Tradução: Hígia Revisão: Taci Formatação: Kytzia / Hígia Grupo Rhealeza Traduções 12/2021
Depois que o misterioso mafioso Besian salva Marley pela segunda vez, ela espera ansiosamente sua visita no hospital. Ela está pronta para confessar seu amor por ele, certa de que ele retribui seus sentimentos. Exceto que ele nunca aparece para vê-la. Com o coração partido, Marley foge de Houston e de Besian. Ela vagueia pela Europa em busca de respostas e, eventualmente, se encontra no último lugar que esperava estar - Albânia, a terra natal dele. Em Houston, Besian tenta fingir que está tudo bem. Ele está convencido de que deixar Marley ir foi a decisão certa. Ela é muito boa, muito pura, para um monstro de coração sombrio como ele. Mas, quando Besian descobre que alguém está atrás de Marley, ele não pode mais mentir para si mesmo - ou para ela. Ele deixa Houston no meio da noite, correndo para a Albânia para encontrá-la. E quando faz isso, sabe que há apenas uma maneira de realmente mantê-la segura. Quer ela goste ou não, ela voltará para Houston como sua esposa.
PRÓLOGO Saindo da névoa da anestesia, ouvi sussurros ásperos acima do bip rítmico das máquinas. As memórias voltavam à medida que acabava o efeito da anestesia, e me tornei mais consciente do que estava ao meu redor. Sequestrada. Atingida com uma arma de choque. Meu coração disparou erraticamente. Meu peito queimando. Suor escorrendo em minha pele. Aston. Correndo por nossas vidas. A Tríade. Os albaneses. Ben. Besian. Meu coração palpitando dolorosamente. Meus pulmões doendo. Minha cabeça latejando. A ambulância.
Cirurgia de emergência. — Você pode largar o telefone por cinco malditos minutos, Kim? — Spider, meu padrasto, explodiu. — Ela está dormindo! — Minha mãe sibilou de volta. — O que mais eu devo fazer? — Não fique aí mandando mensagens indecentes para o seu novo namorado da internet! É melhor você não estar usando as fotos de Marley de novo! Juro por Deus, Kim, se você estiver eu... — Você o quê? — Ela incitou. — Hein? Ele a ignorou e perguntou: — De onde é esse? Da Nigéria? Rússia? — Junior era da África do Sul! Adrian é da Romênia! — Oh, claro, claro que ele é, Kim. Tenho certeza de que Adrian é um rico empresário romeno que precisa de sua ajuda para transferir todo o seu dinheiro para a América, certo? — Na verdade, Adrian é um empreendedor de criptomoedas. — Uh-huh, eu aposto. Eu me pergunto de quanto será o golpe que esse perdedor vai dar em você? — Não é um golpe se eu der de bom grado! Às vezes, meus amigos só precisam de ajuda! — Amigos? — Spider riu asperamente. — Engraçado como seus amigos desaparecem depois que Venmo entra em ação, hein? — O que te importa com o que eu faço com meu dinheiro? — Eu não me importaria se fosse o seu dinheiro, Kim. Considerando que você não trabalhou um maldito dia em sua vida.
— Você não me deixou! Você queria que eu ficasse em casa e cuidasse de Marley, então eu cuidei! — Cuidou, Kim? Então me explique como você não lidou com esse problema cardíaco dela quando ela era criança! — Spider exigiu com raiva. — Aquele médico disse que ela tem isso desde que nasceu! Está em seus registros que ela precisava tratá-lo! — Eles me disseram que não era sério! Tinha muita coisa acontecendo na época, e o médico me disse que isso poderia esperar. — Ele provavelmente quis dizer por algumas semanas, Kim! Não vinte malditos anos! — Ela estava bem! Ela nunca reclamou. — Você teria sequer ouvido se ela tivesse? Ou ela sentiu que precisava esconder o que estava sentindo porque você sempre se fez de vítima em relação a tudo? Você tem que ser a mais egoísta. — Como você ousa! Eu abri mão de tudo para criá-la! De tudo! Egoísta? Olhe-se no maldito espelho, Spider! Enquanto você estava lidando com drogas, armas e só Deus sabe o que mais para o cartel e seu clube, eu estava sozinha em casa! Spider gargalhou. — Sozinha? Você vai ficar sentada aí com uma cara séria e fingir que não estava trazendo para casa cada pau que cruzou seu caminho? — Oh, porque você era um santo, hein? Judy, Vanessa, Marlene, Melissa, Luanne, Sabrina, Amanda, Dawn, Marcella. — Você fez o seu ponto! — Isso sem contar os casos de uma noite! — Eu entendi! Ok!
— E você tem coragem de me julgar por não ser uma mãe melhor quando você passou a maior parte da infância dela dentro e fora da prisão! Se você se importava tanto, por que não se esforçou mais para estar lá para ela? — Um de nós precisava ganhar dinheiro! Tão rápido quanto você gastava cada centavo que eu ganhava, eu tinha que continuar trabalhando como um cachorro. — Trabalhando? — Ela zombou. — Desde contrabando de drogas é trabalho de verdade?
quando
o
— É mais real do que aquelas besteiras de maquiagem e pílulas dietéticas que você continua insistindo! — Com licença! — Uma forte voz feminina interrompeu a briga. — Eu preciso que vocês dois saiam do quarto. — Ela ainda não acordou. — Protestou minha mãe. — Bem, quando acordar, ela precisa descansar. Podemos ouvilos da mesa! Peguem suas coisas e vão para a sala de espera. — Você não pode nos expulsar! Eu sou a mãe dela! — Ela é adulta. Se ela quiser você de volta aqui quando acordar, vou mandar alguém chamá-la. Constrangida com o comportamento deles, mantive meus olhos fechados até que ouvi o clique da porta. Quando os abri, percebi que não estava sozinha. A enfermeira que expulsou meus pais enfiou a mão sob o dispenser de álcool na parede. Enquanto esfregava as mãos, ela se virou para mim e sorriu. — Como você está se sentindo, querida? — Sinto muito. — Eu resmunguei, minha garganta doendo e seca.
— Oh, querida, não se preocupe com isso. — A enfermeira deu um tapinha gentil na minha mão. — Eles não são os primeiros pais brigões que temos de expulsar e não serão os últimos. — Ela verificou o tubo intravenoso ligado à minha mão até a bomba, onde desaparecia. — O estresse faz as pessoas agirem assim. Eu não queria admitir que eles brigavam assim todas as vezes que estavam na mesma sala. Pelo que me lembro, eles eram a personificação da confusão. Esse foi o motivo de eu ter saído da casa de minha mãe assim que terminei o ensino médio. Eu não conseguia lidar com as constantes discussões, gritos e coisas sendo arremessadas pela casa. — Como você está se sentindo? Em uma escala de um a dez, como está a sua dor? — Quatro? — Tentei — Principalmente na minha perna.
avaliar
meu
desconforto.
— Isso é normal. — Ela me assegurou. — Vai ficar um pouco sensível por alguns dias. Os médicos tentam ser gentis quando estão deslizando o cateter pela artéria, mas sempre há alguns hematomas. — Ela abriu a porta da bomba e digitou alguns números antes de fechála. — E náusea? Você sente que vai vomitar? — Não. — A ideia de vomitar depois de ter fios deslizando em minhas veias e entrando no meu coração me apavorava. E se eu rompesse algo? — Se você se sentir mal, avise-nos. É completamente normal após a anestesia. — Ela tomou meu pulso e checou seu relógio. — A frequência cardíaca parece boa. Sua respiração normalizou. A pressão arterial ainda está um pouco instável, mas vamos cuidar disso. Vamos verificar sua temperatura, ok? Abri minha boca para que ela pudesse colocar o termômetro sob
minha língua. Alguns momentos depois, ele apitou e ela o removeu com uma carranca. — 38,7. — Infecção? — Eu perguntei, já temendo o pior. — Talvez. — Ela respondeu evasivamente. — Vamos ficar de olho nisso. — Ela descartou a capa do termômetro no lixo. — Você quer que eu peça a seus pais para voltarem? Um por vez? Balancei minha cabeça fracamente. — Não. — Há mais alguém que você gostaria que viesse ficar com você? — Minha melhor amiga foi para casa descansar. — Expliquei, gesticulando cansadamente para o céu escuro do lado de fora das janelas da UTI cardíaca. — Não deve haver mais ninguém aguardando na sala de espera por mim. Mesmo quando disse isso, desejei mais do que tudo que houvesse. Não muito tempo atrás, fui eu quem esperei a noite toda e até as primeiras horas da manhã para visitar um paciente que precisava de uma cirurgia de emergência. Ele faria o mesmo por mim? Ele ficaria lá sentado e esperaria por uma chance, mesmo que de apenas alguns minutos, de sentar-se ao lado da minha cama? Para segurar minha mão? Para sorrir com ternura? Para me mostrar que ele se importava? Depois que a enfermeira saiu, fiquei acordada por mais algum tempo, tentando me convencer de que ele viria. Era fácil pensar nos motivos do atraso de sua visita. Talvez ele quisesse me dar tempo para sair da UTI. Talvez ele não quisesse lidar com Spider ou minha mãe. Talvez ele tivesse que lidar com a bagunça deixada para trás com a Tríade. Adormeci com a convicção de que, quando acordasse, ele estaria lá.
Acordei com a percepção de que ele ainda não tinha vindo. E quando fui transferida da UTI para o semi intensivo e depois para um quarto normal, recebi visitas de todos os outros. Aston, Ben, Abby, Mattie, meus colegas de trabalho na loja de penhores, amigos da faculdade, até mesmo do meu professor favorito – todos eles vieram me fazer uma visita, trazendo flores, cartões e votos de boa sorte. Todos que significavam alguma coisa para mim encontraram tempo para vir me ver. Todos menos ele. O que só podia significar uma coisa. Eu não significava nada para ele.
CAPÍTULO 01 Mãe: Ei, querida! Como vai a viagem? Eu: Boa. Estou esperando meu trem. Desculpe, perdi sua ligação esta manhã!
Mãe: Não se preocupe com isso! Eu sei que você está ocupada, querida.
Eu: Está tudo bem em casa? Mãe: Sim! Está tudo bem. Estou indo para Lake Charles com um amigo.
Eu: Dirija com cuidado! Mãe: Nós vamos. Mãe: Querida, você acha que poderia me emprestar algum dinheiro? Spider está sendo bem pão-duro este mês.
Mãe: Eu vou te pagar de volta com meus ganhos. Você sabe que sou boa nisso.
Mãe: Marley? Querida? Você já está no trem? Eu: Desculpe! Eu estava tentando encontrar um assento. Há dinheiro em um envelope rosa na gaveta de cima da minha cômoda.
Mãe: Na verdade, eu já tive que pegar aquele emprestado.
Para a conta de luz.
Eu: Mãe! Havia $500 naquele envelope!
Mãe: Bem, eu também tive que pagar por outra remessa de shampoo para manter meu negócio. Mas tudo bem! Vou vender tudo muito em breve! Preciso marcar mais algumas festas quando voltar de Lake Charles. Marley? Querida, vamos partir em breve. Você pode me ajudar, querida?
Eu: Há dinheiro em um pote de sorvete Blue Bell no freezer. O de massa de biscoito com gotas de chocolate.
Mãe: Obrigada! Mas, mãe, por favor, esta tem que ser a última vez. Há $1100 no freezer. Isso é mais do que suficiente para sua viagem. Estou limpa depois desse.
Mãe: Claro! Prometo que vou te pagar de volta assim que você chegar em casa!
Amo você, docinho!
Eu: Também te amo, mãe.
Apreciei o barulho das pedras sob minhas botas de caminhada. Era um som agradável, repetitivo e calmante como um mantra. De vez em quando, os sons da vida selvagem ou dos animais da fazenda interrompiam o ritmo dos meus passos. Eu gostava ainda mais disso, especialmente os latidos alegres dos cães correndo ao longo das cercas de madeira e o balido das cabras. À medida que eu subia mais e mais alto, as fazendas desapareceriam e a trilha rochosa se tornava mais inclinada através da floresta exuberante. Levei meu tempo ao longo da trilha, afastando-me para que os trilheiros mais rápidos pudessem continuar sua caminhada sem diminuir seu ritmo. Eu não estava com pressa e precisava ter cuidado para não me esforçar demais. Minha mão vagou em direção ao meu peito, esfregando o ponto sobre o meu coração. Meses haviam se passado desde o meu diagnóstico inesperado de defeito cardíaco e cirurgia para corrigi-lo. Eu estava totalmente recuperada e, até agora, não tinha apresentado nenhum sintoma ou efeito colateral. Ainda assim, às vezes, a ansiedade de pensar que talvez meu coração voltaria a bater de forma irregular me deixava excessivamente cautelosa. Caminhar pela Europa não era meu plano quando saí de Houston, sete semanas atrás. Eu estava comprometida com a ideia de pegar um passe de trem e viajar para os principais centros culturais. Eu tinha feito isso no início, mas depois li um post em um blog a caminho da Áustria que despertou minha curiosidade. Antes que eu percebesse, estava abandonando meu plano de assistir a uma matinê de ópera em Salzburgo para fazer uma caminhada de um dia.
Depois disso, meu itinerário mudou. Ainda visitei museus e maravilhas arquitetônicas, mas também tentei direcionar minhas viagens para áreas com caminhadas interessantes ou reservas naturais. Depois de uma jornada pela Hungria, me peguei olhando para meus planos de voltar para a Itália e percebi que queria ir para o sul, para os Bálcãs. Tentei não pensar sobre o motivo pelo qual sentia aquela atração. Comprei minha passagem de trem e parti. E, depois de mais uma semana de viagens de trem e ônibus, acabei no último lugar que esperava. Albânia. Sua pátria. Um lugar tão inesperadamente mágico e sobrenatural que eu não tinha palavras para descrevê-lo em meu diário de viagem. Parada no alto do Valbona Pass, respirei o ar fresco e limpo da montanha e fiquei maravilhada com a vista incrível. Querendo ver mais do vale, destravei minha mochila e a coloquei perto de uma árvore onde outros excursionistas haviam deixado suas bagagens. Havia uma camaradagem silenciosa aqui, todos cuidávamos uns dos outros e obedecíamos às regras não ditas da trilha. Não jogue lixo. Não roube. Seja atencioso. Com a alça da minha câmera em volta do pescoço, aninhei a cara DSLR contra o peito e subi mais acima até uma rocha saliente. Equilibrar-me lá foi um pouco complicado, especialmente com os fortes ventos batendo em meu rosto e chicoteando meu casaco fino. A zona rural do norte da Albânia se estendia por quilômetros à minha frente, a terra caindo em um vale exuberante. Os picos das montanhas mais altas 1
1
As câmeras DSLR são modelos profissionais, que têm tamanho maior e permitem a troca de lente. A principal característica dessas câmeras é que elas têm um jogo de espelhos e, por isso, o visor mostra exatamente a cena que você vai capturar.
e escarpadas projetavam sombras profundas ao longo da floresta abaixo, destacando a mudança na cor das folhas conforme o outono se estendia pela floresta. Um riacho serpenteava pelo centro do vale, largo em alguns pontos e apenas um gotejamento em outros. Não pela primeira vez, me vi querendo nunca mais voltar para casa. Fiz uma careta à ideia de trocar este paraíso pelo calor e a umidade horríveis e pelas altas pilhas de concreto e vidro em Houston. Voltar à minha pequena casa móvel no parque de trailers do meu padrasto. Voltar aos meus estudos de pós-graduação. Voltar à loja de penhores. Voltar à minha vida solitária e vazia. Eu poderia ficar aqui. E fazer o quê? Eu não sabia nada sobre mudar para outro país. Eu duvidava que me qualificaria para qualquer tipo de visto. Depois dessa viagem, eu seria uma estudante de pós-graduação sem dinheiro com um diploma de graduação praticamente inútil. Encolhi-me ao som da voz da minha mãe ecoando na minha cabeça, criticando minha escolha do curso. Saber que ela estava certa não tornava mais fácil de aceitar. Tornava as coisas exponencialmente piores. Recusando-me a deixar aqueles velhos argumentos arruinarem este momento, levantei minha câmera e tirei algumas fotos antes de descer da pedra. Escolhi locais diferentes, alguns mais altos do que a rocha e outros um pouco mais abaixo e me certifiquei de capturar todas as memórias que eu queria levar comigo. Quando tive certeza de que tinha fotos suficientes para me lembrar deste lugar, voltei para minha mochila e guardei minha câmera em segurança lá dentro. Depois de um pouco de água, coloquei minha mochila e
continuei a trilha. De acordo com o mapa, a descida até o próximo café, onde eu poderia comer alguma coisa e descansar, levava cerca de uma hora. Havia um trecho íngreme pelo qual eu não estava ansiosa para depois do café, e depois um leito de rio seco por alguns quilômetros até Valbona. Verifiquei meu relógio e dei uma olhada para o céu. Parecia haver luz solar suficiente se eu mantivesse um ritmo moderado. Pelo menos, eu tinha uma reserva de quarto esperando em uma casa de hóspedes em Valbona. Mesmo se eu chegasse perto do pôr do sol, não teria que me preocupar em encontrar um lugar para dormir. Afastei-me à medida que mais trilheiros desciam pelo caminho. Fiquei impressionada com alguns deles, especialmente com a maneira ágil com que se moviam sobre o terreno rochoso e íngreme. Quantas caminhadas eu precisaria fazer antes de poder me mover assim? Segura. Relaxada. Ágil. Depois de quase quarenta minutos em minha descida, eu estava sozinha na trilha, sem sons de trilheiros se aproximando por trás. O trio que me ultrapassara estava pelo menos sete ou oito minutos à frente. Rodeada pelos suaves sons naturais, quase não notei o estranho gemido. Parei e me esforcei para ouvir o som acima do farfalhar das folhas. Conforme o vento se movia pela trilha, trouxe outra coisa com ele – o cheiro de decomposição. Era uma mistura de podridão e doçura de revirar o estômago que me remeteu à primeira vez que eu limpei uma casa móvel depois que Spider despejou um inquilino. O calor do verão e uma gaiola de porquinhos-da-índia abandonada deixaram para trás um horror que eu jamais esqueceria. Preparando meu estômago para o pior, segui o cheiro e o leve gemido da trilha até a vegetação rasteira. A cada passo, duvidava mais da minha decisão. Se eu me machucasse fora da trilha, as chances de alguém me encontrar não eram muito boas, mas não podia ignorar o
pequeno gemido triste que ficava mais alto à medida que eu caminhava. Ofeguei quando pisei em um pedaço de grama escorregadia e pedras soltas. Meu pé escorregou, e eu caí com força, batendo minha bunda contra as pedras afiadas. O impulso da minha queda me fez deslizar pela encosta íngreme da montanha. Escorreguei por pelo menos seis metros, minha pobre bunda e a parte de trás das minhas coxas suportando o pior de tudo, e finalmente parei quando bati em uma grande pedra. — Sério? — Gritei em frustração, sem acreditar que tinha acabado de fazer exatamente o que temia que acontecesse se eu saísse da trilha. Estremecendo, sentei-me e verifiquei se havia ossos quebrados ou sangramento. Minha bunda ficaria com um hematoma terrível, mas isso parecia ser o pior de tudo. Um lamento estridente seguido pelo mesmo choramingo agudo interrompeu minha busca por ferimentos. Eu me levantei, usando a pedra para me equilibrar, e contornei a lateral dela para encontrar a fonte do cheiro terrível e do gemido triste. Lá, na sujeira e vegetação rasteira, estava um cachorrinho. Cobri meu nariz e boca com a manga da minha blusa e lutei contra a violenta náusea que ameaçava me fazer vomitar. A cadela mãe, uma espécie de mistura de pastor, havia morrido ao dar à luz. Sangue seco e coagulado cobria a grama e a pedra. As moscas zumbiam em torno dos restos do parto mal sucedido. Tive que me conter quando vi os corpos minúsculos de três filhotes mortos perto das patas traseiras da cadela. O filhote sobrevivente era maior do que os outros, mas obviamente estava lutando para se manter vivo sem alimentação ou calor. Incapaz de deixá-lo ali para morrer, abri minha mochila e tirei o moletom extra que havia colocado por cima, para o caso de meu casaco ficar muito molhado ou não aquecer o suficiente. O cachorrinho não
tentou correr quando me agachei para pegá-lo. No mínimo, parecia aliviado. Enfiei a coisinha suja em meu moletom e limpei um pouco da lama e do sangue grudados em sua pelagem. Depois de uma boa limpeza, ele provavelmente se pareceria muito com sua mãe, com focinho e rosto escuros e o corpo com pelo cinza claro. Era um cachorrinho doce, que gemia e choramingava enquanto eu tentava dar a ele um pouco de água. Quando ele não conseguiu descobrir como lambê-la na palma da minha mão, mergulhei uma manga limpa do moletom na água e ofereci ao cachorrinho como um bico de mamadeira improvisado. Ele a agarrou e sugou água, e eu sorri com meu sucesso. Mas e agora? Decidindo que levaria o cachorro comigo para o café e tentaria encontrar um veterinário ou abrigo, enrolei o cachorro contra o meu peito e voltei para a trilha. Não foi fácil fazer isso com uma mão, especialmente com a inclinação íngreme, mas consegui. Quando cheguei à trilha, estava ofegante e suando. Sem chance de pegar leve! O cachorrinho adormeceu e eu o abracei enquanto descia a montanha. A ideia de que ele poderia não sobreviver por muito tempo sem uma alimentação adequada me fez andar mais rápido. Eu queria dar ao cachorro a melhor chance de sobreviver, especialmente depois de cair e quase quebrar meu pescoço para encontrá-lo. Quando o pequeno café surgiu, soltei um suspiro de alívio. Não apenas pelo cachorro, mas também por mim. Eu realmente precisava usar o banheiro e reabastecer minha garrafa de água, talvez até comer alguma coisa. Depois, eu silenciosamente me lembrei. Você tem que encontrar um lugar para levar o cachorro. Ao me aproximar do café, tentei não julgá-lo com muita severidade. Não era muito mais do que duas construções em ruínas com
refrigeradores de água e baús de gelo. Havia algumas cadeiras e mesas dobráveis, a maioria delas já ocupadas com meus companheiros de caminhada. Ainda assim, era um lugar seguro para descansar, e em todos os outros cafés eu tinha sido atendida por pessoas gentis e hospitaleiras. Um homem mais velho grisalho com uma carranca e cabelos crespos parou na minha frente. Ele gesticulou para o pacote contra meu peito. — O que você encontrou? — Um cãozinho? — Aproximei-me para mostrar a ele o bebê peludo adormecido aninhado em meus braços. — A mãe dele morreu na trilha. Havia outros filhotes que não sobreviveram. Ele pareceu entender a maior parte do que eu disse. A proficiência em inglês era mais comum entre a geração mais jovem, mas quase todas as pessoas que eu tinha conhecido até agora no país falavam um pouco ou entendiam o suficiente para se comunicar comigo. Ele acenou com a cabeça e apontou para o chão, aparentemente me dizendo para ficar lá. Ele se voltou para o café e desapareceu em uma das cabanas. Quando ele saiu, havia um homem mais jovem o seguindo. Talvez seu neto? O menino parecia estar no ensino médio e usava uma camiseta da turnê do rapper Post Malone. — Meu avô disse que você encontrou um cachorro? — Sim, na trilha. — Eu mostrei a ele o cachorrinho. — Há um veterinário por perto? Ou um abrigo? Ele olhou para mim como se eu fosse louca, e eu percebi o quão estupidamente fora da realidade eu parecia. Estávamos na encosta de uma montanha, no meio do nada. Claro que não havia um veterinário por perto! — Não, mas o cachorro – a mãe dele – ela pertence à Agnesa.
Ela é criadora de ovelhas, e tem muitos cachorros. — A fazenda dela fica muito longe daqui? — Se eu pudesse devolver o filhote ao seu legítimo dono, seria a melhor opção. — Não muito longe. — Disse ele, gesticulando em uma direção à sua esquerda. — Talvez uma hora de caminhada? — Você pode indicar o caminho? Ele olhou para o céu. — Vai escurecer em breve. Você deveria descer a montanha com o resto dos trilheiros. — Você vai levar o cachorro para ela? — Eu o estendi para ele, e ele fez uma careta. — Vou te indicar a direção. — Obrigada. Duas trilheiras que passaram por mim no início do dia se aproximaram enquanto eu esperava as instruções. A loira com lindos olhos verdes e um rabo de cavalo vistoso perguntou: — Você quer que a gente segure o cachorrinho enquanto você pega um pouco de água? — Você se importa? — Eu perguntei, grata por sua ajuda. — De jeito nenhum! — Eu já volto. — Eu prometi e entreguei cuidadosamente o cachorrinho adormecido. Fiel à minha palavra, rapidamente lidei com minhas necessidades mais urgentes e voltei para o pequeno grupo que havia se reunido em torno do cachorro. — Obrigada! — Foi um prazer. — Ela disse, seu sotaque uma mistura curiosa que eu não consegui identificar. — Você é americana? — Sim. — Eu estendi minha mão. — Marley.
— Anna. — Ela gesticulou para a garota loira ao lado dela. — Ella, minha irmã. Somos da Dinamarca. — Estive na Dinamarca há algumas semanas. Visitei a maioria dos museus em Copenhague. Antes que eu pudesse perguntar de que parte da Dinamarca elas eram, o menino voltou com um pedaço de papel. — Aqui. — Disse ele, estendendo-o para mim. — A casa dela é fácil de encontrar. Meu avô escreveu um bilhete para ela, só por precaução. — Apenas no caso de quê? Ele encolheu os ombros. — Nada. Eu estreitei meus olhos. — É seguro ir lá? — Claro. — Seu avô o chamou, ele se virou e nos deixou lá sem dizer mais nada. — Ele é amigável. — Resmungou Ella. — Ele é um adolescente. — Respondeu Anna. — Como nosso irmão. — Ela revirou os olhos. — Eles são tão rudes nessa idade. — Você quer que a gente vá com você? — Ella perguntou enquanto estendia a mão para esfregar suavemente a cabeça do cachorro. — Não, tenho certeza de que vai ficar tudo bem. — Dei uma olhada nas instruções. — São apenas 5 km de caminhada. Devo ser capaz de fazer isso, voltar e descer para o hotel que reservei antes que escureça. — Você tem uma lanterna? — Anna perguntou. — No caso de demorar mais?
— Sim. Eu a verifiquei esta manhã. — Bem, se você tem certeza de que pode fazer a viagem sozinha, vamos descer. — Anna disse, claramente relutante. — Em qual hotel você vai ficar esta noite? — Depois que dei o nome a ela, ela disse: — Vamos passar por lá mais tarde para ver como você está. Certificarnos de que você desceu em segurança. — Obrigada. — Eu disse, tocada por sua preocupação. — Vou pagar uma bebida para vocês e contar tudo sobre minha viagem. — Combinado. Acenei para as irmãs enquanto elas se dirigiam para a trilha e virei na direção oposta para encontrar a estrada que eu deveria seguir. Aconchegando o filhote com mais força enquanto ele gemia e se inquietava, eu o silenciei suavemente até que ele adormecesse novamente. Segui pelo acostamento da estrada, não querendo ser atropelada por um veículo. Quanto mais eu caminhava, mais ficava óbvio que a estrada não era muito usada. Mesmo assim, permaneci vigilante. Quando cheguei a uma curva acentuada na estrada, peguei as instruções do meu bolso e verifiquei-as para ver qual era o próximo passo. Virar à esquerda na pequena estrada e depois à direita em um portão vermelho. Enquanto caminhava pela estrada estreita, percebi que o ar ficava cada vez mais frio à medida que nuvens escuras se aproximavam. Meu casaco era à prova d'água, então eu não estava muito preocupada em me molhar, mas não tinha certeza sobre as condições da estrada ou se conseguiria fazer o resto da minha caminhada com tempo tempestuoso. Eu poderia apenas imaginar a expressão de espanto de Aston quando eu contasse a ela essa parte da minha história de viagem. Ela acharia divertido, mas também me repreenderia por preocupação.
Percebi, imediatamente, quando as primeiras gotas de chuva caíram sobre minha cabeça. Fiz uma pausa na minha caminhada por tempo suficiente para colocar meu capuz no lugar e colocar o cachorrinho dentro do meu casaco para mantê-lo seco. De volta à estrada, acelerei meu passo quando um portão vermelho apareceu. Quando cheguei ao portão, pulei uma poça e fiz uma careta quando percebi que acordei o cachorrinho. — Desculpe, docinho. — Esfreguei suavemente a parte externa do meu casaco para acalmar o cachorro. — Serei mais cuidadosa. Ao longe, eu podia apenas ver o telhado de uma casa de fazenda. Aos poucos, o resto da fazenda foi se tornando visível. A casa parecia semelhante a todas as outras casas pelas quais passei durante a caminhada, com seu telhado de madeira e exterior de pedra. Havia um pequeno celeiro e um pasto cercado com ovelhas e cabras amontoadas na chuva. Perto da lateral da casa, havia um jardim repleto de plantas, mas foram os imponentes girassóis de pétalas vistosas orgulhosamente na frente da casa que chamaram minha atenção. Eles pareciam esplêndidos, mesmo na chuva. Como pequenas rajadas de sol me chamando para mais perto da casa bem cuidada. Uma mulher de cabelos escuros e pesados apareceu na porta da casa. Ela abriu a porta e enxugou as mãos em um pano de prato branco. Seu jeans e suéter estavam manchados pelo trabalho duro, e eu esperava não estar interrompendo algo importante. — Agnesa? — Perguntei enquanto me aproximava. Desconfiada por uma estranha estar à sua porta, ela acenou com a cabeça. — Meu nome é Marley, e eu estava caminhando na trilha.
Encontrei este cachorrinho. — Mostrei a ela o pacote dentro do meu casaco. — Atrás de um rochedo. O homem no café disse que provavelmente pertence a você. Sua cautela desapareceu e ela correu em minha direção para pegar o cachorrinho. — A mãe? Ela estava com o cachorrinho? Surpresa com seu inglês com sotaque britânico, assenti com relutância. — Sinto muito. A cadela estava morta, assim como o resto de seus filhotes. Agnesa pareceu triste com isso. — Margaritë era a minha favorita. Ainda não sei por que ela fugiu daquele jeito. — Sinto muito. — Eu repeti, sem saber o que mais dizer. — Você pode me mostrar onde os encontrou? Em um mapa? — Acho que sim. — Ótimo. — Ela abraçou o cachorrinho. — De manhã, vou buscá-la e trazê-la para casa. Não conseguia me imaginar arrastando um cachorro morto de volta para sua fazenda. O peso seria difícil de lidar, especialmente na encosta rochosa, mas essa mulher parecia o tipo que conseguiria. — Você deveria entrar. — Agnesa olhou para o céu escuro. — Esta tempestade vai piorar. Eu hesitei. — Preciso descer a montanha. Tenho uma reserva. Ela bufou. — Você não vai descer até lá. É muito perigoso, especialmente no escuro, com toda a chuva e vento. — Ela balançou a cabeça. — Não, você vai ficar aqui esta noite. Tenho um quarto de hóspedes e estou feliz por ter companhia. — Ela acariciou o cachorrinho. — Você pode me ajudar a alimentar este pequenino e
mantê-lo aquecido. Certa de que essa era a melhor e mais segura escolha, aceitei sua oferta. — Obrigada. Isso é muito gentil. Ela assentiu e gesticulou em direção à casa. — Venha para dentro e se enxugue. — Ela sorriu. — Você parece um gatinho afogado. — Obrigada. — Eu murmurei, seguindo-a até sua casa. Quando parei na entrada e tirei minhas botas enlameadas, casaco molhado e mochila, decidi ver isso como parte da aventura. Uma noite em uma casa de fazenda nas montanhas da Albânia? Eu mal podia esperar para contar a Aston sobre isso! — Eu tenho outra cadela que deu à luz alguns dias atrás. — Agnesa disse enquanto gesticulava para que eu a seguisse até uma sala adjacente. — Vamos ver se ela vai acolher este pequeno órfão que você salvou. — E se ela não o acolher? — Eu perguntei preocupada. — Existe, tipo, fórmula para cachorros? — Há. — Ela me assegurou. — Mas esta é a melhor saída. Fiquei parada enquanto Agnesa se aproximava de uma área fechada da sala com piso de ladrilhos, onde uma cadela estava sentada sobre uma camada de toalhas. A cadela parecia semelhante à que eu encontrara, Margaritë, e tinha sete filhotes aninhados em seu pelo fofo. Agnesa se ajoelhou e cuidadosamente aproximou o filhote perto o suficiente para que a cadela farejasse. Prendi a respiração enquanto a cadela investigava o cachorrinho e fazia um som estranho. Ela bateu no cachorrinho com o nariz e cuidadosamente o tirou da mão de Agnesa, segurando o cachorrinho fraco entre as mandíbulas e colocando-o junto à pilha de filhotes. Ela empurrou os outros filhotes para o lado, liberando espaço para o filhote órfão mamar.
— Ai está! — Agnesa sorriu para mim. — Olhe para ele. Bem na teta! Ele sabe o que está fazendo. — É um menino? Ela me lançou um olhar estranho. — Você não percebeu? — Eu não verifiquei. — Dei de ombros. — Estava mais preocupada em descer a montanha com ele para que alguém pudesse ajudar. — Bem. — Agnesa levantou-se de sua posição agachada. — Você fez uma boa coisa ao salvá-lo. Vamos. Vamos pegar algo quente para você beber. Você gosta de chá? — Sim. — Eu a segui pela casa modesta até sua cozinha surpreendentemente grande. O cheiro de vinagre e especiarias encheu o ar e me deu água na boca. Aproximei-me da velha mesa de madeira coberta com dezenas de potes fumegantes. — Você está enlatando sua produção? — Conservas. — Disse ela, enchendo uma chaleira com água. — Beterraba, repolho, pimentão. — Ela acenou com a mão. — Tudo o que eu tinha na horta que precisava ser processado ou consumido nos próximos dias. — Sempre quis aprender a fazer. — Admiti, abaixando-me para inspecionar o curioso conteúdo dos potes. — É bem fácil. — Ela colocou a chaleira no fogão e acendeu o fogo. — Aprendi com minha mãe quando era pequena, mas esqueci a maior parte e tive que me aprender novamente com um livro de receitas e pesquisando muito no Google. Decidindo ser um pouco intrometida, perguntei: — Você morava no exterior? É por isso que seu inglês tem sotaque britânico?
— Minha mãe e eu nos mudamos quando eu tinha quatro anos e só voltamos quando eu tinha quase trinta. — Ela abriu um armário e olhou para mim. — Você gosta de sopa? Eu planejava reaquecer um pouco para o jantar. — Oh, sim, está ótimo. — Eu não queria que ela tivesse trabalho para me alimentar, mas também sabia que a cultura aqui era ser hospitaleira e generosa. — Posso ajudar em alguma coisa? — Sente-se. — Ela ordenou. — E me diga o que a trouxe à Albânia. — Wanderlust. — Curiosidade.
— Eu
disse,
puxando
uma
cadeira.
Ela fez um som de descrença e jogou duas tigelas no balcão. Estreitando os olhos, ela insistiu: — Um homem. — O quê? — Você me ouviu. Você está aqui por causa de um homem. — Eu não estou! — Você está. — Ela apontou o dedo para mim. — Não tente mentir para mim. Eu conheço essa expressão em seu rosto. É a mesma que me trouxe de volta aqui. Engoli o instinto de discutir. Ela estava certa, é claro. Eu estava aqui por causa de um homem. Era patético, realmente. Eu tinha viajado todo esse caminho para esquecer minha paixão por ele, e mesmo assim, aqui estava eu, em sua terra natal, viajando pelo campo tentando encontrar respostas para perguntas que eu tinha medo de fazer. — Qual o nome dele? Com um suspiro, finalmente confessei: — Besian. Seu nome é
Besian.
CAPÍTULO 02 A milhares de quilômetros de distância, Besian acordou de um pesadelo que não o abandonava. Noite após noite, ele sonhava com alguma versão do mesmo pesadelo. Cabelos ruivos. Olhos azuis. Um grito. Sangue. Sangue por toda parte. Sua mãe gargalhando como a bruxa má que era, que ele era inútil e tinha matado Marley. Ele rolou de costas e soltou um suspiro ruidoso. Ele esfregou o rosto com as duas mãos e olhou para o relógio na mesinha de cabeceira. As cortinas blackout tornavam difícil saber que horas eram, e ele gemeu quando percebeu que não estava na cama há mais de quatro horas. Porra. Certo de que não voltaria a dormir, ele sentou-se com raiva e jogou as pernas para a lateral da cama. Ele foi até o banheiro e então seguiu para a cozinha. Ele se encolheu com o sol forte da manhã brilhando através das janelas do chão ao teto de seu apartamento de cobertura. Como um vampiro tentando não se queimar, ele contornou os cantos da sala para ficar nas sombras e protegeu seus olhos secos e cansados. As madrugadas supervisionando seu crescente império de boates e bares de strip-tease o estavam afetando. A falta de sono não estava ajudando. Tenso e estressado pra caralho, ele fez uma xícara de café e despejou uma quantidade obscena de café com leite na caneca junto com açúcar suficiente para causar um curto-circuito em seu pâncreas. Ele engoliu a metade, sem se importar se ainda estava muito quente, e então colocou a caneca de lado. Com as duas mãos no balcão, ele se inclinou para frente para esticar as costas doloridas. Ele fechou os olhos e tentou as técnicas de
respiração sobre as quais havia lido, mas não funcionou. Nada funcionava. Ele havia tentado de tudo – álcool, Xanax2 e Ambien3 do mercado negro, e até mesmo sexo. Ele se encolheu com a lembrança de sua tentativa fracassada de aproveitar a situação de amigos de longa data com benefícios que tinha com uma de suas melhores dançarinas. Tudo deu certo até que saiu embaraçosamente errado. Nunca em sua vida ele teve que se esforçar para ficar duro. Sinnamon foi legal sobre isso, mas ele viu o julgamento em seus olhos escuros. Não fazia sentido. Ele estava celibatário há meses. Ele não fazia sexo desde antes do tiroteio que quase o matou. Não porque não fosse fisicamente saudável o suficiente ou porque não tivesse desejos ou necessidades. Não por causa dela. Marley. Ela era a única que ele queria, mas era a única que ele não podia ter. Seu coração, sua mente, seu corpo – eles respondiam apenas a ela. E ele tinha fodido tudo. Depois de salvá-la pela segunda vez, ele poderia facilmente ter agido. Ele poderia ter ido ao quarto dela no hospital, levado flores após o procedimento cardíaco e confessado seus sentimentos. Ele poderia ter feito a coisa certa, a coisa romântica, e finalmente tê-la reivindicado. Mas ele não fez isso. 2 3
Xanax (Alprazolam) é um medicamento que ajuda a controlar a ansiedade, situações de pânico e fobias. Ambien (Zolpidem) é um medicamento indicado para o tratamento de curta duração da insônia.
Ele fugiu como um covarde. Vê-la tão fraca o abalou. Trouxe à tona a realidade de que ela era muito boa, pura e doce para o homem horrível que ele era. Ela precisava de um homem que pudesse protegêla e amá-la, dar-lhe tudo o que ela merecia. Um homem que trabalhava de maneira respeitável das 9 às 5, dirigia um sedan seguro, frequentava a igreja e queria treinar jogos da liga infantil. Eu não. Definitivamente, não eu. Porque se ele a trouxesse para sua vida, ela acabaria se machucando novamente. Ela acabaria morta, ou pior. Ele fez uma careta ao pensar nela sendo levada, ferida e abusada só porque o amava. Ele não podia fazer isso com ela. Ele se recusava a fazer isso com ela. Seu telefone tocou no quarto, interrompendo seus pensamentos perturbados. Ele deixou o café no balcão e voltou para o quarto. Seu telefone havia caído no chão em algum momento durante seu breve descanso, e ele se agachou para pegá-lo. O aparelho havia parado de tocar, mas ele sabia que era melhor não ligar para aquele número de seu telefone pessoal. Em vez disso, pegou um pré-pago de uma gaveta ao lado da cama e o ligou. Quando pegou sinal, ele discou um número que havia memorizado e esperou que Nikolai atendesse do outro lado da linha. Asperamente, ele perguntou ao russo: — O que há de errado? — O ATF4 invadiu o MC ao amanhecer. Houve um tiroteio. Dois federais estão mortos. Outro federal e dois delegados do condado de Harris estão no hospital. — Merda. — Besian beliscou a ponte do nariz. O clube de 4
Agência de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF) - "Bureau of Alcohol, Tobacco, Firearms and Explosives", é uma organização federal de aplicação da lei no Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
motocicletas Calaveras cuidava da maior parte do tráfico de drogas e de armas para o submundo de Houston. — Eles estavam em uma remessa? — Possivelmente. — Porra. Pegaram todos eles? — Ele não fez a pergunta óbvia. Pegaram Spider? Ele poderia ter se afastado de Marley para sua própria segurança, mas não queria que ela se machucasse se seu padrasto fosse preso. — A maioria deles. — Respondeu Nikolai. — Mas Spider e alguns outros conseguiram fugir. — Eles foram longe? — Spider ainda está desaparecido. Pelo que sabemos, ele está vivo, mas pode ter levado um tiro. Besian deixou de lado sua preocupação com Marley momentaneamente. Havia preocupações mais urgentes no momento. — Quão expostos estamos? — Você não está tão exposto quanto eu ou os outros. — Nikolai rosnou. — Você deve ter cuidado. Se alguém no MC conhece o seu negócio, eles vão dar com a língua nos dentes se acharem que isso vai tirá-los da prisão mais depressa. — Eu sei. — Respondeu ele, irritado. — Vamos nos encontrar mais tarde. — Diga a hora e o lugar. — Vou entrar em contato quando tiver um. — Certo. A ligação terminou e Besian sentou-se na beira da cama. Ele
largou o pré-pago e pegou seu telefone pessoal. Antes que pudesse terminar uma mensagem para Ben, seu telefone vibrou com uma nova mensagem. Acabei de ouvir a notícia. Aston está tentando entrar em contato com Marley. Sem sorte ainda.
Besian hesitou antes de enviar uma mensagem para Ben dizendolhe para o encontrar na loja. Ele não perguntou sobre Marley. Endurecendo o coração, ele se lembrou de que ela não era problema dele. Ele tinha feito uma escolha, e tinha que mantê-la. No entanto, mesmo enquanto tomava banho e se vestia, não conseguia parar de pensar nela. Ele não tinha a menor ideia de onde ela estava. Em algum lugar da Europa, e francamente, isso não ajudava em nada. Ela voltaria imediatamente uma vez que Aston a contatasse? Parte dele esperava que ela ficasse longe. Não havia nada que ela pudesse fazer para ajudar Spider, e ela estaria melhor e mais segura com um oceano entre ela e todas as besteiras legais de Spider. Claro, o lado legal das coisas era a menor das preocupações de Spider. A maioria das equipes que usavam o MC consideravam as operações no custo de fazer negócios, mas se Spider tinha clientes que não eram tão abastados, bem, ele poderia desejar ter morrido no tiroteio. Pare, ele silenciosamente repreendeu a si mesmo. Concentre-se em seus homens e em seus negócios. Eles estão contando com você. Ao sair de sua cobertura e pegar o elevador para a garagem, ele não conseguia se livrar da sensação de que Marley também contava com ele.
CAPÍTULO 03 — Acho que essa tempestade não vai diminuir tão cedo. — Previu Agnesa na manhã seguinte, enquanto estava na janela da cozinha com sua xícara de café enquanto eu aninhava dois dos cachorrinhos saudáveis da ninhada de Zinnia. — Se você estiver com um cronograma apertado, posso levá-la até a vila. Caso contrário, fique à vontade para ficar até que pare de chover e seque um pouco. — Eu não me importaria de ficar mais um dia. Posso ajudar com suas tarefas agrícolas. — Eu ofereci, esperando ser útil. — Você já trabalhou em uma fazenda? — Ela foi até um grande freezer encostado na parede e tirou alguns pacotes embrulhados que colocou na geladeira. Ela trocou os pacotes congelados por outros descongelados semelhantes, que largou em uma velha tábua de corte de madeira marcada. — Não. — Eu admiti. — Mas aprendo rápido. — Eu poderia usar alguma ajuda com as galinhas, meus gansos e patos. — Ela puxou um cutelo reluzente de um bloco de facas e abriu o papel branco ao redor do pacote. Pedaços de carne vermelha foram revelados. — Você também pode ajudar com os cachorros. — Claro. — Meu ajudante não vem em dias de chuva. Ele é um pouco mal-humorado assim. — Ela bateu o cutelo no pedaço gigante de carne e o partiu em pedaços menores. Eu me encolhi a cada golpe da lâmina e tentei não pensar na facilidade com que uma faca como aquela poderia desmontar uma pessoa. — Eu preciso cuidar das cabras e minhas duas vacas antes de mover as ovelhas. Se você cuidar das aves, posso fazer
meu trabalho mais rapidamente. — Eu posso fazer isso. — Observando-a cortar a carne, finalmente criei coragem para perguntar: — Isso é para o jantar? Ela riu. — Não, é para meus cachorros. — Oh. — Eles ficam com as galinhas e as ovelhas a noite toda para mantê-los protegidos dos predadores. Apenas minhas cadelas e filhotes ficam em casa. Pensando em como eu estava perambulando pelo campo sozinha, perguntei: — Há muitos predadores por aqui? — O tipo de predador que vai atrás de galinhas ou o tipo que vai atrás de lindas jovens turistas? Eu empalideci. — Ambos, eu acho. — Galinhas, sim. Jovens americanas? Não. — Bem, isso é um alívio. — É muito seguro por aqui. — Para ser honesta, eu estava um pouco nervosa quando parti para a Albânia porque há tantas histórias malucas na internet sobre como isso é perigoso. Essa não tem sido minha experiência. Honestamente, acho que estou mais segura aqui do que em Londres. — Eu sei que você está. — Ela disse, jogando os pedaços de carne ensanguentada em uma tigela de metal. — Não se esqueça que eu cresci lá. — Ela lavou as mãos na pia e pegou um pano de prato. — Pegue seu casaco. Você pode pegar emprestado um par de minhas botas de chuva.
Depois de devolver os filhotes à mãe, peguei meu casaco e calcei as botas de borracha verde-escura que Agnesa havia me dado. Elas se encaixaram perfeitamente e deslizaram sobre minha calça jeans quase até os joelhos. Vestido para sair no tempo, segui Agnesa para fora. Três cães pastores saltaram em nossa direção, e ela falou docemente com eles enquanto distribuía a carne. Dois dos cães não pareciam nem um pouco interessados em mim. O macho cheirou minhas mãos e tentou enfiar o nariz entre as minhas pernas antes de eu empurrar suavemente seu nariz molhado e lhe oferecer um pouco de carne. Ele pareceu feliz o suficiente por tomar café da manhã e abanou o rabo enquanto roía o osso viscoso e carnudo. — Vamos. Por aqui. — Ela me conduziu em um rápido passeio pelo celeiro e pelo galpão onde mantinha ração para galinhas, gansos e patos. Ela me mostrou como alimentar, dar água, colher os ovos e depois arrumar os ninhos e o chão do galinheiro. Quando eu estava confiante de que conseguiria fazer isso, ela me deu um resumo semelhante para as outras aves. — Quando você acabar com as galinhas, vá atrás dos patos e depois dos gansos. Tenha cuidado com os gansos. — Ela avisou, franzindo a testa para as aves barulhentas batendo suas asas para nós. — O grande? Ele é um verdadeiro cretino. Eu bufei. — Ele é apenas uma grande ave fofa! — É tudo um ardil. Ele finge que é bom para te atrair para perto o suficiente para morder. — Mordida de gansos? — Eu recuei em choque. — Tipo com os dentes? Ou apenas os bicos? — Dentes. — Disse ela, pegando a tigela de metal com carne de mim. — Vou alimentar o resto dos cachorros e depois levar as vacas e
cabras para o galpão de ordenha. Venha me encontrar quando tiver terminado. Deixada sozinha com as galinhas, espalhei ração na área que Agnesa havia indicado e observei enquanto dezenas de galinhas corriam para o café da manhã. Verifiquei e reabasteci os reservatórios de água e, em seguida, vivi minha fantasia de cottagecore5 coletando ovos frescos em uma pequena cesta forrada com tecido floral. Eu não pude deixar de desejar ter acesso à Internet ou um sinal de celular melhor. Este era o momento mais digno do Instagram da minha vida! Depois de juntar todos os ovos, fiz a tarefa mais nojenta de limpar a palha suja, a serragem e os excrementos. Esta parte definitivamente não era digna de Instagram. Eu enruguei meu nariz enquanto varria o resto da bagunça e jogava na lixeira. Depois de colocar mais palha e serragem nos ninhos, saí do galinheiro e caminhei em direção aos patos. Sorri com a maneira boba como eles batiam as asas e se agitavam atrás de mim, me seguindo e fazendo com que eu soubesse que eles não me aprovavam em seu espaço. — Desculpem, patinhos! Eu sou sua mãe pato substituta hoje. Eles grasnaram e bateram as asas, mostrando sua desconfiança mesmo enquanto eu espalhava comida. Um dos patos mais barulhentos estalou as penas contra a perna, avisando-me para recuar, e eu rapidamente obedeci. Decidindo que eles não eram tão amigáveis quanto as galinhas, eu os deixei e concluí as tarefas para sua área. Quando mudei para o pequeno lago, observei com cautela os gansos ali reunidos. Depois da recepção raivosa dos patos, não pude ignorar o aviso de Agnesa sobre o ganso cretino. Foi fácil identificar o 5
Cottagecore é uma estética da moda popularizada por adolescentes e jovens que celebram uma vida rural idealizada. Foi desenvolvido ao longo da década de 2010 e recebeu o nome de cottagecore no Tumblr em 2018.
maior deles e, quase imediatamente, ele começou a correr furiosamente na minha direção. — Oh meu Deus! — Eu vi os dentes que cobriam seu bico e fiz uma careta. Que tipo de ave demoníaca têm dentes? O ganso cretino correu em minha direção, e eu rapidamente girei para evitar seu bico. — Xô! Vá embora! Nem um pouco intimidado por mim, o ganso bateu duas vezes suas asas em mim, o estalo das penas espetando minha pele, mesmo através do meu jeans. — Pare! Seu demônio de penas! Eu tropecei para trás e percebi que estava ficando sem espaço. Ou eu escapava dessa ave psicopata assassina ou iria acabar na lagoa. — Ai! Merda! — O ganso mordeu minha coxa com seus dentes malignos e bateu as asas novamente, me empurrando para mais perto da lagoa. — Pare! Vá embora! O cachorro que havia pego a carne da minha mão correu em direção ao ganso e latiu até que ele se afastou e se juntou ao seu bando. Ele parou na minha frente, protegendo-me do bando de gansos malhumorados, e latiu mais algumas vezes para garantir. Grata por sua ajuda, eu cocei entre suas orelhas. — Obrigada. O cachorro se esfregou em minha mão e arfou feliz. Eu nem me importei que ele estivesse deixando seu cheiro de cachorro molhado em mim. Depois de me resgatar daquele ganso do demônio, eu ignoraria quaisquer defeitos que ele tivesse. O cachorro me acompanhou enquanto eu terminava de cuidar dos gansos e depois trotou ao meu lado quando fui procurar Agnesa do outro lado do celeiro. Eu segui os barulhos que as cabras faziam, até chegar em um galpão. Agnesa estava conduzindo uma cabra para uma plataforma elevada. Ela me lançou um sorriso divertido e perguntou:
— Então, quão ruim foi? — Aquela ave precisa de um exorcismo! — Fiz um gesto para a mancha de sangue na minha calça jeans. — Ele tentou comer minha perna! — Eu te avisei. — Ela colocou a cabra na plataforma e pegou uma corda verde desbotada amarrada a um dos postes de suporte. — Você quer aprender a ordenhar uma cabra? — Hum... claro? — Venha aqui. Observe. — Ela enrolou a corda nas patas traseiras da cabra e prendeu-a no outro poste. — Essa aqui gosta de chutar quando está sendo ordenhada. Ela bateu o casco no balde três vezes na semana passada. Isso vai manter ela, eu e o leite seguros. Ela pegou um dispositivo de aparência estranha que parecia uma armadilha para urso em um bastão. — Pente. — Ela explicou. — Eu gosto de escová-los antes de ordenhar. Livra-se do pelo solto que pode acabar no balde. — Faz sentido. — Murmurei, observando enquanto ela escovava a cabra. Minúsculos fios brancos esvoaçaram livremente. Quando terminou de escovar a cabra, ela pegou um balde azul com água com sabão atrás dela. — Usamos isso para limpar o úbere e as tetas. Você usa um pano por teta. Para não fazer contaminação cruzada. Quando terminar, eles vão para este balde aqui. — Ela apontou para um balde vermelho cheio de panos usados. — Estes são lavados e colocados no balde para amanhã. — Com que frequência você tem que ordenhar as cabras? — Tentei entender a carga de trabalho que ela lidava todos os dias. — Eu as ordenho todas as manhãs. Deixo os filhotes se
alimentarem de suas mães, então elas também precisam ter leite suficiente para os bebês. — Ela terminou de lavar o úbere e as tetas. — Eu só tenho cinco ou seis cabras de cada vez, no entanto. É administrável. — Você bebe o leite? Ou o vende todo? — Eu não suporto isso. — Ela confessou com uma risada. — Não me importo com queijo de cabra, mas com o leite. — Ela fez uma careta e estremeceu. — Não é para mim! Então vendo o leite para Afrim e sua esposa Sara. Eles têm um pequeno negócio artesanal de queijo, iogurte e sabonete. Eles vão passar por aqui e pegar o leite em algumas horas. — É um negócio secundário lucrativo? Vender o leite, quero dizer. — Não é ruim. Minha principal fonte de renda são as ovelhas, mas posso vender o leite ou a carne das cabras. Posso vender os cabritos para outras fazendas. Basicamente. — Ela enxugou as tetas recémlavadas com um pano limpo de outro balde de água. — Vendo tudo o que eu cultivo ou crio. — Ela gesticulou em direção a um balde fumegante de água com sabão. — Lave as mãos. Então, sente-se no banquinho. Fiz o que ela instruiu e olhei nervosamente para a cabra, que berrava. Depois de ser mordida por aquele ganso, estava relutante em me aproximar de outro animal com dentes. Olhei fixamente para os úberes protuberantes pendurados entre as pernas da cabra e estremeci ao ver como pareciam doloridos. — Eles estão sempre inchados assim? — Esta é uma das minhas melhores produtoras. — Explicou Agnesa. — Mesmo quando está alimentando seus filhos, ela ainda produz muito leite extra.
— Eles doem? — Não queria tocar no animal e causar-lhe dor. — Seus úberes? Provavelmente estão um pouco doloridos porque estão cheios, mas quando você começar a tirar o leite, ela ficará muito mais confortável. — Agnesa se moveu para atrás de mim. Ela se agachou e colocou as mãos nas minhas. — Agora, quando ordenhamos, esprememos e rolamos. Assim. Observei suas mãos se moverem e senti o movimento na minha pele. Eu tentei, e ela ajustou minhas mãos. — Coloque as mãos nas tetas dela. Gentil, mas firme. — Ela guiou. — E agora aperte e role. A primeira tentativa não fez nada, mas quando tentei de novo, apertando a teta e rolando os dedos por toda a extensão, consegui fazer um jato de leite sair. — Ei! Eu consegui! Rindo, Agnesa se levantou. — Agora, dê um aperto em ambas as tetas. Deixe o leite cair na plataforma. Você está limpando o mamilo de qualquer sujeira ou cabelo. — OK. — Mordi meu lábio inferior e ordenei alguns jatos dos úberes pesados da cabra. A cabra parecia aliviada com a ordenha e eu relaxei com a garantia de que não a estava machucando. Atrás de mim, Agnesa pegou um balde de metal lacrado e o colocou sob a cabra. Ela removeu a tampa. — Ordenhe-a neste balde. Foi esterilizado. Quando terminar, vou mostrar como filtrar e transferir o leite para ser resfriado. Espremer. Rolar. Espremer. Rolar. Repeti as instruções várias vezes enquanto minhas mãos se moviam para cima e para baixo nas tetas da cabra. Depois de alguns minutos, meus pulsos começaram a queimar. Olhei para Agnesa, que sorriu conscientemente. — A dor vai diminuir quando você estiver um pouco mais aquecida.
— Seus pulsos doem assim toda vez que você ordenha? — Continuei trabalhando na cabra, lançando jatos de leite espumoso no balde reluzente. — Sim, mas faz parte do trabalho. — E aquelas máquinas automáticas? Como bombas tira leite, mas para animais? — Muito caro para meu pequeno rebanho. — Ela zombou. — Às vezes, os métodos antigos são melhores. — Eu acho. — Respondi ceticamente. Meus pulsos estavam queimando e eu podia dizer que ainda havia muito leite para ordenhar. Quando o balde encheu, pensei que tinha chegado ao fim, mas Agnesa me surpreendeu ao dar um passo à frente e bater nos úberes da cabra. — Uau! — Está tudo bem. — Ela me assegurou. — Você deveria ver como os cabritos batem com a cabeça nas mães para conseguir mais leite. Isso é apenas um toque comparado àquilo. — Se você diz. — Eu disse, incerta. A cabra não pareceu se importar nem um pouco. Na verdade, parecia relaxada agora que a pressão de todo aquele leite havia sido aliviada. Quando terminei de ordenhar a cabra, fechei a tampa do balde e coloquei-o de lado em uma prateleira mais alta com os outros baldes de leite. Agnesa desamarrou a cabra e a conduziu pelo outro lado da plataforma até o curral com as outras cabras. Ela voltou e disse: — Pegue dois baldes. Me siga. Carregamos os baldes de leite até o estábulo. Havia um cômodo fora da entrada que era incrivelmente limpo e arrumado, mas ela balançou a cabeça quando cheguei perto. — Tire as botas. O casaco também. — Ela gesticulou para que eu colocasse meus baldes de leite
em uma mesa de aço inoxidável e, em seguida, tirou seu casaco. — Pendure o seu aí no gancho. Depois de tirar as botas, pendurei meu casaco no gancho e me juntei a ela na pia do cômodo de ladrilhos brancos para lavar as mãos. Quando estávamos limpas, ela fez sinal para que eu me juntasse a ela na mesa onde havia colocado todos os baldes de leite lacrados. — Então, vamos filtrar o leite e transferi-lo para alguns potes esterilizados. Em seguida, colocamos o leite na geladeira para que possa esfriar rapidamente. Fascinada pelo processo, trabalhei silenciosamente ao lado dela, observando a maneira competente como ela lidava com tudo. Uma engenhoca de metal cabia dentro da abertura de uma jarra de vidro e o leite era derramado dentro dela. Conforme o leite gotejava por um filtro, todos os pelos e sujeira ocasionais ficavam presos. O que acabava no frasco era leite puro e fresco. — Ele se separa como o leite de vaca? — Eu me agachei para ver o leite girando para dentro da jarra. — A gordura e o leite aguado, quero dizer. — Não. — Ela deu uma pequena sacudida no filtro para passar o resto do leite. — Se você verificar na geladeira, o leite de vaca que processei esta manhã está na prateleira de cima. Você pode ver a diferença. Curiosa, abri a geladeira e examinei os potes gelados de leite de vaca. O leite era ligeiramente mais branco e parecia mais ralo do que o leite de cabra. O leite já havia começado a se separar com a nata flutuando em cima. — Por que é diferente? — O leite de cabra é homogeneizado naturalmente. — Ela explicou enquanto fechava a tampa de uma jarra. Ela me entregou o frasco processado. — Se você quiser separar a gordura do leite, tem que
separá-lo mecanicamente. — Como amostras de sangue em uma centrífuga? — Coloquei o pote de leite em uma prateleira vazia e fechei a porta da geladeira. Ela riu. — Sim. Exatamente assim. Quando me juntei a ela na mesa para ajudar com o resto do leite, perguntei: — Você sabe o que é cottagecore? Ela me lançou um olhar engraçado. — As meninas com vestidos floridos colhendo flores e vegetais e acariciando vacas no Instagram? — Hum, bem, sim, isso. — Eu ri de sua descrição apropriada. — O que tem isso? — Talvez você pudesse anunciar sua fazenda como uma casa de hóspedes que oferece uma legítima experiência de cottagecore. — Não. — Só estou dizendo. — Continuei com insistência. — Que eu teria perdido essa experiência incrível se não tivesse topado com seu cachorrinho. Esta tem sido a melhor parte de toda a minha viagem à Europa. Ela olhou para mim como se eu tivesse enlouquecido. — Passar por poças de lama para limpar cocô de galinha e ser mordida por um ganso é a melhor parte da sua viagem? — Ok, então, talvez não a parte do ganso. — Eu concordei. — Mas o resto? Absolutamente. Quer dizer, você me ensinou a ordenhar uma cabra! Você me deu uma aula de ciências sobre leite homogeneizado. Você me mostrou quanto trabalho dá uma fazenda. Isso é algo que as pessoas pagariam um bom dinheiro para experimentar.
— Eu não gosto de pessoas. — Ela resmungou. — Você gosta de mim. Ela resmungou dramaticamente. — Eu gosto. — É justo. Trabalhamos em silêncio por alguns momentos antes de ela suspirar e perguntar: — De quanto estamos falando por noite? Eu sorri triunfante e bati em seu quadril com o meu. — Considerando o quanto seu quarto de hóspedes é aconchegante? Provavelmente o dobro do que as outras casas de hóspedes cobram. E! Você também obtém mão de obra gratuita de seus convidados! — Esse é um bom ponto. — Ela murmurou, ainda não totalmente convencida. — A internet é um problema, no entanto. É difícil compartilhar uma foto sua alimentando galinhas e ordenhando cabras sem ela. — Verdade. — Eu desanimei com essa constatação. Não consegui enviar uma mensagem de texto ou e-mail na noite passada ou esta manhã. — Talvez haja uma maneira de ter um bom sinal? — Bem. — Disse ela, estendendo a mão para outra tampa. — Estou pensando em me juntar a alguns vizinhos que estão tentando reunir um número suficiente de pessoas interessadas em uma torre de satélite para o nosso lado da montanha. — Ela fechou a tampa com força. — Pode valer a pena. — Ou você vende a experiência como algo fora do comum. — Sugeri. — Ignore completamente os problemas da Internet. — É uma boa ideia. — Ela guardou o último leite na geladeira. — Pegue suas botas e casaco. Vamos falar sobre isso no caminho para verificar as ovelhas.
Sentindo-me animada com a perspectiva de ajudar Agnesa a iniciar um novo empreendimento, corri para calçar minhas botas e vestir meu casaco. O papel com as instruções que o adolescente do café me deu caiu do meu bolso e Agnesa o pegou. Ela leu o bilhete do velho e deu uma risadinha. — Será que eu quero mesmo saber o que ele escreveu? — Perguntei enquanto fechava meu casaco. — Ele diz que você é estranha e teimosa como eu, e eu deveria deixá-la passar a noite para que você não caísse da montanha no escuro e quebrasse o pescoço. — Ah, cara legal. — Comentei sarcasticamente. — Ele é meu tio. — Explicou ela, devolvendo o bilhete. — O irmão mais velho da minha mãe. — Ela esclareceu. — Ele sempre foi assim. — Rabugento? Ela riu. — Sim. Agnesa enlaçou o braço no meu. — Deixe-me contar a você sobre a vez em que ele roubou duas das minhas cabras para pagar uma dívida que meu pai tinha com ele quando eles tinham 12 anos...
CAPÍTULO 04 Sentado atrás de sua mesa no mais famoso dos clubes de strip de seu império, Besian verificava as contas do mês. Maesha e sua equipe de contadores cuidavam da folha de pagamento, dos impostos e da contabilidade de seus negócios legítimos, mas ele ainda gostava de manter o controle das coisas. Ele gostava de ver o que entrava e o que saía diariamente. Ele pegou sua caneca de cerâmica e tomou um gole de café. A cafeína era a única coisa que o manteria aceso esta noite. Ele ficou de pé o dia todo. Ele havia começado na loja de Ben, onde deu ordens para reforçar suas defesas e limpar qualquer coisa questionável para a inevitável busca. Depois disso, houve um encontro tenso com Nikolai e alguns dos outros chefões do submundo. Ele trocou o almoço por um punhado de antiácidos e uma garrafa de Gatorade. Depois, se reuniu com seus corretores, enviou as equipes de cobrança e agendou a próxima grande noite de pôquer em seu cassino subterrâneo. Ele comeu um jantar simples no silêncio de seu apartamento antes de começar a ronda em seus clubes. Sempre havia algo que precisava ser resolvido. Dançarinas brigando pelo tempo de palco. Seguranças tratando os clientes de maneira muito rude. Bartenders roubando. Clientes tocando as garotas que não queriam ser tocadas ou sendo pervertidos com aquelas que permitiam. — Está aberto. — Ele gritou quando alguém bateu na porta. — Chefe? — Marcos, o maior segurança do clube, enfiou a cabeça pela porta. — Uh, você tem um visitante. Ele franziu a testa. — Quem?
— A senhora de Ben. — Aston? — Ele colocou de lado sua xícara de café e se levantou da cadeira quando ela entrou em seu escritório. Acostumado a vê-la sempre tão lindamente arrumada e bem-vestida, ele ficou surpreso com o emaranhado de cabelo loiro enrolado em um coque bagunçado em cima de sua cabeça. A roupa de ficar em casa amassada, a blusa bem apertada ao redor de sua barriga de grávida e os chinelos rosa felpudos aprofundaram sua preocupação. — O que há de errado? É o Ben? Aston balançou a cabeça enquanto se encostava contra a porta. — É Marley. — Marley? — Ele controlou o pânico que ameaçava dominá-lo. — O que você quer dizer? — Eu não consigo falar com ela. Estou tentando ligar para ela, enviar e-mails e mandar mensagens para ela há dois dias. — Ela acenou com o telefone descontroladamente enquanto falava. — Fui até a casa da mãe dela, e está trancada e escura. Nenhum carro na garagem. Caixas empilhadas na varanda. Todas as flores e plantas na frente estão mortas. Algo está errado! — A mãe de Marley nunca foi exatamente confiável. — Ele a lembrou. — Talvez ela tenha fugido para jogar depois que Marley saiu de viagem. — Ok, claro, mas Marley está inacessível. Isso não é típico dela! De jeito nenhum! — Aston insistiu. — Ela me liga, envia mensagens de texto ou e-mails todos os dias. Ela posta no Instagram ou Facebook. No início, fiquei preocupada porque ela não sabia sobre Spider, mas agora, estou preocupada que algo tenha acontecido com ela lá. — Acalme-se. — Besian pediu. — O bebê. — Disse ele, gesticulando para a barriga dela. — Sente-se. Por favor.
