TIDY Um conto de Past Due
Série Debt Collection#3.1 Roxie Rivera
Grupo Rhealeza Traduções 12/2021
Assim que entrei no Fielding's, os cheiros deliciosos de suas opções para o brunch me atingiram. Besian tinha me convencido a ignorar meu alarme de ginástica matinal em troca de um tipo diferente de treino e, francamente, eu não consegui pensar em um único motivo para dizer não. Mas eu tinha pulado o café da manhã para chegar à minha aula de Pilates a tempo, e meu estômago estava roncando de fome agora. — Marley! — Andres chamou minha atenção com um aceno rápido. — Andres! — Coloquei minha bolsa no ombro e o abracei com força. Foi um pouco estranho com as muletas entre nós, mas conseguimos. — Oh meu Deus! Que bom ver você! — E você! — Seu olhar me percorreu da cabeça aos pés e voltou novamente. — O casamento te fez bem. — Obrigada. — Eu sorri. — Estamos muito felizes. — Fico feliz. — Ele apontou para minha mão. — Ela parece melhor. — Perfeitamente curada. — Eu levantei a mão que machuquei durante o resgate de Stefana. — Aston me deu uma mistura maluca de creme para cicatrizes cheia de todos os tipos de coisas que eu nem consigo pronunciar. — Talvez eu precise de um pouco dela para as cicatrizes da minha cirurgia. — Ele alternou seu peso nas muletas. — Eu me senti péssimo com a maneira como terminamos as coisas em Tirana. — Não! Foi uma confusão, Andres. Para nós dois. — Eu gesticulei para sua perna. — Você ficou pior do que eu. A hostess nos interrompeu com um sorriso de desculpas e se ofereceu para nos acompanhar até nossa mesa reservada. Andres
gesticulou para que eu fosse primeiro e seguiu atrás, suas muletas quase inaudíveis por causa da música e da tagarelice do restaurante. Nós nos sentamos e ele colocou suas muletas contra a parede, fora do caminho. — Então, como está indo a recuperação? — Eu perguntei enquanto examinávamos o cardápio de brunch. — Ótima. Estou fazendo fisioterapia alguns dias por semana. A órtese será retirada em breve. Devo estar liberado para a maioria das atividades físicas até o Natal. Eu olhei para ele. — Espero que isso não signifique que você está planejando esquiar nas férias! Ele riu. — Minha mãe teria um ataque. Ela queria vir morar aqui para que pudesse cuidar de mim. — Isso poderia não ser tão ruim. — Eu comentei, tentando manter minha voz firme. Minha mãe havia partido há quase um mês. Mesmo que ela estivesse apenas a um telefonema de distância, eu ainda sentia sua falta terrivelmente. Havia tantas coisas que eu queria perguntar a ela, tantas perguntas que me atormentavam dia e noite, mas nunca parecia ser o momento certo para trazer essas coisas à tona em nossos curtos telefonemas. — Não. — Ele concordou. — Estar em casa com minha família depois da cirurgia me deu muito o que pensar, sabe? Cada vez mais me pergunto se não é hora de procurar uma transferência de volta para a Europa. Nosso garçom se aproximou e anotou nossos pedidos de bebida, Topo Chico1 para nós dois e mais um coquetel para mim. Nós dois sabíamos o que queríamos do cardápio e pedimos nossa comida. 1
Bebida feita de água com gás levemente gaseificada com um toque natural de frutas e 4.7% de álcool
— Isso se encaixa no seu plano de aposentadoria antecipada? — Eu perguntei depois que o garçom saiu. — Você mencionou que queria desacelerar antes de chegar aos quarenta. — Pode ser, se eu conseguir encontrar a posição certa. Talvez uma promoção. — Acrescentou. — Ou trocar de setor. — Finanças? — Eu perguntei timidamente, sabendo muito bem que ele estava falando com Stefana quase diariamente. Seu rosto ficou vermelho. — Bem, esse pode ser um dos setores que eu consideraria. — Uh-huh. — Eu murmurei, olhando para cima e sorrindo enquanto o garçom trazia nossas bebidas. Bebi meu coquetel de cranberry e vodka. Estava extremamente saboroso, e decidi que teria que arrastar Besian até aqui em breve. — Ela é maravilhosa. — Comentou Andres, passando o dedo pela borda da garrafa de Topo Chico. — Ela foi me ver em Barcelona. — Eu sei. Ele pigarreou e seu rosto ficou um tom mais escuro. — Esperançosamente, você não sabe tudo. — Ele disse com uma risada nervosa. — Não. — Assegurei a ele. — Não tudo. Era verdade, Stefana me contou algumas coisas sobre como sua curta visita tinha sido, mas eu não pressionei para saber dos detalhes. A julgar pela tonalidade vermelha nas pontas das orelhas de Andres, os detalhes eram muito, muito obscenos. — Então. — Disse ele, mudando de assunto. — Conte-me sobre sua nova vida como a Sra. Chefe do Clube de Strip.
