tão erótico que eu não conseguia falar, além de implorar a ele com palavras quase coerentes para não parar. Eu queria tocar seu corpo, mas me sentia muito desequilibrada para liberar meu aperto mortal em seus braços. Não estava com medo que ele me deixasse cair, mas meus pés nem sequer tocavam o chão. Era desorientador ser suspensa enquanto era penetrada e gozado de uma maneira tão completa que às vezes me esquecia de respirar até ter que ofegar de êxtase. Eu cheguei ao clímax uma segunda vez, meu clitóris hipersensível enquanto ele o chupava com suas ventosas. Foi só depois que esse pico


passou que me senti firme o suficiente para correr minhas mãos de seus braços para seus ombros musculosos e duros. Ele me puxou para mais perto de seu corpo para que meu peito ficasse contra o dele. Apenas seus tentáculos ainda brincando com meus mamilos permaneceram entre nós. A pele da parte superior de seu corpo não era tão texturizada quanto a carne que cobria seus tentáculos. Era quase como seda, era tão lisa, o único cabelo em seu corpo estava na cabeça, nos cílios e nas sobrancelhas. Eu o agarrei com uma mão, enquanto esfregava minha outra mão sobre seu peito, inclinando-me para beijar a coluna forte de seu pescoço. Ele ergueu meu queixo com uma mão palmada e abaixou a cabeça para que seus lábios tocassem os meus. Percebi que ele não sabia beijar enquanto mantinha seus lábios ali, mas ele deve ter se lembrado da minha tentativa de beijá-lo antes de se afastar de mim. Inclinei minha cabeça, meus lábios se separaram em um gemido enquanto seu tentáculo continuava a se mover dentro de mim. Eu persuadi seus lábios a se suavizarem com os meus, movendo-os sobre os dele lenta e deliberadamente, tentando manter o foco mesmo enquanto seus tentáculos saqueavam meu corpo. Ele imitou meus movimentos até que seus lábios estivessem brincando com os meus, nossa respiração se misturando de uma forma que era ainda mais íntima do que seu tentáculo dentro de mim. Esta parte dele era a parte vulnerável. Era aqui que ele poderia ser ferido permanentemente. Enterrei minhas mãos em seu cabelo sedoso, aprofundando nosso beijo. Minha língua se arrastou ao longo de seus lábios, e assim que eles se separaram, eu deslizei minha língua dentro de sua boca, apenas hesitando por um momento quando ela passou por seus dentes afiados.


Seu sabor emocionou minhas papilas gustativas. Era doce, mas complexo, como um bom vinho - o tipo de bebida que nunca fui capaz de pagar. Eu bebi o conteúdo do meu coração agora, aproveitando cada gole dele. Nossos corpos se enredaram de uma forma que não era humanamente possível, e Nemon fez coisas comigo que eu nunca poderia ter experimentado se não tivesse sido tirado de minha casa e de minha vida na Terra. Claire estava certa. Nada do que aconteceu conosco era normal. E pela primeira vez, eu realmente apreciei esse fato. Quando Nemon atingiu o clímax, eu bebi em seus gritos de prazer enquanto seu tentáculo de acasalamento ficava tenso dentro de mim, então pulsava enquanto liberava sua semente. Ele não se afastou imediatamente de mim, ou retirou seu tentáculo em amolecimento do meu corpo, como Michael poderia ter feito, sua mente já no jogo de futebol que ele queria assistir, ou a instrução que ele queria revisar. Em vez disso, os tentáculos de Nemon mudaram seus toques estimulantes para calmantes, acariciando e massageando meu corpo como se ele realmente me estimasse. Ele me enrolou no ninho deles enquanto nos colocava no chão. — Sabe, nós nunca nadamos. — Disse contra seus lábios quando ele interrompeu nosso beijo. — Eu nunca teria chegado à água sem tocar em você. — Seus olhos procuraram meu rosto. — E uma vez que tocasse em você, eu não seria capaz de parar. Sorri, saciada de uma forma que nunca tinha experimentado na minha vida enquanto olhava para a porta quebrada. — Você sabe, estamos literalmente bem ao lado da porta. Você acha que eles estão nos gravando em suas câmeras de segurança?


Um lento sorriso apareceu em seus lábios. — Eles não estão mais gravando isso. Eu estreitei meus olhos para ele. — Você tem certeza disso? Ele tocou meu rosto com os dedos, traçando minhas feições como se estivesse fascinado por eles. — Me opus veementemente aos olhos mecânicos deles e o comandante levou isso em consideração, dando sua palavra de que eu não estaria mais sob vigilância. — Você quebrou o navio deles, Nemon? Seu sorriso se espalhou em um sorriso largo. — Consertarei depois.

Seus tentáculos enrolaram ao redor e abaixo de mim, suspendendo meu corpo em pé acima do solo enquanto ele me carregava para a piscina. Percebi que nunca me senti mais segura do que naquele momento, apesar do poder em seu domínio e do potencial para me prejudicar. Enquanto se movia, ele continuou a acariciar meu corpo, puxando minha pele com suas ventosas, como se estivesse plantando pequenos beijos em mim. Era tão bom que, embora ele não estivesse tentando me estimular e excitar, eu já sentia o rubor renovado de calor na junção de minhas coxas. Esperava que a temperatura da piscina esfriasse um pouco as coisas para que pudéssemos conversar, porque eu tinha algumas confissões a fazer a ele antes de voltar ao sexo alucinante. Ainda assim, não estava preparada para o frio enquanto ele afundava na água comigo, ajustando minha posição com seus tentáculos até que estava sentada em um deles com a maior parte do meu corpo submerso, enquanto outros dois se enrolaram em minha cintura para me segurar de modo estável.


Enquanto estremecia, mais tentáculos me envolveram e ele me puxou para mais perto da parte superior de seu corpo - que também estava submerso agora - até que estivéssemos quase no mesmo nível. — Está muito frio? Balancei minha cabeça, inclinando-me para dar um beijo em seus lábios. — Apenas no começo, mas já estou me adaptando. Eu gosto de piscinas. — Olhei em seu tentáculo em volta da minha cintura, incapaz de manter o sorriso feliz fora do meu rosto. — Especialmente desta. Seu sorriso de resposta foi um espetáculo para ser visto e me perguntei quando seus dentes afiados pararam de me perturbar, então tive que me perguntar se eles realmente o fizeram, ou se eu apenas senti que deveriam. — Esta piscina nunca foi tão parecida com a minha casa quanto agora. Meu sorriso diminuiu um pouco. Ainda havia coisas para dizer a ele. Coisas que eu temia tirariam aquele sorriso feliz de seu rosto. Mas eram coisas que precisavam ser ditas e não podia permitir que o tentáculo que estava lenta e vagarosamente acariciando minha coxa sob a água me distraísse da conversa que teremos. — Há algo que preciso lhe dizer, Nemon, e não tenho certeza de como. Seu sorriso vacilou, como se pudesse dizer apenas pelo meu tom que algo estava errado. Ele afastou os cachos da minha bochecha com uma mão espalmada, seu olhar estranho fixo no meu rosto. — Sempre ouvirei o que você tem a dizer. Desviei o olhar dele, estudando a bela arte do cenário ao nosso redor. Era difícil acreditar que aquele lugar nada mais era do que um refúgio para os Akrellianos. Agora sabia que eles transportavam espécimes aquáticos com bastante frequência de e para mundos colônias, então entendia porque tinham apoios assim mesmo em seus navios de guerra, mas o propósito funcional do lugar foi transformado em algo bonito para eles desfrutarem


como faziam com todas as coisas que criaram. Ainda assim, meus arredores não eram uma distração suficiente para o que eu precisava dizer. Eu simplesmente não pude encará-lo quando disse isso. — É sobre essa coisa de Imprinting. Seu tentáculo, que tinha se movido da minha coxa um pouco mais alto para roçar no meu monte, parou instantaneamente quando sua parte superior do corpo ficou tensa. — Não sei quantas vezes preciso dizer que te amo, Joanie, mas direi a cada duas frases se precisar. Não é por causa do Imprinting que me sinto assim. É por causa do quão incrível você é. Ri sem sentir muito humor. — Eu aprecio isso, embora não vá fazer você ficar se repetindo. Gosto de ouvir que você me ama e que me acha incrível, mas minhas preocupações sobre o imprinting têm a ver com o imprinting em você, e não o contrário. Suas sobrancelhas franziram em uma carranca confusa. — Não entendo. Respirei fundo, esperando que fosse o suficiente para pronunciar as palavras. — Os Iriduanos... Quando estavam fazendo experiências comigo, eles fizeram algo comigo. Eles juntaram um pouco de seu DNA no meu. Eu acho... Estou preocupada que tenham feito isso de forma que eu teria um Imprinting em alguém, assim como seus homens fazem. Esperava que ele se afastasse de mim quando as implicações de minhas palavras surgissem. Eu me preocupava que ele questionasse meu amor e se era tão real quanto seu amor por mim. Não deveria ter subestimado ele. Em vez de fazer nada disso, ele me puxou para mais perto de seu corpo, seus tentáculos envolvendo meus pulsos para guiar minhas mãos para os dois corações que batiam continuamente em seu peito. Enquanto colocava


minhas mãos sobre eles, ele enfiou minha cabeça sob seu queixo, passando seus dedos pelos meus cachos. — É isso que trouxe tanta tristeza aos seus olhos? — Senti seus batimentos cardíacos pulsarem sob minhas palmas enquanto ele me acalmava. — Você está desapontada com o companheiro que seu imprinting escolheu? Virei minha cabeça para pressionar meus lábios em seu peito. — Não! Nunca! Eu sei que teria me apaixonado por você de qualquer maneira, Nemon. É só que... — Você me ama? — Sua voz, cheia de felicidade, cortou minhas palavras quando percebi que ainda não havia dito a ele como me sentia. Levantei minha cabeça para olhar para seu rosto. — Eu te amo. Da maneira como os humanos amam, e talvez até da maneira como os Iriduanos amam. Ele embalou meu rosto entre as mãos, seu olhar estudando minhas feições atentamente como se estivesse tentando memorizá-las. — Nunca houve um momento na minha vida mais perfeito do que este, Joanie. Não me importo que destino ou fisiologia trouxe você para mim. Saber que você me ama e que me aceitou significa mais do que qualquer outra coisa. Nossos lábios se encontraram, abrindo enquanto eles se juntavam para que nossas línguas pudessem dançar enquanto nossa respiração se misturava. Já tinha sido beijada muitas vezes antes, de apaixonada a superficial, mas nunca tinha sido beijada assim. Era como se respirássemos como um só, nossos batimentos cardíacos sincronizando enquanto nos abraçávamos. Não quebrei seu beijo quando seus tentáculos começaram a se mover sobre meu corpo com intenção séria sob a água, aquecendo minha pele, que


havia começado a esfriar com a temperatura da água. Como pequenas bocas sugando, suas ventosas me provaram, deixando um delicioso estímulo em seu rastro enquanto se enrolavam sobre minha pele. Dois tentáculos se agarraram aos meus mamilos, enquanto o que estava brincando em minhas coxas procurava meu clitóris, puxando-o como um instrumento fino até que eu estava ofegando em sua boca enquanto seus lábios e língua continuavam a saquear os meus. Mais tentáculos se enrolaram em torno de meus tornozelos, puxando-os suavemente para abrir espaço para seu tentáculo de acasalamento, que buscava meu calor na água fria. Ele acariciou minha bainha exposta, as ventosas explorando minha entrada antes que sua cabeça rígida penetrasse lentamente, afundando dentro de mim centímetro a centímetro até que eu me senti tão cheia que temi não ser capaz de tomar mais dele. Havia muito mais dele para tomar, mas havia limites para o que eu poderia lidar, e Nemon pareceu senti-los, não empurrando muito fundo antes de puxar um pouco para fora, então empurrar de volta para dentro de mim novamente. As ventosas beijaram minha parte interna das coxas trêmulas, aumentando as sensações das ventosas puxando meus mamilos e clitóris, e mais acariciando meu abdômen e enrolando em torno dos meus seios, massageando suavemente os montes sensíveis. Nenhuma parte do meu corpo escapou de sua atenção, seus tentáculos até cutucando o buraco apertado atrás de onde seu tentáculo de acasalamento bombeava dentro de mim. Estremeci enquanto ele explorava aquela região proibida, não fazendo nenhum movimento para detê-lo até que ele pressionasse profundamente dentro. Ele parou assim que me sentiu tensa e murmurei um protesto contra seus lábios. O tentáculo de sondagem se afastou para deixar uma trilha de beijos de sucção nas minhas costas. Talvez um dia - com muito lubrificante - eu considerasse permitir que ele


fosse lá, mas não seria agora, quando nossos corpos ainda eram tão novos um para o outro. Apreciei que ele não pressionou o assunto e foi rápido em ler minha hesitação pelo que era, em vez de se afastar de mim e ficar ofendido, ou exigir alguma explicação detalhada que desviaria nosso abraço apaixonado. Enquanto o resto de seus tentáculos me exploravam, seu tentáculo de acasalamento enfiava dentro de mim, minha temperatura subiu até que fiquei surpresa que a água ao nosso redor não estava evaporando. Não me sentia mais nem um pouco fria. Na verdade, a água fria era calmante contra o calor da minha pele e o calor quase opressor de seu corpo abraçando o meu. Os tentáculos brincando sobre minhas zonas erógenas me levaram a um orgasmo que me fez enrijecer em seu aperto enquanto minha passagem convulsionava ao redor do comprimento dele que estava enterrado dentro de mim. Ele gemeu na minha boca com a sensação de eu o apertar, e com mais algumas estocadas, seu tentáculo de acasalamento pulsou enquanto ele expulsava sua semente dentro de mim. Nosso beijo continuou por alguns minutos depois que ele lentamente retirou seu tentáculo de entre as minhas pernas para se enrolar em volta das minhas coxas, onde se acomodou contra a minha pele, ainda fornecendo calor e apoio sob a água. Quando finalmente nos separamos para respirar, olhei em seus olhos, tentando encontrar as palavras para expressar o quão incrível era estar com ele assim. Não havia ninguém como ele na galáxia e entendi por quê. Ele foi feito para mim. Ninguém mais poderia me abraçar como ele. Ninguém mais poderia ter proporcionado a sensação de segurança e proteção que sentia em seu abraço. E ninguém mais teria olhado para mim com tanta admiração em seus olhos como Nemon fazia. Quando vi como ele olhou


para mim, senti como se ele estivesse descobrindo o centro de seu universo. Eu sabia que já tinha descoberto o meu.


Capítulo 23 JOANIE Foi difícil separar-me dele, especialmente depois do que aconteceu entre nós. Passei as últimas duas semanas em um estado constante de excitação e indecisão nervosa e, finalmente, fui capaz de experimentar o que meus sonhos eróticos só me provocaram. Mas meus sonhos não eram nada comparados com a realidade disso. Não tínhamos falado muito depois da segunda vez que fizemos amor em sua piscina, e nos contentamos em simplesmente nos abraçar e explorar o corpo um do outro com mãos curiosas e, no caso dele, muitos tentáculos curiosos. No final das contas, porém, a temperatura da água ficou desconfortável para mim, e senti a exaustão se instalar, dizendo-me que era hora de descansar. Estaríamos atracando na Estação Espacial de Ubaid em breve e eu tinha uma provação pela frente. Uma do qual Nemon não estaria lá para me proteger. Devevíamos contar nossas histórias na frente de todo o Sindicato Cósmico. Eu pensei que era uma loucura. Por que nos levar para fora, onde os Iriduanos podem ser capazes de nos encontrar? Mas o primeiro comandante insistiu que encontrássemos o Sindicato e prestássemos nosso testemunho pessoalmente. Aparentemente, muitas das espécies membros não confiavam em nada que não pudessem testemunhar com seus próprios olhos ou sentir com seus outros sentidos. Para que acreditassem em nós, eles tinham que nos ver pessoalmente. Alguns deles aparentemente saberiam se estávamos mentindo só por estar perto de nós. A ideia de estar cercada por ainda mais alienígenas teria me apavorado até alguns dias atrás, mas enquanto estava no elevador esperando que ele abrisse no meu deck, senti que poderia enfrentar toda a galáxia. Eu me


sentia incrível. Sabia que provavelmente eram todas as endorfinas de nossa vida amorosa, mas nunca me senti tão bem em qualquer memória que guardei em minha mente, nem mesmo as que usei para evitar lidar com a minha realidade. Nem mesmo minhas melhores memórias chegavam perto da memória de estar com Nemon, fazendo amor com ele até que nós dois estivéssemos tremendo com o poder de nosso clímax. Em meu andar, verifiquei o corredor para ter certeza de que nenhuma das outras garotas estava por perto antes de sair do elevador. Sabia que elas seriam capaz de dizer o que eu estava fazendo. Tinha certeza de que meu rosto estava brilhante como um letreiro de néon, dada a minha sensação. Eu não estava pronta para discutir o que tinha acontecido com ninguém ainda. Ainda parecia muito íntimo, muito precioso para compartilhar, mesmo com as mulheres que se tornaram minhas melhores amigas. Fui muito evasiva sobre meus sentimentos por Nemon com as outras mulheres, particularmente Claire. Não que eu tivesse vergonha do meu amor por ele - muito pelo contrário. Eu queria anunciá- lo para a galáxia com um megafone do tamanho de um planeta, mas antes de realmente fazermos amor, estava com medo de falar sobre o que estava acontecendo entre nós, com medo de acordar daquele lindo sonho, ou que algo aconteceria para acabar com isso, e então eu teria que explicar a elas por que aquele relacionamento florescente fracassou. Em vez disso, era apenas mais fácil ignorar todas as perguntas sobre mim e Nemon, explicando que éramos apenas amigos, quando éramos muito mais um para o outro. Agora que nós verdadeiramente nos acasalamos, eu me sentia mais segura sobre o que existia entre nós, mas a intimidade era demais para compartilhar e sabia que teriam muitas perguntas invasivas no momento. Claire era mais diplomática, mas eu tinha visto os olhares questionadores que ela me dava sempre que o assunto Nemon surgia em


torno dela. Tenho certeza de que suspeitou que algo estava acontecendo entre nós, apesar de meus protestos em contrário. Dado que eu tinha visto muito Thrax saindo com Nemon ultimamente, ela sem dúvida sabia que eu não poderia ficar longe de Nemon, mas ela também tinha que saber que não estivemos sozinhos muito naquele tempo, e por pouco do tempo que passamos na sala de recreação com ela trancada, não tivemos a oportunidade de fazer nada. No caminho para minha cabine, senti o deslizar de algo molhado entre minhas pernas que me obrigou a desviar para o banheiro para tomar um banho. Achei que em algum momento seu sêmen vazaria, mas não esperava a visão que me saudou quando tirei meu macacão e o chutei de lado enquanto me preparava para entrar no chuveiro. Um par de longos fios amarelo-esbranquiçados escorregaram por entre minhas pernas assim que o tecido não os pressionava mais contra minha pele. Congelei com a visão, meu coração batendo forte. Então rapidamente olhei por cima do ombro para a porta antes de entrar no chuveiro, ativando a opacidade na porta transparente que impedia a água de espirrar em todos os lugares. Uma vez escondida de qualquer um que pudesse entrar, cuidadosamente toquei uma das cordas, estremecendo ao puxá-la do meu corpo, embora não tenha causado nenhuma dor. Estava um pouco mole - como macarrão cozido demais e tão grosso quanto espaguete - e não acho que comeria espaguete novamente depois que minha mente fez essa comparação. Onde meus dedos o beliscaram, ele se abriu, derramando um fluido translúcido na minha pele que brilhou como se houvesse pequenas luzes dentro dele. — Nojento. — Murmurei, então balancei minha cabeça com minha própria melancolia. Eu tinha acabado de fazer sexo com um alienígena. Não


deveria ter esperado que as coisas fossem normais no departamento de sêmen. Definitivamente levaria algum tempo para me acostumar, o fato de que eu tinha fios de sêmen saindo do meu corpo, mas agora algo que Nemon me disse sobre sua espécie - antes de ser transformado - fazia sentido. Ele se referiu uma vez às fêmeas de sua espécie, chamando-as de tecelãs da vida e dizendo que os machos teciam ‘‘fios de sementes’’ para que as fêmeas pudessem tecer nova vida a partir deles. Era uma descrição quase poética, um pouco menos charmosa na realidade. Eu me consolava com as diferenças entre nós. Em meu casamento anterior, só queria engravidar e ter um bebê saudável até o fim. Agora, estava grata que Nemon e eu não seríamos geneticamente compatíveis. Não havia como alguém tão estranho como ele pudesse procriar com um humano, muito menos uma cuja anomalia cromossômica tornava apenas uma pequena porcentagem de meus óvulos geneticamente viáveis. Aprendi o suficiente sobre genética durante todas as minhas lutas com minha própria fertilidade para entender que, mesmo entre humanos, era um milagre que o processo funcionasse. Entre um humano e um alienígena - particularmente um como Nemon - era uma impossibilidade científica. Certo, os Iriduanos haviam tomado fêmeas humanas como criadoras, mas presumi que estivessem planejando fazer a duplicação do DNA ou fazer algum tipo misterioso de intervenção científica para tornar essa prole viável. Sem qualquer ajuda científica, não havia como isso acontecer. Embora eu ainda quisesse um filho, não poderia justificar trazer um híbrido para esta galáxia simplesmente por meu próprio desejo egoísta de ter um bebê que compartilhasse as minhas características e as de Nemon. Claro, eu tinha uma fantasia sobre um bebezinho fofo com pequenos tentáculos se debatendo, mas fui realista o suficiente para entender isso


essa criança sofreria os desafios de ser um híbrido e seria a única de sua espécie. Eu não poderia fazer isso com meu filho. Esse problema estava fora de minhas mãos, felizmente, porque tinha que admitir que poderia acabar sendo tentada a tentar fazer acontecer, embora não pudesse lidar com outro aborto. Meu coração se partia cada vez que perdi um bebê, cada vez deixando cicatrizes que o impediam de cicatrizar completamente. Até Nemon. Depois de remover os fios da semente do meu corpo, terminei meu banho, observando a semente cintilante escorrer pelo ralo, me perguntando como ela brilhava. As cordas em si eram meio nojentas, mas o líquido dentro delas era quase bonito, como cola translúcida cheia de glitter muito fino. Depois de me secar e vestir um macacão novo, colocando o meu sujo no ralo da lavanderia, que o sugou para dentro da máquina de limpeza, voltei para o meu beliche, quase tropeçando de exaustão. Eu não tinha dormido bem ultimamente, meus sonhos estavam muito cheios de pesadelos persistentes ou sonhos eróticos sobre Nemon, para me permitir ter um sono reparador. Mesmo agora, estava nervosa sobre o que o próximo ciclo de vigília traria. Demoraria horas para atracar no porto, e mesmo depois disso, Claire tinha insistido que todos esperássemos a entrega das roupas que ela encomendou da GalactaNet que estava nos esperando no porto, pois como ela havia dito, precisávamos para ‘‘vestir-nos como humano e mostrar a galáxia que deveríamos ser reconhecidas’’. Sorri ao pensar nela escolhendo e desenhando todas as nossas roupas, reclamando que tinha que fazer tudo online e não podia costurá-las sozinha. Ela passou horas criando looks para todos nós e seu próprio look foi impressionante e ousado - ela o chamou de cybergoth. Achei que sua


aparência combinaria perfeitamente com ela. Não havia nada comum em Claire. Ela nos permitiu escolher roupas mais sutis para nós mesmas e eu selecionei um vestido muito simples em um estilo retro que lembra os anos 1950. Gostava do visual daquela época, talvez porque passei muito tempo sonhando que minha vida era como a da mãe naqueles episódios de televisão em preto e branco - mandando seus filhos para a escola, beijando seu marido amoroso quando ele saiu para trabalhar, depois cuidando de sua bela e tranquila casa e visitando seus vizinhos amigáveis durante o dia. Era o tipo de vida que só tinha sido um sonho distante para mim quando eu era criança e parecia o paraíso. Tudo parecia tão perfeito naquele mundo de fantasia da televisão, quando nada na minha vida estava, na realidade fria e arenosa onde eu cresci. Enquanto estava deitada na minha cama, olhando para o teto inclinado, contemplei o que tinha acontecido entre mim e Nemon. Não havia como voltar atrás, mas eu já sabia disso. Acho que soube disso desde o momento em que acordei em seu abraço alienígena pela primeira vez e olhei em seus olhos. Meu corpo - alterado como estava pelo DNA de Iriduan instantaneamente o reconheceu, e foi apenas minha mente que lutou para alcançá-lo. Agora que tinha, eu estava totalmente comprometida com a ideia de ficarmos juntos e construir uma vida aqui na galáxia. Os pensamentos sobre a Terra sempre seriam agridoces, e uma coisa que eu lamentaria não poder visitar o túmulo de minha mãe regularmente para colocar flores frescas em cima dele. Talvez seu ex-marido ocasionalmente fizesse uma viagem da Europa para fazer isso por mim. Não acho que ele deixou de amá-la, embora não tenha sido capaz de viver com os problemas que a atormentavam - um dos quais era eu.