Aston revirou os olhos e rapidamente cruzou seu escritório. Depois que ela se acomodou, ele sentou-se ao lado dela. — O que Ben disse? — Que eu não deveria me preocupar tanto e que ela provavelmente está em algum lugar sem serviço de celular ou internet. Ok, talvez, mas por dois dias? — Ben provavelmente está certo. — Ele tentou amenizar seus temores. — Às vezes, o serviço de celular é irregular no exterior. Ela revirou os olhos novamente. — Eu sei disso! Viajo para o exterior todos os anos desde que eu tinha uns três! — Tudo bem, tudo bem. — Disse Besian, tentando acalmá-la novamente. — Onde está Marley agora? Aston hesitou. — Albânia. Pego de surpresa, ele perguntou: — O quê? — Ela. Está. Na. Albânia. — Aston falou cada palavra com força. — Mas... por quê? — Você está falando sério? — Ela olhou para ele como se ele fosse o homem mais estúpido que já existiu no planeta. — Por que mais ela iria para lá? Besian não tinha certeza se deveria achar isso encorajador ou perturbador. Antes que pudesse processar totalmente a ideia de Marley explorando sua terra natal, Aston passou a tela em seu telefone e mostrou a tela para ele. — Aqui é onde ela estava três dias atrás. Seus olhos se arregalaram ao ver o fundo da foto de Marley. Ele pegou o telefone de Aston. — O que diabos ela está fazendo em Bjeshkët
e Nemuna? — Bjesh o quê? — As Montanhas Amaldiçoadas. — Ele traduziu. — Os Alpes Albaneses. — Caminhando, atrevidamente.
obviamente.
— Aston
respondeu
— Ela acabou de fazer uma cirurgia cardíaca! — Sua cabeça latejava ao imaginar Marley, ainda se recuperando da cirurgia, subindo as encostas rochosas. — Foi feita por cateterismo! Ela não é uma inválida! Ela está perfeitamente saudável! — Nós concordaremos em discordar sobre isso. — Ele murmurou. — Por favor, diga que ela está caminhando com um grupo? Aston hesitou novamente. — Não exatamente. Ele cerrou os dentes. — Ela está caminhando sozinha? — Sim. Quase perdendo o controle, Besian devolveu o telefone dela. Imagens de Marley ferida na floresta ou toda quebrada no fundo de uma queda íngreme passaram por sua mente. Seu estômago embrulhou. E se algo pior do que uma queda tivesse acontecido? E se ela tivesse sido roubada? Assaltada? Sequestrada? — O que você está fazendo? — Aston perguntou enquanto ele apressadamente desligava seu computador. — Vou buscá-la e trazê-la para casa. Aston parecia assustada. — Você está indo para a Albânia?
— Por que mais você veio aqui? — Ele vestiu o paletó e pegou as chaves, a carteira e a arma da gaveta de cima da mesa. — Não era isso que você esperava que eu fizesse? — Não! Achei que você faria uma ligação ou algo assim! Não que fugiria no meio da noite para a Albânia! — Isso não é algo que possa ser resolvido com um telefonema. — Ele gesticulou para que ela se levantasse. — Você vai para casa. Se Marley entrar em contato com você, diga a ela para ficar onde está e esperar por mim. — E se ela não ligar? — Aston perguntou nervosamente. — Eu vou encontrá-la. — Ele jurou e deu um aperto no ombro dela. — Não vou voltar para Houston sem ela. Aston o deixou em choque ao abraçá-lo sem aviso. Ele não era o tipo de homem que gostava de um toque íntimo como este, e desajeitadamente deu tapinhas nas costas dela. — Muito obrigado por levar isso a sério. — De nada. — Ele não disse a ela que qualquer assunto relativo à Marley era sério para ele. — Deixe-me acompanhar você até o seu carro. Surpreendentemente, ela não discutiu. Agora que ela tinha conseguido o que queria, Aston provavelmente percebeu o quão chateado Ben ficaria quando descobrisse que ela invadiu um clube de strip. Ele não invejava Ben tentando domar essa gata selvagem que escolhera como sua parceira para o resto da vida. Rica e mimada por seu falecido pai, Aston não estava disposta a deixar qualquer homem refrear sua independência. Quando se aproximaram de seu veículo, ele ficou feliz em ver que ela não tinha vindo dirigindo nada da coleção obscenamente cara
de seu pai. Esta noite, ela estava no novo Mercedes GLS que havia comprado recentemente de uma das concessionárias de Alexei Sarnov. Ele havia questionado a decisão do casal de comprar algo tão bom para um bebê que provavelmente destruiria todo o banco traseiro com migalhas, leite e suco, mas manteve sua opinião para si mesmo. Nada de bom viria de uma discussão com Aston. — Uh-oh. — Aston agarrou sua manga e deu uma sacudida. — A ameaça vermelha está aqui. Kostya. Ele olhou para o chefe de limpeza russo que olhava ameaçadoramente na direção deles. — Não o deixe ouvir você chamálo assim. — O que ele vai fazer? Me cortar em pedacinhos e alimentar alguns tubarões? Me jogar em um tanque de ácido e fazer uma sopa humana pegajosa? Besian fez uma careta. — Você assiste TV demais. — Ugh. — Ela reclamou. — Você parece mesmo o Ben. — Parece mais que Ben diz o mesmo que eu. — Ele a acompanhou até o SUV, certificou-se de que ela estava segura dentro do carro e saindo do estacionamento antes de se juntar a Kostya perto de seu Audi preto. — Acho que você não está aqui para verificar o nosso clube. — Não. — Kostya verificou os arredores com seu olhar feroz. — Estou aqui pelo mesmo motivo que a mãe do bebê de Ben estava. Ele fez uma careta ao perceber quão degradante isso soou. Ben precisava fazer a coisa certa e logo. Ele precisava se casar com Aston e dar a seu bebê a estabilidade de uma casa com ambos os pais que ele nunca teve.
— Marley. — Disse Kostya, como se Besian não conseguisse somar dois e dois. — Não brinca? — Ele retrucou. Kostya sorriu. — Tão sensível a respeito dessa garota. — Não comece com suas gracinhas esta noite. — Tudo bem. — Kostya olhou para ele. — Há um preço pela cabeça dela. Besian estremeceu com o choque e rosnou furiosamente: — Quem diabos colocou um preço nela? — Não sei ainda. — Kostya admitiu. — Um de meus contatos me informou que recebeu uma sondagem em relação a ela e sua mãe. Meu contato disse que a parte interessada decidiu que não valia a pena dar o sinal verde para a mãe. Marley, por outro lado, valia. Havia apenas um pistoleiro em toda a cidade que aceitaria esse contrato. Um dos irmãos anônimos conhecidos como Profissionais. Eles eram um grupo nebuloso, quase impossível de contatar ou contratar, a menos que você fosse alguém com contatos como Kostya. — Quantos? — Besian afastou o desespero de sua voz e permaneceu o mais neutro possível. — Vou cobrir o preço dele. Kostya balançou a cabeça. — Eu já perguntei. Não é possível. — Por que não? Todo mundo tem um preço! — Esse cara não. — Respondeu Kostya. — E você sabe por quê. Besian passou a mão no rosto. Sim, ele sabia o porquê. Havia regras no submundo, um código que ditava suas ações. Spider infringiu
essas regras ao permitir que seu clube fosse invadido e sua equipe presa. Ele fugiu em vez de enfrentar as consequências. Ele havia perdido todas as proteções do código, e agora, Marley pagaria o preço. A menos que... — Você sabe onde ela está? Besian olhou para Kostya. — Como se eu fosse te dizer, porra! — Sério? Somos amigos e parceiros de negócios há anos, e você acha que eu venderia sua linda ruivinha? — Vá se foder. — Rosnou Besian. — Você e eu sabemos exatamente onde reside sua lealdade. Você é russo. Eu sou albanês. Nossas famílias são aliadas agora, mas isso pode mudar em um piscar de olhos. Kostya não discutiu. Por fim, ele resmungou: — Eu, pelo menos, lhe daria uma vantagem antes de ir atrás dela. — Uau. Você é um grande amigo. — Não seja um idiota. Eu vim aqui para avisar você. — Obrigado. — Besian respondeu sarcasticamente. — Sério, você é meu herói. Kostya apontou o dedo para ele. — Saia daqui. Vá procurá-la. Mantenha-a segura. Besian começou a se afastar, mas voltou-se para seu parceiro de negócios de longa data. Sinceramente, ele disse: — Obrigado, Kostya. Kostya acenou com a cabeça e avisou: — Tenha cuidado. Até que saibamos quem colocou o preço nela, você tem que estar em alerta. Besian girou os ombros enquanto corria para o carro. Ele
praticamente podia sentir um alvo em suas costas. Em algum lugar, do outro lado do oceano e subindo as montanhas da Albânia, Marley estava andando por aí sem saber que sua vida estava em perigo. Enquanto dirigia de volta para seu apartamento para fazer as malas, ele não conseguia parar de pensar em todos os “e se”. E se ela estivesse ferida? E se estivesse em um hospital? E se tivesse sido assaltada e não tivesse dinheiro ou meio de se comunicar? E se ela estivesse perdida nas montanhas? E se a pessoa que queria matá-la tivesse alcance suficiente para encontrá-la na Albânia? Quando chegou a seu apartamento, ele rapidamente reservou uma passagem para Paris e um voo de conexão para Tirana. O tempo de voo seria brutal, especialmente tão cansado e estressado como ele estava, mas não havia maneira de contornar isso. Suas opções de última hora eram severamente limitadas. Talvez eu desmaie de exaustão e finalmente durma um pouco. Ele jogou algumas roupas em uma bagagem de mão junto com seus artigos de higiene pessoal e outras necessidades. Enquanto destrancava seu cofre e tirava seu passaporte e alguns envelopes de dinheiro, ele entrou em contato com Ben e Jet para que tomassem conta das coisas enquanto ele estava fora. Antes de sair de seu apartamento, ele ligou para Zec e deixou uma mensagem de voz para avisá-lo que estava voltando para casa. — Eu preciso que você encontre Marley. — Disse ele, entrando no elevador. — Ela está perto de Valbona ou talvez Theth. Encontre-a. Não se aproxime dela. Fique de olho nela até eu chegar lá. A cabeça dela está a prêmio. Não deixe ninguém machucá-la. Ele encerrou a ligação e colocou o telefone no bolso. Ao jogar a bolsa no banco do passageiro e sentar-se atrás do volante, ficou mais irritado com Marley. Que merda ela estava pensando em sair sozinha
assim? Caminhar sozinha? Em um país estranho? Sem ninguém para ajudá-la? Depois de ter acabado de operar o coração? Eu estava errado. Admitir isso foi mais fácil do que o esperado. Marley precisava de um homem como ele em sua vida. Ela precisava de alguém para cuidar dela, para guiá-la e protegê-la. Ela tinha um coração muito bom e via o melhor em cada um. Ela não tinha ideia de quanto perigo estava correndo agora, e ele estava furioso consigo mesmo por não reivindicála quando teve a chance. Determinado a não cometer aquele erro novamente, Besian decidiu que era hora de fazer algumas mudanças em sua vida. Ele iria encontrar Marley e trazê-la para casa, mas não apenas como sua amiga ou mesmo sua namorada. Não. Quando ele trouxesse Marley para casa, ela voltaria como sua esposa.
CAPÍTULO 05 — Tem certeza de que não quer que eu a leve até a vila? — Agnesa estava parada na porta da sala onde estavam os cachorros enquanto eu acariciava os filhotes pela última vez. — Tenho certeza. — Dei ao cachorrinho que eu tinha salvo – Lucky – um último aconchego antes de devolvê-lo à pilha de cachorrinhos fofinhos. — Não é tão longe, e seu amigo produtor de laticínios disse que as estradas estão quase secas. — Eu verifiquei meu relógio. — Tenho tempo suficiente antes de escurecer para encontrar um quarto. — Tudo bem. — Disse Agnesa com um aceno relutante. — Você tem meu contato? Você vai me ligar quando voltar para o seu albergue em Shkodër? — Sim e sim. — Peguei minha mochila e deslizei meus braços pelas alças. Prendendo a trava em meu peito, eu disse: — Obrigada por embalar meu jantar. Vou mandar a garrafa térmica de volta. Ela acenou com a mão. — Fique com ela. Pense nisso como uma lembrança. — Eu vou. — Você sabe como chegar à balsa amanhã de manhã? — Sim. — E você sabe onde encontrar o ônibus para Shkodër? — Sim. — Divertida com sua atitude maternal, perguntei: — Você quer vir comigo para ter certeza?
— Não me tente! Já faz um tempo que não saio da minha montanha. — Você é sempre bem-vinda em Houston. — E você é sempre bem-vinda aqui. — Disse ela, envolvendome em um abraço caloroso. — Gostei muito da sua companhia, Marley. — O mesmo. — Eu disse, abraçando-a de volta. — Obrigada por ser tão gentil e me receber em sua casa. — Obrigada por não me processar por causa daquela mordida de ganso. — Ela brincou. — Vamos. — Ela gesticulou para a porta. — É melhor você ir andando. Eu estava na metade do caminho quando olhei para trás para encontrar Agnesa olhando de seu jardim. Ela acenou, e eu acenei de volta uma última vez antes de puxar minha mochila um pouco mais para cima e marchar em direção ao portão vermelho. Triste com o fim da minha visita à fazenda dela, fechei o portão vermelho atrás de mim e comecei a descer o caminho estreito e sinuoso de volta ao café. Quando cheguei ao café, parei para beber água e acenei para o velho que havia me dado as instruções. Ele pareceu surpreso em me ver novamente e acenou para mim antes de retornar sua atenção aos trilheiros sentados às mesas. Havia uma caminhonete estacionada perto, um Mercedes X-Class preto empoeirado, e o neto estava na caçamba, movendo as caixas em direção à porta traseira. — Ei! — Ele gritou. — Você sobreviveu à Agnesa! — Ela é um doce! — Disse de volta e acenei. — Obrigada pelas instruções! Ele riu e murmurou algo que eu não entendi. Eu realmente precisava encontrar um curso de albanês. Depois da minha visita a
Agnesa, pretendia voltar aqui em breve. Ignorando a voz em meu subconsciente que me lembrava que eu sempre poderia pedir aulas individuais a Besian, me aproximei de um trio de homens que falavam um espanhol rápido. O mais alto deles olhou para trás e demonstrou surpresa. Meu estômago vibrou com seu interesse óbvio, especialmente quando ele sorriu e diminuiu o ritmo. Eu educadamente retribuí seu sorriso e não o desencorajei quando ele se aproximou e ficou ao meu lado. — Eu não vi você na trilha. — Disse ele, seu espanhol ritmado de uma forma que soou quase musical. — Eu fiquei com uma amiga por alguns dias. — Respondi, meu espanhol obviamente não tão bonito quanto o dele. — Americana? — Ele adivinhou ao ouvir meu sotaque. — Texas? — Como você reconheceu o sotaque do Texas? — Eu perguntei, impressionada. — Trabalho para a Repsol. — Explicou. — Passo muito tempo em nosso escritório lá. — The Woodlands6, certo? Perto do lago? — Sim! — Eu sou de Houston. Mundo pequeno, hein? — Muito. — Disse ele e estendeu a mão. — Andres. — Marley. — Apertei sua mão, percebendo quão forte ela era e sentindo uma curiosa faísca. Mesmo que meu coração estivesse ocupado 6
The Woodlands é uma Região censo-designada localizada no estado norte-americano do Texas, no Condado de Montgomery.
por Besian há tanto tempo, eu ainda tinha momentos de interesse por outros homens. Tive um fluxo interminável de primeiros ou segundos encontros que nunca foram a lugar nenhum. Sorrindo para Andres, senti que era um flerte que terminaria da mesma forma. E, Deus, isso era tão frustrante. Por que eu não podia esquecer meus sentimentos não correspondidos por Besian? Por que eu não podia simplesmente seguir em frente com minha vida e encontrar alguém que realmente quisesse estar comigo? Essas perguntas se agitavam em minha mente enquanto eu caminhava ao lado de Andres. Descemos a trilha até o leito seco do rio e depois pegamos o caminho sinuoso e rochoso até o vilarejo. O sol estava começando a deslizar em direção ao horizonte quando entramos em Valbona. — Você tem reserva em algum dos hotéis ou pousadas? — Andres perguntou. — Eu tinha uma há alguns dias. Quero passar e ver se eles têm um quarto ou algum recado para mim. Conheci duas irmãs e tinha planos de encontrá-las. — Expliquei. — Você tem um quarto reservado? Ele balançou a cabeça. — Raramente reservamos algo com antecedência. — Você gosta de espontaneidade? — Sim. Miguel tem um hotel em mente, no entanto. — Ele percebeu que seus amigos diminuíram o passo para nos esperar. Ao nos aproximarmos, ele perguntou: — Você se importa se eu for ao seu hotel mais tarde? Talvez possamos jantar?
— Tenho planos para o jantar. — Disse eu, já faminta pela refeição que Agnesa preparara para mim. — Eu poderia encontra-lo para uma bebida? — OK. — Andres sorriu e pegou seu celular. — Posso pegar seu número? Trocamos informações de contato e depois seguimos caminhos separados. A caminhada pela vila ao anoitecer foi agradável e eu desejei ter mais tempo para explorar antes de pegar um táxi para a balsa pela manhã. Talvez eu pudesse encaixar uma exploração noturna depois de fazer o check-in e jantar. Uma mulher com um sorriso amigável cumprimentou-me na recepção do hotel. Eu me senti mal quando ela explicou o quanto ficou preocupada quando eu não apareci para o check-in e as duas irmãs dinamarquesas perguntaram por mim. Felizmente, havia um quarto disponível e ela permitiu que eu usasse minha reserva pré-paga, embora eu não tivesse cancelado de acordo com as políticas do hotel. Com a chave em uma das mãos e um bilhete escrito pelas irmãs dinamarquesas na outra, dirigi-me ao meu quarto. Era o menor quarto, no quarto andar, com uma varanda aconchegante que dava para a vila. As montanhas ao longe pareciam incríveis e eu quase não conseguia acreditar que estivera andando por lá nos últimos dias. Depois de me lavar e vestir um jeans limpo e uma blusa, desembrulhei o jantar de pão de milho recém-assado, queijo macio, legumes em conserva e a própria linguiça defumada caseira da Agnesa. Ela incluiu alguns figos, uma maçã e algumas frutas secas. A primeira mordida na linguiça ardeu pra caramba, e fiquei feliz pela garrafa de água sobre a mesa. Sentindo saudades de casa e querendo conversar com Aston, tirei meu telefone da minha mochila. Gemi quando percebi que a bateria
estava descarregada. Enquanto mordiscava alguns figos, abri os vários bolsos da minha mochila e vasculhei o conteúdo cuidadosamente embalado tentando encontrar o carregador do meu telefone. Merda. Percebendo que o havia deixado para trás na casa de Agnesa, bufei de irritação. Não seria difícil encontrar outro em uma cidade maior, mas não havia lojas na estrada principal. Considerando como era ruim o serviço de telefonia celular por aqui, não fiquei surpresa que um quiosque de celular não fosse uma prioridade. Uma batida na porta me surpreendeu. Tive que me erguer na ponta dos pés para ver pelo olho mágico. Andres estava alguns metros atrás da porta, certificando-se de que eu pudesse vê-lo claramente. — Ei! — Cumprimentei depois de abrir a porta. — Sinto muito aparecer assim. — Ele se desculpou. — Tentei mandar uma mensagem de texto para você, mas você não respondeu. — Oh, sim, a bateria do meu telefone descarregou. Deixei meu carregador na casa de Agnesa. — Você pode pegar o meu emprestado. — Ele ofereceu. — Eu não quero incomodar. — Não, está tudo bem. Na verdade, eu vim ver se você gostaria de se juntar a nós para alguns drinques em nosso hotel. Tem um bom restaurante e bar. — Sim. Isso parece ótimo. Deixe-me pegar minhas coisas. — Claro. Andres esperou no corredor enquanto eu pegava minha carteira,
a chave do quarto e o telefone descarregado. Enquanto caminhávamos para seu hotel, conversamos sobre nossas viagens até agora. Ele e seus amigos haviam começado no sul da Albânia e seguido para o norte. Eu tinha começado no norte, sem planos ainda de ir para o sul. — As praias são incríveis. — Disse Andres. — Já estive em alguns lugares lindos, mas há alguns realmente maravilhosos nessas praias albanesas. — É um lugar estranho, não é? Tipo, sem soar um pouco ridícula. — Eu disse com um sorriso tímido. — Mas é quase mágico em alguns aspectos. — Eu posso ver isso. — Quero ir para casa e contar a todos como é lindo aqui e como as pessoas são simpáticas, mas também quero manter isso em segredo. — Admiti. — Olho em volta e me encolho pensando nos turistas invadindo o lugar, sabe? — Eu sei o que você quer dizer, mas. — Andres suspirou. — Eventualmente, algum grande influenciador virá aqui e explodirá o lugar no Instagram. Quando menos se esperar, haverá centenas de aspirantes a trilheiros pisoteando as trilhas e agindo como idiotas com todas as pessoas legais que conhecemos. Eu fiz uma careta. — Ugh. Odeio como isso é fácil de imaginar. Quando chegamos ao hotel, Andres levou meu telefone até o quarto para carregar e eu me sentei à mesa onde seu grupo de viagem estava. Havia dois outros grupos com uma mistura de pessoas na nossa faixa etária, todos amontoados. Logo, eu estava com uma garrafa de cerveja Korça na mão e tentava acompanhar as conversas em inglês, espanhol, francês e outras línguas que eu não conseguia identificar, ao meu redor. Andres voltou, mas não se espremeu ao meu lado como eu
esperava. Ele sentou-se à minha frente e piscou antes de pegar sua bebida. — Seu cabelo é tão incrível. — Eloise, uma francesa que parecia muito interessada no amigo de Andres, Miguel, corajosamente passou os dedos pelo comprimento do meu rabo de cavalo. — É natural? Ou você usa tintura? — Tudo natural. Eu tentei escurecer, ficar morena, quando tinha quatorze anos, e odiei tanto que jurei que nunca mais tocaria em tintura de cabelo. — Por que você iria querer mudar deste lindo ruivo e dourado para o castanho? — Eloise parecia escandalizada. — Eu queria me encaixar. — Confessei. — Como toda adolescente faz, eu acho. — Isso eu entendo. — Ela disse, tocando seu cabelo loiro. — Passei por uma fase de sereia quando era adolescente. O verde parecia ótimo no início, mas depois de algumas lavagens, ficou cinza e sem graça. — Ela apoiou o queixo na mão. — Então, o que você faz? — Sou estudante de graduação. Antropologia. — Acrescentei. — Você? — Eu trabalho com finanças. Principalmente em Bruxelas, mas às vezes Cingapura e Hong Kong. — OK. Eu quero ouvir mais sobre isso! Acho que minha próxima grande viagem deveria ser para a Ásia. Eloise e alguns dos outros perto de nós começaram a me informar sobre todos os pontos imperdíveis da Ásia. Uma cerveja se transformou em duas e então alguém trouxe uma garrafa de rakia para a mesa. O primeiro gole da forte aguardente de frutas me atingiu, e eu
deveria ter pensado melhor antes de terminar meu copo. Eloise me serviu outro e cedi à pressão para aceitá-lo. Quando cheguei ao final do segundo copo, estava completamente bêbada. Não tão bêbada que estava prestes a cair, mas bêbada o suficiente para saber que havia cometido um erro. Eu estava sozinha em um país estrangeiro e era uma longa caminhada por uma rua escura até meu hotel. Certa de que precisava voltar para o meu quarto de hotel o quanto antes, paguei a conta com os lekes albaneses que tinha na carteira e me despedi de todos. Andres se levantou da mesa comigo. Ele provavelmente tinha ingerido a mesma quantidade de álcool que eu, mas ele era mais alto, mais pesado e provavelmente tinha muito mais experiência em beber socialmente do que eu. — Seu telefone. — Disse ele, apontando com o dedo para cima. — Oh, certo. — Eu disse, meus pensamentos um pouco confusos. — Espere aqui. Vou buscá-lo para você e levá-la de volta ao hotel. — OK. Obrigada. — Fui em direção à varanda do restaurante e inalei o ar frio e revigorante da montanha. Quando pensei que a viagem para o meu hotel não seria tão ruim, começou a chover. — Você está brincando comigo? — Perguntei ao céu escuro. — Sério? Chuva? Agora? Amaldiçoando a falta de um casaco, comecei a tremer e temer a caminhada de volta. Eu estaria encharcada quando chegasse ao meu quarto. Pelo menos o choque da água fria poderia me deixar um pouco sóbria. — Está chovendo? — Andres pareceu tão surpreso quanto eu
quando me encontrou saindo da varanda para o interior mais quente do restaurante. — Acabou de começar. — Eu disse, pegando meu telefone totalmente carregado da mão dele. Olhei para a tela, mas não havia sinal. Sem chance entrar em contato com qualquer pessoa em casa! Andres hesitou antes de perguntar: — Você quer dormir comigo esta noite? Assim você não tem que andar na chuva? Eu compartilhei sua hesitação. — Obrigada, mas meu hotel não é muito longe. A chuva também não está tão forte. Como se fosse uma deixa, um relâmpago caiu perto e um trovão de estourar o tímpano me fez estremecer. A chuva leve se transformou em um dilúvio completo. Não havia como eu voltar para o meu hotel em segurança no meio daquela tempestade. — Vou dormir no chão. — Ofereceu Andres. — Vestido. — Acrescentou. — Eu realmente não estou tentando fazer você dormir comigo. Ele parecia honesto e, até agora, não tinha me dado nenhuma indicação de que não era digno de confiança. Mesmo assim, sempre havia uma chance de ele ser como Ted Bundy7, um psicopata encantador. Eu olhei de volta para a chuva inundando a varanda. Nadar até meu hotel ou dormir em uma cama quente e seca no mesmo quarto que alguém que não estava sendo nada além de gentil e amigável? — Hum, ok. — Eu disse, meu cérebro embriagado tomando a decisão por mim. — Mas, sério, não tente nada. Se Spider não acabar com você, posso garantir que Besian o fará.
7
Theodore Robert Bundy foi um assassino em série americano que sequestrou, estuprou e assassinou várias mulheres jovens e meninas durante os anos 1970 e possivelmente antes. Bundy era considerado bonito e carismático, características que explorava para ganhar a confiança das vítimas e da sociedade.
Andres franziu a testa. — Quem é Spider? E Besian? — Spider é meu padrasto. Ele é um ex-delinquente de uma gangue de motociclistas. — Tipo Sons of Anarchy? — Ele perguntou, aparentemente dividido entre o fascínio e o medo. — Exatamente assim e Besian é um agiota albanês que é dono de um império de clube de strip em Houston. — Eu disse, cutucandoo no peito para provar meu ponto. — Se você fizer qualquer coisa estranha ou assustadora, terá alguns problemas. — Entendido. — Andres me assegurou. Ele inclinou a cabeça e sorriu. — Você é cheia de surpresas, Marley. — Você não tem ideia. — Eu murmurei, caminhando ao lado dele quando ele gesticulou em direção à saída do restaurante. — Então, esse agiota albanês. — Disse ele enquanto subíamos as escadas. — Ele é seu namorado? Eu bufei. — É complicado. Andres riu. — Não é sempre? — Essa tem sido minha experiência, pelo menos. Quando chegamos ao seu quarto de hotel, eu estava muito cansada. Fiel à sua palavra, Andres fez uma cama improvisada no chão enquanto eu usava o banheiro. Tirei os sapatos, mas deixei todo o resto das minhas roupas antes de subir na cama. — Você está planejando pegar a balsa pela manhã? — Andres perguntou de sua cama. — Sim. Você está?
Ele assentiu. — Quer compartilhar nosso táxi? — Se não for um problema? — Sem problemas. Vou programar um alarme para que você tenha tempo suficiente para voltar ao hotel para pegar a bagagem. — Obrigada. — Bocejando, estendi a mão para desligar a luminária de cabeceira, mas Andres me impediu. — Você se importa em deixar ligada? — Ele parecia envergonhado ao explicar: — Não durmo bem no escuro. — Oh. OK. Não, está tudo bem. Não vai me incomodar em nada. — Sonolenta como eu estava por toda aquela rakia, o sol literalmente poderia estar a dez centímetros do meu rosto e eu não notaria. Deslizando para baixo das cobertas, bocejei novamente. — Boa noite, Andres. — Boa noite, Marley.
CAPÍTULO 06 Gemi quando o tom estridente de um alarme invadiu meu sono reparador. Minha cabeça latejava e meu estômago revirava quando me sentei e tentei entender o que estava ao meu redor. Do outro lado do quarto, Andres estendeu a mão para o telefone, que vibrava ruidosamente contra o chão. De ressaca e boca seca, eu silenciosamente me repreendi por tal comportamento arriscado. Na luz fria da manhã, pude ver como tinha sido perigoso ir para um quarto de hotel com um homem que eu mal conhecia, especialmente tão bêbada como eu estava. Andres provou ser um cara de palavra, um verdadeiro cavalheiro, e eu agradeci às minhas estrelas da sorte por não ter feito algo sob influência da bebida que fizesse eu me arrepender desta noite — Como você está se sentindo esta manhã? — Andres esticou os braços acima da cabeça. — Como se eu precisasse de uma tomografia computadorizada e morfina intravenosa. — Resmunguei, esfregando minha cabeça dolorida. — Você não é de beber muito, hein? — Não. — Eu fiz uma careta com o gosto nojento na minha boca. — Sou o tipo que curte uma única lata de moscato barato da Target, enquanto maratona filmes de assassinato na Netflix. Ele riu suavemente. — Acho que nunca ouvi isso antes. Lutando contra a vontade de cair de volta na cama e me aconchegar sob as cobertas, me forcei a sair da cama. — Você se importa se eu usar o banheiro?
— Primeiro as damas. — Ele respondeu galantemente. Depois de cuidar das minhas necessidades, prendi meu cabelo rebelde em um rabo de cavalo e joguei um pouco de água fria no rosto. Calcei meus sapatos e peguei meu telefone e carteira. — Estou voltando para o hotel. Andres consultou o relógio. — O táxi estará aqui em cerca de noventa minutos. — Não deve demorar tanto. — Vamos esperar por você. — Ele prometeu, ainda apoiado em suas mãos sobre a cama improvisada. — Obrigada. — Sentindo-me um pouco atrevida, inclinei-me e beijei sua bochecha. — Você é um cara legal, Andres. Ele agarrou minha mão antes que eu pudesse ir muito longe. — Legal o suficiente para jantar hoje à noite em Shkodër? — Talvez. — Eu disse timidamente e recuei. — Vejo você mais tarde. — Tenha cuidado. — Ele gritou. Na manhã fria, estremeci e acelerei o ritmo. Eu só podia imaginar como estava enquanto corria de volta para o meu hotel com minhas roupas amarrotadas e meu rosto inchado da ressaca. Provavelmente como se estivesse fazendo a caminhada da vergonha em um país estrangeiro, raciocinei constrangida. Aston ia adorar me provocar com essa história. De volta ao meu hotel, tomei banho rapidamente, troquei de roupa, guardei tudo na minha mochila e fiz o check-out. Quando me encontrei com Andres e seu grupo, havia bebido água o suficiente para me recuperar um pouco. Tomei um Tylenol do minúsculo kit de
primeiros socorros que tinha na minha mochila e rezei para que fizesse efeito antes de chegarmos à balsa. O táxi não era realmente um táxi. Era uma van velha que não teria passado por uma inspeção em Houston. Hesitei antes de entrar e encontrar um lugar vazio. Os pneus da frente estavam quase carecas, e eu também não tinha tanta certeza sobre os freios, pelo barulho que faziam. Decidindo que isso era apenas mais uma parte da aventura, abracei o perigo e certifiquei-me de afivelar o cinto de segurança. Andres sentou-se ao meu lado, suas pernas mais compridas espremidas no espaço entre as filas de assentos. Fiquei grata por ele não sentir necessidade de falar tão cedo pela manhã. Atrás das lentes escuras dos meus óculos de sol, eu mal conseguia me aguentar enquanto minha cabeça latejava e meu estômago embrulhava. Quando chegamos à balsa do lago Komani, finalmente estava um pouco melhor, pelo efeito do Tylenol. Quando saí da van, vi um pequeno carrinho vendendo café e praticamente corri para pegar uma xícara antes de embarcar na balsa. Era forte e quente e exatamente o que eu precisava. Depois de comprar minha passagem para a balsa, embarquei com Andres e encontrei um lugar no convés. Eloise e seu pequeno grupo chegaram à balsa um pouco depois. Eles pareciam tão ruins quanto eu, e fiquei estranhamente feliz ao ver que não era a única sofrendo. Feliz por estar com meu casaco, fechei o zíper completamente contra a brisa fria. Quando o barco se afastou do cais, o lago se tornou meu foco central. Cercada pelas montanhas e pelo lago cintilante, parei de pensar na minha ressaca. — Meu Deus, isso é lindo! — Não é? — Andres concordou, seu olhar demorando nas montanhas a nosso redor. — Cada vez que penso que este país não
pode ficar mais perfeito, vejo algo assim. Depois que terminei minha xícara de café, fui até a grade para poder ver a água cor de jade de perto. Era brilhante e limpa. Querendo me lembrar do tom exato de verde, peguei minha câmera e tirei algumas fotos. Eu tirei algumas das montanhas que nos rodeavam antes de posar com Andres e seus amigos para algumas fotos. Eloise me chamou para tirar fotos de seu grupo, tanto com minha câmera quanto com seus muitos telefones celulares. A balsa navegou ao longo da hidrovia, viajando lentamente em direção a Koman. Cercada por meus novos amigos, o tempo passou rápido e agradavelmente. Logo a balsa estava chegando ao nosso destino e desembarcamos para a próxima parte da viagem – um ônibus para Shkodër. Aproveitei a viagem de ônibus para fazer anotações em meu diário de viagem. Quando saí de Houston, tinha grandes planos de criar um diário digno do Pinterest, cheio de esboços, pedaços de papel e histórias adoráveis. Quanto mais eu viajava, menos criativa ficava com minhas atualizações. Estranhamente, o diário não parecia menos especial. Na verdade, parecia menos pretensioso e mais verdadeiro, mostrando o que era realmente importante para mim nesta viagem. — Qual parada você está esperando? — Andres perguntou quando Shkodër surgiu, quase duas horas depois que deixamos Koman. — Aquela perto do albergue. — Eu disse, devolvendo meu diário à minha mochila. — Minha bagagem está lá no armazenamento. Comecei minha caminhada aqui, então basicamente fiz um círculo. Vocês? — Estamos descendo na mesma parada. A irmã de Miguel irá nos encontrar em um hotel perto de lá.
— Para onde você vai a seguir? — Croácia. E você? — Vou ficar aqui por mais um ou dois dias. Quero ir ver o castelo antes de decidir se vou para o sul em direção a Tirana e depois para a Grécia ou para Tirana e depois para a Itália. — Itália. — Sugeriu Andres. — Roma, com certeza. Veneza e Florença, se você tiver tempo suficiente. Os museus, a arte, os edifícios – você vai adorar. — É a Itália, então. — Eu disse com um sorriso de agradecimento. O ônibus fez sua primeira parada – um acampamento muito popular – e depois seguiu ao longo de sua rota. No local próximo ao albergue mais popular da cidade, peguei minha mochila e me levantei com Andres e quase todos os outros passageiros. Parecia que muitos de nós estávamos hospedados nesta área, provavelmente porque estávamos todos tentando viajar pagando o mais barato possível. Coloquei minha mochila nos ombros e segui a fila de passageiros saindo do ônibus para a rua. O sol da tarde me fez estremecer e coloquei meus óculos de sol no lugar. Saí da multidão de viajantes olhando para seus telefones e mapas impressos e caminhei um pouco mais pela calçada. Querendo me despedir de Andres, me virei para sorrir para ele – e então ouvi meu nome. — Marley. Em choque por ouvir uma voz áspera e profunda que eu não esperava ouvir nunca mais, especialmente não depois da maneira como ele tinha me esquecido enquanto eu estava no hospital, eu lentamente girei em direção à rua. Meu olhar se fixou nele quase imediatamente. Besian. Bem ali, encostado em uma elegante Mercedes preta.
Elegante como sempre em seus jeans escuros, camisa cinza e botas marrons, ele tirou os óculos escuros de aviador de seu rosto bonito e os enfiou no bolso da frente de seu paletó azul marinho. Vê-lo ali fez meu coração disparar. Normalmente, ele tinha um sorriso brincalhão para mim, mas hoje, ele estava todo profissional. E isso me apavorou. O que quer que tenha trazido Besian até a Albânia, até Shkodër, até mim, tinha que ser sério. Preparando-me para o pior, agarrei as alças da minha mochila enquanto ele se aproximava e me preparava para ouvir notícias que mudariam para sempre minha vida.
CAPÍTULO 07 Alívio tomava Besian a cada passo que dava em direção a Marley. Embora Zec tivesse garantido que ela estava segura em Valbona e a caminho de Shkodër, ele não acreditou até vê-la em carne e osso. E, porra, ela parecia bem. Seus dedos coçaram para pentear seus brilhantes cabelos ruivos. Ele queria correr as mãos para baixo em sua pele beijada pelo sol e reivindicar aquela boca teimosa. Ele queria abraçá-la, prendê-la perto de seu peito e nunca mais deixá-la ir. — Besian. — Disse Marley, sua voz gentil acalmando seus nervos em carne viva. Ela tirou os óculos escuros, revelando os olhos azuis esverdeados que assombravam os sonhos dele. — O que você está fazendo aqui? — Eu poderia te perguntar a mesma coisa. — O alívio que ele sentiu desapareceu apenas para ser substituído pela frustração e raiva com o quão imprudente ela tinha sido. — Por que diabos você não tem atendido o telefone? O que você estava pensando ao fugir para as montanhas daquele jeito? Sozinha? Em sua condição? — Minha condição? — Ela perguntou, surpresa. — Estou perfeitamente bem, Besian. — Você acabou de fazer uma cirurgia cardíaca. Ela revirou os olhos. — Foi um procedimento simples! — Eles queimaram seu tecido cardíaco! — Onde estava toda essa preocupação. — Ela gesticulou freneticamente. — Quando eu estava no hospital e você nem mesmo foi me visitar?
Duramente colocado em seu lugar, Besian fechou a boca. Antes que ele pudesse tentar se desculpar, um homem que estava por perto interrompeu. Quando o homem mais jovem e bonito pôs a mão em Marley, Besian engoliu um rosnado possessivo que ameaçou irromper de sua garganta. — Você está bem? — O homem lançou um olhar desconfiado para Besian. — Esse cara está incomodando você? — Cuide da sua vida. — Rosnou Besian. — Estamos tendo uma discussão que não inclui você. — Olha, cara, eu não sei quem você é. — O espanhol – se Besian tivesse que adivinhar pelo sotaque – colocou-se na frente de Marley. — Mas você não me diz o que fazer quando se trata da minha amiga. — Andres. — Disse ela, tocando o peito do outro homem de uma maneira que fez o estômago de Besian revirar dolorosamente. — Está tudo bem. Besian é meu amigo de Houston. Andres fez uma careta. — O cara do clube de strip? Odiando o quão barato e sujo o outro homem fez seus negócios soarem, Besian se irritou. Marley lançou a ele um olhar suplicante, pedindo silenciosamente que não fizesse nenhuma cena. Atendendo ao pedido dela, ele disse: — Diga adeus ao seu amigo. Estamos indo embora. Não dando a ela uma chance de discutir, ele se afastou para dar a eles alguns momentos de privacidade. Ele colocou os óculos de sol de volta no lugar e cerrou os dentes quando Andres se atreveu a beijar a bochecha e depois os lábios dela. Foi um beijo casto, apenas um roçar de sua boca contra a dela, mas falava de um relacionamento entre eles. Eviscerado pela perspectiva de que ele tinha se fodido e a perdido para este novo homem, ele olhou por trás de seus óculos de sol. Que se
foda aquele espanhol. Foda-se ele e seu lindo sorriso e cabelo de menino. Marley voltou-se para ele – onde ela pertencia – e ele contou os passos até ela estar bem à sua frente. Com um suspiro irritado, ela disse: — Não vou receber ordens como uma de suas dançarinas. — Você nunca poderia ser uma das minhas dançarinas. Ela franziu a testa para ele. — O que isso significa? — Por mais bonita que você seja, me daria trabalho a confusão que geraria nas portas da frente todas as noites. Ela parecia ainda mais chateada. — Isso deveria ser um elogio? — Ela ergueu a mão. — Sabe de uma coisa? Não responda! — Com um bufo alto, ela perguntou: — Por que você está aqui? Sabendo que não havia uma maneira fácil de dar a notícia, ele disse: — Algo aconteceu em casa. Todo o comportamento dela mudou. O pânico brilhou em seus olhos. — É Aston? O bebê? — Não, não. — Ele se aproximou e colocou a mão em seu ombro. — Aston está bem. O bebê está saudável. Ben está bem. Ela franziu o cenho. — Então o quê? Ousando tocá-la do jeito que ele queria há tanto tempo, ele deslizou a mão do ombro para o pescoço e até a mandíbula dela. Ele acariciou sua bochecha com o polegar, maravilhando-se com a maciez aveludada de sua pele e esperando que ela encontrasse conforto em seu toque. — O MC foi invadido pela ATF. Houve um tiroteio. Ela ofegou, e ergueu rapidamente a mão, agarrando o pulso dele. — Spider está morto?
— Não. — Ele acariciou o rosto dela novamente. — Ele está fugindo. Ele pode ter levado um tiro, mas ninguém sabe ao certo. — Oh meu Deus! — Ela se encolheu contra o peito dele, e ele a abraçou da melhor maneira que pôde, sua mochila volumosa impedindo-o de puxá-la para mais perto ou com tanta força quanto queria. — Oh meu Deus! — Sinto muito, Marley. Eu sinto muito. Ela se inclinou para trás e enxugou as lágrimas do rosto. — E quanto à minha mãe? Ela está segura? Ele balançou sua cabeça. — Aston disse que passou pela casa de sua mãe, e parecia abandonada. A grama está alta. A correspondência está empilhada. Marley gemeu e fez uma careta. — Ela provavelmente ainda está jogando em Lake Charles, ou conheceu algum novo homem no cassino e fugiu novamente. — Novamente? Ela bufou. — É uma coisa que ela faz. Ela conhece um cara, deixa que o amor dele a bombardeie e então ela foge em uma viagem louca e estúpida, convencida de que finalmente vai ser feliz para sempre. Ela vai voltar para casa em algumas semanas, devastada e deprimida, e terei que juntar os cacos e ajudá-la a se reerguer. Besian sempre ouvira que a mãe dela era meio promíscua, mas não percebeu que fosse tanto. — Você quer que eu tente encontrá-la? Eu poderia fazer meus homens seguirem qualquer rastro que ela tenha deixado. — Não. — Marley saiu de seu abraço. — Ela está mais segura no local para onde quer que tenha fugido e é esperta o suficiente para
saber que não deve voltar para Houston se Spider estiver desaparecido. — Escute, Marley, há algo mais sobre a batida. — Disse ele, baixando a voz. Ela franziu a testa e, em seguida, sua expressão mudou para uma de resignada compreensão. — Oh. Estou vendo. Ele tinha certeza que ela estava. — Sim. Não é bom. Ela reagiu com medo e agarrou as alças da mochila. — Estou segura? — Marley, ninguém vai tocar em você. Eu juro. — Ele não precisava dizer a ela o que ela já sabia. Ele mataria o primeiro homem que tentasse. — Besian. — Ela suspirou. — Por favor, não quero que você se coloque em perigo por mim. De novo não. — O olhar dela se moveu do rosto para o peito dele. Ela estava se lembrando da noite em que ele levou um tiro que era destinado a ela? — Você quase morreu por mim. Uma vez foi o suficiente. Antes que ele pudesse dizer que morreria por ela mil vezes, eles foram empurrados por um grupo de jovens turistas. Ele a colocou de lado, temendo que ela fosse pisoteada pela multidão de estudantes correndo para pegar o ônibus. O feitiço foi quebrado, e ela deu um tapinha em seu peito. — Espere aqui. — Onde você está indo? — Ele perguntou quando ela se afastou em outra direção. — Pegar minha bagagem! — Onde? — Lá! — Ela apontou para um prédio próximo, e os olhos dele
quase saltaram das órbitas. — Um albergue? — Ele correu atrás dela. — Você está hospedada em um albergue? Ela se virou tão rapidamente que o golpeou com sua mochila, fazendo-o cambalear alguns passos para trás. — Sim, eu fiquei em um albergue. Estive hospedada em albergues durante toda a viagem. A pressão arterial dele disparou tão rapidamente que ele tinha certeza de que estava a segundos de cair morto por causa de um AVC. Quando Zec deu a ele o endereço da parada de ônibus, ele nem mesmo considerou que era porque ela estava hospedada em um dos albergues miseráveis nas proximidades. — Você está louca? Você tem ideia de como isso é perigoso para uma mulher sozinha? — Você é tão ridículo. — Ela sibilou. — É perfeitamente seguro. São lugares limpos, arrumados e acessíveis que atendem pessoas como eu com um orçamento muito apertado. Besian queria estrangular Spider por deixar Marley vir para a Europa com tão pouco dinheiro que ela estava deixando de lado sua segurança priorizando acomodações baratas. O que mais ela cortou durante a viagem? Ela estava comendo o suficiente? Ela poderia sequer pagar por museus ou lembranças? — Eu posso ver a veia em sua têmpora latejando. — Afirmou Marley. — Você vai ter um aneurisma se não se acalmar. — Ela advertiu. — Talvez os albergues fossem nojentos quando você era mais jovem, mas agora são muito mais seguros. — Se você diz. — Ele resmungou, não mais disposto a discutir com ela. — Eu digo. Espere aqui. Já volto.
Besian nunca recebia ordens, especialmente de uma mulher, mas foda-se se ele não agia como um cão perfeitamente treinado, esperando alegremente o retorno de sua dona. Ele olhou a clientela entrando e saindo do prédio do albergue onde que ela entrou. Havia uma mistura de homens e mulheres em idade universitária, a maioria deles aparentemente bem apessoadas. De vez em quando, um vagabundo de verdade entrava cambaleando pela porta. Aquele, em particular, parecia um assassino em série. Tudo nele foi projetado para se misturar, para torná-lo invisível, normal. Ele era o tipo de homem por quem uma mulher mais jovem passaria sem sequer um olhar de relance. Muito velho para ser atraente, muito insosso para ser interessante. A maneira como o homem observava os outros colocou Besian em alerta. Havia algo de sombrio em torno do homem, uma aura de predador que fez os pelos dele se arrepiarem em defesa de Marley. Um trio barulhento de garotos de fraternidade caminhou até as portas do albergue, e o homem lascivo com vibrações de serial killer desapareceu na multidão. Besian mexeu o pescoço, tentando se livrar da sensação desconfortável, e se perguntou se ele se cruzaria com aquele nojento novamente. Quando Marley saiu do albergue pouco tempo depois, ela arrastava uma mala de rodinhas atrás dela. Ele venceu a distância da calçada entre eles com passadas rápidas e pegou a mala. Ela lhe lançou um olhar perturbado. — Não está pesada. Eu dou conta disso. — Eu sei que você pode lidar com isso. — Ele gesticulou em direção ao carro parado esperando por eles. — Se nos apressarmos, podemos chegar a Tirana e pegar o primeiro voo para Paris amanhã de manhã. — Eu não vou para Paris.
— Tudo bem. Londres. Madrid. Eu não me importo. Pegaremos qualquer voo disponível que esteja indo para o oeste. — Não, você não entendeu. Não vou deixar Shkodër ainda. Sei que parece egoísmo, mas não vou embora até ver o castelo. Besian piscou. — O castelo? Kalaja e Rozafës? — Sim. Rozafa. Sem palavras, ele considerou a situação dela. Na verdade, provavelmente era mais seguro mantê-la aqui, em um lugar onde ele pudesse protegê-la mais facilmente, do que levá-la imediatamente de volta para Houston, onde havia um preço por sua cabeça. — Você não é egoísta. — Disse ele, pensando em quantas vezes a vira se comportando de maneira altruísta. Ele suspeitava que esta poderia ser a primeira vez em toda a vida em que ela estava sendo egoísta, colocando a si mesma e seus desejos em primeiro lugar. — Se você quer ver o castelo, veremos o castelo. — Amanhã. — Ela negociou. — Estou muito cansada e também. — Admitiu ela timidamente. — De ressaca. Ressaca? Seus pensamentos circularam de volta para o belo espanhol que estava perto dela. Eles passaram a noite bebendo e festejando juntos nas montanhas? Outro pensamento perturbador o atingiu. — Onde você estava hospedada enquanto estava nas montanhas? Em um hotel? — Ontem à noite, sim. — Disse ela com cuidado, e ele sentiu que havia algo mais. O espanhol, ele percebeu com uma torção nauseante de seu estômago.
Ela não é sua. Ela pode fazer o que quiser com qualquer homem que escolher. Reconhecer essa verdade não a tornava mais fácil engolir. Deveria ter sido ele a estar com ela na noite passada. Deveria ter sido ele conduzindo-a pelo interior da Albânia, mostrando-lhe sua terra natal e apresentando-a às maravilhas de sua cultura e de seu povo. — E nas noites anteriores? — Ele perguntou, sua mandíbula apertando enquanto ele imaginava o pior. — Não uma tenda. — Disse ele, quase implorando. — Você não acampou lá em cima. Certo? Ela engoliu em seco, ansiosa, como se antecipasse sua reação ao que quer que ela estivesse prestes a dizer a ele. — Eu meio que deslizei montanha abaixo e encontrei um cachorrinho. Chocado, ele se concentrou na descrição pormenorizada de sua queda. — Você deslizou montanha abaixo? — Olhando para ela, ele se perguntou quantos hematomas ela havia escondidos sob a calça cargo e o casaco. — Você está machucada? — Estou bem. Eu não caí tão longe. Ele não estava convencido. Imagens de Marley caindo de uma montanha e rolando até parar na beira de um penhasco o atormentavam. Como ela pôde ser tão imprudente? — De qualquer forma. — Ela continuou. — Levei o cachorrinho pela trilha até um café. O velho, dono do lugar, me disse que o cachorro pertencia a uma fazendeira do outro lado da montanha. — Marley. — Ele interrompeu com um rosnado baixo. — Não me diga que você vagou sozinha até uma fazenda e passou a noite em um celeiro. — Claro que eu não fiquei em um celeiro! Fiquei no quarto de
hóspedes. Ele murmurou uma série de maldições e tentou entender como essa mulher incrivelmente brilhante podia ser tão descuidada. — Você ficou em uma fazenda, no meio do nada, com estranhos? — Agnesa não é uma estranha. Não mais. — Ela acrescentou. — Nós somos amigas. Ela me deixou ajudar com suas tarefas da fazenda, me mostrou como preparar picles, alimentar suas galinhas, fazer byrec8 e... — Diante da expressão tempestuosa dele, ela parou. Relutantemente, ela admitiu: — Eu provavelmente não deveria ter me arriscado a me afastar da trilha e ir para a fazenda. — Sim. Provavelmente. — Ele concordou laconicamente. Balançando a cabeça, ele perguntou: — O que diabos eu vou fazer com você, Marley? — Esperançosamente, não me repreenda mais. — Ela respondeu com uma carranca irritada. — Você realmente voou até aqui só para me castigar como se eu fosse uma criança malcriada? — Não. — Ele estava sendo um idiota colossal. — Sinto muito, Marley. Eu não deveria ter descarregado meu estresse em você assim. — Não, você não deveria. — Ao contrário de muitos, Marley não tinha problemas em colocá-lo em seu devido lugar. Ela não se encolhia de medo ou se curvava aos caprichos dele. Ela esperava o melhor dele, e quando ele a decepcionava, ela ficava muito feliz em deixá-lo saber disso. — Vou fazer melhor. — Exausto e desesperado para sair da calçada onde todos os observavam, ele estendeu a mão. — Venha comigo? 8
Byrec é um prato clássico albanês de massa folhada e recheios variados, sendo comum o recheio de molho de carne, queijo, espinafre etc.
— Onde? — Onde você quiser, rrushe9.
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Na tradução: Uva. O termo é utilizado na Albânia como apelido para alguém com quem você se importa.
CAPÍTULO 08 Mãe! Envie uma mensagem ou me ligue! Por favor! Acabei de saber sobre o ataque e o Spider. Por favor, me avise que você está segura! Mãe? Mãe???
Onde quer que eu quisesse acabou sendo o hotel mais bacana da cidade. Não que eu me importasse se era o mais legal ou não. Eu só queria um lugar para tomar banho, comer e dormir. Besian, por outro lado, nem mesmo considerou alguns dos hotéis perfeitamente agradáveis pelos quais passamos. Afinal, apenas o melhor para ele. Ou talvez seja apenas o melhor para mim. Enquanto ele pagava a conta do nosso almoço, percebi como seu rosto e ombros já não estavam tão tensos. Eu não conseguia decidir se era porque ele estava cercado pelos sons e cheiros familiares de sua infância ou porque ele finalmente havia colocado um pouco de comida em seu estômago. Ele definitivamente parecia mais relaxado depois de nossa refeição simples. — Acho que você estava apenas louco de fome. — Comentei enquanto saíamos do aconchegante café a alguns quarteirões do hotel.
— Desculpa? — Ele franziu a testa para mim. — Louco de fome? — Sim. Você sabe. Com fome. Nervoso. Ele bufou. — Pode ser. — Definitivamente. — Respondi, certa de que havia descoberto. — Você precisa parar em algum lugar no caminho de volta para o hotel? — Ele colocou a mão na parte inferior das minhas costas e gentilmente me conduziu ao redor de alguns homens fumando e falando besteira do lado de fora do café. Seu toque queimou minha camisa e casaco, e eu queria fazer beicinho de decepção quando ele tirou a mão. — Preciso comprar um novo carregador de telefone. Deixei o meu na fazenda de Agnesa. — É por isso que você não atendeu a chamada e as mensagens de texto de Aston? — Quase não havia sinal nas montanhas. Assim que cheguei em Valbona, meu telefone estava descarregado. Por sorte, Andres tinha um carregador que me emprestou. Besian fez um som irritado com a menção de Andres. Esperei que ele fizesse a pergunta óbvia, mas ele não fez. Talvez ele não quisesse saber. Estranhamente, me vi querendo tranquilizá-lo de que, apesar do beijo casto no ponto de ônibus, não havia nada entre nós a não ser flerte e amizade. — Ele trabalha em The Woodlands. — Eu disse, me perguntando se ele iria morder a isca. — Quem? — Ele perguntou, fingindo-se de idiota. — Andres.
— Oh. — Ele é da Repsol. — Bom para ele. — Besian murmurou. — Lá em cima. — Disse ele, gesticulando em direção a uma loja. — Você pode conseguir um novo carregador lá. Deixei passar a discussão sobre Andres e entrei na loja à sua frente. O homem atrás do balcão nos cumprimentou e Besian assumiu a liderança. Eu gostava do som de sua língua, do jeito que soava de sua boca daquela forma melódica. O albanês era uma língua curiosa e desconcertante, com algumas palavras familiares e semelhantes ao espanhol. Eu queria aprender, mas parecia assustador, para dizer o mínimo. Besian olhou para mim. — Apple ou Android? — Apple. Ele transmitiu a informação ao lojista, que apontou para uma vitrine perto dos fundos da loja. Segui Besian até a exibição de carregadores e escolhi o que precisava. Ele vagou até a seleção de telefones mais baratos enquanto eu me dirigia ao caixa. — É tudo que você precisa? — O homem atrás do balcão perguntou. — Não precisa de cartão SIM? — Só isso. — Eu disse, tirando minha carteira da bolsa. Depois de carregar minha mochila para todos os lugares, foi uma mudança bemvinda ter apenas o peso leve da minha bolsa no meu ombro. — Não vai esperar por seu marido? — Ele perguntou, seus dedos hesitando na caixa registradora. Corei, sem ter certeza de por que me senti subitamente tão aquecida em ser confundida com a esposa de Besian. Comecei a corrigir
o homem, mas decidi não o fazer, pois não tinha certeza de que Besian não tinha me chamado de esposa quando eles estavam conversando. — Não, eu cuido disso. O homem deu de ombros e me disse o valor total. Coloquei meu cartão na máquina e esperei que ele pedisse minha senha. Depois de digitar, aguardei a aprovação da transação. Besian se juntou a nós no balcão no momento em que a máquina fazia um barulho estranho. — O seu cartão não está funcionando? — Não sei. — Eu disse, confusa. — Já faz alguns dias que eu não o uso. Eu tinha dinheiro para a caminhada e paguei antecipadamente minha reserva de hotel. — Seu banco provavelmente o bloqueou. — Ele puxou meu cartão do leitor e o devolveu para mim. — Eu pago. — Não, eu tenho dinheiro. — Eu cuido disso. — Ele insistiu, já colocando seus itens no balcão. — Obrigada. — Coloquei meu cartão de volta na carteira e o enfiei na bolsa. Ele acenou com a cabeça e terminou a transação. Peguei a sacola com nossa mercadoria enquanto ele guardava o cartão de volta na carteira e no paletó. Saímos da loja juntos e atravessamos a rua para chegar ao nosso hotel ali perto. Incapaz de manter minha curiosidade sob controle por mais um momento, perguntei: — Você disse a ele que eu era sua esposa? Besian pareceu subitamente hiperconcentrado no tráfego. — Ele presumiu, e eu não o corrigi.
— Por que não? Ele olhou para mim, segurando meu olhar por um momento intenso. — Porque eu gostei da maneira como isso me fez sentir. Antes que eu pudesse perguntar como isso o fez se sentir, ele estava pressionando a parte inferior das minhas costas e me guiando pela rua movimentada. Decidi que caminhando através de turistas e moradores locais não era a melhor hora para pressioná-lo sobre seus sentimentos. Andamos mais um quarteirão e entramos no saguão do hotel. Isso foi até onde havíamos chegado mais cedo. Assim que Besian arranjou um quarto, deixou nossa bagagem na recepção e me levou para procurar algo para comer. Pegamos o elevador até o último andar e eu me encostei à parede, me sentindo cansada depois daquela refeição pesada e meu longo dia de viagem. — Você deveria descansar quando chegarmos ao quarto. Você parece exausta. Eu o estudei por um momento. — Você não parece muito melhor. — Jet lag. — Disse ele sem rodeios, mas eu poderia dizer que havia mais do que isso. Ele tinha os mesmos pesadelos que eu? Sonhos terríveis com ele sangrando na terra depois de levar um tiro destinado a mim? Pesadelos horríveis onde ele era morto ao tentar me resgatar da Tríade? Quando chegamos ao nosso quarto, percebi duas coisas. Um – era uma suíte muito, muito boa, provavelmente a mais cara da cidade. Dois – havia apenas uma cama. — Este era o único quarto adequado que eles tinham disponível. — Ele disse como se estivesse lendo minha mente. — E, não, não
vamos ficar em quartos separados. Quero ficar de olho em você. Suspeitei que ele queria ficar mais do que de olho em mim. — Bem, eu não vou dormir no chão. — Nem eu. — Respondeu ele, trancando a porta. — Se você quer cavalheirismo assim, está com o homem errado. — Na noite passada eu não imediatamente me arrependi.
estava. — Murmurei
e
— O quê? — Besian estreitou os olhos. — Nada. — Oh, entendo... — Ele resmungou. — Então, Andres é um cavalheiro galante e gentil? — Na verdade, sim. — Eu disse, jogando minha bolsa e a sacola da loja na cadeira mais próxima. — Eu fiquei bêbada. Caiu uma tempestade. Meu hotel ficava no alto da colina. Ele se ofereceu para me deixar ficar em seu quarto e dormiu no chão a noite toda. A expressão de Besian ficou sombria. — Você foi para um quarto de hotel com um homem que mal conhecia e estava bêbada? — Sim. — Eu disse, sem desviar o olhar do seu irritado. — Eu cometi um erro. — Com toda certeza sim, porra. — Ele praguejou, me surpreendendo com sua explosão de raiva. — Você poderia ter sido estuprada! Você poderia ter sido traficada! Você poderia ter sido assassinada! Meu primeiro instinto foi levantar minha voz da mesma maneira e discutir. Meu segundo foi admitir que ele estava certo. Eu poderia tentar me defender, apontar que tudo acabou bem, mas isso foi porque
eu tive uma sorte extraordinária. Andres era um bom homem. Ele era honesto e respeitoso, mas nem todos os homens eram. — Eu sei. — Eu disse finalmente. Ele parou de discutir. Com um suspiro, ele se aproximou com passos poderosos. Ele pegou minhas duas mãos e caminhou para trás em direção à cama, puxando-me junto. Ele sentou-se e me puxou para mais perto, mantendo-me presa entre suas pernas. Ele soltou minhas mãos e flexionou os dedos, quase como se não confiasse em si mesmo para continuar me tocando. Nesta posição, estávamos cara a cara. Eu engoli nervosamente, sentindo-me desconfortavelmente consciente do calor de seu corpo e das inebriantes notas de tabaco e couro de sua colônia. Tão perto, eu podia ver as manchas douradas em suas íris castanho-escuras e a cicatriz rosada em sua sobrancelha direita. Eu podia ver o brilho fraco grisalho em suas têmporas, um lembrete de que ele estava mais perto dos quarenta do que dos trinta. Estávamos mais perto do que nunca agora. Ele havia me tocado mais nas últimas duas horas do que em todos os meses que o conheci. Algo havia mudado entre nós, e eu gostei disso. Corajosamente, segurei seu rosto bonito em minhas mãos pequenas. Suas bochechas estavam quentes, e havia uma ligeira barba por fazer sob meus dedos. Seus olhos se fecharam brevemente, e ele se inclinou ao meu toque, como se estivesse o desejando, me desejando. — Por que você veio atrás de mim? — Eu precisava saber o que o havia trazido até aqui. — Você provavelmente poderia ter feito um telefonema e me localizado, mandado me pegar e me colocarem em um avião com destino a Houston. Seus olhos se abriram e ele parecia tão vulnerável. — Você sabe
por quê. — Ele insistiu suavemente. — Você deve saber. — Diga-me. — Eu implorei, precisando ouvi-lo dizer isso. — Você me confunde muito, Besian. Eu não sei o que você quer de mim. Ele fez um som que era uma mistura de dor e diversão. Balançando a cabeça, ele disse: — Marley, quero tudo de você. Eu quero tudo com você. — Ele cobriu minhas mãos com as dele. — Você não vê? Eu amo você. Pega de surpresa por sua declaração de amor, fiquei ao mesmo tempo exultante e irritada. — Se você me ama tanto, por que não foi me ver no hospital? — Eu odiava o quão lamentável eu soava, mas não havia sentido em esconder meus sentimentos feridos quando ele finalmente estava sendo honesto comigo. — Por quê? — Eu estava com medo. Certa de que não conseguia ouvi-lo corretamente, disse: — Acho difícil acreditar que você já teve medo de alguma coisa. — Tenho medo de você. — De mim? — De decepcionar você. — Ele confessou. — De nunca ser bom o suficiente para você. De estar muito danificado e sombrio para merecer você. — A única vez que você me decepcionou foi quando não me visitou no hospital. — Engoli em seco contra a bola espessa de emoção presa dolorosamente na minha garganta. — Tudo que eu queria era ver você. Cada vez que a porta se abria, eu olhava para cima esperando por você, mas você nunca apareceu. — Marley. — Disse ele, sua voz cheia de pesar. — Achei que
estava fazendo a coisa certa. Foi a segunda vez que você se feriu por causa de seus laços com outras pessoas. Primeiro, Spider e o cartel. Depois, Aston e a Tríade. — Suas mãos apertaram as minhas. — Eu não poderia me permitir ser a causa de um terceiro atentado contra sua vida. — Mas você está aqui agora. — Eu apontei. — Estou. — Por quê? — Porque agora, estar amarrada a mim é a única coisa que vai salvar sua vida. Eu pisquei. — O quê? Ele suspirou e me virou de lado, me puxando para baixo até que eu estava sentada em seu colo. Ele envolveu o braço em torno da minha cintura e eu inalei uma respiração estremecida com o calor e a força dele me cercando. Como se completamente inconsciente da maneira como ele estava me afetando, ele entrelaçou seus dedos com os meus e disse: — O MC de Spider estava guardando algumas remessas em seu clube. — Isso não faz sentido. — Argumentei. — Eles não seriam tão descuidados. Há armazenagem... — Parei abruptamente. Besian virou meu rosto com os dedos. Ele procurou meus olhos antes de perguntar: — Até que ponto, exatamente, você estava envolvida nos negócios do seu padrasto? — Não muito. — Assegurei a ele. — Eu me deparei com contratos e aluguéis ao fazer os impostos da minha mãe e juntar a papelada dela. Não há nenhuma razão para ela precisar de tantas unidades de armazenamento, a menos que ela estivesse guardando coisas para Spider.
— Só isso? Relutantemente, admiti: — Antes de completar dezoito anos, às vezes eu carregava coisas para ele. — Coisas? — Ele repetiu firmemente. — Pacotes menores. — Drogas? — Ele pediu esclarecimentos com uma voz calma, mas eu senti que ele estava mantendo um controle tênue sobre suas emoções. — Sim. — Eu admiti, envergonhada. — Ele nunca mais pediu quando eu tinha idade suficiente para ir para a cadeia de verdade. — Ele nunca deveria ter pedido! — Besian rosnou. — Você era filha dele! Ele deveria protegê-la! Terminar no reformatório teria sido o melhor resultado. Na pior das hipóteses, você poderia ter levado um tiro! — Ele soltou um suspiro ruidoso e me surpreendeu pressionando seus lábios na minha têmpora. Eu não pude evitar. Inclinei-me em seu beijo gentil. — Sinto muito. Eu não deveria levantar minha voz assim. — Você não está errado. Spider agiu muito mal. — Sim ele agiu. — Então. — Eu disse ansiosamente. — Quem quer me machucar agora? O cartel? Os russos? — Eu hesitei. — Albaneses? — Não nós. — Besian prometeu apressadamente. — E não os russos. — Mas talvez o cartel? — Pode ser. — Ou talvez alguém ainda pior?
