01 - Healing Hands Stella Cassy

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SUMÁRIO ............................................................................................................................... 6 CAPÍTULO 1 ........................................................................................................................... 7 ROTHREN .......................................................................................................................... 9 CAPÍTULO 2 ......................................................................................................................... 19 MARIE ............................................................................................................................... 19 CAPÍTULO 3 ......................................................................................................................... 29 ROTHREN ........................................................................................................................ 29 CAPÍTULO 4 ......................................................................................................................... 39 MARIE ............................................................................................................................... 39 CAPÍTULO 5 ......................................................................................................................... 49 ROTHREN ........................................................................................................................ 49 CAPÍTULO 6 ......................................................................................................................... 58 MARIE ............................................................................................................................... 58 CAPÍTULO 7 ......................................................................................................................... 67 ROTHREN ........................................................................................................................ 67 CAPÍTULO 8 ......................................................................................................................... 76 MARIE ............................................................................................................................... 76 Fim.......................................................................................................................................... 81




A luz do nosso sol é fraca, muito fraca, nestes anos de morte. É uma maravilha que nossas planícies já tenham sido verdejantes como meu pai uma vez disse. Nasci muito depois desse tempo, agora a comida é tão escassa que é difícil acreditar em um poder superior. Quem faria o mundo como é, e depois nos condenaria a sofrer assim? Pois certamente, se criou este mundo, também criou o Neff. Parece inócuo. Eu debateria isso com veemência, enquanto sento-me aqui na enfermaria de Laskel, segurando a mão da minha filha. Suas guelras vibram fracamente em ambos os lados de sua mandíbula. No passado, a pele dela era da mesma beleza de creme e azul que a minha. Hoje, o azul perdeu o tom do céu assemelhando-se mais a um crepúsculo triste e agonizante. Os tons creme foram lavados também, e agora são da mesma cor que compõem a tenda que nos rodeia. As minúsculas bolhas rosadas se destacam contra seus braços. O vírus Neff é incrivelmente contagioso, mas eu não vou me sentar ao seu lado com luvas e uma máscara enquanto ela


toma suas últimas respirações. Fiz isso com a mãe dela e vi a repulsa refletida nos meus próprios olhos. Na verdade, ela ficou cega muito antes que a doença a levasse, mas vi que criatura egoísta eu era. Isso foi o que importou. Laskel é a parada final antes de Eilari se juntar a sua mãe. É a parada final para a maioria das pessoas nessa área afetadas pelo Neff. Quando a doença apareceu pela primeira vez, matou apenas alguns por dia. Ainda tínhamos tempo para realizar ritos fúnebres, acendendo fogueiras para lamentar nossos mortos antes que o ritual da terra fosse necessário para prepará-la para os outros. Agora a terra está cheia de cadáveres em decomposição e ninguém mais se incomoda em apagar o fogo. Simplesmente adicionam mais corpos. Em desespero, enviamos mensagens para além das estrelas para vários dos nossos aliados. Os Mouls são muito próximos dos nossos próprios genes para arriscar seus pescoços por nós. Os Enthinakisart são muito moderados com seus recursos. Para nos salvarmos, mesmo que restem poucos, talvez tenhamos que quebrar a vontade de nosso monarca. Somos proibidos de entrar em contato com os terráqueos, mas, do jeito que estamos, eles parecem ser os mais próximos no universo que têm quase a mesma tecnologia que nós. Talvez os médicos deles vejam algo que estamos perdendo.


Ou talvez não, e aí perderemos a luta contra essa praga. Podemos desmoronar por dentro e perder tudo o que nos resta. Olho para baixo para ver minha filha olhando para mim. Ao contrário de sua mãe, ela não recebeu o dom da cegueira. Quando olha para si mesma, vê as pequenas bolhas que a matam. Eu enrolo meu rabo ao redor dela e tento não prender a respiração enquanto as preciosas guelras tremulam, depois caem, mais fracas conforme o tempo passa. —Telo? — Ela pergunta, sua voz fraca. Seus minúsculos caninos prematuros nunca se transformarão nas presas que pressionam meu lábio inferior quando me chama pelo nome. Ela nunca terá essa chance. — Estou aqui. — Murmuro em retorno. — Onde? Seus olhos me olham sem ver. Eu provo sangue, as pontas das minhas presas perfurando a carne. Eu não posso evitar. É isso. Ela tem apenas quatro anos de idade. É tudo o que sempre terá. Tento responder, mas as palavras não vêm. Em vez disso, meu rabo aperta em torno dela. Leva um momento para perceber que suas guelras pararam de se mover. Até mesmo a agonia da morte é pouco mais do que algumas contorções tristes de seus dedos.


Lágrimas caem, aumentando a quantidade quando a minha situação se assenta como um cobertor em volta dos meus ombros. Estou sozinho. Ela era tudo que me restava. Uma enfermeira vestida em mais camadas do que eu posso contar vem me guiar para longe. Vou ter que passar por uma estação de limpeza para voltar para minha casa, entre a pequena população que resta. Mas qual é o ponto? A limpeza constante não fez nada por nós. O Neff continua a se espalhar, não importando o que façamos. A enfermeira é muito gentil comigo. Em dias melhores, eu seria gentil, estaria grato. Hoje, deixo minha filha em uma cama, que acolherá outra pessoa

que

também

está

morrendo

no

momento

em

que

a

removerem. Minhas guelras apertam firmemente contra os lados do meu queixo e parte de mim deseja que fosse meu cadáver, não o dela. Eles se importam bastante com as crianças órfãs que são deixadas. Ela teria sido cuidada. Minhas roupas serão queimadas. Eu sou despido, empurrado para uma unidade de limpeza, e a gentil enfermeira aperta o botão. Ela sai. Suspiro quando a estranha gosma verde escorre pela minha cabeça, uma bola ou duas ficando presas aos meus chifres. Sacudo e prendo a respiração. Não sou fã disto e não consigo acreditar que faça algum bem.


O secador começa a funcionar e a gosma explode em pó. Este material antiviral cobre cada centímetro do meu corpo, supostamente matando o Neff. Se esse lamaçal o mata, por que não fazem uma engenharia reversa de algum tipo de vacina ou medicamento? Ele reveste minha língua, apesar de prender a respiração e tem gosto de metal. Se não fosse totalmente indelicado, eu estaria cuspindo em todo lugar agora. Logo, a porta se abre e me libera de volta ao meu mundo infectado. Ando os poucos passos para um tanque de água e mergulho, glorificando o uso dos meus pulmões. Respiro água pura e limpa antes de emergir para provar o ar mais uma vez. No extremo oposto da piscina, outra enfermeira me espera com uma nova peça de roupa. Eu olho para ela e vejo um par de enfermeiras se aproximando do fogo mais próximo. Entre elas está uma pequena forma embrulhada em preto. Com profissionalismo clínico, eles jogam o corpo da minha filha na pilha com o resto. Eu vejo como as chamas a levam para casa, de volta para sua mãe e seus irmãos. E pela primeira vez desde que o Neff apareceu, considero me juntar a eles. —Você está saindo ou o não? —Pergunta a enfermeira. Isso me leva de volta à realidade e olho para ela. —Era a minha filha. — Eu respondo, minha voz vazia.


—Tivemos muitas filhinhas de muitas pessoas hoje. Você está saindo, ou eu tenho que chamar alguém para te ajudar? — Ela responde. O breve alívio de estar mais uma vez na água acabou. Eu nado em frente e passo para o patamar com um suspiro abafado. Com as roupas nas mãos, me visto e caminho o resto do caminho para casa. Passo por mil casas vazias para encontrar a minha, todos os seus proprietários há muito falecidos. Nossas cúpulas de pedra nunca foram meu domicílio favorito, prefiro o modo como os Mouls constroem suas estruturas em madeira. Ainda mais agora que são apenas um lembrete de nossa civilização fracassada. Tumbas sem corpos. Minha casa faz um rápido exame genético antes de eu entrar, só para ter certeza de que pertenço a ela. Uma vez assegurada, uma comporta de ar se abre e entro. A porta se fecha e a câmara se enche de água rapidamente antes que possa seguir. Minha companheira nunca se importou muito com água, mas depois de sua morte esperava que um cenário mais natural encorajasse a saúde da minha filha e a minha. Os cientistas dizem que nascemos dos lagos, afinal. Não fez nenhuma diferença, claramente. Nado até o andar de cima em direção ao quarto dela, minha mente se afastando. Possuo uma nave que é capaz de voar para a Terra. Poderia ir até lá, buscar alguns humanos inteligentes e fazê-los


investigar isso antes mesmo que a monarquia soubesse que tinha ido embora. Não poderia? Se descoberto, a sentença é ser forçado à esterilização e exílio em um dos muitos desertos que compõem a metade do planeta. Sem acesso a água, comida e sem cuidados com a cirurgia de esterilização, eu provavelmente morreria dentro de um dia ou dois. A infecção se instalaria prontamente e, com o Neff completamente descontrolado, tenho pouca dúvida de que isso me levaria rapidamente. Eu olho em volta do quarto da minha filha e sinto uma mão invisível apertar meu coração muitas vezes quebrado. O que tenho a perder? Pela última vez, dormirei na casa que construí para impressionar minha companheira. Durmo na cama da minha filha, sonhando com um tempo melhor. Nós fomos para um rio uma vez, quando ela tinha apenas alguns meses de idade. Ensinei-a a nadar naquele dia. Ela foi para a água como uma scoo, mergulhando e correndo como se tivesse nascido para isso. Agora, só posso imaginar o que ela poderia ter se tornado. Teria sido uma mergulhadora, caçando comida nas profundezas? Talvez tivesse sido uma dos poucos cirurgiões que cuidam daqueles que preferem viver no mar, antes que o Neff matasse a todos. O sol fraco me acorda, enviando um arcoíris ao redor do quarto da minha filha. Por um bom momento, esqueço que nunca vou ouvir ela


me chamar de Telo novamente. Ela nunca mais chamará a mãe dela, Ala. Eu estou destinado a outros empreendimentos, outros lugares, que realmente não consigo imaginar. Saio da minha casa uma hora antes do amanhecer. Meu bairro está deserto, embora não espere que minha vizinha restante esteja acordada a esta hora. É uma mulher idosa, sozinha. Espero que alguém olhe por ela quando partir. Pensando nisso, deixo uma nota. As enfermeiras ainda vêm checar nossas casas procurando por possíveis mortos. Eles vão encontrá-la e cuidar dela. — Sinto muito por sair sem dizer adeus. — Sussurro para a porta. — Mas talvez, se eu for agora, possa salvar os poucos de nós. E talvez, se tivesse ido mais cedo, tivesse conseguido salvar minha família. Aperto meu queixo, minhas guelras brilhando com o próprio pensamento. Não, eu não teria ido embora. Os médicos não nos asseguraram durante o surto inicial, nos dizendo que tinham tudo sob controle? O Neff era pouco mais que um vírus pequeno e chato que desaparecia dentro de um a três dias e todos estaríamos de volta à vida normal. Então, três dias depois, as pessoas cobertas de

manchas

cor-de-rosa

começaram

a

desmoronar nas ruas e o sangue correu nas sarjetas.