O sono finalmente tomou conta de mim quando meus pensamentos turbulentos não puderam mais lutar contra a exaustão absoluta. Quando acordei, foi apenas porque foi feito um anúncio ao meu tradutor de que havíamos atracado no porto e as passageiras humanas foram solicitadas no porão de carga. Levei apenas alguns minutos para pular da minha cama e calçar os sapatos e então corri para a minha rotina matinal antes de descer para o porão para encontrar meus amigos. Sabia o que estaríamos esperando, e parecia um pouco com a manhã de Natal. Quando cheguei lá, Claire já estava cavando em uma caixa de transporte de metal e Theresa já estava segurando um punhado de tecido, acariciando o tecido com os dedos com um pequeno e distante sorriso enquanto olhava para ele. Tarin ficou ao lado da caixa, observando Claire arrancar itens de dentro dela, e todas nós fizemos sons de ‘‘ooh’’ enquanto ela retirava joias e sapatos. Assim que Claire me entregou o vestido de cintura fina que ela desenhou para mim, entendi a reação de Theresa ao tecido em suas mãos. O meu era um material macio, parecido com o linho, colorido de um cinza carvão que parecia complementar a palidez da minha pele, em vez de chamar a atenção para ela, mas não era a cor, ou o estilo, ou os saltos que foram encomendados para combinar que me fizeram sentir tão feliz em vêlo. Era o significado por trás disso. Nas últimas duas semanas - e nos meses anteriores - fui uma prisioneira, depois uma convidada em uma nave alienígena. Eu usei batas largas de hospital, fui despida, humilhada, torturada e mal vestida de novo e, embora finalmente tivesse recebido muitos macacões limpos e novos que eram bastante confortáveis e elegantes, eram todos o mesmo. Embora os


Akrellianos adorassem a beleza e a arte, o design de roupas era um lugar onde eles não gastavam muito esforço, já que aparentemente não usavam muito em seu mundo natal, e quando se vestiam, era para fins cerimoniais, que era muito elaborado para funcionalidade. Portanto, seus uniformes eram brandos e austeros, em total contraste com a maneira como abordavam seus outros aspectos da vida. Mas mesmo que eu estivesse vestida com fantasias extravagantes ou exuberantes túnicas alienígenas o tempo todo em que estive no navio Akrellian, ainda iria agarrar esse vestido precioso para mim, meu coração batendo com ansiedade para colocá-lo. Porque era um projeto humano e eu temi por tanto tempo que nunca mais assumiria essa identidade novamente. Ser humano na Terra significava fazer parte de algo maior do que você mesmo, embora eu nunca tivesse reconhecido isso em minha vida anterior antes de perceber que havia uma galáxia inteira de alienígenas sencientes para enfrentar. Ser um humano no espaço cercado por alienígenas me fez sentir à deriva, lutando para determinar onde me encaixava. Nemon ajudou muito com isso, mas eu ainda precisava disso, e agora eu entendia porque Claire tinha sido tão inflexível em nos ‘‘vestirmos como humanas’’ para nosso encontro com o sindicato. Estávamos marcando nossa maneira de nos vestir, que seria um pouco diferente do que veríamos na estação. Estávamos nos identificando como humanos e reconhecendo isso com orgulho, depois que os Iriduanos nos trataram como inferiores dispensáveis. Depois de carregados com todos os nossos pacotes, voltamos ao nosso deck para nos prepararmos, já que a audiência do Sindicato começaria no próximo quarto de volta. Pelo que eu entendi, isso só nos deu cerca de quatro horas para nos prepararmos para a reunião mais intimidante que já comparecemos.


Quase duas horas depois, pelo cronômetro acrelliano, encarei-me no espelho no vestiário do banheiro do andar. Eu parecia uma mulher diferente. Claire tinha encomendado algum dispositivo estranho que iria vaporizar e então enrolar nosso cabelo, e domesticou meus cachos em um penteado elegante que complementava perfeitamente o vestido que eu usava. A saia do meu vestido balançou solta, escovando minha pele nua logo abaixo dos joelhos, o tom de carvão aprofundando a cor dos meus olhos e transformando meu cabelo castanho-claro na mesma bela cor castanha que Nemon sempre assumia quando estava perto de mim. Eu usei apenas um toque da maquiagem que Claire havia pedido, mas me deu uma aparência nova, e quando as meninas terminaram comigo, todas elas se afastaram e admiraram seu trabalho. — Você está perfeita! Como se você tivesse acabado de sair de um daqueles seriados de TV em preto e branco. — Disse Theresa, admirando meu vestido e cabelo. — Só que você tem muito mais cor. — Acrescentou Tarin. Claire me estudou, apenas meio acabada com sua própria roupa. — Eu invejo sua pele, Joanie. Nunca posso deixar minha pele tão pálida. Eu ri disso. — Acredite em mim, este é o mais pálido que eu já estive. Em Vegas, sempre estava bronzeada ou com queimaduras de sol. Depois de mais alguns comentários complementares, as outras mulheres voltaram sua atenção para suas próprias roupas e voltei a minha para Nemon, do quanto eu queria que ele me visse assim. Infelizmente, apesar do quanto o comandante agora parecia confiar em Nemon, ele ainda não permitiu que ele saísse do navio enquanto estávamos no porto. Seu raciocínio era sólido.


Nemon tinha a tendência de permitir que sua curiosidade o levasse a problemas. Thrax tinha muito pouca curiosidade sobre a estação e não tentaria escapar para explorá-la. Nemon pode ser capaz de escapar até mesmo de um detalhe de segurança hipervigilante. Ainda assim, senti que era incrivelmente injusto negar a Nemon a chance de ver a estação por si mesmo, quando ele estava tão animado com isso. Eu tinha certeza - bem, um pouco de certeza - de que ele permaneceria focado em sua segurança enquanto olhava ao redor. O comandante não ficara convencido disso, então Nemon foi convidado a permanecer no porão, e eu desci até ele, porque eu não queria nada mais do que vê-lo novamente antes de ir para a estação desconhecida, desejando que ele pudesse esteja ao meu lado. Também mal podia esperar para ver sua reação quando me visse vestida assim. Meu estômago vibrou com o nervosismo enquanto me perguntava como ele responderia a mim. Pela primeira vez no que parecia uma eternidade, eu estava realmente usando calcinha e uma roupa de baixo sob meu corpete justo que levantava as meninas até que elas estivessem redondas, roliças e firmes em vez de flácidas. Minha silhueta era muito feminina e me sentia mais bonita do que eu tinha em anos, mesmo antes de ser abduzido. Mas ele me acharia bonita assim? Vestida como um humano? Ele já estava fora de sua piscina e eu poderia dizer que ele estava fazendo sua versão de andar em volta do porão, mas quando eu entrei, ele se virou para mim e congelou, seus olhos estranhos olhando para mim enquanto sua boca pendia aberto, sua saudação feliz morrendo em seus lábios enquanto ele me olhava. Andei lentamente em sua direção, mas não fui muito longe antes que seus tentáculos surgissem em minha direção de uma vez. De repente, eles estavam me tocando em todos os lugares, escovando o tecido do meu


vestido, a pele que estava exposta logo abaixo, a pele levemente empoada da minha bochecha e o enrolamento praticamente envernizado do meu cabelo. Eu me afastei daquele último tentáculo de busca, não querendo bagunçar o que minhas amigas levaram um tempo para consertar. — Joanie? — Ele balançou sua cabeça. — Você parece tão…. Girei um pouco, fazendo com que seus tentáculos se curvassem para trás enquanto minha saia se alargava, revelando mais das minhas pernas. — Você gosta disso? Ele olhou sem palavras. Comecei a me preocupar. Fiquei na ponta dos pés com meus saltos novos e brilhantes e acenei minha mão em seu rosto. — Yoo hoo? Alguém em casa? Seu olhar distraído se aguçou um pouco. — Estou tentando me controlar. Não é fácil. Você está tão linda. — Seu olhar se arrastou dos pés ao meu cabelo. — Você sempre foi linda para mim e sempre vou preferir você como te vi no último ciclo de sono, mas isso... — Um tentáculo gesticulou para mim, tremendo um pouco quando ele o puxou para longe. — Você é como uma luz brilhando sobre a superfície da água, puxando-me das profundezas mais escuras para investigar que tipo de tesouro poderia brilhar tão intensamente. — Seus tentáculos se enrolaram contra seu corpo. — Eu não quero deixar você deixar este navio, para que outros não vejam meu tesouro e tentem

levá-la.

Ele sabia como fazer uma garota se sentir elogiada. Daria isso a ele. Bem, para ser justa, eu daria tudo a ele, mas ainda balancei a cabeça em advertência quando um de seus tentáculos subiu pela minha perna e escorregou sob o tecido frouxo da minha saia. — Eu tenho que sair logo. Temos esta reunião maldita para terminar.


— Você parece tensa. — Ele me deu um sorriso de tubarão. — Devemos fazer algo sobre isso antes de você ir. — Seu tentáculo subiu mais alto, encontrando o material rendado da minha nova calcinha. Ele congelou novamente por um momento, antes de soltar um longo suspiro, fechando os olhos. — Você está aqui para me torturar, não é? Seu tentáculo traçou o padrão de renda sobre meu monte e, em seguida, arrastou-se ao longo da borda da calcinha, capturando-a para puxá-la para o lado para que um segundo tentáculo que escorregasse por baixo da minha saia pudesse tocar no meu clitóris, arrastando as ventosas ao longo do corpo sensível carne e até minha entrada úmida. Senti meus joelhos começarem a dobrar quando sua ventosa começou a puxar meu clitóris. Um tentáculo envolveu minha cintura, me apoiando enquanto eu caía de prazer. — Não bagunce meu cabelo. — Engasguei entre a respiração ofegante enquanto mais tentáculos me cercavam, procurando a pele que foi deixada exposta pelo meu vestido. — Terei cuidado. — Respondeu suavemente. Seus tentáculos enrolaram em torno de minhas pernas enquanto ele me levantava do chão e em direção a sua parte superior do corpo. Abaixo da minha saia, eles se contorciam em torno das minhas coxas enquanto um tentáculo mágico continuava a pulsar no meu clitóris. Então eu senti a ponta enrijecida de seu tentáculo de acasalamento sondando minha entrada encharcada, mergulhando nas dobras lisas para penetrar tão profundamente quanto podia. Gritei no clímax quando o deslizar de seu tentáculo de acasalamento dentro de mim desencadeou o orgasmo que sua manipulação do meu clitóris tinha construído.


Ele me beijou cuidadosamente nos lábios, atento à camada leve de gloss que eu passei sobre eles. Então ele gemeu quando seu tentáculo de acasalamento começou o ritmo que nos levaria a um clímax poderoso. Depois que seu tentáculo bombeou dentro de mim, liberando a semente da corda com a qual eu me perguntava como deveria lidar, ele me abaixou para o chão, onde meus calcanhares haviam caído antes, esquecido enquanto ele relaxava toda aquela tensão dentro de mim. Ele me firmou em meus pés, fornecendo apoio enquanto eu colocava meus calcanhares novamente. Então se inclinou para me dar outro beijo doce que foi apenas um leve toque de seus lábios contra os meus. — Estou me sentindo menos tensa. Eu tenho que admitir. — Sorri para ele, meus músculos ainda fracos pelo prazer que ele me deu. Seu sorriso de resposta foi amplo e satisfeito consigo mesmo. — Sempre que você precisar de mim para ajudá-la a relaxar, me avise. — Quando seu sorriso desapareceu, foi substituído por uma leve carranca — Eu realmente estou preocupado com você lá fora. Respeito o comandante Tirel, mas não gosto que ele me impeça de proteger minha companheira. Suspirei. — Sinto muito, Nemon. Eu gostaria que você pudesse ir também. Acredite em mim! Mas o comandante está enviando um destacamento de segurança, além de comparecer pessoalmente à reunião e não se esqueça de Thrax também estará lá. Ele assentiu. — Essa é a única razão pela qual não estou lutando abertamente contra Tirel por causa de seu decreto de que eu fique para trás. Acredito que Thrax pode protegê-la da maioria das ameaças que você pode enfrentar. Eu olhei para ele com desconfiança.


— O que você está planejando, Nemon? Ele balançou a cabeça com a minha expressão. — Seria melhor se você não soubesse, para que possa negar que teve qualquer participação mais tarde. Só saiba que não deixarei minha companheira ficar desprotegida na estação. Torci meus dedos na minha frente, não gostando da implicação por trás de suas palavras. — Nemon, por favor, não faça nada que o coloque em apuros com os Akrellianos. Você conquistou a confiança deles e construiu uma amizade com o comandante. Você não quer arriscar isso com ações impulsivas. Ele abaixou a parte superior do corpo até que estivéssemos quase no nível dos olhos. — Não há nada impulsivo em querer protegê-la. É algo que está em meu sangue, uma necessidade que bate em todos os meus três corações. Sempre estará lá, e eu também. — Ele me beijou suavemente antes de se afastar. — Você deve ir em direção ao compartimento de carga. Eles estarão procurando por você em breve. Eu o encarei por um longo momento com indecisão, antes de finalmente suspirar. — Tenha cuidado, Nemon. Quero te proteger também, você sabe. Ele sorriu para isso. — Eu sei, minha companheira. Não me colocarei em perigo a menos que seja necessário. Eles nunca saberão que estou lá. Por mais louco que parecesse - dado o tamanho enorme de Nemon quase acreditei nele.



Capítulo 24 JOANIE A estação espacial Ubaid era uma série de anéis de estação em forma de torus conectados por um núcleo central em forma de tubo que continha a maior parte do maquinário para os anéis que giravam em torno dele. Cada parte da estação - cada torus - poderia ser destacado e enviado ao espaço individualmente no caso de um incidente catastrófico em um ou mais dos anéis da estação. No momento havia cinco anéis, mas outro estava em construção e a parte final da estação era onde ficava o espaçoporto. A estação, pelo que os Akrellianos nos contaram, estava constantemente em construção, enquanto o Sindicato continuava a expandir sua influência pela galáxia. Novos anéis seriam adicionados à estação quando necessário. A estação inteira atualmente girava a uma taxa semelhante à rotação da Terra em seu eixo enquanto orbitava em torno da estrela anã vermelha de Ubaid, embora cada anel pudesse girar independentemente, conforme exigido para espécies residentes naquela parte da estação. No momento, os requisitos de suporte de vida da maioria das espécies residentes na estação estavam dentro dos mesmos parâmetros que a humanidade exigia. Essa semelhança de requisitos entre tantas formas de vida diferentes era uma curiosidade, mesmo para as espécies avançadas que estudaram a galáxia e descobriram o padrão inexplicável. Ainda assim, sempre havia outros com necessidades diferentes e alguns deles estariam na audiência do Syndicate, mas eu ouvi que aqueles alienígenas estariam em bolhas independentes que replicavam seus ambientes domésticos enquanto estavam na estação.


Pelo menos era confortável para nós, embora parecesse um pouco mais difícil de andar, como se a gravidade fosse um pouco mais forte na estação do que na nave Akrelliana, mas essa poderia ter sido minha própria percepção, já que era difícil para mim cada passo para fora do navio que se tornou meu lar - e continha o amor da minha vida - e para a enorme estação. Depois que passamos pela segurança do porto e entramos na estação propriamente dita, indo em direção ao maior torus central, as multidões se tornaram menos opressoras, mas menos pessoas - por mais estranhas que fossem - significava que nos tornamos o foco de mais atenção. Tentei ignorar os olhares e pescoços esticados ou o que quer que os alienígenas tivessem. No entanto, foi difícil, especialmente porque eu estaria olhando para trás, se não estivesse tão preocupada com o que Nemon pretendia fazer. Eu não via como ele passaria pela segurança do porto para nos seguir, mesmo se pudesse se misturar completamente com a paisagem. Apenas a multidão sozinha iria esbarrar em seu corpo ou tropeçar em seus tentáculos enquanto ele tentava se mover através do espaçoporto, mas eu não acho que nada iria impedir meu companheiro teimoso de nos seguir. Uma vantagem de meu foco total em me preocupar com Nemon era que não tinha nenhuma atenção sobrando para dar aos nervos e à expectativa de encontrar o Sindicato, então quando chegamos ao torus central e fomos escoltados para a Sindicato na câmara do comitê de audiências para dar nosso testemunho, quase não vacilei ao reler minha história sobre o que os Iriduanos haviam feito comigo. Nem estudei os muitos alienígenas que me cercaram por todos os lados, olhando para mim enquanto eu contava aquela história. Em vez disso, fixei minha atenção no drone da câmera pairando na minha frente para evitar ter que olhar para a gama confusa de formas de vida alienígenas que compunham o Sindicato.


Contar minha história acabou sendo mais fácil do que eu esperava. Achei que fosse acabar chorando tanto que não conseguiria terminar. Em vez disso, falei de meu terror e da dor em um tom monótono, explicando que não entendia o propósito de seus experimentos, apenas que eles me torturaram. Não mencionei que tinha DNA de Iriduan dentro de mim agora, mas suspeitei que as muitas varreduras de segurança pelas quais passamos já haviam determinado isso. Não reagi ao que tinha revelado para uma câmara cheia de completos literalmente alienígenas - estranhos, até que eu estava de volta à sala de espera que tínhamos concedido para nossa audiência. Foi só então que me permiti desabar, enquanto as meninas me confortavam, seus olhos assombrados pela história que havia contado. — Meu Deus, Joanie! Eu não tinha ideia do que eles fizeram com você! — Theresa deu um tapinha nas minhas costas suavemente enquanto eu lutava contra as lágrimas. Tarin se agachou na minha frente enquanto me sentava de pernas cruzadas no piso frio de ladrilhos, sentindo-me esmagada pelo peso das lembranças ruins que fui forçada a expor a um público indiferente. — Não sei como você fez isso. Eu nunca teria sobrevivido ao que você passou! Claire se agachou ao meu lado, em frente a Theresa. — Você é muito mais forte do que eu, Jo. Olhei para cima, enxugando minhas lágrimas e certa de que estava espalhando o rímel em uma bagunça no meu rosto. Tanto para minha maquiagem extravagante. — Olhe para mim! Sou uma bagunça fraca, trêmula e soluçante. Como isso é forte? As três mulheres trocaram olhares surpresos antes de Claire encontrar meus olhos.


— Você está falando sério? Você não pode estar me dizendo que acha que é fraca por chorar depois de revelar que foi torturada por meses! — Ela colocou o braço sobre meu ombro, apertando-me por um breve momento. — Joanie, gostaria de saber as palavras certas para dizer a você para fazê-la ver o quão incrível você é. Eu pensei que o que eu tinha sofrido nas mãos dos Iriduanos era ruim. — Ela apertou novamente. — Inferno, foi ruim! — Ela gesticulou para Theresa e Tarin. — Foi ruim para todas nós, mas você sofreu mais. Mãos para baixo, sem dúvida. As outras mulheres murmuraram em concordância, dando tapinhas nas minhas costas. — Não que isso seja um concurso ou algo assim. — Claire rapidamente adicionou. — Não quero minimizar o que qualquer uma de nós passou fazendo comparações, mas meu Deus, Joanie, você tem direito a chorar muito. Como você conseguiu se manter firme por tanto tempo está além de mim. Sorri através das minhas lágrimas, olhando para cada uma delas por sua vez. — Minha mãe sempre dizia que eu não sabia desistir. Acho que estava determinada que os alienígenas não iriam me destruir, não importava o quanto me derrubassem no chão. O atendente chamou Claire em seguida. Ela estaria saindo para o corredor com Thrax, que teve a cortesia de nos dar esse momento de privacidade, esperando um pouco além da porta quando eu desabei e comecei a chorar após meu testemunho. Pessoalmente, não teria me importado com sua presença. Isso teve um efeito calmante em mim agora. Thrax era sólido como uma montanha, não importava o que acontecesse ao seu redor. Passar um tempo com ele enquanto eu saía com Nemon - e


observá-los interagir - me fez perceber que, apesar de sua aparência, ele era um cara muito bom. Eu estava feliz por Nemon o ter como amigo. Parecia que o testemunho deles durou mais tempo, o que não foi surpreendente, já que ambos encontraram os prisioneiros Akrellianos que foram o principal assunto desta audiência. Nossas histórias de abdução e experimentação foram pequenas falhas em comparação a isso, já que tanto os Iriduanos quanto os Akrellianos eram membros do Sindicato e tinham tratados e regras que deveriam impedir que esse tipo de coisa acontecesse. Eu não entendia tudo, nem me importava. Assim que me recompus, confortada pelas garantias das outras mulheres de que não estava sendo uma bagunça fraca e excessivamente emocional, voltei todo o foco da minha atenção para me preocupar com Nemon. Estava quase frenética de preocupação quando nosso depoimento foi concluído e finalmente ficamos livres para deixar a câmara do comitê e retornar ao comandante Tirel. Ele esperou por nós do lado de fora do prédio do comitê. O tempo de decisão estava sobre nós. Thrax e Claire permaneceriam juntos e viveriam no mundo colônia Akrellian de Hierabodos V. Eu não precisava ouvi-los dizer isso ao comandante para saber que era o que aconteceria. Claire já havia discutido isso conosco, pesando os prós e os contras da vida de pioneira e, embora não tivesse certeza sobre estabelecer um novo mundo colônia, eu iria aonde Nemon fosse. Hierabodos V soava como o lugar que ele estava considerando, então estava grata por Claire e Thrax estarem lá também. Tarin não mudou de ideia sobre o retorno à Terra, embora tenha expressado grande pesar por não poder ficar na galáxia, experimentando tudo o que ela tinha a oferecer conosco.


— Vai ser tão chato na Terra, agora que sei o que está aqui! — Ela disse. No entanto, tinha uma família para a qual voltar para casa e como ela admitiu, ainda estava se acostumando com a coisa toda estranha. Apesar de seu incentivo para mim e Nemon, ela não estava pronta para se comprometer com um não humano para seu futuro companheiro. Ela ainda tinha a ideia de que voltaria para casa e encontraria um cara humano normal e legal para se estabelecer. Tive minhas dúvidas, porque vi a maneira como ela estudou os alienígenas enquanto caminhávamos pela estação e não pensei que ela se contentaria mais com um homem normal. Como o restante de nós, Tarin ainda estava se recuperando de suas experiências, tentando encontrar o equilíbrio e lidar com todos os aspectos emocionais de sua situação e com as questões e dúvidas que isso suscitava. Só iria demorar mais para se recuperar, mas infelizmente, de acordo com o comandante, ela estaria em um navio Lusiano voltando para casa quando decidisse que preferia ficar. Fiquei surpresa por Theresa ter pedido para ir com Tarin naquela nave de volta à Terra e tive a nítida impressão de que o primeiro comandante Tirel estava igualmente surpreso, ou talvez desapontado. Seus lábios se apertaram quando ela disse que estava indo embora, apenas um leve tremor em seu tom. Seus olhos desviaram o foco dela para olhar em algum ponto por cima do ombro enquanto ele balançava a cabeça uma vez, sua mandíbula se contraindo sob as escamas finas que o cobriam. — Se for esse o seu desejo, Madame Theresa. Que o Dançarino guie seus passos. Theresa acenou com a cabeça com tanta força que seu cabelo elegante saltou. Então ela deu as costas para Tirel e eu tive apenas um vislumbre de sua expressão devastada antes que ela se voltasse para se concentrar na multidão além do anel de nossos seguranças.