Ele assentiu. — Há um preço pela sua vida. Quando suas palavras foram registradas, eu estremeci. — Um preço? Por mim? — Sim. — Ele disse solenemente. — Alguém está muito chateado com Spider, e você é onde estão mirando para conseguir o que querem. O terror me rasgou como um incêndio. Eu pulei de seu colo e o empurrei quando ele tentou me agarrar. — Você tem que ir! — O quê? — Ele olhou para mim confuso. — Ir aonde? — Para qualquer lugar! Apenas para longe de mim! — Meu olhar em pânico caiu sobre o sol brilhante da tarde que entrava pelas janelas. — Oh não! — O que você está fazendo? — Ele perguntou enquanto eu corria pelo quarto e fechava as cortinas. — Snipers! — A memória do tiro que acertou seu peito queimava em minha mente. Eu quase podia sentir o cheiro do sangue, senti-lo sob meus dedos enquanto tentava colocar pressão suficiente sobre o ferimento para evitar que ele morresse ali mesmo naquele terreno imundo. — Marley! — Besian me abraçou por trás, envolvendo seus braços poderosos em volta de mim e arrastando minhas costas contra seu peito. Ele beijou minha têmpora, minha bochecha, meu pescoço. — Estamos seguros aqui. Ninguém pode nos tocar aqui. Eu me inclinei contra ele, desesperada para acreditar que ele estava certo. — Então você deve ficar aqui quando eu voltar. — Sem chance. — Disse ele, girando-me para encará-lo. Ele deslizou um braço em volta da minha cintura e segurou minha
bochecha. — Marley, de agora em diante, sua casa é bem ao meu lado. Não havia outro lugar onde eu queria estar.
CAPÍTULO 09 — Zec não conseguiu encontrar nada sobre a caçada contra ela. — Luka disse, sua voz anasalada e rouca do outro lado da linha. Ele tossiu e pigarreou. — Vamos continuar procurando. — Você já procurou um médico? Você parece péssimo. — A preocupação de Besian com seu sobrinho anulou momentaneamente sua preocupação com Marley. — Não é nada. Estou bem. Não se preocupe comigo. Se preocupe com o seu problema. — Meu problema. — Ele suspirou. — Não sei se devo levá-la de volta ou encontrar uma maneira de mantê-la aqui. — Exausto, ele se recostou na cadeira perto da janela e esfregou o ponto entre as sobrancelhas. — De qualquer forma, é um risco. — Se você pretende levá-la de volta, você sabe o que tem que fazer. — Alertou Luka. — Se essa é a escolha que você for fazer, podemos cuidar da papelada. Nos certificar de que você não terá que esperar duas semanas. Besian fez uma careta diante da ideia de roubar um dia lindo e perfeito de Marley. Não era com isso que a maioria das mulheres sonhava quando eram garotas? Flores exuberantes, vestidos brancos, bolos macios e amanteigados e pilhas de presentes? Isso era o que ela merecia. O melhor. O perfeito. Tudo exatamente como ela havia sonhado. — Você ainda está aí? — Luka perguntou antes de tossir novamente. — Sim. Prepare a papelada. Vou levá-la para casa amanhã. — Ele
decidiu. — Nossa casa. — Ele esclareceu. — Considere isso feito. A ligação terminou e, alguns momentos depois, o barulho do chuveiro cessou. Depois das intensas discussões que eles compartilharam sobre Spider, a invasão na sede do clube e o preço que havia sido colocado sobre sua vida, Marley havia sido vencida. Esperava-se que sim, ele supôs. Nem mesmo um bom jantar no restaurante do hotel e uma taça de vinho haviam melhorado o humor dela. Com sorte, o chuveiro funcionaria e ela poderia descansar em paz. Ele estendeu a mão para o pequeno copo na mesa ao lado da cadeira, com a intenção de terminar o que restava da rakia. Ele sorriu ao levar o copo à boca, lembrando-se da expressão amarga no rosto de Marley quando ele lhe ofereceu um pouco. Aparentemente, sua primeira apresentação à bebida favorita dele foi dolorosa. Quando a porta do banheiro se abriu e Marley saiu, ele olhou para ela com um olhar apreciativo. Não havia absolutamente nada de sexy nos shorts cor-de-rosa simples e na camiseta surrada que ela havia escolhido. Ela não escolheu suas roupas para seduzir ou impressionar. Ela as escolheu para seu conforto. Ele achou estranhamente revigorante que ela não se importasse com o que ele pensava e se vestisse apenas para si mesma. E ainda assim ele seria um mentiroso se dissesse que não ficou excitado com a visão de seu pijama sem-graça. Ele estava animado com a ideia de empurrar sua camiseta alguns centímetros para cima para expor a pele macia de sua barriga ou puxar para baixo o cós de seu short para beliscar os pontos sensíveis e fazer cócegas sob seu umbigo e ao longo de seus quadris. Apenas um pouco de descoberta jovial e divertida. Ele pensou em suas primeiras experiências sexuais e lamentou a
falta de exploração desajeitada e carícias entusiasmadas. Ele nunca se atrapalhou no banco de trás de um carro ou apressadamente mudou de lado sua roupa para foder rapidamente antes que os pais de sua namorada chegassem em casa. Sua primeira vez foi com uma profissional com quase o dobro de sua idade. Ela foi gentil e paciente e nem mesmo cobrou pelas primeiras três visitas. Depois disso, ele gravitou em torno de mulheres semelhantes – experientes, confiantes, dispostas a ensinar. Se manteve afastado das mulheres em busca de relacionamentos e, principalmente, das mães solteiras. Ele não queria as complicações que vinham com eles. Na verdade, Marley foi a primeira mulher mais jovem por quem ele se interessou. Ela estendeu a mão para desenrolar as longas ondas de seu cabelo ruivo do nó no topo de sua cabeça. Ele observou o cabelo dela cair sobre os ombros. Ela o deixaria pentear os cabelos com os dedos se ele pedisse? Ela o deixaria enrolá-lo na mão para que ele pudesse puxar sua cabeça para trás, inclinando o queixo e erguendo a boca dela para um beijo punitivo? Ele se mexeu na cadeira enquanto aquela imagem um tanto erótica deixava suas calças desconfortavelmente apertadas. Completamente inconsciente de como o estava afetando, Marley caminhou até sua bagagem e colocou sua bolsa de higiene dentro. Quando ela se virou, o olhar dele saltou para o hematoma feio na parte superior da coxa dela. — O que aconteceu com a sua perna? — Ele largou o copo vazio e se levantou da cadeira. — Isso está horrível! — O quê? — Ela olhou para baixo. — Oh. Isso? — Ela gesticulou para a marca meio roxa meio vermelha. — Mordida de ganso. Certo de que a tinha ouvido mal, ele perguntou: — O quê?
— Um ganso. — Disse ela lentamente. — Ele me mordeu na fazenda da Agnesa. — Eles mordem? — Quem diria, certo? E eles têm dentes! — Ela virou a perna para mostrar melhor a ele. — Veja! Marcas de dentes de ganso! Ele praguejou baixinho e se ajoelhou para examinar as marcas horríveis. Ela não estava mentindo. Havia marcas de dentes reais em sua pele! Sem acreditar que uma ave pudesse fazer isso, ele traçou a borda do hematoma. — Dói muito? — Só se eu bater. — Respondeu ela. — Deveríamos pedir a um médico para dar uma olhada. — Agnesa me deu uma pomada antibiótica. Ele não tinha certeza do que o possuiu naquele momento, mas deu um beijo carinhoso no hematoma. Marley inspirou profundamente e enredou os dedos no cabelo dele. O puxão forte em seu couro cabeludo fez um arrepio percorrer sua espinha. Ajoelhando-se aos pés dela, ele olhou para a mulher que roubou seu coração com um sorriso tímido. Agora, seus olhos estavam escuros de desejo e excitação. Não havia nada tímido no sorriso que ela oferecia. Ele deslizou os dedos pelas pernas nuas e agarrou os quadris dela. Ele podia sentir a respiração trêmula dela sob suas mãos enquanto salpicava beijos suaves ao longo da pele exposta de sua coxa e a curva de sua cintura. Quando ele agarrou o cós de seu short e começou a puxálo para baixo, ela deu outro puxão em seu cabelo, parando-o. Ele rosnou com o puxão doloroso, mas não pediu que ela parasse. Ele ignorou o motivo e fingiu que não achava agradável estar à mercê dela.
— B, o que você está fazendo? — A abreviação de seu nome lhe parecia perfeitamente familiar. Era o tipo de coisa doce que só ela ousaria fazer. Ele supôs que isso era porque ele só permitiria a ela uma liberdade tão íntima. — O que tenho sonhado em fazer desde o dia em que te conheci. — Ele murmurou antes de arrastar a boca ao longo da barriga dela. Ele empurrou o short para baixo de seus quadris, expondo mais da pele sedosa dela e se deliciando com o rubor que se infiltrou na palidez que ele expôs. Ele beijou cada pequena sarda que descobriu, e ela ofegou seu nome. — Diga-me para parar. — Ele ordenou. — Ou deixe-me provar você. — Pare. — Ela ordenou, empurrando forte o suficiente para que ele recuasse. Antes que ele pudesse perguntar por que, ela arrastou os dedos pela bochecha e traçou a boca dele. — Eu acho que você deveria me beijar aqui. — Ela tocou sua própria boca. — Antes de me beijar ali. Ele não podia discutir isso e se levantou rapidamente para dar a ela o que ela queria. Marley sorriu para ele, sua timidez voltando quando ele se inclinou para capturar sua boca. Deus, valeu a pena esperar. Os lábios macios dela se encaixaram perfeitamente nos dele, e ele teve um pensamento vagamente romântico de que talvez ela tivesse sido feita apenas para ele. Marley agarrou sua camisa e choramingou quando ele deslizou a língua na abertura entre seus lábios. Ela o deixou entrar, gemendo quando suas línguas se enredaram, e ele deslizou os dedos pelas ondas de seu cabelo. Ele finalmente a tinha exatamente onde queria, e não daria a ela uma chance de correr. — B. — Ela sussurrou entre beijos febris. — Eu queria isso há tanto tempo. Ele se sentiu repentinamente tolo por todo o tempo que haviam
desperdiçado. Toda aquela dança em torno de sua atração e para quê? Para que ambos acabassem infelizes e solitários enquanto ansiavam um pelo outro? — Eu sinto muito. — Ele a beijou ternamente. — Sinto muito por ter sido tão teimoso em ir atrás de você. — Compense-me. — Ela ordenou. Ele rosnou com desejo reprimido e a ergueu do chão. Ela enrolou as pernas esguias em volta da cintura dele e atacou os botões de sua camisa. Seus beijos apaixonados se tornaram frenéticos enquanto ele os levava para a cama. Quando a colocou sobre ele, ela ficou de joelhos e terminou de desabotoar a camisa dele. Ela a puxou enquanto ele tirava os sapatos. A camisa caiu no chão e o cinto rapidamente se juntou a ela. Marley se inclinou para trás, os olhos arregalados de repente ao ver as cicatrizes no peito dele. — Oh, Besian. — Ela sussurrou em lágrimas. — Tudo isso por mim? — Eu levaria aquele tiro mil vezes. — Ele sibilou quando os dedos graciosos dela delinearam suavemente a cicatriz dividindo seu peito. A cicatriz vertical no meio de seu peito não tinha cicatrizado bem, provavelmente porque ele não tinha seguido nenhuma das ordens do médico. Ele estava muito ocupado cuidando de seu crescente império para ficar em casa e se recuperar. A outra cicatriz, a da bala que atravessou seu peito e saiu pela parte de trás era ainda pior. Ela havia enrugado e adquirido um brilho rosado com queloides ásperos no lado direito. Como a cicatriz mais limpa de sua cirurgia, esta tinha sido agravada por sua incapacidade de ficar parado. Ele começou a dizer a ela que poderia restaurá-las com um
cirurgião plástico se incomodassem, mas as palavras ficaram presas em sua garganta quando ela se inclinou para frente e correu a língua em toda a extensão da cicatriz vertical. Seu abdômen se contraiu e ele engasgou com o gesto inesperadamente erótico. Ela beijou o peito dele até o ferimento de bala e beijou ao redor dele. — Porra. — Ele praguejou, seus dedos apertando no cabelo dela. — Marley! Ela agarrou os ombros dele e puxou-o para cima dela. Ele foi de boa vontade, deslizando o braço por baixo das costas dela e arrastou-a para o meio da cama. Quando ele cobriu seu pequeno corpo com o dele, ela sorriu para ele, todo o rosto iluminando-se de excitação e desejo. Ele queria gravar essa imagem em sua mente, para nunca esquecer este momento. Ela suspirou feliz quando ele beijou seu pescoço e tirou rapidamente sua camiseta. O short saiu ainda mais rápido, e ele jogou-o por cima do ombro, sem se importar onde cairiam. Ela riu quando ele plantou beijos deliciosos em torno de seu umbigo. — Besian! — Marley. — Ajoelhado entre suas coxas, ele se maravilhou com as curvas nuas dela. — Porra, você é tão linda. Ela corou, a pele pálida que não tinha recebido muito sol ficando rosa brilhante. — Estou bem. — Disse ela ansiosamente. — Eu sei que não sou como suas dançarinas. — Ela cobriu os seios perfeitos com as mãos, como se estivesse constrangida. — Eu sei que você tem um tipo preferido. — Sim. — Ele beijou onde ela se cobria. — Eu tenho um tipo preferido. — Ele a beijou novamente. — Você. — Ele pressionou os lábios em um mamilo e depois no outro, sorrindo diabolicamente com a forma como a pele marrom escura se endurecia. — Tudo em você é o tipo da minha mulher ideal.
— B. — Disse ela nervosamente. — Você não acredita em mim? — Ele assentiu. — OK. Desafio aceito. Ela engoliu em seco. — Desafio? — Quando eu terminar com você esta noite, você nunca mais duvidará de mim. Ela arregalou os olhos, e o rubor subiu de seu peito para o pescoço e rosto. Não dando a ela a chance de protestar novamente, ele mapeou seu corpo com as mãos enquanto seguia cada carícia com um beijo. Ela estremeceu sob ele, e ele sorriu contra sua pele, amando a maneira como ela respondia. Ele capturou sua boca enquanto sua mão deslizava entre suas coxas. Ele roçou levemente as unhas ao longo da parte interna da coxa dela, fazendo-a ofegar e rir contra sua boca. Quando ele alcançou o local que mais queria explorar, ela choramingou e apertou as coxas, prendendo sua mão. — Calma. — Ele murmurou contra sua boca carnuda. — Abra suas pernas para mim. Ela as separou lentamente, e ele a recompensou com uma carícia suave para cima e para baixo em sua boceta. Ela tinha um cabelo ralo, uma novidade para um homem que ia para a cama apenas com mulheres que dançavam e eram totalmente depiladas. Ele não se importava de forma alguma. Iria enfiar o rosto entre as pernas de qualquer maneira. Mas primeiro... Ele enfiou a língua na boca dela e gentilmente mergulhou os dedos entre sua abertura. Ela choramingou e balançou os quadris, deixando as pernas se separarem em um convite silencioso para que ele
continuasse. E ele continuou. Ele acariciou sua boceta, descobrindo sua anatomia e aprendendo como ela gostava de ser tocada. Não muito firme, mas não muito lento. A resposta dela guiou seus movimentos, e quando ele trouxe as pontas dos dedos, agora escorregadios com a umidade de seu núcleo, para seu clitóris, ela gritou e agarrou os ombros dele. Ele sorriu contra seu seio, beliscando o pico sensível, e girou os dedos ao redor da pequena pérola que havia descoberto. Ele observou o rosto dela, sustentando seu olhar enquanto ela estremecia e ofegava. — Por favor, não pare. — Ela implorou, sua mão voando para o antebraço tatuado dele. — Por favor. Ele sacudiu sua língua contra a dela. — Goze. — Ele pediu. — Goze para mim. Os dedos dela se apertaram em seu braço. — B! Vê-la se desfazer o encheu de orgulho masculino. Ele engoliu seus gritos de êxtase com um beijo e só afastou a mão quando ela puxou seu antebraço. Ele sustentou o olhar dela enquanto chupava a umidade dela das pontas dos dedos. Ela corou profusamente e choramingou como uma gatinha. — Besian! — Não. — Ele disse, virando o rosto dela e forçando-a a encontrar seu olhar. — Sem constrangimento entre nós. Eu amo tudo em você. — Mesmo isso? — Ela perguntou suavemente. — Especialmente isso. — Ele disse e beijou ruidosamente sua bochecha. — Na verdade, é exatamente isso que eu quero provar agora. Ela fez um som animado e ansioso, mas não tentou afastá-lo ou fechar as pernas enquanto ele serpenteava por seu corpo. O cheiro
almiscarado picante dela encheu seus sentidos, e ele deslizou de barriga sobre a cama. Ele acariciou sua boceta e lambeu provocativamente entre seus lábios. — Porra, Marley. — Ele praguejou asperamente. — Você tem um gosto bom pra caralho. Ela choramingou novamente, enroscando os dedos no cabelo escuro dele, e ele sorriu contra sua boceta. Ele queria que ela se sentisse confortável, abraçasse seu lado sensual e gostasse de fazer amor com ele sem sentir qualquer hesitação. Se ele tivesse que provar sua boceta todos os dias para convencê-la, que fosse. Ele usou os dedos para separar suavemente os lábios de sua boceta. Ela era tão exuberante e molhada, tão convidativa e macia. Ele lambeu seu clitóris, apenas golpes lentos e provocantes, e então deixou sua língua deslizar mais para baixo. Quando ele empurrou dentro dela, ela gritou e tentou escapar. Ele segurou firme em seus quadris, mantendo-a bem ali, e a fodeu com a língua até que ela se acalmasse. Suas coxas tremeram em ambos os lados da cabeça dele, e ele voltou a atenção para o clitóris dela. Ele puxou um fôlego rápido quando sugou o pequeno botão e agitou sua língua sobre ele. Ele concentrou sua atenção ali, lambendo para cima e para baixo e em círculos lentos até que sentiu as coxas dela se contraírem novamente. Círculos, então, ele decidiu. Os pés descalços dela escorregaram pela cama. Os dedos dos pés pressionaram nos quadris dele. Ele preguiçosamente a lambeu, indo devagar o suficiente para que ela pudesse desfrutar a construção até seu clímax. Ele colocou a mão na parte inferior da barriga dela e gentilmente a levantou, apenas o suficiente para expor mais seu clitóris para ele. A mudança na sensação a fez gritar, e ela balançou os quadris, pressionando sua boceta contra a boca dele em busca de mais.
Ele deslizou círculos mais rápidos ao redor de seu clitóris, alternando chupadas rápidas, e a levou ao limite. Ele agarrou sua coxa, não a deixando se mexer, e continuou até ela gritar seu nome. Ela arqueou o corpo na cama, seus quadris balançando descontroladamente enquanto ele segurava firme em sua cintura e apreciava o latejar da boceta dela contra sua boca. Ela estremeceu com os tremores secundários, mas ele não a soltou. Ele apenas lambeu mais devagar, mais suavemente, até ela voltar a si. Ela passou os dedos pelos cabelos dele e sussurrou seu nome. Finalmente, recuperando o fôlego, ela sussurrou: — Obrigada. Ele não pôde evitar. Ele riu e beijou a parte interna de sua coxa. — De nada, rrushe. Ele enxugou a boca com as costas da mão, sem saber se ela seria receptiva a compartilhar um ato tão íntimo tão cedo, e depositou beijos em seu corpo de volta à boca. Ela gemeu contra seus lábios e arranhou seus ombros, puxando-o para mais perto. — Isso foi incrível. — Ela disse quando eles se separaram. — Eu sabia que seria, especialmente com você, mas ainda foi... estupendo. — Ela disse finalmente. — Estupendo? — Ele repetiu, sorrindo para maneira bonita como ela escolhia as palavras. — Estupendo. — Ela confirmou e beijou a ponta do nariz dele. Percebendo como ela estava corada e ainda parecia um pouco sem fôlego, ele ficou preocupado. Ele colocou a palma da mão sobre o coração dela, quase com medo do que sentiria. — Você está bem? — Besian. — Disse ela revirando os olhos. — Estou perfeitamente bem. — Ela cutucou o peito dele. — Se alguém deveria pegar leve, é você. — Isso é em razão na minha idade ou da minha saúde?
— Ambos? — Ela sorriu maliciosamente. — Soa como outro desafio. — Ele murmurou contra sua bochecha. — Oh não! Não é outro desafio. Você vai me matar se tentar provar sua resistência. — Não queremos isso. — Ele beliscou o pescoço dela e beijou uma constelação de sardas um pouco mais abaixo. — Definitivamente não. — Ela sussurrou. A mão dela desceu por seu peito até a calça, e ela desabotoou e baixou o zíper. — Tire isso. Ele não precisava ouvir duas vezes. Tirou a calça e a boxer e arrancou as meias. Nu, ele se juntou a ela na cama e não ofereceu resistência quando ela montou em suas coxas. Ela passou os dedos pelo cabelo, jogando-o sobre o ombro de uma forma sexy sem esforço. Ele respirou fundo quando a pequena mão dela agarrou seu pau. Ela parecia estar estudando-o enquanto acariciava lentamente a base e depois deslizava a mão de volta para o topo. Ele não era circuncidado, então presumiu que era porque parecia diferente de outros homens que ela poderia ter visto de perto. O pensamento de outros homens a vendo assim, sentindo suas mãos sobre eles assim, fez com que ele sentisse uma explosão de ciúme. Não era certo se sentir assim. Ele não tinha direitos sobre ela. Como ele se sentiria se ela ficasse irracionalmente ciumenta de todas as mulheres que ele teve no passado? Ele não gostaria disso e não deveria tratá-la de maneira diferente. E ainda assim... Ainda assim ele não podia negar que o sentimento estava lá. A sensação de que ela era dele. Que ela sempre foi destinada a ser dele e
apenas dele. Minha. Ela é toda minha. Agora, ela era absolutamente dele. Ela lambeu os lábios enquanto acariciava seu pau dolorido, e ele prendeu a respiração quando ela desceu por suas coxas. Ele teve apenas um momento de advertência antes que ela deslizasse a ponta de seu pau entre os lábios. Porra. PORRA. Ele gemeu com o intenso prazer de sua boca macia e úmida na parte mais sensível dele. Sua mão e boca estavam descoordenadas no início, mas suas tentativas desajeitadas não o incomodaram nem um pouco. Sentir sua boca era bom pra caralho. Ele estremeceu com a sensação de sucção sensual e agarrou os lençóis com as duas mãos. Ela explorou o eixo dele com a língua, arrastando-a por todo o caminho até suas bolas antes de deslizar de volta para a ponta. Ela parecia não estar com nenhuma pressa enquanto lambia, chupava e agitava sua língua ao redor da cabeça latejante. Ela cantarolava alegremente ao redor de seu pau e o acariciava com as duas mãos agora. As coxas dele ficaram tensas com a sensação quase opressora, e ela o soltou, deixando-o cair suavemente de sua boca. — Eu machuquei você? — Ela perguntou, olhando para ele com aqueles olhos grandes e vulneráveis. — Não, baby. — Ele assegurou a ela. — Bom. — Ela sorriu e voltou para sua tarefa com um entusiasmo que o fez afundar os pés no colchão. A boca dela parecia puro pecado, e ele estava dividido entre querer se conter, aproveitar por mais tempo, e deixar ir. No final, não cabia a ele, Marley deslizou sua boca carnuda em seu pau, não parando até que seu nariz bateu no corpo dele. Sentir seu pau aninhado na garganta dela o fez chegar ao limite.
Antes que pudesse avisá-la que estava prestes a gozar, ela deslizou de volta por seu eixo, chupando e engolindo enquanto ele enchia sua boca acolhedora com seu gozo. Ela fez um som de surpresa, as vibrações apenas aumentando a sensação selvagem de seu orgasmo. Ela relaxou e sacudiu a língua contra ele, lambendo até a última gota que ele tinha para oferecer. — Chega. — Ele rosnou, quase dolorido. Ele enredou os dedos em seus longos cabelos e puxou-a suavemente para cima de seu corpo. Ela enxugou a boca na barriga dele antes de pontilhar beijos em seu peito. Ela parecia um pouco chocada quando ele a beijou, mas relaxou contra ele e suspirou feliz quando ele se afastou para olhar para ela. Incapaz de acreditar que essa mulher incrível se importava com ele tão profundamente quanto ele se importava com ela, Besian se permitiu ser anormalmente honesto. Ele afastou a franja dos olhos dela e arrastou os dedos por sua bochecha macia e sedosa. — Eu te amo, Marley. Ela sorriu. — Eu te amo, B. Quando ela se aninhou ao lado dele, ele se viu arrastando-a ainda mais para perto. Ficar abraçado não era algo que ele fazia. Nunca foi. Ele sempre achou isso muito pessoal, quase invasivo, e não gostava da sensação quente e suada de ter outro corpo pressionado contra ele. Estranhamente, ele ansiava pela proximidade dela. Ele queria senti-la contra ele enquanto dormia, queria saber que ela estava segura e protegida. Ele queria que Marley ficasse bem aqui, ao lado dele, sempre. Ela adormeceu rapidamente. Ele não ficou tão surpreso. Ela tinha caminhado e viajado por dias. Além disso, ele a havia acertado com notícias chocantes. Ela provavelmente estava no limite.
Ele não teve tanta sorte. O jet lag e suas semanas terríveis de sono o deixaram inquieto. Ele cuidadosamente se retirou de seus braços e colocou as cobertas ao redor dela até ele voltar. Depois de uma ida ao banheiro, ele encontrou sua boxer entre as roupas no chão e voltou a vesti-la. Ele pegou o resto de suas roupas, dobrando cuidadosamente o pijama dela e colocando-o sobre a mesa de cabeceira. Seu olhar pousou no livro e no diário onde ela estava escrevendo antes do banho. Ele não iria invadir sua privacidade lendo o diário. O que quer que ela tivesse escrito ali era apenas para seus olhos, e a menos que ela quisesse compartilhar com ele, ele não tinha nada que bisbilhotar. O livro grande e grosso, entretanto, era familiar. Era um dos livros que Ben sugerira, mas não um dos livros que ele comprou. Imaginando o que havia de tão interessante nele, ele o pegou e o levou de volta para a cama. Ele acendeu o abajur mais próximo ao seu lado da cama e cuidadosamente voltou para debaixo das cobertas. Marley fez um pequeno som, quase como se estivesse aborrecida por ser incomodada, e ele se encolheu em um pedido de desculpas silencioso. Ela se virou, de costas para ele, mas se mexeu para trás até que sua bunda estava pressionada contra o quadril dele. Ele se inclinou e deu um beijo amoroso no ombro dela, puxou o cobertor mais para cima para cobrir seus seios e então se recostou nos travesseiros para ler. Ele começou na primeira página, mas então percebeu que o livro tinha uma curvatura natural na lombada. Era como se Marley tivesse lido e relido uma página específica centenas de vezes. Ele deixou o livro abrir naquela seção, as páginas caindo de lado sem esforço, e encontrou um parágrafo destacado em rosa. Havia pequenas manchas no papel, provavelmente de todas as vezes que ela havia dedilhado as páginas.
O que quer que Sylvia Plath10 tivesse escrito ali, repercutiu profundamente em Marley. Ele examinou a passagem que ela havia destacado. Imediatamente, ele sentiu vergonha. Uma vergonha intensa e ardente que contorceu seu estômago e o deixou com uma sensação de enjoo. “Sim, meu desejo ardente de me misturar a turmas de operários, marinheiros e soldados, a frequentadores de bares – fazer parte de uma cena, anônima, ouvindo e registrando – tudo isso é prejudicado pelo fato de eu ser uma moça, uma fêmea que corre sempre o risco de ser atacada e maltratada. Meu interesse imenso pelos homens e suas vidas é frequentemente confundido como desejo de seduzi-los, ou como um convite à intimidade. Mas, meu Deus, quero conversar com todo mundo, o mais profundamente que puder. Quero poder dormir em campo aberto, viajar para o oeste, andar livremente pela noite...”
Ele engoliu em seco ao ler a passagem novamente. Ele se odiava pela maneira como a havia repreendido como uma criança travessa. Quantas vezes ele a havia chamado de imprudente ou descuidada? Ele se encolheu diante de seu comportamento horrível. Marley queria o que ele havia considerado como certo durante toda a sua vida. Ela corajosamente se propôs a seguir seus sonhos, viajar e explorar, e ele arruinou sua experiência ao tratá-la como uma garotinha tola que não entendia os costumes do mundo. No entanto, ela ainda confiava nele para mantê-la segura. Ela confessou que o amava e se entregou livremente a ele. Tudo isso depois que ele havia arruinado o que provavelmente tinha sido um dia maravilhoso de aventuras emocionantes. Ele guerreou consigo mesmo, desesperado para acordá-la e se desculpar por ser um idiota. Mais tarde, ele prometeu a si mesmo. De manhã, quando ela estivesse bem descansada, ele se redimiria. O que 10
Sylvia Plath foi uma poeta, romancista e contista norte-americana.
quer que ela exigisse, ele daria. Enquanto isso, ele se acomodou e voltou para a primeira página do livro. Talvez Sylvia tivesse outras lições para lhe ensinar.
CAPÍTULO 10 Quando acordei cedo na manhã seguinte, ouvi o som baixo da voz de Besian. Ele parecia estar murmurando em albanês, e demorei um pouco para perceber que ele estava falando durante o sono. Prestei atenção para ver se conseguia entender alguma coisa do que ele dizia, mas era ininteligível. Depois de alguns segundos, ele grunhiu e se acalmou, me fazendo sorrir ao ver como ele conseguia resmungar mesmo quando estava dormindo. Meu pequeno sorriso se transformou em um sorriso aberto enquanto as memórias de nossa noite tórrida me vieram à mente. Quase não consegui acreditar que finalmente estávamos juntos. Todos aqueles meses de “chove, mas não molha” e de oportunidades aparentemente perdidas explodiram em uma paixão selvagem. Quando ele beijou minha coxa e olhou para mim com tanta necessidade queimando em seus olhos escuros, eu senti como se fosse entrar em combustão espontânea. A pura força de desejo me deixou desesperada por ele. Eu sempre imaginei que ele seria um amante habilidoso, mas o que ele me mostrou na noite passada eclipsou minha imaginação mais selvagem. Sentir sua boca entre minhas pernas fez meu cérebro entrar em curto-circuito. Suas mãos ásperas e possessivas me marcaram, rotulando-me para sempre como sua. Mas, mesmo agora, uma pequena parte de mim se sentia culpada por não dizer a ele que eu não era exatamente experiente no departamento de quarto. Minha história de namoros não tinha sido muito bem sucedida, especialmente com Spider sempre pairando ao redor, assustando cada cara que reuniu coragem para sair comigo. As poucas vezes em que fiquei confortável o suficiente com um cara para realmente ter intimidade, não fui muito longe. Simplesmente nunca
pareceu certo. Ontem à noite, entretanto? Ontem à noite, tudo parecia certo. Com Besian, me senti confortável e segura. Não tive medo de que ele me pressionasse a continuar ou de que fizesse coisas que eu ainda não estava pronta para tentar. Ao voar até aqui para me proteger, ele provou que merecia minha confiança. Sem querer acordá-lo, me virei cuidadosamente para olhar para ele. Eu não tinha o sono pesado, então o tinha ouvido se movendo durante a noite. A virada suave das páginas do livro me despertou pelo menos duas vezes. Eu não o deixei saber, no entanto. Não queria que ele se sentisse culpado por não conseguir dormir. Uma lâmpada iluminava a cama e sua pele. As linhas sob seus olhos me preocuparam. Se o estresse se devia a seus negócios, legais e ilegais, ou à ansiedade que eu havia causado a ele, eu não sabia dizer. Provavelmente era uma mistura dos três. O que quer que eu pudesse fazer para ajudá-lo a relaxar, jurei fazer. Meu olhar foi de seu rosto bonito para seu pescoço longo e desceu para seu peito. Eu esperava que ele tivesse tatuagens sob as roupas. No mundo que ele habitava, as tatuagens eram basicamente um cartão de visita. Aprendi desde muito cedo a decifrar os desenhos nas mãos, nos braços e no pescoço. Algumas marcas na pele me diziam a qual gangue ou unidade criminosa a pessoa à minha frente estava afiliada e se tinha problemas com Spider ou seu bando. A maioria de suas tatuagens eram as mesmas de criminosos comuns, algumas delas desbotadas e granuladas como tatuagens de prisão. A que estava em seu peito, uma águia de duas cabeças em tons de preto e vermelho, era uma bela obra de arte. De alguma forma, a cicatriz cirúrgica que a cortava fazia tudo parecer ainda mais impressionante.
A visão da cicatriz me fez voltar àquela noite terrível em que ele quase morreu por mim. Querendo ouvir a batida reconfortante de seu coração, me aconcheguei perto dele e coloquei meu ouvido contra seu peito quente. Ele fez um som de surpresa e respirou fundo antes de deslizar os braços ao meu redor. Nenhum de nós falou enquanto eu ouvia seus batimentos cardíacos, e ele pareceu cair no sono rapidamente. Contente e segura em seus braços, cochilei até que o primeiro raio de luz do sol se infiltrou pela abertura nas cortinas. Besian mal se moveu quando me libertei de seu abraço e escorreguei para fora da cama. Encontrei meu pijama cuidadosamente dobrado e esperando por mim na mesa de cabeceira. Vesti o short e a camiseta e silenciosamente peguei minha bolsa de higiene antes de entrar no banheiro. Quando saí, pouco tempo depois, com o rosto recém-lavado e os dentes escovados, encontrei Besian sentado na cama olhando para o telefone. Ele coçou o peito preguiçosamente e bocejou. Ele olhou para mim e sorriu. — Bom dia. — Bom dia. — Divertida ao ver seu cabelo todo desgrenhado, rastejei pelo colchão e o beijei. — Seu cabelo está uma bagunça. Ele bufou e estendeu a mão para alisar a bagunça desordenada. — É sua culpa. — Como? — A forma como puxou meu cabelo enquanto eu chupava sua... Eu o silenciei com um beijo apressado. — Comporte-se. — Vou tentar. — Disse ele com uma risada. Quando tentei me afastar, ele balançou a cabeça. — Venha aqui. Não vendo nenhum motivo para deixar o calor de seu abraço,
fiquei onde ele me queria. Ele passou os dedos pelo meu cabelo e acariciou o topo da minha cabeça. Parecia certo, perfeitamente perfeito, e eu não poderia imaginar acordar de outra forma. — Marley. — Sim? — Quero me desculpar pela maneira como me comportei ontem. Não consegui dormir e li um pouco do seu livro. O de Sylvia Plath. — Ele esclareceu. — Eu vi o trecho que você destacou. — Eu destaquei muitos trechos naquele livro. Você terá que ser mais específico. — Aquele sobre querer viajar e experimentar a vida sem a ameaça constante de ser ferida porque você é mulher. — Esclareceu. — Oh. — Percebi que idiota completo eu fui para você. Você estava tão feliz quando desceu daquele ônibus, e eu acabei com isso repreendendo você por ser imprudente. Tocada por seu pedido de desculpas, levantei minha cabeça para que pudesse vê-lo melhor. — Desculpas aceitas. — Beijei sua mandíbula e sorri provocadoramente. — Olhe para você! Crescendo! Expandindo seus horizontes literários. Tornando-se uma feminista! Ele grunhiu desconfortavelmente. — Não sei se iria tão longe. — Vou fazer você segurar cartazes e marchar pela igualdade até o Natal. — Brinquei, achando a imagem de Besian em uma manifestação política bastante divertida. Ele riu baixinho, mas não rejeitou a ideia. Depois de um tempo, ele disse cuidadosamente: — Marley, sobre ontem à noite...
Eu beijei seu peito. — Ontem à noite foi incrível. Ele exalou uma respiração lenta. — Você não se sentiu pressionada? Sob pressão? Fiz uma careta e levantei minha cabeça para que pudesse ver seu rosto. — De onde vem isso? — Então, sentindo-me subitamente envergonhada, perguntei: — Foi assim tão óbvio? Besian se mexeu e franziu a testa para mim. — O que era óbvio? Minhas bochechas queimaram quando admiti: — Que não tenho muita experiência. Ele pareceu surpreso. — Marley, você está... Antes que ele pudesse perguntar, eu interrompi. — Mais ou menos. — Tipo? — Quer dizer, eu fiz coisas. Eu simplesmente não fiz todas as coisas. — Entendo. — Ele disse finalmente. — Sinto muito. — Eu me desculpei rapidamente. — Pelo quê? — Ele perguntou, surpreso pela segunda vez. — Por não ter contado a você. — Esclareci. — Por que você não disse? Evitei seu olhar curioso enquanto explicava: — Eu ia, mas depois me deixei levar. Tudo parecia tão bom, e eu não queria que você se contivesse e me tratasse como uma coisinha frágil. Gostei da maneira como você me fez sentir e podia dizer que estava se divertindo comigo.
Eu não queria estragar isso. — Você não teria estragado. — Ele me assegurou e deu um beijo carinhoso na minha testa. — E eu teria te tratado com mais gentileza. — Ele admitiu. — Mas estou feliz por não ter feito isso. Eu ofeguei quando ele de repente nos rolou, me pressionando contra o colchão. Ele colocou as mãos em cada lado da minha cabeça e, em seguida, capturou minha boca em um beijo que me deixou ofegante de excitação. Ele me surpreendeu mordiscando meu lábio inferior, não forte o suficiente para ferir a pele, mas com força suficiente para que eu pulasse debaixo dele. Ele acalmou o local com a língua antes de chupar suavemente. Quando ele agarrou meus dois pulsos pequenos em sua mão muito maior, engoli em seco. Ele prendeu meus braços acima da cabeça e mudou seu peso, deslizando o joelho entre minhas pernas e forçandoas a se afastarem. Ele arrastou beijos ruidosos pela minha garganta, raspando os dentes contra a minha pele sensível entre cada um deles. — B! — Eu gritei quando ele empurrou rudemente meu short pelos meus quadris até que eles caíram em torno das minhas coxas. — Silêncio. — Ele me beijou até eu ficar sem fôlego. — Apenas sinta. Ainda presa debaixo dele, estremeci quando ele arranhou a curva do meu quadril com as unhas e, em seguida, girou a mão de volta em direção ao meu peito. Ele empurrou minha camiseta em direção ao meu pescoço, expondo meus seios. Sua língua circulou meu mamilo direito e depois o esquerdo antes que ele chupasse com força. Meus quadris se arquearam na cama na fisgada pungente de dor e prazer. Ele fez a mesma coisa com meu outro mamilo, e eu arqueei contra ele novamente. O puxão de sua boca no meu seio parecia refletir
diretamente em minha boceta, fazendo meu clitóris latejar e doer. Ele devia saber exatamente o que estava fazendo comigo, porque repetiu seus ataques sensuais em meus seios até que eu comecei a tremer. Ele deslizou a mão entre minhas coxas e segurou meu olhar enquanto gentilmente separava meus lábios. Seus beijos perversos e sua atenção aos meus seios surpreendentemente sensíveis me deixaram toda molhada. A umidade quente cobriu os dedos grossos de Besian enquanto ele acariciava minha fenda para cima e para baixo. Ele continuou me provocando com os dedos, deslizando-os perto do meu clitóris, mas nunca chegando a tocá-lo. — Por favor. — Por favor, o quê? Pare? Não pare? — Não pare. — Eu implorei, seu toque acendendo meu desejo como uma faísca em estopa seca. — Não pare o quê, Marley? — De me tocar. — Eu implorei, tremendo embaixo dele. — Mas suba mais um pouco. Por favor. Para cima. — Diga. — Ele ordenou. — Meu clitóris. — Eu disse, o rosto em chamas. — Toque meu clitóris, Besian. Ele rosnou e tomou minha boca em um beijo punitivo. Seus dedos hábeis finalmente giraram em torno do meu clitóris e eu gemi contra seus lábios. Ele esfregou círculos lentos com pressão apenas o suficiente para fazer minha cabeça girar. O short em volta das minhas coxas agia como outra camada de contenção, evitando que minhas pernas se abrissem tanto quanto eu queria e prolongando a escalada gradual em direção ao orgasmo.
Quando seus dedos abandonaram meu clitóris para deslizarem dentro de mim, gritei de prazer contra sua bochecha. Seus dedos acariciaram suavemente no início, explorando e descobrindo meu corpo. Era tão bom ser preenchida e esticada, e eu ansiava pela sensação de seu pau dentro de mim. Besian atingiu um ponto que fez meus olhos se arregalarem e meu coração disparar. Ele sorriu conscientemente e me beijou enquanto esfregava para frente e para trás ao longo da área intensamente sensível. Sua mão esquerda ainda segurava meus pulsos, e meu coração palpitava com a maldade de ser segurada enquanto ele me dava prazer. Quando seu polegar passou firmemente pelo meu clitóris, gemi seu nome. — Não pare! Estou perto. — Eu sei. — Ele murmurou e me beijou. — Goze. Goze, Marley. Perdi o controle enquanto o movimento de seus dedos e seu polegar me deixavam louca de luxúria. Seus dedos se apertaram em volta dos meus pulsos e eu choraminguei de êxtase, meu corpo inteiro espasmando enquanto as ondas de incrível prazer me consumiam. — Besian! Ele murmurou algo em albanês, algo que soou ao mesmo tempo indecente e amoroso. Ele me tocou em meio aos picos do meu orgasmo e gentilmente, ternamente, me conduziu com movimentos leves que me deixaram estremecendo e ofegando. Eu afundei contra a cama, sentindo-me relaxada e espreguicei quando ele beijou meu pescoço e peito. Ele apertou meus pulsos, chamando minha atenção. Segurando meu olhar, ele ordenou: — Chega de segredos. — Chega de segredos. — Eu prometi, completamente castigada.
Ele soltou meus pulsos e os massageou antes de olhar para eles como se esperasse ver hematomas. — Eu machuquei você? — Não. — Eu segurei seu rosto e esfreguei meu nariz contra o dele. — Você pode se segurar assim sempre que quiser. Ele riu sombriamente. — Eu prometo que vou. Minhas mãos ansiosas passaram de seu rosto para seus ombros e depois ao longo de seus braços esculpidos. Arranhei minhas unhas em suas costas enquanto trocávamos beijos lânguidos. Seu pau estava duro contra minha coxa, longo e grosso e implorando pelo meu toque. Deslizei minha mão entre nós, apalpando-o através do tecido fino de sua boxer e fazendo-o soltar um gemido profundo. De repente, seu telefone tocou e vibrou na mesa do outro lado do quarto. Ele fez um som irritado que se transformou em um gemido enquanto eu acariciava seu pau. — Deixe tocar. — Eu implorei, desesperada para dar a ele o mesmo prazer que ele me deu. — Não posso. É o Luka. — Ele pressionou sua testa contra a minha. — Não se mova. — Sem problemas. — Eu respondi, meu corpo inteiro ainda formigando e relaxado por causa daquele orgasmo maravilhoso. Eu nem me preocupei em puxar meu short quando rolei para observá-lo. Ele cruzou o quarto e pegou seu telefone assim que ele parou de tocar. Franzindo a testa, ele tocou na tela e retornou à ligação. Não consegui entender uma única palavra dita. Foi outro lembrete de que eu precisava me inscrever em um curso de língua albanesa. Não porque eu quisesse escutar suas ligações particulares, mas porque queria poder compartilhar algo especial com ele. Ele foi para Houston e aprendeu inglês. O mínimo que eu podia fazer era aprender sua língua materna para ele.
— Está tudo bem? — Perguntei enquanto ele jogava descuidadamente o telefone na cadeira. — Sim. — Ele se ajoelhou na cama e alcançou meu tornozelo. Eu gritei de excitação e choque enquanto ele me arrastava pela cama. Ele arrancou meu short com um puxão e subiu em cima de mim. Sorrindo diabolicamente, ele perguntou: — Agora... onde estávamos?
CAPÍTULO 11 Besian fez uma careta para a poeira cobrindo suas botas escuras. Ele lamentou não ter escolhido suas roupas com mais cuidado ao fazer as malas. Dois ternos, dois pares de jeans, três camisas e meias variadas e outras peças pareciam roupa o suficiente. Claro, ele não esperava ficar no país por muito tempo, e ele definitivamente não esperava perambular pelas ruínas destruídas de um castelo. Para qualquer outra pessoa, ele teria recusado. Por Marley, ele estava disposto a carregá-la nas costas morro acima, se ela pedisse. Apesar de sua irritação com a sujeira de sua curta caminhada pela trilha sinuosa, ele sentiu apenas felicidade ao ver Marley explorar a estrutura de pedra. Ela pegava sua câmera e tirava fotos de coisas que achava interessantes. De vez em quando, ela olhava ao redor para encontrá-lo e sorria quando seus olhares se encontravam. O entusiasmo dela o enredou, e ele se juntou a ela enquanto ela caminhava entre as pesadas portas de ferro do castelo. Ela estendeu a mão livre para ele e entrelaçou os dedos deles. Impressionou-o quando ela sorriu para ele que nenhuma mulher havia segurado sua mão assim. Ele nunca tinha experimentado a adrenalina de um romance adolescente. Já adulto, ele evitava demonstrações públicas de afeto, não querendo que nenhuma mulher tivesse qualquer direito sobre ele. Ele lançou um olhar de soslaio na direção dela enquanto considerava a melhor forma de reivindicá-la. Quando eles terminassem aqui, estariam seguindo para Tirana. Ele estava ficando sem tempo para fazer o pedido. Seu estômago se agitou de ansiedade. Ele já tinha ficado tão nervoso? Ele não conseguia se lembrar de alguma vez ter se sentido
assim. Isso afetou sua confiança, e ele temeu fazer disso uma bagunça absoluta quando chegasse a hora. Pior ainda? E se ela o recusasse? — Você pode imaginar como era morar aqui? — Marley perguntou, interrompendo seus pensamentos perturbados. Ela largou a mão dele para poder manusear a câmera. O que ela achava tão interessante naquela pilha específica de pedra branca e cinza manchada com líquen e musgo, ele não sabia dizer. — Imagino que provavelmente foi horrível. — Comentou Besian. — Sem aquecimento central ou ar condicionado. Sem água corrente ou encanamentos modernos. Doença. Fome. Guerra. Morte. — Ele balançou a cabeça. — Vou ficar com minha cobertura em Houston sem dúvidas. Ela revirou os olhos. — Maneira de arruinar a fantasia. — Você fantasia sobre viver assim? — Ele gesticulou ao redor do castelo em ruínas. — Você teria se casado aos doze anos com um velho qualquer. Se você não morresse ao dar à luz um de seus vinte filhos, provavelmente teria sido assassinada por um senhor da guerra rival ou morrido de fome durante um cerco. E toda essa merda horrível seria sua vida apenas se você tivesse a sorte de nascer nobre! Queira Deus que você fosse filha de um fazendeiro! Marley olhou para ele por um momento, aparentemente chocada com sua resposta. Finalmente, ela disse: — Ok, então acho que não vamos ao Ren Fest11 no próximo ano. Ele gargalhou com sua resposta malcriada. Alcançando-a, ele a puxou para perto e beijou sua têmpora. — Vou levá-la a qualquer lugar que você queira ir. — Ele se moveu para ver o belo rosto dela. — Mas 11
Festival renascentista é um encontro de fim de semana ao ar livre aberto ao público e de natureza tipicamente comercial, que supostamente recria um cenário histórico para a diversão de seus convidados. Alguns são parques temáticos permanentes, enquanto outros são eventos de curta duração em um recinto de feiras, adega ou outros grandes espaços públicos ou privados.
sem fantasias. Ela riu e deu um tapinha em seu peito. — Combinado. Eles vagaram pelas ruínas por mais uma hora. Algumas vezes, ela o capturou em suas fotos. Quando ele percebeu que ela não estava tirando nenhuma foto de si mesma, gentilmente tirou a câmera de suas mãos e se certificou de que haveria muitas fotos de seu rosto sorridente dentro e ao redor do castelo. Ele nem mesmo discutiu quando ela pediu para tirar algumas selfies dos dois. — Está vendo esses lugares onde alguém restaurou o castelo? — Ela apontou em direção a uma área de uma parede que tinha tijolos vermelhos assentados na pedra. — Eu me pergunto quantas vezes eles tiveram que reconstruir essas paredes. — Dezenas. — Disse ele, pensando na pouca história de que se lembrava sobre essa área. — As pessoas lutam por esta colina desde os romanos. Acho que houve um cerco aqui antes da Primeira Guerra Mundial. O Império Otomano. — Acrescentou. — E a Liga dos Bálcãs. Ela deu um sorriso torto. — Vou ter que pesquisar isso no Google mais tarde. Ele riu. — Boa sorte com isso. Ela se desviou alguns metros e encontrou outro local que tinha reparos arcaicos. — Aposto que os pedreiros eram considerados um bom partido. Case-se com um pedreiro e nunca terá de se preocupar com a possibilidade de o seu marido ficar sem trabalho. — A construção é um bom nicho. — Ele concordou, pensando em quanto dinheiro havia ganhado com a pequena empresa que possuía. — Quase vinte por cento do meu portfólio é de construção. Ela riu. — Por que não me surpreende que você também esteja
no ramo da construção? Ele encolheu os ombros. — Você tem que diversificar. — Eu teria que ter dinheiro para investir primeiro. — Ela ressaltou antes de erguer sua câmera para capturar a imagem de um gavião que pousou no topo da parede. Ele franziu a testa com a declaração dela. Certamente, Spider tinha feito algum tipo de investimento para ela... Ele duvidava que Spider tivesse muito dinheiro, mas o homem era dono de várias propriedades para alugar, incluindo os parques de trailers em Houston. Também havia aquele bar na costa. A maior parte da renda de Spider vinha de meios ilegais, mas ele tinha fácil acesso à lavagem. Tinha que haver algo reservado para Marley! Decidindo que seria uma discussão difícil que eles teriam mais tarde, ele seguiu alguns passos atrás enquanto Marley deixava as ruínas principais do castelo. Ela não parou até chegar ao ponto mais alto da colina. Ele deslizou um braço em volta da cintura dela, puxando-a para perto enquanto apreciava a incrível vista para a água. O rio Buna serpenteava de um lado e o Drin corria no outro. — É tão lindo aqui, Besian. — Ela encostou a cabeça no peito dele. — Não sei como você pôde deixar tudo isso para trás e ir para Houston. — Dinheiro. — Disse ele com naturalidade. — Eu queria mais da vida do que poderia conseguir aqui. — Dinheiro não é tudo. — Ela murmurou. — Não, mas torna a vida muito mais fácil. — Ele deixou por isso mesmo e ficou feliz quando ela não o pressionou sobre como isso tornava a vida mais fácil. Ele não queria contar a ela sobre a pobreza de sua infância, a fome torturante e o medo do amanhã. Ele não queria
contar a ela sobre ouvir a tosse seca de sua avó todas as horas do dia e da noite, ou sobre o apodrecimento agonizantemente lento do câncer que devastava seu avô. Ele especialmente não queria contar a ela sobre o constrangimento de todos saberem que sua mãe trocou seu próprio corpo por dinheiro e comida para manter sua pequena família viva. — Você conhece a história do castelo? — Ela perguntou suavemente. — Sobre a mãe e a parede? — Sim. — Era uma velha lenda terrível, um conto sentimental que glorificava a honra e a virtude do sacrifício de uma mãe. — Você vai me contar? Ele franziu a testa para ela. — Por quê? É uma história horrível. — Gosto de ouvir a sua voz. Bem, então. Como ele poderia negar o pedido dela depois disso? — Provavelmente vou misturar tudo porque já faz anos que não o ouço. — Ele alertou. Ela esfregou o peito dele. — Eu não me importo. — Bem, há muito, muito tempo. — Ele começou a provocar, e ela riu. — Três irmãos estavam construindo um castelo aqui em cima nesta colina. Eles empilhavam pedras o dia todo, mas então, ao cair da noite, tudo desmoronava. Por fim, eles encontraram um velho que sabia de seus problemas para construir o castelo e ele perguntou-lhes se eram casados. Eles eram, e o velho disse-lhes que a única maneira de garantir que o castelo permanecesse de pé era pegar a esposa que lhes traria comida no dia seguinte e enterrá-la viva nas paredes. Ele os proibiu de mencionar isso às esposas, e os irmãos foram para casa e não disseram nada. Ele fez uma pausa na história horrível enquanto considerava a
rapidez com que teria chutado aquele velho colina abaixo se sugerisse colocar Marley dentro de uma parede com tijolos. — Então, no dia seguinte, os irmãos vieram trabalhar na colina. — Continuou ele. — E esperaram que uma das esposas lhes trouxesse comida. Rozafa, a esposa do irmão mais novo, foi quem veio. Ela havia deixado seu bebê em casa, e quando seu marido disse a ela o que tinha que ser feito para salvar o castelo, ela aceitou seu destino. Marley fez um som irritado, mas não o interrompeu ou pediu que parasse. — Ela amava muito o filho, e fez um pedido ao marido e aos irmãos dele. Ela pediu que fizessem quatro furos na parede – um para o olho direito, um para o seio direito, um para a mão direita e um para o pé direito. Dessa forma, ela ainda poderia cuidar do filho. Ela podia vê-lo com o olho direito, confortá-lo com a mão direita, alimentá-lo com o seio direito e embalá-lo para dormir com o pé direito. Em troca de seu sacrifício, o castelo ficaria de pé, e seu filho cresceria para se tornar um herói. Marley ficou quieta enquanto ele terminava a história. Depois de alguns momentos, ela disse: — Bem, isso foi deprimente como o inferno. Ele riu suavemente e beijou o topo de sua cabeça. — Eu disse que era uma história horrível. — Você acha que há alguma verdade nisso? Ele encolheu os ombros. — Provavelmente há alguns pequenos grãos de verdade nela. — Quero dizer, o castelo está ainda de pé. Sem engenharia estrutural, acho que enfiar sua esposa na parede era a melhor opção que eles tinham.
Ele deu um pequeno aperto nela. — Não se preocupe, rrushe. Vou contratar um arquiteto adequado quando construirmos nosso castelo. — Você me mima. — Disse ela, rindo. — Você merece ser mimada. — Ele disse sério. Decidindo que este era o momento de fazer o pedido, ele gentilmente a afastou de seu peito. A expressão dela ficou curiosa quando ele colocou a mão em seu rosto e acariciou sua bochecha com o polegar. — Se você deixar, vou mimá-la pelo resto da sua vida. Eu cuidarei de você. Eu protegerei você. Vou te dar tudo que você quiser. Eu farei o que for preciso para te fazer feliz. Seus olhos azuis se arregalaram. — Besian, você está...? — Sim. — Ele traçou seu lábio inferior com o polegar. — Case comigo? Ela nem hesitou. — Sim. Atordoado por ela o aceitar sem reservas, ele perguntou: — Tem certeza? Rindo alegremente, ela agarrou o pulso dele e virou a cabeça para dar um beijo carinhoso em sua palma. Ela ergueu o olhar brilhante para ele e sorriu. — Tenho certeza. Sua resposta evocou uma onda de pura alegria. Pela primeira vez na vida, ele se sentiu verdadeiramente digno. Marley, uma mulher que podia ter qualquer homem, o escolheu, o aceitou, com defeitos e tudo mais. Deslumbrado com o momento, ele segurou o rosto dela e reivindicou sua boca em um beijo caloroso. Encostando a testa na dela, ele sussurrou: — Eu te amo, Marley. — E eu te amo, B.
CAPÍTULO 12 Casada. Eu vou me casar. Mesmo agora, mais de três horas depois de aceitar a proposta inesperada de Besian, eu não conseguia parar de sorrir. Ele olhou para mim do banco do motorista e agarrou minha mão. — Seu rosto vai ficar dolorido se você continuar assim. — Não posso evitar! Eu estou feliz! — Sem pensar duas vezes? — Ele estava tentando parecer brincalhão, mas eu podia ouvir a ligeira incerteza em sua voz. Parecia que esse homem ultra confiante, às vezes arrogante, tinha um ponto fraco – eu. Dei um aperto tranquilizador em sua mão. — Não. E eu realmente não tinha nenhuma dúvida. No momento em que ele me pediu em casamento, experimentei a mais incrível sensação de calma. Foi um momento de clareza onde tudo parecia certo. Eu o amava. Ele me amava. Estávamos destinados a ficar juntos, e por que não estarmos juntos como marido e mulher? Eu não era ingênua. Eu sabia que a estrada à frente seria acidentada. Não namorávamos há meses ou anos. Não tínhamos tentado morar juntos. Nós nem tínhamos feito sexo de verdade ainda. Mas nada disso importava. Eu não tinha medo de compromissos. Não tinha medo de descobrir as coisas ao longo do caminho. Eu acreditava em nós.
— Lamento que o pedido não tenha sido feito corretamente. Confusa, perguntei: — Como não foi correto? — Sem anel, para começar. — Ele franziu a testa para o meu dedo anelar sem adornos. — Vamos comprar um assim que chegarmos a Tirana. — Besian, por favor, acredite em mim quando digo que um diamante em uma aliança de ouro é a última coisa que quero ou preciso. Para mim, o pedido foi perfeito. Eu não iria querer de outra forma. — Pode ser, mas você precisa de um anel. Não precisa ser um diamante. — Ele insistiu antes que eu pudesse argumentar. — Safira? Esmeralda? Rubi? Percebendo que este era um momento que exigia uma concessão, cedi. Era óbvio que me dar um anel era muito importante para ele. Afinal, era um símbolo de compromisso aceito. — Vou amar e usar o que você escolher para mim. — Não vou escolher um chamativo. — Ele prometeu. — Eu sei que você não é assim. — Obrigada. Ainda segurando minha mão, ele conduziu pela rodovia. Nós seguimos em silêncio por um tempo, eu curtindo a paisagem e ele aparentemente perdido em pensamentos. Ao nos aproximarmos da capital albanesa, Besian pigarreou, como se estivesse nervoso. — Então, sobre minha família... — Sim? — Meu estômago apertou de ansiedade quando de repente me perguntei se estava prestes a descobrir que eles não me aprovariam. — Minha sobrinha, Rina, cuida da casa. Ela pode ser autoritária,
então se ela tentar mandar em você, me avise, e eu cuidarei disso. — Tenho certeza de que posso lidar com isso. Quero dizer, Aston é minha melhor amiga e é provavelmente a mulher mais mandona de Houston. Ele riu. — Isso é verdade. — Quem mais vou encontrar? — Zec pode estar por perto. — Ele disse e fez uma careta. — Você já o conheceu? — Brevemente. — Eu disse, lembrando do homem aterrorizante com a cicatriz horrível na garganta. — No hospital quando você foi baleado. — Eu esclareci. — Ele estava no corredor quando saí do seu quarto. Perguntei a Ben sobre ele mais tarde, e ele me disse quem ele era. — Ele pode ser intimidador, eu sei, mas é um cara sério. Sensato. Leal. Ele vai tratar você com o respeito que você merece. Curiosa, perguntei: — O que aconteceu com a garganta dele? — Foi cortada quando ele era mais jovem. — Quão jovem? — Jovem. — Disse Besian em um tom que transmitia que ele não queria falar sobre isso. — Luka, meu sobrinho, é o chefe da família. — Ele olhou para mim, suas sobrancelhas levantadas em expectativa. — Você entende? — Ele é o chefe, você quer dizer? Como chefe da máfia? — Sim. Exatamente isso. — Ele confirmou. — Ele tem estado doente, então, se não for muito acolhedor, é por isso. Não é por você.
— Ele me assegurou apressadamente. — Ele aprova nós dois e está fazendo tudo o que pode para agilizar a papelada do nosso casamento. — A papelada do nosso casamento? — Eu me movi no assento para poder ver seu rosto. Tive um mau pressentimento de que estava prestes a ouvir algo de que não iria gostar. — Que papelada? — Para nos casarmos legalmente. — Explicou ele, como se fosse óbvio. — Há muitos requisitos para se casar aqui, incluindo uma espera de duas semanas. Luka está usando suas conexões para eliminar esses requisitos. Confusa, perguntei: — Vamos nos casar aqui? Tipo agora? Ele pareceu surpreso com minha reação. — Sim. — Mas... por que a pressa? Se você quer se casar aqui, podemos voltar dentro de alguns meses. — Não, não podemos. — Rebateu Besian. — Não podemos voltar para Houston a menos que você tenha meu sobrenome para protegê-la. Como minha esposa, ninguém será capaz de tocar em você. O brilho romântico em sua proposta espontânea desvaneceu-se um pouco. Sentindo-me um pouco magoada, perguntei: — É por isso que você quer se casar comigo? Para me proteger? — Sim, mas essa não é a única razão, Marley. Eu te amo. — Ele afirmou ferozmente. Então, como se para se certificar de que eu acreditava nele, ele repetiu. — Eu te amo, Marley. Eu quero ser seu marido. Gostaria que as coisas fossem diferentes. Queria que você tivesse um longo noivado e todas as festas e o grande casamento que você merece, mas não é prático agora. Eu processei sua explicação. O que ele disse fazia sentido. O mundo em que vivíamos – aquele lugar sombrio onde as regras eram
diferentes e os homens viviam de acordo com o código moral de um criminoso – exigia uma medida drástica. Eu queria ser corajosa e insistir que não tinha medo de voltar para Houston sem sua proteção, mas não era tão corajosa. Ou estúpida. Eu precisava da proteção de Besian, o escudo impenetrável que só o casamento poderia fornecer. E eu queria ser sua esposa. Eu o amava. Eu o amava há muito tempo. Ele era tudo que eu queria no mundo inteiro. Então, talvez, este não fosse o casamento com o qual eu havia sonhado, mas era o casamento que eu queria com o homem que eu queria. Os detalhes não importavam. — Está bem. Besian olhou da estrada para mim e de volta para a estrada novamente. — Está bem? — Vamos nos casar agora. Aqui. Ele parecia aliviado, mas ainda um pouco apreensivo. — Você tem certeza? — Sim. — Podemos ter outro casamento em Houston. — Ele ofereceu. — Do jeito que você quiser. — Mesmo que um do jeito que eu quero signifique um casamento escandalosamente caro que vai torrar sua conta bancária como um incêndio? — Eu provoquei. — O que você quiser, você pode ter. — Bem, felizmente para você e sua conta bancária, eu realmente não quero um casamento grande e louco. Eu sou mais uma garota de um casamento pequeno e íntimo.
— Imaginei. — Ele aliviou o pé do acelerador à medida que encontramos mais tráfego e nos aproximávamos da cidade. — Obviamente, Spider não pode comparecer. — Hesitante, ele perguntou: — E a sua mãe? — E quanto a ela? — Tentei agir como se a menção dela não me incomodasse, mas ele me conhecia muito bem. — Devemos tentar entrar em contato com ela? Ver se ela quer vir? — Não tenho notícias dela há quase três semanas. — Eu admiti e me mexi desconfortavelmente. — Onde quer que ela esteja e o que quer que esteja fazendo, é mais importante do que responder às minhas mensagens de texto ou atender minhas ligações. — Você saiu em condições ruins? — Nós brigamos antes de eu sair. — Por causa de? — Tudo. — Eu disse com um suspiro. — E nada. — Não sei o que isso significa. — Significa que há uma longa história entre nós. As coisas vieram à tona depois da cirurgia no meu coração. — Constrangida com o quão negligente minha mãe podia ser, confessei: — Ela sabia que eu tinha problemas cardíacos. Eu fui diagnosticada enquanto era criança, mas ela nunca me levou a nenhuma das consultas de acompanhamento e nunca me disse que eu tinha uma bomba-relógio no meu peito. Eu tinha mencionado sobre meu coração acelerado para ela antes, mas ela sempre dizia que era apenas ansiedade e tentava me fazer tomar uma nova preparação de óleo essencial ou beber uma mistura anti-ansiedade louca que ela estava vendendo.
As mãos de Besian apertaram o volante. Eu podia sentir as ondas de raiva irradiando dele em rajadas furiosas. — Retiro o que disse. Ela não foi convidada. Eu sorri tristemente. — Ela não viria, mesmo que pedíssemos. — Ela é sua mãe. Claro que viria. — Não temos o tipo de relacionamento que a maioria das mães e filhas tem. — Expliquei, decidindo colocar tudo para fora agora. — Quando eu era mais jovem, éramos muito próximas, mas ela mudou quando eu fiquei mais velha. Ela parou de cozinhar, parou de limpar, parou de se importar. Ela começou a gastar dinheiro, comprando coisas que não precisava, enchendo a casa com pilhas de roupas, joias e objetos de coleção que não valiam o que ela pagava por eles. — Então, ela é uma colecionadora? Como naquele programa de TV horrível? — Não a esse nível extremo, mas sim. — Fiz uma careta ao me lembrar de como a casa dela estava imunda da última vez que a visitei. — Eu gostaria de saber o que aconteceu. Um dia, ela era a melhor mãe de todos os tempos, e no seguinte, ela mal percebia que eu existia. — Dei de ombros. — É algum tipo de doença mental, mas não sei o que a causou. Provavelmente algum trauma. — Eu murmurei. — Algo terrível. — Você não pode ajudá-la se ela não quiser ajudar a si mesma. Eu vi isso com meus dançarinos. Eles ficam viciados em pílulas, metanfetamina ou cocaína, e não importa o quanto eu os force a ficarem limpos. Eles têm que estar prontos para fazer isso por si mesmos, por seus filhos, por suas famílias. O que quer que sua mãe esteja lidando, isso é culpa dela. Você não pode carregar esse fardo. — Eu sei disso, mas saber não torna as coisas mais fáceis. É
difícil vê-la tomar tantas decisões ruins. — Sinto muito, Marley. Ficamos em silêncio enquanto ele conduzia pela movimentada rodovia serpenteando por Tirana. Parecia haver uma mistura de residencial e comercial, e percebi que eles tendiam a construir verticalmente em vez de horizontalmente, aproveitando cada pedacinho de espaço em suas ruas movimentadas. Edifícios ultramodernos pareciam deslocados na linha do horizonte, mas senti que a cidade continuaria a se transformar e crescer para se adaptar às estruturas mais novas. — Tirana mudou muito desde que você era criança? — Sim. — De um jeito bom ou ruim? — Ambos, mas mais bons do que ruins. — Ele decidiu. — Depois que o comunismo acabou, foi difícil aqui. Difícil parecia um eufemismo, considerando o que li em alguns artigos da Wikipedia durante minhas viagens. — Você cresceu aqui em Tirana? — Eu nasci em uma pequena vila ao norte. Só viemos para Tirana quando eu tinha onze anos. — Com seus pais? — Não. — Ele pigarreou. — Nosso pai foi morto quando eu tinha oito anos. Minha mãe me levou para morar com os pais dela, até que ela morreu. Depois disso, vim para Tirana para viver com meus irmãos e o tio que os tinha acolhido. — Isso deve ter sido difícil. — Tentei imaginar um Besian muito
jovem perdendo sua mãe e avós e se mudando para uma cidade grande. — Você e seus irmãos deviam ser próximos. — Éramos. — Ele parecia estranhamente concentrado no tráfego, como se não confiasse em si mesmo para olhar para mim. — Baki, o pai de Ben foi mais como um pai para mim do que minha mãe ou meu pai foram. Pali, meu irmão do meio, o mesmo, sempre cuidando de mim. Ele gesticulou para uma placa de estrada que eu tinha perdido. — A embaixada americana. — Ele disse. — Quando Luka ligou esta manhã, ele disse que há formulários que você precisa assinar e autenticar lá. — Você irá comigo? — Claro. A menção da embaixada trouxe outra questão à mente. — Você é cidadão americano? — Não. — Ele pressionou o freio suavemente quando um táxi parou um outro carro na nossa frente. — Eu tenho um green card. — Ele olhou para mim enquanto esperávamos o pequeno engarrafamento acabar. — Isso é um problema? — Acho que não. — Não querendo entrar nos "e se" que poderiam surgir no futuro, perguntei: — Você quer a cidadania? — Não particularmente. — Ele disse, voltando sua atenção para a estrada. — É melhor para mim, financeiramente, se eu continuar sendo um cidadão albanês. — Legalmente, também, eu imagino. — Eu comentei sem pensar. Ele deu uma risadinha. — Bem, sim, isso também. Embora, fugir
de Houston no meio da noite para a Albânia, onde não serei extraditado, será mais complicado quando nos casarmos. Quanto mais conversávamos, mais eu estava começando a entender o quanto ainda precisávamos discutir. Como se estivesse lendo minha mente, ele disse: — Precisamos nos sentar esta noite e esclarecer um pouco disso. Outro pensamento preocupante ocorreu. — E se a embaixada quiser fazer algum tipo de entrevista antes de assinar minha papelada? — Este não é um casamento pelo green card, Marley. Eles não vão se importar. — E se eles pensarem que você está tentando forçar a obtenção da cidadania? — Se eu quisesse fazer isso, já teria feito anos atrás. — Ele estendeu a mão e deu um aperto suave na minha coxa. — Pare de se preocupar, querida. Ninguém vai incomodar você. Ele parecia bem certo sobre como isso iria acontecer. De repente, ocorreu-me que ele poderia ter uma história romântica muito mais complicada do que eu imaginava. Nervosamente, perguntei: — Você já foi casado antes? Ele riu. — Não. — Então, provocadoramente, ele perguntou: — E você? — Não! Seu sorriso torto fez meu coração palpitar de forma diferente. — Até a primeira vez que te vi, eu pensava que casamento era uma sentença de prisão. Então, você sorriu para mim de trás do balcão da loja de penhores de Abby, e eu saí de lá pensando que, se alguma vez houvesse uma mulher que poderia me tentar a sossegar, seria você.