Bato minha mão no painel de abertura e entro minha nave. Há uma estação de suprimento constante de alimentos saudáveis que preferiria não ter. Eu pego um pacote do meu doce favorito e sento no painel de controle. —Feche e prepare-se para o lançamento. — Murmuro. — Claro, Rothren. — E logo depois o motor da neve ronca de volta para mim. Minha mão faz uma pausa dentro da bolsa. Eu não ouvi a voz do comando desta nave em... um ano? Tem sido realmente um ano agora? —Este voo não será registrado. — Digo, esperando ouvir a voz dela novamente. Meu desejo é concedido. — É contra a regulamentação pilotar uma embarcação sem registro. —Eu sei. — Respondo. —Como quiser, capitão. — A nave responde. É uma tentação não fazer mais nada além de sentar aqui e ouvi-la repetir meus comandos, me lembrar de códigos, ou mesmo apenas ler o antigo registro neste navio. Mas se quiser ajudar as pessoas, como meus vizinhos, não tenho tempo para isso. — Conclua os preparativos de partida. — Ecoa ao longo do cockpit.1

1 Espaço onde se aloja o piloto nos aviões, nos carros de corrida ou em algumas embarcações.


— Lançamento, destino Terra, 1.9 gammat 2.06.0. Desta vez, não há resposta. Os motores ressoam e, em algum lugar, uma sirene imediatamente começa a soar. Em outros tempos, haveria um bando de guardas correndo para atirar no céu. Com a maioria deles mortos há muito tempo, minha nave escapa para cima e longe do alcance de nossas armas sem nenhum problema. Eu vejo como meu nebuloso planeta cor de poeira desaparece atrás de mim. Os fogos ardem mais fortes que nunca.


Às nove horas da manhã, todos os dias sem falta, você me vê na clínica. Há muitas pessoas dependendo de mim para estar aqui, não posso aproveitar os dias de férias que salvei ao longo dos anos. A Sra. Johnson precisa de uma cataplasma para sua gota e o Sr. Croft está sentindo muita dor; apenas uma garrafa de óleo CBD2 pode ajudar. Em um ponto, eu cultivei metade desses remédios no meu quintal. Isso foi muito antes deste lugar vir a existir. Tem sido o trabalho de uma década inteira, mas finalmente temos uma clínica que é tão razoável e produtiva quanto qualquer consultório médico típico. Na verdade, o escritório tradicional da minha irmã fica do outro lado da rua. Nós trabalhamos de mãos dadas, ela me enviando os casos que a medicina moderna não pode tocar e eu enviando-lhe as pessoas que pensam que uma tintura vai curar seu câncer de estágio IV. Claro, provavelmente vai ajudar com inflamação ou dor, mas ela tem acesso a coisas que podem enviá-lo em remissão. E não, não importa o que você ouviu sobre a última moda com açafrão este ano. Há coisas ótimas

2

Canabidiol. Óleo a base da planta cannabis.


para pessoas com artrite, coisas que foram testadas para uma variedade de doenças que podem interagir com outros componentes, fazendo-as funcionar. Nós fomos criadas por nossa mãe, abençoada. Ela foi criada nos Apalaches, em uma época que você ainda fervia folhas de amora para tratar o caso ruim de sapinho do seu bebê. Mamãe tinha um respeito saudável pelos médicos, mas muitas vezes a neve bloqueava os caminhos da montanha. E o que você deveria fazer então? Ela nos ensinou o que fazer nessas situações e eu cresci no negócio. Jessie fugiu desse ramo e correu para passar para a faculdade e se tornar o tipo de médico mais respeitado; considerando o título, jaleco branco e tudo. Discordamos da confiabilidade dos medicamentos, do processo de doença no corpo e assim por diante. Mas se uma coisa nova surgisse e ficássemos perdidas, nos voltávamos uma para a outra e fazíamos o mesmo para nossos clientes. Mamãe faleceu há alguns anos, mas pelo menos ela nos viu transformar seu legado em ajuda para muitas pessoas. Eu gosto de pensar que ainda olha por nós, guiando os casos mais difíceis através de nossas portas porque sabe que cuidaremos deles. Não sei se é esse o caso, mas espero. Alguém tem que estar me enviando todas essas pessoas, de qualquer forma.


Folheio o jornal - sim, mesmo hoje em dia - até encontrar meu artigo de astrologia para o dia. — Escorpião. — Leio em voz alta. — Esta noite trará coisas maravilhosas como nunca sonhou ser possível. Minha língua sai quando pego meu telefone para ver uma foto dele. Eu tenho um encontro quente com um cara do trabalho de Jessie. Dr. Scott, eu acho? Não

importa. De

acordo

com

isto,

vou

me

divertir

muito. Pessoalmente, é tudo que preciso. É Jessie quem quer as crianças, a família, todo esse pacote. Eu tenho trabalho suficiente como é. Pessoas e rostos passam pelo meu escritório, simplesmente milhares deles antes da hora do almoço. Eu sei que eles dizem que com trinta anos, você deveria desacelerar e não comer tudo o que quiser. Só porque é delicioso não vale a pena as calorias ou o risco de um ataque cardíaco. Eu concordo com isso de todo o coração, mas há um pedaço de bolo de coco ali na minha frente e eu não como isso em um milhão de anos. E é ele que levo, pago e faço de meu almoço. No final do dia, estou exausta. Começo a repensar essa coisa de encontro. Estou pronta para ir para casa e dormir, mas Scott Warren parece ser algum tipo de Casanova e seria legal deixá-lo me pagar o jantar. Vou para casa e me jogo no chuveiro. É um bom apartamento, mas eu podia pagar melhor.


Eu só estou tentando economizar para um carro que não é da época da minha mãe. Gostaria de algo com um GPS real, sabe? Coloco minhas unhas no couro cabeludo, aproveitando a sensação áspera enquanto limpo minha cabeça. Eu uso meu cabelo pintado por mais tempo do que a maioria na minha idade, tingido de verde nas pontas; fiz isso ainda no ensino médio. Algumas pessoas ainda me olham fixamente quando entro no escritório, pego meu crachá e começo a chamar os pacientes para examiná-los. Limpa, visto um robe e caminho até o meu armário. Não há muito aqui que não seja florido, de cor explosiva, ou algo que você encontraria em um show do Grateful Dead ou Woodstock. Isso costumava deixar minha mãe maluca. Folheando as roupas, vejo um pedaço de pano preto no chão. Há um simples vestidinho preto lá embaixo, completo com uma fina gravata branca. Fácil. Delicado. Básico. Eu o visto sem nem mesmo checar meu reflexo, passo um pente no meu cabelo e pego minha bolsa enquanto vou para fora. —Volto daqui a pouco, Trixie. — Digo para a minha gata deitada no sofá. — Mrrlt. — Ela responde. E então volta a dormir. Ela poderia se importar menos se eu desaparecesse para


sempre,

desde

que

seu

alimentador

automático

permanecesse

cheio. Suponho que ela e eu não sejamos tão diferentes. Tranco a porta atrás de mim e tenho um segundo para notar a estranha luz azul ao meu redor. Então o mundo está de repente escuro, cheio de estrelas e estou olhando para uma coisa que parece ter saído de uma terrível fusão de Avatar e A Bela e a Fera. Por alguma razão, estou no chão. Mas eu não estava apenas de pé? Horrorizada com esta coisa feia, me levanto e esquivo meu corpo para longe, em direção ao corredor mais próximo. Por que estou em um corredor, não tenho ideia. Não estava do lado de fora do meu apartamento? — Espere. — Um educado sotaque do norte chama. Giro em torno, olhando para quem falou, mas tudo o que existe é uma coisa de azul e creme parcialmente peluda, com quase um metro e noventa de altura, que tem chifres e, aquilo são guelras? Ele abre a boca e há dentes suficientes para me moer em pedaços num segundo. —Por favor. Como esta coisa sabe falar inglês, ou qualquer forma de língua humana? Meus dedos arranham minha bolsa por alguns segundos e quando penso que perdi a minha lata de spray pimenta, a minha mão aperta em torno dela. Sacudo e aponto para o rosto da coisa, puxando o gatilho. Nada acontece.


— O que é isso? — Pergunta, inclinando a cabeça para o lado. Seu nariz estranho, úmido e chato quase toca o metal. É estranho mas não... totalmente ofensivo. De tão perto, essa estranha coisa que parece um animal cheira a praia durante o inverno. É um perfume rico e salgado que me lembra das férias com meus avós. —É um spray. Vou borrifar em você! Fique para trás! — Eu aviso. Todo o calor some da minha voz. Ele não parece que quer me machucar, mas, espere um minuto. Puta merda, fui sequestrada por alienígenas! Embora pareça que exista apenas um deles. Os alienígenas costumam andar

em

grupos? Eles

fazem

no

cinema. Eu

simplesmente

não

entendo. Aliens não existem, assim como dragões e todas as outras coisas bobas. Eles são uma invenção de uma mente doente ou uma imaginação hiperativa, ambos os quais podem ser curados por qualquer número de ervas e comer corretamente, a propósito. — O que é um spray? — Ele pergunta. Ele? Soa como um ele. — É esta merda, e não tenho ideia porque não está funcionando. — Rosno virando a garrafa para olhar o tubo.

É

um

dos

piores

instintos

humanos

imagináveis. A explosão de spray me atinge diretamente nos olhos e grito, jogando a lata para baixo e sacudindo os braços. Lágrimas


escorrem pelo meu rosto e a respiração está fora de controle. Agora me desarmei, junto com a completa ruína de qualquer chance que tive de me proteger dessa coisa gigantesca. Algo me pega debaixo das pernas, levanta meu corpo como se eu pesasse tanto quanto uma criança e aperta-me; a brisa balançando o meu cabelo. Há uma grade de plástico no metal e estou caindo na água. — Mergulhe. Você vai se sentir melhor. — A besta encoraja. Não pode doer e, na pior das hipóteses, esta coisa só vai me afogar, certo? Eu tomo o maior fôlego que consigo, que tem gosto de fogo, e mergulho no tanque ao meu redor. O efeito é imediato. Minhas narinas se enchem de água fria e calmante que tem que ser mais do que apenas H2O simples. É como aloe vera em seus braços depois de um dia na praia. O que quer que seja, permite-me abrir meus olhos debaixo d’água. Eles ainda estão queimando, mas o efeito é tolerável agora. Algo que posso suportar em vez de gritar e me bater na cabeça. Ele olha para mim, exalando preocupação com todas as suas características estranhas. As guelras se projetam de ambos os lados de uma mandíbula que é larga e com ossos pesados. Seus olhos verdes escuros piscam enquanto me observa; seu rosto que é muito uma mistura de humano e animal para


suportar. Acho que os chifres finos e ondulados no topo da cabeça são... interessantes. Isso é algo a mais, certo?