Tirel focalizou seus olhos reptilianos em mim a seguir, sua expressão ilegível, embora a tensão tivesse levantado as pontas de sua cabeça até que estivessem semi-eretas. Quando o brasão Akrellian estava totalmente erguido, eles eram uma visão intimidante, mas suas penas frequentemente revelavam suas emoções, mesmo quando seus rostos não o faziam. Embora Theresa tivesse mantido seus sentimentos ainda mais secretos do que eu por Nemon, não foi difícil descobrir quem tinha sido sua inesperada paixão alienígena. O que era um mistério era por que ela decidiu voltar para casa em vez de perseguir um homem que obviamente retornou o interesse. Talvez como Tarin, ela hesitasse em aceitar a ideia de ter um companheiro estrangeiro. Eu não sabia e me sentia egoísta por estar tão focada em meus próprios problemas que não tinha prestado atenção suficiente as minhas amigas para descobrir antes de chegarmos a esse ponto. Se eu tivesse percebido antes e soubesse qual era o problema, talvez pudesse ter convencido Theresa a ficar e resolver o problema com Tirel. Em vez disso, nem me atrevi a tocar no assunto, porque era claramente um assunto que ambos queriam manter privado. Quanto a mim, minha escolha já havia sido feita. — Eu gostaria de aceitar sua oferta e ir para o mundo colônia de Hierabodos V. O sorriso de Claire espalhou seus lábios, apertando o piercing sob eles até que a barra de prata ficou reta. — Sim! Eu sabia! O leve sorriso de Tirel não encontrou seus olhos, mas ele assentiu. — Posso presumir que Mestre Nemon também aceitará nossa oferta, então? Eu estreitei meus olhos. — É melhor que aceite.


Depois de decidir qual seria o nosso futuro, Theresa e Tarin me informaram em termos inequívocos que iríamos para o Leisure Ring - uma área pública repleta de anúncios holográficos em neon que me fazia pensar em Vegas. Talvez o que a cidade do pecado possa parecer em um futuro distante. Com a segurança do Sindicato cuidando de nós, o comandante estava livre para voltar para sua nave com seu destacamento. Claire optou por retornar ao navio com Thrax, porque ele não queria buscar seu lazer, não via o propósito disso e estava ansioso para ter sua companheira de volta em sua cabine privada. Nós tínhamos garantia de segurança adicional sob a proteção do Sindicato depois de dar nossos depoimentos e agora qualquer um que nos trouxesse dano enquanto na estação enfrentaria sérias reações do Sindicato. Por causa dessa garantia, nós três decidimos dar uma olhada no Leisure Ring, embora inicialmente eu tenha resistido à ideia. Estava ansiosa para voltar a Nemon e dizer que queria ir aonde ele fosse para nosso futuro juntos. Além disso, estava preocupada com ele. Não sabia se ele havia tentado escapar do navio para vir atrás de nós ou se percebeu o quão ruim era a ideia e ficou parado. De qualquer forma, eu deveria ter retornado imediatamente, junto com Claire, Thrax e os Akrellianos, apenas para deixá-lo saber que tudo havia corrido bem. Mas esta provavelmente seria a última vez que eu veria Theresa e Tarin, já que elas haviam combinado com o piloto Lusiano que os levaria de volta para a Terra no dia seguinte do padrão de Ubaid. Elas queriam ver a vida noturna em Leisure Ring e queriam que eu fosse junto para uma última noite


de garotas. Eu não poderia dizer não a isso. Elas se tornaram como minhas irmãs, mesmo no pouco tempo em que nos conhecíamos. Dado o que passamos, os relacionamentos cresceram rapidamente. Eu realmente sentiria falta deles. Nós dirigimos um veículo parecido com um trem-bala através do tubo central que conectava todos os anéis da estação e foi surreal estar no transporte lotado, tão parecido com uma versão mais elegante de um metrô na Terra, rodeado por uma variedade de alienígenas de todas as formas e tamanhos. A maioria dos outros alienígenas prestou pouca atenção em nós, embora eu não achasse que fosse por falta de curiosidade, tanto quanto a escolta de segurança do Sindicato que embarcou no trem conosco. Apenas dois guardas, mas ambos eram Ultiman corpulentos e, aparentemente, não eram o tipo de alienígena com quem brincar. Foi uma pena que os guardas fossem taciturnos e não estivessem inclinados a nos visitar, mas pelo menos a presença deles impediu qualquer outro alienígena de se aproximar de nós. Por mais legal que fosse ver tantos alienígenas, era outra coisa totalmente diferente estar imerso na multidão deles. Sem Thrax por perto, provavelmente começaríamos a nos misturar. Saímos do trem na Leisure Ring Station e seguimos a multidão até um elevador,

onde

esperamos

nossos

guardas espantarem quaisquer

alienígenas que tentassem se juntar a nós no espaço confinado, deixandonos sozinhos enquanto cavalgávamos para o Leisure Ring. Este anél sempre esteva em um ciclo noturno, mas como Vegas, era a cidade que nunca dormia, sendo obviamente um playground adulto completo

com

cassinos,

clubes,

restaurantes

e

os

onipresentes

estabelecimentos de má fama. Senti a familiar explosão de adrenalina enquanto passava por cassinos barulhentos cheios de alienígenas buzinando,


piando, gritando e fazendo sons que não tinham nenhum análogo da Terra enquanto ganhavam - ou mais frequentemente perdiam - seus créditos. Como a maioria dos cassinos de Las Vegas, seus andares do cassino abriam diretamente para as passarelas externas, para que os turistas pudessem entrar no meio da multidão e simplesmente sentar-se em uma das muitas máquinas com suas telas holográficas exibindo jogos que eu nunca tinha visto antes. Reconheci a forma como as luzes piscaram e o som de jackpots sendo disparados e meu sangue bombeou mais rápido. Recebemos mais de mil créditos cada um como um presente dos Akrellianos por desempenharmos nosso papel em sua reclamação ao Sindicato sobre os Iriduanos. Foi um gesto generoso, especialmente porque eles nos alimentaram, vestiram e transportaram, mas foi bom não ficarmos sem um tostão depois que nosso trabalho estava concluído. Theresa e Tarin estavam decididas a gastar todos os seus créditos, já que não seriam muito úteis na Terra, mas alguns dos souvenirs que pegaram no Anel do Lazer podiam ser. Enquanto eu seguia atrás de minhas amigas entusiasmadas, que estavam ansiosas pela noite que se aproximava, meu olhar varreu a avenida mal iluminada e lotada que passava por vários estabelecimentos diferentes. Se os alienígenas mudassem repentinamente para humanos, esta via poderia ser a Las Vegas do futuro, embora eu não conseguisse ler nenhum dos sinais. Na verdade, quase parecia um sonho de um lar com uma qualidade extra-surreal. Theresa acenou para uma entrada de cassino na nossa frente que estava menos lotada do que as outras, e nós a seguimos para dentro, os severos guardas em nossos calcanhares, observando todos ao seu redor enquanto os alienígenas se afastavam de seu caminho - alienígenas que mal nos


pouparam um breve olhar com dois olhos, quatro ou seis ou mesmo espreitadelas, antes de desviar o olhar rapidamente. Era difícil me concentrar no que Theresa e Tarin estavam dizendo enquanto meu olhar vagava pelas máquinas, então vasculhei mais fundo no cassino, onde havia mesas com cubos estranhos e esferas flutuando acima delas, cercadas por alienígenas que obviamente estavam lá para fazer apostas. Não importa quão diferentes sejam os jogos ou mesmo os corpos que os jogam, parecia que algumas coisas eram universais. O fato de o jogo ser uma dessas coisas não me surpreendeu. Minha boca ficou seca quando parei na frente de uma máquina, estudando a tela holo tridimensional que pairava sobre o console. Era um jogo de combinação simples, algo que mesmo um ser humano primitivo poderia compreender facilmente. A demonstração repetia-se continuamente enquanto eu assistia e meus dedos coçaram para colocar meu cartão de crédito na máquina. — Quer uma bebida? — Uma voz suave e sensual falou em uma língua estranha que meu tradutor entendeu me tirou do meu fascínio pela máquina. Eu me virei para encarar a alienígena. Ela estava coberta de pelos, mas tinha proporções femininas humanóides - bem generosas - que estavam em exibição em um uniforme justo que mal cobria a área da virilha e deixava sua cauda longa e sinuosa livre sob a saia pequena. Ela tinha um focinho curto no rosto e orelhas grandes, mas não conseguia decidir se ela parecia mais com um gato, um urso ou um cachorro - ou nenhum dos anteriores. Seus olhos eram quase humanos, embora a cor âmbar dourada fosse incomum entre os humanos. — Suponho que você não tenha margaritas aqui? Ela olhou para a pesada bandeja de bebidas equilibrada facilmente em seu braço.


— Se você puder descrever para mim, perguntarei ao nosso barman. Ele geralmente pode replicar favoritos regionais. Essa era a parte complicada, mas o que me fez hesitar em tentar não foi o desafio de descrever minha guloseima alcoólica favorita, foi toda a atmosfera ao meu redor. Eu estava em um cassino. Depois de tudo que passei e tudo que fiz, acabei de volta em um lugar como este, com o único dinheiro que tinha no bolso, pronta para gastar tudo em uma noite de entretenimento, quando tudo o que eu realmente queria fazer era voltar para o navio e me enroscar com meu companheiro, fazer amor até que estivéssemos ambos exaustos e depois ficar acordados acariciando enquanto discutíamos nosso futuro. — O que diabos eu estou fazendo aqui? Isso era mais o que eu queria na minha vida. Os cassinos foram minha fuga da minha miséria - suas luzes coloridas e diversão, sons de carnaval e as bebidas de cortesia me permitiram evitar lidar com a realidade, mas no final, eles só aumentaram a minha miséria. Agora, eu estava feliz. Eu encontrei significado em minha vida. Tinha amigos e um companheiro que era muito mais importante para mim do que um lugar como este jamais poderia ser. A garçonete piscou para mim. — Eu sinto muito. Talvez tenha havido um erro de tradução. Balancei minha cabeça para ela. — Não, me desculpe. Estava falando sozinha. Vou dispensar a bebida, obrigada. Ela acenou com a cabeça, as orelhas inclinando-se para trás como se estivesse desapontada. — Ok, chame-me se mudar de ideia. — Então ela girou sobre as pernas bem torneadas e se afastou vagarosamente, o rabo balançando atrás dela.


Tirei-a de minha mente e procurei por Theresa e Tarin. Eles estavam perto de um vaso de planta que não parecia com nada na Terra, a menos que penas coloridas de algodão-doce crescessem em árvores em algum lugar escondido de documentários sobre a natureza. Comecei a andar até elas quando percebi que eles estavam falando intensamente, e Theresa tinha lágrimas escorrendo pelo rosto. Acelerei meus passos até alcançá-los. Coloquei a mão em seu ombro. — Ei, Terry, o que há de errado? Ela rapidamente virou a cabeça para longe de mim, limpando impacientemente suas bochechas. — Não é nada, ok. Eu não quero falar sobre isso. — Ela lançou um olhar furioso para Tarin, que balançou a cabeça, cruzando os braços sobre o peito. Também olhei para Tarin, esperando alguma explicação. Ela encolheu os ombros. — Você ouviu a senhora. A discussão está encerrada. Machucou-me que eu tinha sido deixada de fora da discussão em primeiro lugar. — Entendo. Theresa rapidamente me abraçou. — Não é nada pessoal, JoJo. Só... Dói continuar falando sobre... Ele. Eu só quero esquecer tudo sobre isso. Mal posso esperar para ir para casa. Suspeitava do que estava causando suas lágrimas, mas não queria bisbilhotar. Ela precisava tomar suas próprias decisões e, ao contrário de Tarin, eu não estava tentando bancar a casamenteira dos alienígenas com todas as minhas amigas. Muitas vezes pensei que Tarin encorajava todas ao seu redor a namorar alienígenas porque ela mesma queria um, mas era covarde demais para tentar.


— Se você tem certeza de que está tudo bem, Terry, vou respeitar isso, mas se você precisa conversar... Theresa se afastou de mim e balançou a cabeça, seu olhar procurando o cassino. — Inferno, eu não preciso falar. Eu preciso beber muito! Tarin sorriu, agarrando o braço de Theresa. — Então não vamos perder tempo com garçons. Vamos ao bar e plantar nossas bundas. — Ela acenou para mim. — Você vem, Jo? Eu mal ouvi suas palavras, porque enquanto elas estavam conversando, eu avistei um rosto familiar na multidão por apenas um breve momento antes de ele se virar. De alguma forma, Nemon nos encontrou no cassino e ele estava nos observando até que me pegou olhando para ele. Sem dúvida não queria que as garotas o vissem, já que ele era um fugitivo do navio. Eu sabia que era ele, embora usasse um capuz que sombreava a metade superior de seu rosto e uma máscara transparente que cobria a metade inferior. Eu ainda podia ver seu nariz fino e aristocrático e seus lábios bem torneados. Suas feições eram inconfundíveis. — Jo? Eu não queria que eles soubessem que Nemon estava aqui. Não que elas necessariamente o chamariam ou contariam aos acrellianos, mas ainda assim ele não deveria estar na estação. Havia a possibilidade de uma delas entregá-lo aos seguranças do Sindicato que ainda estavam nos observando de uma distância respeitosa. — Ei, vou me juntar a vocês em um momento, ok. Vou me refrescar um pouco. — Acenei vagamente na direção onde esperava que pudesse haver um banheiro. Theresa voltou-se nessa direção.


— Eu poderia me refrescar também. Tarin começou a caminhar em direção aos fundos do andar do cassino, seu olhar procurando os banheiros. — Sim, me sinto renovada, mas estou interessada em ver como é um banheiro em um cassino alienígena. Droga. Elas correram em direção ao banheiro e permiti que meus passos demorassem, caminhando cada vez mais devagar até que me deixaram para trás. Até os guardas estavam tão concentrados em acompanhar as duas mulheres que avançavam no meio da multidão que pareciam não notar que haviam perdido uma. Eu me senti culpada por enganá-las, principalmente porque esta era nossa última noite juntas, mas assim que encontrasse Nemon e lhe assegurasse que estava bem e que o encontraria de volta ao navio assim que terminássemos de sair, eu as encontraria de novo e poderíamos terminar nossa noite. Avistei Nemon novamente perto da entrada do cassino, pouco antes de dois Ultimans passarem pesadamente na frente dele, em uma discussão rosnando, seu pelo perfeitamente preparado trançado com contas de energia que forneciam um escudo impenetrável se fossem atacados. Como nossos guardas, essas eram criaturas intimidantes. Elas eram uma das espécies mais avançadas do Sindicato, embora os humanos só as conhecessem como Pé Grande, uma vez que haviam visitado nosso planeta fingindo ser pouco mais do que homens macacos fedorentos para nos estudar, enquanto os zoologistas humanos procuravam provas de suas existências. Quando eles limparam o caminho, vi que Nemon havia desaparecido e corri para onde o tinha visto pela última vez. Então avistei sua capa do lado de fora, na rua movimentada. Fiquei impressionada que ele conseguiu mover seu corpo entre os outros alienígenas sem bater em ninguém ou ter seus tentáculos pisados, mas havia outros alienígenas grandes lá fora, seus


passos sacudindo o solo enquanto passavam, então Nemon pode nem ser tão surpreendente para algumas pessoas. Além disso, com base no que eu vi dele, ele estava mantendo sua altura em cerca de um metro e oitenta ou mais, o que não chamaria a atenção da multidão, onde essa altura parecia ser pequena para alienígenas do sexo masculino. Exceto para os alienígenas do tamanho de uma criança que se esquivavam entre as pernas, ou os alienígenas realmente minúsculos que eu tive que tomar cuidado para não pisar, a maioria dos alienígenas na estação estava dentro de uma faixa de tamanho adulto humano, ou era muito maior. Passei pela multidão, seguindo Nemon enquanto ele passava por várias entradas de cassino e uma vitrine de bordel onde mulheres alienígenas o olhavam com fome. Não consegui ter uma visão clara dele porque estava muito atrás e havia tantos alienígenas na minha frente, mas seu progresso era um tanto lento e hesitante, como se fosse difícil para ele se mover rapidamente, o que não era surpreendente quando ele provavelmente tinha que manter seus tentáculos enrolados firmemente contra ele para evitar tropeçar em todo mundo, em vez de embaixo dele, o que o deixaria muito mais alto. De repente, Nemon entrou no beco ao lado da loja e corri atrás dele, desviando do último grupo de alienígenas insetóides que rastejava lentamente entre mim e o beco. Hesitei por apenas um momento antes de seguir para aquela área mal iluminada. Nemon estava lá embaixo. Ele não permitiria que ninguém me machucasse. Não que alguém parecesse estar prestando atenção em mim. Eu vi sua forma envolta por uma capa sombria, perto de alguns recipientes espalhados que cheiravam a lixo podre. Imaginei que os becos eram praticamente iguais em todos os lugares. O pobre Nemon devia estar


sofrendo, já que seus tentáculos também podiam sentir o gosto do chão sujo ao nosso redor. — Nemon! — Gritei, tão feliz por finalmente vê-lo novamente, embora me preocupasse com ele estar fora do navio e potencialmente se meter em problemas por isso. Ele congelou e, em seguida, lentamente se virou para mim, a luz do sinal de néon que se espalhou da outra saída do beco acendendo a máscara transparente que cobria seu rosto, mas ainda revelou seus traços para mim. Era Nemon. Mas não era. Engasguei e dei alguns passos para trás, meu coração batendo forte enquanto eu olhava para um estranho com o rosto do meu amante. Ele estendeu a mão - uma sem garras ou membrana. — Espere! Por favor, não vá. — Sua voz era baixa, rouca, como se ele não estivesse acostumado a usá-la. Fiz uma pausa em minha retirada, embora soubesse que deveria dar meia-volta e disparar de volta para a segurança da multidão. Ainda assim, sua voz soou suplicante, não ameaçadora. — Quem é Você? Ele ergueu as mãos para o capuz, tirando-o da cabeça para revelar o rosto do meu amado, apenas com olhos que eram definitivamente de um estranho. Esta versão tinha pele iridescente amarelo-ouro que brilhava na luz fraca. — Meu nome é Halian. Eu já fui o Professor Halian. Nemon é... Era... Importante para mim. Dei um passo cauteloso mais perto, olhando para seu rosto, notando a semelhança com o de Nemon. Era quase uma réplica perfeita, exceto pelo tom de pele e pelos olhos.


— Oh meu Deus! Você é o pai! Ele sorriu sob a máscara clara, e a curva de seus lábios me lembrou tanto de Nemon que dei mais um passo para perto dele. — Então Nemon ainda me chama assim. — Ele suspirou, sua respiração embaçando a máscara por um momento — Estou tão feliz em saber que ele está vivo. Tive medo de que ele fosse pego ou morto. — Ele pensou que você tinha sido pego ou morto. — Estreitei meus olhos, apontando para ele em acusação. — Você nunca voltou para buscá-lo como prometeu. Ele ficou preso lá naqueles prédios sem ninguém com quem conversar por anos! Halian olhou para o chão coberto de destroços do beco. — Sinto muito por isso. Sinto profundamente. Consegui escapar antes que a instalação soubesse da minha traição, mas eles me rastrearam mais tarde e me capturaram. Só recentemente escapei da minha própria prisão. — Havia uma qualidade assombrada em seu tom que reconheci. Parecia que nós, humanos, não éramos os únicos torturados pelos Iriduanos. — Isso é terrível, Halian. Eu sei o que é ser um prisioneiro dos Iriduanos. Seu olhar chicoteou até encontrar o meu. — Eu ouvi sobre isso. O seu testemunho e o de suas semelhantes foi transmitido para a estação durante a audiência. Peço desculpas pelo que você sofreu. Nós sabíamos que estava sendo transmitido, mas ainda me envergonhava perceber que minha dor havia sido exposta a toda a galáxia civilizada. No entanto, ao mesmo tempo - porque estava aberto - os Iriduanos não podiam mais negar o que haviam feito. Eles tiveram que admitir as atrocidades que cometeram.


Eu nem me importava com isso agora, no entanto. Havia algo mais importante a considerar. Poderia dar a Nemon o presente perfeito. Eu poderia devolver seu pai para ele. — Nemon adoraria ver você de novo! — Dei mais um passo para mais perto de Halian, até ficar a apenas alguns passos de distância dele. Ele parecia muito menor do que Nemon agora que eu estava perto, embora seu corpo estivesse escondido sob a capa volumosa com capuz. Percebi que ele provavelmente era muito esguio em comparação com o corpo lindamente musculoso de Nemon. Halian balançou a cabeça, seus lábios se curvando no canto em um meio sorriso arrependido. — Eu não poderia me aproximar de Nemon perto de um navio Akrelliano mais do que poderia chegar perto de meu próprio povo agora, embora eu adorasse vê-lo novamente. Você não tem ideia do quanto eu esperava por uma reunião, mas Nemon está fora do meu alcance. — Ele suspirou outra vez em sua máscara e percebi de repente porque ele a estava usando. Ele era um Iriduano não acasalado, correndo o risco de sofrer uma imprinting se detectasse a assinatura de feromônio certa que desencadearia o que quer causasse a impressão. Nemon havia dito que seu pai temia tal destino. Não era de se admirar que ele usasse uma máscara de filtragem para evitá-lo. Dada a extrema semelhança entre Nemon e Halian - pelo menos em suas características faciais - eu me perguntei se ele corria o risco de sofrer um imprint em mim, ou vice-versa. Não me senti particularmente atraída por ele. Certamente não como eu estava certa no começo em relação a Nemon, mas Claire mencionou que Ilyan tinha uma impressão nela no momento em


que a cheirou e ele forneceu seu DNA para criar Thrax, então era possível que funcionasse da mesma forma com Halian. Agora gostaria de ter uma máscara útil como Halian tinha, mas era tarde demais para isso. Se eu tivesse tido um imprinting com ele, pensei que sentiria algo, mas imaginei que teria que esperar para ver o que aconteceria quando nos separássemos. Rezei para que ficasse bem e esperava que o fato de não sentir nada se aproximando da minha fascinação por Nemon quando olhei para Halian fosse um bom sinal. Eu precisava me concentrar na conversa, pois tinha certeza de que Nemon gostaria de saber cada palavra que seu ‘‘pai’’ tivesse a dizer. — Percebi que os Iriduanos e os Akrellianos são inimigos principalmente agora - mas talvez haja alguma maneira de convencer o comandante a deixá-lo pelo menos falar com Nemon. Afinal, você foi contra seu povo para fazer o que era certo ao libertar Nemon. Isso tem que contar para alguma coisa. Seu sorriso era o mais triste que já vi. — Eu traí meu povo. Acredite em mim, isso conta, mas não de uma forma que ganhe qualquer confiança ou respeito de nosso inimigo. Praticamente podia sentir sua dor, seu tom era tão angustiado. — Você fez o que era certo. Você interrompeu aqueles experimentos horríveis em Nemon e o libertou. Ele se lembra disso e não o culpa pela dor que você causou a ele. Ele me estudou com olhos quase tão dourados quanto sua pele iridescente. — Nemon te contou tudo isso? Você deve ser muito especial para ele. Não pude evitar que o sorriso sentimental aparecesse no meu rosto. — Ele é meu companheiro. Ele teve uma imprinting em mim.