Meu coração deu outro pequeno salto. — Você está falando sério? — Sim. — Um rubor subiu acima de seu colarinho e deixou seu pescoço vermelho. — Eu estava tão fora de mim com aquele encontro com você que tropecei no meio-fio do lado de fora da loja e quase caí de boca na frente do meu carro. — Não! — Sim. — Ele diminuiu a velocidade e saiu da rodovia em direção a uma área residencial. — E você? O que você achou da primeira vez que nos conhecemos? — Que você era um problema. — Eu admiti e ganhei outra risada dele. — E, se eu não fosse cuidadosa, iria acabar completa e totalmente com o coração partido. — Marley. — Ele falou meu nome com ternura e pegou minha mão. — Bebê. — Ele ergueu minha mão e beijou as costas dela. — Isso é.... — Ele começou e então parou. — Foi por isso que você foi embora? Que você veio para a Europa? Para aqui? Envergonhada, confessei: — Sim. — Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, acrescentei apressadamente: — Sei que é patético e... — Pare. — Ele ordenou. — Não há nada de patético nisso. — Ele beijou as costas da minha mão novamente. — Quando Aston me disse que você estava aqui, fiquei chocado e depois fiquei mais esperançoso do que jamais estive em minha vida. Eu a afastei e você fugiu – mas não fugiu de mim. Você correu direto para o cerne de quem eu sou e de onde vim. Percebi que você queria me conhecer, o meu verdadeiro eu. — Isso é tudo que eu sempre quis. Entender você. — Eu
expliquei. — Conhecer você de uma forma que ninguém jamais conheceu ou conhecerá. Sua expressão de ternura me tocou como o sol. — Você deveria escrever isso. Como a mulher do livro que você carrega. — Ele disse. — Manter um diário de todos os seus pensamentos bonitos. Tentei não rir quando perguntei: — Você sabe como a história dela termina? — Não fui tão longe ontem à noite. — Ele entrou em outra rua que parecia recém-pavimentada. — Por quê? — Por nada. — Eu disse, decidindo que não era hora de dar a notícia sobre o fim trágico de Sylvia Plath. Ele me lançou um olhar suspeito enquanto seguíamos por uma rua repleta de casas novas. — Por que tenho a sensação de que vou ter que me desculpar mais tarde? — Não espero um pedido de desculpas. — Prometi. Olhando ao redor da rua, comentei: — Isso me lembra aqueles imóveis de luxo surgindo por toda Houston. — Progresso. — Ele disse secamente. No final da rua, ele parou em frente a um pesado portão preto. Ele nem se deu ao trabalho de digitar um código no teclado porque o portão se abriu imediatamente. Ele passou e, do outro lado do portão, havia dois homens esperando. Eles acenaram com a cabeça para Besian enquanto ele passava, mas não retribuíram o meu sorriso. A entrada era ladeada com um paisagismo recém-feito, mas eu podia ver como ficaria bonito quando as árvores e plantas crescessem. Mais à frente, no topo da pequena colina, havia uma grande casa branca
isolada com muitas janelas. A villa12 ultramoderna teria ficado perfeitamente situada entre as mansões de Los Angeles. — É uma bela casa. — Disse eu, inclinando-me para a frente para ver melhor o terceiro andar. — O arquiteto é local? — Ele é daqui, mas foi para a escola na América. — Califórnia? — Imaginei. Ele pareceu surpreso. — Sim. — Aston me fez fazer um curso de arquitetura com ela. Havia uma seção inteira sobre o modernismo da Califórnia. — Curiosa, perguntei: — É este o tipo de estilo de casa que você gosta? Ele encolheu os ombros. — Eu não odeio. — Mas? — Não me sinto em casa. — Ele estacionou no passeio circular e desligou o carro. — Você gosta? — É muito bonito. Muito melhor do que onde moro agora. — Eu o lembrei. — Onde você morava. — Ele emendou e soltou o cinto de segurança. — Vamos fazer as malas e você vai mudar-se para a minha casa assim que voltarmos. — Ou você poderia ir morar comigo. — Sugeri, imaginando como ele reagiria. Ele congelou. Depois de um momento, ele disse: — Se é isso que você quer. 12
Villa é um modelo de acomodação construída em uma grande área de terra e isolada do entorno. Cada villa tem uma grande escala, trazendo um design moderno e luxuoso, com espaço aberto e perto da natureza.
Soltei meu cinto de segurança e me inclinei para beijá-lo. — Você odiaria minha casa. — Eu sacudi a lapela de seu paletó. — Só há espaço para talvez três ternos no meu armário minúsculo. — Eu divido o espaço do armário. — Ele murmurou de forma provocadora e então me beijou de volta. — Pronta para conhecer minha família? — Vamos lá. Antes mesmo de eu sair do carro, uma mulher saiu correndo da casa em nossa direção. Alta e com um belo corpo, ela tinha cabelos escuros lisos e parecia que tinha acabado de terminar uma sessão de fotos do Instagram com seu macacão em tons de pistache e sandálias brancas. Suas joias de ouro brilharam ao sol quente da tarde, e seu perfume, algo floral e doce, pegou a brisa e flutuou ao nosso redor. — Daja! (Tio) — Ela gritou e abraçou Besian, que sorriu ao pegála. — Mbesa. (Sobrinha) — Ele a empurrou de volta e deu um tapinha em sua bochecha. O que quer que eles tenham dito em seguida, eu não consegui entender, mas parecia amoroso e gentil. Ele estendeu a mão para mim e mudou para minha língua. — Esta é Marley. — Finalmente! — Ela me surpreendeu ao me abraçar com força. — Ouvi boatos sobre a ruiva de Houston que roubou o coração do meu tio. — Ela me lançou um olhar avaliador. — Zec estava certo! Você é linda! — Rina! — Besian repreendeu levemente e ela deu um tapa no braço dele. — Diga que estou errada! — Você não está errada. Ela é linda, mas é modesta. — Ele
olhou para sua sobrinha com uma censura fingida. — Ao contrário de algumas pessoas. Rina revirou os olhos escuros e enfiou o braço no meu. — Vamos. Vou apresentá-la ao meu irmão e, em seguida, levá-la em um tour enquanto os homens falam sobre coisas importantes e muito chatas. Olhei de volta para Besian enquanto Rina me arrastava, mas ele apenas deu de ombros e sorriu antes de murmurar: — Boa sorte. Eu iria precisar disso.
CAPÍTULO 13 Minha cabeça girava enquanto Rina falava a mil por hora enquanto me guiava para dentro de casa. Ela pulou de me contar sobre as portas de madeira esculpidas de forma ornamental para o ladrilho e as pinturas penduradas na parede, e eu tentei acompanhá-la. — Espero que meu inglês esteja bem! Eu não consigo praticar com frequência. — É muito bom. — Eu assegurei a ela, sentindo que ela estava um pouco constrangida sobre isso. — Você aprendeu na escola? — Escola e televisão. — Disse ela, o barulho de suas sandálias ecoando nos ladrilhos. O teto catedral13 na entrada amplificou sua voz quando ela começou a listar os programas de que gostava. Quanto mais animada ela ficava, mais ela me lembrava Aston. Um homem alto de cabelos escuros que parecia ter quase minha idade, talvez alguns anos mais velho, saiu de uma sala e fez uma careta. — Rina! Você vai assustá-la se continuar falando assim! — Se ela fosse fácil de assustar, ela não se casaria com nosso tio. Certo, Marley? — Rina insistiu. — Certo. — Eu concordei, curtindo sua companhia ainda mais. O homem franziu a testa ao se juntar a nós no corredor. Seu olhar foi para atrás de nós, e eu olhei para trás para ver Besian entrando na casa com Zec ao seu lado. Eu não tinha ideia de onde Zec tinha estado escondido do lado de fora. Ele se movia silenciosamente, como 13
Teto catedral é um termo dado a um teto – a superfície interna da parte superior, ou telhado, parte de uma estrutura – que é significativamente mais alto do que a maioria dos tetos padrão e normalmente apresenta uma inclinação ou curva para atingir seu ponto mais alto.
um predador, e eu me perguntei o que, exatamente, ele fazia pela família. Besian e o homem que presumi ser Luka trocaram cumprimentos e abraços antes de ele me apresentar. — Luka, esta é Marley. Marley, este é meu sobrinho. — Olá. — Assim tão perto, eu pude ver a semelhança de família entre os dois homens. Luka era alguns centímetros mais alto, com ombros mais largos, mas eles tinham os mesmos olhos e nariz. Enquanto Besian se barbeava suavemente todas as manhãs, Luka tinha uma barba aparada curta. Ambos os homens tinham o mesmo senso de moda aguçado. Olhando para Rina, decidi que ter um bom olho para roupas era genético. — É um prazer conhecê-la, Marley. — Luka me deu um sorriso genuíno. — Eu apertaria sua mão, mas estou resfriado. — Compreensível. — Eu assegurei a ele. — Tenho certeza de que você está cansada depois da caminhada desta manhã e da viagem. Rina providenciou alguns refrescos para você, e acho que ela gostaria de levá-la para uma excursão pela casa. — Disse Luka, dispensando-me nitidamente. Um pouco desconcertada com sua rispidez, ainda assim sorri e saí com Rina. Os homens desapareceram em uma sala e fecharam a porta atrás deles. Uma vez que ficamos sozinhas, Rina fez um som irritado. — Lamento que ele tenha sido tão rude. — Ele não foi. — Ele não se sente à vontade com pessoas que não são da família. — Explicou ela. — E ele não está se sentindo bem, então isso o deixa mais mal-humorado do que o normal. — Está tudo bem. Sério. — Eu insisti. — Não estou nem um
pouco ofendida. Rina me estudou por um momento e então acenou com a cabeça. — Que bom que você não é sensível. Você é perfeita para esta família. Eu ainda estava tentando processar aquele aviso quando ela enrolou seu braço no meu novamente e me levou para a cozinha espaçosa onde uma mulher mais velha estava ocupada cortando legumes. Ela olhou para mim com cautela quando entrei em seu domínio, e eu esperava não causar uma má impressão. — Marley, esta é Drita. Ela cuida de nós. — Oi. Hum. Përshëndetje (Olá). — Tentei a saudação albanesa que Agnesa havia me ensinado e Drita estreitou os olhos. O que quer que ela tenha dito a Rina, eu não consegui entender, mas sua linguagem corporal me disse tudo que eu precisava saber. Drita olhou para mim, sua expressão azeda, e eu poderia dizer que ela não me aprovava nem um pouco enquanto dizia algo em um tom cortante. Rina a repreendeu e lançou-lhe um olhar suplicante. Ela deu um abraço lateral em Drita e um beijo dramático em sua bochecha. A mulher mais velha sorriu e acenou para ela se afastar, apontando para os vegetais à sua frente. Fiquei ali me sentindo constrangida até que Rina fez sinal para que eu me juntasse a ela à mesa do outro lado da cozinha enorme. O serviço de chá foi servido junto com vários pratos diferentes de comida. Os byreks cheios de queijo cottage e espinafre eram familiares para mim e algo que eu já havia apreciado em minha viagem. As bolinhas de massa frita polvilhada com açúcar de confeiteiro e servidas ao lado de tigelas de geleia e algum tipo de creme de chocolate pareciam deliciosas. Havia também frutas secas e frescas disponíveis e todos os tipos de outras coisas saborosas. Parecia uma quantidade absurda de comida para duas mulheres, mas meu pouco tempo no país
me ensinou que os albaneses levavam a hospitalidade a sério. Antes de me sentar com Rina, fui até a pia, cuidadosamente contornando Drita, que me observava desconfiada, e lavei minhas mãos. Quando me juntei a Rina à mesa, ela já havia servido o chá para nós e estava na metade de um dos bolinhos. — Petulla. — Disse ela, depois de limpar os lábios cobertos de açúcar de confeiteiro com um guardanapo. — Vou ter que correr por uma hora para queimar todas essas calorias, mas vale a pena. — Ela gesticulou para a pilha de byreks marrons dourados. — Você já comeu isso? Eu acenei com a cabeça e usei um garfo para puxar um para o meu prato. — Fiquei em uma fazenda por alguns dias durante uma caminhada. Agnesa me ensinou como fazer. Picles também! — Você ficou em uma fazenda? Como uma casa de hóspedes? — Não exatamente. — Tomei um gole do chá e reconheci o sabor floral da mistura servida em todo o país. — Encontrei um cachorrinho perto da trilha e levei-o para um café. O velho, dono do lugar, me disse que pertencia a Agnesa, então andei alguns quilômetros até a casa dela para devolvê-lo. — Você carregou um cachorrinho pela montanha e depois para uma fazenda? — Bem, sim. Era apenas um bebezinho que precisava de uma mãe substituta ou leite. — E você ficou na fazenda? — Estava chovendo quando cheguei lá, e Agnesa ofereceu seu quarto de hóspedes. Nós nos demos bem e nos tornamos amigas. Ela me ensinou como alimentar galinhas e cabras leiteiras. Ela me ensinou
a cozinhar e me deu suas receitas. Foi sem dúvida a melhor parte da minha viagem até agora. — Melhor do que ficar noiva? — Ela arqueou uma de suas sobrancelhas perfeitamente modeladas. — Ok, bem, foi a segunda melhor parte da minha viagem. — Eu emendei com uma risada. — Ficar noiva foi definitivamente a melhor parte. — Onde ele fez o pedido? — Castelo Rozafa. — Oooh. — Disse ela, exagerando o som. — Que romântico! — Ela olhou para minha mão esquerda e franziu a testa. — Mas sem anel? — Foi espontâneo. — Eu olhei para o meu dedo nu e encolhi os ombros. — Eu me casaria com ele com um pedaço de barbante enrolado em meu dedo. — Eu não! — Ela se endireitou e jogou seus longos cabelos sobre o ombro nu. — Eu quero o anel, flores, um maquiador, a casa cheia de nossa família, pilhas de joias e então uma festa gigantesca! Arregalei meus olhos. — Tudo isso para um pedido? — Claro! — Isso é, tipo, a norma aqui? — Oh, sim! — Rina escolheu outro doce. — Está tudo arranjado. Seu namorado chega em casa com a família para conhecer sua família. Depois que ele pede a seu pai – ou irmão, no meu caso – permissão para se casar com você, você entra na sala e oferece doces a todos os presentes. Seu namorado – bem, noivo agora – dá a você
muitas joias e presentes. — Então, é mais uma celebração familiar do que uma coisa individual? — Tradicionalmente. — Ela disse. — Nem todo mundo faz assim, mas muitos de nós ainda fazemos. — Ela tomou um gole de chá. — E então! Depois que a reunião termina em sua casa, você vai até a casa do seu noivo e faz a mesma coisa de novo! Nessa noite, você tem um grande jantar e festa, geralmente em um restaurante muito bom. Para mim, a ideia de tanta celebração e atenção era assustadora. Para Rina, porém, pareceu-me sua ideia do melhor dia de todos. — Sabe, acho que você e minha melhor amiga Aston se dariam bem como duas ervilhas felizes em uma vagem. Ela vai pirar quando eu contar a ela sobre essa tradição. — Aston é a garota que está grávida de um bebê de Ben? Sim? Eu balancei a cabeça e terminei minha mordida. — Ela está. Rina trocou um olhar com Drita antes de perguntar: — Ela é uma boa pessoa? — A melhor. — Eu assegurei a ela. — Ela é incrível. Ela é leal, gentil e generosa. Se você for amiga dela, ela irá até os confins da terra por você. — E ela ama meu primo Ben? — Muito mesmo. — Bom. — Rina mergulhou sua petulla na tigela de geleia vermelha. — Luka diz que ela é muito rica. — Ela é. — Eu disse cuidadosamente, me perguntando onde
isso estava indo. Ela fez uma careta e olhou para Drita. — Algumas pessoas acham que Ben está sendo aproveitado por alguma garota americana selvagem. Eu ri. — Não é assim entre eles. Ben a adora e ela faria qualquer coisa por ele. E ele faria qualquer coisa por ela. Essa foi a parte que guardei para mim. O que aconteceu entre Ben e o meio-irmão louco de Aston era um segredo que eu levaria para o túmulo. — Eles vão se casar? — Sim. Eventualmente. — Antes que o bebê nasça? — Ela perguntou esperançosa. — Provavelmente. — Tomei um gole do meu chá e rezei para sairmos do assunto de Ben e Aston um pouco. — Quando você vai ter um bebê com meu tio? Engasguei com meu chá. Depois de pousar a xícara e enxugar a boca com um guardanapo, eu disse: — Ainda não conversamos sobre isso. — Por que não? Sentindo o olhar furioso de Drita, admiti: — Não surgiu o assunto ainda. — Não deveria? Você vai se casar. Você não quer ser mãe? — Sim. — Respondi com sinceridade e sem hesitação. — Mas?
— Mas fiz uma cirurgia há alguns meses para reparar meu coração e meu cardiologista deixou bem claro que preciso esperar pelo menos um ano antes mesmo de pensar em gravidez. — Expliquei, sentindo-me pressionada. — Você está bem agora? Seu coração está saudável? — Ela parecia genuinamente preocupada. — Estou bem. Foi uma cirurgia muito simples. — Estou feliz que você esteja melhor agora. — Obrigada. — Não querendo mais falar sobre meu útero, perguntei: — Você está na faculdade? Ela entendeu a dica e sorriu. — Estou no segundo ano. Universiteti i Arteve. Escola de arte. — Ela esclareceu. — Você ainda está na universidade? — Estou de licença sabática até a primavera. — Você estuda mulheres? Eu sorri com a maneira como isso soou. — Fiz minha graduação em estudos femininos e de gênero. No momento, porém, estou estudando antropologia sociocultural. Ela franziu o cenho. — O que isso significa? — É basicamente usar a cultura, os costumes e tradições sociais para entender como as pessoas interagem. — E você consegue um emprego usando isso? — Ela perguntou cética. Eu ri. — Você parece minha mãe! — Oh não! — Ela riu. — Desculpe!
— Tudo bem. Estou acostumada com isso. E, sim, você pode ensinar, escrever ou se tornar uma consultora para centros de políticas públicas, empresas internacionais, design de software ou para as forças armadas. — E isso é algo que você quer fazer? — Ela torceu o nariz. — Parece chato! O que você fará se não conseguir encontrar um emprego? — Eu não tenho ideia. — Admiti. — Eu nunca pensei muito à frente. É sempre algo que digo a mim mesma: que descobrirei mais tarde. — Você vai ser uma esposa. — Drita interrompeu em um inglês perfeito. Ela nem mesmo ergueu os olhos de sua tábua de cortar e disse: — Você termina os estudos. Você mantém uma bela casa. Você cria seus filhos. Você apoia Besian. É isso que você vai fazer. Pega de surpresa pelas instruções severas de Drita, eu não tinha certeza de como reagir. Por um lado, não era da conta dela. Por outro lado, bem, ela claramente conhecia Besian há mais tempo do que eu. Pelo que eu sabia, era exatamente isso o que ele queria – uma esposa e família tradicionais. Eu não era contra isso, em muitos aspectos eu queria a mesma coisa, mas era a expectativa que me incomodava. — Drita! — Rina repreendeu. — Está tudo bem. — Eu disse, sorrindo para Rina que parecia envergonhada. — Ela só quer o melhor para Besian. Drita assentiu rigidamente. — Ele te ama porque você é linda e inteligente. Ambiciosa. — Ela adicionou com um aceno de sua faca afiada. — Mas ele precisa de uma mulher que possa cuidar dele. Ele está sozinho há muito tempo. Se você o ama, vai dar a ele o lar que ele sempre quis.
— Eu o amo. — Respondi com firmeza. Drita me estudou por um momento. — Veremos. Eu não precisava da aprovação dela, mas não tê-la me deixava desconfortável e preocupada. Tendo dito sua parte, Drita voltou sua atenção para a cozinha, e Rina e eu terminamos nossa refeição leve. Quando saímos da cozinha, Rina me surpreendeu com um abraço lateral apertado. — Drita realmente gosta de você! — Isso é gostar de mim? — Eu perguntei, surpresa. Rina riu. — Sim. — Jesus. — Murmurei. — Não quero ver como é não gostar de alguém! Eu ainda não tinha me recuperado totalmente da interação com Drita, mesmo depois que Rina terminou sua visita pela casa. Ela me levou para seu quarto por último, e meu queixo caiu quando entrei em seu espaço privado. Este não era um quarto. Era uma suíte de hotel de luxo com uma área de estar, um pequeno escritório, uma cama gigante com dossel, um banheiro que parecia saído de uma revista e um closet tão grande quanto a minha casa. A paleta de cinza, rosa e coral com detalhes em cristal e dourado dava ao espaço uma sensação de glamour e elegância. — Puta merda, Rina. — Eu disse, excitada. — Isto é incrível! Ela alisou e ajeitou uma de suas muitas bolsas de grife. — Meu irmão me estraga com muitos mimos. Acho que ele está tentando fazer com que seja impossível para qualquer outro homem corresponder às minhas expectativas. — Acrescentou ela de forma conspiratória. Com uma carranca, ela admitiu: — Está funcionando. Não consigo imaginar abrir mão de tudo isso.
— Você é jovem. — Eu a lembrei. — Você não precisa abrir mão disso por muito tempo. — Tenho quase vinte anos. — Respondeu ela um pouco na defensiva. — O que significa que você tem muito tempo para encontrar alguém por quem valha a pena abrir mão de sua vida confortável e luxuosa. — Afirmei. — Você parece meu irmão. — Ela resmungou. — Já fui chamada de coisas piores. — Reparei em sua coleção de sapatos e me aproximei para olhar mais de perto. — É uma pena que você não more em Houston. Você e Aston poderiam trocar sapatos e bolsas. — Quem me dera! — Ela fez beicinho. — Eu queria ir para a universidade nos Estados Unidos, mas Luka se recusou a permitir. — Por quê? — Ele diz que é muito perigoso. Eu até perguntei se eu poderia me inscrever em uma das faculdades em Houston, mas ele disse que não porque não há uma mulher para cuidar de mim. — Ela revirou os olhos. — Ele é tão ridículo! — De repente, ela arfou. — Espere! Depois que você se casar com Besian, você será minha tia! Você é uma acompanhante adequada! Cambaleando com a ideia de ser tia de alguém, especialmente alguém apenas cinco anos mais jovem do que eu, finalmente disse: — Podemos conversar com Besian sobre isso. Ela sorriu. — Vou começar a trabalhar no meu argumento. Oh, ótimo. Eu podia imaginar a expressão azeda de Besian quando contasse a ele sobre isso.
— Você quer ver o meu trabalho? Minha arte? — Claro. — Eu disse, genuinamente interessada. Eu a segui para fora do closet e através de seu quarto até uma porta que dava para um estúdio bem iluminado. A parede de janelas iluminava a sala com luz solar quente, criando o espaço perfeito para criar coisas bonitas. Assim que vi as peças acabadas penduradas nas paredes, percebi que Rina não era uma amadora. Ela era fenomenalmente talentosa. — Rina! São incríveis! Pela primeira vez desde que a conheci, ela parecia tímida e incerta. — Você acha? — Sim. Eu acho. — Fui até a tela mais próxima e a estudei. O estilo de Rina era vibrante, traços de cores em sua face, um estilo de arte de rua. O foco desta peça em particular era um sol, mas a imagem de duas mãos entrelaçadas pingando sangue prendeu meu olhar. Depois de um momento, finalmente entendi o que era. — Isso é sobre fazer um juramento? — Sim! — Excitada, ela se juntou a mim na parede e gesticulou para as pinturas acabadas penduradas em cada lado. — É sobre a besa14. — Ela apontou para a pintura do sol. — Me diell. Junto ao sol. — Ela passou para a próxima pintura. — Me hënë. Junto à lua. — Ela tocou a tela que representava um exuberante campo de flores silvestres. — Me fushë. Junto ao campo. — Ela foi até uma mesa de desenho e pegou os esboços lá. — Eu planejo fazer nove no total. Sol, lua, campo, pedra, montanha, céu, água, cobra e terra. Eu estudei os esboços e balancei minha cabeça com admiração. — Rina, você deveria colocar isso em uma galeria. Além da sua universidade. — Eu esclareci. — Talvez buscar algum tipo de serviço 14
Besa (promessa de honra) é um preceito cultural albanês, geralmente traduzido como " fé " ou " juramento ", que significa "manter a promessa" e "palavra de honra".
de impressão sob demanda. Oferecer impressão giclée15, copos, camisetas, o que for. — Você acha que as pessoas pagariam por isso? — Sua incerteza não era falsa. Ela honestamente temia que eles não fossem bons o suficiente! — Se eu não pudesse pagar pelos originais, com certeza compraria as cópias. Principalmente depois dessa viagem. — Acrescentei. — Estas seriam lembranças únicas. — Eu não faria você comprar uma. — Disse ela, horrorizada. — Você é da família agora. Eu daria a você como um presente. Eu balancei minha cabeça. — Eu insistiria em te pagar. Os artistas devem saber seu valor. Quando você for nos visitar em Houston, farei questão de apresentá-la a Hadley Rivera. Ela é uma artista que trabalha na cidade. Ela é muito bem-sucedida. Ah, e a Vivian K. Ela tem sua própria galeria agora. O marido dela e Besian são... — Parei, sem saber como descrever o relacionamento deles. — Colegas. — Decidi finalmente e devolvi seus esboços. — Você acha que isso pode ser bom o suficiente para me levar a uma universidade em Houston? — Sim. Sem dúvida. — Eu vasculhei minha mente em busca de conexões na Rice que pudessem ser úteis. — Quando eu chegar em casa, vou verificar em meus contatos para ver quem eu conheço que pode nos ajudar. — Nós? — Ela parecia prestes a chorar. — Você realmente vai me ajudar? 15
Giclée é o termo genérico utilizado no mundo inteiro para caracterizar reprodução impressa de uma obra de arte, como um desenho, pintura, gravura, que foi fotografado ou escaneado em alta qualidade e através de um arquivo digital é impresso em Fine Art. Algumas pessoas escrevem giclê, adaptado à língua portuguesa, para conservar a pronúncia francesa.
— Claro que vou. — Eu disse, surpresa. — Por que eu não te ajudaria? Você é talentosa. Você é ambiciosa. Você tem sonhos. Farei o que puder para tornar esses sonhos realidade. Rina me esmagou em um abraço. — Obrigada! Muito obrigada, Marley! — Sempre existe a possibilidade de que não funcione do jeito que queremos. — Eu avisei gentilmente enquanto seu cabelo tentava me sufocar. — Eu sei, mas acredito que vai dar certo. — Ela me soltou e fez uma dancinha vertiginosa. Ficando séria, ela disse: — Mas temos que manter isso em segredo até que você se case e volte para Houston. Meu irmão vai dizer que estou conspirando com você para fugir do país ou algo maluco assim. Incapaz de dizer se ela estava exagerando ou falando sério, questionei em que tipo de problema eu havia me metido com a promessa de ajudá-la. Decidindo que valia a pena, deixei de lado quaisquer dúvidas. Rina era uma mulher adulta que tinha sua própria mente e poderia fazer suas próprias escolhas para sua vida. O celular dela fez um barulho na outra sala, e ela fez uma careta antes de correr para atender. Peguei os esboços que haviam caído de suas mãos quando ela me abraçou e os coloquei de volta na mesa de desenho. Voltei para a suíte dela e sentei-me em uma poltrona de veludo rosa. Enquanto ela conversava em seu telefone, aproveitei um momento para relaxar. Algo sobre as pinturas de Rina não me abandonava. Besa me fez pensar em Besian, o que me fez pensar em compromisso que me fez pensar em juramentos que me fizeram pensar em casamento e famílias. Famílias como a dele unidas pelo sangue. Famílias como a que meu padrasto havia criado com seu clube de
motociclistas fora da lei. E então isso me atingiu. Eu sabia exatamente o que iria pesquisar para a minha dissertação. — Ei! — Rina interrompeu meu momento de descoberta. — Você quer sair comigo esta noite? Vamos jantar e depois ir a um clube ou dois ou três. — Ela sorriu abertamente. — Será divertido! — Eu não tenho nada para vestir. — Eu refleti. — Oh, tudo bem! Você pode pegar algo emprestado no meu armário! Tentei protestar, mas ela voltou para sua conversa. Como diabos eu sairia dessa? Eu não era uma garota de clube. Apreciava uma boa bebida e música, mas o tum-tum-tum de uma pista de dança me dava dor de cabeça. Mas ela estava muito animada quando encerrou a ligação e praticamente correu para o closet. Eu não podia suportar a ideia de decepcioná-la, não quando ela tinha sido tão gentil e acolhedora. — Acho que o único problema que teremos de encaixar você em um dos meus vestidos é seu. — Ela gesticulou para meu peito. — Cica. Olhei para meus seios e fiz uma careta. — Sim. Eles não são tão impressionantes quanto os seus. Ela zombou. — Eles são perfeitos! — Com malícia, ela acrescentou: — Tenho certeza de que meu tio concorda. Eu fiquei vermelha, todo o meu rosto esquentando com as memórias de Besian brincando com meus seios. Rina não se aguentou, rindo tanto que quase se dobrou. — Ele não estava brincando! Você é
modesta! — É uma maldição. — Eu murmurei, ainda corada. Rina estalou os dedos. — Eu sei qual é o vestido perfeito! Quando ela saiu de seu enorme closet segurando um pedaço de tecido dourado brilhante que parecia poder cobrir um terço da minha bunda e talvez meio mamilo, cobri meu rosto e ri. Deus me ajude.
CAPÍTULO 14 Besian tentou prestar atenção ao que Luka tinha a dizer, mas seus pensamentos estavam em Marley. Ele deveria tê-la avisado sobre Drita antes de deixá-la sair do carro. Ela era irmã de seu pai e fazia parte da família desde antes de Luka nascer. Ela suspeitava notoriamente de qualquer pessoa que não fosse de sangue. Ele interiormente se encolheu com a ideia de Drita tratando Marley como ela tratava a maioria das pessoas. Se Drita a fizesse chorar, ele teria que dizer algo e isso causaria uma série de problemas. — Besian? — Luka disse seu nome bruscamente. — Desculpe. — Ele se desculpou. — Eu perguntei o que vamos fazer com Ben. — Luka repetiu irritado. — Nada. — Ele respondeu com naturalidade. — Nada? — Luka franziu a testa. — O que há para fazer? — Besian encolheu os ombros. — Ele está apaixonado. Ele está tendo um filho com a mulher com quem planeja se casar. Está feito. — Não está feito a menos que eu diga que está. — Luka insistiu naquele seu jeito imperioso. Besian percebeu o leve sorriso de diversão no rosto de Zec, mas não chamou atenção para isso. — Luka, você pode fazer essa merda aqui, mas você vai tentar isso em Houston? Você vai tentar isso com alguém como Ben? Você vai perder mais do que um primo da hierarquia. Ele vai ir embora e vai levar a maior parte de sua equipe com
ele. Luka fez uma careta. — Ele não pode simplesmente ir embora. Ele é um de nós. Somos uma família. — Ben nunca esteve aqui para visitá-lo. — Besian o lembrou. — Ele é leal a nós, à nossa família, mas não vai tolerar que ninguém lhe diga com quem ele pode se casar. Não se esqueça de como seu pai o abandonou e nunca se casou com sua mãe. — Aquilo foi diferente. — Luka insistiu. — Ela era uma prostituta. Besian conteve a réplica desagradável que queimava na ponta de sua língua. Em horas assim, ele queria dar uma surra em Luka. Se seu sobrinho continuasse com suas besteiras de linha-dura, ele poderia ceder a esse desejo. Talvez uma boa bofetada colocasse um pouco de bomsenso nele. — Ben é meu problema. — Disse Besian finalmente. — Ele é da minha equipe. Eu cuido dele. — É melhor você cuidar. — Respondeu Luka. — Já é ruim o suficiente eu permitir que você se case com essa responsabilidade... — Como você acabou interrompeu asperamente.
de
chamar
Marley?
— Besian
Luka percebeu seu erro um momento tarde demais. Não recuando, porém, ele disse: — Ela não é ninguém. Sem dinheiro. Sem negócios. Sem conexões. A mãe dela está endividada. Ninguém sequer sabe quem é seu verdadeiro pai. Há uma boa chance de que o padrasto dela vá para a prisão ou arrume um acordo. Pelo menos Ben engravidou uma garota rica que poderia ser útil. — Você terminou? — Besian perguntou bruscamente. — Se
não, coloque para fora agora porque esta é a única vez que vou tolerar qualquer uma de suas besteiras sobre Marley. Você entendeu? Luke acenou com a cabeça rigidamente. — Sim. — Eu não sei como diabos você pensou que poderia sentar aí e me dar um sermão sobre a mulher que escolhi para ser minha esposa. Depois de tudo que sacrifiquei por essa família, por você e por Rina? Depois de todo o sangue que derramei? O dinheiro que ganhei? Tudo o que construí para nós? — Besian cuspiu com raiva. — Você pode ser o chefe, mas não se esqueça de que ainda é meu sobrinho. Luka murchou atrás de sua mesa. Ele esfregou o rosto cansado com a mão e suspirou. Depois de um momento, ele tocou seu peito. — Sinto muito. Você tem razão. Isso foi despropositado. — Com certeza, porra, foi. — Besian rosnou. Tentando descobrir por que seu sobrinho estava agindo dessa forma, ele perguntou: — Está acontecendo alguma coisa? Você está bem? Zec, que havia permanecido em silêncio até aquele momento, pigarreou. — Luka, diga a ele. Besian estreitou os olhos. — Dizer o quê? Relutantemente, Luka abriu a primeira gaveta de sua mesa e retirou um grande envelope branco. Ele o jogou na beirada da mesa e Besian se inclinou para pegá-lo. Ele não tinha certeza do que esperar quando o abriu. Ele puxou o conteúdo e parou quando viu o rosto de Rina. Rangendo os dentes, ele tirou as fotos muito mais devagar, pronto para parar ao primeiro sinal de pele nua. Felizmente, ela estava totalmente vestida e não se encontrava em qualquer tipo de situação escandalosa. Enquanto ele folheava as fotos, ficou claro que alguém estava se aproximando muito dela, seguindo-a por toda a universidade
e até mesmo tirando fotos em close dela sentada na varanda ou tomando sol ao lado da piscina nos fundos. Ele folheou as fotos de Rina e parou de repente quando era o rosto de Marley olhando para ele. O pano de fundo era familiar e ele identificou facilmente os pontos de referência em Shkodër. Seu estômago revirou quando ele descobriu uma foto de Marley no albergue em um quarto estilo dormitório. Ela estava dormindo de lado, com o pé descalço pendurado na beirada do beliche de cima. Fúria e medo guerreavam dentro dele. A pessoa que seguia Rina havia chegado perto, mas a pessoa que seguia Marley tinha estado ao alcance do braço. Seu coração martelava em seu peito enquanto considerava quão facilmente ela poderia ter sido ferida. — Quando você recebeu isso? — Esta manhã. — Disse Luka antes de tossir na dobra do cotovelo. Em seguida, ele ergueu um pen drive. — Elas foram entregues com isso. — O que há nele? — BlockVault. — Zec disse em sua voz rouca. Besian franziu a testa com a menção do recente e altamente divulgado roubo de criptografia. — O esquema da carteira criptografada fria16? Que porra isso tem a ver conosco? — Ao ver a breve careta no rosto de Luka, Besian explodiu. — Você está brincando comigo, porra? Você executou um golpe de criptomoedas? — Ele olhou para Zec, que deveria impedir Luka de tomar decisões estúpidas. — Nós conversamos sobre isso! Concordamos que era um risco muito grande! 16
Da mesma forma que guardamos dinheiro ou cartões em uma carteira física, as criptomoedas também são armazenadas em uma carteira - uma carteira digital. A descrição mais simples de uma carteira fria é uma carteira que não está conectada à Internet e, portanto, apresenta um risco muito menor de ser comprometida. Essas carteiras também podem ser chamadas de carteiras offline ou carteiras de hardware. É o mais seguro em comparação com qualquer uma das carteiras online.
Zec encolheu os ombros. — Eu não estava envolvido. Besian voltou sua ira para o sobrinho. — O que você fez? Para seu crédito, Luka não se esquivou de reconhecer seu erro. — Eu decidi que valia a pena o risco. As carteiras falsificadas pareciam exatamente iguais às reais. Mesmo peso, mesmas especificações, tudo era genuíno, exceto o que estava dentro. Vendemos toda a remessa em menos de duas semanas! — Não tenho dúvidas. — Besian rosnou. — O problema não era conseguir idiotas para comprá-las e usá-las para manter suas criptomoedas offline. O problema era tirar as criptomoedas dessas carteiras e colocá-la em nossos bolsos. — Na verdade não era. — Retrucou Luka. — Fizemos testes e, em seguida, grandes varreduras, retirando toda a criptomoedas das carteiras frias falsas e colocando-as em nossas contas. — Mas? — Besian perguntou, sabendo que um grande problema estava a caminho. — Não podíamos movimentar o dinheiro por meio de trocas sem atrair muita atenção, então mandei as criptomoedas roubadas para carteiras frias legítimas. O plano era espalhá-las entre nossas equipes, fazer com que reivindicassem, usassem e trocassem. Eventualmente, poderíamos colocar tudo de volta em um punhado de contas mestras para usar legitimamente. — Onde estão as verdadeiras carteiras frias agora? Zec riu naquele chiado aterrorizante dele. — Esta é a melhor parte. Luka olhou para o solucionador enigmático antes de encontrar o olhar de Besian e admitir: — Foram roubadas.
— Santo Cristo. — Besian praguejou e esfregou o rosto. Então, lembrando-se de algo que Luka havia dito, ele perguntou: — Quem somos nós? Luka hesitou, e o estômago de Besian se apertou de medo por seu sobrinho. Inclinando-se para frente, ele praticamente implorou: — Diga-me que você não se meteu com os sérvios. Luka se encolheu. — Eu conheço Dusan minha vida inteira. Fomos para a escola juntos. Somos amigos, e confio nele. Ele confia em mim. Foi um bom negócio! Besian soltou uma série de palavrões e saltou da cadeira. Suas mãos se apertaram ao lado do corpo enquanto ele tentava controlar sua raiva. Em vez de bater no sobrinho, ele foi em direção às portas duplas que davam para o pátio privado de Luka. Ele abriu as portas e saiu, respirando o ar puro e tentando se acalmar. Dusan Simovic não era o problema. No que dizia respeito ao mafioso, ele era manso, mas seu irmão mais velho, Darko, o líder de seu clã, era uma história completamente diferente. Ele era notoriamente mal-humorado e cruel. Ele consideraria isso uma traição e viria atrás de todos que Luka amava se não recuperasse seu dinheiro. Que porra vou fazer? Tirar Marley da Albânia o mais rápido possível. A segurança dela era a única coisa que importava agora. Rina em segundo lugar. O peso esmagador dessa bagunça que Luka havia criado fez seu peito doer, e ele estendeu a mão para esfregar o local onde havia sido baleado. Esta manhã ele estava tão feliz, tão despreocupado, e agora ele sentia como se estivesse morrendo. Antes de entrar neste escritório, tudo o que ele sempre quis – Marley como sua esposa, uma família – estava ao seu alcance. A revelação de Luka havia arrancado isso de suas
mãos. Ele soltou um suspiro ruidoso, desesperado para recuperar a compostura. Não havia sentido em deixar a raiva dominá-lo. Não havia por que castigar Luka. O que estava feito estava feito e ele tinha que descobrir como consertar. Voltando ao escritório, ele encontrou o olhar fixo de Zec. Nada nunca parecia perturbar Zec, e Besian invejou seu amigo naquele momento. Voltando sua atenção para o sobrinho, ele perguntou: — Quanto? — Vinte e nove. Besian ficou entorpecido. — É melhor que a próxima palavra que saia da sua boca seja mil. Luka estremeceu. — Milhões. — Vinte e nove milhões. — Ele repetiu, certo de que seu sobrinho idiota não os tinha fodido tanto assim. Luka acenou com a cabeça rigidamente. — Talvez um pouco mais. Talvez um pouco menos. Besian calculou apressadamente o que tinha em ativos líquidos, imóveis, seus interesses comerciais e receitas ilegais. Ele era um homem rico, mas não era tão rico assim. Ele olhou para Zec, que tinha pilhas de dinheiro secreto escondidas em todo o mundo, mas Zec ergueu as mãos e balançou a cabeça. — Se dermos dinheiro, eles nunca vão parar de pedir. — Se não dermos, eles vão matar Marley e Rina. Zec acenou com a cabeça. — Sim, eles vão.
Horrorizado com a frieza do amigo, Besian perguntou: — E você está bem com isso? — Nem um pouco. — Zec respondeu. — Mas este erro não é meu. Ele. — Zec apontou o dedo para Luka. — Tem que aprender a maneira como o mundo funciona. — À custa da vida de Rina? — Besian não conseguia acreditar que Zec sacrificaria tão facilmente uma garota que ele conhecia desde que ela nasceu. — Se Luka quer ser um homem, um homem honrado, ele sabe o que tem que fazer para salvar sua irmã. — Zec disse com naturalidade. Besian pode ter ficado furioso com o sobrinho, mas a ideia de entregá-lo para ser assassinado era nauseante. Era demais, e ele não permitiria. — Zec, marque uma reunião. — Ele ordenou. — Eu quero falar com Darko. Hoje à noite. — Ele adicionou. Sem palavras, Zec assentiu e saiu do escritório, indo para o pátio para fazer a ligação. — Sinto muito. — Luka disse baixinho de trás de sua mesa. — Eu não quero falar sobre isso. — Rosnou Besian. — O que direi é que, se alguma coisa acontecer com Marley ou Rina, vou acabar com você. Luka engoliu em seco. — Entendido. Zec voltou do pátio e fechou as portas atrás de si. — Está feito. — Quando? — Besian perguntou. — Esta noite. Aqui. Em casa.
Besian achou que era um bom sinal. Significava que Darko queria negociar de boa-fé. Ainda assim, ele não queria Marley aqui quando a reunião acontecesse. — O que vamos fazer com as meninas? — Rina está planejando sair com amigos esta noite. — Disse Luka. — Uma das garotas que vai é Stefana, irmã de Darko e Dusan. Ela e Rina são unidas. — Ele cruzou os dedos com ênfase. — Tenho certeza de que Rina tentará arrastar Marley junto com ela. Darko não fará nada enquanto sua irmã estiver com elas. Besian não gostou da ideia de Marley na cidade, dançando e bebendo com sua sobrinha selvagem. Não era porque ele era possessivo ou controlador. Ele queria que ela saísse, se divertisse e aproveitasse a vida. O que ele não gostava era da ideia de ela estar fora de seu alcance e proteção imediata. — Seguranças? — Sempre há quatro homens com Rina quando ela sai à noite. — Luka assegurou. — Vou enviar dois da minha equipe. — Zec ofereceu. Sabendo como os homens de Zec eram implacáveis, Besian aceitou. — Obrigado. Precisando de uma pausa de seu sobrinho, Besian saiu do escritório e subiu as escadas para o quarto de hóspedes que dividiria com Marley. Ele ouviu risadas femininas da suíte de Rina no final do corredor. Ele reconheceu a risadinha aguda de Marley e sentiu uma onda calmante tomar conta dele. Dentro do quarto de hóspedes, ele fechou a porta e encostou-se contra ela. Ele fechou os olhos e respirou fundo por um momento. Quando se sentiu centrado, se afastou da porta e começou a desfazer as malas trazidas pelo pessoal. Ele precisava de algo para manter as mãos ocupadas enquanto sua mente disparava.
Primeiro, ele teria que negociar tempo para lidar com essa bagunça. Em segundo lugar, ele precisava levar Marley e Rina para um lugar seguro. Terceiro, ele tinha que descobrir quem diabos roubou as carteiras criptográficas legítimas. Essa terceira etapa provavelmente seria a mais violenta e perigosa. A porta se abriu de repente e Marley entrou no quarto balançando a cabeça e sorrindo. Ela o viu pendurando as camisas no armário e sorriu. — Aí está você! — Aqui estou eu. — Disse ele, alisando a calça preta antes de colocá-la no cabide. Quando ele se virou para ela, devia estar com uma expressão preocupada no rosto porque o sorriso dela sumiu. — Besian? O que há de errado? Ele queria mentir para ela, mas ela era muito perceptiva para isso. Ele gesticulou em direção à ampla cadeira de couro no canto da sala. Depois de sentar-se, ele a puxou para seu colo, virando-a de lado para que pudesse ver seu rosto. Não querendo falar muito alto, ele manteve a voz baixa. — Algo foi roubado de Luka. Seus olhos verde-azulados se arregalaram. — Algo caro? — Muito. — Ele confirmou. — E não era só dele. Ele compartilhava com outra pessoa. Marley engoliu em seco. — E essa pessoa é alguém perigoso? — Extremamente. — Entendo. — Ela brincou com o colarinho da camisa dele. — Então, o que nós faremos? Ele não pensou que fosse possível amá-la mais, mas sua pergunta provou que ele estava errado. Em vez de tentar se distanciar do problema, ela queria ajudar. Não era problema dele. Era problema deles.
Nós. Ambos. Juntos. — Nós. — Enfatizou ele. — Estamos lidando com isso. — Uh-huh. — Disse ela, não convencida. — Preciso me preocupar com algum psicopata tentando me sequestrar de novo? Seus braços se apertaram ao redor dela. Relutantemente, ele admitiu: — Sim. Ela suspirou. — Eu me sinto como uma daquelas donzelas NPCs17 em apuros. — O quê? — Ele franziu a testa. — Isso é uma sigla? — Jogos de RPG. Você sabe. Dungeons and Dragons? Pathfinder? — Quando ele balançou a cabeça, ela revirou os olhos e bateu em seu peito. — Deixe-me ser nerd por um segundo, ok? — Ok. — Disse ele, um pouco divertido com este lado dela. — Talvez eu deva pegar uma arma. — Ela sugeriu, acabando com a graça e deixando-o chocado. — Pode ser. — Ele não gostava da ideia dela carregando uma arma, mas ela tinha razão em ser capaz de se proteger. — Devo ficar em casa esta noite? — Ela traçou levemente o contorno da orelha dele. — Rina quer que eu vá dançar com ela e seus amigos. — Você deveria ir. Temos seguranças para acompanhá-las. Ela fez uma careta. — Rina vai odiar isso. — Ela vai odiar mais ficar em casa como uma prisioneira. — Ele 17
Um personagem não jogável (em inglês: non-player character ou NPC) é um personagem de jogo eletrônico que não pode ser controlado por um jogador.
raciocinou. — Presumo que vocês duas são amigas agora? Marley sorriu. — Ela é hilária e doce. As pinturas dela são muito boas, B. Ele gemeu. — Deus, ela pegou você, não foi? Marley franziu os lábios. — Se você está falando sobre o desejo dela de ir estudar nos Estados Unidos, sim. Acho que ela deveria ter a chance. — Luka nunca permitirá isso. — Ela é adulta. Pode tomar suas próprias decisões. — Claro que ela pode. — Ele concordou. — Mas ele vai parar de bancá-la financeiramente. — Isso é absolutamente uma grande merda. — Marley retrucou. — Eles são irmãos. Qualquer propriedade que eles herdaram deveria ter sido dividida igualmente. — Em um mundo perfeito. — Ele respondeu, apreciando o espírito ardente dela. — Tudo bem. — Ela disse. — Vou ajudá-la então. — Você? — Ele riu. Marley olhou feio para ele. — Bem, se vocês homens vão ser teimosos, idiotas misóginos, vou fazer empréstimos ou arranjar outro emprego para ajudá-la. — Ei. — Besian tocou sua bochecha e a forçou a fazer contato visual. — Tenha cuidado ao usar esse tipo de palavra. — Eu não as diria por aí se não fossem necessárias.
— É diferente aqui. — Oh, por favor. — Ela se afastou do colo dele. — Não estou interessada em ouvir qualquer desculpa que você está prestes a apresentar. — Eu não me importo se você está interessada ou não. É a realidade. — Talvez seja a sua realidade. Não é a dela. — Marley pegou sua bolsa da cama onde tinha sido deixada pelo pessoal. Ela vasculhou e pegou seus óculos de sol. — Eu entendo e aceito que tradições e costumes são importantes, mas essas tradições não têm prioridade sobre a felicidade de uma jovem como Rina. Se você não consegue ver isso, vamos ter problemas. — Onde você está indo? — Ele exigiu, mais alto e mais rudemente do que pretendia. — Para um passeio. — Disse ela com arrogância. — Se estiver tudo bem para você, diretor. Ele ignorou a farpa. — Fique perto da casa. — Não se preocupe. — Disse ela, abrindo a porta com força. — Eu sei como minha guia é curta. Ele esperava que a porta batesse, mas ela a fechou com cuidado, como se quisesse manter a discordância deles em segredo. Ele ameaçou ir atrás dela, para fazê-la voltar e conversar, mas decidiu que era melhor deixá-la aliviar sua raiva. Era hora de ela aprender que algumas coisas estavam além de seu controle e que a vida não era justa. Irritado, ele se levantou e terminou de guardar suas roupas. Ele começou a abrir o zíper da mala dela e arrumar suas coisas, mas decidiu não fazer isso. Irritada como estava, ela provavelmente ficaria brava
com ele por invadir sua privacidade. Ele vagou até a varanda privativa anexa ao quarto e examinou a propriedade procurando por ela. Ele finalmente avistou Marley caminhando ao longo dos canteiros de flores perto da cerca dos fundos. Ela estava com seu telefone na mão, mas olhava carrancuda para ele. Ele achou que ela não conseguia sinal. E então ele a viu estender a mão e limpar o rosto. Não uma, mas três vezes. Um aperto doloroso atingiu seu coração. Ela estava chorando. Por minha causa. Incapaz de deixá-la sozinha e chorando, ele saiu do quarto de hóspedes e da casa. Quando ele a encontrou, ela havia se afastado ainda mais da casa, até um banco de pedra à sombra das oliveiras próximas. Ela olhou para cima quando ele se aproximou e rapidamente enxugou o rosto com os dedos. O aperto em torno de seu coração se intensificou ainda mais. Sem uma palavra, ele sentou-se ao lado dela. Ela apertou as mãos entre os joelhos, deixando claro que não queria que ele a tocasse. Isso doeu mais do que vê-la chorar. Odiando que ele a tivesse chateado dessa maneira, ele suspirou pesadamente. — Sinto muito. — Você sente? — Sim. Eu nunca quero te chatear assim. — Então, por que você fez isso? — Eu não fiz de propósito. Estava tentando fazer você entender. — Eu entendo, Besian. Eu entendo perfeitamente a maneira
como você vê as coisas. — Acho que você não entende. E. — Ele acrescentou. — Se você entende, por que insiste em tentar mudar o que penso? Ela se mexeu no banco e tirou os óculos escuros. Olhando para ele, ela perguntou: — Por que você insiste em mudar a maneira como eu penso? Percebendo que ela o tinha encurralado, ele rosnou de frustração. — Não posso evitar ser do jeito que sou, Marley. — E eu não posso evitar ser do jeito que sou. Eles ficaram sentados em um silêncio tenso por alguns momentos, o som dos pássaros e o vento soando no ar. Por fim, Marley disse: — Amo você e amo algumas de suas partes mais tradicionais. Gosto que você queira ser um protetor e um provedor. Durante toda a minha vida, só queria me sentir segura e estável. Eu sei que é isso que você quer me dar. Eu sei que essa é a vida que você quer construir comigo. Ela fez uma pausa e exalou asperamente. — Mas eu não gosto que você tenha conjuntos de regras diferentes para algumas mulheres. Você criou um império de negócios que incentiva as mulheres a exercerem o controle sobre seus corpos, sua sexualidade, para que possam ganhar muito dinheiro. Você incentiva essas mulheres a desfrutarem de sua liberdade e dá a elas uma plataforma para fazer isso. Ele não podia argumentar contra isso. — Mas você não estende essa mesma cortesia para mim ou para Rina. Pense em como você agiu ontem quando soube que eu estava caminhado sozinha, fiquei em uma fazenda, fiquei bêbada com Andres. Pense em como você está pronto para negar a Rina a chance de buscar todo o seu potencial porque Luka quer controlá-la. — Ela ergueu a mão.
— Eu sei o que você vai dizer. Você vai dizer que é porque quer nos proteger. Bem, quer saber, Besian? Se você realmente quisesse nos proteger, você sairia dos negócios da família. Você deixaria a merda da máfia para trás e se tornaria totalmente legal. O estômago dele revirou. — É isso que você quer? — Sim. — Ela admitiu. — Mas sei que não é uma possibilidade. Eu não sou ingênua. Eu sei o que significa amar você. Eu sei o que significa me amarrar a você e à sua família. Este mundo não é novo para mim. — Ela agarrou a mão dele. — O que eu quero é que você me dê o respeito que dá aos outros. Quero que você dê a Rina o respeito que dá aos outros. Queremos apenas controlar nossas próprias vidas. Ele considerou seu apelo apaixonado. Tudo o que ela disse fazia sentido. Decidindo ser anormalmente vulnerável, ele confessou: — Não sei se posso ser o homem que você precisa que eu seja, Marley. Vou tentar. Eu vou. Vou tentar ser mais.... — Procurou a palavra certa. — Equitativo. Ele pegou a outra mão dela e as ergueu, beijando ambas com reverência. — É difícil mudar. Está arraigado em mim que um homem mantém sua esposa e filhas protegidas, que ele as mantém por perto e as protege do mundo. — Eu sei. — Disse ela, movendo a mão para a bochecha dele. — Eu amo isso em você. A maneira como você ama sua família, sua lealdade para com sua família, a maneira como deseja me manter segura. Eu não quero que isso mude. Essa é uma das melhores partes de você. — Ela se inclinou e o beijou ternamente. — Só, você sabe, recue um pouco. Confie em mim para fazer escolhas seguras por mim mesma. Confie em Rina para fazer escolhas seguras por si mesma. — Vou tentar. — Ele encostou a testa na dela. — Você vai ter que me manter no caminho certo.
— Eu vou. — Ela prometeu com uma risada suave. — Acho que está muito claro que não tenho nenhum problema em repreendê-lo quando você merece. — Muito claro. — Ele respondeu antes de pressionar seus lábios nos dela. Afastando-se, ele usou os polegares para limpar os rastros de lágrimas que secavam em seu rosto. — Desculpe ter feito você chorar. — Não foi só você. — Disse ela, como se tentasse diminuir a culpa dele. — Eu já estava chateada, e então não consegui fazer uma ligação para minha mãe ou Aston. Fiquei aborrecida. — Você pode usar o telefone fixo. — Ele acomodou fios de seu cabelo escapando de sua trança solta atrás de sua orelha. — Tenho certeza que Aston está preocupada com você. Marley mordeu o lábio inferior. — Aston vai ficar muito chateada quando descobrir que vamos nos casar. — Por quê? — Porque sempre planejamos ser as damas de honra uma da outra. — Explicou ela. — Sinto muito, Marley. Não tenho o direito de pedir que desista desse sonho. Ela encolheu os ombros. — Tudo bem. — Realmente não está. — Ele odiava que a situação em Houston significasse que ela não poderia ter o que queria. — Eu poderia ver se Jet ou Devil assumiriam para que Ben pudesse vir com Aston. Duvido que ela queira voar sozinha durante a gravidez. Marley balançou a cabeça. — Ben precisa da experiência de estar no comando, especialmente se você quiser me levar para uma viagem de outono pelo nordeste.
— E por que faríamos um tour pelo nordeste? — Ele perguntou, certo de que ela teria algum motivo muito divertido. — Para ver as folhas mudarem de cor, obviamente. — Obviamente. — E talvez fazer um pequeno desvio para Salem e depois outro pequeno desvio para Sleepy Hollow. — Acrescentou ela, mostrando o indicador e o polegar a apenas alguns milímetros de distância. — Suponho que seja sua maneira de me dizer para cancelar minha programação para outubro do próximo ano. — Está funcionando? — Pode ser. — Ele a beijou duas vezes. — Provavelmente. — Ele acariciou seu rosto e a beijou com amor. — Estamos bem? — Sim. — Ela deslizou a mão ao longo do ombro até a nuca dele. Com um sorriso brincalhão, ela disse: — Acho que essa foi nossa primeira grande briga. — Sim, e não gostei. — Eu também não, mas conversamos como adultos, então isso é encorajador. Você não me xingou e eu não joguei um abajur ou bati em você com um taco de beisebol. Ele poderia dizer que ela estava tentando fazer uma piada, mas sentiu a dor por trás de suas palavras. — Spider e sua mãe? Ela acenou com a cabeça tristemente. — Se você soubesse quantos buracos consertei naquela casa móvel onde cresci... — Eu nunca teria pensado que Spider era o tipo que bate em uma mulher. — Ele comentou, tentando imaginar o motoqueiro
batendo na mãe de Marley com um bastão. — Ele não era. — Corrigiu Marley. — Minha mãe era a violenta. Ela batia em Spider em qualquer chance que tivesse – e ele aceitava. Ele podia chamá-la de coisas feias, mas nunca revidou. Surpreso, ele disse: — Sua mãe era a agressora? — Isso acontece mais do que você pensa. — Disse Marley com naturalidade. — Não com tanta frequência quanto o abuso entre homens e mulheres, obviamente, mas acontece. — Ela alguma vez bateu em você? — Não. Apenas em Spider. — Marley, podemos discutir, mas juro que nunca serei violento com você. Nunca. — Ele enfatizou. — Eu não vou jogar coisas. Eu não vou bater em você ou abusar de você. — Bom. — Ela disse, acariciando a nuca dele. — Porque se você fizer isso, estou fora. Não vou viver assim. — Ninguém deveria. — Seu coração doeu com a imagem de uma pequena Marley encolhida em seu quarto, apavorada com os sons raivosos de seus pais brigando. — Sinto muito por você ter que lidar com isso. Ela encolheu os ombros. — Felizmente, Rice tem um programa de aconselhamento estudantil muito bom. Você não pode acreditar no alívio que senti ao falar sobre isso com outra pessoa. — Você sempre pode falar comigo. Posso não ter as respostas de que você precisa, mas vou ouvir. — O mesmo vale para você, B. Mesmo que eu não possa ajudálo, mesmo que seja algo perigoso, sombrio e ilegal, você pode me dizer.
Eu vou escutar. Vou manter suas confidências. Seus segredos. — Ela sussurrou e o beijou, como se estivesse selando uma promessa. — Mas sem segredos um do outro. — Ele a lembrou. — Nunca. — Ela prometeu e se derreteu em seu abraço. Enquanto ele a abraçava, sentiu seus fardos aliviarem. Eles estavam cercados por perigo e incerteza, mas juntos eram mais fortes. Não importava o que os próximos dias e semanas trouxessem, ele os enfrentaria sem medo. O amor de Marley o encorajava, e não havia nada que ele não pudesse conquistar com ela ao seu lado.
CAPÍTULO 15 Mãe? Você está bem? Por favor! Envie uma mensagem para mim! Ou ligue! Estou preocupada com você!
Ainda sorrindo depois da minha conversa com Aston, eu deslizei um par de brincos emprestados nas minhas orelhas e verifiquei meu reflexo no espelho sobre a penteadeira dupla. A coleção de joias de Rina rivalizava com seu estoque de roupas em qualidade e bom gosto. Eu nem mesmo tentei recusar o punhado de peças de ouro que ela havia me empurrado antes. Eu tinha aprendido rapidamente que era mais fácil seguir o que ela queria – o que eu tinha muita prática considerando minha amizade de longa data com Aston. Dizer que Aston tinha ficado animada ao ouvir minhas notícias era um eufemismo. Meu tímpano ainda doía depois de seu grito agudo. O pobre Ben veio correndo de outro cômodo, com medo de que ela estivesse sendo atacada. Mesmo que ela não pudesse estar aqui para a cerimônia, tínhamos decidido que eu iria transmiti-la pelo meu telefone para que ela pudesse fazer parte de longe. Um assobio baixo e apreciativo chamou minha atenção. Besian apareceu na porta do banheiro e se encostou no batente. Seu olhar faminto percorreu meu corpo, observando o decote profundo do
vestido preto e o comprimento escandalosamente curto que revelava a mordida de ganso na minha perna, agora bem escondida sob a maquiagem habilmente aplicada por Rina. Os saltos de tiras que Rina me deu eram meio altos demais, mas eu esperava que eles não causassem muito desconforto até o final da noite. — Eu mudei de ideia. — Disse Besian, afastando-se da moldura e caminhando em minha direção. — Você vai ficar aqui comigo. — Pare. — Eu ri quando ele me apoiou contra a penteadeira de mármore. Ele me prendeu ali, com uma mão em cada lado do meu quadril e se inclinou para me beijar. — Cuidado. — Eu avisei. — Meu batom. — Tudo bem. — Ele murmurou e pulou minha boca. Ele deu beijos brincalhões ao longo da minha bochecha e no meu pescoço. Ele enrolou seus longos dedos nas ondas soltas do meu cabelo e inclinou minha cabeça para o lado, expondo meu pescoço para seu ataque sensual. Eu ofeguei quando ele raspou os dentes na minha pele e depois chupou com força. Minhas mãos voaram para seus ombros, e eu me agarrei às sensações perversas que ele evocava. — Besian! Ele soltou meu pescoço, apenas por um instante, e lambeu o local que havia marcado levemente. Antes que eu pudesse recuperar o fôlego, ele se agarrou a outro ponto, um pouco mais abaixo, e me marcou novamente. Arranhei minhas unhas ao longo de seu couro cabeludo, não com força suficiente para machucar, mas o suficiente para chamar sua atenção. — É esta a sua maneira de mostrar sua reivindicação? Ele grunhiu contra minha pele e lambeu as marcas vermelhas. — Talvez. — Existem maneiras menos animalescas. — Mesmo enquanto eu fracamente protestava contra seu comportamento possessivo, apertei
minhas coxas, tentando conter a desejo latejante que crescia ali. — Como um anel de diamante? Eu ri com a lembrança de nossa discussão no carro. — Sim, como um anel de diamante. — Um anel é bom. — Ele murmurou contra meu pescoço. — Mas não tão divertido quanto isso. Ele não estava errado. Eu arfei quando suas mãos se moveram sob a saia curta e justa e empurraram o tecido em volta da minha cintura. A única coisa que eu estava usando que me pertencia era a calcinha preta sem costura que ele agora parecia ter a intenção de tirar de mim o mais rápido possível. Ele caiu de joelhos na minha frente, puxando minha calcinha até os joelhos e segurou minha bunda com as duas mãos. Ele pressionou beijos provocadores na minha boceta e, em seguida, deslizou sua língua entre meus lábios. Estremeci com o choque de sua língua girando em torno do meu clitóris e agarrei a beira da penteadeira. — Besian! Ele gemeu contra minha boceta e lambeu um pouco mais rápido. Quando ele chupou meu clitóris, quase morri, balançando meus quadris contra seu rosto e rezando para que minhas pernas não cedessem. Ele agitou sua língua sobre meu clitóris pulsante e, em seguida, chupou novamente, fazendo minhas pernas tremerem e meu coração disparar. Sem aviso, ele parou. Eu gemi e tentei trazer sua boca de volta ao meu corpo, segurando sua nuca e puxando-o para frente. Ele riu daquele seu jeito sombrio e provocador. — Não. — Sim! — Eu ofeguei, desesperada para que ele continuasse. — Por favor. Balançando a cabeça, Besian deu um único beijo barulhento na
minha boceta antes de puxar minha calcinha de volta para o lugar. Olhando para mim, ele disse: — Se você for boazinha e ficar longe de problemas esta noite, vou deixar você sentar no meu rosto quando você voltar. Meu queixo caiu com sua oferta indecente. Engoli em seco enquanto o calor queimava em meu núcleo ao me imaginar fazendo exatamente isso. — Vou acordar a casa inteira. — Avisei, pensando em quanto barulho eu fazia quando ele fazia coisas perversas comigo. — Espero que sim. — Disse ele com um sorriso. — Você é terrível. — E você me ama por isso. — Sim. — Eu admiti, ainda tremendo por dentro. Meu corpo estava corado de excitação, e eu sabia que Rina olharia para o meu rosto e perceberia que algo malicioso tinha acontecido entre seu tio e eu. Besian enfiou a mão no bolso e retirou um pacote grosso de leks cuidadosamente dobrado. Ele sustentou meu olhar questionador enquanto arrastava a ponta das notas pelo meu pescoço e entre os meus seios. Ele então enfiou o dinheiro no cós da minha calcinha, imitando a forma como os homens pagavam suas dançarinas. Eu deveria ter ficado indignada, mas – Deus me ajude – fiquei ainda mais excitada. — Para esta noite. — Ele explicou e puxou meu vestido para baixo para cobrir minha calcinha. — Já coloquei um cartão de crédito na bolsinha dourada em cima da cama. — Besian, eu tenho meu próprio dinheiro. — E agora você tem meu dinheiro e cartão, só por precaução. — Disse ele, ignorando meu protesto. — Seu cartão não funcionou ontem, e eu não quero você na cidade sem dinheiro se você se separar
de Rina. Eu passei minha mão sobre seu peito duro. — Obrigada. — De nada, rrushe. — O que isso significa? Seus lábios se contraíram. — Uvas. Eu pisquei. — Uvas? Uma batida na porta nos interrompeu antes que eu pudesse perguntar a ele por que diabos ele estava me chamando assim. Ele deu um passo para trás e eu tirei o dinheiro da minha calcinha. Com o dinheiro em mãos, alisei meu vestido e saí do banheiro. Peguei a clutch 18 que Rina me emprestou no caminho para a porta e coloquei o dinheiro dentro. — Você está pronta? — Rina perguntou, vestida para arrasar enquanto estava no corredor. O vestido preto que ela escolhera tinha apenas um ombro e um recorte acima do quadril direito. Ela havia aplicado uma loção brilhante que destacava sua pele bronzeada e prendeu seu cabelo escuro em um rabo de cavalo alto e elegante. — Você está incrível. — Eu disse, surpresa com o quão glamorosa ela era. — Obrigada. — Ela se gabou. Gesticulando para mim, ela disse: — Eu disse que este era o vestido sexy perfeito para você! — Seu olhar de águia foi para o meu pescoço e seus olhos se arregalaram. — Parece que meu tio aprova! Corei intensamente e Besian a chamou de dentro do quarto. Parecia que ele a estava repreendendo, mas ela não se importou. Rina 18
Clutch é uma bolsa de festa que normalmente não tem alças e é usada para carregar pequenos objetos.
riu e agarrou minha mão. — Vamos lá. Eu me virei e acenei para Besian. — Vejo você mais tarde. — Lembre-se do que eu disse! Meu rosto ficou vermelho e quente. — Eu vou. Rina olhou para mim com desconfiança. — O que ele disse? — Deixa pra lá. — Eu disse, acenando com a mão. — Não é importante. Ela claramente não acreditou em mim e continuou me lançando olhares curiosos enquanto descíamos cuidadosamente as escadas. Estávamos na porta de entrada quando Luka saiu de seu escritório. Ele viu o que sua irmã estava vestindo e gritou: — Vá se trocar! Agora! — Não. — Rina mostrou a língua para ele. — Rina! — Luka. — Ela gritou de volta. Eu fiquei fora disso, contornando o sobrinho furioso de Besian quando passamos por ele. Ele soltou uma bronca em albanês dirigida à irmã, mas Rina não ligou para ele. Quando saímos para a noite, um dos seguranças gesticulou em direção à Mercedes parada. Rina praticamente correu para ela, deslizando para dentro e fechando a porta rapidamente. Não querendo dar a Luka uma chance de pegá-la, eu fiz o mesmo, correndo para o meu lado e sentando no banco de trás ao lado dela. — Ugh! — Ela fez um som irritado. — Ele é tão ridículo! — Ele é apenas protetor. — Eu disse, afivelando meu cinto. — Superprotetor. — Ela resmungou e colocou o cinto no lugar. — Como um psicopata!