Quando ele fecha o topo do tanque, me deixa profundamente apavorada na água, sem maneira de escapar. Ele está batendo em um painel cheio de botões. Uma corrente flui através da água, mas já estou nadando até o topo e ofegando pela pequena quantidade de ar presa sob a tampa. Eu me agarro ao topo, olhos bem fechados. — O que você está fazendo? — Ele pergunta. — Eu não posso respirar! — Eu grito, embora saia baixo e fraco. — Respire, então. — Ele encoraja, apontando para a água. Suas guelras chamam minha atenção mais uma vez e eu entendo. Ele não sabe. Bato no alto do tanque com o punho, tentando respirar o suficiente através do spray pimenta e da água para gritar com ele. Eu finalmente faço. — Humanos não podem respirar na água! Em um instante, a tampa some. Ele a arranca, olhando para mim e oferecendo um braço levemente peludo. Eu agarro, segurando minha querida vida enquanto ele me tira do recipiente novamente. — Minhas desculpas. — Ele franze a testa. — Eu não tinha noção disso. Pelo menos desta vez estou de pé. Com a falta da água, há uma queimação nos meus olhos


novamente, mas não posso fazer nada. Não posso nadar para sempre e ele não tem ideia do que os humanos podem ou não podem fazer, aparentemente. Quando recupero o fôlego, balanço minha cabeça para ele. — Não é sua culpa. Você não sabia. Posso ir para casa agora? — Receio que isso não seja possível. —Diz ele, e sinto meu coração afundar. — Por que diabos não? — Grito. — Você é uma médica, não é? — Ele não se incomoda em responder minha pergunta. Faço uma careta para ele por isso. — Sou uma médica de medicina natural. Para humanos, nada como você. Isso parece deixá-lo perplexo. Boa. Ele merece. E o que quer dizer com isso não é possível? Eu nunca consenti isto. — Meu planeta está sofrendo de uma infecção viral aguda. — Ele finalmente diz. — Um surto. Precisamos da sua ajuda. — E se eu consertar isso, você vai me mandar para casa? — Pergunto. — Se possível, é claro. A monarca pode decidir se é impossível. Eu olho para aquele rosto estranho e não posso deixar de pensar que ele é quase fofo, do mesmo jeito que você gosta de um personagem de desenho animado quando é criança. Minhas


sobrancelhas se franzem. Parece que tenho que ajudá-lo a chegar em casa, há coisas piores lá. —Tudo bem. O que preciso fazer?


Rapidamente esta fêmea humana desliza de aterrorizada para negócios. É uma maneira admirável de agir diante dessa situação assustadora, nova e estranha. Percebo que isto deve ser preocupante para ela. Talvez tenha um companheiro mas olhando para a sua forma, considero que é provável que não tenha filhos. De nossos estudos, os quadris tendem a se espalhar quando elas têm bebês. O dela, no entanto, é bem estreito, assim como tudo o que meus olhos errantes captam. Afasto o pensamento para longe. Os humanos são incapazes de se reproduzir, incapazes de lidar com o acasalamento. Nossos monarcas proclamaram isso desde o começo dos tempos. Há algo que acontece quando se acasala por prazer, mas a coisa toda acaba rapidamente e nunca de forma boa. Por isso, passei a maior parte da minha jovem vida evitando essa armadilha. Eu me pergunto se seria uma armadilha se fosse com um humano, no entanto. Não é como se eles pudessem nos perseguir no espaço já que ainda têm problemas para alcançar sua própria lua. Nós caminhamos em direção ao pequeno laboratório da minha nave. Consiste em apenas algumas mesas, uma câmara de ar para o


descarte e alguns teetereats num terrário meio aquático. Suas milhares de pernas e olhos atraem sua atenção. Ela se inclina para mim, olhando. — O que é aquilo? — Ela pula. —Teetereats. Nada de interessante. Eles simplesmente se saem bem sob estresse, nos dando tempo para experimentar tudo o que precisa ser feito. — Respondo. — Eles parecem com centopeias de cor verde-limão com globos oculares por toda parte. Não tendo noção do que é uma centopeia, simplesmente pisco. Ela balança a cabeça, murmura um educado - deixa para lá - e começa a abrir uma grande variedade de armários. Tudo está escrito em nossa língua. Ocorre-me que isso poderia ser problemático para ela. —Se você precisar de tradução, eu sou capaz disso. —Ofereço. A fêmea vira a cabeça e olha para mim. Ela é muito pequena. — Eu aprecio isso. Não tenho ideia do que todas essas marcas significam nessas coisas. —Ela dá de ombros, colocando uma garrafa de líquido altamente explosivo. Dou um pequeno suspiro de alívio. Acredito que seu termo para isso é nitroglicerina, e embora o composto não seja precisamente o mesmo, as consequências

se

deixar

cair

a

garrafa

certamente são. Ela não tem ideia do perigo em que está, do perigo para o qual a recrutei, e parte


de mim se arrepende disso. Esses humanos são criaturas tão gentis e inocentes e eu devo me perguntar se a monarquia está tentando preserválos. Nosso contato certamente vai provar isso com este humano em particular. Eu nem sei o nome dela. Eles têm nomes, não têm? — Seu companheiro tem um nome para você? — Pergunto enquanto ela cava em uma pilha de vegetação, cuidadosamente selada. —Não tenho um companheiro. Eu acho que ele me chamaria de mel se estivesse interessado? . — O seu nome é vômito de um inseto? — Que pais terríveis ela deve ter tido. Sua risada escorre em meus ouvidos, tão doce que mal consigo ficar de pé. Meus dedos seguram a mesa ao meu lado e eu respiro fundo, tentando não perder o controle. Tal som musical já está bem esquecido em minha casa agora. — Meu nome é Marie Mallory. Bem… — Ela faz uma pausa, olhando para as raízes em pó de um yaril de três folhas. — Mamãe me nomeou Marion. Mas sempre me chamam por Marie. Devo admitir, isso me confunde em algum nível, mas me encontro acenando. Eu daria qualquer coisa para fazê-la rir de novo.


— Isso significa alguma coisa, na sua língua? — Eu era linguista em casa, antes. Mas nunca vi esta palavra. — É francês para Mary, eu acho. — Diz Marie. Por que esta mulher inglesa é chamada de algo francês, não entendo completamente. Mantemos

nossos

nomes

específicos

para

nossas

culturas. Talvez os humanos sejam mais expansivos com essas coisas. Ela arranca raízes, caules, plantas, acho que sabe o que está fazendo, presumo, porque parece estar procurando algo em particular. Nossos médicos trabalham com uma mistura de vida vegetal e componentes químicos. Eu lembro que os humanos fazem basicamente o mesmo. —O que exatamente eu estou tentando curar? — Ela pergunta. — O Neff. É um vírus que ataca o sistema nervoso. Pequenas feridas rosadas aparecem no corpo e os aflitos morrem em poucos dias. Na maioria das vezes, de qualquer maneira, minha filha durou apenas dois dias. — Eu digo. Ela para mais uma vez e franze a testa para mim. — Sinto muito pela sua filha. Meu peito aperta e fecho meus olhos. Isto é um erro. Eu vejo as enfermeiras arremessarem o cadáver fresco da minha filha sobre a pilha em chamas novamente. Pensar que estou aqui olhando para o corpo desta fêmea, enquanto os ossos de Eilari são cinza novas por baixo de


todos os outros que morreram. Tento sacudir a imagem, mas é demais. Ainda estamos a dias de distância até retornarmos ao meu planeta natal. Demorou quase uma semana para chegar aqui. Mesmo que Marie seja capaz de descobrir uma cura, quantos ainda estarão lá para recebê-la quando voltarmos para casa? Eu sou um tolo. Em frente da Marie, sento ao chão e dobro os meus joelhos. Meu coração arde e eu esfrego minha testa. — Ela tinha apenas quatro anos. — Sussurro. — Apenas quatro anos. Nenhuma criança deveria morrer tão jovem. Uma mão pálida e estranha repousa no meu ombro enquanto tento me conter, mas falho. As lágrimas batem forte e rápido, e um soluço vergonhosamente escapa da minha garganta. Esta é minha vida agora, e se ela provar ser outra coisa senão perfeitamente útil, será minha morte. Seus braços deslizam em volta de mim. É um abraço, eu sei dos meus estudos. É muito mais agradável do que poderia imaginar, quente e doce. Posso sentir o cheiro dela no ar, uma mistura de frutas e nozes que é estranho, mas interessante. Excitante. Ela enxuga minhas lágrimas com um pedaço de papel que pegou da bolsa, quando descanso a cabeça no seu ombro e devolvo o abraço com cuidado. Eu não quero machucá-la


de alguma forma. Esses humanos parecem ser um pouco menos robustos do que a minha espécie, considerando todos os nossos estudos. Noto que as lágrimas terminaram. — Não me importo de ajudar a matar um vírus que mata bebês, Rothren. Não eu. Só não quero acabar morta como em algum filme espacial ruim. Ok? — Ela diz. —Quando você aprendeu meu nome? — Pergunto, cuidadosamente passando o dedo pelos cabelos dela. Parece ser a origem desse aroma sedutor. — Está num desenho no cockpit. — Ela suspira. E meu mundo ameaça parar de girar. Tinha esquecido o desenho da minha filha, um esboço preso atrás da minha cadeira. Ela escreveu meu nome muitas vezes em todos os idiomas que ensinei. Eu deveria colocá-lo num selador quando chegar em casa, preservá-lo. Um último presente da minha garotinha. Algo para lembrar dela. As lágrimas vêm espontaneamente novamente. Marie está lá para me abraçar e eu me pergunto o que fiz para merecer isso. Eu roubei esta fêmea de sua casa, sua família, seus amigos e no entanto, ela é tão gentil a ponto de tolerar minhas ações ridículas. Agarro-a por algum tempo e depois me afasto. Ela parece hesitante em me deixar ir, mas há trabalho a ser feito.