Seus olhos se arregalaram e então se estreitaram novamente quando suas sobrancelhas franziram. — Imprintng? Nemon? Isso não é... Explique o que você quer dizer, por favor? — Percebi que ele não ficou feliz com a notícia e então quis bater na minha testa por deixar escapar como um anúncio feliz para alguém que claramente viu o imprinting como uma aflição a ser evitada. — Percebi que seu povo não está feliz com imprinting, mas Nemon está. Eu juro. E sou tão devotada a ele quanto ele a mim. — Mordi meu lábio, hesitando enquanto me perguntava se deveria revelar tudo a esse estranho, mas então decidiu contar-lhe a verdade. Estava claro que ele ainda se importava com a felicidade de Nemon, e ele havia se sacrificado muito para libertar Nemon. Eu queria que ele soubesse que Nemon não tinha sido escravizado por uma mulher indiferente. — Os Iriduanos fizeram algo comigo para que eu também tive um imprinting em Nemon. Mais uma vez, seus olhos se arregalaram e permaneceram assim enquanto ele me encarava. Seus lábios se separaram, embora nenhuma palavra tenha saído. — Eu cuidarei de Nemon e amá-lo mais do que qualquer outra pessoa poderia. Você tem minha palavra nisso. Halian se sacudiu visivelmente, sua capa se mexendo para revelar suas roupas esfarrapadas por baixo, muito longe das vestes elegantes que eu tinha visto nos poucos homens Iriduanos que passaram por nós na multidão. Na verdade, não vi nenhum sinal das asas de Halian também. — O que você me disse, não é possível. Não há como transferir a aflição para uma mulher. Nós tentamos! Pelas coroas sagradas dos imperadores, tentamos por gerações, sem sucesso! Comecei a ter uma sensação de dúvida em sua certeza absoluta. Eu tinha tanta certeza. Até mesmo Lariasa estava convencida de que minha


reação exagerada ao tentar terminar as coisas com Nemon foi por causa de um possível imprinting, mas certamente um homem de Iriduan saberia mais sobre essas coisas. — Tenho sentimentos por ele e sinto isso desde que o conheci. Foi isso que me fez pensar... Seus olhos eram simpáticos. — Se meu povo fosse capaz de isolar o gene que causa o imprinting, já o teríamos feito há muito tempo. Sua devoção a Nemon soa como outra coisa. Talvez seja algo particular de sua espécie. — Seu tom parecia duvidoso. — Então o que esse DNA de Iriduan está fazendo dentro de mim? Ele encolheu os ombros e, em seguida, estremeceu com o movimento, como se doesse. — Não posso dizer com certeza, mas ouvi seu testemunho ao Sindicato. Parecia que eles estavam testando sua resposta imunológica contra uma variedade de agentes biológicos. É possível que tenham unido o código do Iriduan específico do sistema imunológico ao seu DNA para usá-lo como cobaia antes de injetar os indivíduos do Iriduan. Eles também teriam usado seu sangue para criar antídotos. — Isso é monstruoso! — Estremeci, esfregando meus braços. Seu sorriso triste voltou. — Você está surpresa com isso? Meu povo pode ser cruel em busca de um bem maior. A humanidade está remotamente relacionada à minha espécie. Compartilhamos uma ancestralidade comum. Antes, seu mundo era uma colônia Iriduana, muito tempo atrás, antes de adicionarmos muitas das alterações ao nosso código genético, e antes que seu povo começasse a se reproduzir com os macacos sencientes primitivos em seu mundo. — Ele


suspirou — Não é surpreendente que meu pessoal veja os humanos como cobaias úteis para os primeiros testes. — Espere. — Levantei a mão, tentando processar tudo o que ele estava me dizendo. Ao contrário de Claire, eu nunca tive uma conversa com nossos captores, mas ela nos contou o que eles disseram a ela e Halian estava contando uma história muito semelhante. Ainda assim, era tão difícil acreditar que já havíamos compartilhado ancestrais com esses alienígenas — Então, você acha que eles me usaram como um animal de teste para seus experimentos com o sistema imunológico? Ele assentiu. — Como eu disse, não posso ter certeza, mas implantar o código modificado em seu DNA para impulsionar seu próprio sistema imunológico permitiria que eles estudassem sua resposta às modificações e quão eficazes elas eram antes de usá-las para nosso próprio povo. Parece que foi um sucesso, com base na sua sobrevivência aos experimentos. — Por que você chamaria isso de 'bem maior'? Não há nada de bom no que eles fizeram comigo. Não há justificativa para isso. Ele desviou o olhar de mim, estudando as latas de lixo próximas como se houvesse segredos escondidos dentro do lixo. — É fácil fazer esse julgamento quando o seu mundo está escondido, esquecido ou desconhecido por aquelas espécies que podem colocá-lo em perigo. Meu povo não é tão afortunado. — Você libertou Nemon, então claramente até você entende que existem algumas linhas que simplesmente não se cruza. Não importa o quê. Seus olhos encontraram os meus novamente. — Isso é verdade. Existem limites que nunca devemos cruzar. Eu gostaria de poder ver Nemon novamente. Ele era como um filho para mim. — Ele sorriu, e desta vez não era uma expressão triste. — Ele ficou


incrivelmente curioso quando acordou no meu laboratório. A princípio, não percebi a extensão de sua inteligência e tinha planos de aumentá-la para a de um animal treinado, nunca imaginando que já ultrapassasse a da maioria das espécies sencientes na galáxia conhecida. Não fiquei tão surpresa ao ouvir isso. A compreensão de Nemon sobre a nave Akrelliana havia crescido aos trancos e barrancos apenas por ele explorá-la. Quando sua curiosidade tinha um propósito, ele aprendia muito rapidamente e imaginei que isso deve ter sido alarmante para os cientistas que estavam fazendo experiências com ele. — Acho que ele é um gênio, mas, novamente, posso ser acusado de ser tendenciosa. Halian riu. — Você não seria a única, embora eu não acredite que seja precipitado, tanto quanto nossa observação diz isso sobre ele. Ainda assim, ele tinha uma qualidade infantil que me encantou, apesar de sua inteligência. Sempre estava ansioso para aprender e para agradar. Ele não feriu ninguém por malícia ou hostilidade e sempre lamentou os acidentes. Havia uma inocência nele que eu não teria esperado de um predador do seu tipo quando o capturamos em seu mundo natal. Eu só poderia concordar com sua avaliação do caráter de Nemon, embora não houvesse nada de infantil em sua exploração e desejo de me agradar. — Ele é doce, amoroso, gentil... Ele é perfeito. Halian ficou em silêncio por um longo momento, antes de assentir, seu sorriso triste retornando. Eu não sabia como alguém poderia fazer uma expressão que deveria ser feliz parecer tão tensa e miserável, mas ele conseguiu.


— Ele é tudo o que você diz, embora seja surpreendente ouvir tal emoção para um homem vindo de uma mulher. Não posso ver Nemon pessoalmente, mas gostaria de lhe pedir um favor. Pisquei, tentando acompanhar a conversa, já que parei de ouvir suas palavras depois que ele fez o comentário sobre mulheres que tinha roubado minha curiosidade. — Elas são realmente tão ruins, suas mulheres? Nenhum deles retribui sua devoção? Ele ergueu uma mão que se fechou em um punho na frente dele. — O que você pensa, humana? Nossas mulheres evoluíram para tirar vantagem de nossa doença sempre que podem. Elas não sentem por nós o que nós sentimos por elas. É raro uma delas retribuir nossa devoção servil. Eu quase tive pena dos Iriduanos, apesar de ainda os odiar pelo que fizeram comigo - embora, se Halian estivesse certo, meu amor por Nemon era tudo escolha minha e não tinha nada a ver com a genética Iriduan. Isso explicaria por que não encontrei nada que me atraísse sobre o ‘‘pai’’ de Nemon, apesar de sua semelhança genética. Embora eu estivesse aliviada por não ter investido pessoalmente em Halian, eu amava Nemon e sabia que ele gostaria de ouvir qualquer notícia desse homem que ele amava e respeitava. — O que devo dizer a Nemon sobre você? Ele enfiou a mão em sua capa. — Eu gostaria de dar um presente a ele. Sem dúvida ele perdeu o último que dei a ele, e foi uma coisa pequena. Tenho algo muito mais precioso que ele vai querer. Aproximei-me quando ele tirou a mão de sua capa, seus dedos delgados enrolados em torno de um dispositivo quadrado com uma extensão tubular


em uma extremidade. Havia botões na superfície, e alguns deles brilhavam como se ele os tivesse pressionado. — Isso é algo como o projetor holográfico de que ele me falou? Aparentemente, ele acidentalmente o quebrou, mas tinha imagens de uma estação espacial, e ele sempre quis outra... Minhas palavras foram interrompidas em um grito de surpresa quando ele pressionou o tubo na minha mão quando peguei o objeto. Senti a agulha dentro do tubo perfurar minha pele e, em seguida, a queimação rápida de um fluido bombeado para minha corrente sanguínea. Minha boca se abriu e meu coração batendo rapidamente fez com que a droga acelerasse pelo meu sistema. Minha mão ficou dormente primeiro, mas só fui capaz de recuar alguns passos antes de minhas pernas cederem. Halian me pegou em seu abraço quando eu desabei, e percebi que ele estremeceu quando seus braços me envolveram para evitar que eu caísse no chão. — Por quê? — Sussurrei com os lábios entorpecidos. Ele me deu seu sorriso triste. — Às vezes devemos fazer coisas de que não gostamos, para um bem maior.


Capítulo 25 NEMON Escapar do navio foi ainda mais fácil do que eu esperava. Embora o comandante geralmente tivesse segurança rígida, a atenção da tripulação estava atualmente focada nas caixas que estavam carregando no porão para a jornada para Hierabodos V. Eles estavam verificando cada uma em busca de ameaças potenciais para o navio e a tripulação e fui capaz passar por eles, misturando-me ao fundo. Estendi meus tentáculos camuflados para fazer pequenos sons atrás de alguns dos guardas para que eles desviassem o olhar quando eu passasse. Uma vez no porto, tive que desviar de uma grande multidão e as coisas ficaram cada vez mais difíceis, embora isso não diminuísse minha determinação de encontrar Joanie e ficar de olho nela para protegê-la. Estremeci quando alienígenas tropeçaram em meus tentáculos, olhando para trás por cima de seus ombros para descobrir no que eles pisaram enquanto eu puxava os apêndices camuflados de volta para meu corpo. Era difícil permanecer pequeno o suficiente para me misturar à multidão enquanto, ao mesmo tempo, evitava que meu corpo se espalhasse no movimentado porto. Não fui totalmente bem-sucedido no esforço e logo tive mais de um alienígena procurando ao redor deles para descobrir no que trombaram. Eu sabia que meu plano havia atingido um obstáculo intransponível quando vi os scanners de segurança na saída do porto. De jeito nenhum eu seria capaz de passar por eles sem ser detectado, a menos que os desabilitasse primeiro e tivesse que descobrir como fazer isso. Segui um guarda de segurança Tapiran por algumas horas frustrantes antes de ele me levar a uma sala de segurança trancada, colocando o olho


contra o scanner. A porta destrancaRa para ele enquanto eu observava de uma distância discreta. Quando ele saiu da sala novamente - a porta se fechou assim que ele passou pela porta - eu estava esperando por ele. Ele caminhou direto para a parte do meu corpo que estava à sua frente, que escondi para parecer a de um guerreiro ultiman - uma espécie que eu escolhi porque sua altura e largura me permitiam usar mais da minha massa para o mimetismo. Ele olhou para mim, seu longo focinho se contraindo quando ele viu meu pêlo trançado com contas - um olhar difícil de tirar que levou todo o tempo que ele esteve dentro da sala de segurança para ser concluído. — Você não deveria estar nesta parte do porto. — Eu me perdi. — disse, imitando a linguagem grunhida característica do Ultiman. Ele bufou, todas as quatro narinas dilatadas. — Bem, você precisa se perder desta área, imediatamente. balancei a cabeça e me afastei. — Muito bem, vou embora. Você pode apontar o caminho de volta para a saída do porto principal? Ele apontou para o corredor que conduzia aos scanners de segurança. — Ali. Mexa-se. Então, antes que eu fosse forçado a adotar o andar lento e de pernas longas dos Ultimans que eu vinha praticando, ele próprio caminhou naquela direção, deixando-me para trás. Balancei minha cabeça recém-formada enquanto o observava virar a esquina. Parecia que a segurança era tão boa quanto o guarda de segurança mais preguiçoso deste porto. Dei uma boa olhada em seus olhos e fui capaz de imitá-los para o scanner, o que fez com que a porta se abrisse em uma sala cheia de


monitores de segurança. Eu me puxei para dentro, mal conseguindo passar todos os meus tentáculos pela porta antes que ela se fechasse. A sala não era grande, mas não era muito pequena para conter minha massa, embora fosse um ajuste apertado. Joguei meus tentáculos nos monitores holográficos, procurando algum sinal de como passar pelos scanners. Tinha acabado de encontrar uma solução potencial em um interruptor de acionamento manual mencionado no manual do operador em um dos monitores quando um alarme disparou e a porta se abriu, revelando um punhado de guardas armados apontando suas armas para mim.


Capítulo 26 JOANIE Acordei e descobri que estava sentada em uma cadeira, afivelada com segurança em um cinto de cinco pontos de frente para uma vitrine que mostrava a visão rapidamente desaparecendo da Estação Espacial de Ubaid. — Espero que não seja uma janela. — Não é, mas é a transmissão de vídeo das câmeras externas. — A voz veio do Iriduan sentado em outra cadeira ao meu lado, seus olhos fixos em um console onde seus dedos voaram sobre os controles holográficos. — Droga, Halian! Que diabos está fazendo? Achei que você se importasse com Nemon! Ele se virou para mim, seus lábios curvados para trás de seus dentes brancos e regulares por trás de sua máscara clara. — Eu me importei. Amava Nemon como um filho. Eu o amava tanto que traí meu povo e destruí meu trabalho para libertá-lo. Balancei minha cabeça, segurando os braços da minha cadeira com as mãos suadas. — Então por que você faria isso com ele? Ele teve um imprinting em mim. Me perder irá destruí-lo. Ele riu amargamente. — Você é uma tola, mas não deveria estar surpreso. Sua espécie sempre foi um tanto densa. — Ele voltou para seu console. — O amor é uma fraqueza que devemos procurar erradicar de nossas vidas. Percebi isso depois de muitos anos de prisão. Não ganhei nada com meu amor por Nemon, exceto dor e sofrimento. E mais, coloquei meu povo, minha civilização inteira, em risco por esse amor. — Seus dedos cerraram-se sobre os controles. — Passei toda a minha vida evitando o perigo de


imprinting, apenas para acabar amando meu experimento de uma maneira totalmente diferente, mas acabou sendo uma escravidão e me custou ainda mais do que minha liberdade. Custou-me tudo! Mesmo estando com raiva de Halian e assustada com o que ele planejava fazer, senti pena da dor em sua voz. — Sinto muito que você sofreu e eu sei que Nemon também sofreria, mas ele nunca vai te perdoar se você me machucar. Ele riu de novo, e desta vez eu ouvi uma pitada de loucura nisso. — Você nem sabe, não é? Você ainda acha que ele teve um imprinting com você. — Seu olhar era frio quando me percorreu. — Nemon nunca revelou sua verdadeira forma para você, não é? Percebi isso pela maneira como você olha para o meu rosto. — Ele apontou para sua máscara. — O que ele mostrou a você é apenas mimetismo. Nemon adorava me agradar assumindo minha forma. Encarei seu rosto, muito parecido com o do meu amado companheiro. — O que você está dizendo? Ele compartilha o seu DNA, ele... — Não, humana. Não há DNA de Iriduan em Nemon. Ele não é como Thrax, nem meu experimento foi igual ao que criou Thrax. Eu não estava unindo nenhum DNA em Nemon. Minha experiência era em nanotecnologia. Escolhemos o nemonius octoria especificamente porque eles já demonstraram a capacidade de imitar seus arredores em uma extensão notável, até mesmo crescendo extensões em seu corpo para simular algas marinhas. Normalmente, eles permanecem nas profundezas dos oceanos de seu mundo natal e são difíceis de detectar apesar de seu tamanho, especificamente porque sua camuflagem é tão completa, mas Nemon estava curioso sobre nós e atacou nossos barcos em busca de comida. Quando o capturamos, percebemos que tínhamos o espécime perfeito para meu projeto em nanotecnologia sinérgica.


Balancei minha cabeça, não querendo processar o que ele estava me dizendo. — Você está dizendo que Nemon não tem nenhum DNA de Iriduan? Que seu rosto e seu corpo são apenas... Ele riu da minha expressão devastada. — Entende! É por isso que o amor é uma fraqueza. Seu companheiro é um monstro e agora você deve perceber o que perdeu. Nunca mudamos o que ele era. Nós apenas aprimoramos suas habilidades. Na verdade, nós o tornamos ainda mais perigoso. Os nanites dentro dele permitem que ele escaneie os arredores e os imite com exatidão, bem o suficiente para enganar até mesmo scanners biométricos. Ele pode assumir as características de qualquer pessoa, a qualquer momento. Mas, no final das contas, ele é a mesma criatura que era quando o tiramos do oceano. Sentei-me em silêncio após sua revelação, atordoada e horrorizada com o que ele me disse. Eu acreditava que o rosto que Nemon tinha me mostrado era o dele. Nunca imaginei que fosse apenas uma farsa, parte de sua camuflagem. Aqueles lábios que me beijaram eram apenas cópias do Iriduan que agora se sentava ao meu lado, pilotando este ônibus para longe de qualquer sinal de segurança ou resgate que pudesse me salvar deste pesadelo. Só que eu não tinha certeza de qual era o pior pesadelo - que eu tinha sido sequestrada por um alienígena mais uma vez, ou que Nemon não era o homem que eu acreditava que ele era. Ele era um monstro das profundezas, uma criatura que mentiu para mim, fingiu ser algo que não era e fez amor comigo com um corpo que era falso. Finalmente, encontrei a voz para falar. — O que você está planejando fazer comigo? Ele olhou para mim antes de voltar sua atenção para seus controles. — Você acasalou com Nemon?


Estremeci, lembrando-me de como aqueles momentos foram lindos e de como me senti traída e enojada ao imaginar como ele realmente deveria ser - o monstro que assumiu o rosto de um homem bonito para me seduzir. — Isso não é da sua conta! Eu o vi sorrir maliciosamente por baixo da máscara. — Deve ser. Os nanites dele tentarão ligar a semente dele aos seus ovos e projetar a prole. Foi por isso que pretendíamos procriar Nemon assim que nossos experimentos estivessem completos e a tecnologia tivesse evoluído ao nível em que seria seletiva para as características que desejávamos manter. O próprio Nemon não é um híbrido, mas pretendíamos totalmente que ele gerasse muitos soldados furtivos híbridos para nossos militares que possuíssem as mesmas habilidades de mimetismo. Cobri meu estômago com a mão, lutando contra a restrição do cinto, percebendo que era tanto uma armadilha quanto um dispositivo de segurança. — Você está dizendo que eu poderia realmente engravidar? — Tantas emoções fluíram por mim naquele momento que foi difícil processar todas elas. A mais forte foi o desejo repentino e intenso de proteger qualquer vida possível crescendo dentro de mim. Não importa quem - ou o quê - o pai do meu bebê fosse, ainda era meu bebê. Mas havia ainda mais do que isso. Apesar do que agora eu sabia sobre Nemon - se Halian pudesse ser confiável - eu ainda o amava. Estava com raiva dele por mentir para mim e por esconder a verdade sobre o que ele era, mas não conseguia acreditar que tudo o que ele havia me mostrado sobre si mesmo tinha sido uma mentira. Sua ternura comigo, sua compaixão por mim e seu abraço carinhoso enquanto eu derramava meu passado para ele. Ele ouviu, esteve lá e me amou. Nada daquilo era mentira.


Então, meu alienígena era ainda mais monstruoso do que eu pensava originalmente. No final das contas, isso não importava para mim, embora levasse algum tempo para perdoá-lo por sua enganação e talvez ainda mais tempo para me acostumar com sua verdadeira forma, que eu me esforcei para sequer imaginar. O que quer que aconteça no futuro entre mim e Nemon, qualquer criança que produzíssemos seria amada. Isso eu garantiria, não importa o quão estranho meu bebê fosse - se meu corpo pudesse produzir um bebê viável de nossa união. Não fui capaz de produzir um com um companheiro humano. — Quando você disse que esses nanites são seletivos, o que quis dizer? — Então, você cruzou com ele. Isso significa que seu tentáculo de acasalamento deve ter regenerado. Tive algumas preocupações sobre isso. Ele foi removido por engano junto com os outros para estudar os receptores que formam suas ventosas e, ao contrário dos outros, não voltou a crescer. Os nanites deveriam apenas ter acelerado a regeneração, mas acredito que Nemon de alguma forma descobriu que queríamos que ele acasalasse e estava inibindo a regeneração - talvez até mesmo inconscientemente. Acariciei minha mão sobre meu abdômen. Quantas vezes eu havia feito a mesma coisa, sonhando com uma criança crescendo dentro de mim, com criar uma nova vida com quem eu amava? — Ele provavelmente sabia que você o forçaria a acasalar. Halian soltou um suspiro que embaçou sua máscara. — Provavelmente sim. Ele era perceptivo. Perigosamente. Você deve entender que não há muito nesta galáxia que pode ameaçá-lo, especialmente quando ele ganha acesso a tecnologia avançada por tempo suficiente para realmente aprender como usá-la. —Ele não machucaria ninguém, a menos que fosse necessário.


— Você é tão ingênua. Nemon ainda é um predador. Você nunca deve esquecer isso. Balancei minha cabeça, impaciente com seus avisos. Eu nunca estive em perigo com Nemon e nem havia alguém que representasse uma ameaça para ele ou para alguém que ele amava. Se eles representassem uma ameaça, então teriam o que mereciam por serem idiotas. — Você nunca respondeu minha pergunta. Ele passou por alguns símbolos no console e olhei para o feed de vídeo do exterior do ônibus. A estação de Ubaid havia sumido há muito tempo e a imagem que vi era apenas um vazio negro. Sem linhas de dobra legais ou qualquer coisa enquanto nos movíamos pelo espaço. — Por seletivos, quero dizer que os nanites irão controlar a expressão do gene para os resultados mais ideais de acordo com nossa programação. — Disse ele. — E... Se houver anormalidades genéticas no óvulo? Ele ergueu os olhos do console. — Então os nanites irão rejeitá-lo. Os

espermatozóides

inteligentes

de

Nemom

conseguiam

determinar se o óvulo era viável ou não sem fertilizá-lo primeiro, o que significava que provavelmente eu não sofreria mais abortos espontâneos, pelo menos. Não sabia quantos dos meus ovos eram viáveis. Não havia como dizer isso, a menos que esses óvulos fossem colhidos e testados, mas os médicos de fertilidade me disseram que óvulos viáveis eram tão prováveis quanto os inviáveis. Era apenas uma questão de sofrer tantos abortos espontâneos até que um dos óvulos geneticamente saudáveis fosse fertilizado. Nem Michael nem eu fomos capazes de suportar isso, embora por razões diferentes. Ele estava impaciente para começar uma família e eu estava com o coração partido por cada perda individual.


— Você tentará roubar meu bebê, não é? Ele bufou. — Não tenho nenhum interesse em qualquer prole que você produziria. Só estou interessado em recuperar alguns nanites de seu corpo. Quando libertei Nemon, destruí minha pesquisa, acreditando que o que havíamos criado era um erro. Eu não queria que eles capturassem outro nemonius e começassem o projeto novamente. Estava errado em fazer isso. Eu nunca deveria ter libertado Nemon e definitivamente não deveria ter destruído todo o meu trabalho, incluindo as análises de dados. Estava reagindo emocionalmente, mais preocupado em proteger um monstro do que em proteger meu próprio povo. — Seu desgosto era evidente em seu tom. — Ainda acredito que você fez a coisa certa. Ele se virou para mim, seu rosto contorcido de raiva. — Não me importo com o que você pensa, humana! Passei mais de seis anos Ubaid padrão apodrecendo em uma cela, torturado diariamente porque não conseguia reproduzir meu próprio trabalho. Eles cortaram minhas asas, quebraram todos os meus ossos, arrancaram partes da minha carne e garantiram que meus membros não sarassem corretamente, de modo que meu mancar permanente me impedisse de escapar. Tudo porque eu os traí por Nemon. — Cuspe salpicou o interior de sua máscara enquanto sua voz se elevou em um grito enquanto eu recuava em meu assento. — Sacrifiquei tudo por ele! O amor nada mais é do que um fardo! A dor em suas palavras quebrou meu coração mesmo quando reconheci o ódio em seus olhos. Ele desistiu de sua vida por Nemon, que era como um filho para ele e agora ele se arrependia de seu sacrifício. Quantas vezes me perguntei se minha mãe se arrependeu de seus sacrifícios para me manter, em vez de se livrar do problema? No entanto, nunca a tinha ouvido reclamar de arrependimento. Fui eu quem me castigou


por ser um fardo para ela, por lhe roubar a vida que ela poderia ter tido. Eu me perguntei se Nemon sentia a mesma culpa, sabendo o que seu pai tinha feito para salvá-lo. Senti que ele gostaria de salvar seu pai em troca, mas não sabia se isso era mesmo possível neste momento. Havia loucura nos olhos desse homem junto com sua raiva. — Nemon te amava também. Ele acreditava na bondade em você, mesmo quando outras pessoas questionavam por que ele ainda o chamava de Pai depois do que você fez a ele. Ele tinha fé em você. — Respirei fundo. — Sei que ele iria querer te ajudar. Para te proteger. Halian zombou. — É muito tarde para isso. Você ainda não colocou isso na sua cabeça? Eu não escapei daquela prisão Iriduan. Fui enviado para atrair Nemon dos Akrellians para recuperar os nanites e matá-lo. Em vez disso, você entrou direto no meu caminho, carregando muitos deles dentro de você para começar meu projeto novamente. Um navio de guerra Iriduan estará nos interceptando nas próximas quatro horas padrão. Você também pode sentar e aceitar seu destino. Não havia nada que me apavorasse mais do que cair de volta nas garras dos alienígenas que me torturaram por meses. Bem, nada além do pensamento de que Nemon de alguma forma iria acabar de volta em suas garras. Porque não acreditei por um minuto que ele não viria atrás de mim e temia que desta vez não haveria ninguém para ajudá-lo a escapar.