Rina se dirigiu ao motorista e ao segurança nos bancos da frente do carro, e saímos da mansão. Ela pegou o telefone antes de chegarmos ao final da estrada circular e estava em uma conversa em um bate-papo em grupo. Meu telefone vibrou na clutch e eu a abri para pegá-lo. — Nosso bate-papo em grupo. — Ela explicou quando olhei para a tela do meu telefone. — No caso de nos separamos. Além disso, pedi às meninas que falassem em inglês esta noite para que você não se sinta excluída. — Obrigada. — Enviei um emoji acenando para o grupo e coloquei meu telefone de volta na clutch. — Acho que você vai gostar de Stefana. — Ela disse, ainda digitando em seu telefone. — Ela foi para a universidade em Londres. Ela trabalha no Raiffeissen agora. — Isso é um banco, certo? — Pensei ter visto placas dele em minha viagem. Rina acenou com a cabeça. — É o maior banco daqui. Sua menção ao banco me lembrou de que eu precisava verificar meu saldo e ver se meu cartão estava bloqueado. Acontecera uma vez em minhas viagens e eu tinha conseguido aprovar a transação negada e reativar meu cartão no aplicativo. Quanto ao meu saldo, eu era muito cuidadosa com meu dinheiro, então sabia que devia ter alguns trocados. Enquanto Rina trocava mensagens com suas amigas, abri o aplicativo do banco no meu telefone e digitei meus dados de login. Estranhamente, o aplicativo mostrou uma mensagem de erro dizendome para ligar diretamente para o banco para discutir minha conta. O que quer que estivesse errado teria que esperar até amanhã. Quando chegamos ao clube onde Rina havia combinado de se encontrar com suas amigas, saí com cuidado, certificando-me de manter
os joelhos juntos, e enviei um sorriso agradecido ao segurança que havia dado uma mãozinha. Assim que cheguei à calçada, fui cercada pelas amigas de Rina, todos elas incrivelmente bonitas e claramente muito ricas. Elas exibiam diamantes e ouro e usavam bolsas de grife. Todos elas eram de vários tons de loiro, mas a mais alta e mais esbelta delas tinha cabelo platinado brilhante. — Eu sou Stefana. — Ela disse, dando um passo à frente para se apresentar. — Marley. — Eu disse, apertando a mão dela. As várias pulseiras de ouro em seu pulso tilintaram quando ela se moveu, e me lembrou de Aston durante sua fase boho Coachella19. — Então, eu ouvi dizer que você vai se casar. — Stefana disse, pegando meu braço enquanto o resto do nosso grupo avançava em direção à entrada do clube. Ela falava com sotaque britânico e suspeitei que tivesse sido muito bem educada. — Mas não é um casamento grande? — Não, é mais uma fuga. — Sorri para o segurança que acenou para que passássemos e nos deixou contornar a longa fila formada ao redor do prédio. — Tão romântico! — Stefana sorriu. — Se algum dia eu me casar, vou fazer a mesma coisa. Vou sair correndo e fazer isso de forma rápida e privada antes que meus irmãos possam se envolver. — Deixe-me adivinhar. — Eu disse, levantando minha voz acima da música estrondosa. — Eles são super protetores como Luka? Ela riu. — Eu gostaria que eles fossem apenas tão super 19
O estilo boho, que tem seu nome derivado da palavra “bohemian”, boêmio em português, propaga o conceito de mentes livres e um estilo de vida nômade. Esta concepção se traduz em roupas e acessórios cheios de influências hippies, ciganas, vintages e também roqueiras. Os festivais de música, especialmente o que acontece em Coachella, na Califórnia, são uma espécie de vitrines do estilo.
protetores quanto ele! — Ela puxou meu braço. — Por aqui! Bebidas! E, puta merda, essas garotas conseguiam beber! Eu pensei que Aston sabia festejar. Ela me arrastou por Houston por muitas noites, onde ficávamos em clubes e bares até fecharem quando ainda éramos estudantes. Rina e suas amigas? Elas estavam em um nível que deixaria os garotos da fraternidade com inveja. Nem tentei acompanhá-las. Eu me permiti um coquetel, e mesmo ele era tão forte que senti o calor e a tontura poucos minutos após o primeiro gole. Elas eram um bando selvagem, mas simpáticas e acolhedoras. Eu não dançava assim há anos, e era bom me soltar e aproveitar a noite. Um clube se transformou em dois com uma parada para comida de rua no meio. O segundo clube era menor que o primeiro, com música melhor e um público mais interessante. Stefana parecia ter me escolhido como acompanhante para a noite, e acabei conversando com turistas europeus e americanos. Recusei suas ofertas de bebidas, certa de que precisaria ser carregada para casa se aceitasse. Em vez disso, optei por água com gás ou refrigerante. Achei que terminaríamos a noite após o segundo clube, mas Rina e suas amigas tinham outras ideias. Stefana me lançou um olhar simpático enquanto esperávamos do lado de fora de um terceiro clube, este muito maior do que os outros dois. — Não está acostumada a essas noites longas? — Na verdade não. — Eu admiti, olhando para os meus pobres pés. — Ou saltos! — As coisas que fazemos para ficarmos bonitas. — Disse ela com um suspiro. — Meu irmão não entende por que gasto tanto dinheiro em massagens e pedicure todas as semanas. Eu disse a ele para
usar meus saltos por uma semana e depois me perguntar se é um dinheiro bem gasto. Eu sorri para isso. — Seus irmãos moram aqui em Tirana? — Um deles mora. — Ela disse quando recebemos permissão para entrar no clube. — Dusan, o melhor amigo de Luka, está aqui. Meu irmão mais velho ainda mora em casa. — Onde fica? — Em Belgrado. — Stefana pegou minha mão para que não fôssemos separadas no mar de gente amontoada na frente do clube. Este parecia ser o point da cidade. Quase não havia um centímetro de espaço livre em qualquer lugar da pista de dança, e eu estava grata por Stefana ser mais alta e conseguir ver para onde estava indo. Um idiota bêbado malicioso entrou na frente de Stefana e a agarrou pela cintura. Ele tentou arrastá-la para dançar, e ela se afastou dele com um comentário cortante que o fez fulminá-la com o olhar. Ele a agarrou novamente, desta vez esfregando sua virilha contra a perna dela, e ela deu um tapa no rosto dele. Enquanto ela o xingava em uma mistura de albanês e sérvio, um de nossos seguranças interveio e empurrou o idiota nojento para longe dela e de volta para seus amigos. Stefana agarrou minha mão e me puxou para longe da confusão. Eu olhei de volta para o pervertido que a agarrou e estremeci com a fúria refletida em seus olhos. Ele parecia o tipo de idiota que não se esquecia disso, e fiquei preocupada que nos encontrássemos novamente com ele, especialmente quando parecia que ele tinha algum tipo de conexão com o clube. — Você está bem? — Perguntei, apertando a mão dela. — Ele te machucou? — Não, mas preciso de um banho depois de ser tocada por
aquele idiota de merda imundo. — Ela olhou de volta para a pista de dança. — Eu odeio homens assim! Homens que pensam que podem simplesmente nos agarrar e nos usar, e que acham que devemos ficar emocionadas por eles terem nos escolhido. — Ela estremeceu. — Eles são assim em Houston? — Há homens como esses em todos os lugares. — Disse eu, pensando em quantas vezes havia encontrado esse tipo de comportamento. — Mas há muitos homens realmente bons também. Mais dos bons do que dos ruins, pela minha experiência, pelo menos. — Qualifiquei. — Eu gostaria de ter tido sua experiência. — Ela resmungou quando alcançamos Rina e o resto do grupo. Eles estavam tão à nossa frente que perderam o espetáculo horrível no meio da pista de dança. Rina claramente tinha conexões ali, porque no momento em que se aproximou de uma escada guardada por dois seguranças, eles se afastaram para que pudéssemos passar. Subir as escadas de metal de salto não foi fácil, mas consegui chegar ao topo sem escorregar. A área VIP no segundo andar tinha áreas de estar agradáveis, serviço de bar e uma área menor e mais privada para dançar. Um belo loiro avistou Rina e se levantou rapidamente. Ela sorriu e pegou a mão que ele estendeu, deixando-o puxá-la para perto. Ele sentou-se novamente em seu sofá de veludo e puxou-a com ele, aconchegando-a e deslizando o braço em volta dos ombros dela. Quando eles se beijaram, eu desviei o olhar, não querendo me intrometer em seu momento íntimo. — Niklas. — Stefana me disse enquanto me guiava em direção a um par de cadeiras estofadas. — Ele é um empresário alemão que abriu um negócio em Tirana. Passeios a pé. — Ela disse enquanto gesticulava para uma garçonete.
Sem saber se queria saber a resposta, perguntei: — O Luka sabe? Stefana riu. — O que você acha? Enquanto ela pedia champanhe e cerveja preta para o nosso grupo, olhei para Rina. Ela sorriu enquanto descansava a cabeça no ombro de Niklas, e ele amorosamente beijou o topo de sua cabeça. Minha promessa de não guardar segredos de Besian pareceu repentinamente mais complicada. Se eu não contasse a ele sobre o namorado de Rina e ele descobrisse mais tarde, ele acharia que eu tinha quebrado minha promessa. No entanto, o segredo não era meu. Era de Rina. — Não se preocupe com isso, Marley. Esse relacionamento vai fracassar. — Stefana interrompeu meus pensamentos. — Ele está acostumado com garotas mais liberais. Você entende? — Ela me lançou um olhar e eu assenti. — Rina não é assim. Ela vai esperar até se casar. É uma questão de honra para ela. — E você acha que Niklas não vai esperar? — Eu acho que Niklas não é corajoso o suficiente para pedir a Luka permissão para se casar com ela. — Stefana respondeu, se inclinando para pegar uma taça de champanhe da bandeja que a garçonete carregava. — Ele teria que explicar a Luka há quanto tempo estava namorando Rina escondido. Eu fiz uma careta. — Isso não vai acabar bem. Stefana tomou um gole em seu champanhe. — Não, não vai. — E os seguranças? — Eu olhei ao redor, notando que eles não tinham vindo conosco. — Eles não vão contar sobre ela? — Enquanto ela não tentar fugir com ele, os seguranças não dirão uma palavra ao Luka. Isso é problema do qual eles não precisam.
— Raciocinou Stefana. Comecei a perguntar a ela como Niklas e Rina se conheceram quando notei um rosto inesperado e familiar no bar VIP. Ao mesmo tempo em que o vi, Andres me notou. Ele sorriu e deu um tapinha nas costas de seu amigo antes de caminhar em minha direção. Levantei-me para cumprimentá-lo, certificando-me de virar meu rosto para que ele não pudesse beijar meus lábios. Mesmo que fosse um beijo casto e amigável, eu não queria dar um sinal confuso. — Achei que você estava saindo da Albânia! — Eu disse, sorrindo para ele. — Tivemos uma mudança de planos. — Ele olhou ao redor, provavelmente esperando ver Besian. — Onde está seu amigo? — Noivo. — Eu corrigi gentilmente. — Nós vamos nos casar. — Oh. — Não havia como confundir o choque e a decepção em seu rosto. — Parabéns. — Obrigada. — Odiando o quanto era embaraçoso, pedi desculpas. — Sinto muito se eu induzi você ou dei o sinal errado. Eu pensei que era solteira, mas. — Mas você ainda estava apaixonada por ele. — Andres concluiu por mim. — Sim. — Está tudo bem. De verdade. — Ele insistiu. — Eu entendo. O amor é complicado. — Sim, ele é. — Olhei para trás quando Stefana tocou meu braço. — Oh! Desculpe! Stefana, este é Andres. Nós nos conhecemos caminhando perto de Valbona. Andres, esta é Stefana. Ela é uma amiga.
Os olhos de Stefana brilharam de interesse quando ela se levantou para apertar a mão dele. — Por que você não vem sentar aqui para que possamos nos conhecer melhor? Pego de surpresa, Andres riu. — Está bem. Divertida com a atitude de Stefana de assumir o controle, escolhi um assento do outro lado de Stefana para que Andres pudesse ficar com o meu. O par rapidamente se uniu em uma conversa sobre suas carreiras semelhantes, e minha culpa sobre a maneira como as coisas tinham acontecido entre mim e Andres desapareceu. A faísca entre Andres e Stefana brilhou intensamente, e não tive problema nenhum em ver os dois juntos. — Olhe para suas habilidades de casamenteira! — Rina comentou enquanto se acomodava no braço largo da cadeira de couro onde eu estava sentada. — De onde você o conhece? — Nós nos conhecemos caminhando, há alguns dias. — Niklas deveria anunciar suas caminhadas como uma alternativa ao Tinder. — Ela brincou e terminou seu coquetel. Ela colocou o copo vazio na mesa do meu outro lado. Ao se inclinar, ela disse: — Eu sei que não tenho o direito de perguntar... — Não posso guardar segredos de Besian. — Eu interrompi, me desculpando. — Prometemos um ao outro que não guardaríamos. — Por favor. — Ela implorou. — Eu não o amo. — Acrescentou ela apressadamente. — É só um pouco de diversão, sabe? Nada sério. Ele não está procurando por nada a longo prazo. Eu não quero lidar com as merdas de Luka por causa de um cara com quem eu não vou me casar. — Niklas compartilha seus sentimentos? — Eu me preocupei que ela pudesse não ter uma compreensão clara do que Niklas queria.
— Sim. Ele não está planejando ficar aqui por muito mais tempo, de qualquer maneira. Ele vai fechar o negócio em um mês e se mudar para a América do Sul. — E você está bem com isso? — Estou perfeitamente bem com isso. — Ele não está pressionando você a fazer nada com o que não se sinta confortável antes de ir? Ela fungou e ergueu o queixo de uma forma ousada. — Eu gostaria de vê-lo tentar. Pensei que ele poderia apenas deixar isso passar. Ela parecia ter um bom controle sobre seus limites e o que ela queria. — Não vou fazer nenhum esforço para contar a Besian. — Obrigada. — Ela apertou minha mão em solidariedade. — Eu agradeço. — Se ele perguntar. — Eu avisei. — Eu entendo. Enquanto ela se atirava de volta para Niklas e descia as escadas da área VIP para a pista de dança principal, me senti culpada por fazer essa promessa a ela. Eu não sabia como navegar na dinâmica familiar respeitando o direito de Rina de fazer suas próprias escolhas e cumprindo minha promessa de não guardar segredos de Besian. Não importava qual decisão eu tomasse, alguém iria se sentir magoado ou ferido. — Volto em alguns minutos. — Stefana se levantou elegantemente de sua cadeira e encostou o dedo com um flerte no nariz de Andres. — Você fica bem aqui. Você me deve uma dança quando eu voltar.
Vimos Stefana sair e Andres se esgueirou até seu assento vago para que estivéssemos perto o suficiente para conversar. Conversamos sobre minha viagem para ver o castelo e o pedido improvisado de Besian antes de discutir os planos de Andres para os próximos dias. — Meu irmão teve a chance de tirar férias de última hora. Ele vai fazer uma escala em Tirana amanhã de manhã, e vamos pegar um voo de volta para Barcelona juntos para surpreender nossos pais. — Muito legal! Tenho certeza que eles vão adorar ver vocês dois. — Quando você vai voltar para Houston? — Ele perguntou, inclinando-se para me ouvir melhor. — Em alguns dias. — Eu disse e bebi o resto do meu champanhe. — E você? — Eu tenho mais seis dias até que eu tenha que voltar para The Woodlands. — Ele fez uma careta. — Eu continuo dizendo a mim mesmo que se trabalhar duro por mais dez ou quinze anos, economizar e investir como um louco, posso me aposentar antes dos quarenta. — E depois? — Viajar. Aprender um novo idioma. Escrever um livro. — Ele encolheu os ombros. — As possibilidades são infinitas. — Ele olhou para mim com curiosidade genuína. — E você? Onde você se vê daqui a dez ou quinze anos? — Preparando os lanches enquanto rosno para Besian por ele não se lembrar que é a vez dele de levar as crianças para a escola. — Conjecturei com uma risada. — Colocando um band-aid em um joelho arranhado. Reclamando que ninguém me ajuda a lavar a roupa. — Eu posso ver isso. — Andres me estudou. — Você tem jeito de mãe.
Cedendo àquela minha veia maternal, olhei para o sofá próximo e percebi que Rina e Niklas não tinham voltado de sua dança. Então, me ocorreu que Stefana também não havia retornado. Uma longa fila nos banheiros explicaria sua ausência, mas eu me preocupei que ela pudesse ter tido outro encontro com aquele idiota. Eu precisava ir de qualquer maneira, então decidi descer para ver se conseguia ver Rina e Niklas e encontrar Stefana, por via das dúvidas. — Estarei de volta em alguns minutos. Não fuja! — Dei um aperto no ombro de Andres. — Vou ver o que está prendendo Stefana. — Cuidado com a bolsa. — Pediu Andres. — Muitos batedores de carteira! — Eu vou. — Saí da área VIP. Descer pelas escadas foi mais difícil do que subir, e eu poderia dizer que meus pobres pés estariam doloridos e inchados quando voltássemos para a mansão de Rina. Um dos seguranças que tinha vindo conosco estava parado perto da escada. Os outros deviam ter entrado na multidão para seguir Rina e Niklas. O sentinela na escada se aproximou, como se para me impedir, e gesticulei em direção aos banheiros. Ele olhou para o letreiro em néon do outro lado do prédio e acenou com a cabeça. Não tendo certeza se gostava de ter um segurança vigiando cada passo que eu dava, ziguezagueei para dentro e para fora da pista de dança. Finalmente avistei Rina e Niklas perto do centro da multidão que dançava. Eles pareciam nitidamente felizes juntos, e ele era um excelente dançarino. Claro que os dois seguranças de olho em Rina tinham carrancas permanentes em seus rostos. Sempre que Niklas se aproximava demais, eles avançavam, e seu namorado se afastava nervosamente. Era quase como se os quatro estivessem dançando twosteps20. 20
Dança de casal, coreografada, dançada livre ou em círculos, como em uma quadrilha.
Quando cheguei ao corredor, não havia fila, e quando entrei no banheiro surpreendentemente espaçoso e bem iluminado, procurei por Stefana. Quando não a vi na pia, entrei em uma cabine e cuidei das minhas necessidades. Assim que terminei, lavei minhas mãos e procurei novamente por ela. — Stefana? — Eu gritei, me perguntando se ela estava em uma das cabines. Talvez ela tivesse menstruado de repente ou estivesse com algum problema de estômago. Quando ela não respondeu, as outras mulheres no banheiro me lançaram um olhar estranho. — Minha amiga está desaparecida. — Eu murmurei, e caminhei até a porta. Lá fora, no corredor, hesitei. Onde ela estava? Com medo de que algo tivesse acontecido com ela, abri minha clutch e tirei meu telefone. Verifiquei o chat em grupo e notei que algumas mensagens tinham sido enviadas nos últimos minutos. A primeira era de Stefana, apenas uma sequência aleatória de números, letras e emojis. As outras eram das três outras mulheres que tinham saído conosco esta noite, a maioria apenas pontos de interrogação e piadas sobre mensagens de texto de Stefana bêbada. O medo apertou fundo em minhas entranhas. Stefana tinha bebido muito mais do que eu, mas ela não parecia bêbada o suficiente para se atrapalhar com uma mensagem ininteligível. Algo estava errado. Olhei para a esquerda e para a direita no corredor. Para onde ela poderia ter ido? Meu olhar pousou na saída no final do corredor. Corri em direção a ela, todos os pensamentos sobre minha própria segurança postos de lado. Antes de chegar à saída, vi algo brilhante no chão. Abaixei-me para pegá-lo e meu coração apertou. Era um dos brincos de diamante cintilantes de Stefana – e havia sangue nele. Quando me levantei, ouvi um barulho vindo de um dos corredores à frente. Era o som de alguém sendo atingido, um som que
eu conhecia muito bem das brigas terríveis entre minha mãe e Spider. Quantas vezes eu tinha ouvido o barulho nauseante de pele batendo em pele com tanta violência? Houve um grito de dor, e eu o segui pelo corredor esquerdo que saía do corredor principal. Mais à frente, notei um monte no meio do chão. A roupa era familiar e percebi que era um de nossos seguranças. Uma poça de algo escuro começou a se espalhar em torno de sua cabeça. Eu me movi mais rápido, meus saltos batendo no chão de concreto e me agachei para sentir seu pescoço. Encontrei sua pulsação sob meus dedos. Parecia estável, mas o segurança inconsciente fazia estranhos sons ofegantes. Eu grunhi com o esforço e consegui rolá-lo de sua posição de bruços para o lado esquerdo. Sua respiração difícil se acalmou e eu finalmente consegui dar uma boa olhada no ferimento enorme em sua testa. Pelo sangue espalhado na parede de blocos de concreto atrás dele, era fácil entender como ele havia se ferido. Ele precisava de um médico imediatamente, mas os sons de violência ficavam cada vez mais altos. De repente, houve um estrondo. Parecia madeira, metal e vidro batendo contra o concreto. Caixotes? Uma mulher gritou. Stefana! Deixando o segurança ferido, corri para a porta fechada no fim do corredor. Tentei abri-la, mas estava trancada. Bati na porta com a palma da mão. — Stefana! Stefana! Você está aí? — Marley! — Ela gritou de volta. — Socorro! — O que está acontecendo? O que aconteceu com aquele homem no corredor? Olhei por cima do ombro e quase chorei de alívio ao ver Andres correndo em minha direção. — Stefana! Ela está aí dentro! Alguém a está machucando!
— O quê? — Andres ouviu Stefana gritar e tentou abrir a porta. Estava trancada por dentro, mas isso não o impediu. — Afaste-se. Ele me empurrou para fora do caminho e chutou a porta, bem ao lado da maçaneta. Ele deu mais dois chutes rápidos e a porta explodiu para dentro, a maçaneta caindo no chão com um estrondo. Ele sibilou de dor e caiu de bunda, agarrando a perna ferida. Incapaz de dispensar um momento para ele, o empurrei para fora do caminho e corri para o cômodo. Um homem prendia Stefana no chão, suas calças abaixadas em volta das coxas enquanto ela lutava embaixo dele. Era o idiota da pista de dança! Com um grito de raiva, peguei a primeira coisa que vi – uma garrafa de bebida alcoólica – e bati com ela na cabeça do homem. Vidro e álcool explodiram em todas as direções. Sangue jorrou da ferida que fiz na cabeça do homem. Ele girou em minha direção, ainda de joelhos, e apontou uma faca que eu não tinha percebido que ele estava segurando. Com o gargalo da garrafa quebrada em minha mão, reagi por instinto e o apunhalei com ela. O vidro afiado perfurou a carne macia entre seu ombro e pescoço, e ele caiu para o lado, levando a mão sobre seu ferimento sangrento e gritando. A faca caiu de sua mão e eu a chutei o mais longe que pude. Não me importando se ele viveria ou morreria, corri para Stefana, que havia conseguido se sentar. Seu rosto estava uma bagunça de sangue e maquiagem borrada. Uma mecha de seu cabelo loiro prateado tinha sido arrancada de seu couro cabeludo. Seu vestido rasgado estava aberto, deixando seus seios à mostra, e eu rapidamente o puxei, desesperada para dar a ela alguma cobertura. Percebi que sua calcinha ainda estava no lugar, mas faltavam os dois sapatos. Envolvi meus braços em torno dela, completamente alheia ao
barulho de passos atrás de mim. A única coisa que importava naquele momento era Stefana. Eu a abracei com força e balancei-a suavemente, o tempo todo desejando que Besian estivesse aqui para ajudar. Um dos seguranças de Luka se ajoelhou na nossa frente e me entregou seu paletó. Enquanto eu envolvia Stefana, ele olhou de mim para ela e de volta para mim. Sabendo que havia apenas uma coisa a fazer, exigi: — Ligue para Besian. Agora!
CAPÍTULO 16 Besian esfregou a têmpora e se perguntou por quanto tempo mais deveria deixar Luka e Darko discutirem. Zec espertamente havia pedido licença antes do início das negociações, e Besian o invejava. Ouvir os dois homens mais jovens batalharem com seus egos inflados era irritante. Finalmente, depois de ouvir tudo o que pôde aguentar, ele disse: — Basta! Ambos os homens fecharam a boca e olharam para ele. Ele não ficou nem um pouco intimidado. Anos lidando com Nikolai haviam o deixado casca grossa, e embora Darko fosse um pouco imprevisível, ele não tinha nada contra o chefe da máfia russa. — Olha, todos nós queremos a mesma coisa. — Besian disse o óbvio. — Queremos as carteiras de volta. Queremos as criptomoedas fora delas. Nosso lado não as roubou. Darko, você diz que seu lado não as roubou. Portanto, se isso for verdade, e não tenho motivos para acreditar que não seja, isso significa que estamos do mesmo lado. Sim? Darko acenou com a cabeça. — Sim. — Então, vamos colocar a questão de quem é a culpa e seguir em frente para descobrir quem nos roubou e como as recuperaremos. — Besian imaginou que era assim que os professores da pré-escola se sentiam, tentando forçar os alunos a fazerem as escolhas corretas, ao mesmo tempo que os fazia acreditar que a ideia era deles desde o início. — Tudo bem, mas é melhor você parar com a intimidação. — Advertiu Darko, apontando um dedo grosso e cheio de cicatrizes para Luka. — Se eu receber mais uma foto da minha irmã... — Espere. — Luka interrompeu e inclinou-se para frente.
— Em um envelope? Com um pen drive? Darko estreitou os olhos. — Sim. Luka se levantou e cruzou o escritório até a mesa. Ele abriu a gaveta e pegou o envelope. Ele o jogou para Darko, que o pegou e abriu. — Recebemos a mesma coisa. Darko olhou as fotos que estavam lá dentro. Seu queixo quadrado ficou tenso. — Isso é semelhante ao que recebemos sobre Stefana. — Então, quem diabos está enviando isso? — Luka perguntou o que todos eles estavam pensando. — De quem exatamente você roubou com esse esquema? — Besian suspeitou que a resposta estava naquele grupo de pessoas. Luka encolheu os ombros. — Limpamos as carteiras nas áreas que controlamos. Dezenas de países. — Temos uma maneira de identificar quais carteiras tinham mais criptomoedas? Luka olhou para Darko, que assentiu. — Minha equipe de tecnologia pode, sim, mas seremos limitados pelo blockchain 21 e pelo anonimato que cada pessoa escolheu. Algumas pessoas deixam mais rastros do que outras, sabe? — Começamos por aí. Não temos outra escolha. — Disse Besian, já sentindo sua azia voltar. Nesse ritmo, ele precisaria de uma receita com a maior dose de antiácido disponível. — Deveríamos colocar dinheiro nisso. Tentar obter algumas pistas. — Explicou. — Não somos os únicos à procura dessas carteiras roubadas. 21
Blockchain é a tecnologia que garante a segurança das transações com criptoativos, pois permite rastrear o envio e o recebimento de informações pela internet.
— Ainda acho que foi um trabalho interno. — Insistiu Luka. — Havia apenas um punhado de nós que sabíamos onde tínhamos escondido as carteiras frias legítimas. Você. — Ele apontou para Darko. — Dusan, eu, alguns seguranças. — Eu lido com meus seguranças. — Darko interrompeu com um olhar mortal que disse a Besian exatamente o que o homem queria dizer com lidar. — Você pode lidar com o seu. — Eu vou. Besian não pôde deixar de se perguntar se seu sobrinho tinha estômago para o tipo de interrogatório que poderia ser necessário. Ele suspeitava que Luka estava finalmente recebendo a verdadeira educação necessária para ser um chefe. Herdar a posição não era suficiente. Ele precisava sujar as mãos para realmente entender o que significava estar no comando. Com a animosidade resolvida e uma trégua temporária arranjada, os homens se dirigiram para uma sala mais confortável para desfrutar de algumas bebidas. Luka e Dusan foram um em direção ao outro, e ele escolheu uma cadeira perto da janela. Seu celular vibrou em seu bolso e ele o pegou, nem um pouco surpreso ao ver que era uma mensagem de Marley. Ele desbloqueou a tela e sentiu um sorriso puxar os cantos de sua boca. Ela e Rina estavam com os rostos lado a lado em uma selfie. Os olhos de Marley brilhavam e as joias de ouro reluziam contra sua pele da maneira mais atraente. Ela sempre parecia linda para ele, mesmo com seu cabelo matinal bagunçado e os vincos dos lençóis marcados em seu rosto. Mas, vendo-a assim, glamurosa e sexy? Foi preciso cada grama de força de vontade para não persegui-la pela cidade, arrastá-la para um corredor escuro e arrebatá-la contra uma parede.
— Eu nunca teria imaginado que ruivas eram o seu tipo preferido. — Disse Darko, seu albanês impecável. O homem muito maior e mais pesado se deixou cair na cadeira mais próxima a ele e baixou o copo com um baque pesado. Ele não se preocupou em usar um porta copos, e Besian praticamente podia ouvir Drita repreendendoos por causa das marcas de água. — Mas eu posso ver por que você escolheu esta. Besian estreitou os olhos. — Como assim? Darko ativou a tela de seu telefone. Marley e uma loira deslumbrante que não poderia ser parente de Darko e Dusan, dois dos maiores e mais feios homens que ele já havia visto, estavam abraçadas e sorrindo em uma selfie. — Parece que sua garota e minha irmã são amigas agora. — Marley tem um bom coração. — Besian bebeu um gole de sua bebida. — Para ela, ninguém é um estranho. — Isso é perigoso. — Comentou Darko. — Alguns estranhos deveriam continuar sendo isso. — Tente dizer isso a ela. — Besian murmurou. Darko riu. — Se ela for parecida com minha irmã, não faz sentido discutir. — Essa tem sido minha experiência até agora. Darko olhou para a tela do telefone. — Ela é uma mulher bonita. Vai lhe dar lindas filhas. A menção de filhas encheu a mente de Besian de visões de garotinhas com os cabelos ruivos e olhos azuis de Marley. O calor que se espalhou por seu peito com a ideia de ser pai de doces filhas com o sorriso de sua mãe se transformou em um pavor frio ao perceber que
homens como ele – homens sombrios, duros e perigosos – iriam querer tocá-las, usá-las, possuí-las. A ideia de que uma de suas filhas pudesse acabar em um pole dance fez seu estômago revirar. Porra. Não. Sem filhas. Apenas filhos. Mas mesmo essa ideia tinha suas desvantagens. Seus filhos iriam seguir seus passos? Entrar no negócio da família de agiotagem, strippers e crime? Ganhar seu lugar como capitães e chefes? Matar? Ferir? O pânico apoderou-se de seu coração. Não posso ter filhos com Marley. Eu vou arruiná-los. Não há bondade suficiente nela para equilibrar o que há de mal em mim. Seus pensamentos turbulentos continuaram a atormentá-lo, mesmo enquanto ele conversava com Darko sobre esportes e apostas. Eventualmente, Darko inclinou-se para frente e baixou a voz. — Há uma coisa que eu queria te perguntar. — O quê? — Você já ouviu falar do Syndicate? O Syndicate era uma organização quase mítica dentro do submundo do crime da Europa. Supostamente, eles eram um grupo internacional de homens e mulheres ricos que controlavam tudo – narcóticos, armas, trabalho sexual, assassinato por encomenda e muito mais. No que dizia respeito a Besian, eles eram mais um bicho-papão do que uma entidade real. Besian assentiu com relutância. — Sim, mas nunca conheci ninguém que fizesse parte. Por quê?
— Eu ouvi um boato de que... Darko parou abruptamente quando o celular de Besian zumbiu na mesa, vibrando contra o vidro. Aliviado por ter um motivo para não falar sobre o grupo obscuro que provavelmente nem existia, Besian pegou o telefone. Seu alívio durou pouco. O telefone de Darko também começou a vibrar. Antes que ele ou Darko pudessem atender, Zec entrou na sala vindo de onde quer que ele estivesse se escondendo. Sua expressão era assassina quando disse: — Houve um incidente com as mulheres. Besian estava de pé em um piscar de olhos. Darko estava apenas meio passo atrás. Nenhum dos dois perdeu tempo fazendo perguntas. Eles correram para seus veículos enquanto Zec gritava o endereço do clube. — Eu vou dirigir. — Disse Zec, empurrando Besian em direção ao banco do passageiro de seu sedan preto discreto. — Você vai se perder. Em seu atual estado de raiva, ele se perderia. Enquanto Zec ligava o carro, Besian perguntou: — O que aconteceu? — Os seguranças foderam tudo. — Zec saiu da garagem primeiro e acelerou pela estrada particular em direção ao portão que já estava se abrindo. — Alguém atacou Stefana. Besian sentiu um momento de alívio culpado. — E então, aparentemente, Marley saltou e apunhalou um homem com uma garrafa quebrada. — Zec continuou. O alívio de Besian acabou. O pânico se apoderou dele. E raiva. Muita raiva. — Ela o quê? — Apunhalou um homem com uma garrafa quebrada. — Zec
repetiu. — Isso é tudo que eu sei. Marley. Sua doce e gentil Marley apunhalando alguém? Com uma garrafa quebrada? — Para que tipo de clube perigoso Rina os levou? Por que diabos os seguranças não estavam com elas? — Eu não sei. — Zec lançou-lhe um olhar. — Acalme-se, porra, antes que você tenha um derrame. Não adianta entrar em pânico. O que quer que tenha acontecido, aconteceu. Tudo o que podemos fazer agora é limpar a bagunça. Besian cerrou a mandíbula e olhou para o para-brisa. Imagens violentas e sangrentas surgiram diante dele. Sua azia atacou, fazendo arder sua garganta e queimando seu peito. As coisas eram diferentes aqui, mais fáceis de esconder, mas a notícia acabaria se espalhando. O envolvimento de Marley não ficaria em segredo para sempre, especialmente no mundo das mídias sociais e vídeos de telefones celulares. Quando chegaram ao clube, Zec estacionou no beco estreito e mal iluminado atrás dele. Uma fila de carros os seguia, pneus cantando até parar e homens saindo deles. Darko passou por Besian como um linebacker22, empurrando-o para fora do caminho para que ele pudesse entrar no prédio primeiro. Besian não se opôs a ele. Afinal, foi a irmã de Darko que havia sido atacada. Besian viu a pequena multidão amontoada no final do corredor à sua esquerda. Os seguranças encarregados de vigiar Rina e Marley evitaram qualquer contato visual quando ele passou. Rina e suas amigas estavam do lado de fora da porta, todas chorando. Quando sua sobrinha o viu, ela o abraçou e soluçou contra seu pescoço. — Eu sinto muito! 22
Jogador da posição de defesa de um time de futebol americano.
— Shhh. — Ele disse gentilmente. Afastando-a, ele a empurrou em direção a Luka. — Vá até seu irmão. Preparando-se para o pior, Besian entrou na sala de suprimentos. O vidro estalou sob seus pés. O cheiro metálico de sangue encheu o ar. Um homem caído contra a parede segurava um rolo de toalhas de bar no ombro e no pescoço, estancando o sangue que escorria do ferimento. Sua mão direita estava pendurada flacidamente ao lado do corpo, e Besian imaginou que os nervos e músculos haviam sido cortados. Havia outra toalha entre sua nuca e a parede. O homem, obviamente bêbado e tonto por causa do ferimento, implorou por misericórdia e chorou por sua mãe. Com seus lábios se curvando com a visão do homem nojento, Besian percorreu a sala com seu olhar, vendo primeiro Stefana abraçada por um Darko com olhar furioso. Quando ele encontrou Marley, seu coração palpitou dolorosamente. O respingo de sangue havia secado em seu pescoço e bochecha, e sua mão direita e antebraço estavam manchados de sangue escuro. Havia uma toalha de bar em volta de sua mão, sem dúvida cobrindo um ferimento causado pela garrafa de vidro. Seu rímel havia manchado sob seus olhos e a sombra brilhante de seus olhos escorria por sua bochecha, carregada por lágrimas e seus dedos. Sua necessidade desesperada de abraçá-la e confortá-la foi rapidamente substituída por uma punhalada de traição e ciúme quando ele viu que ela estava segurando a mão de outro homem. Não de qualquer homem. Dele. O espanhol. Andres estava sentado em uma cadeira com a perna apoiada em uma caixa. Alguém colocara um grande saco de gelo sobre seu joelho obviamente inchado, e o homem estava claramente sentindo dor por causa do ferimento. Besian olhou de volta para a porta e notou a moldura rachada e a maçaneta quebrada. Quando o olhar acusador de Besian encontrou o olhar
aterrorizado de Marley, ela desviou o olhar, quase confirmando sua culpa. Era por isso que Rina estava se desculpando? Por saber que sua futura tia estava se encontrando com outro homem? Por saber que Besian estava prestes a ser feito de bobo na frente de todos? A raiva se acendeu em seu estômago. Ele se sentiu repentinamente estúpido e tolo. Como ele se convenceu de que uma mulher como Marley seria feliz com um homem como ele? Que ela poderia amar alguém como ele? Ele silenciosamente amaldiçoou sua idiotice. Claro que ela havia aceitado sua proposta sem hesitação! Ele a assustou ao revelar a existência da procura por ela. Ela temia por sua vida e queria – precisava – da proteção que ele oferecia. — Venha aqui. — Besian ordenou, sua voz baixa e num tom de advertência. Marley engoliu em seco, soltando a mão do espanhol e cruzando a curta distância entre eles. Ela tremia na frente dele, e ele estava dividido entre gritar com ela e confortá-la. — B? Ignorando sua súplica suave, ele olhou para sua mão e pegou seu pulso, levantando seu braço para uma inspeção mais detalhada. Ele tirou a toalha e examinou o corte entre o indicador e o polegar. — Isso precisa de pontos. Ele olhou de volta para a porta onde Zec estava parado. — Levea para o hospital. — E quanto a Andres? — Marley teve a ousadia de perguntar. — Ele está ferido. Besian cerrou os dentes e olhou para o bastardo bonito que havia roubado Marley bem debaixo de seu nariz.
Como se sentisse que estava prestes a haver uma explosão de emoção, Zec interveio. — Vou levá-lo também. — Ele evitou o olhar furioso de Besian enquanto ajudava Andres a se levantar. — Vou levar Marley para casa. Besian acenou com a cabeça, não confiando em si mesmo para falar. Marley olhou para ele como se ele fosse um estranho. Seus olhos se encheram de lágrimas não derramadas e seu lábio inferior tremeu. Recusando-se a deixá-la chorar, implorar e envergonhar os dois, ele se aproximou o suficiente para levar os lábios ao ouvido dela. Em um sussurro áspero que só ela podia ouvir, ele ordenou: — Faça as malas. Você vai para o aeroporto assim que eu voltar. Ela recuou como se ele a tivesse esbofeteado. Ele esperava que ela protestasse, argumentasse, mostrasse seu espírito ardente, mas ela o desapontou permanecendo em silêncio. Com rigidez, ela acenou com a cabeça e contornou-o, tomando cuidado para não tocá-lo. Ele apertou a mandíbula com tanta força que houve uma sensação de pressão em seus tímpanos. Sua pressão arterial disparou, e ele mal ouviu o que Darko estava dizendo a Stefana, os seguranças, o homem sangrando no chão, os dois policiais que queriam estar em qualquer outro lugar que não fosse ali e o dono do clube. Entorpecido pela traição de Marley, pela humilhação de encontrá-la aqui com outro homem, ele recuou e observou Darko executar sua versão de justiça. Quando terminou, ele deixou o clube para encontrar Luka esperando do lado de fora de seu carro. Rina havia adormecido no banco de trás, coberta com um paletó emprestado. A ideia de entrar no carro e voltar para casa para enfrentar a situação que o esperava fez seu estômago revirar violentamente. Balançando a cabeça, ele se afastou do carro e entrou no beco. — Ei! Onde você está indo? — Luka gritou. — Besian!
Ele acenou para a preocupação do sobrinho. — Vou encontrar meu próprio caminho para casa. — Besian! — Luka gritou. — Besian! Ignorando o sobrinho, Besian continuou andando. Ele não tinha um destino em mente. Ele só sabia de uma coisa com certeza. O casamento estava cancelado.
CAPÍTULO 17 Segurando minha mão latejante, esperei pelas instruções de alta para poder deixar o hospital. Até agora, eu tinha conseguido não chorar, mas meu tênue controle sobre minhas emoções estava acabando. O rosto furioso de Besian não saía da minha mente. Suas palavras maldosas giravam em círculos dentro da minha mente. Confusa e magoada, tentei entender o que havia acontecido. Eu tinha ficado tão aliviada em vê-lo. Tudo que eu queria era que ele me abraçasse, me beijasse, acariciasse meu cabelo e me dissesse que tudo ia ficar bem. Eu precisava dele para me tranquilizar, para me prometer que eu não iria para a cadeia por quase matar um homem. Eu precisava que ele me dissesse que me amava e não deixaria nada acontecer comigo. Mas Besian deu uma olhada em Andres e presumiu o pior. Eu não entendia como ele podia pensar tão mal de mim. Eu não tinha permissão para ter amigos homens agora que íamos nos casar? Exceto que não vou me casar agora. As instruções de Besian para que eu fizesse as malas deixaram isso muito claro. Ele não me queria mais, e a aceitação desse fato arrancou meu coração do meu peito. Pisquei para conter as lágrimas quando uma enfermeira voltou com minha papelada. Seu inglês era muito bom e meu albanês era terrível o suficiente para que pudéssemos descobrir isso juntas. — Volte aqui em dez dias, e nós tiramos os pontos para você. — Disse ela, ajudando-me a levantar da mesa alta de exame e calçar de volta meus saltos dolorosos. — Tudo bem. — Eu disse, embora não tivesse intenção de fazer
isso. Ao longo dos anos, eu havia removido muitos pontos das feridas quase totalmente curadas de Spider. Manipular a minha seria complicado, mas eu conseguiria. Quando saí de trás da cortina da área de tratamento, encontrei Zec esperando por mim. Ele estava encostado na parede com as mãos atrás das costas. A terrível cicatriz em sua garganta estava em plena exibição com a cabeça inclinada para trás daquela maneira. — Pergunte. — Disse Zec, sua voz rouca me gelando até os ossos. Nervosamente, eu fiz exatamente isso. — O que aconteceu com a sua garganta? Ele abaixou a cabeça e fixou seus olhos quase negros em mim. — Navalha. Eu engoli nervosamente. — Oh. Ele pareceu se divertir com minha resposta. — Você é definitivamente filha de um fora da lei. Eu franzi a testa. — Como assim? — Significa que você nem mesmo hesitou em apunhalar alguém para ajudar uma amiga. Talvez haja um gene para isso. — Comentou ele, me estudando com interesse. — Para quê? — Brigas de bar. Não querendo falar sobre a tendência de minha família para a violência, perguntei: — O que aconteceu com o segurança? — Ele está em cirurgia. Vão remover uma pequena parte de seu
crânio e drenar o sangue que está acumulado atrás para aliviar a pressão em seu cérebro. Eu fiz uma careta com a descrição da cirurgia horrível. — Ele tem família? Já disseram a eles que ele está aqui? Os olhos de Zec se arregalaram ligeiramente como se ele estivesse surpreso. — A mãe e a esposa dele estão aqui. — Alguém deveria se sentar com eles. Trazer-lhes café e certificar-se de que tomem o café da manhã. Fazer ligações para eles e cuidar de todas as mensagens de texto para que eles possam se concentrar nele. Cuidar das crianças ou animais de estimação. Fazer compras. Coisas assim. — Parece que você tem todo um sistema para esse tipo de situação. — Comentou. — Como você disse. Sou filha de um fora da lei. Enteada. — Corrigi, cansada. — Passei muito tempo seguindo minha mãe pelos hospitais, fazendo caçarolas e entregando-as com envelopes de dinheiro às famílias de MCs. — Parece que foi um bom treinamento para a vida que você terá com Besian. — Ele se empurrou da parede e não me deu a chance de discordar. — Por aqui. Segurando firme na minha clutch e estremecendo a cada passo, segui Zec através da sala de emergência para uma área de tratamento maior, onde Andres cochilava em uma cama. Entrei em seu quarto e toquei sua mão, apertando suavemente. A culpa torceu meu estômago quando percebi o quão gravemente ele havia se machucado. — Ele está tomando muitos analgésicos. — Zec estava ao lado do suporte IV e da bomba. Ele verificou o rótulo de uma das bolsas menores de soro. — Os realmente bons.
— Marley? — Andres perguntou meio grogue, seus olhos vidrados enquanto ele tentava focar no meu rosto. — Sim. — Acariciei seu braço. — Como você está se sentindo? — Totalmente fora do ar. — Ele admitiu com um sorriso bobo. — Meu irmão está a caminho. Ele vai tentar descobrir como me levar de volta a Barcelona para a cirurgia. — Eu cuido disso. — Zec ofereceu, chamando a atenção confusa de Andres. — Eu conheço você? — Com a mente drogada, Andres não parecia se lembrar de Zec nos levando para o hospital. — Não. — Zec respondeu com naturalidade. — Mas eu tenho acesso a transportes médicos aéreos. Vou garantir que você e seu irmão voltem a Barcelona a tempo dos tapas. Andres lentamente virou a cabeça em minha direção. — Esse cara é real? — Sim. — Senti que Zec tinha mais conexões do que qualquer um de nós poderia imaginar. — Além disso, ele é albanês. Quando ele dá sua palavra, ele a cumpre. Zec realmente sorriu, e eu não conseguia decidir se isso era uma melhoria em relação ao seu olhar carrancudo constante. — Sinto muito, Marley. — Disse Andres de repente, sua voz cheia de emoção. — Eu não queria causar problemas com você e o cara do clube de strip. Ignorei a maneira como ele descreveu Besian. — Tudo bem. Não é sua culpa. — Ele estava realmente chateado com você. — Disse Andres,
suas palavras um pouco arrastadas agora. — Se ele te machucar... — Sua voz foi sumindo enquanto a medicação correndo em sua corrente sanguínea o deixava sonolento. — Ele nunca me machucaria assim. — Assegurei a Andres. Mesmo enquanto eu dizia isso, uma pequena parte de mim, a parte formada por uma infância de gritos e violência doméstica, temia que houvesse uma pequena chance de que ele realmente pudesse. A chance era tão minúscula que nem era uma consideração real, mas as coisas que eu tinha visto quando criança me ensinaram a sempre esperar o pior, especialmente das pessoas que supostamente nos amavam. Depois que Andres adormeceu, Zec parou para falar com a equipe sobre como providenciar a ambulância aérea. Quando ele terminou, saímos do hospital. Seguimos em silêncio no carro. Eu estava cansada demais para conversar. Completamente sem energia e temendo o confronto inevitável que me esperava, encolhi-me no banco do passageiro e desejei poder simplesmente desaparecer. Eu odiava discutir. Isso fez meu estômago doer e minha cabeça latejar. Isso me fez tremer de medo e ansiedade, e eu não queria ver um lado de Besian que o arruinaria para sempre aos meus olhos. Porque mesmo que ele tivesse decidido que não me queria mais, eu não estava pronta para deixar de amá-lo. Você é tão patética. Assim como sua mãe. Perseguindo um homem que não te quer. Aceitar essa realidade me deu vontade de vomitar. Durante toda a minha vida tentei muito não seguir os passos de minha mãe. Ela ficou casada com Spider todos esses anos, os dois infelizes, ambos constantemente tendo casos com as piores pessoas imagináveis. Eu a tinha julgado duramente por todos os romances malfadados, pela quantidade de idiotas inúteis que a foderam e fugiram no primeiro problema.
Quantas vezes eu jurei que nunca me envolveria com um homem como Spider? Com um criminoso? E aqui estava eu, com o coração partido, porque me entregara a um mafioso que não confiava em mim. Patético. Estúpido. Idiota. Quando chegamos em casa, tudo estava estranhamente silencioso. — Eu não posso ficar. — Zec se desculpou. — Preciso terminar os preparativos para o voo do seu amigo para casa. — Tudo bem. — Peguei a maçaneta, mas não abri a porta. Hesitando, eu olhei de volta para ele. — Eu não traí Besian. — Eu disse que você traiu? — Não, mas eu sei que é o que todos vocês pensam. — Qershi (cereja), você nem consegue imaginar o que eu penso. — A expressão de Zec se tornou de piedade. — Eu acredito em você, mas não importa no que eu acredito. Importa? — Não. — Eu murmurei, me sentindo pequena e inútil. — Vá para dentro. Tome um banho. Beba um pouco de água. Descanse um pouco. Você se sentirá melhor pela manhã. Eu duvidava que isso funcionasse tão facilmente. Sem mais nada a dizer, saí do carro e o observei ir embora até que as luzes traseiras desaparecessem. Sabendo que teria que enfrentar o pesadelo que me esperava, atravessei o cascalho com os sapatos que estavam matando meus pés e tornozelos. Eu nem tinha chegado à porta da frente antes que ela se
abrisse para revelar uma Drita furiosa esperando por mim. Eu nem consegui fazer soar uma única sílaba de saudação da minha boca antes que ela jogasse minha mala e mochila em mim. Eu me encolhi com o som da minha bagagem batendo nos degraus, imaginando meu laptop e câmera sendo esmagados. Drita apontou seu dedo fino para mim. — Tire isso. Espantada, dei um passo para trás. — O quê? — As coisas de Rina. Tire-as! Agora! Olhei ao redor da garagem e para as câmeras de segurança nos observando. — Posso entrar? Por favor? — Não! Besian não quer ver você. Eu não podia acreditar que ele deixaria alguém me tratar assim. Mesmo que estivesse furioso comigo, mesmo que acreditasse que eu o tinha traído, ele não era cruel, mas não ousei discutir com Drita. Qualquer simpatia e aceitação que eu tenha ganhado no início do dia, já não existia mais. Se ela pudesse ter disparado raios laser de seus olhos, Drita teria me transformado em pó ali mesmo. Tremendo e humilhada, tirei as joias e as entreguei a ela. Entreguei os sapatos em seguida e me agachei ao lado da minha mala para abrir o zíper. Peguei as primeiras coisas que toquei – um par de jeans e uma camiseta com a imagem de Ruth Bader Ginsberg. Tremendo na noite fria, decidi que RBG nunca teria permitido que ninguém a tratasse assim. Você não é Ruth Bader Ginsberg. Você é apenas um lixo que veio de um estacionamento de trailers. Com os olhos baixos, vesti logo o jeans e rapidamente tirei o vestido preto agora manchado de sangue. O ar frio da noite atingiu meus
seios nus, e meus mamilos doeram quando endureceram. Rapidamente vesti a camiseta pela cabeça e rezei para que o vídeo estivesse granulado demais para que alguém me visse seminua. Drita arrancou o vestido da minha mão. — Algo mais? Comecei a balançar a cabeça, mas então me lembrei do cartão de crédito e do dinheiro que Besian tinha me dado. Recusando-me a tirar qualquer coisa dele, peguei a clutch e tirei meu telefone. Entreguei a bolsa para Drita e ela a vasculhou. Quando ela puxou o dinheiro e o cartão, zombou de mim como se eu fosse mais desprezível do que merda de cachorro em seu sapato. Ela zombou de mim com palavras feias e voltou para dentro de casa com todas as coisas de Rina, me deixando sozinha no escuro. Com frio e assustada, encontrei um par de meias e minhas botas de caminhada. Eu rapidamente as calcei em meus pés latejantes e, em seguida, vesti meu casaco. Depois de fechar minha bagagem, coloquei minha mochila no lugar. Eu não sabia mais o que fazer, então comecei a andar. Eu não sabia o endereço e temia que se demorasse e esperasse por um táxi, Drita pudesse sair e me perseguir com uma vassoura – ou pior. Eu nem me preocupei mais em segurar as lágrimas. Eu as deixei cair. Meus soluços vieram em ondas enquanto eu caminhava em direção ao portão. Os dois seguranças parados pareciam chocados ao me ver, caminhando no escuro com minha mala sacudindo atrás de mim. Parei na frente do portão e olhei para eles antes de acenar minha mão em direção ao portão. — Por favor! Eu só quero ir! O mais jovem dos seguranças parecia incerto. Ele saiu da cabine e olhou para mim, vendo minha mão enfaixada e rosto encharcado de lágrimas. — Senhorita, por favor. — Disse ele com cuidado. — Volte para a casa.
— Eu não posso! — Ele não entendia? Eu não era mais bemvinda aqui. — Besian vai ficar com raiva. — Ele já está com raiva. — Senhorita, Besian não gostaria que você saísse assim. — Besian não me quer mais! — Eu gritei, me humilhando ainda mais. — Por favor! Basta abrir o portão! Eu tenho que sair daqui! O homem mais velho na cabine finalmente abriu o portão. Ele parecia tão preocupado quanto o segurança mais jovem. Ele disse algo para o homem que era mais próximo da minha idade, e aquele segurança retransmitiu para mim. — Você deveria chamar um táxi. Não é seguro andar nessas estradas. Está escuro. Não há muitas luzes. Você pode ser atropelada por um carro. — Quem me dera. — Eu gritei histericamente enquanto arrastava minha mala pelos portões abertos indo para a estrada. Ainda chorando, desci a rua pisando forte. Enquanto eu caminhava na frente das casas chiques, luzes de sensores de movimento se acenderam e cães de guarda ferozes latiram atrás das cercas. Não dei atenção aos meus pés latejantes e ardentes e me movi mais rápido. Mas as rodas da minha mala não eram feitas para esse tipo de terreno e, depois de algumas centenas de metros, pararam de rolar por completo. Pedaços de cascalho travaram as rodas. Tentei tirar alguns, mas com apenas uma mão funcionando totalmente, não consegui. Como se minha situação não pudesse ficar mais triste, tive que carregar a mala. Não era tão pesada no começo, mas quanto mais eu andava, mais pesada ficava. O dia tinha sido tão longo, desde a curta caminhada para explorar o castelo, o noivado, dirigir até Tirana, encontrar Rina, minha discussão com Besian, beber e dançar, a luta para
salvar Stefana, o hospital e agora isso! Eu perdi o fôlego depois de cerca de um quilômetro e meio da minha caminhada. Derrotada, deixei cair minha mala na beira da estrada e sentei-me sobre ela. Eu desmoronei completamente. Abraçando meus joelhos, chorei incontrolavelmente. O que eu ia fazer agora? Para onde eu iria? Para casa. Eu queria ir para casa. Ainda chorando, procurei meu telefone e abri o aplicativo que preferia para comprar passagens de avião. Eu nem me importava se tinha que usar os fundos para emergência na viagem que reservei. Eu pagaria o que custasse para entrar em um avião e dar o fora deste país o mais rápido possível. O voo com lugares disponíveis que partiria mais rápido tinha como destino Verona. Isso me parecia um sinal certo. Para onde mais uma garota se recuperando de um coração partido iria, senão o mesmo lugar onde a história de amor condenada de Romeu e Julieta começou e terminou? Eu reservei o voo, mas quando cheguei na parte de pagamento da transação, meu cartão de crédito foi recusado. Rosnando de frustração, selecionei a opção PayPal. Digitei meus dados e esperei que o pagamento fosse processado. A transação foi recusada e eu não conseguia entender o motivo. O medo fez meu sangue gelar. Todas as mensagens não respondidas da minha mãe de repente fizeram sentido. Pensei em todo o dinheiro que ela havia pedido durante a minha viagem, cem aqui, quinhentos ali. Conhecendo sua história de "pegar emprestado" de mim sem meu consentimento, suspeitei do pior. Meus medos foram confirmados quando eu entrei na minha
conta do PayPal. Ela havia limpado completamente a conta poupança vinculada ao meu PayPal. Quando verifiquei as configurações, descobri que ela havia desativado todas as notificações. Todo esse tempo, ela estava me roubando, e eu nunca soube. Eu queria vomitar. Meu estômago embrulhou por temer o que descobriria quando ligasse para meu banco sobre meu cartão e a estranha mensagem em minha conta. A traição era desoladora. Além do que eu já tinha passado esta noite, minha mãe roubando cada centavo que eu tinha e me deixando à mercê em um país estrangeiro sem dinheiro tinha que ser o fundo do poço. Mas minha crença de que isso era absolutamente o pior que poderia acontecer foi rapidamente desfeita. Luzes piscando apareceram na estrada e um carro da polícia parou perto de mim. Levantei-me com cuidado, certificando-me de que minhas mãos estavam visíveis. Eu só podia imaginar o que os dois policiais, um homem e uma mulher, estavam pensando quando se aproximaram de mim. Eles provavelmente pensaram que eu era uma lunática! Ou uma turista perdida, sem um tostão, tendo um colapso total na lateral de uma rua residencial em uma das áreas mais elegantes de sua cidade. O policial masculino usou sua lanterna cegante para me examinar, deslizando-a para cima e para baixo em meu corpo. Ele a manteve apontada no meu rosto para que eu não pudesse vê-los, certificando-se de que eu não seria capaz de atacar. A policial feminina me fez uma pergunta que não entendi. Quando ela repetiu, eu disse: — Hum, flisni Anglisht (fala inglês)? — Sim. — Ela disse, se aproximando. — Você é americana?
— Eu sou. — O que você está fazendo na estrada assim? — Ela chegou perto o suficiente para me cheirar. — Você estava bebendo? — Mais cedo, sim. — Eu admiti. — O que aconteceu com tua mão? — Antes que eu pudesse responder, ela apontou para meu rosto. — Você estava chorando. Sua maquiagem está uma bagunça. — Comecei a dizer que tinha feito o possível para me lavar no hospital, mas ela não me deu chance. — Você foi agredida? — Não! — Envergonhada e sem saber como explicar que apunhalei um homem e, em seguida, fui expulsa, eu finalmente disse: — Eu tive uma briga com meu noivo e sua família. O policial moveu o feixe de sua lanterna para minha mala. — Então? Você pensou em caminhar até um hotel? — Eu estava indo pegar um táxi. — Eu disse, me sentindo realmente estúpida. — Eu só estava... você sabe... chateada e não pensando com clareza. Os dois oficiais trocaram olhares. A mulher estendeu a mão. — Posso ver seu passaporte, por favor? — Claro. — Tirei minha mochila dos ombros e abri o zíper do compartimento principal. Coloquei algumas coisas de lado para alcançar o bolso escondido onde havia guardado minha carteira e passaporte. Exceto que, quando enfiei a mão lá dentro, estava vazio. E então me lembrei. Besian pegou meu passaporte e o colocou junto com o dele para nossos compromissos com a embaixada e o cartório.
Meus ombros caíram em derrota. Era isso. Eu tinha oficialmente atingido o fundo do poço agora.
CAPÍTULO 18 O sol mal havia começado a surgir sobre as colinas a leste quando o táxi de Besian entrou na propriedade de Luka. Ele notou os olhares estranhos dos dois seguranças no portão, mas não prestou atenção a eles. Ele suspeitava que todos já tivessem ouvido falar de Marley e Andres. Quanto menos atenção ele lhes desse, mais cedo todos esqueceriam da vez em que ele estupidamente tentou se casar com uma mulher que era bonita demais para ele. Ele pagou ao motorista do táxi e saiu do carro, esticando as costas doloridas. Seus pés o estavam matando depois de toda aquela caminhada sem rumo, e seu estômago roncou de fome. Tudo o que ele queria era um banho, café da manhã e dormir, mas ele tinha que lidar com Marley primeiro. Era como arrancar um curativo. Melhor fazer isso rápido, sentir a dor e superar isso. As portas se abriram quando ele se aproximou, e Zec olhou para ele. — Onde diabos você esteve? Surpreso com o tom agressivo de Zec, Besian disse: — Andando. — Sem o seu telefone? Ele deu um tapinha no paletó. — Eu desliguei. — Seu covarde de merda! — Zec cuspiu enquanto se aproximava. Ele empurrou Besian com força, desequilibrando-o e fazendo-o cambalear. — Se eu soubesse que você mandaria Drita fazer seus negócios sujos para você, nunca teria trazido Marley de volta aqui. — Saia da minha frente, porra! — Besian empurrou Zec de volta. — Eu não sei do que você está falando!