Eu bufei indelicadamente e revirei os olhos. — Bem. — Eu disse com um suspiro exagerado. — As aulas gratuitas de pole dance são um privilégio bastante agradável. Pego de surpresa, Andres perguntou: — Você está brincando ou está falando sério? — Brincadeira. — Eu ri. — Besian teria um derrame se me encontrasse dançando em um poste na Peaches. — Compreensivelmente. — Respondeu Andres. — Mas você está feliz? Você está se adaptando à vida de casada, certo? — Sim. Quer dizer, há momentos de atrito, mas geralmente é ótimo. — Atrito, hein? Dei de ombros. — Eu nunca morei com um parceiro antes, e ele também não. É um ajuste, sabe? Compartilhar o espaço. Descobrir limites. Dividir as tarefas domésticas. Coisas assim. Ele fez uma careta. — Não consigo imaginar seu marido passando o aspirador ou lavando pratos. — Estranhamente, ele é muito organizado e eficiente quando se trata de arrumação. Conversamos facilmente durante a hora seguinte, desfrutando de nossa refeição e da companhia um do outro. Quando a conta chegou, peguei-a antes que Andres pudesse e ignorei seus protestos enquanto entregava meu cartão. — Um pedido de desculpas de Besian. — Eu insisti. — Ele já se desculpou. — Respondeu Andrés com um aceno de mão. — E seu amigo, Zec, fez tudo para garantir que eu fosse enviado para casa com segurança e conforto. — Ele pegou sua
carteira e tirou algum dinheiro. — Pelo menos deixe-me dar a gorjeta. — Se você quiser. — Eu quero. — Ele colocou o dinheiro na mesa e eu o enfiei na pequena pasta preta onde estava o recibo e meu cartão. Depois que a conta foi paga, saímos do restaurante. Esperei com ele até que seu Lyft2 chegasse e o convidei para jantar em nossa casa. Assim que tive certeza de que ele estava seguro no Tahoe que veio para conduzilo de volta para casa, fui para o meu Prius e sentei-me ao volante. Mandei uma mensagem para Besian para avisá-lo que estava indo para a casa da minha mãe, e saí do estacionamento. A viagem até o parque de trailers foi surpreendentemente agradável. Não fui fechada nem uma vez e nem uma única pessoa mostrou o dedo para mim ou buzinou. Considerando o quão selvagens alguns de meus companheiros motoristas de Houston eram, isso foi praticamente um milagre. Sentindo-me um pouco melancólica, passei pela minha casa agora vazia. Kostya tinha feito a tarefa horrível de limpar o lugar e remover todos os meus pertences. Eu não conseguia suportar a ideia de tocar em qualquer coisa que estivesse na cozinha, então ele se livrou de tudo. Além de minhas roupas, livros, plantas e alguns itens pessoais que significavam muito para mim, eu havia doado todo o resto. Eu não tinha certeza do que fazer com a casa agora. A ideia de alugá-la para qualquer pessoa, mesmo depois de uma renovação completa da cozinha, me causou asco. Eu realmente poderia pedir a alguém que me pagasse para comer no mesmo cômodo onde uma mulher havia sido morta? Onde tinha sido deixada para apodrecer? Meu estômago revirou só de pensar nisso! 2
Lyft é uma empresa de rede de transporte dos Estados Unidos nos mesmos moldes da Uber.