Capítulo 27 NEMON Houve algum caos e confusão durante minha prisão e contenção em uma cela na prisão da Autoridade Portuária de Ubaid, mas tive muito cuidado para não me mover de qualquer forma que os inspirasse a me atacar, o que teria me forçado a defender-me. Nunca tive a intenção de prejudicar ninguém com minha fuga. Só queria proteger Joanie dos perigos que ela poderia encontrar na estação. Em vez disso, fiquei preso até que o primeiro comandante Tirel e os outros terminassem sua audiência com o Sindicato e voltassem para a doca de Akrellian, onde ele seria informado de que eu havia deixado seus cuidados e cometido o que era aparentemente um conjunto bastante sério de crimes. Vários oficiais de segurança estavam do lado de fora da minha cela, olhando para mim enquanto eu mudava de volta para a forma que se tornou a mais confortável para mim - a pele do meu corpo derretendo de volta em pele lisa enquanto eu mais uma vez assumia o rosto do meu pai. Deixei a camuflagem dos meus tentáculos mudar para um tom mais colorido para que ficassem visíveis, enrolando-os contra o meu corpo para mostrar que eu não queria fazer mal. Honestamente, foi difícil esperar na cela em vez de apenas abrir a fechadura nas barras para escapar, mas queria mostrar boa fé. Eu tinha me permitido ser preso e esperaria até que os Akrellianos pudessem pagar a fiança. Não esperava que Tirel ficasse feliz em me ver, dado onde eu estava, mas nunca esperei que sua expressão fosse tão severa quando ele marchou


para a prisão muitas horas depois. Thrax estava em seus calcanhares, assim como um oficial de segurança, que estava discutindo com eles sobre me libertar sem a papelada adequada. Tirel cortou o ar à sua frente com a mão, silenciando o oficial de segurança. Suas penas estremeceram com sua agitação e me perguntei se o oficial não o via como uma ameaça maior do que eu naquele momento. — Não temos tempo para a burocracia. Leve suas reclamações ao Dançarino. Pagamos mais do que nossa cota justa de taxas ao Sindicato. Eles podem se dar ao luxo de olhar para o outro lado desta vez. O oficial, um Olomesh de quatro olhos que era quase tão alto quanto Thrax, ainda parecia intimidado pelos dois guerreiros, mas não foi rápido para recuar. — Seu tripulante violou nossa segurança. — Ele apontou em minha direção. — Ele é uma ameaça a esta estação. Tirel estreitou os olhos, seu brasão de penas erguido e estendido sobre a cabeça. — Mais uma razão para você acelerar sua remoção daqui. Vamos leválo diretamente para o nosso navio e partir em uma hora. Fiquei quieto, não querendo influenciar a decisão do oficial apresentando qualquer tipo de resistência. Thrax encontrou meus olhos, estreitando os seus em irritação. Eu não tinha certeza se ele estava irritado comigo ou com o oficial. Provavelmente ambos. Interiormente, dei de ombros. Sabia que tentar seguir Joanie era arriscado, mas ela era minha companheira. Thrax deveria entender isso melhor do que ninguém. Finalmente, o confronto tenso entre o primeiro comandante e o oficial terminou com a autoridade portuária decidindo se livrar do problema o mais rápido possível, sem dúvida para evitar o preenchimento da papelada que revelava como a segurança havia sido negligente. Eles só me pegaram


porque eu, sem saber, disparei um sensor de alarme embaixo da mesa com um tentáculo perdido enquanto investigava os monitores. Só depois de ser escoltado por um contingente completo de seguranças de volta ao navio Akrelliano - onde eles garantiram que eu embarcasse e me avisassem para não retornar - descobri o motivo da urgência de Tirel. Não foi para me poupar do trabalho de resfriar meus tentáculos em uma cela de prisão e, na verdade, o sermão que eu esperava nunca veio. Em vez disso, ele transmitiu palavras muito mais devastadoras enquanto me enfrentava no porão. — A senhorita Joanie desapareceu. Ela se afastou das outras fêmeas humanas enquanto elas aproveitavam a vista no Leisure Ring. Infelizmente, uma varredura da área pela segurança do sindicato não foi capaz de descobri-la, embora o feed de vídeo a mostre saindo do cassino como se estivesse seguindo alguém. Meus tentáculos serpentearam em torno dele, levantando-o do chão para puxá-lo em minha direção enquanto meus lábios se retraíam em um rosnado, mostrando todos os meus dentes. — Como você pôde deixar isso acontecer com minha companheira? Você deveria protegê-la! Senti várias picadas em um de meus tentáculos quando a crista de Tirel se estendeu em resposta à minha raiva e medo por Joanie. — Nós temos um rastreador em seu tradutor. Fomos capazes de rastrear seu progresso até as docas privadas, baía 26. Já pegamos o rastro do pequeno transporte pessoal que partiu de aquela baía. Podemos trazê-la de volta, Nemon. — Seu tom era apologético, como se ele estivesse quase tão chateado quanto eu com seu fracasso. Baixei-o de volta ao chão para não deixá-lo cair quando o veneno de Thrax finalmente começasse a fazer efeito, sedando-me antes que eu


fizesse algo de que me arrependeria mais tarde, como matar o primeiro comandante em seu próprio navio. Afundei no chão enquanto meus tentáculos desabaram debaixo de mim. Thrax se agachou na minha frente enquanto minha visão ficava turva. — Você dormirá o suficiente para que possamos preparar o navio e deixar a estação. Depois que você acordar, discutiremos um plano para resgatar sua companheira. Sugiro que evite ameaçar outros. Você ainda está com problemas por tentar invadir a segurança do porto. Eu balancei a cabeça quando a letargia tomou conta de todos os meus membros, sabendo que lutar para ficar consciente era uma batalha perdida. Thrax sabia que não devia julgar mal a dose. Foi melhor assim. Esperar que o navio se prepare para a decolagem seria insuportável para mim, pois minha mente se encheu de imagens do que poderia ter acontecido com Joanie e do que aconteceria com ela se não chegássemos a tempo.


Capítulo 28 JOANIE Tentei argumentar com Halian, acreditando que ainda poderia haver algo de bom dentro da concha quebrada de um Iriduan que poderia ser alcançado se eu pudesse encontrar as palavras certas. Nemon tinha fé nele. Ele confiava em Halian e como Halian havia dito, Nemon era perceptivo. — Ainda há uma chance de parar isso. Seus dedos se contraíram acima do console. — Não. Nunca haverá uma fuga. Para qualquer um de nós. Tentei me inclinar para ele, mas meu cinto me manteve travada no lugar. — Eles vão me torturar de novo, Halian. — Não consegui esconder o medo em minha voz. — Podem até torturá-lo novamente. — Não! — Ele esfregou a testa com a mão trêmula. — Eles precisam de mim agora. Sou o único que pode continuar a pesquisa sobre os nanites. Eu o encarei, desejando que ele ouvisse. — Você realmente acha que eles não conseguiriam encontrar outro cientista para fazer a engenharia reversa do seu trabalho, uma vez que o tivessem de novo? Ele lançou um olhar furioso em minha direção. — Eu sei o que você está tentando fazer. Você está perdendo seu fôlego. Vou devolvê-la ao império. Irei recuperar meu lugar como um cientista respeitado e honrado, e vou recuperar o favor da imperatriz. Minhas sobrancelhas se ergueram. — A imperatriz, hein? Achei que seu império fosse governado por dois imperadores. — Os imperadores oprimo e secundo são os governantes do Império Iriduan, mas a imperatriz — disse o título com amargura — tem todo o


controle sobre o imperador oprimo, ou você ainda não aprendeu nada sobre nossa espécie? — Então, ele teve uma impressão com ela. Se Halian fosse um humano, o olhar que ele me deu poderia ter sido acompanhado por um alto ‘‘duh’’. — A imperatriz dita toda a política do oprimo, embora ela não possa governar abertamente. Esse é, de fato, o propósito do imperador secundo ser celibatário. Ele deve ser um equilíbrio contra o desejo do oprimo de agradar sua companheira. Ainda assim, nosso secundo atual é fraco e a imperatriz tem mais poder e liberdade do que deveria. — Sua expressão de nojo não me deixou dúvidas sobre o que ele pensava disso. — Eu tenho essa chance de ganhar seu favor e tomar meu lugar entre meu povo novamente. Nada do que você disser mudará minha opinião sobre isso. Lutei contra minhas restrições, tentando trabalhar meus braços livres para que eu pudesse estender a mão e dar um tapa nele. Infelizmente, minhas lutas não me valeram nada, exceto uma queimadura de tecido na minha pele e muita frustração. Como minha fuga foi um fracasso terrível, tentei mais uma vez jogar o ângulo emocional. — Você estava disposto a se sacrificar por Nemon. Certamente, esse tipo de amor não desaparece simplesmente. O que você está planejando fazer comigo destruirá qualquer respeito e amor que ele tenha por você. Ele vai odiá-lo, tão profundamente quanto me ama e ele nunca parará até que te caçe e te faça pagar. Um músculo em sua mandíbula pulsou enquanto ele rangia os dentes. — Talvez eu devesse ter amordaçado-a assim que a amarrei. Esse amor de que você fala, é exatamente o que quero dizer. Você espera jogar com uma fraqueza que purifiquei do meu sistema.


Deixei minha cabeça cair para trás contra o meu assento, exalando em frustração. — Eu não vejo isso como uma fraqueza. Ninguém deveria pagar o preço que você pagou pelo amor, mas posso dizer com certeza que Nemon pagaria o mesmo preço por você. O amor é uma fonte de força. Minhas amigas me perguntaram como sobrevivi aos meses de tortura nas mãos de seu povo. — Tentei encontrar seus olhos, mas ele não me olhou. — Continuei lutando porque tinha algo para lembrar quando os tempos eram piores. Lembrei-me de minha mãe e do quanto ela me amava e praticamente podia ouvir sua voz me incentivando a continuar lutando. Eu sobrevivi, Halian, por causa do amor, não apesar dele. Eu juro para você, se nos tirar deste lugar, encontrarei uma maneira de reunir você e Nemon, e nós encontraremos uma maneira de curar você. Uma carranca escura torceu suas feições. — Por que você ainda sente tanta devoção por ele, agora que sabe o que ele realmente é? Você não está horrorizada? Eu estive, mas apenas brevemente. Era difícil explicar para alguém que tinha tanto medo do amor. — Não me apaixonei pelo rosto bonito de Nemon. Eu me apaixonei pelos corações que batem dentro dele e pela alma que posso ver atrás de seus olhos. Isso é mais bonito do que um rosto jamais poderia ser. Seus longos dedos acariciaram os controles, então se fecharam em punhos. — Tão poético, mas como pode ter certeza que ele retribui sua devoção? Ele não sofre da doença de Iriduan. Talvez você seja realmente apenas mais uma curiosidade para ele explorar. Uma que ele vai se cansar com o tempo.


Claro que ele falaria uma preocupação que realmente me ocorreu, uma que aquela voz demoníaca dentro da minha cabeça captou e repetia em um refrão, mas como já havia considerado isso, já havia pensado em uma resposta. — Eu gostaria que você pudesse ver a maneira como Nemon olha para mim. Se o fizesse, não se importaria em fazer essa pergunta, porque já saberia a resposta. Ele pode não ter tido um imprinting comigo, mas nós nos reconhecemos no momento em que nos conhecemos. Talvez a crença humana em almas gêmeas seja real, não sei. Mas seja qual for o caso, eu sei que ele me ama. — E isso era algo que eu repetia continuamente para aquela voz interior que queria que eu duvidasse. — E você não deveria duvidar que ele te ama. Talvez seja porque Nemon tem tantos corações que nunca teve medo de entregá-los. Os olhos de Halian se estreitaram enquanto ele olhava para mim. — Se isso for verdade, então ele está longe de ser tão inteligente quanto eu acreditava que ele fosse. Depois daquelas palavras duras, ele se recusou a ser atraído para mais conversa e depois que ele ameaçou me amordaçar, fechei minha boca e me preparei para a chegada do navio de guerra Iriduan. Uma parte de mim esperava que, de alguma forma, Nemon e os Akrellianos me encontrassem primeiro, mas temia que não fosse o caso e precisava descobrir uma maneira de sair da confusão em que me meti. — É por isso que eu nunca deveria ir a um cassino. — Murmurei. Ele me lançou um olhar desconfiado, talvez temendo que eu tentasse conversar novamente, mas eu estava perdendo meu fôlego. Em vez disso, permaneci em silêncio, embora minha mente ainda estivesse ocupada planejando minha fuga.


Não tinha ido muito longe em meu plano quando vários monitores de holograma acenderam com avisos vermelhos e alarmes dispararam ao nosso redor. A tela preta na minha frente de repente mostrou uma nave aparecendo com muito do que parecia eletricidade ou relâmpago crepitando ao redor dela. O navio em si não se parecia em nada com o belo Star Dancer, que tinha um exterior tão artístico quanto o interior - algo que aprendi quando dei uma boa olhada na incrível beleza do navio no porto. Seu casco era pintado em verdes e dourados, ele tinha as curvas arrebatadoras e os fortes desenhos geométricos que tanto definia seu estilo de arte aparentemente favorito. Este navio de Iriduan parecia mais um asteróide em forma de charuto muito longo. — Eles mandaram o dardo do Ciparro! — Halian rapidamente começou a passar os símbolos em seus controles. — Esse é o navio de guerra pessoal da imperatriz. Era hora de ir, imaginei. Eu ainda não tinha um plano. Poderia ter sido capaz de derrubar Halian sozinha se não estivesse contida. Mesmo que ele fosse maior do que eu, poderia dizer que ele não tinha se recuperado totalmente de sua provação, o que o tornava um alvo fácil, mas derrubá-lo agora era inútil. Não conseguiria escapar do navio de guerra que veio atrás de nós. Em vez disso, esperei - assim como Halian - só que estava esperando para ter minha vida de volta. Desta vez, eu encontraria um jeito. O ônibus voou em direção à nave asteróide-charuto, e enquanto aproximáva-mos de uma extremidade do navio, uma escotilha de carga abriu para o nosso transporte. Percebi o quão grande o navio realmente era, baseado no tamanho da porta de carga para a qual voamos. Era apenas uma pequena abertura na estreita extremidade dianteira do navio. Quando voamos mais perto, percebi que a porta era grande o suficiente para nos levar para dentro.


Halian navegou na nave para a baía e pousou sem mais nenhuma palavra para mim até que ele soltou suas próprias restrições. Então se virou para mim. — Não me dê problemas. — Ele apontou para a tela onde agora víamos uma bela mulher de Iriduan parada na frente de um contingente de guardas homens em ternos cinza. Todos eles esperaram um pouco além do ônibus. — Eles querem você viva, mas não hesitarão em mutilá-la para que não possa escapar. Apenas faça o que dizem, siga suas ordens e seu sofrimento não será tão ruim. Halian estava continuar ferido, mas não estava tão fraco quanto pensei. Sua mão segurava firme meu bíceps enquanto ele desbloqueiva o arnês que me prendia no assento e me puxou para fora do transporte. Não dei uma boa olhada no ônibus espacial que nos trouxe a este ponto quando meio que cambaleei pela rampa, apenas com o aperto forte de Halian me mantendo firme. Todo o meu foco estava na mulher Iriduan e seus guardas. Eu só tinha visto os machos e apenas à distância enquanto na estação de Ubaid. Claire descreveu a mulher que viu e esta mulher era muito bonita, embora sua pele fosse de uma cor azul pavão que brilhou para um verde esmeralda na luz. Os olhos dela eram os mesmos azul deslumbrante e seu cabelo era verde esmeralda. A frente de seu cabelo estava presa em um monte de tranças enroladas, exceto por várias pequenas tranças que caíam sobre os ombros e pelas costas, onde o resto caía além da cintura, solto e reto. Alfinetes de joias e pentes mantinham seu penteado elaborado junto e os acessórios pendurados com correntes de contas balançavam quando ela virava a cabeça. Ela vestia um conjunto de vestes que eram uma mistura de ouro e laranja ardente que parecia surpreendentemente compatível com seu


tom de pele azul. Suas roupas também brilhavam com contas facetadas que foram bordadas em padrões florais e de folhas no tecido de seda, usando um fio de ouro metálico. A única coisa que não era bonita na mulher era a expressão em seu rosto. Seus olhos grandes estavam duros enquanto me estudavam e seus lábios estavam tensos de aborrecimento. — Então esta é a fêmea carregando a semente de Nemon? — Sua boca se abriu em um sorriso cruel —Você também carrega algumas modificações de reforço imunológico muito avançadas pelo que sei. Você é um achado bastante valioso, não é? Eu esperava o retorno de pelo menos alguma parte da criatura marinha — ela olhou para Halian, que permaneceu ao meu lado, segurando meu braço — mas talvez este seja uma retribuição ainda melhor pela traição de Halian. Halian deu um passo à frente quando ela gesticulou para ele, arrastando sua perna esquerda ligeiramente enquanto se movia entre a mulher e eu. Ela colocou a mão em seu ombro, revelando que seus dedos estavam cobertos por gorros de ouro rendados que terminavam em pontas. — Há uma coisa que eu gostaria de ter certeza antes de começar a confiar em você novamente, Professor Halian. Ele parecia estar lutando contra o desejo de se encolher para longe de seu toque, mas ficou quieto quando ela ergueu a mão para a máscara. Halian se afastou quando a mulher de repente o arrancou de seu rosto. Um guarda se adiantou para agarrá-lo pelo pescoço e colocá-lo de joelhos na minha frente. Fiquei paralisado em choque quando o guarda empurrou o rosto de Halian contra minha virilha, enquanto ele tentava virar a cabeça para longe.


— Respire fundo, traidor. — Os olhos da imperatriz estavam frios como pedaços de gelo. — Veja se você tem um imprint com essa mulher. Halian não conseguiu prender a respiração para sempre e o guarda agarrou meu braço com a mão livre quando tentei dar um passo para trás. Ele me segurou no lugar com um aperto forte até que Halian ofegou por ar, sugando meu cheiro, que foi, sem dúvida, agravado pelo fato de que eu estava usando apenas um vestido e uma calcinha rendada. Somente quando Halian teve que respirar, o guarda o soltou para cair de cócoras. Halian manteve sua cabeça afastada de mim e seus olhos bem fechados. A imperatriz riu e acenou com a cabeça para seu guarda, que agarrou o queixo de Halian e virou o rosto para ela. — Deixe-me olhar em seus olhos, Halian. — Sua voz era suave, sensual e fria, diferente de qualquer voz que já ouvi. Ele abriu os olhos e olhou para ela desafiadoramente. Ela olhou para eles por um momento antes de balançar a cabeça. — Pena. Eu esperava que você tivesse uma impressão com ela. Isso me daria ainda mais força para garantir sua lealdade contínua. Suponho que até mesmo seu corpo tem mais gosto do que escolher alguém como esta criatura. — Ela sacudiu a máscara para ele e ele virou a cabeça para evitar que ela o acertasse no rosto enquanto estendia a mão lentamente para pegála. — Você pode ir para o seu laboratório. Prepare-se para extrair os nanites. Meus guardas levarão em breve. Observei enquanto Halian lutava para se levantar, sua capa caindo aberta para revelar suas roupas esfarrapadas e corpo emaciado. Embora a imperatriz também fosse esguia, os guardas pareciam muito fortes sob suas armaduras duras e suspeitei que Halian teria caído entre o tamanho dos guardas e o da imperatriz se ele estivesse saudável, mas ele claramente não estava. Mais


uma vez, tive pena quando deveria tê-lo odiado. Ele havia sofrido muito por seu sacrifício. Eu não tinha certeza de qual perda tinha sido a pior para o alienígena, mas suspeitei que poderia ter sido as asas parecidas com joias que todos os outros homens na baía tinham atrás deles. A imperatriz não esperou que Halian fizesse sua fuga lenta e penosamente da baía. Ela se virou para mim antes mesmo que ele passasse pelo

pequeno contingente de guardas,

descartando-o

como

sem

importância. — É uma pena que não conseguimos recuperar Nemon. De todas as formas, ele era um espécime bastante espetacular. — Ela me olhou com curiosidade. — Eu me pergunto o que há em você que o atraiu. Ele não teria uma imprinting em você. Olhei dela para os guardas, nenhum deles usando máscaras faciais. Ela percebeu a direção da minha atenção e interpretou mal meu interesse. — Não espere que um membro do meu harém tenha uma imprinting em você. Todos eles já pertencem a mim. Meus olhos se arregalaram quando vi meia dúzia de homens que estavam pacientemente atrás da imperatriz agora que Halian estava saindo da sala. — Eles são todos seus namorados? Seu sorriso zombeteiro aumentou. — Eles são todos meus escravos. Farão exatamente o que eu disser e nunca me trairão, então, se você esperava encantar um deles, não deveria se incomodar. Nenhum dos machos vacilou com suas palavras cruéis, ou o tom desdenhoso que ela usou para eles. — Eu pensei que uma vez que você acasalasse...


Ela riu, e foi um som forte e agudo que não era atraente. — Somente os machos se unem por meio de impressão. Meu companheiro, o imperador oprimo, trouxe-me todos os jovens nobres que passaram por meta para ver quais se ligariam a mim. Aqueles que o fizeram, tornam-se meus guardas inquestionavelmente leais. — Meta? — Estava supondo que isso significava algo como puberdade, o que significava que ela estava basicamente escravizando os filhos usando o fato de que tinham impriting, sobre o qual eles não tinham controle. Parecia não haver limite para sua crueldade. As contas de pedras preciosas nas correntes oscilantes de seu cocar refletiram a luz quando ela ergueu o queixo. — Vocês humanos sabem tão pouco sobre nós. Ainda não consigo acreditar que compartilhamos os mesmos ancestrais. Achei que se eu pudesse mantê-la falando, poderia bolar um plano que me manteria fora de qualquer laboratório. — Eu sei tão pouco sobre você, mas gostaria de saber mais. Meta é sua fase de puberdade? Ela sorriu novamente, talvez se divertindo com minha pergunta. Então ela virou a cabeça e acenou para um dos guardas. — Traga meus lindos filhos. Deixe esta humana ver um Iriduan antes da metamorfose. — Ela voltou os olhos para mim. — Afinal, você nunca sairá daqui viva, então não há necessidade de esconder a verdade de você. O guarda ergueu o pulso e falou algo em voz baixa que não entendi. Depois de alguns momentos tensos de espera, a porta do outro lado da baía se abriu. De repente, duas enormes criaturas parecidas com libélulas voaram para a baía com asas brilhantes. Eles eram quase do tamanho de crianças, só que longos e elegantes, e construídos como libélulas enormes, até suas cabeças arredondadas e insetóides. Os únicos sinais de que um dia


poderiam parecer iriduanos eram as mãos humanóides que inclinavam as pontas de suas longas e delgadas pernas dianteiras. Eu adorava ver libélulas coloridas voando sobre a água, mas sabia por experiência própria que elas podiam morder. As mandíbulas dos pequenos não eram tão ruins, mas não havia nada de minúsculo nelas. Dei alguns passos para longe enquanto eles disparavam ao redor da baía em uma perseguição alegre. Pela primeira vez desde que a conheci, a expressão da imperatriz realmente pareceu suavizar enquanto ela observava seus filhos. — Meus filhos. Eles são muito bonitos e amam suas brincadeiras. — Seu olhar endureceu novamente quando ela encontrou meus olhos. — Eu não te mostrarei minhas filhas. Esse é um segredo que nem mesmo quem está prestes a morrer deveria saber. Balancei minha cabeça, observando as libélulas gigantes na minha periferia. — Como eles parecem tão diferentes de você? Ela sorriu. — Algum dia vou tecer seus casulos e eles se tornarão como todos os Iriduanos adultos. Bem, isso foi assustador. Dado que eu tinha um pouco daquele DNA estranho de Iriduan dentro de mim, não fiquei totalmente emocionada ao descobrir que eles eram mais insetóides do que suas asas sozinhas me faziam pensar. Isso não era algo que Claire tinha descoberto em suas pesquisas na GalactaNet sobre Iriduans, então eu só poderia supor que eles mantiveram a verdade sobre seus filhos em segredo de toda a galáxia. Ela interrompeu meu olhar sem palavras ao se aproximar de mim, perto o suficiente para tocar meu estilo de cabelo ainda firme com um dedo pontudo.