— Não minta para mim! — Eu não estou mentindo para você! — Besian não conseguia entender o que estava acontecendo. Atrás de Zec, dentro da casa, havia um caos absoluto. Rina estava chorando e andando para lá e para cá. Luka estava implorando para que ela se acalmasse e parasse de gritar. Drita estava sentada na escada e chorando em seu avental. — O que diabos está acontecendo aí? Zec o agarrou pelas costas do paletó e o puxou em direção à casa. — Entre e pergunte à Drita. Quando ele entrou em casa, Rina tirou o chinelo fofo e branco e jogou na cabeça dele. Ele se abaixou, mas o segundo chinelo acertou o alvo, acertando-o no rosto. — Ei! — Como você pôde? — Rina pegou o chinelo mais próximo e começou a estapeá-lo com ele. — Ela é minha amiga! — Ei! Pare! — Besian estava com os dois braços erguidos, protegendo o rosto e a cabeça enquanto Rina o golpeava com seu chinelo surpreendentemente pesado. Suas costas doíam com os golpes e ele finalmente conseguiu tirá-lo da mão dela. — Pare! — Rina! — Luka chamou o nome dela. — Deixe-o. Rina pegou seu outro chinelo e o lançou em Besian antes de girar para seu irmão. — É melhor você cuidar disso, ou então eu vou! Perdendo a calma, Besian gritou: — Alguém vai me dizer o que diabos aconteceu? — Drita ouviu falar do homem com quem Marley estava ontem à noite no clube. — Explicou Luka. — Não de mim. — Rina gritou com raiva. — Porque se ela tivesse ouvido isso de mim, saberia que nós nem o vimos até a última
parada da noite! Ele estava mais interessado em Stefana do que em Marley! E, se ele não tivesse sido um amigo tão bom para Marley, indo atrás dela quando ela sumiu por tanto tempo, Stefana teria sido estuprada e provavelmente Marley também! Drita gemeu dramaticamente em seu avental, e o estômago de Besian revirou. Sua angústia deve ter sido claramente visível em seu rosto porque Rina jogou seus chinelos nele novamente. — Você está brincando comigo! Você não acusou Marley de traí-lo! — Eu cometi um erro! — Ele gritou de volta para sua sobrinha. — Um erro? — Ela zombou. — Não, você fodeu sua melhor chance de ser feliz. Seu ego estúpido e patético ficou ferido porque você viu Marley com um homem mais jovem e mais gostoso e, em vez de confiar nela, que ela te ama, você decidiu agir como um garotinho que descobriu que outra pessoa tinha brincado com seu favorito brinquedo! — Rina! — Luka gritou. — Você não pode falar com ele assim! — Eu acabei de falar, e não vou voltar atrás ou me desculpar. — Ela se dirigiu para as escadas, olhando para Drita enquanto subia os degraus. — Onde você está indo? Volte aqui! — Luka ordenou. — Vou me vestir e encontrar minha amiga! — Você não vai a lugar nenhum! Você vai ficar aqui até que eu diga que você pode sair! Rina parou no patamar do segundo andar. Ela lançou seus chinelos em seu irmão, que mal conseguiu se esquivar deles. — Eu vou para onde eu quiser e quando eu quiser! Estou farta de seu controle! Viver com você é como viver em uma prisão! — Oh, esta mansão é uma prisão? — Luka retrucou. — As
dezenas de milhares de dólares em roupas, sapatos e bolsas em seu armário são um uniforme de prisão? Você é ridícula! Estou farto do seu ato de rainha do drama! — Estou farta da sua cara! E da sua voz! — Então, sabe de uma coisa, Rina? Você pode ficar em seu quarto o resto do dia. Você não terá que me ver ou me ouvir lá dentro. Ela riu maldosamente. — Você vai me deixar de castigo? Como se eu fosse uma garotinha? — Se você continuar agindo como uma criança, vou tratá-la como uma! Ela revirou os olhos e zombou. — Se você quiser me castigar como se eu ainda tivesse treze anos e quebrasse as regras, aqui está um motivo muito melhor para isso. — Ela se inclinou sobre o corrimão e rosnou maldosamente: — Era eu que estava com uma pessoa ontem à noite! Sou eu que tenho um namorado secreto! Besian olhou de irmã para irmão. Merda. — O quê? — Luka exigiu entredentes. — Você me ouviu. Eu tenho um namorado. Um namorado muito mais velho. — Acrescentou ela. — Ele tem um grande e lindo apartamento com uma vista incrível para o nascer do sol direto da janela de seu quarto. Besian ficou tenso quando Rina sugeriu que estava fazendo sexo com seu namorado secreto. Luka reagiu mais com choque do que com raiva. Rina sorriu maliciosamente com a expressão atordoada de Luka. — Sim, é isso mesmo. Estou namorando Niklas há meses bem debaixo do seu nariz. Você acha que é tão inteligente e que tem tudo sob
controle! — Ela riu. — Você não consegue nem mesmo manter sua própria casa em ordem! Não admira que você tenha fodido o negócio das criptomoedas! — Como você sabe sobre as criptomoedas? — Zec se intrometeu na briga familiar. Rina revirou os olhos novamente. — Como se houvesse algum segredo nesta cidade? Todo mundo sabia sobre o golpe. Zec olhou para Luka, que ainda parecia abalado com a revelação de Rina sobre sua vida secreta e sua organização vazando informações como uma peneira. — Você tem um grande problema que precisa resolver. — Você acha? — Luka murmurou sarcasticamente. Ele olhou para Rina, que parecia totalmente satisfeita consigo mesma. Besian observou os dois, perguntando-se com que rapidez poderia separá-los se eles começassem a brigar. Por fim, Luka disse: — Falaremos sobre o seu namorado mais tarde. — Não há nada para falar. — Disse ela com um encolher de ombros descuidado. — Ele está de partida para a América do Sul em breve. Nós vamos nos separar e pronto. Não dando a Luka uma chance de responder, ela se afastou do corrimão e desapareceu. Luka exalou asperamente e esfregou o rosto. Ele apontou um dedo zangado na direção de Zec. — Está vendo o que você fez? — Eu? — Zec assobiou. — Foi você quem me disse para deixá-la ir para a universidade! — E eu também disse para você largar a coleira dela e deixá-la viver uma vida normal. — Zec rosnou. — Eu te avisei o que aconteceria
se você tentasse ser pai em vez de irmão dela. — Zec gesticulou em direção ao segundo andar. — Essa porra aí. Claramente indisposto a enfrentar sua responsabilidade em tudo isso, Luka, em vez disso, voltou sua ira para Drita, que estava sentada em um silêncio horrorizado após a explosão de Rina. — Está vendo o que você fez? Mimando-a como você mimou? — Ele balançou a cabeça. — Se você simplesmente tivesse deixado as coisas em paz ontem à noite, nada disso teria acontecido esta manhã! O que você estava pensando ao expulsar Marley de casa? Besian passou de querer defender Drita da culpa de Luka pelo comportamento de Rina a querer sacudi-la. — Você expulsou Marley? Mesmo enquanto gritava com Drita, ele sentiu uma vergonha imensa. Ele não disse a Marley para embalar as coisas dela? Ele tentou dizer a si mesmo que era diferente porque ele não a teria realmente expulsado, mas Marley não sabia disso. Deus, ela deve ter pensado que ele pediu a Drita para jogá-la na rua! — Conte a ele o resto. — Zec ordenou. Drita balançou a cabeça e começou a chorar no avental novamente. Besian olhou para Luka em busca de respostas, mas seu sobrinho não quis encontrar seu olhar. Certo de que estava prestes a ouvir algo que o enojaria, ele olhou para Zec em busca de respostas. — Diga-me. — Drita a encontrou na porta com sua bagagem. Jogou-a para fora como lixo. — Zec disse, seus olhos escuros brilhando com fúria. — Então ela a fez tirar a roupa. Besian enfureceu-se. Seu choque foi substituído por uma raiva diferente de qualquer coisa que ele já havia experimentado. — Ela. Fez.
O quê? — Na frente das câmeras de segurança. — Zec acrescentou, certificando-se de enfiar a faca do arrependimento ainda mais fundo nas entranhas de Besian. — Teve que ficar só de calcinha na entrada da garagem com os seios expostos para que todos vissem. Besian achou que ele ia vomitar. — E depois? — Marley foi embora. — Disse Luka, a voz cansada e rouca. — Descendo a entrada, saindo pelos portões e indo para a estrada. — No escuro? — A mente de Besian disparou com todas as possibilidades horríveis. De repente, ele pensou em outra coisa. — Ela não está com o passaporte! — Ou dinheiro. — Disse Luka, enfiando a mão no bolso e retirando o cartão de crédito e as notas que havia dado a Marley antes de ela sair. — Ela deu isso para Drita. — E eu encontrei a carteira dela na garagem quando voltei. — Zec disse, apontando para a carteira de couro verde brilhante na mesa em formato de meia-lua. — Deve ter caído da bagagem dela quando ela estava se vestindo no escuro. Marley estava sozinho em uma cidade estrangeira sem dinheiro ou identidade. Com o estômago revirando, Besian correu escada acima, subindo dois degraus de cada vez, para chegar ao quarto de hóspedes. Ele abriu a porta e correu para a gaveta onde colocara os passaportes para levar à embaixada. Com os documentos dela nas mãos, ele parou e olhou impotente ao redor do quarto. E agora? Como ele a encontraria? Para onde ela iria? Ele pegou o telefone do bolso e o ligou, murmurando palavrões o tempo todo. Tudo o que Rina disse era verdade. Ele era patético. Ele
deixou que seu ego ferido e seu medo profundo de não ser bom o suficiente para Marley arruinasse tudo. Zec estava certo. Eu sou um covarde Seu telefone finalmente se conectou a um sinal de celular e dezenas de chamadas perdidas e mensagens de Zec, Rina e Luka apareceram na tela. Em meio a todas as mensagens de texto e de voz raivosas, havia uma de um número local. Ele abriu e colocou no vivavoz para que pudesse rapidamente vestir roupas limpas enquanto ouvia. — Besian? Por favor, por favor, não desligue. — Marley implorou, sua voz vazia e cansada. — Eu sei que você está com raiva de mim, e eu sei que você não me quer mais. Por favor, prometo que nunca mais vou incomodá-lo, mas preciso do meu passaporte e da minha carteira. — Ela fez uma pausa, e ele pôde ouvir vozes ao fundo. — Estou na prisão. Hum. Acho que é a delegacia municipal. Eu só... se você puder trazer meu passaporte, eles vão me liberar. Se não, se não puder, eu... eu entendo. Eu vou resolver isso. — Alguém no fundo gritou com ela em albanês, dizendo-lhe para se apressar. — Eu tenho que ir. A ligação terminou abruptamente, e Besian correu para repetir a mensagem, ouvindo sua voz exausta e falhando. Na cadeia? Por quê? A culpa e o arrependimento apertaram seu peito com tanta força que ele mal conseguia respirar. Ele olhou para o relógio e depois para a hora em que a mensagem de voz havia sido deixada. Cristo, ela estava sentada na prisão há pelo menos quatro horas! Uma prisão estrangeira. Onde não havia ninguém falando inglês. Isso não oferecia as mesmas proteções legais que ela precisava. Desistindo de vestir roupas limpas, ele pegou seu telefone e o passaporte dela e correu para fora do quarto de hóspedes. No andar de
baixo, ele pegou a carteira, o dinheiro e o cartão de crédito que Luka havia deixado sobre a mesa. Em sua corrida para a porta da frente, Luka saiu de seu escritório e gritou por ele. — Onde você está indo? — Pegar Marley! — Onde? — Cadeia. — Disse ele solenemente e bateu a porta atrás de si. Ele encontrou seu carro estacionado onde o havia deixado na noite anterior e rapidamente deslizou para trás do volante. Ele dirigiu como um morcego fora do inferno, correndo pela entrada e saindo pelo portão aberto. Ele apenas diminuiu a velocidade quando chegou à rua residencial. A última coisa que ele precisava era se envolver em um acidente. A adrenalina alimentou seu corpo cansado enquanto ele dirigia em direção à delegacia. Sua mente estava uma confusão de arrependimento. Pensar na maneira como Marley havia sido tratada por ele e sua família o enchia de uma vergonha torturante. Ele a tratou como um lixo absoluto, acusando-a sem lhe dar uma chance de se defender, e então a abandonou para enfrentar Drita. Ele deveria saber que Drita faria algo dramático e tolo. Não era a primeira vez que ela agia como uma vilã de novela melodramática. A infame noite em que ela expulsou a madrasta traidora de Luka e Rina de sua antiga casa era uma história que todos conheciam. Drita havia lançado as roupas da mulher por uma janela do terceiro andar e depois ateado fogo no pátio, deixando a madrasta apenas com as roupas do corpo quando foi posta na rua. Ele apertou o volante enquanto imaginava Marley, nua na garagem, com frio e medo. Ela ficaria muito envergonhada quando percebesse quantos homens a tinham visto assim. Luka, Zec, os seguranças da sala de monitoramento. Ela era intensamente reservada e
havia sido violada da pior maneira. E tudo por minha culpa. Quando chegou à delegacia, ele havia aceitado que Marley nunca se esqueceria disso. Ele não a afrontaria pedindo seu perdão. Ele não merecia, e não a colocaria em uma posição onde ela se sentisse pressionada a concedê-lo. Ele estacionou e correu para a frente da delegacia apenas para encontrar as portas trancadas. O local demoraria mais uma hora para abrir. Ele lutou contra o desejo de bater na porta e exigir ajuda. Isso só pioraria as coisas para Marley, especialmente se ela tivesse cometido algum crime insignificante. Ele poderia precisar negociar – ou até mesmo subornar – para tirá-la de lá sem nenhum problema. Ele não ansiava por um cigarro há meses, mas queria desesperadamente um agora. Ele teria pegado um jawbreaker23 ou um chiclete, qualquer coisa, para acalmar seu nervosismo. Ele se encostou na parede e remexeu-se, checando repetidamente o relógio. Considerando seu rosto com a barba por fazer e roupas amassadas, ele provavelmente parecia um viciado louco por uma dose. Quando a porta finalmente foi destrancada, ele disparou em direção a ela e a abriu, assustando o jovem policial do outro lado. — Posso te ajudar, senhor? — Minha noiva está detida aqui. Eu preciso falar com ela. — Por aqui. — Disse o policial, levando-o até uma mesa. Besian sabia o que aconteceria e suspirou enquanto esperava que outro oficial o ajudasse. As coisas aqui funcionavam em um ritmo 23
São doces extremamente duros e feitos em formato de bola. São fabricados principalmente nos Estados Unidos e Canadá. São tão duros porque são feitos de uma infinidade de camadas, podendo levar até 19 dias para serem feitos, dependendo de seu tamanho.
diferente do de Houston. Eventualmente, um homem mais velho apareceu, sentou-se e arrumou as coisas em sua mesa. Besian queria gritar, mas controlou seu temperamento pelo bem de Marley. Finalmente, o policial mais velho perguntou como poderia ajudá-lo e Besian explicou seu problema. O policial murmurou e começou a digitar lentamente no teclado com dois dedos. Ele ajustou os óculos duas vezes e digitou mais um pouco. Enquanto isso, a pressão arterial de Besian subia cada vez mais. — Você pode falar com ela. — Anunciou o policial após uma espera excruciante. — Mas não aqui. O breve momento de alívio de Besian foi frustrado. — Por que não aqui? — Oh, ela não está aqui. — Explicou o policial. — Eu a coloquei em uma van de transporte há duas horas. — Você? — Besian engoliu sua frustração antes que ela explodisse como fogo de dragão. — Você sabia que ela não estava aqui? Todo esse tempo eu estive sentado aqui? — Eu tinha que ter certeza. — Quantas outras mulheres americanas ruivas você tem aí atrás? Tantas que você tem que verificar em seu pequeno computador em vez de usar seu cérebro para me dizer onde ela está? Outros policiais no escritório pararam para assistir ao espetáculo enquanto a voz zangada de Besian ficava mais alta. O homem mais velho parecia completamente despreocupado com sua explosão. — Senhor, se você está insatisfeito com a maneira como lidei com as coisas, sinta-se à vontade para preencher um formulário de reclamação. — O policial puxou o formulário da bandeja superior de seu organizador de mesa e colocou-o sobre a mesa com uma caneta.
— Aqui. Besian teve um súbito desejo de enfiar aquela caneta em outro lugar. — Não, obrigado. — Bem. — O oficial disse lentamente. — Como eu estava dizendo antes de você interromper, ela não está aqui. Ela foi transferida para a custódia da Fronteira e da Migração. Eles estão localizados em... — Eu sei onde eles estão localizados. — Interrompeu Besian rudemente e se levantou. Furioso e frustrado, ele correu da delegacia municipal para o carro. O caminho até a delegacia de polícia estadual não era tão longe, mas encontrar estacionamento foi um pesadelo. Felizmente, o escritório já estava aberto e o oficial da recepção o ajudou imediatamente. Depois de entregar os documentos de Marley e explicar a situação à policial responsável, ele foi instruído a se sentar. Ele caiu no primeiro lugar vazio que conseguiu encontrar e apoiou os cotovelos nos joelhos, segurando a cabeça latejante nas mãos. A espera pela libertação de Marley foi torturante. Os minutos passaram a passo de lesma. Dez minutos se transformaram em uma hora. Uma hora se tornou noventa minutos. Noventa minutos se tornaram duas horas. Entre a exaustão e o estômago vazio, ele oscilou entre cochilar e desejar comida. Sabendo que Marley provavelmente se sentia ainda pior, ele negou a si mesmo também. Depois do que pareceu uma eternidade, o oficial responsável acompanhou Marley até a área de recepção. Ela estava curvada com o peso da mochila e puxava a mala quebrada com a mão boa. Ela segurava a mão enfaixada contra o peito, cobrindo o rosto sério de Ruth Bader Ginsberg. Suas botas de caminhada estavam com cadarços, mas não amarradas, e seu cabelo estava uma bagunça absoluta, caindo em nós e emaranhados sobre os ombros. Seu rosto tinha sido lavado, mas havia
uma mancha escura de rímel sob os olhos. Sem palavras, ela parou na frente dele. Ela se recusou a encontrar seus olhos, e ele foi esmagado pelo medo que irradiava dela. A policial pareceu sentir a incerteza de Marley e disse em voz alta: — Tem certeza de que quer ir com este homem? Posso pegar um táxi para você. Besian prendeu a respiração. Marley olhou para a oficial e acenou com a cabeça. — Tenho certeza. A oficial permaneceu cética. — Lembre-se do que eu disse a você. — Eu vou. — Marley prometeu, sua voz baixa e cansada. A policial olhou com desconfiança para ele, seus olhos se estreitando com incerteza. Em albanês, ela advertiu: — Estou de olho em você. Eu sei o que você faz na América. Se você acha que pode traficar mulheres bonitas pela minha cidade, terá uma surpresa desagradável. Surpreso com a acusação dela, ele disse: — Eu não sou um traficante! — Veremos. — Ela deu um tapinha gentil nas costas de Marley antes de se afastar com relutância para deixá-la ir. Marley caminhou em direção à saída e ele a seguiu. À luz do sol, ela semicerrou os olhos e protegeu as vistas cansadas. Ele ia dizer a ela para pegar seus óculos escuros, mas ela começou a andar novamente, mais rápido desta vez. Como se quisesse escapar dele. — Marley? — Não havia como esconder a dor em sua voz. Ela não respondeu. Nem olhou para trás. Ela apenas continuou andando em direção à rua.
— Marley! — Ele correu atrás dela, alcançando-a antes que ela chegasse ao fim da rua. — Onde você está indo? — Para o aeroporto. — Ela disse firmemente, ainda evitando seu olhar. Ele queria implorar para que ela ficasse, que o deixasse explicar. Em vez disso, ele ofereceu: — Vou levá-la. — Não, obrigada. — Marley, você não pode caminhar daqui até o aeroporto. — Ele tentou entender o comportamento dela. Era diferente de tudo que ele já tinha visto dela. — Vou pegar um táxi. — Espere. — Ele tentou pegar a mala dela, mas ela se encolheu e se afastou dele. Atordoado com a reação dela, ele congelou. — Marley. — Disse ele gentilmente. — Não vou machucar você. — Você já machucou. — Ela finalmente ergueu o olhar para ele, e a dor refletida o fez perder o fôlego. A traição. O desgosto. O medo. — Eu sinto muito. — Ele não sabia mais o que dizer. — Eu sinto muito. — Tudo bem. — Disse ela, completamente imperturbável por seu pedido de desculpas. Sua frieza o apavorou. Era como se ela tivesse apagado todas as emoções. Ele ansiava por tocá-la, abraçá-la, beijá-la. Ele negou seus desejos e se concentrou apenas no que ela precisava. — Deixe-me levála a um hotel. Você pode comer e descansar. Você pode esperar por Aston lá. Ela desviou o olhar dele, de repente incapaz de encontrar seu
olhar. — Não posso pagar um hotel. — Eu trouxe sua carteira. — Disse ele, pensando que era isso que ela queria dizer. — Não importa. O que quer que esteja na carteira é tudo o que tenho, e tenho que fazer isso durar até chegar em casa. — O que você... — Minha mãe roubou todo o meu dinheiro. — Ela interrompeu, sua voz cheia de vergonha. — Tudo se foi. Tudo. Chocado, ele perguntou: — Quando você... — Ontem à noite. — Ela interrompeu novamente. — Ou esta manhã, tecnicamente, eu acho. Antes de ser presa. Ele não achava que era possível que seu coração doesse mais do que doía, mas ele estava errado. A dor dilacerante ameaçou derrubá-lo de joelhos. Depois de tudo, descobrir que sua mãe a roubara era demais. Não admira que ela estivesse sendo tão fria e indiferente. Duas pessoas em quem ela confiava para amá-la e protegê-la a traíram e abandonaram. — Eu vou pagar. Seu hotel e sua passagem para casa. — Ele ofereceu, esperando que ela aceitasse. Ela sacudiu a cabeça com veemência. — Eu não quero mais nada de você. Nunca mais. Ele engoliu em seco com a raiva feroz em sua voz. Ele merecia, é claro, mas não era fácil de aceitar. — Marley. — Ele implorou. — Por favor. É... é o mínimo que posso fazer depois de toda a dor que causei a você. Ela desviou o olhar. Ela engoliu em seco algumas vezes, como se tentasse controlar os soluços tentando escapar de sua garganta. Ele
podia ver o brilho das lágrimas se formando nos olhos dela. Seu queixo tremia e ela mordeu o lábio inferior, recusando-se a chorar. — Tudo bem. — Disse ela, derrotada por suas circunstâncias. — Mas eu vou te pagar de volta quando chegar em casa. Ele não aceitaria o dinheiro dela, mas não iria discutir agora. — Isso é justo. Ela assentiu com firmeza. — Está bem. — Posso carregar sua mala? — Ele estremeceu ao ver sua mão enfaixada. — Sua mochila também. Ela hesitou antes de entregar as duas a ele. Ela manteve distância, permanecendo a mais do que o comprimento de um braço dele. Depois da maneira como eles tinham desfrutado da proximidade e intimidade um do outro, era esmagador ter seu toque negado. Quando chegaram ao carro, ele colocou a bagagem dela no portamalas, mas ela silenciosamente puxou a mochila de sua mão. Ele a deixou pegá-la e não disse uma palavra quando ela deslizou para o banco de trás do sedan em vez de na frente ao lado dele. Sua escolha deixou claro que ela tinha terminado com ele. Seu coração batia forte, a ferida crua e aberta de sua lesão auto infligida deixando-o fraco e doente. Lançando olhares rápidos no espelho retrovisor, ele a observou enxugar os olhos e o rosto com lenços de papel de um pacote. Ela passou um deles pelo pescoço e atrás das orelhas, limpando a sujeira de sua noite sem fim. Ela passou os dedos pelo cabelo e o prendeu em um coque antes de colocar os óculos de sol. A maneira como ela abraçou a mochila contra o peito quando terminou o fez lembrar de uma criança pequena e assustada. Ela havia sofrido tantos traumas no ano passado. Sequestrada duas vezes. Cirurgia cardíaca. Agora isso.
Ela estava certa em afastá-lo. Ele não trouxe nada à vida dela, a não ser problemas e perigo. Talvez ela realmente estivesse melhor sem ele. No entanto, ele não podia esquecer o que a esperava em Houston. Ainda havia um preço sobre sua vida, de alguém que queria pressionar Spider para que ele não falasse ou tentasse fazer um acordo. Também havia o problema aqui, sobre a vigilância e a ameaça silenciosa contra ela e Rina. Agora que os sérvios tinham sido riscados da lista de possíveis suspeitos, qualquer um que cruzasse seu caminho era um assassino em potencial. Abalado ao perceber o quão perto ela havia chegado da morte na noite anterior, Besian jurou que encontraria uma maneira de protegê-la. Ele escolheu o hotel mais bonito da cidade, certo de que ela acharia relaxante a vista do lindo jardim. Não se importando com a aparência que eles estavam por seus estados exaustos e suas roupas amarrotadas, ele reservou a maior suíte que eles tinham disponível e entregou seu cartão de crédito. O custo não era nada comparado à satisfação em proporcionar paz e conforto a Marley. Quando chegaram ao quarto no último andar, Marley hesitou do lado de fora da porta. — Isto é uma suíte? Ele assentiu. — Você ficará mais confortável com espaço extra. — Eu não posso pagar isso. — Marley, não estou perguntando se você pode pagar. Não vou aceitar o seu dinheiro também. — Ele destrancou a porta e carregou sua bagagem para dentro. Ele parou alguns metros dentro da espaçosa e luxuosa sala de estar e esperou que ela o seguisse. Ela o seguiu, finalmente, certificando-se de não chegar nem perto de tocá-lo. Empurrando a mala para longe dele, ela disse: — Você não
pode mais mandar em mim. Ele deixou o comentário passar e fechou a porta da suíte. — Nós precisamos conversar. — Oh, você quer conversar agora? — Ela olhou para ele como se ele fosse louco. — Mas não ontem à noite, certo? Não quando você me acusou de ser uma prostituta traidora e deixou sua governanta louca me despir como uma criminosa na entrada da garagem? Ele se encolheu. — Marley, eu não tinha ideia de que Drita faria isso. — Mentira. — Ela assobiou. — Você me mandou de volta lá para me humilhar do jeito que você pensava que eu te humilhei. — Não, eu não fiz. Eu não faria isso com você! — Sério? Porque pareço que me lembro de você me dizendo para embalar minhas coisas. — Ela o lembrou. — Eu não quis dizer isso! Eu não ia te mandar embora! — Como diabos eu deveria saber disso? — Ela exigiu furiosamente. Ele cedeu contra a parede para se apoiar e esfregou o rosto. — Eu estraguei tudo. OK? Eu estraguei tudo. — Você espera que eu te console? Para que você se sinta melhor? — Não. — Ele mentiu, mesmo quando ele desesperadamente desejou que ela o fizesse. — Bom, porque vai ser um dia frio no inferno antes que eu te perdoe! — Marley largou a mochila e arrastou a mala pelo chão em direção ao quarto. Ela bateu a porta, e ele se encolheu com a atitude.
Com a cabeça inclinada para trás contra a parede, ele tentou engolir a espessa bola de emoção que o sufocava. Ele nunca teve um ataque de pânico, mas suspeitava que este fosse o começo de um. Talvez fosse um ataque cardíaco. Morrer devia ser mais fácil do que viver com essa agonia, esse arrependimento e vergonha horríveis. De repente, Marley gritou de dor e sua autocomiseração desapareceu. Ele correu para a porta, abrindo-a e correndo para o quarto. Ele a encontrou sentada na cama, soluçando enquanto tentava tirar uma meia ensanguentada e seca do pé. Horrorizado, ele caiu de joelhos na frente dela e gentilmente afastou sua mão. — Baby, o que aconteceu? — Os sapatos. — Ela lamentou. — Eles me deram bolhas. — Os saltos. — Disse ele, quando o entendeu a situação. Ele estremeceu em simpatia enquanto examinava seus pés. Ambos estavam em péssimas condições. Remover as meias quando elas estivessem secas assim seria um inferno absoluto. — Espere aqui. Ela não discutiu. Ele suspeitava que ela estava muito esgotada para se importar mais. Ele foi até o banheiro e ligou a água, enchendo a banheira com água quente. Ele pensou em adicionar um pouco do banho de espuma ou sais da cesta de higiene, mas decidiu não fazer isso. Ele não tinha certeza de quão sensível estava sua pele, e a última coisa que ela precisava era uma erupção para agravar seu sofrimento. De volta ao quarto, ele se ajoelhou na frente dela. Com cuidado, ele perguntou: — Posso ajudá-la a se despir? Ela acenou com a cabeça, e ele cautelosamente a ajudou a se levantar. Ele tirou sua camiseta, certificando-se de tocá-la o menos possível. O que quer que eles tenham compartilhado antes não importava mais. O consentimento entusiástico que ela havia dado não contava agora, e ele não tinha o direito de tocá-la.
Ela não estava usando sutiã, provavelmente porque não teria sido fácil encontrar um ao vasculhar sua bagagem no escuro. Seu jeans desgastado e desbotado se soltou facilmente, e ele olhou para ela pedindo permissão antes de remover delicadamente sua calcinha. As meias ele deixou calçadas por enquanto. — Posso carregar você? — Sim. — Ela disse suavemente. Ele a ergueu em seus braços. A imagem de carregá-la assim como sua noiva, sua esposa, o atormentava. Com o máximo cuidado, ele a deixou testar a água com a mão boa antes de colocá-la na banheira. Ela relaxou na água, inclinando a cabeça para trás contra a borda da banheira e fechando os olhos. Ela segurou os pés e a mão enfaixada para fora d'água. — Se você molhar os pés, será mais fácil para mim tirar suas meias. Ela abriu os olhos e parecia nervosa. — Vai doer. — Sim. — Ele não iria mentir para ela. — Por um instante. Marley suspirou e finalmente criou coragem para mergulhar primeiro um pé e depois o outro na água. Ela choramingou de dor, e o som cortou seu coração já ferido como uma navalha. Se ela começasse a chorar de novo, ele iria desmoronar. Desesperado para se tornar útil, ele perguntou: — Você tem um kit de primeiros socorros? — Na minha mochila. — Disse ela, afundando ainda mais na água. — Posso pegar?
Ela pareceu surpresa com seu pedido de permissão. — Sim. — Quando estiver pronta, me avise. Eu vou te ajudar com as meias. Deixando-a para desfrutar de seu banho, ele voltou para o quarto e pegou sua mochila. Ele abriu algumas bolsas em busca do kit de primeiros socorros, mas não o encontrou até que abriu o compartimento principal. Estava bem no fundo, em uma caixa de plástico branca marcada com uma cruz vermelha brilhante. Ele verificou se tinha o que precisava e reservou para mais tarde. Ao devolver todas as coisas que havia desempacotado em sua bolsa, ele deixou o diário dela cair no chão. Ele se abriu em uma das páginas mais recentes e ele olhou para a tinta roxa, parando ao ver seu nome. Ele não deveria ter lido, mas não conseguiu evitar. Em um lado da página, ela havia escrito sobre seu pedido de casamento, esboçando o castelo e suas figuras de palito em primeiro plano com pequenas bolhas de diálogo sobre suas cabeças. Ela escreveu sobre seu profundo amor por ele, sua felicidade, seu entusiasmo por ser sua esposa e o futuro que desejava para eles. No outro lado da página, ela havia escrito a palavra KANUN24 em letras maiúsculas. Doze linhas se estendiam ao redor da palavra como os raios de uma roda. No final de cada linha, ela havia escrito as doze partes do antigo código de honra. Abaixo disso, ela tinha anotações sobre Lekë Dukagjinit25 e outras fontes acadêmicas sobre as tradições albanesas históricas e atuais. 24
O código de Kanun, instituído há seis séculos na Albânia, abriga a lei Gjakmarrja (em português “vingança de sangue”), onde as disputas entre famílias são resolvidas com o “derrame de sangue”. Quando uma pessoa é assassinada, os seus familiares têm o direito - e segundo este código a responsabilidade social - de matar um membro da família do assassino. Apesar de ser um código antigo e não estar oficialmente em vigor, a sua tradição mantém-se, principalmente no norte da Albânia, como sinal da manutenção dos "valores morais" albaneses. 25 Lekë Dukagjini foi um príncipe albanês. Reinou entre 1446 e 1481. Foi antecedido no trono por Jorge Castrioto e foi sucedido no governo pelo que foi o Primeiro Ministro da Albânia, Ismail Qemali.
Ele virou a página e encontrou uma espécie de roteiro para sua pesquisa planejada e os tópicos que ela queria abordar. Gangues de motociclistas fora da lei e seus códigos. Máfias. Cartéis. Gangues de rua. Os efeitos desses códigos na família e nas mulheres. Opressão sexual. Opressão econômica. Construções sociais. Interseccionalidade26. Quando terminou de ler suas anotações, ele olhou para o banheiro. Marley. Brilhante, curiosa e linda Marley. Se isso era o que ela planejava pesquisar para sua dissertação, ele faria tudo que pudesse para ajudá-la. Algumas dessas perguntas podiam ter respostas perigosas, mas ele encontraria uma maneira de protegê-la. — Besian? — Ela gritou hesitantemente. Ele pigarreou. — Sim? — Estou pronta. Ele devolveu o diário à mochila dela e fechou o zíper. Parado na porta do banheiro, ele parou por um momento para simplesmente olhar para ela. Sabendo que era provavelmente a última vez que ela permitiria que ele ficasse tão perto, ele decidiu fazer disso algo que ambos se lembrassem.
26
Interseccionalidade (ou teoria interseccional) é o estudo da sobreposição ou intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação.
CAPÍTULO 19 Ainda cautelosa, afundei um pouco mais na água e observei Besian desatar as abotoaduras. Ele as colocou no balcão do banheiro e metodicamente enrolou as mangas da camisa até logo abaixo dos cotovelos, revelando centímetro após centímetro de pele tatuada. Ele tirou o relógio e o colocou ao lado das abotoaduras antes de pegar uma toalha de mão, um pano de limpeza e a lixeira. Sem dizer uma palavra, ele se ajoelhou ao lado da banheira e gentilmente estendeu a mão para agarrar meu tornozelo direito. Seu toque clínico e eficiente me deixou com uma sensação de vazio e frio, e eu queria desesperadamente que ele me tocasse do jeito que tinha feito na noite passada. Carinhosamente. Com ternura. Possessivamente. — Sinto muito, mas isso vai doer. — Disse ele antes de puxar cuidadosamente a meia encharcada do meu pé. Eu assobiei, e ele estremeceu em solidariedade antes de abaixar meu pé de volta na água quente. Ele jogou a meia estragada no lixo e repetiu o processo no meu outro pé. — Deixe-os de molho um pouco mais. Eu balancei a cabeça, não confiando em mim mesmo para falar ainda. Eu temia começar a implorar a ele para me abraçar, para me amar. Eu não tinha decidido se ainda estava com raiva dele e também não estava pronta para perdoá-lo. Ele tinha fodido tudo, mas eu suspeitava que houvesse algum segredo terrível em seu passado que o fez agir da maneira que ele agiu. Eu queria que ele se explicasse, me ajudasse a entender por que ele pulou para a pior suposição possível sem primeiro confiar no meu amor por ele. Mas ainda não. Ainda ajoelhado ao lado da banheira, ele perguntou: — Posso
lavar seu cabelo? A pergunta me surpreendeu. Ninguém lavava meu cabelo desde que eu era criança. Desejando seu toque, eu balancei a cabeça e suavemente disse: — Sim. Ele pareceu aliviado por minha aceitação de sua oferta. — Você quer que eu pegue seu shampoo e condicionador? Eu balancei minha cabeça. — O que quer que esteja nessa cesta está bom. Ele pegou os frascos de tamanho reduzido que precisava. Enquanto abria um deles, eu deslizei ainda mais fundo na banheira, deixando a água cobrir meu rosto por alguns momentos para molhar completamente meu cabelo. Quando me sentei e limpei os olhos com a mão ilesa, ele chegou mais perto e cautelosamente se aproximou de mim. Ele esperava que eu reagisse como um cachorro ferido? Que o atacasse e o mordesse? Fechei meus olhos e foquei na sensação de seus dedos deslizando pelo meu cabelo e ensaboando o shampoo. O cheiro de frutas cítricas e óleo da árvore do chá encheu o ar. Enquanto Besian massageava meu couro cabeludo, a tensão em meus ombros e pescoço começou a se dissipar e eu relaxei contra a banheira. — Pronta para enxaguar? — Ele perguntou baixinho. — Sim. — Eu escorreguei na água novamente, desta vez apenas cobrindo meus ouvidos. Besian agitou cuidadosamente meu cabelo sob a água, retirando o shampoo espumoso que grudava nas mechas. Eventualmente, ele acenou com a cabeça e me sentei novamente. Ele passou condicionador no meu cabelo e o deixou agir por um tempo.
— Posso lavar você? — Seus olhos escuros brilharam de esperança. — Sim. — Eu não queria nada mais do que sentir suas mãos em mim novamente. Quando ele estendeu a mão para o pano, eu falei. — Não. Use suas mãos. Ele engoliu em seco e fez o que eu pedi, passando a pequena barra de sabão entre as palmas das mãos. Eu coloquei meu cabelo sobre meu ombro e sentei para frente, puxando meus joelhos em direção ao meu peito. Ele começou pelas minhas costas, deslizando suas mãos espumosas sobre minha pele. Ele massageou suavemente meus ombros e pescoço, seu toque não mais clínico e distante. Inclinei-me em suas mãos, silenciosamente incitando-o a continuar. — Quantos pontos? — Ele perguntou, sua voz ainda baixa enquanto suas mãos deslizavam ao longo dos meus braços. — Sete. — Respondi, tirando minha mão ferida da água. — Tive sorte. Não foi muito profundo. Ele fez um som estrangulado enquanto ensaboava as mãos novamente. — Eu não chamaria de sorte nada do que aconteceu na noite passada. — Parte foi. — Eu murmurei, pensando sobre o quão perto Stefana esteve de ser estuprada. — Você sabe o que aconteceu com Stefana? Depois que eu saí? — Eu não sei. — Ele lavou cuidadosamente meu pescoço antes de sua mão descer pelo meu peito. Nossos olhares se encontraram quando ele se aproximou dos meus seios, e ele parou, aparentemente incerto se ainda poderia me tocar ali. Sustentando seu olhar inseguro, agarrei seu pulso com minha mão boa e o movi para mais perto de meu seio. Ele exalou um suspiro trêmulo e gentilmente espalmou meu seio.
Soltando sua mão para que pudesse terminar o trabalho, perguntei: — O que aconteceu com o homem que apunhalei? — Você realmente quer saber? Eu olhei para o rosto dele. Seu olhar me disse tudo. Não querendo ouvi-lo dizer as palavras, eu balancei minha cabeça. — Não, acho que não. — Aparentemente, Stefana não foi a primeira mulher que ele machucou. — Explicou Besian. — Ele tem um histórico de espancamento e estupro de mulheres. Seu pai é um político, então... — Ele franziu a testa. — Ter um pai rico e conectado funciona em qualquer lugar. — Infelizmente. — Eu concordei, odiando que fosse verdade. — Ele nunca mais machucará ninguém. — Observou Besian pragmaticamente. — Ele precisaria das duas mãos para isso. Meu olhar se desviou para o rosto dele e vi o breve micro sorriso ali. Ele claramente aprovava a justiça que fora feita pela família de Stefana. — E quanto ao segurança? Quando saí do hospital, ele estava fazendo uma cirurgia. — Ermir? — Ele balançou sua cabeça. — Não sei. Eu posso checar. — Se você não se importa. — Eu não me importo. — Ele ensaboou as mãos novamente e começou a lavar minha perna direita. Começou no meu joelho e desceu até o meu pé ainda latejante. Ele foi ultra cuidadoso enquanto lavava meu calcanhar e dedos dos pés machucados. Quando colocou meu pé de volta na água, ele perguntou: — O que aconteceu com Andres? — Zec providenciou para que ele voasse de volta para Barcelona
com o irmão. Ele precisa de cirurgia. — A culpa pelo que aconteceu com ele voltou rugindo à vida. — Ele só estava tentando ajudar e se machucou gravemente. É tão injusto. — Ele provavelmente não vê dessa forma. Ele ajudou a salvar Stefana. Para ele, tenho certeza de que foi uma troca justa pela chance de proteger vocês duas. — No meu silêncio atordoado, ele perguntou: — O quê? — Estou apenas surpresa que você não tenha aproveitado a oportunidade para dizer algo maldoso sobre ele. Besian corou e manteve o olhar grudado no meu joelho esquerdo. — Eu não deveria ter feito isso. Eu não deveria ter sido tão idiota com ele. — Não, você não deveria. — Vou me desculpar com ele. — Prometeu. — Vou consertar. — Obrigada. Besian balançou a cabeça. — Não me agradeça por fazer a coisa certa. Ele estava lá para defender você ontem à noite, e eu não. Eu mesma deveria tê-lo levado para fora daquele clube para retribuí-lo por mantê-la segura. Eu estremeci quando ele lavou meu pé e tocou uma das bolhas feridas. Comecei a perguntar por que ele havia pensado imediatamente o pior de mim, mas ele se antecipou. — Agi como uma criança na noite passada. — Ele cuidadosamente colocou meu pé de volta na água. — Eu o vi lá, parecendo o que ele era, seu maldito cavaleiro de armadura brilhante, e eu enlouqueci. Deixei meu medo assumir. Reagi como um idiota ciumento. — Ele se apoiou na banheira e baixou a cabeça. — Eu
prometi a você que iria mantê-la segura, e não mantive. Eu deveria ter estado com você na noite passada e não deveria ter deixado você voltar para casa sem mim. Eu deveria saber que Drita faria algo ultrajante. Oprimida por sua confissão, eu não tinha certeza de como reagir ou o que dizer. Precisando de um momento, deslizei para baixo da água e lavei meu cabelo com a mão ilesa. Quando me sentei, Besian tirou meu cabelo do rosto e enxugou meus olhos e nariz com a toalha branca imaculada. Estávamos tão perto que eu podia sentir sua respiração na minha pele. Ele parecia desamparado, profundamente arrependido pela maneira como havia se comportado. — Pedir desculpas não é suficiente. — Eu finalmente disse. Ele se encolheu como se eu o tivesse golpeado e estendi a mão para tocar seu rosto, apoiando minha mão em sua bochecha com barba por fazer. — Mas é um bom começo. Seu olhar estalou para o meu. A esperança brilhou em suas íris escuras. — Diga-me o que preciso fazer para consertar isso, Marley. — Bem. — Eu disse, me sentindo mais à vontade com ele novamente. — Você pode começar me tirando desta banheira. — Eu mostrei a ele as pontas dos meus dedos. — Estou ficando toda enrugada. Ele sorriu e acenou com a cabeça. Com muito cuidado, ele me ajudou a levantar e enrolou uma das toalhas fofas em volta dos meus ombros. Ele me tirou da banheira e eu deslizei meu braço sobre seus ombros e coloquei meu rosto em seu pescoço. Ele me colocou na cama e voltou ao banheiro para esvaziar a banheira. Ele trouxe outra toalha e me ajudou a enrolar meu cabelo molhado antes de secar suavemente o resto do meu corpo. Nua, mas completamente confortável, sentei-me na beira da cama enquanto ele se ajoelhava no chão. Ele abriu meu kit de primeiros
socorros e pegou as coisas que precisava para tratar meus pés. Ele demonstrou ternura ao passar cuidadosamente pomada antibiótica em minhas bolhas e colocar curativos nas mais feias. — Está bom? — Ele esperou que eu inspecionasse meus pés. — Sim. — Eu sorri agradecida para ele. — Obrigada. Ele deu um beijo hesitante no meu joelho direito antes de se levantar e recolher o lixo e o kit de primeiros socorros. — Quer que eu encontre um pijama na sua bagagem? — Não. — Tirei a toalha do meu cabelo e a estendi para ele. — Estou muito cansada para lidar com tudo isso. Seu olhar foi para minhas curvas nuas enquanto ele tirava a toalha do meu cabelo e a outra que estava enrolada no meu corpo. Ele rapidamente desviou o olhar, como se não tivesse mais o direito de me ver nua. Parte de mim ficou feliz em ver que ele entendeu que os limites entre nós haviam mudado depois da nossa discussão. Uma parte maior gostaria que ele apenas me agarrasse e me beijasse. Eu o observei carregar as toalhas molhadas para o banheiro e, em seguida, reorganizar os travesseiros na cama antes de deslizar para baixo das cobertas. Meu corpo cansado afundou no edredom luxuoso da cama, e decidi que se eu não acordasse antes de escurecer, estaria tudo bem. Besian saiu do banheiro prendendo o relógio no pulso. — Você precisa de mais alguma coisa antes de eu ir? — Você está indo? — Sentei-me rapidamente e as cobertas caíram do meu peito, expondo meus seios nus. Não querendo que ele fosse ainda, eu insisti: — Você pode ficar. Ele olhou para a porta do quarto e depois de volta para mim.
— Você deixou bem claro antes que queria que eu fosse embora. — Eu estava com raiva antes. Não estou com raiva agora. — Vendo como ele parecia péssimo, eu disse: — Você parece um morto-vivo. Não é seguro dirigir todo o caminho de volta para casa assim. — Não, não é. — Ele concordou, seus olhos inchados e cansados. — Eu fico com o sofá. Eu não tinha certeza se queria isso, mas ele não me deu a chance de discutir. Ele entrou no banheiro e fechou a porta, deixando-me aninhada de volta na cama. Quanto mais tempo ele ficava longe, mais eu o queria perto de mim. Quando ele saiu do banheiro com uma toalha na cintura, tomei minha decisão. Estendendo minha mão, eu disse: — Venha para a cama. Ele hesitou. — Tem certeza? — Eu não pediria se não tivesse. — Mexi meus dedos e ele agarrou minha mão e entrelaçou nossos dedos. Eu o puxei para mais perto. — Me abrace. Ele soltou um suspiro de alívio e jogou a toalha de lado. Ele deitou na cama comigo e se aninhou nas minhas costas. Envolveu os dois braços em torno de mim e me puxou para perto. Ele pressionou sua bochecha na minha e eu inalei uma respiração purificadora, sentindo-me finalmente completa depois de uma noite e uma manhã separados. Ficamos assim por um tempo, calados e pensativos. Era tão bom compartilhar o calor de seu corpo, ter sua pele pressionada contra a minha. Estável. Firme. Seguro. — Minha
mãe
me
odiava.
— Confessou
Besian
inesperadamente. — Ela odiava todos nós, mas mais a mim. Sem saber como responder ou se ele queria que eu respondesse, fiquei quieta. Muito ternamente, acariciei seu braço, fazendo-o saber que eu estava ouvindo, se ele quisesse continuar falando. — Nosso pai era um completo bastardo. Ele e sua família tinham uma rivalidade de longa data com a família de nossa mãe. Tudo se complicou, e ele exigiu a filha mais nova deles como pagamento por uma trégua. Ela tinha apenas dezessete anos e ele quase quarenta. Eu não conseguia nem imaginar ser forçada a casar com meu inimigo, quanto mais casar com um homem com idade suficiente para ser meu pai. Suprimi um estremecimento com o pensamento. — Eu era o mais novo. — Ele disse, sua voz rouca. — O pai de Luka e Rina era o mais velho. O pai de Ben nasceu em seguida. Eu vim por último, mas não estava sozinho. — Você tinha um gêmeo? — Eu perguntei suavemente. — Eu tinha uma irmã, mas ela morreu dentro da minha mãe. Meu cordão a estrangulou, e minha mãe nunca me perdoou. Ela fez questão de me dizer todos os dias o monstro que eu era. Ela nunca perdeu a chance de me bater ou me trancar no armário ou de encontrar maneiras de me humilhar. Eu podia ouvir seus dentes rangendo com as memórias terríveis, e meu coração se partiu por ele. — Quando nosso pai morreu, nossos tios não a deixaram levar todos nós embora. Ela decidiu deixar meus irmãos para trás, mas me levou com ela. Eu era tão estúpido. Achei que ela me queria porque me amava, mas ela me levou junto porque queria que eu sofresse. — Ele estremeceu e inalou uma respiração instável. — A família dela caiu na pobreza. Meus avós eram velhos e doentes. Ela não me deixou ir para a
escola. Tive que ficar naquela casa horrível e cuidar dos meus avós. Lavá-los, alimentá-los, levá-los ao banheiro. Eu podia ouvir a turbulência em sua voz. Uma criança nunca deveria ter sido deixada para esse tipo de tarefa. Ele deve ter ficado dividido entre o amor pelos avós e a repulsa por ter que lidar com coisas tão pessoais. — Ela me fazia ir com ela à noite, ficar do lado de fora do quarto que ela alugava e tirar dinheiro dos homens que a pagavam por sexo. — Ele engoliu em seco de forma audível e seus braços se apertaram ao meu redor. Prendi a respiração, com medo do que ele diria a seguir. — Uma vez.... — Ele começou e parou. — Uma vez, ela deixou um homem pagar por mim. Ele queria... — Besian parou. — Ele tentou... — Ele parou novamente. — Ele não conseguiu e ficou com raiva. Ele me bateu até meus olhos ficarem tão inchados que eu não conseguia ver. Minha mãe riu quando me encontrou. Eu nunca a tinha ouvido rir daquela maneira. Ela estava contente. Alegre. Ela me disse que a única coisa que a teria deixado mais feliz seria se ele tivesse me matado do jeito que eu matei sua filha. Horrorizada, me virei em seus braços e me certifiquei de que estávamos cara a cara em cima do travesseiro. Segurando sua mandíbula, sussurrei: — Não foi sua culpa, Besian. — Eu sei disso agora, mas quando eu era pequeno? — Ele balançou sua cabeça. — Carreguei aquela mancha comigo para todos os lados. Ela me amaldiçoou como um assassino no dia em que nasci. Ela me dizia constantemente como eu era inútil. Disse-me que nenhuma mulher jamais me desejaria ou me amaria. A fúria cresceu dentro de mim com o pensamento de sua mãe tratando-o tão terrivelmente por algo que ele não conseguia controlar. — Você era apenas um garotinho. — Eu acariciei seu rosto. — Um menino doce que não merecia nada disso. Ela era um monstro!
Sua boca se contraiu com diversão. — Parece que você quer dar um soco no rosto dela. — Diga-me o endereço dela e eu farei isso. Seu olhar suavizou e ele beijou minha palma. — Ela está morta há mais de vinte anos, mas você pode ir pisar no túmulo dela se quiser. — Vou fazer mais do que pisar nele. — Ameacei. Acariciando seu rosto, eu disse: — Você não é inútil, Besian. — Eu o beijei castamente. — E você é desejado. — Eu o beijei novamente. — E amado. Besian deu um suspiro entrecortado. Ele começou a chorar e isso me surpreendeu. Ele tentou se virar, para esconder seu rosto e sua explosão emocional, mas eu não o deixei. Envolvi meus braços em torno de seus ombros e o puxei para mais perto. — Venha aqui. Está tudo bem. — Sinto muito pelo que aconteceu com você. — Ele enterrou o rosto na curva do meu pescoço e ombro. — Estou tão envergonhado de como agi ontem à noite. Eu vi você com Andres, e foi como se tudo que minha mãe tivesse me dito desabasse na minha cabeça. Como uma mulher como você pode me amar? — Facilmente. — Eu respondi, beijando sua bochecha. — É a coisa mais fácil do mundo amar você, B. — Eu não mereço o seu amor. — Shhh. — Eu sussurrei com força. — Sim, você merece. — Eu te decepcionei ontem à noite. Eu te desapontei. Eu provei que não sou um homem com quem você pode contar. — Ele continuou, deixando todos os seus medos jorrarem em uma onda crua de emoção.
— Fiquei decepcionada e frustrada. — Admiti. — Mas você provou que posso contar com você indo à delegacia, me trazendo até aqui, me dando banho, medicando meus pés, me abraçando, me contando a sua verdade. Alisei seu cabelo úmido para trás e gentilmente pressionei até que ele estivesse olhando para mim novamente. — Besian, não espero perfeição de você. Somos humanos e vamos cometer erros. Nós vamos bagunçar as coisas. Nós vamos discutir. Vamos ferir os sentimentos um do outro. Beijei sua testa e a ponta de seu nariz e, em seguida, pressionei suavemente meus lábios nos dele. — Nossos pais nos machucaram, mas isso não significa que temos que viver vidas arruinadas ou permanecer em sofrimento. Podemos resolver essas coisas, sabe? Como o centro automotivo de Ben. — Tentei um pouco de humor. — Consertar os amassados e repintar os arranhões. — Não sei se há massa de poliéster suficiente no mundo para me consertar. — Respondeu ele com uma risada áspera. — Não descobriremos se não tentarmos. — Limpei as lágrimas de suas bochechas e enxuguei seu rosto molhado com o lençol de cima. — Eu quero tentar. Ele fez um som que partiu meu coração antes de me abraçar. Ele pressionou sua bochecha contra a minha. — Eu te amo, Marley. Eu te amo muito. Eu derreti no berço seguro de seus braços fortes. — Eu te amo, B. Nós ficamos agarrados por um longo tempo antes de finalmente mudarmos para uma posição mais confortável. Ele se virou de costas e me puxou para cima dele. Contente e relaxada, ouvi seu batimento
cardíaco e apreciei o suave subir e descer de seu peito. Ele adormeceu antes de mim, dando-me algum tempo para pensar sobre tudo o que ele havia dito. Saber o que ele havia sofrido quando criança me ajudou a entender seu comportamento confuso. Eu quis dizer o que disse sobre resolver as coisas e trabalhar em nós mesmos. Eu só podia imaginar o quão resistente ele seria à terapia, mas decidi que teria que ser uma condição para ficarmos juntos. Mesmo que ele fosse apenas duas ou três vezes, seria melhor do que nada. Eu queria que ele se curasse, que aprendesse a deixar que os outros o amassem e que acreditasse nesse amor. Eu queria um futuro com ele que incluísse uma família, e não podíamos continuar o ciclo de disfunções que tínhamos sobrevivido quando crianças. Tínhamos que ser melhores do que isso. Embalada para dormir pelo ritmo de seus batimentos cardíacos, me senti calma e feliz. Estávamos juntos como parceiros e amantes, e eu estaria condenada se deixasse alguém tentar nos separar novamente.
CAPÍTULO 20 Quando Besian acordou mais tarde com o som de um telefone vibrando contra a madeira, ele esperava verificar a hora e ver que apenas algumas horas haviam se passado. Sua contínua insônia e dificuldade de ter um sono tranquilo o haviam treinado para sempre esperar o pior. À primeira vista, ele desconsiderou o que estava vendo e esfregou os olhos antes de olhar novamente. Nove horas. Ele dormiu por nove horas seguidas. Atordoado, ele caiu de volta na cama e se virou para Marley. Ainda profundamente adormecida, ela estava encolhida de lado com o nariz pressionado contra o peito dele. Não querendo acordá-la quando ela estava dormindo tão bem, ele cuidadosamente se afastou e fez questão de puxar as cobertas até seu queixo para mantê-la aquecida. Ele encontrou o telefone ao lado do relógio e das abotoaduras. Olhando para a tela, viu meia dúzia de mensagens de Luka, Rina e Zec. A chamada perdida era de Zec. Ele pegou sua calça e vestiu-a antes de levar o telefone para a sala de estar da suíte. Ele fechou a porta do quarto e ligou para Zec, que atendeu no segundo toque. — Você está vestido? — Zec murmurou. — Mais ou menos. — Ele resmungou. — Por quê? — Estou chegando com sua bagagem. — Como você...? — Você vai me perguntar isso? O homem que encontrou Marley
nas montanhas e deu a você a hora e o endereço exatos em que ela estaria descendo de um ônibus? Zec tinha razão. — Seja silencioso quando você bater. Marley ainda está dormindo. Zec riu sombriamente. — Fazer as pazes é exaustivo. Ele resmungou e desligou a ligação, sem nenhuma disposição de compartilhar quaisquer detalhes pessoais com seu amigo mais antigo. Enquanto esperava por Zec, ele verificou as mensagens em seu telefone e as respondeu. Lendo as mensagens de Luka e Rina, ficou feliz por não estar em casa ouvindo os dois brigarem por causa do namorado dela. Não que Luka devesse ter ficado chocado com Rina quebrando as regras! Claro que ela iria se rebelar com todas as regras que ele impôs a ela. Uma batida suave na porta chamou sua atenção. Ele colocou o telefone de lado e verificou o olho mágico antes de abrir a porta e conduzir Zec para dentro. Ele ignorou a sobrancelha levantada de Zec para seu estado meio vestido e descalço e pegou a mala dele. — Obrigado. — Vejo que cheguei na hora certa. — Zec gesticulou para seu peito nu. — A menos que você planeje assustar o resto dos hóspedes do hotel andando por aí assim. — Você terminou? — Ele perguntou, cansado. — Suponho que sim. — Zec entregou uma sacola de uma farmácia. — Aqui. Besian aceitou a sacola e olhou dentro dela. Curativos, gaze e outros itens de primeiros socorros faziam sentido, considerando a mão de Marley, mas havia algo mais na sacola que o fez franzir o cenho. Ele pegou o pacote gigante de preservativos da sacola e a ergueu. — Sério?
Zec encolheu os ombros. — Arrumei sua bagagem e não vi nenhum. Achei que você gostaria de estar preparado para sua lua de mel. — Ele fez uma pausa e olhou para a porta fechada do quarto. — Se o casamento ainda estiver de pé...? Aborrecido, ele enfiou o pacote de preservativos de volta na sacola. Relutantemente, ele admitiu: — Não tenho certeza sobre o casamento. — Bem, você tem algum tempo para decidir. Conseguimos marcar um horário para você na embaixada amanhã de manhã às nove. Pego de surpresa, Besian perguntou: — Será que eu quero saber como você conseguiu isso? — Surpreendentemente, não houve suborno. — Admitiu. — Sua licença de casamento, no entanto, é outra história. — Quanto? Zec acenou com a mão. — Luka está bancando o custo desse arranjo. Francamente, é o mínimo que ele pode fazer depois do que Drita fez. — Ele olhou para a porta do quarto novamente. — Ela está bem? — Ela vai ficar. — E você? — Zec olhou para ele com interesse. — Você parece mais relaxado. — Nós conversamos. — Ele engoliu em seco, lembrando-se da maneira como havia desnudado sua alma para ela. — Sobre minha mãe. Os olhos de Zec se arregalaram. — Eu vejo. — Eu dormi. Durante nove horas.
— Sem pesadelos? — Nenhum. — Huh. — Zec olhou para o quarto. — Bem, talvez o amor realmente seja a resposta. Besian fez uma careta com a resposta sentimental e provocadora de Zec. — Algo assim. — Estou feliz que você conseguiu falar com ela. — Zec disse, não mais provocando ou tirando sarro. — Ter uma parceira como ela... — Ele limpou a garganta. — Você é um homem de sorte. — Eu sou. — Concordou Besian. Não pela primeira vez, ele se perguntou se Zec estava se sentindo solitário. Pelo que Besian sabia, seu amigo nunca tivera um relacionamento de verdade. Isso não queria dizer que Zec vivia como um monge celibatário. Não, ele fodia. Bastante. Demais. Violentamente. Com mulheres que lhe serviam e apreciavam seus gostos incomuns. Não o tipo de mulher com quem você namoraria ou se casaria, obviamente. O tipo que Alina reservava discretamente por algumas horas e a um preço exorbitante. — Se você tiver a papelada da embaixada resolvida amanhã de manhã e a licença assinada e carimbada depois disso, Luka providenciará para que você se case no dia seguinte, se quiser. — Vou falar com Marley. — Estou a caminho de Moscou, mas posso voltar amanhã à noite, se for preciso. Para ser sua testemunha. — Zec acrescentou. — Se você me quiser lá. — Claro que eu quero você lá. Você é meu melhor amigo. Quem mais eu teria ao meu lado quando me casasse com Marley? Zec encolheu os ombros. — Luka.
Besian gargalhou. — Aquele idiota tem sorte de sermos uma família agora. O último lugar onde quero que ele fique ao meu lado enquanto faço meus votos a Marley. — E Marley? Quem estará ao lado dela? — Não Aston. — Ele disse calmamente. — Ainda dá tempo de trazê-la aqui. Ele balançou sua cabeça. — Marley disse a Aston para ficar em casa. Ela não quer que ela viaje sozinha durante a gravidez. É uma longa viagem. — Rina? — Provavelmente. — Está uma confusão dos diabos lá em casa. — Zec comentou. — Drita ainda estava chorando quando eu estava arrumando seu quarto. Rina e Luka ficaram gritando um com o outro o dia todo. Ele descobriu que os seguranças que a acompanham sabiam do namorado o tempo todo. Besian enxugou o rosto com a mão. — Pelo amor de Deus! — Rina estava certa sobre o que ela disse. Se Luka não pode controlar sua casa, ele não pode controlar os negócios da família. Se houver vazamentos, todos corremos risco. — E o que você propõe que façamos sobre isso? — Besian perguntou, já temendo a resposta. Eles compartilharam um olhar demorado. Por fim, Zec disse: — É uma pena que Rina não tenha nascido homem. Ela tem a coragem e o cérebro para isso.
Lembrado da palestra de Marley sob as oliveiras, ele suspeitou que Zec estava certo. — Rina quer ir para Houston para estudar. — Ótimo. Ela deve ir o mais rápido possível. Luka pode se concentrar nos negócios e Rina pode aprender a ser mais independente. Talvez se eles passarem algum tempo separados, vão entender o quão importante é a família. — Ou Rina decidirá que nunca mais quer voltar. — Advertiu Besian. Zec encolheu os ombros. — Essa decisão é dela. Os sons do quarto chamaram a atenção deles, interrompendo a discussão sobre Luka e Rina. — Essa é a minha deixa para sair. — Zec decidiu e girou para a porta. — Tente ficar longe de problemas até eu voltar. — Sem promessas. — Ele fechou e trancou a porta atrás de Zec. Ele deixou a sacola da farmácia na mesa mais próxima e levou a mala para o quarto. — Era o Zec? — Marley perguntou ao sair do banheiro com um dos roupões brancos do hotel. — Ele trouxe minha bagagem. — Isso foi legal da parte dele. Ele riu sombriamente. — Eu acho que ser legal não foi sua motivação. Ele estava procurando por qualquer motivo para se afastar de Rina e Luka. — Por quê? — Esta manhã, quando todos estavam brigando sobre o que
havia acontecido com você, Rina jogou uma bomba em Luka. Marley arfou. — Ela contou a ele sobre Niklas? — Ela contou. — Oh meu Deus! — Ela estremeceu. — Quão ruins as coisas ficaram depois disso? — Nada bem. — Eu ia te contar. — Ela insistiu. — Eu disse a Rina que não poderia esconder segredos de você. Ele acenou com a mão. — Mesmo se você tivesse, eu teria entendido. Não era o seu segredo para contar. Marley deu um suspiro de alívio. — Que bom que você entende. Eu estava tão chateada com isso. — Ela cautelosamente caminhou, evitando cuidadosamente colocar muita pressão nas bolhas. Quando ela alcançou a cama, deslizou de volta para debaixo das cobertas. — Há quanto tempo você está acordado? — Não muito tempo. — Ele colocou sua mala ao lado da dela, mas não se incomodou em se vestir. Ele tinha outras coisas em mente agora. — Você acha que poderíamos pedir o serviço de quarto aqui? — Ela perguntou timidamente. — Estou morrendo de fome, mas realmente não quero andar para lugar nenhum. — Acho que o serviço de quarto é uma ótima ideia. — Ele subiu na cama ao lado dela e abriu os braços, silenciosamente convidando-a a se aproximar mais. Ela foi de bom grado, pressionando beijos em seu peito e pescoço antes de descansar sua bochecha contra ele. Ele passou os dedos pelos cabelos macios dela. — Como você está se sentindo?
— Muito melhor. — Ela disse. — Mas não pretendo sair da cama tão cedo. — Isso é uma coisa boa porque não pretendo deixá-la sair tão cedo. — Oh? — Ela traçou uma das penas nas asas escuras da águia negra tatuada em seu peito. — Parece que me lembro de uma promessa que fiz ontem à noite, antes de você sair de casa. O dedo dela congelou no peito dele. Ela ergueu o olhar para encontrar o dele, faminto, e o mais bonito rubor cor de rosa se espalhou por suas bochechas. — Você não precisa. — Ela insistiu, obviamente envergonhada. — Eu sei que você estava apenas brincando. — Eu não estava brincando. — Ele inclinou o queixo dela, sem lhe dar chance de desviar o olhar. — Eu quero que você sente no meu rosto. Ela engoliu em seco. — Agora? — Em breve. — Ele disse e capturou sua boca em um beijo carinhoso. Ela relaxou contra ele, e ele saboreou a sensação de seu corpo flexível pressionando contra o dele. Ele não sabia como teve tanta sorte de encontrar uma mulher capaz de tanto amor e altruísmo, com tanta capacidade de perdoar. Ela não iria usar a briga deles contra ele pelo resto de sua vida. Ela não iria usá-la para acusá-lo em discussões futuras. Ela perdoava da mesma forma que amava – totalmente e sem reservas. Ele levou seu tempo beijando-a. Não havia motivo para pressa e ele queria amá-la do jeito que ela merecia. Depois de toda a dor que ele causou a ela, devia-lhe tanto prazer quanto pudesse proporcionar. Ele a jogou de costas e desamarrou rapidamente o roupão fofo.
Ela riu enquanto ele soltava seus braços e se insinuava entre suas coxas. Ele golpeou a língua contra a dela e arrastou as unhas por suas costelas, fazendo-a estremecer e uma explosão disparar em seus sentidos. Ele beijou ao longo do queixo e beliscou o pescoço dela, deixando pequenos arranhões e mordidas que a fizeram ofegar e arranhar seu ombro. Ciente de sua mão ferida, ele se moveu para baixo no corpo dela, depositando beijos aqui e ali. Seus seios ganharam a maior parte de sua atenção. Seus mamilos pareciam especialmente sensíveis hoje, e ela ofegou quando ele passou a língua sobre os picos endurecidos e os sugou suavemente. Ela passou os dedos pelo cabelo dele, puxando-o enquanto ele passava os dentes por seu mamilo. — B! Ele sorriu e voltou para sua boca, reivindicando-a com um beijo possessivo. Sua mão serpenteou pela barriga dela, e suas pernas se abriram enquanto ele descia mais. Ela estava encharcada para ele, sua boceta quente e pronta. Ele acariciou entre seus lábios, circulando levemente seu clitóris antes de deslizar mais e mergulhar em sua entrada. Ela estremeceu com a intrusão e balançou os quadris. Suas línguas se enredaram enquanto ela a fodia lentamente com os dedos, curvando-os suavemente até ela estremecer e ofegar. — B. — Ela choramingou. — Por favor. Depois de tudo que ela havia passado, não havia razão para fazêla esperar mais pelo que ambos queriam. Ele retirou cuidadosamente os dedos e se certificou de sustentar o olhar escandalizado dela enquanto os lambia. Ela respirou mais forte com a visão, e ele mal podia esperar para ver como ela reagiria se ele a tivesse exatamente onde a queria. Ele se deitou de costas e estendeu a mão para ela. — Venha aqui. Ela hesitou, sua timidez superando seu desejo. Ele deslizou um braço em volta da cintura dela e segurou sua bunda, puxando-a para cima dele. A respiração dela ficou mais rápida, a excitação do momento
fazendo seu peito arfar e seus olhos brilharem de excitação. Ela engoliu em seco nervosamente e então permitiu que ele a guiasse mais acima em seu corpo. Ele jogou os travesseiros de lado, abrindo mais espaço para eles, e escorregou alguns centímetros da cabeceira da cama. Ela parou quando sua boceta estava a tentadores centímetros da boca dele. Abaixando-se, ela afastou mechas do cabelo dele e perguntou: — E se eu te sufocar? — Então eu vou morrer um homem muito feliz. — Ele beijou a parte interna das coxas dela. — Não consigo imaginar uma maneira melhor de morrer. Ela deu um puxão no cabelo dele. — É sério! Ele riu e raspou os dentes ao longo de sua coxa sensível, puxando outro suspiro dela. — Estou falando sério. Deixe que eu me preocupo com a respiração. Você se preocupa em se sentir bem. Ela mordeu o lábio inferior. — Como? Ele lambeu uma longa linha na parte interna de sua coxa e sorriu ao sentir seus músculos flexionando. — Você é uma mulher brilhante, Marley. Tenho certeza que você vai descobrir. Antes que ela pudesse atrasar com mais perguntas, ele deslizou os dois braços entre suas pernas e agarrou seus quadris. Ele a puxou o resto do caminho em direção a sua boca e acariciou sua boceta. Estremeceu quando seu nariz e então seus lábios tocaram o clitóris dela. A pequena pérola estava inchada e rígida, praticamente implorando por sua atenção. E ele estava feliz em dar toda a atenção necessária. Aos poucos, Marley relaxou enquanto a língua dele mapeava sua
boceta. Ela fez sons suaves de gatinho, e ele os usou como um guia para o que parecia melhor para ela. Ele alternou longos golpes com círculos mais concentrados, apenas apreciando o gosto e a sensação dela até que sua respiração acelerou e seus gemidos se intensificaram. Com as mãos em sua bunda incrível, ele agitou a língua sobre seu clitóris. Ele não se importava se tivesse uma cãibra no pescoço ou perdesse toda a sensibilidade na língua. Ele não pararia até que ela gozasse. Seu próprio batimento cardíaco acelerou quando ela fez sons selvagens e começou a balançar para frente e para trás, pressionando sua boceta contra a língua e lábios dele. — Besian! — Ela chegou ao clímax gritando seu nome. Ela agarrou seu cabelo com uma mão e cavalgou seu rosto através das ondas de seu orgasmo. Mas quando ela caiu para frente sobre os cotovelos e antebraços, aparentemente sobrecarregada, ele não a deixou escapar. Ela tentou se soltar, mas ele a segurou com força pela cintura e ordenou rispidamente: — Fique. — B. — Ela choramingou. — Eu não posso continuar. — Você pode. — Seu pau latejava, e uma labareda de calor e necessidade percorreu sua virilha enquanto ele corria a língua ao longo de sua boceta. Ele manteve seus golpes longos e lentos e evitou o clitóris ainda sensível dela. Ela protestou mais um pouco, estremecendo acima dele, mas ele não parou. — Besian. — Ela gemeu, sua voz baixa e rouca. — Oh meu Deus. Não pare. Ele sorriu enquanto ela implorava tão lindamente. Ele deslizou dois dedos dentro dela, trabalhando-os em seu calor sem qualquer pressa. Apenas as pontas para algumas estocadas e depois mais e mais
fundo até ela gemer. Montada nos dedos dele, ela balançou a boceta contra sua boca. Senti-la assumir o controle e usá-lo para seu prazer o deixou duro como pedra. Seu pau pulsava com raiva contra o zíper de suas calças, mas ele não lhe deu atenção, negando a si mesmo a fricção e o toque que desejava desesperadamente. Tratava-se de Marley e seu prazer. Adicionando um terceiro dedo, ele ganhou um rosnado baixo no delicioso alongamento. Quando ele chupou seu clitóris, ela gritou, mas não tentou se afastar. Ele continuou fazendo isso, sugando e puxando seu clitóris entre os lábios, até que suas coxas tremeram em cada lado de sua cabeça. Ele agitou sua língua sobre o botão inchado e empurrou um pouco mais rápido e mais fundo com os dedos. Marley começou a repetir seu nome como se fosse uma ladainha religiosa. Ele queria gravar aquele apelo rouco e desesperado em seu cérebro. Ele moveu a língua em círculos mais rápidos e mais forte e manteve o mesmo ritmo com os dedos. Ela apertou seus dedos com sua boceta, e seu corpo inteiro tremia descontroladamente enquanto ela chegava ao clímax. Com um soluço estrangulado, ela gozou. Ela jorrou em torno de seus dedos e gritou seu nome. Ele agarrou sua bunda e continuou empurrando e lambendo enquanto ela balançava e estremecia acima dele. Somente quando ela implorou por misericórdia que ele parou. Marley caiu para o lado. Os dedos dele ainda estavam enterrados profundamente dentro dela, e ele os deixou lá para que pudesse sentir os tremores de seu orgasmo. Ele beijou sua barriga e umbigo e depois subiu em direção aos seios. Um rubor rosado havia se espalhado por sua pele, e ele se maravilhou com a constelação de sardas em seu pescoço. Marley segurou o rosto dele com as duas mãos. Seus olhos
vidrados procuraram os dele e ela sorriu sonolenta. Ela esfregou o nariz contra o dele antes de beijá-lo. Enquanto suas línguas se enredavam, ele retirou suavemente os dedos de seu corpo, ganhando um gemido e um estremecimento dela. Ela pressionou a testa contra a dele e sussurrou: — Por favor, me diga que isso não está apenas no menu de sexo de reconciliação. A risada explodiu da garganta dele. — Não, rrushe, está no menu do dia todo, todos os dias, 24 horas por dia, 7 dias por semana. — Se eu tivesse alguma dúvida sobre perdoá-lo, isso selaria o acordo. — Ela provocou antes de beijá-lo novamente. Ele se perdeu no deslize sensual de seus lábios nos dele. Os dedos não enfaixados da mão ferida dela acariciaram seu rosto e traçaram o contorno de sua orelha. A mão dela moveu-se ainda mais para baixo em seu pescoço e ao longo de seu peito antes de mergulhar em seu umbigo e, em seguida, viajar para o botão de sua calça. — Você vai ter que me ajudar. Ele não precisava que ela pedisse duas vezes. Desabotoou e abriu o zíper da calça e a ajudou a puxá-la para baixo e tirá-la de seus quadris. Ele os chutou para os pés da cama, dando espaço para ela brincar. Ela espalhou beijos por seu peito e abdômen. Ela lambeu um caminho lento e sinuoso de seu umbigo até a base de seu pau, puxando um gemido profundo de seu peito. Quando ela envolveu os lábios em torno dele e deslizou fundo, ele enfiou os dedos por seu cabelo sedoso e enrolou-o frouxamente em torno de sua mão. Ela olhou para ele, e a visão dela sorrindo com seu pau em sua boca quase o fez gozar ali mesmo. Com um gemido de prazer, ele decidiu que provavelmente demoraria muito, muito tempo antes que eles pedissem o serviço de quarto...