Quando finalmente cheguei à casa de minha mãe, estacionei sob a garagem e fiquei sentada por um momento. Eu não tinha feito muito progresso dentro da casa. Mesmo depois de uma semana inteira vindo todos os dias para separar e organizar as pilhas e pilhas de seu tesouro, eu só tinha feito isso da porta da frente até a sala de estar, na cozinha e na lavanderia. A maioria das coisas que ela havia acumulado ainda estava nas caixas em que foram enviadas ou nas sacolas das lojas onde ela as comprou. Ver as evidências de todo o dinheiro que ela gastou ao longo dos anos foi impressionante. Eu tentei somar tudo, mas depois dos primeiros dois dias, eu estava tão exausta e chateada emocionalmente que tive que parar. Meu telefone tocou e eu o tirei da bolsa. Olhei para a tela e vi a mensagem de Nicole. Quando a abri, fui saudada por imagens vistosas de uma casa que ela queria que analisássemos. Só estava programada para chegar ao mercado depois do fim de semana, mas ela recebeu a oportunidade de ser a primeira a oferecê-la a seus clientes. Eu passei as fotos e amei quase todas. Mas mesmo que a casa atendesse todas as minhas expectativas, não atendia nenhuma das de Besian. Era muito pequena, muito velha e precisava de uma boa reforma nos banheiros. Com um suspiro, enviei um e-mail agradecendo-a por ter enviado, mas recusando uma visita. Nicole respondeu rapidamente, garantindo que estava tudo bem, e prometeu continuar procurando. Sabendo que não poderia adiar nem mais um minuto, saí do carro e entrei em casa. Pelo menos, depois de uma semana limpando e organizando, o cheiro estava muito melhor. O cheiro do mofo havia desaparecido e os purificadores de ar que eu tinha comprado mantinham a poeira e outras partículas sujas presas em seus filtros. Não ousei acender uma vela com todo o material altamente inflamável embalado na casa, então me contentei com alguns difusores de fragrâncias.
Larguei minha bolsa no sofá limpo e completamente descoberto antes de seguir para o quarto que era meu. Há muito tempo havia se transformado em mais um espaço de armazenamento, lotado do chão ao teto com todos os tesouros que minha mãe comprou, mas nunca usou. Peguei uma pilha à direita e comecei a abrir as caixas para ver o que havia dentro de cada uma. Bolsas. Muitas. Bolsas Dooney & Burke. Frye. Vera Bradley. Tory Burch. Rebecca Minkoff. Coach. Crossbody. Hobo. Tote. Satchel. Dezenas e dezenas delas. Nunca usadas. As etiquetas ainda penduradas nas alças. Uma bola de papel dentro para não deformar. A ideia de fotografar, listar, vender, embalar e despachar cada bolsa me oprimia. Afundei no carpete sujo que havia descoberto, cercada por pilhas de bolsas, e tentei entender os vícios de minha mãe em compras e jogos de azar. Para mim, a ideia de gastar tão frivolamente, de apenas desperdiçar dinheiro em coisas que nunca usaria, era inaceitável. Para ela, era uma compulsão que ela não podia negar. Depois de descobrir como ela tinha sido maltratada pelo MC enquanto Spider estava na prisão, isso fazia sentido, eu acho. Essas coisas, essas pilhas de caixas, isolavam o mundo exterior. Elas eram uma parede tangível de proteção contra os homens que a machucaram e abusaram dela. Por outro lado, eram uma lástima para Spider. Ela pegou o dinheiro dele, dinheiro pelo qual ele fez coisas terríveis e perigosas para ganhar, e desperdiçou em coisas que nunca usaria. Ver isso deve tê-lo deixado furioso.