— Vocês humanos são tão primitivos, mas até eu devo admitir que há algo atraente em vocês. — Ela estudou meu vestido, aquele de que eu tanto me orgulhava e me sentia tão bem vestindo até que terminei uma prisioneira novamente. — Esse estilo é interessante. Combina com você. Ela se aproximou ainda mais de mim, até que seu rosto estivesse a apenas alguns centímetros do meu, embora ela fosse meia cabeça mais alta do que eu. — Talvez seja muito apressado vivisseccioná-la para ver as modificações dentro de você. Você poderia ser mais útil para o império se fosse cruzada com um homem Iriduan. Posso oferecer-lhe um harém inteiro deles. — Ela respirou fundo. — Seu feromônio é forte, perfumado. Você ligará muitos deles. Vai viver uma vida de luxo, nunca querendo nada, com homens para atender a todos os seus desejos e caprichos. — O que? — Eu a encarei incrédula, imaginando que novo jogo cruel ela estava tentando jogar. Eu tinha que admitir, sua cara de pôquer era excelente. Ela parecia completamente sincera. — Olha, sei que não sou horrível, mas não sou exatamente Helena de Tróia. Por que a repentina mudança de tom de 'oh, vamos arrancar suas tripas para diversão experimental' de repente para 'deixe-me dar-lhe o sonho de sua vida na carne'? — Balancei minha cabeça. — Não, não estou acreditando. Você está blefando. Ela riu, enquanto tocava minha bochecha, pressionando levemente com a ponta de seu dedo até que senti uma picada afiada contra minha pele. — Você não será facilmente persuadida, posso ver, mas acho que você tem potencial. As fêmeas da minha espécie estão em desvantagem. Muitas delas não podem fazer com que um homem tenha uma imprinting porque não têm feromônio suficiente. Eu asseguraria a lealdade de homens menos nobres, ligando-os a uma mulher que está em dívida comigo.


Afastei minha cabeça de seu dedo. — Então quando nos tornamos amigas de novo? Seu sorriso era afiado, embora seus dentes não fossem mais letais que os meus. — Você tem poucas opções. Se não aceitar minha oferta, morrerá em grande agonia aqui nos laboratórios. Se aceitar minha oferta, viverá com grande conforto e riqueza, ilesa, desde que obedeça aos meus comandos. Olhei para ela com desconfiança, esperando que aquele dedo me apunhalasse novamente. — Você não sai muito, não é? Um lampejo de aborrecimento criou linhas em seu rosto antes de suavizar novamente. — Como qualquer mulher Iriduan estou isolada do público. — Ela abriu os braços para indicar nossos arredores. — Mesmo sendo uma imperatriz com um navio de guerra, não posso ir aonde eu escolher para não ultrapassar os limites impostos às mulheres em nossa sociedade. Devo permanecer no espaço, cercada apenas por meu harém e a tripulação leal de meu companheiro. Meu companheiro não seria capaz de me salvar se eu levasse nossas leis longe demais tentando caminhar entre os cidadãos de qualquer um de nossos mundos. Vivemos em reclusão, permitidas na companhia apenas de machos acasalados ou outras fêmeas. Eu preferiria um novo animal de estimação, com experiências além do palácio que pudesse me entreter. — Sabe, você me vê como 'animal de estimação'. Como uma garota pode recusar esse adorável título? Seus grandes olhos amendoados se estreitaram mesmo quando ela sorriu. — Você está sendo sarcástica.


— Ei, olhe para isso, você pode ler as emoções, mesmo que não possa senti-las. Seu sorriso se apertou como um elástico. — Eu lhe asseguro que sou perfeitamente capaz de sentir emoções. O que eu sinto no momento é raiva. Devolvi o sorriso dela. — Sim, que tal você me dizer como é isso. — Empurrei minha cabeça para frente o mais forte que pude, batendo minha testa em seu nariz enquanto agarrei seu braço com uma mão e peguei um dos grampos em seu penteado trançado. Ela gritou de dor quando seu nariz foi esmagado pela força do impacto, então engasgou novamente quando passei meu braço em volta de sua garganta e segurei a ponta afiada do grampo de cabelo em sua jugular, virando-a para servir como meu escudo contra seus machos . — Um movimento e eu mostro a essa cadela como é ter uma agulha espetada em você repetidamente. — Apertei meu braço em torno de sua garganta quando ela tentou lutar e ela cedeu contra mim, ofegando pesadamente enquanto o sangue pingava de seu nariz quebrado em meu braço. Seus homens não esperavam o ataque e no momento que sacaram suas armas, eu já tinha sua imperatriz entre mim e eles. Eles não podiam atirar em mim sem correr o risco de acertá-la ou de eu acabar cravando o alfinete na veia do pescoço dela antes de morrer devido ao ferimento. Infelizmente, eu não tinha ideia do que fazer a seguir.


Capítulo 29 NEMON Quando acordei, tudo era um borrão, mas meu sistema limpou rapidamente os restos do veneno de Thrax do meu sangue para que todos os meus membros pudessem funcionar e eu os usei para fazer meu caminho para a ponte do Star Dancer com grande pressa. Descobri que Thrax e o comandante Tirel já estavam lá. A conversa deles parou quando entrei pela porta deslizante, puxando toda a minha considerável massa para a ponte antes que a porta se fechasse novamente. Enrolando meus tentáculos contra e embaixo do meu corpo, fui capaz de caber no espaço e Thrax e Tirel se viraram para me incluir na discussão. — Encontramos a nave. — Disse Tirel, sem perder tempo com cumprimentos, o que apreciei. Havia apenas uma coisa que eu queria ouvir dele, e só. — E Joanie. Ela…? — Não aguentava terminar a pergunta, temendo a resposta mais do que jamais temera qualquer coisa. Thrax e Tirel se entreolharam antes de Tirel responder. — Há uma complicação. Nossa sonda avançada detectou o ônibus espacial, mas enquanto estava espionando para determinar a melhor abordagem, um navio de guerra da classe Javelin Imperial se desviou para aquele lado. Eu não pude evitar o rosnado de torcer meus lábios com a notícia. De alguma forma, sabia que minha Joanie havia caído mais uma vez nas mãos de nossos inimigos. Já era ruim o suficiente imaginar o que uma pessoa teria pretendido ao sequestrá-la da estação espacial, mas o entendimento de que o Império Iriduan a havia recapturado era como uma tortura, embora


nem de longe tão ruim quanto a tortura que temia que ela fosse submetida se nós não chegou a ela a tempo. — O que estamos esperando? — Fiz um gesto para os membros da tripulação manejando os consoles de controle do Star Dancer. — Vamos atrás dela. Tirel suspirou. — Pretendemos, mas temos que planejar isso com cuidado. Temos a vantagem da surpresa, mas não podemos simplesmente nos empenhar nesse setor e começar a esmurrar o Javelin com torpedos pulsantes sem arriscar que sua companheira seja ferida ou morta. Qualquer demora no resgate de Joanie parecia demais, mas eu sabia que Tirel estava tentando ser razoável, então resisti à vontade de pegá-lo e sacudi-lo até que ele desse a ordem de atacar o navio de guerra imperial e trazer minha Joanie de volta. — Então qual é o plano? Thrax me olhou como se se perguntasse se teria que usar seu veneno para me derrubar novamente. Eu preferia que não, mas tive que admitir que sua cautela era compreensível. Minha agitação estava deixando meus tentáculos estremecerem — Os Akrellianos embarcaram em uma nave especial que o comandante Tirel acha que podemos usar para nos aproximarmos da nave sem sermos detectados. — Disse Thrax. — Ele também possui um software de infiltração projetado para atacar os sistemas dos navios de Iriduan. — Acrescentou Tirel. — É um pequeno ônibus espacial, então teremos que enviar uma equipe de elite dos meus melhores guerreiros através do túnel de dobra para resgatar sua companheira.


— Você vai me enviar também. — Eu disse, meus tentáculos se contraindo mais. Ele olhou para Thrax novamente. — Isso é impossível. Os limites da nave são muito apertados para caber você e uma equipe de guerreiros. — Então eu irei sozinho. — Estreitei meus olhos para ele. — Posso pilotar o seu ônibus espacial sozinho, se for preciso. As asas de Thrax estremeceram quando ele cruzou os braços sobre o peito. — Eu disse que ele ia dizer isso, Comandante. O brasão de penas de Tirel se estendeu enquanto ele olhava para mim. — Você me colocou em uma posição difícil, Nemon. — Você deveria proteger minha companheira, Comandante. Essa foi a única razão pela qual concordei em permanecer no navio. — Você não ficou no navio. — Disse Thrax antes que Tirel pudesse. — Isso não é importante no momento. Esses monstros podem estar fazendo qualquer coisa para Joanie. Discutir sobre isso é perda de tempo. Já coloquei a segurança dela em suas mãos uma vez, comandante, e agora ela é uma prisioneira daqueles que a machucaram tanto na primeira vez que a tiveram. Deixe-me ser o único a proteger minha própria companheira desta vez. Tirel cerrou os dentes afiados, mas acenou com a cabeça abruptamente após um longo momento em que me perguntei se nossa amizade sobreviveria à minha vontade de estrangulá-lo. — Isso vai contra todo o meu bom senso, mas permitirei que use o ônibus. — Sua mão erguida me parou quando me virei para deixar a ponte e descer para o porão de carga. — Não permitirei que você pilote nosso ônibus espacial. — Ele gesticulou para outro Akrelliano, que pulou de seu


assento próximo e se dirigiu para a porta. — Nosso piloto pode caber na cabine. Tente ficar fora do caminho dele e ele levará você e sua companheira de volta ao nosso navio em segurança, se você puder removêla dos Iriduanos sem fazer com que ambos morram. Seu aviso me disse que ia ser um ajuste apertado, e enquanto Thrax me seguia para fora da ponte, ele mencionou sua decepção por não ser capaz de entrar na nave para se juntar a mim na briga. Eu gostaria de ter a companhia dele, mas naquele momento, não importava que tivesse que ir sozinho exceto pelo piloto do ônibus espacial. Eu só precisava chegar até Joanie, o mais rápido possível.


Capítulo 30 JOANIE Estava me sentindo muito orgulhosa de mim mesmo por derrubar a imperatriz e sua guarda, embora não tivesse ideia do que fazer com isso. No entanto, a nave estava atrás de mim, então eu recuei em direção à rampa, arrastando-a comigo para mantê-la entre mim e seus homens. Eles me encararam com ódio completo e absoluto, ansiosos para puxar o gatilho de suas armas. Um deslize da minha parte e estava morta. Eu estava quase subindo a rampa quando percebi que havia esquecido algo crítico em meu ataque movido à adrenalina contra a imperatriz. Eu tinha esquecido seus filhos. Algo duro e afiado pousou nas minhas costas, cavando o tecido do meu vestido até perfurar minha pele. Gritei de dor, liberando a imperatriz para me debater contra a libélula gigante que me carregava para o chão. O grampo de cabelo fez um som suave de ping ao cair no chão de metal. A segunda libélula caiu do teto para pairar na frente do meu rosto e olhei em seus olhos insetóides terríveis, vendo a senciência lá e percebendo o quão mal eu havia calculado mal quando ela avançou contra mim, mandíbulas estranhas se abrindo para arrancar meu rosto. — Não a mate! — O comando afiado da imperatriz fez com que ambas as libélulas congelassem, apenas suas asas ainda batendo enquanto esperavam que ela falasse. Ela segurou o nariz sangrando com uma das mãos enquanto se aproximava de mim e de seus filhos. — Você pagará por isso — disse ela em uma voz nasal abafada por sua mão — mas ainda há usos para você. Ela olhou por cima do ombro para seus guardas.


— Leve-a ao Laboratório de Halian. — Então se virou para mim com um brilho nos olhos e puxou o punho para trás, os nós dos dedos cobertos com o mesmo ouro rendado que cobria seus dedos. — Um pequeno presente para recompensá-la. Em seguida, ela bateu seu punho revestido de metal no meu rosto, esmagando meu nariz. Ela me bateu de novo e de novo, até que tudo que eu vi foi a escuridão que caiu sobre mim, antes que a inconsciência assumisse o controle.

Acordei com dor, meu rosto estava dolorido e em chamas. Eu estava nua, deitada com as pernas abertas e apoiadas em estribos. Alguém amarrou meu corpo em uma mesa fria de metal. Choraminguei através dos lábios inchados e ensanguentados, sentindo o gosto de ferro na minha língua. Uma sombra bloqueou a luz ofuscante acima de mim enquanto alguém se postava sobre mim. Cabelos longos e lisos roçaram meu peito enquanto uma mão fria pousou em minha testa. A pessoa se aproximou de mim, tão perto que pude sentir sua respiração. — Não lute de forma alguma. Não dê a eles um motivo para virem aqui. Estou trabalhando em um plano para tirar você daqui, mas estão observando cada movimento meu. — Reconheci a voz de Halian, embora estivesse surpresa com suas palavras. Surpresa o suficiente para poder pensar no significado delas, mesmo em meio à minha dor. Ele tirou meu cabelo da testa e se endireitou novamente, indo até o final da mesa para parar entre minhas pernas abertas. Se eu não estivesse sentido tanta dor, teria sentido humilhação e vergonha por estar tão exposta, mas, neste ponto, senti mais medo do que qualquer coisa. Tive que contar com esse Iriduan indigno de confiança para trair seu povo mais uma vez e não


tinha certeza de por que ele estava fazendo isso, ou se poderia até mesmo confiar em suas palavras. Talvez o professor simplesmente quisesse que eu não lutasse para tornar seu trabalho mais fácil. Esperava que minhas palavras tivessem de alguma forma chegado a ele, embora eu desejasse que ele recobrasse o juízo mais cedo, mas era possível que a tentativa da imperatriz de ver se ele tinha uma marca comigo o fez reconsiderar sua lealdade. Ou talvez tivesse tido tempo para considerar como Nemon se sentiria sobre o que estava acontecendo comigo, e decidiu que o amor por seu ‘‘filho’’ valia o sacrifício. Eu não sabia e não podia perguntar. Se eles estavam nos observando, provavelmente também estavam ouvindo, por isso sua voz era um murmúrio tão baixo que tive de me esforçar para ouvi-lo. Mas eu tinha ouvido isso, então não lutei, fechando minhas pálpebras cerradas - mesmo que machucou meu rosto machucado - quando senti o metal frio de um espéculo sondar minhas dobras. De repente, ouvi Halian praguejar em voz alta, murmurar algo e, em seguida, um barulho quando ele tropeçou desajeitadamente em sua bancada de trabalho, torcendo-se na perna machucada. Os frascos de vidro se chocaram uns com os outros e rolaram para o chão de metal, onde se abriram, seus conteúdos se misturando enquanto derramavam. Uma fumaça sufocante encheu a sala e algo foi pressionado contra meu rosto, fazendo-me gritar de dor. — Os filtros de ar limparão esta sala em minutos! — A voz de Halian sibilou em meu ouvido. — Temos que agir agora! As restrições escorregaram do meu corpo e suas mãos nas minhas costas me incitaram a sentar na mesa. Eu não conseguia ver nada na fumaça enjoativa e tinha certeza de que, se não fosse pela máscara cobrindo a


metade inferior do meu rosto, não seria capaz de respirar. Meus olhos lacrimejaram com a fumaça carregada de produtos químicos. Segui as ordens não ditas das mãos de Halian me incentivando a seguir em frente, parando apenas brevemente quando um casaco foi jogado em volta dos meus ombros. Agarrei o jaleco em volta de mim quando uma porta se abriu, sugando a fumaça para fora. Nós o seguimos, Halian sem palavras me incentivando a me mover com uma pressão cada vez maior em meus braços. Eu acelerei até estar correndo junto com seu andar desajeitado e galopante enquanto o ar clareava. Pude finalmente ver o corredor longo e árido que atualmente estava vazio de guardas ou tripulação. Halian olhou para frente e para trás enquanto me guiava pelo corredor, seus olhos arregalados de medo. — Eu provoquei distrações por todo o navio, mas eles eventualmente irão nos rastrear. A única esperança que temos é chegar ao ônibus espacial antes que possam nos parar. O IFF do dardo não permite que ele atire em suas próprias embarcações sem acionamento manual. Podemos fazer o túnel de dobra antes que eles estejam organizados o suficiente para conseguir que dois oficiais o aprovem. — E a imperatriz? — Tentei dizer, mas minhas palavras saíram arrastadas dos meus lábios inchados. Ele balançou sua cabeça. — A cabine dela está conectada a um sistema de suporte de vida separado do resto do Javelin. Depois de deixar a baía, instalei um gás para dormir para bombear em seus aposentos. Depois que você a feriu, esse foi o primeiro lugar que ela foi com alguns de seus homens. Eles já deveriam estar desmaiados, mas o capitão e a tripulação tentarão tirá-la do sono


assim que descobrirem o que está acontecendo. Precisamos agir rapidamente. — Você planejou me ajudar desde o início? — Minha tentativa de falar enviou um jato de sangue contra a máscara que eu ainda tinha no rosto. Ele deve ter entendido pelo menos parte do meu significado. — Eu tinha meus próprios planos. — Isso foi tudo que ele disse além de me encorajar a me mover mais rápido em direção à baía de transporte. Estávamos quase lá quando um alarme soou e a nave começou a falar com uma voz mecânica que vinha de cima. — Aviso, violação do casco detectada. Presença do inimigo verificada por bio-scan. Perigo. Detectada forma de vida bio-sintética modificada. Desligando a eclusa de ar para o corredor... — A voz se interrompeu por um momento, antes de retornar com um som maior de urgência, apesar de sua natureza computadorizada. — Airlock 14 comprometida. Perigo, infiltração inimiga detectada nos sistemas 12 a 14. Setores compartimentalizados para conter vírus. Observei a expressão de Halian, sem saber o que fazer com essa nova complicação. Obviamente, eles sabiam que estávamos fugindo. Ele balançou a cabeça, olhando para trás. — Isso não é bom. Meu coração batendo forte deslizou em minhas entranhas. — Então, eles já nos encontraram? — Não, o navio está tentando conter outra coisa e parece que está falhando. Um breve tiro de esperança passou por mim, acelerando meus passos. — Nemon? Vincos contornaram sua boca enquanto sua carranca se aprofundava. — Possívelmente. Este ainda é um problema.


— Temos que chegar até ele! — Se alguém poderia nos tirar daqui, seria Nemon. De alguma forma, os Akrellianos nos encontraram. Halian parou no corredor, claramente indeciso sobre a direção que ele queria me levar. Havia uma divisão à frente, e ele olhou para ele com visível indecisão. — Ele deve ter um navio, mas sua presença atrairá todos os guardas para derrubá-lo. Temos uma chance melhor de chegar ao meu transporte para escapar enquanto a tripulação e os guardas estão distraídos. Agarrei seu braço, apertando-o para puxar seu olhar para mim. — Não vamos deixá-lo para trás. Ele me estudou com uma expressão curiosa. — Você realmente o ama, não é? — O que eu estive dizendo a você esse tempo todo! Ele é tudo para mim. Não estou prestes a deixar este navio sem ele. Halian hesitou por apenas um momento antes de acenar com a cabeça. — Muito bem, vamos em direção ao caos que Nemon está causando. Pelo menos devemos torcer para que seja ele. Ele me levou até a filial no corredor e virou à direita. Corremos pelo corredor muito mais curto para encontrar outro ramo onde virou à esquerda. Nesse momento, o alarme que continuava a tocar foi novamente interrompido pela voz computadorizada. — Violação do sistema em todos os setores. Airlocks 15 a 17 comprometidos. Múltiplas fatalidades da tripulação detectadas. Incapaz de conter a presença do inimigo. Agora ejetando o casulo imperial. — Droga! — Halian murmurou, correndo o mais rápido que sua perna danificada poderia carregá-lo. Embora meu rosto latejasse em sintonia com meus passos, acompanhei seu ritmo. — Espero que Nemon tenha um plano de fuga porque o navio irá...


— Toda a tripulação, evacuem para escapar nos pods. — O navio repetiu esse anúncio várias vezes, antes de dizer algo que gelou meu sangue — Contagem regressiva de purga iniciada. A autodestruição começará em 175...174...173... — Merda! Diga que estamos perto, Halian! Mas ele não precisou me responder, porque na próxima curva nós tropeçamos em uma confusão de corpos e peças de navio em ruínas. Painéis de metal foram arrancados das paredes e circuitos e cabos espalhados por toda parte. As luzes de emergência estavam acesas, nos levando ao longo da trilha de destruição. Em uma direção, havia um buraco bem feito que foi cortado no casco. Na outra direção, ouvimos o som de tiros de arma, embora não fosse uma réplica afiada como tiros. Era mais como o estalo de algum tipo de arma de energia. Eu fui nessa direção. — Nemon! O aperto de Halian no meu braço me puxou de volta para o buraco. — Seu transporte está aqui. Entre e aperte o cinto. Eu irei encontrar Nemon. Hesitei, enquanto o computador continuava a contagem regressiva, rápido demais para meu conforto. — Posso confiar em você? — Ele é meu filho. — Ele me empurrou em direção ao buraco, então se virou e saiu correndo em direção aos sons do combate.


Capítulo 31 NEMON Os próprios Iriduanos dificilmente eram um desafio, mas fui ficando mais frenético enquanto a IA da nave contava os momentos até que ela se autodestruísse. Por causa da resistência que estava encontrando, fiz um progresso lento através do navio e o cronômetro estava funcionando continuamente. Eu precisava encontrar Joanie, mas mesmo depois de fazer isso, não tinha certeza de que conseguiríamos voltar para o ônibus espacial a tempo. A única outra esperança que eu tinha era que pudéssemos alcançar uma das cápsulas de escape. Não tinha considerado a rapidez com que os Iriduanos destruiriam sua própria tecnologia para mantê-la fora do alcance do inimigo, mas talvez devesse ter trabalhado isso em meu plano. Simplesmente pular na nave deles pela brecha que as ferramentas de infiltração do ônibus espacial haviam cortado no casco não tinha sido a melhor ideia, mas eu sabia pouco de sua tecnologia, ou pensava que sabia, até que comecei a arrancar os painéis e encontrar os cabos e circuitos. Assim como o centro de pesquisa deles, entendi o que estava olhando depois de apenas uma breve varredura e fui capaz de invadir seus sistemas para impedir que as eclusas de ar fechassem o resto da nave. Infelizmente, isso acionou os sistemas de alarme da nave e seu protocolo de contenção, o que acabou me levando a este ponto. Meu inimigo havia recuado, mas eu não tinha ideia de que corredor seguir para encontrar Joanie e havia pouco tempo para tomar uma decisão. Girei, meus tentáculos tentando agarrar o Iriduan que veio correndo em um canto atrás de mim, de volta na direção de minha lançadeira.