CAPÍTULO 21 Mãe? Você está bem? Não tenho notícias suas há dias. Mãe? Por favor me ligue! Mãe. Eu vou me casar hoje. Mãe?
— Pare de bater seus cílios. — Rina repreendeu com uma risadinha. — Não consigo acertar esse delineador se você continuar se movendo. — Bem, pare de tentar espetar meu olho com esse bastão afiado. — Eu atirei de volta, rindo. — Ela é tão dramática, não? — Aston interveio conspiratoriamente. Seu rosto sorridente ocupou o iPad de Rina que tínhamos apoiado na mesa mais próxima. Ela assistia do conforto de sua própria cama, falando de vez em quando para dar sua opinião sobre cores de maquiagem e penteados. — Foi por isso que eu parei de arrumá-la quando estávamos na faculdade. Ela é impossível! — Estou sentada bem aqui, sabe? — Eu resmunguei, meus olhos ainda fechados enquanto Rina aplicava o delineador. — Mas não fica parada. — Rina disse em uma voz cantada.
— Está bem. O que você acha? Eu chequei meu reflexo no espelho e não pude deixar de abrir um grande sorriso. — Está perfeito. — Deixe-me ver! — Aston chamou. — Aproxime o iPad! — Ela é sempre tão mandona? — Rina perguntou enquanto pegava o iPad. — Sempre. — Eu confirmei. — Eu não sou mandona. Sou assertiva. — Aston corrigiu com altivez. — Agora me mostre! Rina segurou o iPad na minha frente, dando a Aston uma visão completa do meu cabelo e maquiagem. Aston ofegou – e então, para meu horror, ela começou a chorar. Não pequenas lágrimas silenciosas. Soluços sufocantes e altos. — Aston? — Sinto muito. — Ela choramingou. — Você está tão bonita e parece tão feliz. É o dia do seu casamento! Eu deveria estar aí. — Ela lamentou. — Você é minha melhor amiga no mundo inteiro. Você é mais que uma amiga. Você é minha irmã. Já passamos por tudo juntas e eu deveria estar aí agora. — Você estará. — Assegurei a ela. — Você poderá ver toda a cerimônia. — Não é a mesma coisa. — Ela soluçou. — Eu sei, mas é o que temos, Aston. Ela fungou e enxugou os olhos. — Você tem razão. Sinto muito por ser tão dramática.
— Está tudo bem. — Eu disse suavemente. — Eu só posso imaginar que tipo de oscilações de hormônio você tem agora. — Os livros e blogs dizem que fica pior quanto mais avança a gravidez! — Ela estremeceu. — Nesse ritmo, terei sorte se Ben não fugir do país para ficar longe de mim. Incapaz de me conter, eu ri. Aston fez beicinho, mas um sorriso lentamente surgiu em sua boca. — Você está uma bagunça, Aston. — Eu sei. — Ela fungou novamente e enxugou o rosto com lenços de papel que tirou de uma caixa próxima. — OK. Fique de pé. Deixe-me ver todo o conjunto. Senti-me um pouco boba em exibir meu vestido de noiva, mesmo assim me levantei e girei lentamente. Rina deu um passo para trás para se certificar de que a câmera do iPad me capturasse da cabeça aos pés. Depois de preencher toda a papelada e obter todos os selos e assinaturas de que precisávamos, Besian me entregou a Rina, que conhecia todos os melhores lugares em Tirana para fazer compras. Rina poderia compartilhar a mesma predileção por moda de alta costura de Aston, mas ela entendeu minhas preferências por coisas mais simples. Ela me levou a uma butique cheia de vestidos clássicos discretos, e não levei mais de cinco minutos para encontrar o perfeito. Tinha um toque vintage com sua mistura de cetim marfim macio, tule e renda. Gostei do decote canoa modesto e dos enfeites de pérolas simples ao longo da cintura e da barra. O comprimento midi era perfeito para nossa cerimônia bem pequena no jardim do hotel. Não muito extravagante, mas não muito simples. Aston começou a chorar novamente. — Marley, você está tão linda. Seu cabelo! O vestido! — Ela fungou ruidosamente. — Rina.
— Disse ela séria. — Você fez um trabalho maravilhoso reunindo tudo isso em tipo... dois dias! — O hotel fez a maior parte do trabalho. — Ela contestou. Houve uma batida na porta. Olhei para Rina enquanto ela me entregava o iPad. — Alguém do hotel, talvez? — Se for Besian, diga a ele para ir fazer outra coisa. — Aston gritou quando Rina foi atender a porta. — Ele não pode ver Marley até a cerimônia! — É Stefana! — Rina anunciou. — Quem é Stefana? — Aston perguntou entre mordidas gigantes de um taco de café da manhã. — E Drita. — Acrescentou Rina com a voz tensa. — Aquela velha bruxa que foi má com você? — Aston perguntou com raiva, sua boca ainda cheia. Ela engoliu apressadamente e pegou seu enorme copo d'água. Depois de um gole rápido, ela ordenou: — Traga-a aqui para que eu possa dizer a ela poucas e bo... — Aston! — Eu a acalmei duramente. — Agora não. — Se não agora, quando? Ignorando-a, abaixei o iPad e saí para a sala de estar de nossa suíte. Meus calcanhares e dedos com bolhas haviam começado a cicatrizar bem, e as sapatilhas flexíveis e sustentáveis que eu tinha escolhido amorteciam meus passos de uma forma que tornava o caminhar sem dor. — Ei! Me pegue de volta! Eu quero ver! Rina chamou minha atenção, pedindo desculpas silenciosamente
por deixar Drita entrar na suíte. Ela pegou o iPad da minha mão e saiu do caminho. Percebi que ela virou discretamente o iPad e o ergueu para que Aston pudesse ver. — Marley! Você está incrível! — Stefana agarrou minhas mãos e beijou minhas bochechas de lado. — Besian vai desmaiar quando vir você! — Ela olhou para minha mão e inspecionou o curativo muito menor e da cor da pele. — Como está sua mão? — Tudo bem. — Eu disse, esperando que ela não se sentisse culpada sobre o meu ferimento. — Está curando bem. — Bom. — Ela disse calmamente. Seus próprios ferimentos estavam escondidos sob a maquiagem habilmente aplicada e o vestido de mangas compridas que ela escolhera. Nós tínhamos falado duas vezes por telefone desde o ataque dela, e nenhuma de nós queria trazer à tona aquelas memórias horríveis agora. Em vez disso, Stefana olhou para Drita e revirou os olhos. — Tenho certeza de que você vai querer um pouco de privacidade para esta conversa. — Por quê? — Aston interrompeu com raiva através do iPad. — Aquela senhora deu a Marley alguma privacidade quando a expulsou naquela entrada? Eu me encolhi com a grosseria de Aston, mas Rina respondeu: — Ela tem razão. Drita a envergonhou publicamente. Ela deveria se desculpar publicamente. De pé com as mãos juntas à sua frente, Drita não se escondeu ou tentou escapar. Ela encontrou meu olhar ainda ferido, sem vacilar. — Sua amiga está certa. Você não me deve nenhum tratamento especial, não depois da maneira como me comportei. — É verdade. — Concordei. — Mas prefiro falar em particular. Aston protestou, e Rina virou o iPad, esmagando-o contra seu
peito para silenciá-la. Rina apontou para o quarto com um aceno de cabeça e Stefana a seguiu. Percebi que elas deixaram a porta parcialmente aberta e imaginei que as duas estavam bem atrás dela, com as orelhas o mais perto possível da abertura. Rina provavelmente tinha apontado o iPad para a área de estar para garantir que Aston ouvisse tudo. Drita pigarreou e disse: — O que eu fiz foi errado. Eu machuquei você. Fui má e desagradável. Eu não tinha o direito de tratá-la daquela maneira. — Por que você fez isso? — Fiz a pergunta que me atormentava desde então. — Por quê? Ela engoliu em seco nervosamente e olhou para as janelas atrás de mim. Depois de um momento, ela perguntou: — O que Besian disse a você sobre a mãe dele? — O suficiente para eu querer mijar no túmulo dela se soubesse onde está. — Respondi rudemente. — Então você entende por que me sinto tão protetora com ele. — Disse ela, claramente compartilhando meu sentimento. — Ele nunca foi o suficiente em toda a sua vida. Ele sempre foi o segundo, terceiro ou último. Até que ele foi embora e fez uma nova vida para si mesmo. — Explicou ela. — Mas, ainda assim, ele estava sozinho. Ele podia me dizer que estava feliz, mas eu sabia. Eu podia ver o quanto ele queria ser amado, ter uma esposa, uma família. Ela parou e inalou uma respiração trêmula. — Zec me contou sobre você. Depois que Besian foi baleado protegendo você. — Ela esclareceu. — Ele disse que você era diferente. Você não estava atrás dele pelo dinheiro ou o que quer que pudesse tirar dele. Você era brilhante, motivada, gentil. Você era tudo que eu queria para ele.
Ela balançou a cabeça. — E então eu ouvi os seguranças falando sobre o clube e o homem com quem você estava e fiquei com muita raiva. Eu sabia como isso o destruiria. Ele finalmente tinha confiado em uma mulher, a amava, e você o traiu. Eu queria interrompê-la para me defender, mas senti que ela precisava dizer tudo de uma vez. Então esperei pacientemente e escutei. — Eu queria machucar você. Queria te humilhar. Queria fazer você chorar. Eu queria arruinar sua vida por machucá-lo. — Drita inalou ruidosamente. — E eu me senti bem por um tempo depois que você foi embora. Eu me senti plena. Senti como se tivesse protegido minha família e obtido vingança. Ela olhou para baixo com vergonha. — Até Rina me dizer a verdade, e eu perceber quão errada eu estava. Percebi como fui eu quem traí e magoei Besian. — Seus olhos brilharam com lágrimas quando ela disse: — A expressão no rosto dele quando soube o que eu fiz a você! Nunca vou esquecer que o fiz se sentir assim. Apavorado. Em pânico. Com o coração partido. Quando ela balançou a cabeça e engoliu o soluço que ameaçava escapar de sua garganta, minha raiva desvaneceu. Não querendo mais animosidade no dia do meu casamento, dei um passo à frente e toquei seu braço. Eu queria curar a fratura na família e consertar as coisas antes de caminhar pelo corredor e fazer da família de Besian minha família. — Eu te perdoo, Drita. Sua cabeça se ergueu. Sua sobrancelha franziu. — O quê? Fácil assim? Eu concordei. — Bem assim. — Mas eu te machuquei...
— Sim, você machucou. — Eu interrompi. — Mas eu não quero te machucar. Eu entendo por que você se comportou daquela maneira. Aquilo me machucou. Muito. — Enfatizei. — Mas sei por que você reagiu daquela forma. Você atacou porque achou que eu o tinha machucado. — Ele sempre foi especial para mim. — Ela disse. — Como um filho. — E por causa disso, estou disposta a deixar isso para trás. — Eu gentilmente segurei sua mão. — Vamos deixar isso no passado e seguir em frente. Eu não quero isso pairando sobre nossa família. Drita apertou minha mão. — Sim. Está no passado. Eu sorri, sentindo um peso ser retirado dos meus ombros. — Ótimo. Drita largou minha mão e tirou a alça fina de sua bolsa de noite de seu ombro. A bolsa combinava com suas joias de ouro e saltos de tiras e complementava seu look com o vestido azul marinho. — Eu trouxe algo para você. — Ela abriu o fecho da bolsa e retirou uma bolsinha de veludo preto. — Eu sei que as garotas americanas carregam algo velho no dia do casamento. — Drita, você não precisava me trazer um presente. — Eu quero que você fique com isso. — Ela insistiu seriamente. Ela parecia estar falando sério, então aceitei a pequena bolsa com um sorriso e um agradecimento. Puxei a parte de cima do cordão e inclinei a bolsa para deixar o conteúdo cair na minha palma. Um colar de cruz de ouro reluzente escorregou para minha mão. Eu gentilmente virei a cruz e fiquei maravilhada com os delicados símbolos gravados no ouro. — É lindo, Drita.
— Foi a cruz da avó de Besian. — Ela explicou. — Do lado do pai. — Ela esclareceu. — Ela a usava todos os dias e, antes de morrer, me deu para guardar. "Para a esposa dele", ela me disse. — Drita tocou a corrente de ouro brilhante. — Eu a guardei todo esse tempo, esperando que a esposa certa aparecesse. É você. — Drita, não sei o que dizer. — A herança de família em minhas mãos de repente pareceu extremamente pesada, e eu me perguntei se a avó de Besian teria me aprovado. — Só me prometa que vai passá-la para uma de suas filhas. — Ela pediu. — Claro. — Eu disse imediatamente. A imagem de uma menina com meu cabelo e os olhos escuros de Besian surgiu diante de mim. — Eu prometo. Vou dar para uma de nossas filhas. — Aqui. Deixe-me ajudá-la. — Drita pegou o colar e se colocou atrás de mim. Afastei meu cabelo e ela colocou o colar em volta do meu pescoço. — Este estilo de cruz é para a Santa Xênia. — Explicou ela. — Ela é uma santa padroeira do casamento. — Tenho certeza de que posso aceitar toda a ajuda que puder conseguir. Drita apertou suavemente meu ombro. — Você será uma boa esposa. Estou certa disso. — Espero que sim. — Eu brinquei com a cruz. — Meus pais não foram exatamente o melhor exemplo de um casamento feliz. — Nem os de Besian. — Ela me lembrou. — Mas vocês dois têm algo que os pais dele não tinham... se amam. — Já que estamos dando presentes. — Rina disse, saindo do quarto. — Luka e eu compramos isso para você. — Ela estendeu uma
caixa de joias. — Algo novo. — Obrigada, Rina. — Abri a caixa e encontrei um par de brincos de pérolas e diamantes. — Oh meu Deus! — Coloque-os. — Ela pediu. Eu obedeci enquanto Aston exigia que Rina levantasse o iPad mais alto e aumentasse o zoom para que ela pudesse ver os brincos e o colar. Assim que os brincos foram colocados, senti uma vibração de excitação e nervosismo. De repente, parecia real. Eu ia me casar. — Que tal algo azul? — Aston perguntou. — Oh, ela cuidou disso. — Rina brincou timidamente. Corei com a lembrança da calcinha azul com babados completamente impraticável que Rina insistiu que eu comprasse na loja de lingerie para onde ela me arrastou depois de escolher meu vestido de noiva. Ela tinha empilhado tantas peças de renda e seda no balcão que eu ainda não tinha tirado todas das sacolas! — Bem, eu quero saber tudo sobre isso. — Aston insistiu. — Mas! Espere! E algo emprestado? — Eu tenho algo para emprestar a você. — Stefana disse, avançando com uma pulseira de pérolas de três fios. — Rina me contou sobre os brincos e achei que essa pulseira combinaria perfeitamente. — Obrigada, Stefana. Ela acenou para meu agradecimento e enrolou a pulseira em meu pulso. Ela prendeu o fecho e disse: — Perfeito. — Só mais uma coisa! — Rina disse animada e correu de volta para o quarto. Ela voltou com meu véu curto na mão. Era de estilo vintage como o meu vestido, a renda do mesmo tom de marfim.
Rina e Drita conseguiram colocar o pente no lugar e prenderam alguns grampos em meu cabelo para garantir que ficasse firme. Uma flor de seda enorme, marfim com notas de pêssego e peras minúsculas no centro foi colocada sobre o pente, escondendo-o da vista. Rina ajeitou o pequeno comprimento da renda, certificando-se de que não estava esfregando no meu nariz. Com um sorriso satisfeito, Rina recuou e declarou: — Pronto. Agora, você é uma noiva. De pé, ombro a ombro, as três mulheres olharam para mim com sorrisos em seus rostos. Mesmo Aston, que normalmente tinha um comentário rápido para cada situação, parecia sem palavras. Stefana segurou o iPad na altura do peito, certificando-se de que Aston pudesse ver todo o conjunto. Minha melhor amiga fungou e enxugou os olhos. Finalmente, ela disse: — Marley, você vai se casar! Excitação e ansiedade borbulharam no meu estômago. Era isso. Eu deixaria este quarto como uma mulher solteira e voltaria como esposa de Besian. Quando eu subisse ao altar e fizesse meus votos, minha vida mudaria. Para sempre. Mas a ideia de usar o anel de Besian e compartilhar seu nome acalmou meus nervos. Eu inalei uma respiração firme e sorri. — Estou pronta.
CAPÍTULO 22 Horas depois, Besian não conseguia tirar os olhos de Marley. Ela estava sentada ao lado dele, conversando animadamente com Rina e Stefana. Cada vez que ela movia a mão, a luz reluzia na delicada aliança de ouro que dizia a todos que ela pertencia a ele agora. Minha. Minha esposa. Parecia impossível acreditar, mas era verdade. Ela o havia aceitado e se casado com ele. Ela se uniu a ele, eles uniram seus futuros e ela fez isso de boa vontade e feliz. Ele estava um pouco nervoso antes mesmo de vê-la entrando pelo corredor curto do jardim do hotel, mas aquele primeiro vislumbre de Marley em seu vestido de noiva quase o fez cair de joelhos. Ela sempre foi bonita, mas havia algo quase etéreo em sua aparência naquele momento. O sol estava atrás dela, criando um halo de luz suave, e seu cabelo ruivo se destacava com vivacidade contra a palidez de seu vestido. Ela o pegou olhando para ela e agarrou sua mão. — Você está bem? Ele acenou com a cabeça e se inclinou para beijar sua bochecha. — Estou apenas feliz. Os olhos dela se iluminaram. — Eu também estou. Seu olhar extasiado derivou para a cruz de ouro pendurada em seu pescoço. Dizer que ele ficou chocado ao vê-la mais cedo era um eufemismo. Ele a tocou com cuidado, passando o dedo ao longo da
delicada corrente de ouro. — Eu nem sabia que Drita tinha isso. — Ela estava guardando para a esposa certa, aparentemente. — Os olhos de Marley brilharam com diversão. — Quem sabia que seria eu? — Eu sabia. — Ele segurou a cruz entre o indicador e o polegar. — Isso é muito antigo. — Não vou usá-la de novo. — Disse ela, entendendo-o mal. — Vou me certificar de que guardá-la em um cofre até... — Até? — Ele perguntou. — Eu prometi a Drita que daria para uma de nossas filhas. Um lampejo de algo necessitado e possessivo o percorreu como fogo. A ideia de ter filhos não era tão assustadora como há poucos dias. Com a orientação de Marley, ele poderia aprender a ser um pai adequado. — Bem. — Ele disse cuidadosamente. — Até lá, eu quero que você a use quando quiser. Agora é sua, e sei que você cuidará disso. — Eu vou. — Ela prometeu. Hesitante, ela admitiu em um tom abafado: — Pensei que sua família fosse muçulmana. — Parte deles era. — Ele confirmou. — Avós e afins. — Ele encolheu os ombros. — Meus irmãos e eu não fomos criados no meio religioso. O pai de Ben era um pouco mais interessado, eu acho, nessa parte da história da nossa família, mas pelo que eu sei, ele não era praticante de forma alguma. — Não fui criada no meio religioso, mas acho que provavelmente deveríamos mapear o que nossos antepassados acreditavam. No caso de nossos filhos quererem saber de onde eles vêm.
— Drita saberia mais sobre isso do que eu. — Ele enrolou uma das mechas onduladas do cabelo dela ao redor de seu dedo, apreciando a sensação dele contra sua pele. — Vocês duas se reconciliaram? — Sim. — E você está feliz com o pedido de desculpas que recebeu? — Estou. Ele decidiu deixar por isso mesmo. Marley era perfeitamente capaz de decidir seus próprios limites. Rina chamou o nome dela e Marley ergueu um dedo para pedir que ela esperasse. Depois de dar dois beijos rápidos e limpar a mancha de batom da boca dele, Marley foi com Rina. Ele a observou deixar a sala privada que hospedava sua recepção íntima de casamento e se perguntou quanto mais eles teriam que esperar antes que pudessem sair correndo e começar sua lua de mel. Zec deixou-se cair na cadeira que Marley acabara de desocupar. Ele colocou sobre a mesa uma garrafa de rakia e dois copos pequenos. Ele estava trabalhando ao redor da mesa, oferecendo brindes aos convidados. Mais do que um pouco bêbado, Zec realmente sorriu ao perguntar: — Feliz? — Sim. — Bom. — Zec abriu a garrafa e derramou a bebida nos copos. — Quanto tempo mais você planeja ficar aqui? — Aqui nesta mesa ou aqui em Tirana? — Ambos? — Não muito e não muito. — Ele respondeu e pegou o copo. — Por quê? Zec bateu seu copo contra o de Besian, e eles mantiveram
contato visual enquanto bebiam a forte aguardente. Besian não terminou o seu, mas Zec acabou com o seu. Ele sibilou lentamente e tornou a encher o copo. — Só estou me perguntando quando terei de começar a cuidar de Luka de novo. Besian riu sombriamente e olhou para o sobrinho. Ele ocupava um lugar na outra extremidade da mesa e conversava baixinho com Dusan. — Ele parece derrotado esta noite. — Rina virou o mundo dele de cabeça para baixo na outra manhã. Acho que ele está tendo uma crise existencial. — Talvez um pouco de pavor seja exatamente o que ele precisa. — Observou Besian. — Pensar em sua eventual morte e se ele tem algum propósito na vida não faz mal. — Veremos. — Zec bebeu seu outro copo de rakia. Franzindo a testa, Besian tirou a garrafa de seu alcance. — O que há com você esta noite? Você nunca bebe assim. — Talvez Luka não seja o único a ter uma crise existencial. — Comentou Zec com um olhar distante. — Eu me pergunto o que diabos estou fazendo para ganhar todo esse dinheiro quando não tenho nada a ver com ele. Besian se moveu na cadeira para ver melhor o amigo. — Você faz algo com ele. Pense em todas as crianças que você manteve fora da rua, todas as crianças que você mandou para a universidade ou escola profissionalizante. Isso é algo. — Eu acho. — Zec coçou o queixo. — Talvez não seja o suficiente. Besian seguiu o olhar de Zec até onde ele se demorava em Marley. Imaginando se era aí que seu amigo estava tentando chegar, ele
disse: — Você poderia tentar namorar em vez dos arranjos de companhias ocasionais. Zec resmungou. — Não. — De que outra forma você vai encontrar uma parceira? — Eu não quero uma parceira. — Zec esticou a mão para Besian para pegar a garrafa de bebida e encher seu copo. — Se eu casar, ela ficará satisfeita em cuidar de nossa casa e criar nossos filhos. Ela não fará perguntas sobre o que eu faço. Ela não vai querer se envolver no meu trabalho. Ela ficará quieta, submissa, flexível. — Uh-huh. — Besian comentou secamente. — Bem, a menos que você tenha uma máquina do tempo que possa levá-lo de volta ao século 17, eu não sei onde você vai encontrar uma mulher assim. — E é por isso que eu bebo. — Zec respondeu antes de virar o copo. Besian lançou um olhar triste para o amigo. As experiências horríveis da infância de Zec o transformaram no homem frio e isolado que ele era hoje. Ter nascido na prisão de uma mãe que havia sido estuprada por um guarda. Ser criado naquela prisão até ser levado para longe de sua mãe e repatriado para a Albânia. Ser passado de parente para parente até acabar em Tirana. Tudo isso endureceu Zec o coração desde muito jovem e ele parecia encontrar prazer em coisas violentas. Não era difícil entender por que Zec não foi capaz de encontrar uma mulher interessada em ficar com ele por mais de uma noite. Besian queria dizer mais. Ele queria dar um conselho a Zec ou prometer a seu amigo que havia alguém por aí para ajudá-lo. Mas ele não queria mentir. Ele não queria oferecer palavras bonitas e vazias. A verdade provavelmente seria muito mais feia. Então manteve seus pensamentos para si mesmo e deu um tapinha nas costas de Zec.
Zec encolheu os ombros e fez um gesto com o queixo erguido em direção a Marley. — Acho que sua noiva está pronta para começar a lua de mel. Besian a encontrou de pé com Stefana. Ela estendeu o pulso para que Stefana pudesse remover a pulseira de pérolas que ela usava e enfiála em sua bolsa. Como se pudesse sentir seu olhar, Marley olhou para ele e sorriu. Sua expressão sensual confirmou o que Zec suspeitava. Ao se levantar para se juntar a ela, Zec ofereceu alguns conselhos obscenos. — Lembre-se de que você não tem mais vinte anos. Mantenha-se hidratado. Coma alguma proteína. Talvez faça alguns alongamentos para não distender um músculo ou ter cãibras. — Você já terminou? — Ele olhou para seu melhor amigo. — Foi o que ela disse. — Zec murmurou e se serviu de mais um copo de rakia. Besian o roubou e bebeu de uma vez. Ele devolveu o copo vazio à mesa. — Pare de beber e vá para a cama antes que você acabe se metendo em problemas. — Eu? — Zec riu. — Que tipo de problema eu poderia encontrar em um bom estabelecimento como este? Besian conseguia pensar em pelo menos uma dúzia de maneiras diferentes e balançou a cabeça ao sair da mesa. Ele fez uma pausa para abraçar Drita e agradecer a Dusan por ter vindo ao casamento. Ele passou alguns momentos com Luka, certificando-se de dizer ao seu sobrinho o quanto ele realmente agradecia tudo o que Luka havia feito para dar a Marley um lindo casamento. Rina o interceptou antes que ele chegasse até Marley e deu-lhe um abraço choroso enquanto o parabenizava. Finalmente, ele alcançou Marley e Stefana, que sorriu
conscientemente e se despediu depois de oferecer seus melhores votos. Marley agarrou a mão dele e acenou para o pequeno grupo de convidados antes de permitir que ele a conduzisse para fora do restaurante em direção ao saguão. Ao se aproximarem dos elevadores, ele perguntou: — Por que você estava usando a pulseira de Stefana? — Era meu algo emprestado. — Ela explicou, encostando-se nele enquanto esperavam. — Meu algo antigo é a cruz. Meu algo novo é isso. — Ela sacudiu os brincos de diamante e pérola que Luka e Rina lhe deram. — E seu algo azul? — O elevador apitou e as portas se abriram para uma cabine vazia. Marley pegou suas duas mãos e o arrastou para dentro do elevador. Com um sorriso sedutor, ela disse: — Leve-me para cima, tire este vestido e você descobrirá. Besian não conseguiu apertar o botão do andar com rapidez suficiente.
CAPÍTULO 23 Mãe, é oficial! Estou casada! Mãe?
Marido. Estou beijando meu marido. E, oh, como esses beijos são bons. Besian me prendeu contra a porta de nossa suíte e se atrapalhou com o cartão-chave do nosso quarto. Nós nos separamos, rindo e ofegando quando ficou claro que ele não conseguiria destrancar a porta e beijar ao mesmo tempo. Assim que a porta foi aberta, ele me pegou sem avisar e eu gritei de surpresa. Ele me carregou para a suíte e fechou a porta atrás dele com um chute. Rindo, reivindiquei sua boca manchada de batom com mais dos meus beijos insistentes. Ele gemeu em resposta, e eu corri meus dedos por seu cabelo, bagunçando enquanto o agarrava. — Marley. — Ele sussurrou meu nome desesperadamente e inesperadamente me sentou na beirada da pequena mesa de jantar na suíte. Ofegante, apoiei-me na minha mão boa e o observei tirar o paletó e puxar a gravata. Ele jogou os dois no chão antes de se encaixar entre meus joelhos e segurar minha nuca. Eu choraminguei enquanto ele me devorava com beijos apaixonados. Toda a tensão sexual reprimida do dia havia finalmente
explodido entre nós. Desde que ele me encontrou no ponto de ônibus, estávamos flertando com o perigo. Nossas brincadeiras sexuais foram intensas e muito satisfatórias, mas ainda não tínhamos ido até o fim. Nenhum de nós havia decidido que havia limites, pelo menos não em voz alta. Parecia que nós dois havíamos decidido negar a nós mesmos a única coisa que realmente queríamos até nos casarmos. Besian caiu de joelhos e agarrou a saia do meu vestido de noiva. Ele a puxou rudemente em direção à minha cintura e eu ofeguei quando ele enterrou seu rosto entre minhas coxas nuas. Ele correu a boca sobre o tecido azul sedoso da calcinha quase inexistente que eu estava usando, me provocando com uma promessa do que estava por vir. Ele nem se incomodou em tirá-la de mim. Puxou o tecido de lado e se agarrou ao meu clitóris, batendo a língua sobre ele e gemendo como se tivesse esperado por este momento o dia todo. Eu gritei e caí de costas na mesa enquanto ele fazia coisas perversas e enlouquecedoras com sua língua. Vagamente, eu estava ciente da garrafa de champanhe gelada no balde prateado ao lado da minha cabeça. Mais abaixo na mesa, havia bandejas cobertas com sobremesas requintadas, frutas suculentas e queijos saborosos. Os funcionários do hotel haviam deixado pétalas de rosas sedosas por toda parte e velas de led tremeluzindo ao redor da suíte. O ambiente romântico era bom, mas não era nada comparado a Besian me levando cada vez mais perto de um clímax com sua língua talentosa. Quase não levei tempo algum para gritar seu nome e estremecer de êxtase. Ele beijou a parte interna das minhas coxas e empurrou meu vestido ainda mais para cima, expondo minha barriga e beijando lá também. Eu ainda estava tremendo e ofegante do meu orgasmo quando ele me puxou para fora da mesa e caminhou em direção ao quarto. Ele
me colocou no chão e de repente percebi que havia perdido meus sapatos em algum lugar entre a porta da frente e aqui. — Vire-se. — Ele ordenou asperamente. Engolindo em seco, fiz o que ele mandou. Ele começou a trabalhar nos botões de pérola brilhantes que desciam pelas costas do vestido. Eu rapidamente removi meus brincos e o colar, não querendo que ficassem emaranhados no meu cabelo ou fossem danificados. Ele finalmente conseguiu abrir o vestido e puxou-o para cima e pela minha cabeça. Ele o jogou em direção à cadeira no canto do quarto e pegou as joias da minha mão, colocando-as na superfície plana mais próxima. Ele caminhou em minha direção como um caçador, seu olhar escuro e desejoso queimando através de mim. Vestida apenas com minha minúscula calcinha e sutiã sem alças, eu o ataquei com o mesmo fervor que ele tinha me mostrado. Fiz um trabalho rápido de remover suas abotoaduras e camisa antes de ir para suas calças. Em pouco tempo, ele estava despido. Desejando o gosto e a sensação dele em minha boca, caí de joelhos e alcancei seu quadril. Ele respirou pesadamente e olhou para mim com amor e adoração enquanto eu acariciava seu pau. Ele estava duro como uma rocha na minha mão, e eu passei minha língua sobre a cabeça de seu eixo. Ele praguejou em albanês e passou os dedos no meu cabelo. Engoli o comprimento dele de uma vez. Seu pau bateu no fundo da minha garganta, e a emoção ilícita fez meu clitóris pulsar e minha boceta apertar com a necessidade. Minha mão não ferida moveu-se para cima e para baixo em seu pau, acariciando no ritmo da minha boca gananciosa. Ele disse meu nome várias vezes e arfou enquanto eu o chupava mais e mais profundamente. Quando não pude esperar mais um minuto, sentei nos
calcanhares e olhei para ele. Sentindo-me atrevida e corajosa, eu disse: — Eu quero montar em você. — Porra, sim. — Seu olhar ficou ainda mais escuro e intenso enquanto ele me ajudava a levantar. Nossas bocas se encontraram em um beijo febril enquanto ele nos levava de volta para a cama, não parando até que suas pernas tocassem o colchão. Ele sentou-se e eu tirei meu sutiã e calcinha antes de abrir a gaveta da cabeceira onde ele havia guardado o pacote de camisinhas que Zec tinha comprado de brincadeira. Entreguei uma a ele e subi na cama. Enquanto ele a rolava, perguntei: — Existe uma maneira que seja mais confortável para você? — Marley, você poderia me pedir para deitar em um vidro quebrado agora, e eu faria isso. — B! — Estou falando sério. — Ele estendeu a mão para mim, os músculos de seus braços flexionando enquanto ele me arrastava para cima dele. Uma de suas mãos ficou na minha bunda. A outra se moveu para o meu pescoço e depois para a minha mandíbula. Seu polegar traçou meu lábio inferior. — Faça o que for confortável para você. Faça o que for bom. — E você? — Marley, tudo o que você faz é bom para mim. — Ele agarrou minha bunda com as duas mãos e me puxou ainda mais para cima, não parando até que seu pau escorregou entre minhas coxas. Segurando meu olhar, ele moveu suas mãos para minha cintura. — Vá em frente, bebê. Monte-me. Minha barriga vibrava descontroladamente. Abaixei-me e agarrei a base de seu pau, puxando a grossa coroa entre meus lábios.
Inclinando-me um pouco para frente, alinhei nossos corpos e lentamente pressionei para baixo sobre ele. Pareceu um pouco estranho no início ter algo tão grande deslizando dentro de mim. Mexi meus quadris um pouco e encontrei um ângulo que parecia muito bom. Segurando bem ali, eu pressionei e levei todo o comprimento dele em mim. — Oh. Meu. Deus. — Eu arfei em cada palavra enquanto a sensação de plenitude amplificava tudo o que eu estava sentindo. Ele estava enterrado tão profundamente dentro de mim que eu não tinha certeza de onde ele terminava e eu começava. Eu dei um giro experimental de meus quadris e gemi. — Oh. Meu. Deus. Besian praguejou desesperadamente e sentou-se completamente. Ele pressionou seu rosto na curva do meu pescoço e beijou e beliscou até que eu estava tremendo com o ataque de sua boca e o estiramento de seu pau dentro de mim. Ele agarrou minha bunda, seus dedos apertando minha carne enquanto seus dentes arranhavam meu pescoço e me faziam estremecer. Besian recostou-se na cama, agarrando os travesseiros e jogandoos para fora. Eu plantei a mão em seu peito e comecei a me mover. Tentei diferentes movimentos, saltando para cima e para baixo e girando meus quadris até que finalmente encontrei o que parecia melhor. Balançando para frente e para trás, me concentrei no deslizar de seu pau dentro de mim e na forma como seu corpo esfregava contra meu clitóris da forma mais deliciosa. — É isso, Marley. — As mãos de Besian se moveram da minha cintura para os meus seios. Ele tinha aprendido o quão incrivelmente sensíveis meus mamilos eram, especialmente quando eu estava excitada, e os beliscou com força suficiente para me fazer ofegar. A pontada aguda atingiu meu núcleo, fazendo minha boceta apertar em torno de seu pau. Ele gemeu e os beliscou novamente, fazendo-me gritar e me
mover mais rápido. Inclinei-me um pouco mais para frente, movendo minha mão de seu peito para a cama. Nós compartilhamos um beijo desleixado antes que ele agarrasse meus quadris com as duas mãos e começasse a empurrar para cima em mim. Ofeguei com a sensação selvagem e me agarrei à roupa de cama. Meu corpo inteiro tremia enquanto eu sentia aquele zumbido familiar e vibrante apertar no fundo da minha barriga. Desesperada para gozar, pressionei contra ele. Foi tudo que eu precisei para explodir de pura alegria. Eu gozei gritando seu nome, estremecendo e balançando em cima dele até que minhas coxas estavam queimando. — Besian! Ele rosnou como um urso e me empurrou de costas. Ele pairou sobre mim, empurrando minhas coxas para afastá-las mais e deslizando de volta para o meu calor escorregadio novamente. Nós dois gememos e ele começou a empurrar para dentro de mim. Eu agarrei seu lado, seu braço, seu ombro, segurando-o como se minha vida dependesse disso enquanto ele me fodia como um homem selvagem. O bater de seu corpo contra o meu foi o suficiente para me fazer chegar perto de outro clímax. Eu não queria perder a chance de gozar com ele. Segurei seu olhar enquanto enfiava a mão entre nós, enquadrando meu clitóris entre dois dedos e massageando de uma forma que eu sabia que me levaria lá rapidamente. Minhas coxas apertaram em torno de sua cintura, e eu arqueei para ele, levantando meus quadris e tomando cada impulso profundo e forte que ele tinha para dar. Reconheci os sinais em seu rosto, o aperto em sua bochecha, a proeminência da veia correndo em sua têmpora. — Goze dentro de mim. — Eu implorei. — Quero sentir você gozar comigo. — Marley! — Ele gemeu meu nome e gozou. A visão dele
perdendo o controle, a sensação dele pulsando dentro de mim, me lançou em um abismo arrebatador. Eu quase desmaiei enquanto me afogava em onda após onda de êxtase. Quando Besian desabou em cima de mim, envolvi meus braços em torno de seus ombros e segurei firme. Ofegamos e trememos, ambos oprimidos por termos feito amor pela primeira vez como marido e mulher. Para mim, foi um duplo primeiro, e eu não poderia imaginar que fosse outra pessoa para compartilhar isso comigo. Eventualmente, Besian se afastou apenas o suficiente para olhar para mim. A ternura refletida em seus olhos escuros me fez sentir toda sentimental e confortável e totalmente querida. — Eu te amo, Sra. Beciraj. Eu sorri. — Eu te amo, Sr. Beciraj. Nós nos abraçamos por mais alguns minutos antes que a realidade do sexo se intrometesse. Nós nos revezamos no banheiro e depois voltamos para a cama juntos, sussurrando docemente. Mas, nossos beijos preguiçosos e carícias suaves foram interrompidos pela vibração irritante de um telefone celular. Nós o ignoramos no início, muito ocupados desfrutando da felicidade pósamor, mas quando ele não parou e um segundo telefone começou a vibrar, paramos de nos beijar e trocamos olhares preocupados. — Isso não pode ser bom. — Eu murmurei. — Não. — Ele concordou. — Onde está o seu telefone? — Na minha bolsa na sala de estar. — Eu disse, sentando-me quando ele saiu da cama. — No sofá, eu acho. Eu o joguei lá quando vim com Rina para tirar meu véu após a cerimônia. — Fique. — Ele instruiu, acenando com a mão quando comecei
a sair da cama. — Vou pegá-lo. Minha ansiedade aumentou quando Besian saiu do quarto. Por que nossos dois telefones estariam tocando ao mesmo tempo? Não havia um bom motivo para isso. O que quer que estivéssemos prestes a descobrir arruinaria nossa noite de núpcias. Disso, eu tinha certeza. — É Aston. — Besian entregou meu telefone. — Ela ligou sete vezes. — Merda. — Eu desbloqueei meu telefone e abri a primeira mensagem. Meus olhos percorreram a mensagem curta e eu ofeguei. — Ben foi preso! Eles invadiram o centro automotivo! — Porra. — Besian praguejou enquanto batia na tela do telefone. — Não apenas Ben. Devil e Jet também. E merda! Eles fecharam dois dos meus clubes por infrações. — O que está acontecendo? — Eu não sei. — Ele admitiu, parecendo repentinamente muito cansado. — Nós deveríamos...? Minha pergunta foi interrompida por batidas insistentes na porta de nossa suíte. Besian suspirou e foi procurar suas calças. — Vista-se. — E fazer as malas? — Eu perguntei, pensando que não ficaríamos aqui por muito mais tempo. Ele assentiu com relutância. — Sinto muito, Marley. — Silêncio. — Eu rapidamente me aproximei e envolvi meus braços em torno de sua cintura. Levantando-me na ponta dos pés, busquei seu beijo. — Contanto que estejamos juntos, eu não me importo.
Ele beijou minha testa. As batidas na porta ficaram mais altas e ele rosnou em albanês antes de sair correndo para atender. Deixada sozinha no quarto, corri para minha bagagem e a abri em busca de roupas de viagem adequadas. Peguei um dos meus conjuntos de caminhada, calças cargo justas cinza escuro, um top preto e uma camisa xadrez vermelha e azul com botões de pressão, calcinha e um par de e meias. Corri para o banheiro para me vestir e rapidamente prendi meu cabelo bagunçado em um rabo de cavalo alto. Quando saí do banheiro, encontrei Besian esperando por mim, ainda sem camisa e descalço, com suas calças amassadas. O olhar em seu rosto fez o medo atingir meu coração. Engolindo em seco, segurei minha mão ferida contra o peito e perguntei: — O que há de errado? — É o Spider. — Disse ele finalmente. — Alguém o denunciou. Ele fugiu dos policiais e federais que foram prendê-lo. — E? — Eu perguntei, esperando o pior. — Houve uma perseguição. Na interestadual. — Acrescentou ele solenemente. — Spider teve que largar a moto. — Ele hesitou, e imaginei a moto de Spider deslizando pela rodovia, faíscas voando e metal retinindo. — Debaixo de um Peterbilt. Eu fiquei lívida com o choque. Um caminhão enorme como aquele esmagaria facilmente uma motocicleta e seu piloto. — É... ele está...? — Não. — Besian caminhou em minha direção e segurou minha nuca. — Ele está vivo. — Mas? — Ele está em cirurgia. Estão amputando uma de suas pernas. A outra também não parece boa.
Eu comecei a chorar e Besian me abraçou com força. Agarreime a ele, segurando-me em seu braço e ombro enquanto soluçava contra seu peito. Ele me abraçou e murmurou amorosamente, dizendo que tudo ficaria bem e que ele sentia muito. Encontrei força em seus braços e me deleitei em seu terno amor. Por fim, consegui parar de chorar por tempo suficiente para perguntar: — O que vamos fazer agora? Besian enxugou minhas lágrimas com os polegares. — Eu tenho que voltar. Não há dúvida sobre isso. Eu engoli em seco. — Você vai me deixar aqui? — Pode ser mais seguro. — Admitiu com pesar. — Eu não quero te deixar, mas se for o melhor para você... — O melhor para mim é estar com você. — Interrompi. — Sou sua esposa. Somos uma equipe agora. Ele suspirou e encostou sua testa na minha. — Tem certeza? Eu balancei a cabeça silenciosamente e agarrei sua mão. Beijei suas cicatrizes nos nós dos dedos e deixei meus lábios permanecerem lá. — Vamos para casa.
CAPÍTULO 24 Besian consultou o relógio e calculou há quanto tempo eles estavam viajando. Ele fez uma careta ao perceber que já haviam se passado quase vinte horas desde que deixaram o hotel em Tirana. Eles haviam embarcado em um voo das 4h da manhã para Viena, onde fizeram uma escala de três horas antes de embarcarem em um voo de conexão para Frankfurt. Depois de outra escala em Frankfurt, eles embarcaram em um voo direto para Houston. Haviam sobrado dois assentos na primeira classe e ele os escolheu rapidamente. Após quase onze horas de voo, ele estava feliz por ter escolhido gastar o dinheiro extra. Pelo menos eles estavam confortáveis e não amontoados na econômica. Marley estava dormindo ao lado dele. Ele invejou a maneira fácil como ela adormecia enquanto voava. Ele ficava tenso com cada solavanco e barulho estranho. Quando conseguia cochilar, ele acordava de repente e olhava em volta paranoico, certo de que alguém estava observando Marley. Irritado com sua reação induzida pelo estresse, ele parou de tentar dormir e pegou o livro pesado da mochila de Marley. Ele estava na metade do diário de Sylvia agora. A voz do comandante soou pelos alto-falantes acima deles e Marley se mexeu. Ele enfiou o recibo da compra de um livro para colorir e giz de cera do aeroporto de Frankfurt dentro do livro para marcar a página. Ela inalou e esticou os braços acima da cabeça e flexionou as pernas. Esfregando o rosto, ela perguntou: — Que horas são? — Já passa das cinco. Em Houston. — Ele esclareceu quando ela franziu a testa em confusão. Ela ergueu a tampa da janela e olhou para o céu rosa púrpura.
— É realmente de manhã cedo ou quase à noite? — Quase noite. — Ele disse. — Ugh. — Ela fez um som de desgosto. — Sinto como se estivéssemos voando há dias. — Eu sei. — Quanto tempo até pousarmos? — Não muito. — Ele suspeitou. Ela olhou para a frente da cabine. — Vou correr para o banheiro enquanto o sinal do cinto de segurança está desligado. — Tome cuidado. Houve um pouco de turbulência. Como se fosse uma deixa, o avião se sacudiu enquanto ela tentava escorregar na frente dele. Ela exagerou em seu desequilíbrio e propositalmente caiu para frente. — Oh! Desculpe, senhor. Ele bufou baixinho com sua brincadeira e a deixou dar alguns beijos rápidos. Ele sorriu contra sua boca brincalhona e deixou sua mão descansar sobre o quadril dela por um momento. Com um toque na ponta do nariz dele, ela se endireitou e entrou no corredor. Enquanto ele a observava ir, ele captou o olhar crítico da mulher sentada do outro lado do corredor. Levantando a mão, ele mostrou sua aliança de casamento e disse: — Recém-casados. A mulher não pareceu nem um pouco impressionada e voltou sua atenção para o iPad. Não que ele se importasse com o que ela pensava. Marley não tinha feito nada de errado ou impróprio, de qualquer maneira. Quando Marley voltou, ela sentou-se e colocou o cinto de
segurança. Ela notou o livro que ele estava lendo. — Estou surpresa que você ainda esteja lendo esse livro. — Por quê? — É longo e meio seco. Os diários nem sempre são a coisa mais fácil de terminar. — Tem algumas partes interessantes. — Bem, se você quiser ler mais sobre o trabalho de Plath, eu tenho alguns livros que você pode pegar emprestado. Se você quiser algo parecido com isso. — Ela apontou para o livro parecido com um tijolo em seu colo. — Você deveria tentar A Room of One's Own27 da... — Virginia Woolf. — Disse ele com um aceno de cabeça. — Eu o li há alguns meses. Ela parecia surpresa. — Por quê? Ele sustentou seu olhar curioso. — Você sabe porquê. — B. — Ela sussurrou amorosamente. — Por mim? — Ben ajudou. — Ele admitiu. — Ele conhecia alguns dos livros que você deu a Aston. — E você os comprou e leu? — Claro. — Ele gentilmente agarrou a mão dela e entrelaçou seus dedos. — Eu queria entender você. — B. — Seu lábio inferior tremeu. — Você vai me fazer chorar. — Não há necessidade de lágrimas. — Ele se inclinou e a beijou castamente. — Apenas sorrisos. 27
No Brasil, Um quarto só seu.
O comandante deu início aos anúncios de pouso e a tripulação começou a percorrer os corredores para coletar o lixo e lembrar os passageiros de colocarem os cintos de segurança e moverem as bandejas e cadeiras. Ele se esticou rapidamente para colocar o livro de volta na mochila de Marley e voltou para seu lugar. — Quando pousarmos, provavelmente terei que passar por uma fila diferente na alfândega. — Disse Marley sem rodeios. Ele franziu a testa. — O quê? Por quê? — Visitei uma fazenda e manuseei animais. — O que isso tem a ver com a alfândega? — Eles precisam se certificar que não estou trazendo patógenos e bactérias que podem matar o gado aqui. Tive que pesquisar no Google antes de preencher os formulários que eles nos deram. Todas as minhas roupas foram lavadas e meus sapatos estão limpos, mas... — Ela deu de ombros. — Eles podem me pedir para tirá-los para que possam ser limpos. — É melhor que seja a única coisa que eles peçam para você tirar. — Ele resmungou. — Por mais que eu ame o instinto de proteção que você tem, talvez possamos desacelerar um pouquinho quando estivermos lidando com funcionários do governo? — Um pouquinho. — Ele admitiu. — Mas assim que passarmos pela alfândega, vou aumentar para o onze28. 28
"Up to eleven" ou "aumentar para onze" é um idioma da cultura popular, cunhado no filme This Is Spinal Tap (no Brasil, Isto É Spinal Tap), onde o guitarrista Nigel Tufnel orgulhosamente demonstra um amplificador cujos botões de volume são marcados de zero a onze, em vez do habitual zero a dez. Isso passou a se referir a qualquer coisa sendo explorada ao máximo, ou aparentemente excedendo-as, como um controle de volume de som. Da mesma forma, a expressão "aumentar para onze" refere-se ao ato de levar algo ao extremo. Em 2002, a frase entrou no Shorter Oxford English Dictionary com a definição "até o volume máximo".
— Olhe para você fazendo piadas sobre o Spinal Tap. — Ela brincou. O avião mergulhou de repente e tremeu. Ele reflexivamente apertou a mão dela, e ela colocou a outra mão em cima das deles em um gesto de carinho. Ele ofereceu um sorriso trêmulo. — Eu odeio voar. — Então teremos que encontrar um cruzeiro que atraque na Europa para nossa próxima viagem à Albânia. — Ela decidiu. — Você já fez um cruzeiro? — Ele se perguntou, tentando manter sua mente longe do avião que balançava e de sua descida pouco suave em direção ao aeroporto. — Duas vezes. — Ela disse. — Aston e eu fomos em nossos primeiro e segundo anos de faculdade. Férias de primavera. — Ela explicou. — Foi tudo bem. Você já foi? — Não é a minha praia. — Respondeu ele, odiando a ideia de estar amontoado em um barco com mil estranhos. — Barcos em geral ou destinos praianos? — Barcos. — Ele olhou para ela com curiosidade. — Você é uma grande fã de praia? Ela riu. — Eu tenho cabelo vermelho. Se eu pular minha aplicação de protetor solar de hora em hora, acabo parecendo uma lagosta cozida. — Ficarei feliz em esfregar protetor solar em todo o seu corpo a cada hora para mantê-la segura. — Ele ofereceu em um tom baixo e lascivo. — A cada trinta minutos, se você estiver usando um biquíni.
— Bem, eu sempre quis visitar Turks e Caicos29... A visão de Marley em um biquíni rosa quase inexistente montada em seu colo enquanto ele passava protetor solar em cada milímetro de pele sardenta que pudesse alcançar o ajudou a passar por uma aterrissagem difícil. Estava caindo uma forte tempestade quando pousaram em Houston, e ele não estava ansioso para atravessar as ruas sujeitas a inundações. Eles estavam entre os primeiros a sair do avião, e a suspeita de Marley de que ela seria posta de lado e enviada por uma fila secundária parecia verdadeira. Ele não tinha permissão para segui-la e teve que prosseguir pela fila normal sem ela. Ele esperou impacientemente até que ela finalmente reapareceu. — Você está bem? — Ele perguntou insistentemente. — Perfeitamente bem. — Ela assegurou e entrelaçou seu braço no dele. — Eles me perguntaram sobre os animais que toquei, se certificaram de que eu lavei todas as minhas roupas e borrifaram minhas botas de caminhada. — Ela ergueu um pé para mostrar a ele a sola brilhante. — Isso foi tudo. Contente por isso ter acabado, ele a levou para longe da multidão de passageiros em direção à esteira de bagagens. Foi uma longa caminhada, mas era bom esticar as pernas depois de ficar sentado por tanto tempo. — Estou morrendo de fome. — Disse Marley enquanto atravessavam o aeroporto. — Onde fica o Whataburger30 mais próximo?
29
As Ilhas Turcas e Caicos são um arquipélago de 40 ilhas baixas de corais no Oceano Atlântico, um território transoceânico britânico a sudeste das Bahamas. 30 Whataburger é uma rede americana de restaurantes fast food especializada em hambúrgueres, com sede em San Antonio, Texas.
Ele riu. — Meses longe de Houston e a primeira coisa que você quer é Whataburger? — Uh, sim, porque é a melhor coisa de todas! — Ela cutucou o lado dele de brincadeira. — Diga-me que você não sentiu falta do ketchup picante e o molho de pimenta cremoso deles enquanto estava na Albânia. — Eu não senti. — Ele respondeu com sinceridade. — Não ligo para Whataburger. Ela realmente ofegou. Escandalizada, ela perguntou: — Por favor, me diga que não casei com um homem que pensa que In-N-Out31 é melhor do que Whataburger. — Você não casou. Eu não gosto de nenhum deles. — Ok, mas você gosta de tacos, certo? — Ela olhou para ele com cautela. — Porque eu sei que a tinta da nossa certidão de casamento mal secou, mas isso pode ser um obstáculo. — Você está presa a mim então. — Ele disse, puxando-a um pouco mais perto enquanto dois garotinhos selvagens corriam em direção a eles. — Tacos de rua e uma cerveja gelada são minha refeição preferida depois do trabalho. O menor dos dois meninos tropeçou e caiu, batendo com o rosto no chão. Marley imediatamente correu para ajudar. Ela cuidadosamente o sentou e tirou sua mochila. A cansada e atormentada mãe dos dois meninos correu e se agachou para verificar os danos. Marley ofereceulhe um punhado de guardanapos e um pequeno pacote de lenços umedecidos para limpar o sangue no rosto dele. Besian observou Marley interagir com os meninos e sua mãe. Ela 31
In-N-Out Burger é uma rede regional americana de restaurantes de fast-food localizada principalmente no sudoeste americano e costa do Pacífico.
tinha um jeito tão fácil de lidar com as pessoas. Nesse aspecto, ela era seu completo oposto. Ele fazia o possível para não se envolver nos problemas das outras pessoas, e ela fazia o possível para ajudar. Vê-la ali, oferecendo seu estoque de doces de viagem para os meninos e ajudando a mãe deles a limpar a bagunça no chão, lembrou a ele o coração gentil que Marley possuía. Ele precisava proteger seu coração certamente ferido. Ela não chorou desde que eles deixaram Tirana, e manteve uma expressão corajosa durante a viagem. Porém, logo abaixo da superfície, ela estava com as emoções totalmente confusas. Ele sentiu que não seria preciso muito para enviá-la a uma espiral de lágrimas e tristeza. Até que localizassem sua mãe e recebessem uma atualização sobre Spider, ele tinha que ter cuidado com ela. — Pobre garoto. — Ela disse quando voltou para o lado dele. — Eles acabaram de chegar de Londres. — Ela estendeu sua mochila. — Você pode segurar isso enquanto eu lavo minhas mãos? — Claro. Enquanto ela entrava no banheiro, ele checou seu telefone em busca de atualizações de Ben. Quando ele e Marley chegaram a Frankfurt, a equipe jurídica de Aston havia tirado Ben, Devil e Jet da prisão. Nenhum deles havia sido acusado e a batida no centro automotivo não tinha dado em nada. Suas ordens para esvaziar o centro automotivo assim que soube da invasão do MC valeram a pena. — Alguma notícia? — Marley perguntou quando se juntou a ele. — Ben abriu o centro automotivo depois do almoço e voltou direto ao trabalho. Meus gerentes estão com todos os meus clubes abertos e funcionando novamente. Meus advogados estão dizendo que nenhuma das infrações irão me incriminar.
— Então, qual era o sentido de tudo isso? — Ela tentou pegar a mochila de volta, mas ele balançou a cabeça e a colocou no ombro. — Para me lembrar que não sou intocável. — Ele resmungou. — Eu não fui o único que tive problemas. Os negócios de Nicky Jackson foram incomodados, e a avó e a irmã de Diego Reyes foram paradas no caminho para casa depois de jogar bingo. — Ugh, é tão nojento ir atrás da família de alguém. — Disse Marley com nojo. — A avó de Nate é a velhinha mais doce do mundo. Isso é tão errado! — Você conhece Nate Reyes? — Toda a minha vida. — Ela deve ter visto a confusão no rosto dele, porque explicou: — Antes de a mãe dele ser morta, eles moravam do outro lado da rua. No primeiro parque de trailer de propriedade do Spider. — Acrescentou ela. — Costumávamos andar de bicicleta e brincar até ficar escuro demais para ver o lado de fora. Eu, Nate, às vezes Sway e Diego e Levi. — Você andava de bicicleta e brincava com Levi Calder? O defensive end32? — Sim. Quero dizer, ele e Diego eram alguns anos mais velhos do que nós, mas todos nós meio que perambulávamos pelo parque juntos enquanto nossos pais trabalhavam. Bem. — Ela emendou. — Enquanto os pais deles trabalhavam. Mamãe era uma espécie de babá da vizinhança que ficava de olho em todos. De repente, a história recente de encontros de Marley fez sentido. Ele havia tentado não prestar atenção à vida social dela, mas era difícil com Ben contando a ele a cada chance que tinha. Ele ficou arrasado 32
Defensive end ou "Ponta Defensivo", é um jogador de futebol americano que se posiciona nos cantos da linha defensiva. Ele tem a função de atacar o quarterback adversário e também de fazer tackles.
quando Marley teve uma série de primeiros e segundos encontros com alguns dos homens mais cobiçados de Houston, alguns deles atletas profissionais. Saber que ela tinha uma amizade de longa data com Levi Calder preencheu as lacunas de como ela os estava conhecendo. E ela ainda me escolheu. Ele ficou maravilhado com isso enquanto eles recolhiam as bagagens e pegavam o bonde subterrâneo até a parada do hotel Marriott. Ele havia estacionado seu carro na garagem antes de partir para a Albânia. Um dos manobristas era um amigo em quem confiava para cuidar de sua propriedade, então era uma preocupação a menos enquanto ele estava fora da cidade. — Podemos passar na minha casa? — Marley perguntou depois que colocaram a bagagem no porta-malas. — Esse era o meu plano. Achei que você precisaria de algumas coisas. Ele abriu a porta do passageiro para ela. Ainda sem entrar no carro, ela perguntou: — Podemos passar na casa da minha mãe? Está a caminho da saída do parque. Eu quero ver se ela deixou um bilhete ou algo assim. — Claro. — Ele a beijou com amor e fechou a porta depois que ela deslizou para o assento. A viagem do aeroporto até o estacionamento da casa móvel onde Marley e sua mãe moravam não foi tão longa. Ele teria que passar por ali para chegar à sua cobertura de qualquer maneira, então fazia sentido parar e deixá-la recolher o máximo de suas roupas e outras necessidades que ela quisesse. — Deveríamos tentar fazer suas malas para você sair de sua casa o mais rápido possível. — Decidiu Besian. — Eu não quero que você tenha que ir e voltar para pegar as coisas.
— Não vai demorar muito para arrumar minha casa. É muito pequena e não coleciono ou guardo muitas coisas. Depois de ver como ela havia feito as malas com eficiência durante os meses no exterior, ele acreditou. Considerando o que ela disse a ele sobre as tendências de acumulação de sua mãe, não foi uma surpresa. Ter seu próprio espaço para mantê-lo arrumado e mínimo provavelmente foi um alívio para ela. — 1-9-1-1. — Disse ela quando chegaram ao portão da comunidade. — Estou nesta primeira rua, seguindo em frente, até o fim. — Eu sei. — Respondeu ele sem pensar. Ela se mexeu no banco. — Oh? Ele evitou seu olhar interessado quando admitiu: — Posso ter vindo por aqui por uma ou duas vezes. — Você estava me perseguindo? — Ela brincou. — Não! — Se esgueirar até minha casa tarde da noite é uma espécie de perseguição. — Não é perseguição se você está verificando alguém e certificando-se de que está segura. — É o que diz todo perseguidor quando é levado diante de um juiz. — Ela insistiu em tom de brincadeira. — Engraçado. — Ele rosnou. — Talvez eu devesse pedir uma ordem de restrição temporária. — Sugeriu ela. — Mas com algumas modificações. — Como?
— Oh, em vez de impedi-lo de me incomodar, você tem que me manter em restrição. — Marley. — Alertou ele. — Não me dê ideias. — Eu tenho algumas outras ideias. — Ela continuou, seus dedos subindo pelo braço dele enquanto ele dirigia lentamente pela rua dela. — Ideias que incluem algemas e vendas e talvez seu cinto. — Continue assim e vou perguntar a Zec se posso pegar emprestado sua masmorra. Ela congelou. — Você está falando sério? Ele tem uma masmorra de verdade? — Como mais você chamaria um lugar como o que ele tem? Todo aquele couro e a parede de varas e as caixas de metal e restrições? — Uh, ok, isso é assustador. — Disse ela, não mais brincando. — É tudo consensual. Pago. — Ele acrescentou. — Com profissionais. — É ele quem inflige a dor ou quem recebe? — Ele que causa. — Huh. — Ela comentou pensativamente. — Quero dizer, faz sentido. Pelo pouco que sei sobre ele, ele definitivamente transmite a vibração sádica reprimida. — O quê? — Você usou a masmorra dele? Ou contratou os mesmos tipos de profissionais? — Isso parece um campo minado ou uma armadilha. — Ele resmungou.
— Eu não vou julgar. — Ela prometeu. — Não. — Ele respondeu com sinceridade e encontrou o olhar dela na penumbra. — Eu não estou nessa cena. Eu já estive com mulheres profissionais antes. — Admitiu. — Mas há muitos anos e sempre fui cuidadoso com minhas parceiras. — Está bem. — Tem certeza? — Ele suspeitava que ela não estava. — Trabalho sexual é trabalho. — Respondeu ela com naturalidade. — Se for feito com segurança e não houver tráfico ou coisas com menores de idade acontecendo. Não é da minha conta como alguém escolhe ganhar a vida. Além disso. — Ela acrescentou com um encolher de ombros. — Eu conhecia algumas meninas que trabalhavam para Alina. Ele quase desviou. — Você sabe sobre Alina? Ela riu. — B, sério? Outro pensamento perturbador o atingiu. Marley era exatamente o tipo de jovem que Alina teria desejado em seu harém de acompanhantes. Linda, inteligente, elegante. — Ela tentou recrutar você? — Isso importa? — Sim! — Fui abordada. — Ela confessou. — Quando? — Logo depois que fiz 21 anos. — Ela disse. — Uma colega me convidou para almoçar e explicou como funciona o serviço de Alina.
Ela me ofereceu um bônus de sinal, mas não fui corajosa o suficiente para tentar. — Da próxima vez que eu vir Alina, vou... — Deixar isso em paz. — Interrompeu Marley. — Não deu em nada e, francamente, fiquei lisonjeada. Pare sob a garagem. — Ela disse. — Podemos usar a porta dos fundos para evitar a maior parte da chuva. — Nós não terminamos de discutir sobre isso com Alina. — Ele murmurou enquanto estacionava. — Sim, nós terminamos. — Ela tirou o cinto de segurança e se inclinou sobre o console para beijá-lo. — Sou sua. Você é meu. Isso é tudo o que importa agora. Ela tinha razão. — Tudo bem. Ela sorriu e o beijou novamente. — Vamos. Quanto mais rápido pegarmos minhas coisas, mais rápido você pode me mostrar sua casa. — Nossa casa. — Ele corrigiu suavemente. — Por enquanto. — Por enquanto? — Ela ecoou, incerta. — Olhe para o seu quintal, Marley. — Ele gesticulou para fora da janela para os canteiros de flores e árvores. Ele podia ouvir os sinos de vento em sua varanda tilintando com o vento e ver as pás do moinho de vento feito à mão girando no meio de seu jardim da frente. — Você vai se sentir miserável em uma cobertura. Não importa o quão incrível seja a vista, ela não substitui um jardim. — Eu posso me contentar com vasos de plantas. — Ela ofereceu. — Sra. Martinez tem cuidado de todas as minhas suculentas e das plantas da casa em sua estufa nos fundos. Eu tenho tantas que provavelmente teremos que dar algumas.