Eu ainda não tinha aceitado o fato de que o homem que eu conhecia desde meus dias de criança, o homem que eu acreditava ser meu padrasto, era, na verdade, meu tio. Eu me encolhia ao pensar na situação sobre meu tio / pai. Era o completo estereótipo da pobretona de um parque de trailers. Eu era literalmente um meme ambulante. O rangido da porta da frente se abrindo me colocou instantaneamente em alerta. Estiquei a mão para pegar minha bolsa e a arma guardada lá dentro – e percebi que a havia deixado no sofá. Merda. — Marley? Baby? — Besian chamou da sala de estar. Aliviada, gritei de volta: — Estou aqui! Ele apareceu na porta do meu quarto de infância com minha bolsa pendurada na ponta dos dedos. Suas sobrancelhas estavam franzidas em aborrecimento. — A SIG que compramos para você se defender não adianta muito se estiver em outro cômodo, rrushe. Eu estremeci. — Sim. Desculpe. Balançando a cabeça, ele trouxe a bolsa para o quarto e a colocou em cima de uma pilha baixa de caixas. Ele olhou ao redor do cômodo e suspirou. — Tem certeza que quer continuar fazendo isso? Existem empresas que limpam casas como esta. — Ele correu os dedos sobre uma caixa empoeirada e esfregou-os, seu rosto se contorcendo de desgosto. — Você respirar toda essa sujeira me preocupa. — Você se preocupa demais. — Protestei fracamente, embora no fundo eu adorasse que ele sempre pensasse em mim e na minha segurança. — Um de nós precisa. — Ele murmurou enquanto cruzava o
caminho que eu havia desobstruído. Ele se agachou na minha frente e colocou a mão na minha bochecha. Ele se inclinou para um beijo e eu o encontrei no meio do caminho. — Senti sua falta. Eu ri. — Eu saí há menos de quatro horas! — Quatro horas a mais. — Ele beijou minha bochecha e depois meu queixo. — Quatro horas que poderíamos ter passado na cama fazendo coisas muito mais interessantes. Seu olhar ardente me prendeu no lugar e eu mordi meu lábio inferior. — Ainda podemos fazer essas coisas interessantes mais tarde. — Como se isso sequer estivesse em discussão. — Ele me beijou novamente, desta vez certificando-se de que eu entendia exatamente o que me esperava quando voltássemos para casa. Eu ainda estava tremendo por dentro, meu interior cheio de calor e excitação, quando ele se levantou e ergueu as abas de uma caixa próxima. Ele espiou dentro e fez uma careta. — Quantas malditas bolsas uma mulher precisa? — Você teria que perguntar a Aston e Rina. Ele bufou com diversão. — Conhecendo aquelas duas, a resposta seria algo acima de 100, mas menos de 1000. Mencionar Rina me lembrou de um e-mail que recebi pela manhã. — Tive uma resposta de Gilda. — A estudante de pós-graduação com quem Vivian a colocou em contato? — Ele moveu a caixa que tinha aberto para a pilha de caixas de bolsas e rabiscou o nome do designer nela com um pincel preto. — Sim. — Entreguei a ele a caixa que eu tinha acabado de
identificar para adicionar à pilha. — Então, ela não tem certeza se eles podem colocar Rina no programa de artes visuais, mas podem colocála em um programa semelhante. Talvez história da arte ou arquitetura ou mesmo algo como estudos clássicos ou um curso de língua ou história. Uma vez matriculada, ela pode adicionar artes visuais como secundária ou pode se inscrever para mudar de curso, o que é um processo mais fácil. — Você já disse à Rina? Eu balancei a cabeça. — Recebi o e-mail antes do Pilates. — Tenho certeza que ela ficará emocionada quando você fizer isso. — E o Luka? — Eu perguntei, um pouco receosa que a leniência recém-descoberta de seu irmão não se estenderia a sua irmã cruzando o Atlântico para cursar a faculdade. — Ele vai ter que superar isso. — Disse ele com um encolher de ombros. — Rina deixou claro que está vindo para os EUA goste ele ou não. É mais fácil para ele aceitá-la e apoiá-la do que arriscar que ela não volte. Fiquei preocupada que ela não quisesse voltar, independentemente do apoio de Luka, mas decidi nem mesmo tocar no assunto. Esse era um problema de Rina e Luka, não um problema de Besian, Marley, Luka e Rina. Besian se aproximou de outra pilha de caixas e leu a etiqueta de envio. Ele pegou a caixa e olhou para a que estava embaixo dela. — Jesus Cristo, Marley! Quanto dinheiro Kim gastou na QVC3? — Eu parei de somar. — Resmunguei. 3
QVC é uma rede americana de televisão aberta e principal canal de compras especializada em compras domésticas pela televisão, de propriedade do Qurate Retail Group.