— Você tem alguma coisa que pareça com uma pequena flor vermelha? Nós a chamamos de flor de sela, mas você pode conhecê-la por outro nome. Eu não sei é universal. — Ela fala, obviamente tentando me ajudar. — Você acredita que uma flor pode ser suficiente para corrigir este problema? — Pergunto, seguindo-a para a unidade de armazenamento de ervas. — Funcionou para os nativos americanos. Pode funcionar para vocês. — Diz ela. — Nativos americanos? — Não se preocupe com isso. Com a nave no piloto automático, não tenho necessidade real de orientar ou observar para onde estamos indo. Em vez disso, vou com ela e procuramos. Cada pacote tem uma imagem da planta e de onde veio. Ofereço inúmeras para ela inspecionar, mas nenhuma parece corresponder ao que ela tem em mente. A busca é frustrante, mas é o suficiente para afastar minha filha da minha mente. Por agora. —Aha! — Ela canta. É uma das últimas bolsas da nave, uma flor que lembra um recipiente para beber. Há apenas algumas flores secas e cansadas, mas lá estão elas. Olho para essas pequenas flores roxas, achando difícil acreditar que elas possam ser as


salvadoras que estamos procurando. Certamente, os médicos de casa tentaram todas as combinações possíveis de plantas, não? —Isso é exatamente o que estamos procurando. — Marie acena. — Mas também precisamos das raízes. Os caules, as flores e as folhas não servem muito para esse tipo de coisa. As raízes podem ser fervidas, moídas e usadas para fazer coisas de que os milagres são feitos. — É algo que poucas pessoas considerariam ser uma planta medicinal? — Eu pergunto, pegando a bolsa dela. — Não é muito usada, não. O fato de que cresce em seu planeta é incrível, quase inacreditável. — Não. — Respondo, apontando para o pequeno emblema na parte de trás do pacote. — Isto é do seu mundo. Nós enviamos colhedeiras de vez em quando para certas plantas medicinais. Esta deve ser uma delas. — Faz sentido. — Diz ela com um encolher de ombros. — Tem sido usada há milhares de anos na Terra, e para uma grande variedade de doenças. Talvez seja necessário um pouco mais do que isso para começar, mas aposto que é um ótimo começo. Uma flor poderia ter salvado todos eles. Corro meus dedos sobre a bolsa preciosa, o conteúdo dentro é muito potente. Eu tenho as raízes aqui, em algum lugar. Nós simplesmente separamos cada parte da planta e secamos no conservante para

que

nossos

remédios

não

se


misturem. Uma rápida olhada e vejo o sistema de raízes desta planta, bem enterrado no fundo da lixeira. Quantos anos tem sido desde que me incomodei em cavar por aqui, para limpar isso? Quantos dos nossos estocam esse tipo de remédio, não sabendo que a cura estava a poucos centímetros de seus dedos? Se é bastante comum para mim, certamente é comum nos laboratórios. — Podemos pensar numa segunda escolha, apenas no caso de isso não funcionar totalmente? — Peço, minha voz tão educada quanto possível. Confio em seus pontos de vista, mas este é um ingrediente comum no meu planeta. Eu tenho dificuldade em acreditar que nossos cientistas não o viram como uma cura, e o testaram. — Posso tentar arranjar algo com o resto disto. Há algumas coisas boas aqui. — Marie diz e eu relaxo. Ir à monarquia com mais que uma cura, especialmente uma que provavelmente não foi testada por nossos cientistas, é preferível. Por instinto, eu me inclino e a beijo em cima da cabeça. É carinhoso, mas tento traçar uma linha. Eu queria saber o cheiro que cobre seu cabelo. Está próximo, está me engolindo. Fecho os olhos e, por um momento, permito-me ficar lá e inalar. — Você gosta disto? — Ela pergunta, sua voz ronronando.


Eu abro um olho o suficiente para espiar, a tempo de sentir a mão dela arranhar a penugem cremosa no meu peito. Um gemido suave e fraco deixa minha boca antes que eu possa protestar. Eu a ouço rir e meus dedos dos pés quase se enroscam. Ela não tem ideia do que me faz com sua voz.


Quando meu horóscopo disse que seria um inferno de uma noite, eu com certeza não esperava por isto. Agora estou resolvendo problemas de alienígenas que estão muito longe da minha casa, minha gata não se importa e minha irmã está completamente inconsciente do que está acontecendo comigo. Nunca pensei que seria assim que morreria, mas hey, a vida é cheia de surpresas, não? Eu coço o peito de Rothren, ficando bem ciente do tom baixo, estrondoso, quase um ronrono, que emite quando geme. Se fosse um homem humano, pensaria que estava ficando excitado. Então, novamente, o Terra Nova3 do meu amigo faz o mesmo som quando você coça as orelhas e certamente eu não sou especialista em qualquer tipo que seja o Rothren. Mas talvez não esteja muito longe da verdade. Algo duro bate no meu cotovelo e a própria ideia do que pode ser, trava a minha respiração por um instante. Continuo coçando a penugem, já que está claro que ele teve momentos difíceis ultimamente, mas desvio um olhar precário sobre o ombro e, oh.

3

Raça de cães.


Uau. A coisa toga que ele está usando não faz nada para esconder o eixo protuberante contra o pano. E esse eixo parece ser tão longo quanto o meu braço. Tudo o que estou dizendo é que talvez haja algum cavalo em seu passado. Ou elefante. Baleia? — Peço desculpas. — Diz, chamando minha atenção para longe de seu impressionante membro. — Por que você se desculpa por isso? — Eu rio. Outro arrepio corre através do seu corpo e ele morde o lábio inferior. Seus quadris saltam discretamente. Ele gosta da minha risada, de todas as coisas? Não posso deixar de imaginar esses alienígenas gargalhando no rosto um do outro como hienas, meio-coito, contorcendo-se e gemendo e… Deus, por que isso me excita? Não me entenda mal, é engraçado ao mesmo tempo, mas ter esse controle sobre Rothren, depois de ter perdido todo o resto na minha vida, é um benefício muito grande. Quando penso em sua toga, me pergunto o que ele acha do meu pequeno vestido preto? Não é como se tivesse alguma maneira de avaliar se é normal eu usar, certo?


— Ele faz coisas insensíveis com bastante frequência. — Ele suspira, se inclinando, e eu coço outra parte do seu peito. — Acho que é uma coisa comum entre homens humanos e você. — Eu sorrio. Sou recompensada com o que suponho ser uma pequena risada dele. O som é irritante, mas não necessariamente desagradável. Só não estou acostumada com isso. Tendo escutado tudo sobre seus problemas recentes, é bom ter uma risada dele. Não faço muitos homens rirem, não sou exatamente a pequena Miss Popularidade. Claro, tinha muita atenção quando estava disposta a dar, mas poucos ficaram interessados em folclore e ervas como eu. Pergunto-me quais são seus pontos de vista sobre o folclore. Quando recuo, meu cotovelo bate na borda do seu eixo e ele dá um chiado tão puro e frustrado que realmente não posso me ajudar. — Quanto tempo passou? — Pergunto enquanto deixo minha mão cair de seu peito, mais e mais baixo até, ah, lá vamos nós. Em resposta, ele treme sob o meu toque. Há muito tempo, então, não é? — Mais tempo do que estou acostumado. — Ele grita enquanto meus dedos viajam por todo o seu comprimento.


O toque é leve, provocante. Eu gosto do jeito que ele se contorce. Não pretendia fazer sexo hoje à noite? Pelo menos Rothren é interessante, mais do que apenas um rostinho bonito do outro lado da rua. Meus dedos enrolam em torno de sua cintura e dão a ele o menor aperto possível. O suspiro que deixa sua boca incrivelmente presa é música para meus ouvidos. Tenho certeza de que posso fazer com que faça esse som novamente. Sem me preocupar em pedir permissão, dou-lhe alguns golpes bruscos. Seus olhos rolam para trás em sua cabeça e isso é tudo que eu preciso. Me abaixo, descarto o pano para deleitar-me com o…, o que na Terra é isso? Existem três pontas na cabeça do pênis, cada uma enrolada como um saca-rolhas. Como estão enroscadas, apenas se vê bem a mais alta, embora todas as três sejam incrivelmente duras. Eu tenho que dizer, sou uma garota razoável, mas mesmo nos meus dias mais loucos na faculdade, nunca fui presenteada com três coisas para me empalar. Minha mente trabalha, fazendo todo tipo de uso da minha imaginação. Um para cada mão, mas para onde irá o terceiro? Minha língua desliza sobre sua cabeça e suas unhas cravam em suas palmas. Ele tem gosto de arroz de sushi perfeito, salgado, mas apenas com uma pitada de doçura sob toda a salmoura. Quero mais e aproveito o fato de que ele não disse


não. Deslizo para baixo até que sua cabeça repousa na parte de trás da minha boca, saboreando-o. O fluxo de palavras que saem de sua boca é completamente estranho para mim, mas qualquer garota com um pouco de experiência sabe o que aqueles suspiros ofegantes significam quando vêm de um homem duro como pedra. Ele está praticamente implorando por mais, então respiro fundo e dou a ele. Isso é imediatamente um erro. A ponta central é tão grossa que minha garganta incha quando entra, cortando completamente o ar. Minhas mãos apertam os outros dois, segurando-o perto, enquanto luto com o reflexo de engasgar. É então que as mãos dele vêm ao meu cabelo e tentam me afastar. Fiz algo errado? Eu olho para ele, confusa. Ele certamente não parecia estar protestando. — Se você continuar fazendo isso, não vou durar. — Ele respira, seu aperto tão suave quanto possível. — Deixe-me ajudá-la. Infelizmente, tenho que perguntar. — Ajudar-me? Como se tivesse encorajado alguma coisa, ele me agarra e me levanta como se não pesasse mais do que um saco de compras, colocando-me

em

uma

mesa

próxima

pressionando aquele longo focinho abaixo da minha saia. Parece que sua língua também é de três pontas. Melhor ainda; todas elas se movem

e


individualmente. Sinto arrepios na minha espinha enquanto ele lambe minhas profundezas, e outro flash atravessa meu clitóris. O suficiente para fazer fogos de artifício explodirem atrás das minhas pálpebras. A terceira parece estar trabalhando em me lamber de cima para baixo, a cada golpe. Minhas coxas querem enrolar juntas, meus quadris imploram para me esfregar em seu rosto. Estou em guerra comigo mesma sobre o que fazer com esse homem entre minhas pernas. Eu acabo indo em direção a ele, perto da borda já. Deus, ele é um especialista e isso é realmente mais do que posso suportar. Passaram-se apenas alguns segundos, mas que parecem anos de tortura, construindo, indo em direção a um abismo que nunca mais vou querer sair. E Deus, tudo que quero é mais. — Não pare. — Ofego, torcendo meus tornozelos em torno da parte de trás de sua cabeça. O que quer que ele tenha dito em resposta, não consegui ouvir. Em vez disso, as vibrações sacodem os dentes, e a sua língua entra profundamente na doce e escura parte da minha alma que quer tudo o que pode me dar. Um chicotada única envia uma sensação através do meu estômago que me faz tropeçar no precipício e cair... cair... O orgasmo é tão forte que meus joelhos acabam pressionando meu peito. Eu ouço sua


risada suave e divertida abaixo, enquanto fico lá espantada. Nenhum homem já me fez gozar assim antes. Eu pego a ponta de um chifre e dou um puxão. Ele recua o rosto úmido e levanta as sobrancelhas escuras para mim. Como nunca senti isso antes? —Encontre uma maneira de entrar em mim, ou vou te derrubar e descobrir por mim mesma. — Exijo, corada e sem fôlego. Provocando, ele sacode a língua e balança cada ponta. É um gesto de zombaria? Eu certamente não sei, mas isso me lembra do momento antes de gozar e meu coração pula na garganta. Enorme e volumoso, gentil, mas esmagador, ele rasteja sobre mim e se aninha na minha bochecha. Eu posso sentir o cheiro dele, rico e satisfeito, apenas outro lembrete de sua língua absolutamente mágica. — Tem certeza? — Ele pergunta, sempre o cavalheiro. Ou não. Um par de unhas compridas torce um dos meus mamilos através do tecido e eu inalo bruscamente, meus olhos se fechando. Ele brinca com isso enquanto espera por uma resposta. Deus, ele pretende me fazer pedir de novo. Como as pessoas se queixam de serem sequestradas, se é isso que as espera? — Você está me matando. Por favor. — Imploro, sem vergonha. Se ele me quer de joelhos, figurativa ou literalmente, não vou reclamar.