Eu o agarrei e puxei para mim, preparada para arrancar dele as informações sobre a localização de Joanie. Então congelei quando meus tentáculos me disseram quem ele era, mesmo antes que meus olhos registrassem sua aparência. O reconhecimento enviou ondas de choque através de mim. — Pai? — Não há tempo para reuniões, Nemon. Sua companheira está em seu ônibus. Você deve ir, agora! Não havia tempo, mas não conseguia me mover. Fiquei paralisado pelo meu choque. — Onde... Por que... Como você...? — Nemon! — Seus olhos se estreitaram em mim, uma expressão de repreensão que eu tinha visto muito quando comecei a aprender meu novo corpo e cometi muitos erros. — Me escute. Você deve voltar para sua nave agora. Suas perguntas serão respondidas mais tarde. Mova! Suas palavras me estimularam a avançar, enquanto o colocava de pé novamente, então apertava meu corpo para caber no corredor, puxando-me junto com meus tentáculos. Fiz uma pausa quando ele não me seguiu imediatamente. — Pai? Ele acenou para que eu voltasse para a nave. — Eu estarei bem atrás de você, Nemon. Há uma coisa que preciso fazer primeiro. Não queria deixá-lo, mas precisava verificar Joanie. Fiquei dilacerado por apenas um momento, antes que minha preocupação com minha companheira vencesse. Eu confiaria que meu pai poderia encontrar o caminho para a nave antes que a contagem regressiva do navio terminasse.


Porém, mal consegui voltar para a nave antes que a contagem regressiva terminasse. Eu rastejei pela brecha no casco, espremendo minha massa na lançadeira enquanto meus tentáculos fluíam alegremente ao redor de Joanie, que estava chorando ao aceitar seu abraço. Provei suas lágrimas e também seu sangue e senti uma nova raiva dos Iriduanos, mas havia pouco tempo para pensar nisso. O piloto retraiu a ponte entre nossa nave e o casco e fechou a câmara de descompressão. — Espere! — Gritei, enrolando meus tentáculos ao redor dos braços do piloto. — Meu pai ainda está naquele navio! — Vai detonar em alguns instantes. Temos que fazer a dobra imediatamente! Eu sabia que ele estava certo e abandonaria meu pai para salvar Joanie, embora me doesse deixá-lo para trás mais uma vez. Só que dessa vez não acreditei que o veria novamente.


Capítulo 32 JOANIE Há lugares piores para estar do que embrulhada nos tentáculos de seu amante alienígena. Meu rosto ainda não estava se sentindo bem e eu passei muito tempo no centro médico para meu conforto, mas finalmente estava de volta ao porão, segura no abraço de Nemon. Ele foi muito cuidadoso comigo, seus tentáculos se arrastando suavemente sobre meu corpo para verificar se havia outros ferimentos além dos no meu rosto. Eu podia ver sua angústia na forma como seus tentáculos livres giravam enquanto ele tocava cada um dos meus hematomas. Seus olhos se estreitaram, sua sobrancelha abaixada enquanto ele gentilmente acariciava meu lábio partido. — Você diz que esta imperatriz escapou? Vou caçá-la e recompensá-la por cada hematoma e corte em seu rosto. Eu ri, embora tenha saído com um pouco de dor. — Eu gostaria de fazer isso sozinha, honestamente. Se a encontrarmos novamente, você pode cuidar de sua guarda enquanto eu converso com ela. Ele assentiu. — Vou deixar você se vingar, mas não há isso de ‘‘se’’, minha companheira. Eu vou encontrá-la e ela pagará. Inclinei minha cabeça contra seu peito, pressionando minha palma sobre um de seus corações, confortada pela batida constante dele. — Não, Nemon. Eu não quero caçá-la. Eu só quero ir para nossa nova casa e ficar lá juntos. Estou cansada dos Iriduanos. Realmente cansada deles. Nunca mais quero ver outro. — Eu fiquei tensa e então olhei para o rosto dele. — Sinto muito pelo seu pai.


Ele afundou em seus tentáculos até que ambos estivessemos submersos na água fria de sua piscina, o que acalmou meu corpo nu. Eu tinha me despido para que ele pudesse investigar se havia hematomas. — Eu não posso acreditar que ele iria me trair. Não consigo decidir se estou feliz por ele ter partido ou se estou magoado por isso. Suspirei pesadamente, acariciando seu peito. — Eu sinto muito, Nemon. Pensei em não dizer a verdade para poupá-lo porque ele me ajudou no final, mas... Ele balançou sua cabeça. — Não, Joanie. Estou feliz que você me contou tudo isso. Talvez um dia eu encontre uma maneira de entender por que ele fez o que fez e de perdoálo, mas esse dia não chegará logo. Não enquanto eu devo olhar para o dano que aquelas criaturas causaram à minha companheira e saber que eu não estava lá para impedi-los de machucar você. Passei meus braços em volta de sua cintura, roçando suas guelras, que estavam planas contra seus lados. Isso me fez pensar nas coisas que eu ainda tinha que discutir com Nemon. — Seu pai me disse a verdade, Nemon. Sobre você. — Descansei meu queixo em seu peito para poder olhar em seus olhos. Suas sobrancelhas se juntaram com sua confusão. — Verdade? — Eu gostaria que você tivesse me dito que você não era realmente meio-Iriduan. Honestamente, neste ponto, me faz amá-lo ainda mais que você não tem nada deles dentro de você. — Apertei meus braços ao redor de seus lados em um breve abraço enquanto sua expressão mudou de confusa


para chatead. — Eu só estou brincando sobre isso. Eu te amaria, não importa o DNA que você tivesse. Ele colocou as mãos nos meus ombros, empurrando-me ligeiramente para longe dele para que pudesse olhar melhor nos meus olhos. — O que você quer dizer com não tenho o DNA do pai? Percebi de repente que Nemon não sabia disso. Nunca soube disso. Ele não mentiu para mim, mantendo a verdade escondida. Ele mesmo não sabia disso. — Ele colocou pequenas máquinas em seu corpo. Nanites. Essa foi a experiência. Ele disse que você o imitou porque o admirava e ele achou isso encantador, então disse que você era como o filho dele. Nemon balançou a cabeça e pude ver o choque das minhas revelações em seu rosto. — Não, ele me disse que eu era filho dele. Ele disse que uma parte dele estava contida dentro de mim. — Seu trabalho, Nemon. Essa foi a parte dele que ele deu a você. Era a parte mais importante dele. Mas ele te amava como um filho. Halian confessou muito. Ele fez o maior sacrifício por você. Desistiu de seu trabalho e até destruiu sua pesquisa, porque percebeu o quanto de errado havia feito com você. Nemon parecia tão inconsolável que desejei novamente ter escondido esse segredo dele. Eu levantei meus braços para enrolar em volta de seu pescoço, puxando sua cabeça para baixo para que eu pudesse beijá-lo suavemente, atenta ao meu lábio partido. — Me desculpe, querido. Isso não o tornou menos importante. Não para mim e não para ele. Ele se afastou depois de apenas um breve beijo, seus tentáculos crescendo frouxamente ao meu redor.


— Mas isso significa que ainda sou um monstro, Joanie. Eu ri, embora uma parte de mim quisesse chorar com a devastação em sua voz. — Você é meu monstro, Nemon, e acontece que adoro isso em você. — Mexi meus quadris na água, escovando-os contra seus tentáculos até que eles se enrolassem mais para me puxar contra ele novamente. — Eu sei que você pode se parecer com qualquer pessoa, mas esse visual que você tem agora meio que cresceu em mim. — beijei seu peito firme e musculoso. — Embora eu gostaria de ver como você realmente se parece. Ele balançou a cabeça, seu cabelo deslizando sobre os ombros como fios de seda, muito mais finos do que o cabelo de Halian tinha sido. Havia muito em Nemon que era muito melhor do que Halian havia sido. Era como se, ao imitar Halian, Nemon tivesse feito uma cópia melhor do que o original. Na verdade, eu não sentia que estava olhando para uma cópia. Embora o corpo de Nemon possa ter começado como uma imitação de Halian, ele fez esta forma sua. — Não mostrarei esse meu lado, Joanie. Não, a menos que você não me dê escolha. Não sou mais quem eu ERA. — Seu tom estava determinado. Eu me aninhei mais perto de seu peito. — Se você não está pronto para me mostrar, eu não vou pressioná-lo, mas um dia, quero ver você, Nemon. Como você era antes. Suas mãos alisaram a pele nua das minhas costas. — Tem certeza de que ainda me amará? Sorri contra seu peito. — Eu vou sempre amar você. — Então você não se importaria de fazer amor comigo de novo? Eu ri, balançando meus quadris novamente.


— Agora seria bom, na verdade. Tenho tido alguns pensamentos eróticos. Seus tentáculos enrolaram em torno das minhas pernas, espalhando-as para dar espaço para seu tentáculo de acasalamento. Desta vez, havia algo frenético na velocidade com que ele entrou em mim e na rapidez com que meu corpo se ajustou à sua penetração. Eu o recebi em casa, porque ele pertencia lá, dentro de mim, não apenas seu longo e grosso tentáculo bombeando em meu calor úmido, mas também meu amor por ele, que rapidamente se tornou uma parte de mim que eu não poderia ter separado dele se eu tentasse. Perdi minha casa, minha antiga vida e tudo o que existia para mim na Terra e, no final, ganhei o maior presente da galáxia.


Capítulo 33 NEMON Hierabodos V tinha muitos oceanos e todos eram lindos, mas nada em nosso novo mundo era tão lindo quanto minha companheira. Eu a observei passear ao longo da praia arenosa, cravando os dedos dos pés nas finas partículas brancas em busca de conchas. Meus próprios tentáculos vasculharam a areia para encontrar pequenos presentes para apresentar a ela, e ela já havia amarrado algumas conchas em espiral em um fio para fazer o colar que balançava contra seu maiô, entre seus lindos seios fartos. Estávamos neste mundo há apenas alguns meses e passamos por muitas provações para chegar a esse ponto, mas nunca estive mais feliz do que agora, vendo Joanie brincar na praia fora de nossa casa. Os Akrellians e Thrax nos ajudaram a construir uma casa de praia com a matéria-prima que encontramos nas florestas além da praia. Perto dali, Thrax e Claire construíram sua própria casa de pioneiros, que eu ajudei a construir e que Joanie ajudou Claire a decorar. Era bom estarmos perto de nossos amigos, mas morávamos longe o suficiente para termos privacidade. Os gritos de prazer da minha companheira podiam ficar tão altos quanto os pássaros marinhos e eu adorei e não gostaria que ela controlasse o volume para evitar acordar nossos vizinhos. Com a ajuda dos Akrellians, fomos capazes de construir o início de nossas casas rapidamente, mas eu iria aumentar nossa pequena cabana com o tempo, construindo quartos para Joanie decorar. Embora Joanie não tivesse pedido uma, Claire me disse que Joanie costumava sonhar em morar em uma mansão quando era menina. Eu daria isso a ela, junto com qualquer outro tesouro que ela pudesse querer. Eu daria a ela toda a galáxia se ela pedisse.


No entanto, quando perguntei a Joanie que novo presente eu poderia dar a ela, ela disse que tinha tudo o que sempre quis. — Eu tenho uma casa e um homem que me ama. Tenho minha família e meus amigos. — Ela então segurou a mão sobre o abdômen. — Claro, há uma coisa que espero que um dia acrescente às minhas bênçãos, mas nunca pediria mais do que tenho agora. Eu sabia agora por que ela fez isso, embora tivesse ficado confuso na época. Minha companheira queria ter nossos filhos, embora estivesse com medo de engravidar. Com medo de que terminasse em sofrimento, como acontecera com todas as suas outras gestações. Ela me contou sobre o que chamou de meu ‘‘espermatozóide inteligente’’ e disse que ele procuraria apenas óvulos viáveis. Eu esperava, mais por ela do que por mim, que ele os encontrasse e nos trouxesse um bebê. Quando se tratava de ter filhos, não tinha certeza de como me sentia a respeito. Não que eu não amaria nenhuma criança que criarmos, mas não era o jeito da minha espécie os machos terem algo a ver com sua prole, e de fato, agora que eu tinha o nome científico da minha espécie, entendi mais sobre meu mundo natal e o que eu era. Embora não tivesse DNA de Iriduan, eu também não era igual aos outros Nemonius. Os nanites que foram injetados em mim mudaram muito sobre mim, incluindo minha expectativa de vida. Minha espécie viveu pouco mais de uma década na idade mais velha, o que provavelmente foi uma necessidade, visto que nosso tamanho continuou a aumentar à medida que envelhecíamos. Eu era um jovem adulto quando fui capturado, mal tinha idade para acasalar. Agora, eu viveria por muito mais décadas pelo menos, senão por mais de um século, de acordo com os estudos preliminares de meus nanitos e tecidos pelos pesquisadores médicos aqui no Hierabodos. Porém, além de aumentar minha expectativa de vida, eles


inibiram meu crescimento, de modo que não cresceria mais. Visto que gostava de me encaixar em nossa casa, apreciei que não continuaria a expandir. Eu ainda não lembrava muito do meu próprio passado, embora duvide que houvesse muito para lembrar. Minha espécie passou a maior parte do nosso tempo sozinha, escondendo-se dos leviatãs que dominavam os oceanos do meu mundo natal, que comiam tudo que podiam pegar. Até mesmo nosso próprio povo era uma ameaça para nós, pois representava uma competição constante por alimentos e território. Minhas memórias de acasalamento foram precisas. As fêmeas eram muito maiores que os machos e muitas vezes tentavam matá-los e comê-los depois que depositassem os fios da semente. No entanto, apesar do que eu era, queria experimentar como seria criar meus filhos à maneira do povo de minha companheira. Ela falava com tanto carinho de sua mãe, e agora que minha raiva de papai havia diminuído um pouco, eu também podia me lembrar de boas lembranças dele. Eu me perguntei como seria ser pai de nossos próprios filhos, criar boas lembranças de nós em suas mentes, para que também sejamos lembrados com carinho. Quer isso acontecesse ou não, eu era feliz na vida que agora tinha. Trabalhei com a equipe de exploração marinha Akrelliana para domar essas águas e, até agora, não havia encontrado outro monstro mais assustador do que eu. Nossos esforços visaram não a exploração dos oceanos, mas sim o aproveitamento de seus recursos, sempre com foco na conservação das espécies nativas. Muitas das minhas responsabilidades se concentravam não apenas no mergulho profundo, mas também em sentir a água e a saúde das formas de vida e do ecossistema ao redor para garantir que nossa colônia não colocasse muito estresse nisso.


Tinha grande prazer no meu trabalho e na volta para casa para passar meus momentos de lazer com minha companheira, fazendo exatamente o que estávamos fazendo neste dia de sol. Enquanto eu pensava em nosso futuro, Joanie havia colocado o cobertor na praia e estava arrumando a comida que preparara em nossa cozinha. Ela me pegou olhando para ela e acenou para mim. Juntei-me a ela no cobertor, com cuidado para não chutar acidentalmente areia na comida com meus tentáculos se contorcendo. Ela era uma boa cozinheira, embora insistisse que sabia apenas o básico e queria aprender muito mais. Eu amei tudo o que ela fez, mas, novamente, posso ter sido parcial. Não havia nada que eu não amasse nela. Ela se apoiou nas palmas das mãos e olhou para mim enquanto eu afundava em meus tentáculos ao lado do cobertor. — É tão lindo aqui. Balancei a cabeça, meu olhar sobre ela. Era difícil para olhar para qualquer outro lugar quando ela estava por perto. Amava como a luz do sol refletia nos cachos de seu cabelo, como tinha bronzeado sua pele pálida a um pêssego quente, como a brisa fresca levantou o tecido solto da capa que ela enrolou em sua cintura para expor uma extensão de coxa firme que meu tentáculo arrastou, buscando o calor de seu núcleo. — Lindo. Ela sorriu para mim, empurrando meu tentáculo para longe de sua coxa. — Coma primeiro, antes que esfrie. Então podemos ter um selvagem e louco sexo com tentáculos. Fiz como ordenado, porque não havia nada que eu não fizesse por minha companheira. Além disso, por que não faria com uma promessa dessas? Enquanto comíamos, conversávamos. Joanie tinha conseguido um


emprego no centro de pesquisa marinha, insistindo com um sorriso que havia descoberto um fascínio repentino e intenso por criaturas aquáticas. Os pesquisadores Akrellianos ficaram felizes em recebê-la, apesar de sua falta de experiência. Minha companheira tinha uma mente perspicaz e uma ânsia de aprender, o que a fez aprender o básico rapidamente. Não fiquei surpreso. Sua curiosidade era tão poderosa quanto a minha. Ela gostava de seu trabalho, mas era a construção de nossa casa que a entusiasmava mais. Ela falou de tudo o que planejou durante a nossa refeição e ouvi com um sorriso enquanto comia a comida incrível que ela tinha feito para nós. Para mim, o lar sempre foi qualquer fenda ou caverna segura que eu pudesse encontrar, mas para Joanie, foi um sonho que a fez passar por uma vida difícil. Depois da refeição, enrolamo-nos no cobertor ‘‘apenas abraçando’’, porque Joanie insistiu que precisávamos digerir. Puxei-a para o meu peito e ela se deitou em cima de mim, apoiando o queixo com as mãos. — Então, você vai me mostrar o verdadeiro Nemon? Fiz uma careta, infeliz com suas palavras, embora eu soubesse que o pedido viria em algum momento. Eu não poderia esconder essa forma de mim dela para sempre. Já tinha mostrado a ela um pouco da minha habilidade de mudar mais do que apenas minhas cores, embora uma simples mudança de cabelo ou características faciais fosse fácil o suficiente para não exigir muito tempo ou esforço. Desamarrar minha estrutura óssea para afundar em minha forma mais amorfa e verdadeira não demoraria muito, mas me recompor seria demorado, e eu não poderia imaginar que ela gostaria de estar perto de mim enquanto eu estivesse nessa forma. — Você tem certeza de que deve ver? Não posso apenas descrever para você?


Ela balançou a cabeça, puxando-se em direção ao meu rosto para beijar meus lábios. — Eu quero ve-lo. Juro que não mudará o que sinto por você. — Ela bufou. — Você sabe o que Claire diz que Thrax usa como boca? Eu não acho que nada pode ser pior do que se acostumar com isso. Eu sabia como era a boca de Thrax e tinha certeza de que ela pensaria que minha aparência era pior. Ela não entendia agora, e eu tive o cuidado de não escorregar e mostrar a ela. — Amanhã daremos um pequeno mergulho no recife. Eu te mostrarei então. — Ela já estava programada para mergulhar comigo e com o resto da equipe de pesquisa, e seria seu primeiro mergulho de verdade, embora ela tivesse passado o tempo livre que lhe restava treinando com o equipamento. Ela respirou fundo, então acenou com a cabeça, como se não tivesse certeza se queria ver meu verdadeiro eu. — Ok. Então é um plano. Pelo menos haveria outros por perto. Eu esperava que a presença deles mitigasse o medo e a repulsa que ela pudesse sentir. A equipe já tinha me visto mudar de forma e sabia como era minha forma original.


Capítulo 34 JOANIE Não tive muito tempo para me acostumar com o equipamento de mergulho, mas não era como o que tínhamos na Terra. Era muito mais elegante e sem as barbatanas pesadas e a máscara enorme. Em vez disso, usamos lentes de contato especiais para ver abaixo da água, com apenas uma pequena máscara que nos alimentava de oxigênio de um tanque de respiração. Apesar da nova experiência, não estava nervosa porque estávamos mergulhando, nem porque era um oceano estranho. Esta parte do recife era segura, não muito que pudesse me ameaçar na água quando Nemon estivesse por perto. Eu estava nervosa por não ser capaz de checar minha reação ao que Nemon estava prestes a revelar, a fim de evitar ferir seus sentimentos quando ele me mostrasse seu verdadeiro eu. Sabia que o amava e que nada poderia mudar isso, mas não sabia quanta fé ele tinha nisso, já que ele havia procrastinado em me mostrar esse lado dele por medo de que isso afetasse o que eu sentia. E embora eu soubesse que isso não mudaria o que sentia, ainda temia ser incapaz de não reagir a isso, então foi com certo receio que olhei para a água enquanto o barco deslizava pela superfície. Nemon havia seguido nosso progresso até o recife, nadando logo abaixo da superfície sob a água e me surpreendeu o quão rápido ele conseguia nadar. Ele acompanhou nossa embarcação motorizada sem qualquer sinal de esforço. Quando chegamos ao nosso destino, colocou a cabeça para fora da água, seu olhar imediatamente procurando por mim enquanto eu cambaleava na borda do barco, verificando novamente meu


equipamento enquanto o piloto lançava a âncora. O resto da pequena equipe se moveu ao meu redor, preparando seus recipientes de amostras. Respirei fundo várias vezes antes de mergulhar na água, embora não precisasse porque a máscara me forneceria bastante ar para respirar. Supondo que não entrasse em pânico ao ver meu companheiro. Eu me preparei, mas não pude evitar a onda de ansiedade que passou por mim a cada momento que me trouxe mais perto dessa revelação - essa revelação na qual eu tinha insistido. Assim que saltei na água, Nemon afundou sob a superfície para seguir minha descida, de modo que flutuamos um em frente ao outro. Eu o tinha visto nadar, mas enquanto nos movíamos um pouco além da plataforma do recife - em águas mais profundas - eu o vi de uma maneira completamente diferente. Ele realmente parecia um antigo e primitivo deus do mar - uma criatura fantástica e impossível de beleza não natural e bestialidade aterrorizante em um pacote enorme. Seu cabelo sedoso se espalhou ao redor dele, roçando os ombros largos e musculosos e o tórax, enrolando em torno de bíceps grossos e fortes. Abaixo de suas costelas, suas guelras se abriram e, abaixo delas, sua membrana se flexionou e se contraiu para ajudá-lo a descer e, em seguida, manter sua posição enquanto seus tentáculos balançavam na corrente. Naquele momento, ele parecia um sonho para mim - mais lindo do que qualquer coisa que eu já tinha visto abaixo da água, ou acima dela. Seus olhos me observaram atentamente enquanto me acostumava a nadar com o equipamento de mergulho em tal profundidade. Então, depois de algumas respirações profundas, balancei a cabeça, gesticulando para ele mudar. Seus lábios se apertaram e eu poderia dizer que ele queria se opor mais uma vez, mas não podia falar assim comigo, não sem uma máscara própria, com a qual ele obviamente não se incomodou, porque envolveria inflar


seus pulmões embaixo da agua. Eu soube o momento em que ele decidiu apenas ir em frente e acabar com isso quando seus ombros caíram. Então sua forma começou a derreter. Pelo menos, foi assim que pareceu quando se partiu. Sua pele se suavizou, ficando mais flexível conforme a estrutura óssea sob ela se dissolvia. Eu estava esperando um polvo gigante. Estava preparada para isso, mas não foi bem o que vi quando o manto de Nemon mudou para sua verdadeira forma. A parte superior de seu corpo era apenas um pouco maior do que quando ele estava assumindo uma forma humanóide, mas na forma menos estruturada parecia uma massa enorme, e nas correntes, não se formava em uma forma arredondada como um polvo, mas sim ondulava em uma forma ligeiramente alongada - embora não mantivesse a mesma forma continuamente. Era claramente muito maleável - quase amorfo. Seus olhos tinham uma forma arredondada, mas não tinham crescido enquanto desciam por seu corpo, mais perto de suas membranas e guelras. Eles eram tão pequenos em comparação com o resto dele que quase pareciam desaparecer. Foi sua boca a mudança mais perturbadora nessa nova forma. Ela havia se invertido dentro de seu corpo enquanto ele se mexia, então se reformava sob seus tentáculos. Era uma boca horripilante cheia de várias fileiras circulares de dentes irregulares. Sua mandíbula era enorme e eu poderia dizer que ele estava relutante em mostrá-la para mim, porque a princípio ele tentou escondê-la completamente sob seus tentáculos, mas eu apontei para minha própria boca, me perguntando onde a dele tinha ido, e ele finalmente levantou seus tentáculos para me mostrar. Era grande o suficiente para me engolir inteira se ele me capturasse com seus tentáculos e me puxasse em sua direção e percebi que o que eu vi


quando ele estava em sua outra forma - a que eu beijei - era apenas uma parte daquela estrutura . O resto deveria estar escondido dentro de seu corpo quando ele estava na forma que era mais familiar para mim. Ele estava certo que eu não acharia essa forma agradável. Tudo nele era estranho - exceto seus tentáculos, que eram estranha econfortavelmente familiares. Mesmo pensando que tinha me preparado para essa mudança, eu estava errada. Este não era um polvo bonitinho. Esta era uma criatura mortal vinda das profundezas de um filme de terror - não de um aquário. Tentei manter minha expressão neutra, lembrando a mim mesma que este era meu amado Nemon, embora meu cérebro primitivo quisesse nadar para longe o mais rápido que eu pudesse. Devo ter falhado em esconder minha reação, porque Nemon afundou, caindo abaixo de mim a uma profundidade onde a luz de cima mal penetrava. Eu estava com muito medo de seguir, de mergulhar tão fundo, embora não acreditasse que ele me permitiria descer mais longe do que meu equipamento poderia aguentar. De repente, abaixo de mim, seu corpo se iluminou com bioluminescência que se arrastou ao longo de sua extensão, descendo sobre seus tentáculos estendidos, como letreiros de neon - apenas muito mais sutis e bonitas. Na verdade, o show de luzes foi inspirador. Percebi que a tela foi feita para mim. Não preciso temer aquela boca de dentes enormes e irregulares. Este monstro me amava e buscava apenas me agradar. Forcei-o a me mostrar como ele realmente era, mas eu já tinha visto o que ele realmente era - um lindo companheiro com três corações e uma alma que deu livremente para mim. Eu nadei em direção a ele e assim que notou minha direção, ele surgiu das profundezas para me encontrar, seus tentáculos ainda brilhando enquanto se enrolavam ao meu redor. Estendi a mão para tocar seu manto enquanto ele me puxava para perto dele. Este era o meu lugar.