Ele olhou ao redor do quarto e parecia estar calculando mentalmente. — Marley, você encontrou algum extrato bancário? Cartões de crédito? Documentos de empréstimo? — Não. A maior parte da correspondência na sala era de revistas ou catálogos da Fingerhut4. Não vi nenhuma fatura ou extrato bancário. — Isso não te pareceu estranho? — Achei que ela escolheu extratos digitais. — Eu disse com um encolher de ombros. — Por que isso importa? — Sua mãe usou suas fotos para enganar homens na internet, Marley. Ela roubou dinheiro de suas contas bancárias. — Ele disse cuidadosamente. — Como podemos ter certeza que ela não solicitou cartões de crédito ou fez empréstimos em seu nome para pagar por toda essa merda? Meu estômago apertou dolorosamente. Apertei minhas mãos em torno da bolsa Frye que acabara de descobrir. — Ela não faria isso. — Engoli em seco. — Certo? Ele não respondeu à pergunta. Em vez disso, gesticulou em direção ao corredor. — Vou vasculhar os outros cômodos e procurar correspondências fechadas ou escondidas. Enojada com a perspectiva de minha mãe arruinar meu crédito, fiquei sentada ali, entorpecida e perturbada. Meu amor por minha mãe lutava com a dor de outra possível traição. Era tão fácil procurar desculpas por seu comportamento, mas em algum momento, eu teria que aceitar que estas eram as escolhas que ela estava fazendo, escolhas que me machucavam emocional e financeiramente. 4
Fingerhut é um catálogo americano / varejista online.
Eu podia ouvir Aston no fundo da minha mente, me incentivando a limitar o contato com minha mãe. Eu não conseguia fazer isso. Eu não poderia afastá-la. Por mais distorcida e disfuncional que fosse nossa família, ela era minha mãe e eu a amava. Mas, algum dia em breve, eu esperava começar uma família com Besian. Eu não podia estar constantemente dividida entre minha mãe, meus filhos e meu marido. Minha família com Besian sempre viria em primeiro lugar, seria minha prioridade número um, e eu teria que me certificar que minha mãe entendia isso. Temendo aquela conversa futura, levantei-me do chão e vasculhei as outras caixas. Encontrei muita maquiagem fechada em algumas delas. Maquiagem cara. Vasculhei o conteúdo de uma caixa pesada e descobri quatorze paletas Natasha Denona. A caixa seguinte continha uma seleção de coleções Pat McGrath e Viseart. A caixa embaixo dela estava lotada com produtos da Huda Beauty. Milhares e milhares de dólares em maquiagens de marca fechadas, apenas ocupando espaço e sendo desperdiçados. O que diabos vou fazer com tudo isso? Eu nem tinha ideia de como vender maquiagem. Deveria anunciar na internet? Oferecer no Facebook? Vender para outra pessoa como um lote e deixar que ela cuidasse disso? — Marley! Venha aqui! A voz de Besian me tirou de meus pensamentos perturbados. — Onde você está? — No quarto da sua mãe. Quando o encontrei, ele estava sentado na beira da cama. Pilhas de roupas ainda com as etiquetas penduradas estavam em volta dele, e eu empurrei uma pilha de jeans escuros que ainda cheiravam a
tinta para o chão, para que pudesse sentar-me ao lado dele. Ele segurava alguns envelopes e pastas enormes, todos cheios de papéis. — O que você encontrou? — Documentos. — Onde? — Lá. — Ele gesticulou para um cofre aberto do outro lado do quarto, escondido atrás de uma esteira coberta por caixas de sapato e pilhas de toalhas de papel e papel higiênico. — Estava aberto assim quando você o encontrou? — Não. — Ele folheou os documentos em seu colo. — Mas achei que deveria tentar o seu aniversário antes de ligar para Devil para abri-lo para nós. — Ele sorriu para mim. — Funcionou. Eu revirei meus olhos. — Meu Deus, de que adianta ter um cofre se você o deixa tão fácil de abrir? — Ela provavelmente sabia que você teria que abri-lo algum dia. — Ele raciocinou e me entregou uma pilha de papéis. — Talvez. — Eu disse com incerteza e peguei os papéis dele. — O que é isso? — Parece que Spider deixou tudo para você. Meu coração pulou uma batida. — O quê? — Sim, está tudo aqui. Parte disso está em um fundo. Parte está dividido em diferentes corporações e estruturas de negócios. — Não entendo. — Tentei entender a papelada na minha frente. Havia papéis com minha assinatura que eu não me lembrava de ter assinado. — Eu não assinei isto.