Seus quadris balançam para frente e eu sinto que a ponta central pressiona contra a minha entrada. O do fundo bate mais abaixo quando o terceiro bate no meu clitóris. Aquele pequeno solavanco envia eletricidade correndo em minhas veias. — Por favor! — Eu grito. E isso é tudo que ele precisa. Ele dirige para dentro em um só golpe fluído que o força dentro de mim em não um, mas em dois pontos. Eu nunca deixei ninguém ter minha virgindade anal, mas no momento, não tenho arrependimentos. A sensação de estar completamente preenchida em um movimento suave é uma coisa maravilhosa, algo que nunca soube que queria até agora. Por que ir para casa? Ninguém nunca vai corresponder a isto. Rothren balança-se contra mim, suas guelras tremulando com a força de sua respiração. Suas sobrancelhas se unem enquanto ele se concentra, em quê? Eu laço meus braços em volta do seu pescoço, arrastando-o para baixo contra mim. Uma mão desliza para baixo para arranhar seu peito, algo que ele parece gostar. Ele empurra contra mim e ouço suas bolas baterem na minha bunda, tanto quanto sinto. Elas são pesadas, cheias, implorando por libertação tanto quanto eu. Eu beijo o topo de uma de suas guelras e ouço sua respiração ir para um novo nível. Seus impulsos se tornam cada vez mais fortes, trabalhando em direção a um lugar melhor para


nós dois. De minha parte, o levo melhor que posso. Meus tornozelos não ficam bem trancados nas costas, mas, por Deus, tento. Outro beijo no topo de sua guelra se transforma em um rastro do pescoço a clavícula. Ele deve amar isso, porque cada batida contra mim produz um suspiro de sua parte, como se estivesse tentando ir mais fundo, mergulhar em meus segredos de seda e se perder para sempre. Ele inclina a cabeça para baixo e pega meus lábios com os seus. Nós nos beijamos e é como mel em minha boca enquanto tento acompanhar cada ponta da língua contra a minha própria. Ele ressoa na minha boca e treme contra mim. Eu tenho que quebrar o beijo para ofegar quando o mundo fica branco. Ninguém nunca bateu no meu ponto G antes. A ponta do pau no meu clitóris esfrega contra ele em cada movimento para baixo, cada movimento para cima, implorando para meus joelhos dobrarem, prenderem ou arrastarem ele para dentro. Eu estou em um torpor de prazer, dificilmente capaz de entender cada delicioso e liso movimento. Sua boca se abre assim como as suas guelras. Meu corpo está em chamas e só ele pode saciar minha necessidade. Esfrego-me nele, em todos os lugares, ofegante e sussurrando por mais enquanto ele tenta dar para mim. A mesa ameaça

quebrar

quebrar. Vale a pena.

abaixo

de

nós. Deixe


Com um último impulso selvagem, ele me agarra com as duas mãos e sinto a inundação de sua semente jorrando profundamente dentro de mim, sobre o meu monte, derramando-se em meu corpo. O espasmo de seus paus me envia para a borda mais uma vez, enfraquecendo os meus joelhos, e deixo de ouvir os sons do laboratório ao meu redor. Mesmo já terminado, ele não se afasta e lambe minha bochecha, inalando meu cabelo enquanto se enrola ao meu lado. Adormeço com a cabeça no peito dele, ouvindo a batida de seis pulsações de seu coração.


O que foi que fiz? Ela dorme com a cabeça no meu peito, sonhando com coisas que não podem ser. Embora tenha saciado algo que tão desesperadamente ansiava atenção - não posso ser o que ela precisa que eu seja. No entanto, quando respiro o aroma de seu cabelo e beijo sua testa, uma parte de mim diz que vou encontrar uma maneira de fazer isso. Isso é loucura. Eu me preocupo, pois um dos sinais do Neff é a loucura abundante, principalmente nos machos. Nós gaguejamos no final, incapazes de formar pensamentos ou preocupações racionais. Muitos fugiram para os penhascos caindo para a morte nos primeiros dias da doença. Como se para me consolar e saber que não estou morrendo, beijo sua testa novamente. Ela sonha. Eu queria poder ser capaz disso mas ao invés, me afasto e vou para o tanque. Um mergulho vai tirar essas coisas da minha mente. Isso sempre funciona.


Ao chegar ao tanque, aperto um botão que vai aquecer o fluído dentro. A tampa se fecha atrás de mim e me permito afundar nas profundezas considerando minhas opções. Essa humana ainda deseja me deixar? É claro que nos damos bem e que existe uma pequena conexão entre nós, mas nenhuma das espécies se acasala sem alguma afetação, com raras exceções. Nossa pesquisa afirma que a maioria dos humanos passa por um processo chamado casamento. É belo, eles declaram seu amor um pelo outro, suas esperanças, seus sonhos para um futuro brilhante juntos, e suas famílias aplaudem seus esforços. Muitos deles são escritores muito pobres, embora seus companheiros certamente pareçam convencidos de que as palavras que ouvem são uma linda promessa. Eles tocam seus corações. O amor é diferente em casa. Nós nos unimos para a vida, somos carinhosos, mas não temos cerimônias dessa maneira. Podemos anunciar que estamos acasalados com vizinhos ou familiares, mas eles simplesmente acenam e reconhecem isso. Neste tempo, tão sem esperança, eu não consigo imaginar alguém se importando caso eu pegasse uma parceira de novo ou não. Neste ponto, nem tenho certeza de que alguém estaria lá para ver. — Mapa de estrelas? — Eu pergunto, levantando a cabeça da água.


Uma imagem do mapa aparece no interior da tampa. Já estamos mais do que a meio caminho de casa. Parece que fizemos um excelente tempo. Eu me pergunto por que demorou tanto para chegar lá. Talvez meu piloto automático tenha detectado algum tipo de deslizamento dentro dos limites do espaço. Acessar esse mundo mais rapidamente no futuro seria uma maravilha. Eu poderia usá-lo quando trouxer Marie para casa. A própria ideia bate em uma parede em minha mente e eu não gosto. Estou muito interessado nessa humana, muito apegado ainda que só a conheça por um curto período de tempo. No entanto, não posso me impedir. Ela é encantadora. Seu riso faz meu corpo reagir de maneiras que nunca conheci. Eu não quero perder isso. Mas eu prometi. E nós não quebramos nossas promessas. É um comportamento da forma de vida mais baixa se o fizermos. Desapareço debaixo de água novamente para resolver meus pensamentos. Isso tudo é um problema, e um que nunca pensei em ter. Certamente, qualquer mulher fugiria se eu dissesse que já tenho um apego. Ela seria louca de não fazêlo. Um ponto chama minha atenção no reflexo da piscina. Nado mais perto, torcendo para que


eu possa dar uma olhada melhor na base do meu rabo. Lá, onde minha espinha termina, há um pequeno ponto rosa. Neff. Estou infectado. Eu vou morrer. Um pico frio de realização se enterra em meu estômago e envolvo um braço

ao

redor

dele,

tentando

segurar

minhas

entranhas

onde

pertencem. Meus olhos se fecham. Se der certo, quando abri-los, tudo será um sonho ruim. Eu voltarei a estar com a Marie. Nós estaremos indo para casa, onde ela vai curar os aflitos. O Neff será derrotado, para nunca mais nos incomodar. Eu não vou ficar doente. Ficarei bem. Mas sei que tudo isso são mentiras. Abro meus olhos para ver que a mancha permanece, clara como antes. A doença deve estar em mutação. Eu não estive perto de outro companheiro no meu povo por um período muito longo. Ou será que supomos incorretamente sobre o período de incubação da doença? Existe alguma coisa que nossos médicos tenham entendido corretamente nesta doença? Um flash de raiva passa por mim. Eu vou morrer porque esses tolos são incapazes de realizar seu próprio trabalho. Seria a mesma coisa se eu fosse incapaz de compreender a formação da linguagem, mas continuasse a


afirmar que sou linguista. Eu bufo e percebo, qual é o ponto da raiva? A maioria deles está morto por sua própria habilidade inferior. Eles não sofreram o suficiente? Não, estou com raiva pela minha morte iminente. É normal isso acontecer, dizem as enfermeiras. A negação virá a seguir; a esperança de que talvez Marie possa me curar também. Mas ninguém que teve as manchas foi curado. A doença é 100 por cento fatal, uma vez que é visível em seu corpo. Minha esposa ficará muito descontente com minhas atividades com Marie quando a vir novamente. Não acho que vou pedir desculpas. Nós nos acasalamos pela vida, não até o fim dos tempos. Quando a morte chega, é aceitável escolher outra pessoa se assim desejar. Ela vai entender. Eu deito minha cabeça contra o lado do tanque e afundo para me sentar. Voltarei para casa bem a tempo de morrer naquela rocha doentia. Vou quebrar minha promessa. Nunca poderei devolver Marie ao seu planeta. Pior, é possível que sua espécie seja imune. Ela pode ficar presa, morrendo de fome em um planeta que não entende. O que fiz para ela? Para todos eles? Eu mereço esta infecção. Mereço a morte. É por isso que fomos proibidos de visitar esse mundo,

até

mesmo

aquela

seção

do

universo. Eles não entendem. Não têm como lidar com o que estou trazendo para ela.