Completamos nosso mergulho com o resto da equipe, e eu estava entusiasmada com a experiência, mas principalmente por ver Nemon no seu estado mais básico. Ele era assustador, perigoso e ainda bonito. Eu fui capaz de vê-lo reconstruir sua outra forma enquanto nadava coletando minhas amostras e foi uma experiência enervante, mas incrível, ver os músculos e tecidos sob sua pele se transformarem em uma estrutura mais firme, como o rosto que eu amava formado a partir da massa de seu manto, seguido por seu corpo, que assumiu a musculatura espessa que eu havia traçado em cada centímetro em nossa relação sexual. Eu o amava em todas as suas formas. Não tinha duvidado que faria, mas sabia que ele tinha. Esperava agora que ele pudesse deixar essa preocupação para trás. Na marina, Nemon estava esperando comigo enquanto eu verificava nosso equipamento de volta para a estação quando alguém se aproximou. Não percebi quem era até ouvir Nemon cumprimentá-lo. — Já faz muito tempo, Tirel. Afastei-me do contramestre para ver que o Primeiro Comandante Akrelliano, que se tornara nosso amigo, estava ao lado de Nemon, com roupas que para um Akrelliano seriam consideradas roupas civis - na medida em que não eram muitas. Ele tinha um envoltório de tecido que cobria sua virilha e uma gola estilizada em volta do pescoço, e essa era a extensão de sua roupa, que revelava muitos músculos atraentes cobertos por escamas. Disseram-me que os machos Akrellianos não gostavam de cobrir suas penas porque podiam realmente atirá-las contra ameaças, usando isso como


uma medida defensiva. Obviamente, as viagens espaciais tornaram as coisas mais complicadas, já que eles tinham que permanecer com macacões ambientais mesmo quando não estavam fazendo algo fora da nave, apenas no caso de haver uma emergência, mas nas colônias e nos mundos domésticos, os AKrellianos quase não usavam roupas - quando eles eram civis. — Parece que você está de férias, comandante. Ele sorriu para mim. — Saudações, Madame Joanie. Este mundo — ele olhou para Nemon — e seus habitantes, parecem estar te fazendo bem. Você está parecendo bem. Um tentáculo enrolou em volta da minha cintura, puxando-me para mais perto de Nemon. Corei com o tom de cortesia, mas não pensei muito nisso. O comportamento de Tirel não parecia tão calmo quanto seu estilo de vestir ou sua saudação. — Está tudo bem? Ele se aproximou um pouco mais de nós. — Seria possível falar com você em particular? Nemon acenou com a cabeça, levantando um tentáculo para apontar para nossa casa. — Estamos praticamente acabados aqui. Podemos voltar ao nosso chalé para falar. Tirel nos acompanhou ao longo do caminho até nossa casa, todos conversando educadamente e de forma generalizada. Ele nos perguntou como estávamos nos saindo em nosso novo mundo e dissemos como éramos felizes. Em seguida, ele fez alguns comentários vagos sobre pensar que não seria um lugar ruim para se aposentar e que estava ficando cansado de voar no espaço, embora eu soubesse que ele amava o Star Dancer, e


percebi que ele gostaria de permanecer como seu comandante até que se tornasse um velho alienígena trêmulo. Eu me perguntei se Theresa tinha algo a ver com essa nova incerteza nele. Pelas notícias que recebi, Theresa e Tarin relataram meu desaparecimento do cassino naquela noite terrível e voltaram para o Star Dancer, mas seu voo de volta para a Terra não poderia ser atrasado, então elas tiveram que tomar a decisão de ficar com os Akrellianos até que um novo vôo pudesse ser arranjado - o que poderia levar meses ou até anos ou elas teriam que fazer aquele vôo, apesar de não saberem o que havia acontecido comigo. Eu ouvi de Claire que elas ficaram chateados com isso, mas Tarin realmente sentia falta de sua família, e Theresa não suportava permanecer no Star Dancer, então, no final, elas fizeram os Akrellianos prometerem atualizá-las quando eu fosse encontrada e haviam feito seu vôo planejado de volta à Terra. Eu não levei isso para o lado pessoal. Entendi seu raciocínio. Se eu tivesse família em casa, gostaria de voltar o mais rápido possível também e esperava que, uma vez que Tarin fosse deixada na Terra, sua família não a pressionasse muito para explicar onde ela estava. Quanto a Theresa, lamento que sejam quais forem seus problemas com Tirel, eles não puderam ser resolvidos. De alguma forma, eu não achei que aqueles dois voltariam a si. Houve um fim em sua última separação. Pelo menos, a separação que presenciei. Obviamente, não perguntei a Tirel sobre Theresa, nem queria perguntar sobre Tarin, porque então minha omissão de perguntar sobre Theresa teria sido óbvia demais. Em vez disso, mantivemos a conversa com assuntos neutros e, quando chegamos à casa de campo, estávamos conversando sobre


nosso trabalho de classificação e estudo dos ambientes marinhos de Hierabodos V. Assim que nos acomodamos em nossa casa aconchegante, onde Nemon havia espalhado seus tentáculos por todo o chão e paredes para caber, fiz um gesto para Tirel se sentar no sofá e peguei algumas bebidas e lanches em nossa pequena cozinha para sua visita. Quando voltei apressada para a sala de estar carregada com uma bandeja de suco espremido na hora que era semelhante a limões, só que mais doce, e alguns biscoitos que eu tinha feito recentemente, os dois homens já estavam envolvidos em uma conversa que era decididamente menos neutra do que o que sobre a qual havíamos falado na caminhada para casa. Coloquei a bandeja na frente deles e os dois homens pararam de falar por tempo suficiente para pegar uma bebida e um biscoito. Nemon realmente pegou um biscoito em três tentáculos diferentes e eu ri, balançando a cabeça para ele. — Guarde um pouco para o nosso convidado. Ele levou o biscoito à boca. — Não posso evitar. É tão bom! Eu ouvi Tirel rir ao meu lado. — Devo admitir, estes são muito bons. Posso pegar mais um? Empurrei a bandeja para mais perto dele. — É melhor você pegar um punhado agora ou Nemon tirará todos eles do prato enquanto você está distraído. Tirel sorriu, e foi a primeira vez que seu sorriso encontrou seus olhos quando ele se inclinou para pegar mais alguns biscoitos. — Vou seguir seu conselho, então. Uma vez que a situação dos biscoitos foi resolvida, eu sentei na minha própria cadeira, próximo a onde Nemon havia se acomodado, apoiado em


seus tentáculos de forma que ele se elevasse sobre minha cadeira. Assim que me sentei, seus tentáculos se enrolaram em volta de mim, alguns envolvendo minhas panturrilhas e tornozelos, alguns deitados em cima da cadeira e um casal se acomodando no meu colo. Ele adorava apenas me tocar. Mesmo quando não estávamos sendo íntimos, ele queria o contato. Já que eu adorava tocá-lo também, o aconchego da nossa casa realmente funcionou bem para nós. Depois que os tentáculos de Nemon se acomodaram em uma posição confortável, voltei toda minha atenção para Tirel. — Então, por melhor que seja vê-lo novamente, suspeito que você não veio aqui para tomar suco e comer biscoitos. Tirel engoliu a mordida que estava mastigando, segurando o que restava do biscoito na mão. — Se eu soubesse que eles existiam, teria dado qualquer desculpa para visitar. — Seu sorriso desapareceu. — Mas é verdade que vim aqui para falar com você sobre outro assunto. É sobre a transmissão. Eu olhei para Nemon, que se virou para encontrar meu olhar. Sua expressão estava triste. — A última transmissão do meu pai aos Akrellianos da nave. Eu balancei a cabeça, lembrando que Halian não havia recuado de volta para a nave com Nemon para escapar da destruição da nave, mas pouco antes da explosão, o piloto da nave pegou uma transmissão criptografada de entrada, junto com uma mensagem para Nemon de Halian. A mensagem tinha sido apenas um pedido de desculpas de Halian pelo que ele fez e pelo que ele falhou em fazer. A parte criptografada estava um pouco mais difícil de decifrar e ainda não sabíamos o que dizia. Tirel tinha acabado seu biscoito quando voltei minha atenção para ele.


— Ainda não temos certeza se a transmissão foi enviada de dentro da nave ou de um capsula, mas a probabilidade de sobrevivência do Professor Halian é muito baixa. Nossa verdadeira preocupação são as informações que ele enviou. Finalmente fomos capazes de decifrá-las. Fiquei tensa, cerrando os dedos no colo, tanto de medo quanto de ansiedade pelo que Tirel diria. — Então, o que Halian arriscou a vida para nos enviar? — Eu me perguntei se valeu a pena e eu ainda não tinha certeza se Nemon seria capaz de perdoá-lo, mas eu sabia que, apesar de sua raiva, ele sofria pelo homem que chamava de pai. Os olhos de Tirel brilharam. — Os dados que ele enviou incluíam coordenadas e uma lista de nomes. Alguns deles são nomes de nossos guerreiros desaparecidos. Acreditamos que sejam os locais de outras instalações para onde nossos homens foram levados, especialmente porque um dos nomes não era um dos nossos, mas já o ouvimos antes. Da Madame Claire. Tive muitas conversas com Claire, mas não conseguia me lembrar de nenhuma que mencionasse nomes em que os Akrellianos pudessem estar interessados, mas, novamente, tendíamos a evitar qualquer conversa que envolvesse o centro de pesquisa. Hoje em dia gostamos de falar sobre nosso futuro, não sobre o passado que ainda nos assombrava. Algum dia provavelmente deveríamos ter uma longa sessão de grupo agradável com um terapeuta, mas as feridas ainda eram muito recentes. — Por que esse nome é importante? — O nome Nahash foi mencionado a Claire durante uma de suas conversas com seu captor, o professor Ilyan. — disse Tirel. — Acreditamos que ele seja outra cobaia de teste como Thrax e Nemon. — Ele gesticulou para Nemon. — Se ele possuir habilidades que estão em qualquer lugar


perto de você e Thrax, não o queremos como nosso inimigo. Preferiríamos torná-lo um aliado, mas, aconteça o que acontecer, precisamos interromper o experimento. Lembrei-me agora de uma conversa anterior que tive com Claire sobre Thrax e Nemon. Ela disse que os Iriduans revelaram que havia três monstros gigantes que eles capturaram para seus experimentos. — Oh, Deus, Nahash é a enorme serpente? — Eu não era fã de cobras, especialmente as gigantes. Pelo que Claire disse, a cobra era maior do que Nemon e Thrax juntos. Tirel concordou. — Nós acreditamos que sim. A natureza do experimento não foi esclarecida, apenas os nomes. Não temos nem certeza de em que condição nossos próprios guerreiros estarão quando os encontrarmos. — Sua voz estava quebradiça de raiva. — Não temos ideia do que esperar. Os tentáculos de Nemon ficaram tensos no meu colo. — Você está aqui para me pedir para ajudá-lo a recuperar seus guerreiros e este aliado em potencial? Tirel balançou a cabeça. — Não estou aqui a título oficial. Se os anciãos quiserem perguntar ao seu ajudante eles próprios o farão. Eu só queria informar a você que seu pai havia enviado informações valiosas para nós - informações que podem libertar nossos próprios guerreiros dos Iriduanos. Por isso, o Dançarino o homenageia. Eu queria que você soubesse disso. Os tentáculos de Nemon apertaram meus tornozelos como se buscassem conforto. — Obrigado, Tirel. Agradeço que você tenha compartilhado isso comigo. — Seu tom não revelou nenhuma emoção que senti nos tentáculos me tocando.


Tirel acenou com a cabeça e então se levantou, sua cintura se separando para revelar uma bela vista de coxas muito musculosas antes que eu rapidamente desviasse o olhar. Ele era um alienígena bonito, mas não havia nenhum homem que eu achasse mais bonito do que meu companheiro. — Eu não deveria tomar mais seu tempo. — Ele disse, virando-se para a porta, revelando que as penas em suas costas estavam o mais planas possível, fazendo apenas uma leve corcova. Eu sabia pelas imagens que tinha visto de AKrellianos no que eles chamavam de ‘‘dança de combate total’’ que eles eram intimidantes quando estendidos totalmente, mas Tirel não tinha razão para se sentir ameaçado em nossa casa. Pus-me de pé. — Oh, eu esperava que você ficasse para o jantar. — Ele hesitou por um momento, então balançou a cabeça, sua expressão parecendo genuinamente arrependido. — Eu gostaria, mas tenho medo de que haja coisas que eu preciso cuidar. — Seu tom melancólico não convidava a perguntas. Seu olhar percorreu a decoração da sala de estar. — Você tem uma bela casa aqui. Estou feliz por vocês dois. — Ele olhou para cada um de nós e então se encaminhou para a porta. — Eu os invejo. Corri para abri-lo para ele, mas o tentáculo de Nemon chegou antes de mim, já que ele nem mesmo teve que se mover de seu lugar ao lado da minha cadeira. Despedimo-nos de Tirel e, enquanto ele se afastava, as penas mudando com os passos, perguntei - me quando - ou mesmo se - o veríamos novamente. Voltei para Nemon e me sentei na cadeira, puxando seu tentáculo de volta para o meu colo para acariciar meus dedos sobre ele.


— Você acha que os Akrellianos vão pedir que você os ajude? — Eu queria que a resposta fosse não. Não que eu não apreciasse tudo o que nossos novos aliados tinham feito por nós, mas sabia que Nemon não seria capaz de resistir a concordar com tal aventura e temia por sua segurança. Embora ele se colocasse em algum perigo cada vez que explorasse os oceanos de nosso novo mundo, eu me sentia mais confiante de que ele voltaria todas as noites do que se ele decolasse em uma nave espacial para caçar aquelas terríveis pesquisas de Iriduan instalações. Eu também sabia que os Iriduanos adorariam nada mais do que recapturar Nemon e todos os nanites em seu corpo. Não podia suportar esse pensamento. Ao mesmo tempo, não diria que ele não poderia ir, porque sabia que ele ouviria minhas palavras, mas não gostaria que ele se ressentisse por eu as ter pronunciado. Ele estava curioso. Sobre tudo. Que direito eu tinha de impedi-lo de explorar e aprender, e que direito eu tinha de impedi-lo de ajudar nossos aliados? Suspeitei que Claire pudesse se encontrar na mesma posição, porque se os anciões pedissem a ajuda de Nemon, eles provavelmente pediriam a de Thrax também. Decidi que não me preocuparia com isso agora. Em vez disso, iria me aconchegar com meu companheiro, embora, dada a forma como seu tentáculo se enterrou entre minhas coxas, não acho que vamos parar de nos aconchegar e eu estava mais do que bem com isso.


Epílogo JOANIE O cemitério era uma joia verde no deserto circundante e, como era de manhã cedo, a umidade dos irrigadores ainda brilhava nas grossas folhas de grama. A forte luz do sol do deserto iria secar a umidade no final da manhã. O ar estava pesado com o cheiro de terra de grama cortada e solo recémrevolvido, um pouco aliviado por uma brisa suave carregando a fragrância de flores cortadas. Eu encarei a lápide. Em Amorosa Memória de Helena Elizabeth Campbell. Tirada cedo demais de nossas vidas, mas nunca saiu de nossos corações. Havia uma imagem gravada acima do epitáfio, que me fez chorar. Seu rosto ainda estava tão claro em minhas memórias. A foto esculpida a laser não fazia justiça. Fiquei surpresa ao ver flores frescas no vaso de mármore que cobria a pedra. Parecia que mesmo depois de todos esses anos, Brandon ainda se lembrava de minha mãe e continuou a visitar seu túmulo. Eu não sabia quem mais teria trazido seus lírios de tigre favoritos, suas pétalas manchadas de laranja vivas fornecendo um toque de cor brilhante contra o mármore cinza. Meu bebê se contorceu em meus braços e me inclinei para beijar sua cabeça peluda. Ele bocejou e abriu os olhos, olhando para o meu rosto com suas pupilas estranhas contra suas íris cinza pálido. Tirando seus olhos, ele parecia muito com minha mãe nas raras fotos de bebês que ela conseguiu ver para me mostrar. Eu sabia que ele seria uma imagem cuspida dela. Quando ele quis ser. Minha atenção foi desviada de meu filho quando minha filha se ajoelhou em frente à lápide para adicionar nosso próprio presente de lírios


aos que já estavam no vaso. Depois de organizá-los cuidadosamente, ela virou a cabeça para olhar para mim, seus olhos cinzas procurando pelo meu aceno de aprovação. Seu rosto era quase uma imagem espelhada do meu. Neste momento. Quando ela não estava se sentindo satisfeita comigo, ela mudava isso apenas para me irritar, mas, novamente, ela estava passando por um momento difícil para lidar com a puberdade. Tínhamos muitas discussões agora que ela tinha quase treze anos, mas ela ainda era minha doce garotinha, mesmo que me preocupasse com ela - e às vezes apenas Nemon conseguia fazê-la se comportar e convencê-la a parar de imitar os vizinhos para fins maliciosos. Hoje, ela estava em seu melhor comportamento, e esteve nas últimas duas semanas, desde que chegamos à Terra e eu dei meus primeiros passos em meu mundo natal depois de ter sido sequestrada há muito tempo. Ela parecia entender, mesmo em sua tenra idade, que aquela era uma ocasião séria para mim e ela tinha ficado fascinada com um mundo que nunca tinha sido capaz de visitar. Não até agora. Eu vim aqui em uma peregrinação, procrastinando minha viagem mesmo depois que as coisas mudaram com a humanidade e finalmente fomos capazes de viajar abertamente. Eu precisava visitar minha mãe. Não queria nada mais do que apresentar seus netos a tudo o que restou dela além das memórias que ainda guardava em meu coração. Disse a eles histórias sobre como ela tinha sido maravilhosa, quão forte, quão bonita, quão amorosa. Por meio de minhas memórias e das de meus filhos, eu estava determinada a mantê-la viva, mas o túmulo, por mais bonito que fosse, lembrou-me de que ela se fora e senti aquela dor como se nunca tivesse tido tempo de desaparecer. Helen se levantou novamente e deslizou sua mão quente na minha, apertando meus dedos.


— Está tudo bem, mamãe. Não chore. Vovó ainda está cuidando de nós. Exatamente como você disse. Tentáculos enrolaram em volta dos meus ombros e me inclinei para trás no abraço do meu companheiro enquanto ele enrolava outro tentáculo ao redor do nosso filho para tirar seu pequeno fardo de mim para que eu pudesse segurar Nemon com as duas mãos enquanto eu desabava e chorava. Ele me virou e me apertou contra seu peito, seus tentáculos acariciando minhas costas enquanto minha filha também me abraçava, seus bracinhos envolvendo minha cintura, que havia se expandido com o tempo e duas gestações. Meu companheiro ainda disse que achava que eu era a mulher mais bonita da galáxia. Depois de recuperar o controle de minhas emoções, me despedi de minha mãe pela última vez, duvidando de que faria outra viagem à Terra. Eu tinha um novo lar agora, em Hierabodos V. Eu havia me tornado uma importante pesquisadora - um especialista na vida marinha de meu novo mundo natal. Agora tinha um diploma equivalente a um Ph.D. na Terra e passei muito do meu tempo viajando para mundos controlados pelos Akrellian e o Sindicato falando em fóruns sobre a vida marinha e esforços de conservação colonial. Meus muitos artigos sobre o assunto foram amplamente publicados e ensinados em universidades galácticas. Meu companheiro era um dos exploradores marinhos mais procurados da galáxia e tínhamos ganhado muito mais riqueza em nossas vidas do que precisávamos, mas a verdadeira riqueza que tínhamos eram os dois filhos preciosos com os quais fomos abençoados e o amor poderoso que compartilhamos um pelo outro. Nunca me cansei de amar Nemon. Meu corpo sempre desejou seu toque e a cada ano ele parecia mais lindo e precioso para mim. Eu não podia acreditar agora como fiquei perturbada com a ideia de que ele não era o


homem que eu pensava que fosse, quando ele acabou se tornando muito melhor. Eu olhei em seu rosto, ignorando a multidão de repórteres que se reuniram além dos limites do cemitério, seus fotógrafos tirando fotos e fazendo vídeos meus e de minha família que sem dúvida se tornariam virais. Estávamos acostumados com a atenção da mídia e os humanos não se cansavam dos alienígenas que agora andavam abertamente em seu planeta. — Então, quando poderei experimentar o Starbucks? — Minha filha perguntou, trotando junto com suas duas pernas humanas ao meu lado. Ninguém na multidão poderia adivinhar que ela poderia transformar aquelas pernas em tentáculos, já que certamente não anunciamos suas habilidades de mimetismo. Para os humanos que olhavam para nós, Nemon parecia ser o único alienígena entre nós. Olhei para meu companheiro. Ele era realmente estranho e eu amava tudo nele. Ele chamou minha atenção e piscou, então se dirigiu a nossa filha. — Sua mãe diz que não te faz bem tomar café. Isso vai atrapalhar o seu crescimento. Helen olhou para ele com consternação, puxando as sobrancelhas em uma pequena carranca. —Então, se eu beber, não serei gigantesca como meu pai? Nemon sorriu. — Foi o que eu ouvi. Ela exalou um suspiro desapontado. — Ah, eu realmente queria provar um pouco disso também. Ava disse que sua mãe a deixa beber toda vez que vêm à Terra. Passei meu braço em volta do ombro dela.


— Acho que podemos abrir uma exceção desta vez. Afinal, talvez não queiramos que você cresça tanto quanto seu pai. Teríamos dificuldade em encaixá-la em nossa nave. — Sim! — Ela se afastou de mim para dar uma voltinha enquanto nos aproximávamos do transporte particular de luxo que pairava sobre a calçada, esperando para nos levar de volta para a área do resort onde estávamos hospedados. Nossa equipe de segurança acenou para nós enquanto subíamos no grande veículo, que ainda não era grande o suficiente para permitir que Nemon se sentasse confortavelmente. Ele estava acostumado a caber em espaços apertados, e estávamos acostumados a sermos espremidos junto com ele. Fizemos as coisas funcionarem. Nunca parava de me surpreender como os humanos eram adaptáveis quando se tratava de se ajustar a novas situações bizarras. Eu não apenas provei isso, mas também a humanidade.

Fim ...


Notas [←1] Namorado em inglês é boyfriend. Em uma tradução literal boy = garoto, friend = amigo.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.