— Bem, vamos manter isso para nós mesmos. — Ele sugeriu com um olhar significativo. — Se ele forjou sua assinatura, foi por um bom motivo. — Mas se minha mãe a falsificou e usou minhas informações? — Eu perguntei, pensando na rapidez com que ele havia assumido o pior dela apenas alguns minutos atrás. — Isso é diferente. — Ele argumentou. — Spider deixou imóveis e bens para você. Sua mãe deixou uma dívida e um cadáver. Eu fiz uma careta para ele. — Isso é cruel. — Mas é a verdade. — Ele insistiu. Gesticulando para os papéis em minha mão, ele disse: — Precisamos ver nosso advogado pela manhã. Ver como a prisão de Spider afeta esses documentos. Precisamos ter certeza de que entendemos as obrigações fiscais e outras complicações que podem surgir de tudo isso. — O governo não tentará retirar isso se Spider for considerado culpado? — Eles vão tentar. — Besian suspirou e me entregou o resto dos envelopes e pastas. — Vamos lutar contra eles. — Não se isso nos custar muito dinheiro. — Discordei, observando-o se levantar e voltar para o cofre. — Não quero que desperdicemos o seu dinheiro ganho com tanto esforço. — Marley. — Ele olhou para mim. — Você está segurando milhões de dólares em ativos nas mãos agora. Vamos lutar para que você fique com cada centavo a que tem direito. — Ele prometeu. — Isso é seu. Farei o que for preciso para garantir que você o mantenha. Quando ele se agachou em frente ao cofre e começou a retirar mais itens dele, olhei os envelopes e pastas. Besian estava certo. Eu
tinha milhões de dólares em ativos. Havia os parques de trailers e algumas casas móveis dentro deles. Havia um bar na costa, algumas lavanderias e alguns parques de trailers simples perto de locais de perfuração de petróleo e gás espalhados por todo o estado. Havia seis motos em meu nome e uma Suburban. Tudo estava pago e regularizado. — Olhe para isso. — Disse Besian, voltando para a cama enquanto eu olhava as declarações de impostos dos últimos seis anos. Eu nem queria pensar em como era ilegal ele declarar impostos comerciais em meu nome. Minha incapacidade de conseguir certos empréstimos para a pós-graduação finalmente fez sentido. Tive a sorte de não ter tido problemas por preencher formulários fraudulentos do FAFSA5! — Chaves para cofres no CNB6. — Estou quase com medo de descobrir o que está neles. — Eu olhei para as chaves com cautela. — Quem sabe? Talvez ele tenha alguns dos quadros de Picassos e Matisse perdidos escondidos lá dentro. — Ele brincou. Eu gargalhei. — Você está brincando, mas por mais louca que seja minha família, eu não ficaria surpresa em descobrir que Spider, de alguma forma, pôs a mão na pilhagem nazista que está desaparecida há setenta anos. Besian colocou as chaves de volta em um envelope e o colocou de lado. Ele abriu um dos outros envelopes espessos que havia carregado consigo. Ele enfiou a mão e congelou. Seus olhos se arregalaram e eu perguntei: — O quê? Com cuidado, ele puxou o que quer que estivesse no envelope 5
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e ergueu para que ambos víssemos. Meu queixo caiu. Era um saquinho Ziplock lotado de diamantes. — É aquele...? São aqueles...? — Diamantes. — Ele confirmou, inclinando a cabeça enquanto examinava o saquinho. Eu fiz uma careta. — Eu não quero isso. Provavelmente são diamantes vindos de sangue derramado. — Provavelmente. — Ele concordou. — Podemos vendê-los facilmente. Eu conheço um cara. — Ele olhou para mim. — A menos que você queira oferecê-los a Abby primeiro? — Não! Eu não quero Abby perto dessa merda ilegal! — É justo. — Ele colocou o saquinho de volta no envelope. — Isso é comum? — Eu me perguntei, apontando para os diamantes. — Manter diamantes assim? Ele assentiu. — Nós temos alguns no cofre do meu escritório. Também guardo joias de ouro. Algumas de prata. Você nunca sabe quando precisaremos permutar ou negociar. Nós. Os dois. Juntos. Como parceiros. — O que acontece depois de...? — Parei e decidi reformular minha pergunta. — Como podemos tornar o dinheiro com a venda dos diamantes legal? Ele me deu uma olhada. — Criptomoedas. Meus lábios se juntaram em uma linha sombria. — Você não pode estar falando sério. Não depois de tudo que passamos! — Existem outras maneiras. — Ele admitiu. — Mas são mais complicadas. Lavar dinheiro não é fácil, pelo menos não em grandes quantidades.