Se eu virar esta nave, será tarde demais? Eu poderia ensiná-la a pousar a nave, como mandá-la de volta para o planeta. O piloto automático poderia levá-la para casa se necessário, mas e se tivesse problemas? Não há ninguém disposto a arriscar que a monarquia caia sobre eles para levar um humano de volta à sua terra natal. Não há maneira de contornar isso. Eu a condenei em uma tentativa de alcançar meus próprios objetivos. Queria ser um herói e através dela salvar os outros mas em vez disso, trouxe miséria a uma criatura tão inocente além do seu mundo, que se considera o topo de uma coisa ridícula que chamam de cadeia alimentar. Esfrego minha cabeça contra a borda do tanque, desejando que isso me tire da minha miséria. Esta bela mulher vai sofrer, sou um mentiroso. Lá está ele, Rothren Ket L'kan, único membro remanescente do corpo docente de sua escola. Aquele que se achava imune ao Neff e por isso arrastou uma humana para algo que não era dela para lidar. Sabia que isso era uma possibilidade. Como não poderia? Mas depois de todo esse tempo, simplesmente assumi que tinha uma chance menor de ficar doente. Não trabalhei por meses nas enfermarias antes que minha esposa adoecesse? Eu não tentei manter a compostura quando foi ela, não eu, quem pegou o vírus Neff? Eu lembro de encarála,

vestido

com

muitas

camadas

de

proteção. Que proteção era essa afinal quando


metade das enfermeiras que pegaram o Neff estavam escondidas sob mais do que eu? Por que aqui? Por que agora? Devo dizer a Marie que nunca poderei cumprir minha promessa? Ou devo mantê-la no escuro, permitindo que ela mantenha a esperança até o último momento em que me encontrará morto? É minha culpa. Tudo isso. Não é a primeira vez que me pergunto se eu trouxe o Neff nos meus sapatos ou minhas roupas para casa. Eu havia seguido o procedimento correto, mas é claro que o procedimento faz pouco para impedir a propagação. Minha esposa não saiu de casa por três meses e mesmo saiu manchas cor-de-rosa brotaram em sua pele alourada durante a noite. Assim como a que tenho. Respiro fundo e tento aquietar meus pensamentos. É preciso muito esforço, mas consigo em pouco tempo. Devo me concentrar. Eles vão jogar o meu cadáver sobre o fogo em breve e nada vai importar. Serei outro número em uma linha de muitos. Eu não temo as chamas. Temo por ela. A tampa se abre ao meu comando e me arrasto para fora. É inútil me secar, como a fera que sou, apenas dou uma sacudida na minha pele. Se ficasse doente agora, uma infecção secundária seria uma bênção disfarçada.


— Você ficou lá por um tempo longo. Minha cauda cintila, derrubando uma mesa com uma vasilha do outro lado da sala. Giro para olhar para ela. Como não a vi? Estamos quase certos de que sua espécie não pode se tornar invisível, como os camaleões de seu planeta conseguem. Quase sendo a palavra mais importante lá. Ela se senta em um banco, envolta em um toq que é muito grande para ela. O amarelo pálido complementa o cabelo castanho acinzentado, os olhos escuros. Se eu não estivesse doente, a jogaria no banco e repetiria o acasalamento, arrancando-o do corpo dela e provando-a novamente. Em vez disso, eu ando até onde ela está e a pego em meus braços. — Tenho notícias infelizes. — Começo, mas não posso terminar. Minha garganta sufoca. Suas mãos cravam na penugem molhada em meu peito e meus olhos se fecham. Sim, é excitante, mas é muito gratificante ao mesmo tempo. Isto não é apenas um motivador sexual. Companheiros esfregam seus chifres no peito um do outro para brincar, flertar. Ela não tem ideia do que está fazendo, mas é um dos gestos mais gentis que senti em muito tempo. — Sim, você gosta disso, não é? Não sei o tipo de coisas que o seu pessoal faz, mas isso parece

ser

inconsciente.

um

sucesso.

Ela

sorri,


— Marie. — Eu sussurro, reunindo minha coragem. Então ela enrola os dedos e coloco uma mão contra a parede para não cair ao lado dela, ou sobre ela. Uma dessas situações teria acontecido, e duvido que importe muito para mim qual delas no momento. Sonho com um lugar em que poderia dar outro enchimento apaixonado do meu material genético com ela, mas isso não é uma prioridade. Logo, a loucura vai me levar. Ficarei mais seguro atrás das barras da gaiola. Eu não poderei lidar comigo mesmo se a machucar mais do que já fiz. — Shh, apenas fique aqui e aproveite. Podemos ficar em pé para uma pequena rodada. Quero tentar algumas dessas coisas de novo. Eu nunca fui para a cama com alguém tão capaz como você. — Ela tagarela. — Marie, nós não podemos. — Eu digo tão gentilmente quanto posso. — Claro que podemos, nós acabamos de fazer. Você não gostou? — Não é isso, Marie. — Eu digo, querendo morrer com o nome dela em meus lábios. — Eu estou Neff. Tenho um ponto em meu corpo. Ela responde simplesmente. — Oh inferno.


Eu fiz isso com ele? Talvez o estresse de estar perto de mim, lidando comigo, tenha feito isso com ele. Sua filha morreu dessa doença, todo o seu mundo está sofrendo com isso. ... Isso significa que ele vai morrer também? Arranco meu corpo do banco e corro pelo corredor. Estou de volta ao laboratório.

Teremos

que

testar

meu

palpite

sobre

ele

agora,

suponho. Embora seja meio louco fazer isso sem testar em outra coisa primeiro. Se as raízes não forem suficientes, estaremos entrando em algumas águas muito questionáveis. Não sei quanto tempo ele tem, e não sei quanto tempo meu palpite vai levar para fazer o trabalho. Na Terra, isso não seria mais do que lidar com epidemias frequentes de varíola mas aqui, eu nem tenho Jessie para me apoiar. Estou sozinha, e enquanto olho para este saco de raízes na minha mão, espero que seja o suficiente. Não é só porque ele é incrível, mas porque também é meu único caminho para casa. Quando eu decidir para onde ir. Rothren entra e senta-se para me observar. — Esta água é potável? — Eu pergunto.


— Não é exatamente a mesma mistura encontrada em seu planeta, mas é muito próxima, sim. — Ele responde. Ele já parece derrotado. Aqueles que estão doentes perdem a esperança muito rapidamente. Eu mostro um sorriso, mas ele não se incomoda em devolvê-lo. Em vez disso, senta-se com a cabeça entre as mãos e olha para o chão. Eu não posso começar a imaginar o que está pensando. Perder pacientes para doenças incuráveis já é ruim o suficiente, já vi o que essa linha de pensamento faz com eles. Alguém que acredita estar morto já está no meio do caminho. É por isso que tantos hospitais tentam manter o paciente esperançoso até o amargo fim. Embora possa não ser a abordagem mais honesta, coloco um pouco de água num copo e deixo ferver antes de me aproximar dele. Eu envolvo meus braços ao redor de seus ombros e dou-lhe outro abraço, algo para tranquilizá-lo. — Nós vamos ter que testar primeiro. — Digo a ele. — Mas tudo ficará bem. Vamos descobrir alguma coisa. — A loucura vai me levar a qualquer momento e ainda assim você senta aqui no meu colo como se eu fosse um animal dócil, disposto a agradar você. — Ele suspira. — Loucura? — Ela franze a testa. — A maioria dos homens afetados por essa doença perde a cabeça para a loucura nos primeiros dois dias de infecção visível. Eles


perseguem, pisoteiam, atacam e até mesmo contaminam as fêmeas e outros machos que subsistem em um mundo que os condenou. Levei um momento para entender as suas palavras cuidadosamente escolhidas, percebi que quis dizer que se transformam em estupradores movidos pelo sexo. Ou pelo menos, acho que é o que ele está falando. Talvez eles tenham outra palavra para isso em sua língua. Não é como se fosse algo com que nos deparamos com frequência, os estupros são silenciados e raramente mencionados, só pelos repórteres. De alguma forma, duvido que o seu planeta tenha o WGF7. — Vamos lhe dar um sedativo para mantê-lo relaxado e tentar impedir que essa loucura o afete, ok? — Eu dou-lhe um leve toque no peito, mas ele empurra a minha mão para longe. — Eu pretendo me trancar em uma câmara de espera. Há barras. Se você for bem sucedida em suas pesquisas, será simples o suficiente me libertar. Vou guiá-la por aqui antes de aterrissar. O piloto automático terá um pouso muito duro e aconselho você a amarrar-se firmemente a algo. — Diz ele com voz maçante. Feito isso, se levanta e me deixa no laboratório. Eu o vejo ir, sacudo a cabeça e vou trabalhar. Se nada mais, a nave não é tão grande que tenha problemas para localizar as células. Isso é bom, certo?


O trabalho é difícil. Moer, ferver, aquecer, reduzir. Vejo como uma tentativa termina e outra começa, preparando coisas que correm um alto risco de matá-lo tanto quanto curá-lo. Eu nunca faria isso com um ser humano, então por que estou fazendo isso com ele? Porque ele estará morto se eu não o fizer. Ele pode morrer mesmo com o que estou fazendo, mas não há nada que eu possa fazer sobre isso. Sou sua única esperança. E não é a primeira vez que estou nessa posição, muitos outros pacientes me fizeram ter os mesmo pensamentos. Sou especialmente boa em prescrever medicamentos à base de plantas para dor quando não há esperança. Sim, isso pode prejudicar seus rins, mas os rins são a coisa mais saudável em seu corpo agora. Também pode levar um golpe no pâncreas que o deixará pronto para ir em uma semana e aliviar suas tristezas, dandolhe uma boa morte. Eu quero mais do que isso para Rothren. Mas não sei se posso dar a ele. O tempo passa e perco completamente a noção de comer ou beber. Meu estômago ronca, mas eu ignoro isso. Os medicamentos estão quase acabados e preciso testá-los. Gostaria de ter outro sujeito além de Rothren. Não é justo


envenená-lo caso eu tenho feito um cálculo errado, só porque ele é o único aqui. É então que avisto aquelas centopeias estranhas verde limão. Eles são seus animais de estimação? Acho que não. Pergunto-me se são como sua versão de ratos de laboratório. Há um pequeno galo rosa na carapaça. É quase pequeno demais para ver, mas me dá esperança. Eu pego um conta-gotas e um par de pinças. Nós chegaremos ao fundo disto sem ferir Rothren, se possível. Eu agarro aquela com o galo rosa e a levanto para olhar. Ela grita com uma voz estridente e minúscula e quase a deixo cair. Tudo aqui tem que ser algum tipo de coisa estranha? Quando me recupero, pingo algumas gotas da primeira medicação naquela ponta rosa e coloco-a de volta no tanque. Ele anda de um lado para o outro, agitando suas muitas pequenas pernas no ar. Eu passo horas assistindo. Embora não morra, também não há mudança positiva. O galo não responde ao tratamento da raiz. Eu solto um chiado fraco e pego o próximo medicamento. Este tem um efeito imediato. A coisa como um inseto rola em agonia, gritando no alto de seus pulmões. Eu

recuo,

horrorizada. Gosto

de

animais. O dia em que tive que dissecar um sapo na aula foi terrível. Chorei por semanas


quando o gato antes do minha atual morreu. Ver este pobre inseto é horrível. Então ele salta para cima e sai correndo; correndo para se esconder de mim. Embora o inseto pareça estar ainda um pouco irritado. Não sei bem como isso afetará um mamífero. Rothren é um mamífero? Ele certamente foi construído como um e é uma pergunta que deveria ter feito há algum tempo atrás. Vou procurá-lo. A porta ao lado do laboratório está aberta, então enfio a cabeça. — Você cheira a todas as maravilhas do mundo. — Uma voz bêbada e cansada resmunga para mim. — Geralmente não é legal dizer a uma dama que ela fede. — Digo quando entro. Perdi a noção do tempo, não sei há quanto tempo ele está sofrendo. A baba reveste as paredes, junto com várias marcas de presas nas barras. Suas unhas estão todas rachadas e sangrando. A ponta de um chifre foi arrancada de sua cabeça. Enquanto estou fritando insetos, ele está aqui tentando lidar com isso da melhor maneira possível. Levanto uma mão para acariciar o chifre mais próximo de mim. Ele se afasta, duro no começo, mas rapidamente perdendo força. — Posso te machucar se você não for cuidadosa. — Ele diz. —Você

nunca

me

machucaria.