Suspirei. — Bem, e se vendermos apenas alguns diamantes de cada vez? É mais fácil de lavar? A testa de Besian franziu. — Eu não gosto de falar sobre isso com você. Parece errado. — Mas está tudo bem você assumir o fardo? Você lidar com tudo sozinho? — Baby, eu já sou um criminoso, mas você? Você ainda é boa. Limpa. Inocente. — B, não há mais nada de inocente em mim. — Inclinei-me e rocei meus lábios contra os dele. — Especialmente depois das coisas perversas e indecentes que você me ensinou. Ele riu sombriamente e me beijou de volta. Foi um beijo possessivo e faminto que me lembrou o quão apaixonado ele poderia ser. Besian envolveu o braço em minha cintura enquanto eu abria outro envelope. Retirei o conteúdo e fiquei imóvel quando percebi o que estava segurando. Era uma fotografia minha quando bebê com minha mãe, minha mãe biológica, Annie. A mão de Besian pousou na minha cintura e ele me deu um aperto amoroso. — Sua mãe era linda. — Ela era. — Eu sussurrei e toquei seu rosto com amor. Ela parecia incrivelmente jovem na foto, ainda apenas uma adolescente. Mesmo que ela sorrisse enquanto estava sob um salgueiro-chorão, segurando-me e acariciando minha bochecha, havia muita tristeza em seus olhos. Ela parecia perturbada, e partiu meu coração saber tudo o que ela suportou para me dar a vida. Havia mais fotos atrás daquela, muitas fotos espontâneas de Annie me segurando ou brincando comigo. Ela sorria em todas elas,
mas aqueles sorrisos nunca alcançavam seus olhos. Ela estava usando uma máscara de felicidade que, eventualmente, acabaria por achar insuportável. Sob todas as fotos, encontrei minha certidão de nascimento original. Minha respiração ficou presa na minha garganta ao ver o nome do meu pai biológico. Apesar de ele ter cometido um ultraje tão violento contra ela, Annie o incluiu no documento oficial. Mas por quê? Por que ela o reivindicaria como o pai de sua filha? — Ela já devia saber que não viveria muito mais tempo. — Comentou Besian com tristeza, e tirou de mim a certidão de nascimento. — Por que você diz isso? — Eu perguntei baixinho. — Ela colocou o nome dele aqui porque queria que você soubesse quem ele era. — Eu gostaria de não saber. — Eu não conseguia sequer pensar nos genes que havia herdado daquele monstro. — Marley, você não é a única com segredos terríveis na árvore genealógica. — Disse ele gentilmente. — Você é uma boa pessoa. Isso é tudo que importa. Eu sabia que ele estava certo, mas mesmo assim era difícil engolir. Ele me puxou contra ele e roçou os lábios no topo da minha cabeça. — Eu te amo, Marley. Independentemente de qualquer coisa. Fechei meus olhos e inclinei-me para ele, extraindo força de seu amor. — Eu também te amo. — Vamos para casa. — Ele sugeriu suavemente. — Vamos esvaziar o cofre e dar uma olhada no resto depois. Sua sugestão parecia a melhor ideia que eu tinha ouvido o dia
todo. Eu encontrei um cesto de roupa suja e joguei as roupas que estavam lá dentro na cama de minha mãe. Empilhamos tudo do cofre no cesto e ele levou para o carro. Depois que ele fechou a porta do passageiro, veio em minha direção, e eu não pude deixar de sorrir enquanto ele me encostava contra o carro. Ele olhou para mim daquela forma que fazia meu coração palpitar e meu corpo doer por ele. — Eu vou te seguir até em casa. — Ele disse e se inclinou para me acariciar. — Vamos tomar um banho, beber um pouco de vinho e então... — Ele beijou uma trilha lenta e delicada na lateral do meu pescoço. — Bem. Não quero estragar a surpresa. — Eu gosto de surpresas. — Murmurei, sorrindo para ele. — Eu prometo que valerá a pena esperar por esta. Sempre valia.
Fim.