Argumento. — Podemos ter uma cura. Isto fez o


inseto se debater e gritar, mas funcionou. Não tenho certeza sobre o uso em mamíferos. Podemos tentar, Rothren. Provavelmente vai doer muito. Ele levanta a cabeça o suficiente para me olhar nos olhos. Um único aceno é tudo o que consegue administrar. Aceno de volta e corro para pegar minha mistura. Se funcionar, ao menos já tenho a combinação escrita com base nas marcas dos pacotes. Sou uma especialista, mesmo que não esteja certa sobre alguns. Acho que é uma mistura de sabugueiro, mas se é algo nativo de seu planeta nunca saberei. Meu tradutor se trancou em uma gaiola para não me machucar. Realmente espero que nada disso seja venenoso. Sem aviso, jogo o remédio nele da mesma forma como espirraria uma bebida no seu rosto. Graças a Deus sou uma profissional nisso. Ele recua, em silêncio por um segundo. Então ruge, arranhando o rosto e dançando longe das grades. O vapor sobe de sua pele quando começa a descascar. Meu coração bate em minhas têmporas. Ótimo. Eu o matei. Como pude ser tão estúpida? Tão descuidada? Não posso ficar aqui e vê-lo morrer. Sei que sou covarde. Sinto muito por isso, mas não posso vê-lo começar a andar por aí como aquele inseto. Eu corro, com o rabo entre as pernas, para o cockpit. Uma rápida olhada no painel não me diz nada, está tudo na linguagem de Rothren. Longe, à distância, ouço-o borbulhando. É um barulho horrível, que


conheço

bem. É

o

som

que

as

pessoas

fazem

quando

estão

desaparecendo. Alguns chamam de choque da morte, mas nunca pensei nisso dessa maneira. Sentada em sua cadeira, coloco minhas mãos sobre meus ouvidos e tento não pensar nisso. Estou sozinha em casa com minha gata. Ela mia e pego o deleite favorito dela no armário, um ritual noturno. Voltamos para o sofá e deitamos, esparramadas, assistindo a um novo sitcom na internet que está passando uma agenda política ou algo assim. Metade da audiência não tem ideia do que está assistindo. É muito sutil. Eu rio junto com eles, sem me importar. De todas as coisas, eu certamente não sou de política. Outro gorgolejo se arrasta e eu aperto as mãos sobre meus ouvidos. Agora estou na casa de praia com minha irmã. Somos criancinhas de novo. Mãe, vovó, vovô, estão todos lá, certificando-se de que temos um bom dia. Estou com medo da escola depois que as férias acabaram. As crianças nunca foram tão legais comigo como são com a Jessie. Sua voz ecoa pelos corredores em um lamento que eu juro que é de uma banshee. Eu olho por cima do meu ombro para ver as paredes pingando da quantidade de vapor vindo dele. Eu o derreti? Não consigo pensar como tanto fluido vindo de um corpo, e ainda estar vivo. Isto é horrível. O que fiz para ele? Eu deveria ter apenas deixado o pobre morrer, talvez até atirado nele para acelerar o


processo. Não, em vez disso, fiz seus últimos momentos de vigília algum tipo de pesadelo. É quando a porta atravessa o corredor e bate na parede de metal. Está meio derretido e percebo que parte desse vapor pode ter vindo das barras. Eu fiz um ácido que o deixou irreconhecível? Penso nisso por um momento, mas então como ele teria sido capaz de arremessar a porta assim? Outro pensamento me atinge. Talvez ele não esteja apenas com dor. Possa ser que esteja chateado comigo pelo que fiz para ele. Afundo um pouco mais na cadeira e coloco minhas mãos de volta sobre meus ouvidos. Se ele vier me matar por tentar ajudá-lo, não quero ouvir acontecer.


Eu nunca senti nada tão doloroso em minha vida. Ela queria me curar. Não guardo ira dela por um desejo tão esplêndido, mas desisti. Eu sabia que estava morto. Nada mata o Neff, nada diminui a sua velocidade. O local sumiu. Eu vi no reflexo da porta. Com toda a fumaça do metal derretido, eu tive que arremessá-la através do quarto apenas para me aliviar do encarceramento. Marie certamente não teria sido capaz de me libertar. Ela correu no momento em que comecei a gritar. Quem poderia culpá-la? E Marie, inteligente e bonita à sua maneira, me deu uma segunda chance na vida. Esgueiro pela frente da cadeira, olhando para baixo sobre esta criatura trêmula. A cura que ela descobriu queima sim, eu terei semanas para curar as cicatrizes que isso me causou. Pelo menos estarei vivo para aproveitar essas semanas. —Marie. — Digo baixinho. —Abelha, abelha, abelha, abelha. — Ela sussurra, com as mãos cerradas firmemente em ambos os lados da cabeça.


Minha cabeça se inclina. O que é uma abelha? — Marie? — Ela está doente? Seus olhos se abrem e ela solta um suspiro trêmulo. Eu a alcanço e ela recua, pressionando-se no tecido o mais forte que pode. Meu coração se parte por ela. Ela acha que eu quero machucá-la. Esta é a primeira vez que se comporta assim desde... desde... Desde que a roubei de sua casa. Arrependimento desce para afastar a tristeza do caminho. Estou desolado quando a olho. Ela fez algo que nenhum dos nossos médicos foi capaz de fazer e, no entanto, olhe para tudo o que tirei dela. Olhe para onde está agora, encolhida embaixo de mim como se eu fosse machucar um fio da sua cabeça. Toco sua bochecha com os dedos gentilmente. Aqueles lindos olhos se fecham mais uma vez e ela se prepara para o impacto de ... o que? — Aterragem iniciada. — Ronrona a voz da minha esposa no piloto automático. Olho de volta para o console e suspiro. Não há tempo para garantias gentis. Agarro Marie o mais rápido que posso, tentando não assustá-la ainda mais. Ela é tão delicada, tão apavorada. Coloco um beijo no topo de sua cabeça e afundo em uma cadeira ao lado dela. Os cintos são tão simples que eu poderia prendê-los enquanto dormia.


Ela me espia da cadeira com a testa franzida. Há um olhar tão pensativo nela que quase sorrio. Adorável. Em vez disso, tento manter meus olhos na vista abaixo. Tudo é areia, áspera e mais escura do que eu me lembro. Quão sortudos são os humanos para ter um planeta bem iluminado? Nós afundamos em direção a minha casa e respiro fundo. Nunca desfrutei de pousos, mas posso lidar com eles muito melhor do que antes. Uma vez quando jovem, na nave do meu pai, vomitei no chão da sala. Tinha apenas quatro anos. Apenas quatro. Ela também tinha apenas quatro anos. Quanto tempo se passou desde que minha menininha morreu? Quanto tempo faz que fiquei sem pensar nela? Que monstro sou para passar minhas horas pensando em qualquer outra coisa além de Eilari. Perceber isso é natural. Quando passamos pelos muitos estágios de aceitação, nos vemos considerando aquilo que nos colocou nesse pensamento. Uma preocupação menor do que encontrar comida ou acasalamento, por exemplo. Parece simplesmente cedo demais para mim. Talvez a doença tenha arruinado alguma parte de mim. Talvez isso tenha afetado meu núcleo emocional. No entanto, quando olho para a criatura sorrateira que me espia, sei que isso não é verdade. Meu peito enche de calor e é preciso toda a minha concentração para não sorrir. Ela é


astuta, nervosa. Se a tiver condenado ao meu planeta, devo tentar fazê-la o mais feliz que posso. Ajuda parecer que ela gosta de mim tanto quanto eu gosto dela. Percebo que as coisas estão indo rápido, mas não me sinto assim por nenhuma mulher da minha espécie por tanto tempo. Ela me salvou. Quem mais poderia ter feito isso? Eu não tenho dúvidas de que ela continuará salvando, embora não saiba quantos de meu povo tenham ficado. Tantos quantos puder. Ela me parece ser o tipo. Apesar de sua desorientação, veja o que conseguiu até agora. É uma maravilha e uma delícia, um espécime magnífico de sua espécie, sem chifres. Uma rápida olhada em sua testa a faz desaparecer completamente. Sem chifres, mas um monte de cabelos estranhos e sedosos. — Se veio me matar, pode acabar logo com isso? — Ela pergunta, sua voz trêmula. — Minha querida Marie, eu nunca te machucaria. — Digo. Isso a faz levantar a cabeça para olhar para mim. Seus olhos se arregalam e faço um movimento para ela colocar a cabeça para baixo. Não é seguro sentar-se como está. As coisas podem ficar difíceis e não posso suportar que ela seja ferida por um evento tão minúsculo. Entramos na atmosfera com bastante facilidade, avançando em direção ao solo a uma velocidade

vertiginosa,

como

sempre. Os


propulsores reversos entram em ação e desaceleramos quando nos aproximamos da minha casa ... e pelo menos uma dúzia de guardas da monarquia. Oh, Merda. Esqueci disso. — Quando pousarmos, fique na nave. — Digo a ela, franzindo a testa para a multidão. Eles sabem onde fui? Fiz tudo certo para evitar o registro de dados mas talvez eles suspeitem. Quando o navio aterra, a voz metálica diz alegremente que chegamos em casa. Ignoro isso, desafivelando-me e saindo do navio. Akthoses, longos bastões com bordas de corte a laser no final, são empurrados na minha cara. Estava errado. Este não é apenas um grupo da guarda. Serethas, nossa monarca, olha para mim imperiosamente. Ela é uma mulher alta com olhos como lanternas, dura e orgulhosa. Ela brilha com riqueza e está muito menos coberta do que nós. A imagem remonta a uma época em que éramos pessoas muito mais tribais. Andar quase nu pelas ruas e manter uma distância respeitosa, um olhar reverente, é o verdadeiro poder. Meus joelhos afundam no chão e abaixo minha cabeça,

me

prostrando

diante

da

minha

Monarca. — Você trouxe uma humana, Ket. — Suspira Serethas. — Por que fez isso? Você era


um linguista respeitado. Era um homem bem-feito. E será novamente quando nossos médicos curarem o Neff. — Com todo o respeito, — Digo, sem levantar a cabeça. — meu médico já fez isso. Os guardas ao meu redor se embaralham, incertos. Eu duvido que eles acreditem em mim. Se eu estivesse no lugar deles, certamente não acreditaria no renegado enlouquecido no chão. — Ele tem uma mancha. — Disse um dos guardas. — Ele tem o Neff. — A cor está errada. — Argumenta outro. — É cinza, não rosa. — Ela me curou. — Digo, olhando para o primeiro guarda. — Salvou minha vida. Salvará todos nós, se lhe dermos uma chance. — Traga esta fêmea para mim. — Ordena Serethas. Os guardas se foram antes que pudesse protestar. Ouço um grito de dentro da minha nave e alguns dos guardas do lado de fora parecem apenas se divertir. Um deles ri. Eu quero derrubá-lo. De sua parte, Serethas simplesmente parece impassível. Se essa fêmea humana não fosse responsável pelo primeiro caso potencialmente curado de Neff em toda a nossa história, eu pensaria que Serethas estava entediada. Na verdade, ela ainda parece estar. Nossa monarca

é

uma

criatura

impressionante,

embora agora que eu conheço Marie, devo me perguntar como Serethas lidaria com uma


situação na qual ela seria jogada num planeta estranho e abordada por homens armados. Eu não posso imaginar que não gritasse também. Marie é arrastada para encontrar nossa monarca. Ela olha para mim, aqui ajoelhado na terra e franze a testa. Eu aceno para se juntar a mim, mas ela me ignora. Um guarda agarra-a pelos ombros e empurra-a para o chão. Eu rosno e estou nos meus pés antes que me dê conta, mostrando as presas, de pé sobre a fêmea humana caída. — Paz, Rothren Ket. Kolory, seja gentil com essa espécie delicada. — Repreende Serethas. — Como minha monarca mandar. — Responde o bruto. Ainda quero mordê-lo. Embora nada de bom viria se o fizesse. Vou ter que resolver isto em outra hora, em outro lugar. Vou lembrar do seu nome. Kolory. Um nome estranho. Não pode haver muitos dos que restaram. Marie pega o braço que ofereço e a ajudo a ficar de pé. Não vou mais desmoronar diante de um monarca que permita que essa fêmea, minha doce humana, seja tratada dessa maneira. — Você diz que o ser humano te curou? Como? Ela fala nossa língua? — Serethas pergunta. — Uma poção, de certa forma. Fiquei doente no voo. Ela salvou minha vida. Vai salvar o resto

de nós, se

lhe dermos

tempo e

ingredientes. Ela tem uma lista, uma receita. Em


sua casa, é uma médica. — Respondo. — Ainda não conhece nossa língua mas pode aprender. — Se ela puder nos salvar, vou permitir que você viva, Rothren. Também estou doente com Neff. A maioria está. — Afirma Serethas, levantando o braço e mostrando-me vários inchaços rosa ao longo de seu pulso. — Se não, vocês dois morrem. — Esta fêmea não foi testada. — Diz o bruto, Kolory, resmungando. — Quem executará a sentença se ela nos envenenar? — Silêncio. — Diz Serethas, gentil, mas sem lhe dar base. — Ouça-me. — Sussurro para Marie. — Você deve refazer sua cura. Se me salvou, salvará outros como eu. — Deveria jogar ácido em sua rainha? — Ela sussurra de volta. — Precisamente. Ela olha para mim como se eu tivesse perdido a cabeça e talvez tenha. Inclino e a beijo firmemente na boca, diante da minha monarca, diante do meu mundo. Kolory enruga o nariz e parece que ficar doente. Outros bufam ou desviam o olhar, desonrados simplesmente pela minha presença e minhas ações. Eu não poderia me importar menos. Marie me salvou. E eu a amo. — Vou tentar. — Diz quando me afasto.


Há incerteza em seus olhos. Acaricio sua bochecha e a beijo mais uma vez. Sei que ela pode fazer isso, que deve fazer isso. Minha Marie será a salvadora do nosso mundo e o que acontecer depois, acontecerá. Se ela quiser ir para casa, vou levá-la. Cumprirei minha promessa. Mas... Quando olha de volta para mim, com um rosto cheio de esperança e vê que o lugar que era um rosa mortal agora está cinza, acredito com todo o meu coração que ela ficará. Acredito que ela se importa comigo tanto quanto eu com ela. Podemos ter um longo caminho pela frente, mas acredito que chegaremos ao fim juntos. Ela salvará meu planeta como me salvou, e será uma heroína. Nossa heroína. Marie.


Obrigada Deus pelo software de tradução instantânea. Sem isso, ainda estaria tentando desenhar diagramas para essas pobres enfermeiras. Já faz seis anos e ainda estou trabalhando duro para vencer o vírus Neff em constante mutação. Este vírus evolui mais rapidamente que um girino em esteroides. Conseguimos salvar Serethas e sua corte. Quando Kolory Hesthu chegou infectado há cerca de seis meses, fiquei tentada a deixar o vírus levá-lo. Ele é um idiota. Sempre que está no seu turno com o dever de guarda, fica na minha bunda tentando encontrar alguma maneira para dizer eu estou aqui para matar todos eles. Um filho da puta paranoico e delirante. Mesmo depois de curá-lo, ainda não confia em mim. Não faço ideia do que fiz para ele, porque tudo o que fiz foi ser sequestrada e vir salvar todos com quem ele se importa. Claro, agora as manchas estão ficando azuis e mais difíceis do que nunca. A grande maioria das pessoas aqui tem algum tipo de pelo azul e o Neff descobriu como combinar

perfeitamente

esse

pigmento. Também gosta de aparecer apenas nesses pontos.


Vou continuar lutando até o exterminarmos, eu acho. Às vezes sinto falta de casa, mas vale a pena estar com Rothren. Exausta depois de um dia de trabalho, ando do laboratório em direção a nossa casa. Eu tenho certeza de que ele já está lá. Suas aulas de língua humana tendem a terminar cedo. Acho que eles pensaram que seria melhor tentar encorajar línguas humanas, uma vez que Serethas pretende enviar uma tropa de reconhecimento para a Terra em breve. Ela quer mais médicos como eu. Não sei se realmente aprovo. Tem sido difícil me ajustar a essa vida, apesar de Rothren fazer o que pode para amenizar qualquer estranheza. No primeiro Natal em que estive aqui, ele cortou um galho grande de uma árvore e colocou-o contra um canto. Ele estava tão orgulhoso de si mesmo que não pude suportar dizer a ele que geralmente tínhamos a árvore inteira. Além disso, o ramo era enorme e nossa filha parecia adorável ao lado dele. Bato minha mão no botão do lado de fora da porta e espero a eclusa de ar. Nós realmente precisamos consertar isso, está ficando enferrujado. Pelo menos há pessoas capacitadas o suficiente agora para consertá-lo. A câmara se separa e Rothren me agarra, girando-me antes que eu possa colocar minha bolsa no chão. Coloco meus braços ao redor de seu pescoço e o beijo com tudo o que tenho,


sorrindo para ele. Sua cauda se enrola e torce em volta da minha perna, depois a levanta. Eu assobio e me afasto, dando-lhe um tapa brincalhão no peito. — As crianças estão bem ali! — Digo. — Você ainda estará completamente vestida. — Ele sorri, sem vergonha. — Minha modesta garotinha humana. Rio e o golpeio de novo. — Ponha-me no chão. — ALA! — Vem um grito ao lado do joelho de Rothren. Ela é bege, tocada com uma cor creme de seu pai e já tem cinco anos. Quando ela fez cinco anos? Parece que foi ontem que eu estava segurando este pequeno pacote impossível. Os exames não diziam que era impossível engravidar? Inferno, uma vez não tinha jurado que não teria filhos? — Minha pequena Thethri, venha aqui! — Digo, deslizando dos braços de seu pai e me ajoelhando. Todos os quatro vêm correndo. As enfermeiras me dizem que sou uma espécie de milagre ambulante por não engravidar já este ano, dada a nossa tendência, mas sei de algo que elas não sabem. Não direi a elas desta vez. O sangue humano é imune ao Neff, dando imunidade plena a crianças mestiças. Não há razão para eles me afastarem da minha pesquisa novamente apenas para satisfazer suas preocupações. É uma pena que eu não possa


fazer engenharia reversa do meu próprio sangue para criar uma vacina. Não funciona. Foi uma das primeiras coisas que tentei. Aposto que Jessie poderia ter feito isso. Eu sou abordada por meus pequeninos, três garotos e minha pequena Thethri. Rothren leva um segundo para se juntar a nós numa pilha no chão. Em vez de me ajudar, ele simplesmente rola no carpete com o resto de nós. Não mais do que esperaria do meu patife marido. O beijo mais uma vez antes de me afastar da minha família. Isso dura por um segundo. Volto e passamos meia hora em lutas de cócegas ou aconchego, às vezes alternando entre os dois. Parece que as crianças gostam muito de aconchegos nesta idade, sempre querendo ser tocadas ou seguradas. Eu estou bem com isso, desde que Rothren esteja lá para me aconchegar quando eu precisar. E esta noite, certamente preciso disso. Colocamos os pequeninos em suas camas para a noite antes de cair na cama. Coloco um copo de licor verde feito de uma variedade de não-rosa, não consigo lembrar o nome. Mesmo depois de tantos anos, parece que há sempre algo novo para aprender toda vez que viro a esquina. Pelo menos a economia está começando a se recuperar, há comida suficiente e Serethas

não

está

mais

derrubando

os

suprimentos de emergência. No primeiro ano em que estive aqui, toda a comida disponível


era biscoitos velhos e coisas infelizes com aparência de berinjela que tinham gosto de sabão. Rothren entra comigo, com um olhar ansioso em seus olhos. Ele sabe que tomo este licor quando estou grávida e ainda não o confirmei para ele. Está esperançoso, seu olhar brilha quando chega para pegar minha mão. Talvez a melhor coisa de estar grávida do bebê de um alienígena é que você ainda pode aproveitar estas coisas. Parece tornar o trabalho mais fácil. — Existe algo que você queira me dizer? — Pergunta. Ele cobre meu rosto com as duas mãos, quase prendendo a respiração. Não posso evitar, sorrio, então desmancho. Ele é um pai muito dedicado. Se pudesse repopular este planeta comigo, não tenho dúvida de que o faria. Quem teria pensado que eu teria acabado em um planeta alienígena, salvando vidas e me apaixonando, com uma pequena família toda minha? — Posso ter uma surpresa para você, em oito meses ou mais. — Sorrio. Ele quase brilha, se inclina para me beijar, me segurando como uma coisa preciosa. Eu poderia curar o Neff mas ele ficaria menos entusiasmado do que o anúncio de outra criança para o nosso lar feliz. Beijo-o de volta com tudo que posso e ele afunda em cima de mim. — Vamos tentar fazer gêmeos? — Ele sussurra, a voz quente no meu ouvido. — Não é assim que a biologia funciona. — Murmuro de volta para ele, reprimindo um arrepio.


— Nunca é demais tentar. — Ele responde, e rio. — Eu te amo, Rothren. — Eu também te amo.



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