— Você não precisa doar suas plantas. — Essa é uma das melhores partes das plantas de casa e suculentas! Você pega mudas e faz dezenas de plantinhas felizes para dar aos amigos. — Dezenas? — Oh sim. Minha Espada de São Jorge era tão pequena. — Ela gesticulou com as mãos. — Quando a comprei alguns anos atrás. Eu a propaguei em pelo menos vinte plantas diferentes até agora. A original quase chega aos meus ombros! Enquanto tentava absorver Marley trazendo dezenas de plantas com ela, ele disse: — Definitivamente vamos precisar de uma casa maior. — Vamos fazer funcionar. — Ela alcançou a maçaneta da porta. — Vamos lá. Ainda estou morrendo de fome e, quanto mais cedo terminarmos aqui, mais cedo poderei comer. — Sim, querida. — Ele resmungou, e ela sorriu para ele. Mas a atmosfera lúdica se dissipou assim que eles saíram do carro. O vento aumentou e a rajada trouxe um cheiro de revirar o estômago que ele reconheceu imediatamente. — Marley. Ela congelou com seu tom invulgarmente brusco. — Volte para o carro e tranque as portas. — Você vai precisar das minhas chaves. Elas estão na minha mochila. — Eu vou pegar.
Ela deslizou de volta para o banco do passageiro e fechou a porta. Ele abriu o porta-malas, pegou a mochila dela e a trouxe de volta para o lado do motorista. Ele a entregou a ela antes de se agachar e pegar a Ruger que mantinha em um grande ímã embaixo de seu assento. O olhar dela saltou para a arma na mão dele enquanto ela estendia as chaves de sua casa. — Você tem uma arma embaixo de seu assento? — Onde mais eu colocaria? — Hum, eu não sei, talvez em algum lugar que não atire na sua bunda se você sofrer um acidente de carro? — Está travada. — Ele assegurou a ela. — É segura em um acidente de carro? Ele ignorou seu comentário sarcástico e apontou para as portas. — Tranque-as. Se eu não voltar em cinco minutos, sente-se no banco do motorista e vá embora. Vá direto para a casa de Aston. Envie Ben. — Oh, não. Vou ligar para o 9-1-1 se você não voltar em cinco minutos. — Marley. — Besian. Ele suspirou de frustração. — Tudo bem. Tranque as portas. — A chave com a tampa azul é para a porta dos fundos. — Ela gritou quando ele fechou a porta do carro. Ele esperou ao lado do carro até ouvir o clique das fechaduras. Ele retirou a trava de segurança de sua pistola e se aproximou cautelosamente da casa móvel. Não era muito grande, provavelmente menos de 90 metros quadrados. Quanto mais se aproximava da porta dos fundos, mais forte ficava o cheiro nauseante. Algo – alguém – estava
morto na casa de Marley. Por favor, Deus, não deixe ser a mãe dela. Ele subiu as escadas até a porta dos fundos, estremecendo quando elas rangeram alto, e tentou a porta dos fundos. Ainda estava trancada, então ele usou a chave azul. Antes mesmo de empurrar a porta, o cheiro de decomposição era tão forte que ele teve que cobrir o nariz e a boca com o antebraço. No momento em que a porta se abriu totalmente, ele recuou e lutou contra a vontade de vomitar. Ele deu um passo para dentro da casa de Marley e ligou os interruptores de luz ao lado da porta. Ele não teve que ir mais longe para encontrar a origem do cheiro. Ali, de bruços no chão de linóleo da cozinha de Marley, estava um cadáver. Uma mulher. Uma loira. Com o rosto para baixo em uma poça de sangue coagulado e urina. Porra.
CAPÍTULO 25 Entorpecida e com frio, estremeci na sala de interrogatório bem iluminada, apesar do conforto familiar do meu casaco com capuz bem gasto. As últimas horas haviam passado em um turbilhão de lágrimas e pânico e agora confusão e tristeza. Era minha mãe morta no chão da minha casa? Era outra pessoa? Uma estranha? Uma invasora? Quem a matou? Por quê? Por que minha casa? Atrás de mim, Besian andava de um lado para o outro na sala de interrogatório. Ele se recusou a se separar de mim e eu nunca fiquei tão feliz por tê-lo ao meu lado. Eu nunca esqueceria o olhar pálido e enojado em seu rosto quando ele voltou para o carro e me contou o que havia descoberto dentro da minha casa. Ou o cheiro horrível que ficou impregnado nele. A porta da sala de interrogatório se abriu de repente e dois homens entraram. Um deles reconheci como o detetive de homicídios que havia chegado à minha casa logo depois de ligar para o 9-1-1. O outro era muito familiar para mim. Eric Santos. Um dos principais detetives da Unidade de Armas e Gangues. Notei os olhares de desconfiança trocados por Besian e Eric. Eu só podia imaginar quanta animosidade existia entre eles. Encontrei o olhar de Besian e silenciosamente implorei para ele não ficar irritado e agressivo. A última coisa que precisávamos era de problemas com a polícia. — Marley. — Eric cumprimentou gentilmente. — Lamento que você tenha que lidar com isso. — Ele gesticulou para seu colega e disse: — Acho que você conheceu o detetive Kermally no local.
— Sim. — Eu sorri fracamente para o detetive. — Nós nos conhecemos brevemente antes de sermos chamados para vir aqui. — Besian. — Disse Eric em sua voz séria de policial. — Você se importaria de sair para que possamos falar com Marley em particular? — Eu absolutamente me importaria. — Besian respondeu de forma concisa. — Não vou deixar minha esposa sozinha com dois detetives, a menos que ela tenha um advogado sentado ao lado dela. Pego de surpresa, Eric enrijeceu. Ele olhou entre mim e Besian. — Você se casou com ele? Irritada com seu tom, eu rebati. — Sim, eu casei. — Quando? — Por quê? Você está planejando nos enviar um presente de casamento atrasado? — Besian perguntou bruscamente. — O melhor presente de casamento que eu poderia oferecer a Marley é o nome do melhor advogado especializado em divórcio da cidade. — Eric retrucou maldosamente. Besian deu um passo à frente e o detetive Kermally colocou a mão no peito de Eric. — Senhores, vamos abaixar um pouco o nível, ok? Claramente, há alguma história aqui da qual não estou ciente e, francamente, não me importo muito no momento. Eu só me importo em descobrir quem é a pessoa morta na casa de Marley e quem matou. Peguei a mão de Besian e puxei-o delicadamente em direção ao assento vazio ao meu lado. Ele relutantemente sentou-se e segurou firme em minha mão. Eric permaneceu de pé, mas o detetive Kermally sentou-se à nossa frente. Ele largou um bloco de notas na mesa e clicou três vezes em sua caneta. — Vamos começar pelo básico, Marley. — É minha mãe? — Eu soltei, incapaz de esperar mais um
segundo. — Minha mãe está morta na minha casa? Besian colocou a mão nas minhas costas e esfregou suavemente em círculos suaves. Inclinei-me em seu toque, desesperada pela força que ele oferecia. — A cena ainda está sendo analisada. Não posso dizer com certeza de uma forma ou de outra. — Declarou o detetive Kermally antes de continuar a me fazer perguntas simples, principalmente sobre minha vida. — E o que você faz para viver? — Sou estudante de graduação na Rice, mas trabalho meio período em uma loja de penhores. — A loja de Abby. — Eric interrompeu. — Oh. OK. Claro, eu sei. — O detetive Kermally fez uma anotação rápida. — E o que você está estudando na graduação? — Antropologia sociocultural. — Interessante. — Disse ele, fazendo outra anotação. — Minha esposa e eu acabamos de ler alguns livros de Ta-Nehisi Coates. Havia alguma coisa provocativa neles. — Se você gosta de quadrinhos, ele teve uma série realmente fantástica com o Pantera Negra. — Percebi que a boca de Besian se curvou para mim, por dar uma recomendação de gibi no meio de um interrogatório policial. — Eu gosto, na verdade, e meus filhos também. — Disse o detetive Kermally. — Vou passar isso adiante. — Onde você esteve? — Eric interrompeu rudemente. — Estamos procurando-a desde a batida no MC. — Europa. — Eu franzi o cenho. — Você poderia ter
perguntado aos meus vizinhos ou Aston. — Nós perguntamos. — Eric explicou. — Nenhum deles quis falar conosco. — Parece que você precisa melhorar suas habilidades pessoais. — Observou Besian. — Nem todos nós ganhamos a vida manipulando e roubando. — Eric rosnou. — Onde na Europa? — O detetive Kermally perguntou, lançando a Eric um olhar perturbado. — Em vários lugares. — Eu disse, colocando minha mão na perna de Besian debaixo da mesa. — Comecei em Londres e acabei em Tirana. Fiz muitas caminhadas. — E você voltou hoje? — Sim. — Por causa dos ferimentos do seu padrasto? A lembrança de seu acidente horrível adicionou outra camada de tristeza e pânico ao meu estado já ansioso. — Como ele está? Posso vêlo? — Ele está em Ben Taub. — Disse Eric, com os braços cruzados enquanto se encostava na parede. — Ele não é nosso prisioneiro. Ele pertence aos federais. — Você deveria contratar um advogado familiarizado com a promotoria federal. — Sugeriu o detetive Kermally para ajudar. — Eles estão mais bem preparados para orientar você durante o processo. Considerando a situação, é possível que você planeje uma visita se alegar compaixão.
— E se eles pensarem que me ver o fará cooperar. — Murmurei, certa de que agora seria considerada um ponto de pressão para Spider. — Sim. — O detetive Kermally nem se deu ao trabalho de mentir, e eu apreciei isso. — Você está a par da vida criminosa do seu padrasto? — Não responda. — Besian comandou, sua mão movendo-se para o meu ombro. Olhando para o detetive, ele disse: — Se você pretende seguir por esse caminho, vamos embora. Você não vai perguntar a ela sobre Spider ou o MC ou qualquer uma dessas merdas sem a presença de seus advogados. A boca do detetive Kermally se enrijeceu em uma linha sombria. Ignorando Besian, ele se dirigiu a mim diretamente: — Marley, você quer responder às minhas perguntas? — Acho que meu marido foi muito claro sobre nossos limites. — A mão de Besian se moveu do meu ombro para minha nuca, e ele gentilmente passou o polegar pela minha pele, me lembrando que ele estava bem ali comigo e não me deixaria tropeçar em nenhum problema. — Sim, ele foi. — O detetive Kermally suspirou e rabiscou algo em seu bloco de notas. — Quando foi a última vez que você viu sua mãe? — Antes de partir para a minha viagem. — Respondi e dei-lhe a data exata. — Trocamos mensagens de texto quase todos os dias até ela ir para Lake Charles. — Louisiana? — Sim. — Por quê? — Para jogar. — Eu disse, me perguntando por que mais alguém
iria lá. — Ela foi com um amigo. Ela me pediu dinheiro e não recebi nenhuma mensagem dela desde então. — Quando foi isso? — Hum... talvez dez dias atrás? — Peguei meu telefone do bolso do meu moletom. — Deixe-me ver. — Encontrei as mensagens e mostrei-as ao detetive. — Ela tem esse costume? — Ele perguntou enquanto percorria nossas mensagens. — Desaparecer sem fazer contato? — Sim e não. — Eu disse, pegando meu telefone de volta. — Há alguns anos, ela começou a passar muito tempo na internet, especialmente em grupos do Facebook e Discords 33. Ela conhecia pessoas – homens – e saía correndo para encontrá-los. Vegas, Miami, Phoenix, Dallas. — Eu listei os lugares que ela tinha ido. — Mas ela e Spider são casados, correto? Soltei um som que estava entre um suspiro e uma risada. — Sim, mas obviamente, não da forma mais convencional. — Eles não são monogâmicos? — Não, e eu acho que eles nunca foram. — Eu respondi honestamente. — Eles não moram na mesma casa desde que eu tinha quatorze anos. — Quando sua mãe esfaqueou Spider no peito na véspera de Natal? — Eric perguntou. Vacilei com a memória feia que há muito tempo havia enterrado nos recônditos da minha mente. Eu olhei para ele. — Sim. Na verdade. — Isso era algo comum em sua casa? — Detetive Kermally 33
Discord é um aplicativo de bate-papo gratuito, projetado inicialmente para comunidades de jogos.
perguntou. — Violência? Eu concordei. — Minha mãe era muito temperamental. — Era ou é? — Ela está usando estabilizadores de humor há um tempo. Isso diminuiu suas explosões. — E Spider? Ele era violento em casa? — Ele apenas se defendia. — Expliquei. — Eu nunca o vi ser agressivo ou violento com minha mãe, a menos que ele estivesse tentando contê-la. — Parece um ambiente muito estressante para se crescer. — Comentou o detetive. — Era. — Grato pela mão de Besian em meu pescoço, inclineime para ele novamente. — Foi por isso que me mudei assim que fiz dezoito anos. — Para uma das casas móveis que seu padrasto possui? — Sim. — Vamos voltar um pouco aos hábitos na internet de sua mãe. — Redirecionou o detetive Kermally. — Você disse que ela conhecia homens pela internet e depois pessoalmente? Ela te contou sobre esses homens? — Não depois dos dois primeiros. — Eu disse, encolhendo-me com as memórias dela se jogando sobre homens que claramente a estavam aplicando golpes. — Ela e eu tivemos uma grande briga depois que ela fugiu para Miami e quase foi traficada. A única razão pela qual eles não a levaram é porque ela estava enganando esse cara com fotos minhas.
Besian ficou rígido ao meu lado e evitei seu olhar. Ele já tinha uma opinião negativa de minha mãe, e agora deve ter piorado ainda mais. — Sua mãe usou suas fotos para enganar homens? — Ela parou depois disso. — Você tem certeza disso? — Perguntou o detetive. — Não. — Eu admiti relutantemente. — Ela me disse que sim. — Bem, seu histórico de falar a verdade não é o melhor. — Não, não é. — Eu concordei. — Então, é possível que a pessoa que ela conheceu em Lake Charles não estivesse esperando uma mulher de quase cinquenta anos. — Sugeriu o detetive Kermally. — É possível. — Meu estômago embrulhou enquanto eu considerava o quão ruim isso teria sido. — E você não ficou preocupada quando não teve notícias de sua mãe depois da última mensagem dela? — Eu fiquei, mas não o suficiente para entrar em pânico e chamar a polícia. — Eu disse defensivamente. — Ela já fez isso antes, e presumi que era isso. Combinava com seu padrão de fugir para encontrar um homem qualquer. Eu esperava que ela voltasse para casa, envergonhada e falida depois de uma semana ou mais. — Isso é um problema contínuo para sua mãe? Problemas financeiros? Percebi que a maioria das mensagens que ela lhe enviou enquanto você estava viajando eram sobre pedir dinheiro emprestado. Meu rosto aqueceu de vergonha. — Ela tem dificuldade em
administrar seu dinheiro. — Por causa do jogo? — Em parte. — Você é tão frio que não perdoou as dívidas de jogo da sua sogra? — Eric interrompeu, claramente tentando emboscar Besian. — Não tenho certeza do que você está falando. — Respondeu Besian, sem querer admitir que dirigia cassinos subterrâneos, apostas e torneios particulares de pôquer. — Qual é a outra parte? — O detetive Kermally perguntou, ignorando as idas e vindas infantis entre Eric e Besian. — Compras. — Expliquei. — Esquemas para enriquecimento rápido. — E onde ela trabalha? — Ela é autônoma. — Fazendo o quê? — MLMs34, principalmente. O detetive parecia confuso, e Eric interrompeu: — Maquiagem, leggings, adesivos para emagrecer. Você sabe, esquemas de pirâmide. — Oh. Eu estremeci quando disse fracamente: — Esquemas de pirâmide são ilegais. MLMs são marketing de rede. — Na sobrancelha arqueada do detetive, eu disse: — Pelo menos, é o que ela me diz sempre 34
Marketing multinível, também conhecido como venda direta ou marketing de rede, é um modelo comercial de distribuição de bens ou serviços em que os ganhos podem advir da venda efetiva dos produtos ou do recrutamento de novos vendedores.
que começo a dizer isso. — Entendo. Alguém bateu na porta e Eric foi atender. Eu olhei de volta para ele, observando enquanto ele saía da sala. Besian aproveitou a pausa no interrogatório para tocar meu rosto e me dar um sorriso de apoio. Virei minha cabeça e beijei suavemente sua palma, silenciosamente agradecendo a ele por ficar comigo. Quando Eric voltou, ele tinha uma pasta de papel nas mãos. — Marley, temos algumas fotos da cena do crime que gostaríamos que você visse. Besian estendeu a mão e mexeu os dedos. — Deixe-me vê-las primeiro. Você não vai traumatizá-la. Eric e o detetive Kermally trocaram olhares e o detetive de homicídios assentiu. Besian pegou a pasta e abriu, tomando cuidado para mantê-la o mais longe possível de mim. Observei seu rosto em busca de qualquer indicação de que as fotos lá dentro eram horríveis, mas ele permaneceu impassível enquanto folheava as fotos. Ele puxou uma foto e a virou para baixo, deslizando-a sobre a mesa para o detetive Kermally. — Não adianta ver essa. Está distorcida e irreconhecível. O detetive Kermally ergueu a borda da foto e espiou a imagem. Ele fez uma careta e acenou com a cabeça. — É justo. — OK. — Besian estendeu a pasta para mim. — Elas não são bonitas, mas acho que você pode lidar com elas. Relutantemente, coloquei a pasta na mesa e abri. Besian estava certo. As imagens impressas no papel brilhante não eram nada bonitas. O fotógrafo da cena do crime havia capturado imagens da mulher morta na minha cozinha. A primeira era de cima, e meu coração disparou ao ver todo aquele cabelo loiro. Parecia assustadoramente semelhante ao
tom de loiro champanhe que mamãe preferia. Engoli a bola de pânico que obstruía minha garganta e olhei mais de perto para as imagens na pasta. Eu examinei cada uma, observando os sapatos, as calças, a camisa. Um close da mão da mulher e o pequeno pedaço de pele cinza-arroxeada cadavérica visível entre o jeans e a blusa me convenceu. — Esta não é minha mãe. — Soltei um suspiro de alívio. — Não é ela. Besian se aproximou e agarrou minha mão. Ele observou meu rosto. — Tem certeza, rrushe? — Sim. — Eu me virei para os dois detetives. — Tenho certeza de que não é ela. — Como você pode ter certeza? — Detetive Kermally perguntou ceticamente. — Bem, em primeiro lugar, o linóleo da cozinha. Comprei e instalei com a ajuda de Spider. Os ladrilhos eram doze por vinte e quatro. — Usei meus dedos para medir o comprimento entre os sapatos da mulher e sua cabeça. — Esta mulher tem talvez 1,57 ou 1,60 de altura. Minha mãe tem 1,77. Eu apontei as calças que a mulher usava. — Minha mãe não usa jeans tão alto nos quadris. Esta camisa é muito modesta. Mamãe tem uma ótima silhueta e se certifica de que todos vejam. Passei para a foto da mão. — Mamãe usa unhas de acrílico. Ela está no salão de manicure de Mindy todas as semanas, seja para dar manutenção nas unhas, trocar o esmalte ou fazer os pés. Ela nunca iria sair em público com cutículas esfarrapadas e unhas roídas. Mudei para a foto que era um close das costas da mulher. — O
cós dessa calcinha não combina com ela. Duvido que minha mãe tenha sequer uma calcinha grande. Toquei a pele manchada e em decomposição e tentei não pensar em como seria realmente. — E não há nenhuma tatuagem aqui. As costas inteiras da minha mãe são cobertas. O detetive Kermally e Eric digeriram meu resumo ponto a ponto das diferenças entre minha mãe e essa mulher. Por fim, o detetive Kermally perguntou: — Essa mulher parece familiar para você de alguma forma? Olhei para as fotos novamente. Agora que não estava com medo de ver minha mãe morta e apodrecendo no chão da minha cozinha, tive mais facilidade para inspecioná-las. — Não. — Eu disse finalmente. — Ela não parece familiar. Houve uma batida na porta antes que ela se abrisse, e uma mulher grávida entrou. Ela sorriu se desculpando para Eric e Detetive Kermally. — Desculpem, estou atrasada. — Sem problemas. — Disse o detetive Kermally e acenou para que ela entrasse. — Marley, esta é a Detetive Gibson. Ela está com a Unidade de Pessoas Desaparecidas. Pedi a ela para ajudar neste caso. A detetive Gibson trocou cumprimentos conosco e então ocupou o lugar vazio ao lado de Eric. Ela abriu a capa de seu tablet e bateu na tela. Durante a meia hora seguinte, ela fez todos os tipos de perguntas sobre minha mãe. Eric e o detetive Kermally deixaram a sala de interrogatório por um tempo, mas suspeitei que eles estivessem na sala ao lado, nos observando pela janela e ouvindo tudo o que eu dizia. — A sua mãe tem acesso a grandes quantias de dinheiro? Dinheiro ou cartões de crédito? — Detetive Gibson perguntou. Besian chamou minha atenção e acenou com a cabeça para me
encorajar a ser honesta. Sentindo-me envergonhada mais uma vez, admiti: — Minha mãe limpou minhas contas enquanto eu estava no exterior. A atitude profissional da detetive Gibson escorregou por um momento, e ela mostrou seu lado maternal. — Sua mãe te deixou no exterior sem nenhum dinheiro? — Sim. A detetive Gibson olhou para Besian e depois de volta para mim. — Ela faz isso frequentemente? Roubar você? — Eu não chamaria de roubo, exatamente. — Respondi, incapaz de rotular minha mãe de ladra. — Ela pede dinheiro emprestado. — E não paga de volta? — A detetive adivinhou. — Não, normalmente não. — Eu admiti. — Ela tem contas conjuntas com você? — Compartilhamos uma conta na qual guardo um pouco de dinheiro para ela ter acesso. — Qual banco? — Aquele no Walmart. — Eu disse, sem me lembrar o nome. — Woodforest. — Besian forneceu. — Esse é o banco em todas as lojas do Walmart da área. Claro, ele saberia disso. — E as outras contas? Elas não são conjuntas? — Não. — Mas ela conseguiu acessá-las?
— Meu computador em meu escritório tem todas as minhas senhas salvas no navegador. Ela não teria problemas para fazer login e transferir dinheiro de minhas contas para as dela ou enviá-lo para a Western Union. — E você não estava ciente das transferências? — Eu não tinha serviço de celular ou Wi-Fi nas áreas em que estava caminhando. Quando tive sinal, já era tarde demais. Todo o dinheiro tinha desaparecido. — Quanto ela conseguiu levar no total? — Um pouco mais de dezessete mil. — Eu disse, evitando o olhar de Besian. Eu não tinha contado a ele o número real ainda, e podia sentir as ondas de frustração e raiva irradiando dele. — É uma quantia e tanto. — Observou o detetive Gibson. — Quanto tempo você demorou para juntar isso? — Anos. — Eu disse, não querendo pensar em todos os turnos extras que fizera na loja de penhores ou em como meu orçamento tinha sido limitado para economizar e tornar meu sonho de viajar pela Europa uma realidade. As perguntas continuaram até que ela tivesse todas as informações de que precisava. O detetive Kermally voltou para me pedir uma amostra de DNA para excluir meu DNA da cena e para pedir as chaves da casa de minha mãe. — E quanto ao seu carro? — Detetive Kermally perguntou. — Ele estava estacionado na sua casa enquanto você estava fora? — Não, está na garagem de Aston desde o dia em que saí. — Aston? — O detetive Kermally franziu a testa e olhou para a detetive Gibson. — Por que esse nome é familiar?
Ela olhou para ele. — Eles prenderam o namorado dela ontem. Ela encheu a delegacia com uma dúzia dos advogados de defesa mais caros da cidade e teve um grande ataque até ele ser libertado. — Oh. Certo. — O detetive Kermally pigarreou. — Considerando que o carro tenha ficado na garagem dela o tempo todo e não estava na cena do crime, vamos deixá-lo quieto por enquanto. Depois que colheram o material genético da bochecha, tiraram minhas impressões digitais e nos deixaram sair com instruções para ficarmos na cidade. Como se algum de nós quisesse viajar de novo depois da nossa maratona de volta para casa! Deixamos a delegacia de mãos dadas e caminhamos sob a garoa da madrugada até o carro de Besian. Nenhum de nós disse uma palavra enquanto tomávamos nossos lugares ou enquanto saíamos da delegacia. Não foi até ele entrar em um Whataburger que finalmente conversamos. — Não estou com fome. — Eu disse baixinho. — Você precisa comer. Eu concordei com um aceno de cabeça e disse a ele o que eu queria. Ele me surpreendeu pedindo a mesma coisa. Enquanto esperávamos na janela do drive-thru, ele pegou minha mão. Depois de um momento, ele disse: — Lá em Tirana, você se lembra quando eu disse que Luka tinha um problema que eu iria resolver? — Sim. — Esse problema estava relacionado a criptomoedas. Um golpe. — Disse ele, cansado. — E não é bom, mas essa não é a questão. — O que é? Ele grunhiu em aborrecimento quando nosso pedido ficou
pronto e foi entregue a ele. Eu o peguei e ele dirigiu ao redor do prédio até o estacionamento quase vazio. Ele encontrou um lugar e deixou o carro em ponto morto, os limpadores de para-brisa deslizando de um lado para o outro como um metrônomo. — Diga-me. — Eu implorei, querendo obter qualquer coisa horrível que precisasse ser dita. — Seja o que for, diga-me. — Na manhã em que ficamos noivos, antes de irmos para Tirana, Luka recebeu um pacote. Tinha fotos suas e de Rina nele. — Minhas? — Um pavor frio apoderou-se do meu coração. — Fotos suas de antes de eu ir para a Albânia. — Explicou ele. — Fotos suas dormindo no albergue em Shkodër. — O quê? — Meu coração saltou na minha garganta. — Alguém tirou fotos minhas dormindo? — Sim. Estavam muito perto de você. Muito próximos. — Ele disse e esfregou a testa. — Eu não conseguia entender por que eles estavam seguindo você mesmo antes de eu vir e te pedir em casamento. Não fazia sentido. Nunca estivemos juntos. Não estávamos romanticamente envolvidos. Então, por que você? — E agora? Você já descobriu? — Quando você disse que sua mãe usava suas fotos para enganar homens na internet, fez sentido. Sua mãe deve ter usado suas fotos para conhecer alguém da Europa Oriental. — Oh meu Deus! — Eu interrompi em voz alta enquanto as peças se encaixavam. — Quando eu estava no hospital, logo após minha cirurgia, mamãe e Spider estavam discutindo. Eu estava saindo da anestesia, então fingi que estava dormindo porque não conseguia lidar com a discussão. Mamãe disse que tinha um relacionamento à distância
com um romeno chamado Adrian. Ela disse que ele era um empresário de criptomoedas! — Você tem certeza? — Sim. Absolutamente. Foi o que ela disse. Ele olhou pelo para-brisa. — Tenho que falar com o Luka e o Zec. Pedir a eles que descubram quem é essa pessoa. Ver se há uma conexão entre Adrian e o esquema de criptomoedas que Luka estragou. — Como ele estragou tudo? — Ele perdeu as criptomoedas. Tudo. Milhões de dólares americanos. — Besian. — Eu disse, agarrando seu braço. — E se eles acharem que eu tenho as criptomoedas? E se eles acharem que estamos enganando sua família? E se for por isso que estão a minha procura? E se não for sobre Spider, afinal? Besian segurou meu rosto com as duas mãos. Ele olhou nos meus olhos e jurou: — Ninguém vai tocar em você. Custe o que custar, vou consertar isso. — B. — Eu sussurrei e o beijei. — Eu estou com medo. — Bom. — Ele respondeu asperamente. — Se você estiver com medo, será mais cautelosa. Até resolvermos isso, não quero você fora da minha vista. — Sem problemas. — Eu prometi, nem um pouco interessada em ficar a mais de um metro e meio de distância dele. Besian me beijou novamente, seus lábios se demorando nos meus. Quando se afastou, ele apontou para o saco listrado de laranja e branco no meu colo. — Coma suas batatas fritas antes que esfriem.
— Ele olhou para a embalagem e fez uma careta. — Só não deixe cair ketchup no meu estofamento. Considerando o quão imaculadamente limpo seu carro estava, eu suspeitei que poderia ser a primeira e única pessoa a quem ele tinha permitido beber ou comer alguma coisa neste carro. Decidindo tomar sua única estipulação como um sinal de sua confiança, dei um tapinha em sua mão enquanto ele saia do estacionamento. — Sim, querido.
CAPÍTULO 26 — Você está bem? — Besian perguntou gentilmente enquanto esperávamos ser chamados ao quarto de hospital de Spider na tarde seguinte. Sharice Johnson, a advogada que contratamos assim que voltamos para a cobertura de Besian na noite anterior, estava trabalhando sem parar para conseguir uma visita a Spider. Ela era uma advogada de defesa agressiva e séria, e eu gostava muito dela. Ela não mentiu. Ela não fez promessas vazias. Ela me avisou sobre a possibilidade real de que Spider ficar preso pelo resto da vida. Ela até ensaiou quais tópicos eu deveria evitar, apenas no caso de o quarto do hospital estar sob escuta. — Hospitais me deixam nervoso. — O Taub deixa todo mundo nervoso. — Ele resmungou e entrelaçou nossos dedos. Ele ergueu minha mão e a beijou. — Ninguém vem aqui por escolha própria. — Não. — Eu concordei, olhando ao redor do espaço. Ben Taub era o hospital que atendia qualquer paciente, independentemente de sua capacidade financeira. Eles também lidavam com muitos ferimentos violentos e tiros – incluindo aquele que quase matou Besian. — Escute. — Disse ele, inclinando a cabeça para mais perto de mim. — Antes de sair para o trabalho esta noite, vou colocar alguns arquivos na minha mesa. Quero que você os leia e se familiarize com meus acervos. Você precisa saber sobre todas as contas bancárias, investimentos, propriedades e clubes. Todas as coisas legítimas e honestas. — Acrescentou ele calmamente.
— E as outras coisas? — Eu me perguntei, segurando seu olhar. — Essas coisas não estão registradas. — Ele respondeu com um pouco de malícia em seus olhos escuros. — Amanhã, vamos sentar e revisar essas coisas. Se algo acontecer comigo até lá, Ben pode ajudá-la. — Não diga isso. — Eu sibilei e dei um tapa em seu peito. — Vai nos dar azar! — Querida, já estamos azarados. — Disse ele com uma risada aguda. Eu fiz uma careta e bati em seu peito. — Pare! Não estamos azarados. — As últimas setenta e duas horas iriam discordar de você. Antes que eu pudesse pensar em uma resposta para isso, Sharice voltou de sua conversa com os agentes federais do lado de fora do quarto de hospital de Spider. — Ok, Marley, está na hora. Lembre-se do que discutimos. Você não tem qualquer expectativa de privacidade naquele quarto. Você não está amparada por nenhum privilégio. Por mais que você queira encontrar sua mãe e ajudar Spider, precisa se preocupar primeiro com você. — Eu me lembro. Besian beijou minha bochecha rapidamente e deu um tapinha encorajador em minhas costas. — Boa sorte, rrushe. Eu caminhei ao lado de Sharice e imediatamente me senti mal vestida e sem graça. Ela tinha aquele estilo de chefe durona que eu nunca seria capaz de imitar. Das solas vermelhas de seus Louboutins às lapelas pontiagudas de seu casaco Balmain, ela exalava poder e confiança. Até mesmo seu cabelo, natural e ondulado, era uma afirmação. Eu? Meu cabelo estava em sua trança solta de costume. Eu estava
com a melhor camiseta e um par de jeans da minha bagagem de viagem e os tênis pretos que eu tinha comprado na Target no corredor de acesso antes da minha viagem. Dizer que éramos uma imagem de contrastes seria subestimar a situação. Os dois guardas do lado de fora da porta de Spider olharam para mim e nem mesmo tentaram esconder suas zombarias de julgamento. Eu praticamente podia ouvir as coisas horríveis que eles pensavam de mim. Lixo branco. Vida decadente. Puta da máfia. — Você tem quinze minutos. — Sharice me lembrou antes de abrir a porta e gesticular para que eu entrasse. O cheiro antisséptico da sala da UTI mal cobria o cheiro de sangue e algo adocicado que fazia o estômago revirar. Não demorei muito para localizar a origem do cheiro estranho – os curativos nas pernas amputadas de Spider. Meu estômago se revoltou com o choque de ver meu padrasto, um homem que conheci durante toda a minha vida, tão fraco e pálido na cama de hospital. Sua perna direita fora amputada logo acima do joelho. A esquerda foi cortada logo abaixo do joelho. Havia vários tubos serpenteando para fora de seu corpo. Alguns eram intravenosos e outros eram drenos. O lado direito do peito, braço, pescoço e rosto apresentava um terrível ferimento da estrada. Estremeci com a imagem de sua pele deslizando pelo asfalto, arrancando a carne e deixando-o em carne viva e ferido. As faixas de pele esfoladas estavam irritadas e vermelhas com manchas pretas e manchas. Finalmente me ocorreu que eram pedaços de rocha e destroços cravados nas feridas. — É verdade? — Spider perguntou, sua voz rouca e seca. — O que é verdade? — Que você se casou com ele?
Então, era assim que as coisas aconteceriam. Levantei minha mão esquerda para mostrar a ele minha aliança de casamento. — Sim, eu casei. Spider exalou asperamente. O monitor de batimento cardíaco subiu alguns pontos, traindo seu estado agitado. — Por que diabos você faria algo estúpido assim? — Eu o amo. — Eu disse com naturalidade. — E ele me ama. — Ama? — Spider zombou. — Sim, me diga novamente o quão bem isso funcionou para sua mãe e para mim? — Besian e eu não somos você e mamãe. Nosso relacionamento – nosso amor – é diferente. — Não é. — Ele argumentou. — É tudo a mesma coisa. — Talvez. — Eu disse, não querendo brigar com ele. — Você e mamãe nem sempre foram tão infelizes. Lembro-me de como vocês dois eram felizes. Quando você costumava cantar as canções dela e fazêla rir e dançar com você na cozinha. — Eu insisti. — Você se lembra daquilo? Você está fazendo sua melhor performance de Sammy Kershaw enquanto cantava Queen of My Double Wide Trailer? O olhar furioso de Spider desapareceu e ele realmente sorriu. — Merda, não acredito que você se lembra disso. Você era tão pequena. Fui até o lado esquerdo de sua cama e segurei cuidadosamente sua mão. — Lembro-me de todos os bons momentos que tivemos como família. As coisas ruins também. — Admiti. — Mas as boas, principalmente. Você é o único pai que já tive e eu te amo. Eu gostaria que você estivesse lá para me entregar. — Eu confessei em lágrimas. — Esse é um dos meus únicos pesares sobre a maneira como nos casamos.
— Se eu estivesse lá, você não teria caminhado por aquele corredor. — Disse ele com crueldade. — Eu teria arrastado você para fora de lá chutando e gritando. — Por que você odeia tanto a ideia de eu me casar com Besian? — Porque esta não é a vida que você deveria viver! — Ele gritou com raiva. — Jesus Cristo, Marley! Se você tivesse alguma ideia das coisas que fiz para tornar sua vida melhor! As coisas que fiz para garantir que você pudesse ir para a faculdade! Você deveria encontrar um advogado, um médico ou um político. Você deveria se casar, se mudar para River Oaks, Woodlands ou Piney Point e viver uma vida tranquila e respeitável. — Essa não é a vida que eu quero. — Você não sabe o que quer! Você acha que ser casada com aquele homem vai ser fácil? Você não tem ideia de como ele realmente é. Você nem o conhece! — Eu sei que o amo e ele me ama. Spider riu asperamente. — Ama? Você acha que aquele homem pode te amar? Eu conheço Besian há muito tempo, querida, e a única coisa que o homem ama é o dinheiro. — Isso não é verdade. — Você realmente acha que será o suficiente para ele? — Spider perguntou maldosamente. — Você se casou com um homem que fodeu todas as stripper desta cidade, e você acha que o amor vai ser suficiente para mantê-lo fiel? Para mantê-lo leal? Engoli em seco com as coisas odiosas que ele estava dizendo. — Eu não vim aqui para brigar com você. — Por que você veio? — Ele rosnou. — Se for para me
perguntar onde está sua mãe prostituta... — Não, não foi por isso que vim. — Interrompi. — Mas, se você sabe onde ela está, espero que me diga, porque voltar para casa ontem à noite e encontrar um cadáver que parecia com minha mãe na minha cozinha não foi uma experiência muito agradável. A carranca zangada de Spider desapareceu. — Um cadáver? Em sua casa? Eu balancei a cabeça tristemente. — Passei horas na delegacia sendo questionada sobre mamãe e o corpo. — Era a Kim? Eu balancei a cabeça. — Não, e eu também não reconheci a mulher morta. Onde quer que mamãe esteja, ela levou todo o meu dinheiro. Ela não respondeu nenhuma das minhas mensagens em quase duas semanas. Ela não está usando o telefone. Seu carro sumiu. Se ela está viva, provavelmente está em apuros. — Kim sempre esteve em apuros. — Ele resmungou. Então, sobriamente, ele disse: — Não sei onde Kim está, mas se soubesse, não contaria a você. Onde quer que ela esteja, é melhor ela ficar lá. Longe de você. — Acrescentou. — Qualquer merda que ela tenha feito agora só te fará sofrer. — E a merda que você fez? — Eu perguntei, forçando-o a aceitar sua parte quando se tratava de me colocar em perigo. — Não havia nada no clube que pudesse justificar uma batida. — Ele retrucou. — Sim, houve um tiroteio, mas eles atiraram primeiro. Não tínhamos merda nenhuma no local. Algumas armas? Claro, mas eles eram legais. Sem drogas. Nada roubado. Nada ilegal. Aquele lugar estava limpo.
— Então por que eles o invadiram? — Claramente, alguém armou para nós. — Acho que você não deveria dizer mais nada. — Eu rapidamente o acalmei. — Não, a menos que você tenha um advogado aqui, para que sua conversa seja protegida pelo sigilo de advogadocliente. — Duvido que meu defensor público dê a mínima para minhas suspeitas. Eu me encolhi com a maneira horrível como ele descreveu seu possível advogado. — Você não terá defensor público. Estamos contratando uma equipe de defesa adequada. Uma que trabalha em casos federais. — Poupe seu dinheiro. Eu não quero um advogado caro. — Você irá para a prisão pelo resto da vida se não tiver um bom advogado! — Eu não vou falar. Eu não vou delatar. Eu vou ficar na minha. — Seja razoável. — Eu insisti. — Não será como as outras vezes em que você foi para a prisão! Você está incapacitado agora! A prisão será insuportável se você estiver preso em uma cadeira de rodas. — Então talvez eu não vá para a prisão. Suas palavras me silenciaram e ficaram pesadas entre nós. Ele não estava falando sobre fazer um acordo. Ele não estava falando sobre tentar escapar. Ele estava falando sobre morte, sobre suicídio. — Por que diabos eu tenho que viver agora? — Ele gesticulou desanimadamente para suas pernas.
— Por mim. — Eu disse, à beira das lágrimas. — Você tem que viver por mim e, algum dia, por meus filhos – seus netos. — A pior coisa que você poderia fazer é ter filhos com aquele homem. — Por que você está sendo tão desagradável? Você quer que eu vá embora? É isso que é? Você quer me afastar? — Sim, eu quero que você vá embora. Eu quero que você saia por aquela porta e se esqueça de mim. Deixe-me apodrecer na prisão ou balançar na ponta de um lençol. — Eu não posso fazer isso. — Eu disse, chorando. — Você é meu pai. Você é minha família. Eu não vou me afastar de você. — Não estou pedindo, Marley. Estou te dizendo. Caia fora daqui! Agora! Cerrei meus dentes contra a dor de sua maldade. — Eu vou, mas estou contratando um advogado para você. — Poupe seu dinheiro. Gaste com um advogado de divórcio. Quanto mais cedo você acabar com esse erro, melhor. Entristecida, eu balancei minha cabeça. — Nunca pensei que veria o dia em que você e Eric Santos concordariam em alguma coisa. — E eu nunca pensei que veria o dia em que minha filha jogaria sua vida fora por um idiota de merda como Besian Beciraj. — Ele retrucou cruelmente. Com o coração partido, eu finalmente balancei a cabeça em aceitação. — Está bem. — Engolindo minha tristeza e dor, beijei ternamente sua bochecha. — Adeus, papai. Ele não disse nada e se virou, dispensando-me fria e cruelmente.
Saí do quarto do hospital sem olhar para trás, passei direto por Sharice, que olhou para mim com pena e fui direto para Besian, que estava a apenas alguns metros de distância da porta. Seu rosto me disse que ele tinha ouvido cada palavra, e eu odiava isso. Eu odiava que ele tivesse outra voz maldosa em sua cabeça dizendo que ele não valia nada e era mau. Besian estendeu a mão e eu a peguei, agarrando-me a ele, ao meu marido. Ele me puxou para perto e deslizou o braço em volta dos meus ombros. — Venha. — Ele disse suavemente. — Vamos lá. Quando saímos do hospital, não pude evitar a sensação de que Spider sabia muito mais do que estava dizendo. Nunca na minha vida ele me tratou assim. Nunca. Nem uma vez. — Ele mentiu. — Disse Besian enquanto abria a porta do passageiro para mim. — Sobre? — Eu perguntei, franzindo a testa. — Ele não quer que você vá embora e o esqueça. — Besian passou os dedos pela minha bochecha e prendeu mechas soltas de cabelo atrás da minha orelha. — Ele te ama tanto que disse aquelas coisas horríveis para afastá-la dele. Para mantê-la segura. — Ele explicou. — Para proteger você. — Existem maneiras melhores de fazer isso. — Eu murmurei, ainda chateada. — Ele foi muito cruel. — Eu sei. — Besian me abraçou e beijou minha testa. — Mas ele te ama, Marley. — Lamento que você tenha ouvido aquelas coisas horríveis que ele disse sobre você. Ele riu sombriamente. — Essa não é a pior coisa que alguém
disse sobre mim. — Ainda assim, não foi bom. — Não, não foi. — Gentilmente, ele inclinou minha cabeça para trás e procurou meus olhos. — Não era verdade o que ele disse sobre minhas dançarinas. Sim, já dormi com algumas delas, mas esse foi o meu passado. Você é meu presente. Você é meu futuro. Você é minha esposa. Você é minha família e sempre serei leal a você. — Sua expressão solene tornou-se divertida enquanto ele brincava: — Não sou louco o suficiente para arriscar uma garrafa quebrada no gargalo. — Oh meu Deus! — Eu o golpeei duas vezes. — Isso não é engraçado! Ele riu e me puxou para perto. — Sinto muito. Você está certa. Não é engraçado. Foi um pouco engraçado, mas eu não iria encorajá-lo. Ainda assim, o momento de leviandade muito necessária funcionou. Eu relaxei em seus braços e permiti que o estresse e a dor do meu encontro com Spider se dissipassem. No entanto, eu não conseguia parar de pensar em algo que Spider havia dito. E se ele estivesse certo? E se eu não fosse o suficiente para Besian?
CAPÍTULO 27 Quando a risada selvagem de Aston reverberou nas paredes da cobertura, Besian empurrou a porta de seu escritório em casa para que pudesse se concentrar em seu telefonema. Do outro lado da linha, Zec perguntou: — Ei? Você ainda está aí? — Sim, desculpe. O que você estava dizendo? — Eu disse que me encontrei com Darko e conversamos sobre as informações que você compartilhou comigo. — E? — O consultor técnico de Darko tinha alguém com esse nome trabalhando para ele. — Disse Zec, tomando cuidado para não falar muito. Mesmo com todas as camadas de segurança que eles usavam, sempre havia uma chance de alguém estar ouvindo. — O dessa pessoa que você tem? É antigo. Ela morava em Kosovo quando trabalhou para o consultor técnico. — Então, essa pessoa é a conexão entre nossos dois problemas? — Parece que sim. — Zec concordou. — Há algo mais. — O quê? — A funcionária é uma mulher. Besian piscou. — Uma mulher? — Sim. Engraçado, não é? — É. — Besian pensou por um momento. — Claro, a pessoa que identificou essa funcionária apenas ouviu o nome.
— E se o nome terminasse com, digamos, -ienne em vez de -ian. — Zec sugeriu. — Sim. Exatamente. — Besian teve outro pensamento. — Qual é a cor do cabelo da funcionária? — Loiro. E aí estava. Outra peça do quebra-cabeça se encaixando. Claro, isso levou a mais perguntas. Principalmente, como Adrienne acabou morta no chão da cozinha de Marley? Como a mãe de Marley conheceu Adrienne? A mãe de Marley estava planejando roubar as carteiras criptografadas? Kim sabia onde elas estavam? — Eu vou analisar as coisas por aqui. — Disse Zec. — Avisarei se encontrar alguma coisa. — O mesmo. — Ele encerrou a ligação e desligou o telefone prépago. Colocando as mãos na mesa, ele se inclinou para frente e suspirou, baixando a cabeça e esticando os ombros. O dia tinha sido longo e ele ainda tinha uma noite de visita a seus clubes e de verificar suas outras operações ilegais pela frente. Ele afundou na cadeira da mesa de escritório e olhou para a pilha ordenadamente organizada de extratos de contas e documentos legais que havia juntado antes da ligação de Zec. Todas as coisas legalizadas que ele possuía estavam naquela pilha. Já fazia muito tempo que ele não fazia um balanço de tudo o que havia conquistado. Anos, na verdade. Ver isso agora, folhear as contas, as escrituras e parcerias diversas, tinha sido impressionante. Ver os números, ver tudo o que ele poderia oferecer a Marley e à família que eles queriam um dia, o encheu de um incrível sentimento de orgulho. Mesmo que ele se afastasse da agiotagem e do jogo, sua esposa e filhos desfrutariam de uma qualidade de vida que ele nunca imaginou ser possível quando era uma criança
faminta escondida em um armário de sua mãe cruel. Quantos anos ele havia desperdiçado com a voz cruel de sua mãe ecoando em sua mente? Quanto ódio de si mesmo ele suportou por causa daquela mulher horrível? Ele quase perdeu Marley por causa de sua incapacidade de deixar o passado para trás. Não mais. Nunca mais. Ele se lembrou do que Marley havia dito a ele naquela manhã no hotel depois que ele desnudou sua alma e os segredos de sua infância. Você é desejado. E amado. Por mais que quisesse acreditar que o amor de Marley poderia consertá-lo, ele entendia por que ela havia sugerido que ele procurasse um terapeuta. Ele ficou instantaneamente na defensiva quando ela cuidadosamente abordou o assunto durante o almoço, mas ela acalmou seus nervos ao explicar que pretendia ir a um terapeuta novamente para falar sobre sua mãe tê-la roubado e sobre Spider ir para a prisão. Ele não gostava da ideia de algum estranho perguntando sobre sua vida, e havia coisas que ele nunca revelaria a nenhum terapeuta, independentemente do sigilo médico-paciente. Mas isso não significava que ele não poderia falar com alguém sobre sua mãe. Não era justo esperar que Marley o consertasse. Afinal, ela não esperava que ele a consertasse. Ela assumiu a responsabilidade por sua própria saúde mental e deixou claro que queria ser a melhor versão possível de si mesma, para si mesma, para ele, para o casamento deles e um dia para os filhos. Ele tinha que mostrar a ela que estava falando sério sobre ser um bom parceiro e marido. Mesmo que ele odiasse, mesmo que o deixasse desconfortável, ele tinha que tentar. Ele guardaria um segredo, mas iria.
Ele deixou a pilha de papéis em sua mesa para Marley examinar mais tarde. Ele apagou as luzes ao sair de seu escritório e fechou a porta silenciosamente, sem querer chamar atenção. Aston tinha trazido jantar e amigos para animar Marley com uma espécie de chá de panela atrasado. Ele havia sido banido de todos os cômodos, exceto do quarto principal e de seu escritório. Não que ele se importasse, é claro. Ver Marley feliz e rindo depois dos últimos dias valia qualquer inconveniente. Dentro do quarto, ele se dirigiu ao closet e escolheu um terno para a noite. Ele tomou banho rapidamente e fez a barba novamente, deixando o rosto limpo. Ele se vestiu com sua eficiência usual e optou por abotoaduras de prata simples e um relógio Breguet vintage que não tirava da caixa há algum tempo. Ele vestiu o paletó por último e fez questão de deixar dinheiro e um cartão de crédito na cômoda para Marley, só para garantir. Ao sair do quarto, fez uma anotação mental para levar Marley ao banco pela manhã para que ela fosse adicionada a todas as contas, de modo que ela tivesse seus próprios cartões e acesso ao dinheiro sem ter que pedir. Considerando quão bem ela administrou seus magros salários na loja de penhores, ele não estava nem um pouco preocupado que ela enlouquecesse e gastasse cada centavo que tinha. No mínimo, ele suspeitava que teria de forçá-la a gastar dinheiro consigo mesma de vez em quando. Seu telefone vibrou em seu bolso e ele o pegou, deslizando a tela para atender. — Sim? — Ei, sou eu. — Kostya cumprimentou. — Eu dei uma olhada ao redor da casa de sua esposa. O cheiro será impossível de sair de algumas das coisas dela. Ele pediu a Kostya para pegar as coisas na casa de Marley assim que a polícia limpasse a cena. De jeito nenhum ele deixaria Marley entrar
naquele show de horror para pegar as coisas dela. Em sua opinião, deveria ser destruído, queimado e jogado no lixão mais próximo. — E os livros dela? Suas roupas? Coisas que são especiais para ela? — Besian perguntou, demorando-se no corredor fora do quarto. — Bem, o corpo ainda não estava pegajoso, então o cheiro não foi tão longe e impregnou em todas as coisas dela. — Kostya comentou com descrições de revirar o estômago. — Tenho alguns truques que podemos experimentar se o cheiro estiver no papel e nas encadernações. Se não funcionar, você terá que fazer algumas viagens caras às livrarias. — Faça o que for preciso. — Tem certeza? Você provavelmente poderia substituir metade das coisas que ela tem por um quarto do que vai custar para limpar. — Tenho certeza. — Dinheiro não era o problema. Essas coisas importavam para Marley, e ele faria tudo o que pudesse para salvá-las para ela. Ela havia perdido o suficiente, e ele não estava disposto a ficar parado e deixar que ela tivesse que se desafazer das coisas que ela amava quando ele podia fazer algo a respeito. Ele guardou o telefone no bolso e seguiu para a área de estar aberta da cobertura. Os tetos altos e a vista desobstruída da lareira na área de estar até a espaçosa cozinha foram o motivo de ele ter comprado o lugar. Pairando na beirada da sala de estar, ele viu as pilhas de presentes abertos e os pedaços de papel de embrulho e fita. Ele pensou ter visto algo preto e rendado espiando uma das caixas. Isso teria que ser investigado mais tarde. Do outro lado da ampla extensão, ele pegou Marley observandoo por cima da borda de sua taça de vinho. Ela estava na ilha de mármore, cercada por suas amigas, e ele ficou impressionado com o quão absolutamente perfeita ela parecia ali. Ela ainda dizia que era a casa dele,
mas logo, ela a chamaria de casa deles. Ela pertencia aqui, a este espaço incrível, o espaço deles. — Está elegante, Besian. — Aston gritou de seu lugar em um dos bancos do balcão. Ela tinha um copo gigante de margarita cheio de algo viscoso e azul brilhante. Seus lábios já estavam manchados do mesmo tom. — É virgem. — Ela disse, seguindo o olhar dele. Então, com um sorriso malicioso, ela acrescentou: — Ao contrário de sua esposa. Marley corou e suas amigas piaram como pássaros bêbados com a piada de Aston. Ele nem mesmo queria saber o quanto ela havia contado a eles sobre sua vida sexual. A julgar pelo olhar impressionado de uma das mulheres que ele ainda não conhecia, Marley deve ter dito coisas boas. — Seja legal, ou vou desligar sua máquina de raspadinha35. — Marley avisou Aston antes de colocar de lado sua taça de vinho e caminhar em direção a ele. — Você está saindo? — Sim. — Você tem um minuto para conhecer minha amiga Logan? Ela chegou depois que você entrou em seu escritório. — Claro. — Ele a deixou pegar sua mão e levá-lo para a cozinha. Antes, ele tinha sido apresentado a duas amigas dela do colégio. Carly era fonoaudióloga e Hanna estava terminando seu doutorado em farmácia. Briana veio de Louisiana e era engenheira da NASA. Nicole
35
esteve na graduação com Marley e agora trabalhava em um grupo imobiliário que ele ajudou a fundar. Não que alguém além de Marissa e Alexei soubesse disso, é claro. Antes de conhecer Logan, ele notou outro rosto familiar na ilha da cozinha. Abby, a chefe de Marley na loja de penhores, sorriu para ele. — Estou reivindicando todo o crédito por tornar este casamento possível. Talvez eu adicione arranjador de casamento ao meu catálogo de produtos. Besian riu e retribuiu o abraço. — Você deveria. Sem você, nunca teríamos nos conhecido. — Ele diz como se isso fosse algo ruim. — Murmurou Nicole antes de tomar o resto de sua bebida. Carly e Hannah pareciam chocadas com o comentário de Nicole, e Briana moveu a garrafa de vinho para fora do alcance de Nicole. Aston lançou um olhar mortal para a mulher. Besian ignorou, não querendo causar uma cena ou deixar as convidadas de Marley desconfortáveis. Como se compartilhasse seu desejo de seguir em frente com o comentário provavelmente induzido pelo álcool de Nicole, Logan deu um passo à frente. Ela mantinha o cabelo escuro muito curto e usava roupas masculinas, mas que se encaixavam perfeitamente em seu corpo e sob medida. Ela tinha olhos inteligentes e um sorriso amável ao se apresentar. — Eu sou Logan. — Besian. — Disse ele e apertou a mão dela. — Nós nos conhecemos no primeiro dia de aula na Rice quando éramos calouras. — Explicou Marley. — Ela e eu estamos na pósgraduação, mas ela está em um programa diferente. — Oh?
— Inglês. — Disse Logan. — Com ênfase em gênero e sexualidade. Especificamente, George Sand e Daniel Stern, com um pouco de música acompanhando. Aquela coisa toda de Chopin e Liszt. — Não se preocupe em explicar. — Nicole interveio rudemente sua opinião indesejada com um som de desdém alto. Ela pegou a garrafa de vinho da mão de Briana e bateu o gargalo contra a taça vazia enquanto derramava mais álcool nela. — Como se ele soubesse alguma coisa sobre Sand ou Chopin! Tudo o que ele sabe é sobre peitos e tangas. — Nicole! — Carly sibilou. — Cale a boca! — Não. — Besian disse friamente. — Está tudo bem. Ela tem permissão para ter suas opiniões. — Ela não pode ser rude. — Logan insistiu. — Eu sinto muito. — Ela se desculpou. — Eu não queria... — Você não fez nada. — Disse ele com um aceno de mão. — Para dizer a verdade, eu sei sobre George Sand. Sei que ela gostava de vestir roupas masculinas e teve um longo relacionamento com Chopin. Virginia Woolf mencionou George Sand, George Eliot e as irmãs Bronte, sobre como elas usavam nomes de homens para serem publicadas e levadas a sério. Não sei sobre Daniel Stern, mas tenho certeza de que Marley pode me apontar a direção certa. Logan sorriu. — Eu sabia que gostaria de você. — Você leu Virginia Woolf? — Nicole exigiu insolentemente. — Um livro inteiro? Ou apenas o artigo da Wikipedia? — Qual é o seu problema? — Marley perguntou, sua voz tensa. — Por que você está sendo tão rude com ele? — Você está falando sério? — Nicole bateu com a taça na mesa e ele ficou surpreso por não ter quebrado. — Você se casou com um
homem que explora mulheres por dinheiro. Você se autodenomina feminista. Você marchou, distribuiu panfletos e levantou dinheiro para as causas das mulheres, e agora está casada com alguém que as explora? Você está morando neste palácio de solteiro ridículo que ele comprou às custas daquelas prostitutas? Você é uma hipócrita do caralho, Marley! Aston saiu de seu banquinho em um flash. — O que você acabou de dizer? — Você me ouviu! — Nicole disparou. — Não que você seja muito melhor! Deixando aquele canalha do desmanche de carros te engravidar! — Estou prestes a te dar uma surra! — Aston cerrou o punho e deu um passo ameaçador em direção a Nicole. — Querida, não! — Abby agarrou o braço de Aston, segurandoa e pedindo-lhe para ficar calma. — Olhe para você! Agindo como o lixo com o qual você está acorrentada! — Nicole! — Hannah gritou seu nome. — Cale-se! — Não. — Besian interrompeu calmamente. — Deixe-a falar. Eu quero ouvir tudo. Nicole balançou a cabeça. — É isso. Terminei. — Tem certeza? — Sim. — Disse ela, agressivamente prolongando o m no final da palavra. — Bom. — Respondeu Besian. — Eu não me importo se você está bêbada. Você não vai ficar na casa de Marley e falar com ela desse jeito. Pegue suas coisas e dê o fora.
— Ou o quê? — Nicole perguntou como uma pirralha. — Você vai fazer seus amigos da máfia me baterem? — Por favor. — Disse ele com uma risada zombeteira. — Como se meus amigos tivessem algo contra Marissa. Nicole ficou paralisada. — O quê? — Oh, você não sabia? — Ele perguntou, deliciado com a maneira como ela parecia subitamente assustada. — A imobiliária para a qual você trabalha? Aquele de quem você estava se gabando quando me conheceu hoje à noite? A empresa de Marissa? Dei a ela um terço do dinheiro para começar. — O quê? — Nicole guinchou. — Você vê, Marissa, sua chefe, foi uma das “prostitutas” que eu “explorei” em meus clubes. — Ele explicou, usando suas palavras contra ela. — Ela dançou por quase seis anos nos meus clubes. Ela usou o dinheiro para ir para a faculdade e depois para obter a licença de corretora de imóveis. Ela usava seu tempo nas salas VIP para interagir com seus clientes regulares e conseguir o que queria deles. Aconselhamento fiscal de um contador. Aprendeu sobre como constituir sua LLC36 com um advogado. Consegui alguns conselhos sobre empréstimos para pequenas empresas de um banqueiro. Foi a primeira a mostrar os melhores novos apartamentos e casas, dançando para construtores e empreiteiros. Nicole parecia prestes a desmaiar quando ele deu um único passo em sua direção. — Por favor. — Ela implorou. — Eu não quis dizer... — Poupe-me. — Disse ele bruscamente. — Tenho certeza que Marissa vai entender exatamente o que você quis dizer. 36
LLC, sigla para Limited Liability Company, é uma modalidade de empresa constituída como sociedade de responsabilidade limitada nos Estados Unidos.
— Marley. — Implorou Nicole. — Eu sinto muito! Por favor! Eu sinto muito! — Achei que você era minha amiga. — Disse Marley suavemente, o lábio inferior tremendo de uma maneira que fez o coração de Besian doer. — Você me parabenizou! Você disse que estava feliz por mim! — Eu era! Eu sou! — Nicole oscilou cambaleando sobre os pés. — Eu só estou bêbada, ok? Tenho um monte de merda acontecendo em casa, e eu não deveria – não deveria ter descontado em você. — Não, você não deveria. — Marley concordou. Ela se aproximou de Besian e endireitou os ombros. — Você foi convidada a sair. Você deveria ir. — Eu vou te levar. — Briana ofereceu, parecendo pronta para fugir da situação tensa. — Vá pegar sua bolsa e me encontre na porta. Nicole não discutiu. Ela se afastou da cozinha, mas Besian ficou de olho nela, não confiando que ela iria embora sem fazer outra cena. — Dan terminou com ela ontem. — Explicou Briana em um tom abafado. — Eu pensei que eles estavam resolvendo isso? — Carly perguntou. — Nicole também. — Disse Briana. — Mas, aparentemente, Dan nunca terminou com a dentista e agora ela está grávida. — Ela não tem, tipo, quarenta anos? — Aston perguntou, horrorizada. — E divorciou-se do marido que nunca quis ter filhos. — Disse Briana. — Dan voltou para casa ontem à noite, fez as malas e disse a Nicole que acabou. Ele vai fazer a coisa toda de casar e ter filhos com a
dentista! — Por que ela não disse nada? — Marley perguntou, claramente preocupada com sua amiga. — Ela não queria estragar sua noite. — Disse Briana. — Exceto que ela estragou. — Logan apontou, e Besian decidiu que realmente gostava dela. — Ela tornou a noite estranha e desconfortável. — Ela está sofrendo! — Marley insistiu. — Ela tem sorte que você me segurou ou então estaria em um mundo inteiro de dor agora. — Aston resmungou. — Você não vai ligar realmente para a chefe dela, certo? — Marley perguntou, olhando para ele com aqueles lindos olhos. Incapaz de negar qualquer coisa a ela, ele cedeu. — Não, não vou ligar para Marissa. — Diga isso a ela. — Marley pediu a Briana. — Não quero que ela se preocupe com o trabalho além de tudo o mais. — Vou me certificar de que ela saiba. — Briana prometeu, abraçando Marley. Quando Briana saiu para pegar Nicole na porta da frente, Marley colocou a mão no peito dele. — Obrigada por não ligar para Marissa. — De nada. — Ele se abaixou para beijá-la. — Não se esqueça de que Jet virá mais tarde. — Eu sei. — Ela concordou em deixar um dos homens dele ficar na cobertura até que ele voltasse para casa pela manhã, apenas para ter certeza de que ela estaria segura.
— Deixei os papéis sobre os quais conversamos na minha mesa. — Ele a lembrou. — Está bem. — Vou chegar muito tarde em casa, não espere acordada. — Depois de todo o vinho que bebemos. — Ela gesticulou para as garrafas vazias no balcão. — Isso não será um problema. Ele reivindicou sua boca uma última vez enquanto as outras mulheres voltavam para suas bebidas e lanches. Ele detestava deixá-la, mas seus negócios precisavam de sua atenção. — Sabe, Nicole não estava totalmente errada sobre a questão da exploração. — Disse Hannah quando ele se aproximou da porta. — Existem alguns lugares realmente horríveis que exploram mulheres fodidas que não têm outras opções. — Assim como hotéis e empresas de construção e qualquer outro lugar que contrate imigrantes ilegais por alguns dólares a hora por debaixo dos panos. — Abby apontou defensivamente. — Se eu tivesse peitos. — Logan disse com naturalidade. — Eu dançaria em um de seus clubes em um piscar de olhos. Algumas dessas meninas ganham quatro dígitos por noite. Uma noite! — Ela repetiu. — Você pode imaginar o quão rápido eu poderia pagar meus empréstimos estudantis? — Você tem pequenos seios perfeitos. — Observou Aston. — Você apenas os esconde muito bem. Ei! — Aston gritou de repente, como se ela tivesse acabado de ter uma grande ideia. — Devíamos ir para o Show de Talentos noturno! Alguém engasgou com a bebida e Besian congelou com a mão na maçaneta da porta. Aston não podia estar falando sério. Certo?
— Estou falando sério! — Aston insistiu. — Olhe para nós! Aposto que poderíamos estabelecer um recorde! — De socos e brigas de estacionamento? — Abby perguntou. — Porque se você subir lá e dançar pelada em um poste, Ben vai perder a cabeça com cada homem que olhar para você. — Talvez. — Aston pensou. — Mas o sexo depois seria incrível. Quero dizer – tipo selvagem. Você sabe? Toda aquela paixão ciumenta? De arrancar os lençóis da cama, gritar, suar, fazer sexo para quebrar a cama. — Você é uma influência terrível. — Decidiu Carly, rindo histericamente. Besian não poderia concordar mais. Deus o ajude se Aston conseguisse convencer Marley a tentar. Porque quanto mais pensava nisso, mais queria ver sua esposa se soltar e dançar desinibida e sensualmente. Irritado por ter que trabalhar, ele suspirou pesadamente e saiu do apartamento. Quanto mais cedo ele terminasse suas coisas, mais cedo poderia voltar para sua esposa e fazer todas as coisas perversas que ela amava.
CAPÍTULO 28 Mãe? Você está aí? Mãe, estou preocupada. Por favor. Ligue para mim. Me mande uma mensagem. Alguma coisa. Por favor. Mãe?
O som da porta do nosso quarto se abrindo me acordou de um sono reparador. A onda aguda de pânico diminuiu assim que vi a silhueta de Besian na porta. Sentei-me enquanto ele fechava a porta com cuidado e ele rapidamente se desculpou: — Sinto muito. Eu não queria te acordar. — Está tudo bem. — Eu assegurei a ele. — Que horas são? — Tarde. — Disse ele, ainda perto da porta. — Ou cedo. — Ele emendou. — Dependendo do seu ponto de vista. — Ele subiu na cama em minha direção e beijou minha bochecha ruidosamente. — Senti a sua falta. — Também senti sua falta. — Eu bocejei. — Jet ainda está aqui? — Não. — Disse Besian, entre beijos ao longo do meu ombro nu e braço. — Eu o mandei para casa.
— Ele foi muito legal. Eu não me importaria se ele ficasse comigo novamente. Besian grunhiu. — Bem, agora ele definitivamente não vai voltar para fazer companhia a você. — Você é ridículo. — Eu ri suavemente. Franzindo o nariz para o aroma adocicado forte de algodão doce e baunilha agarrado a ele, eu disse: — Você precisa de um banho. — Desculpe. — Ele se desculpou. — Ossos do ofício. — Explicou ele. — Glitter também. — Oh, divertido. — Eu bocejei novamente. — Mal posso esperar para aspirar isso mais tarde. — Volte a dormir. — Ele pediu e beijou minha bochecha uma última vez. — Vou fazer silêncio quando voltar. Ele saiu da cama e foi para o banheiro. Tentei não sentir ciúme do perfume. Eu me casei com ele ciente de tudo. Eu sabia exatamente para onde ele ia à noite, exatamente que tipo de corpos bonitos e ambiente descaradamente sexual ele estava cercado no trabalho. Ele jurou lealdade a mim, casou-se comigo e prometeu amar apenas a mim. Ele me ama. Ele está comprometido comigo. Suspirei e rolei, pegando seu travesseiro. Não importava o que ele tinha feito em seu passado. Não importava quantos relacionamentos e encontros de uma noite ele tenha tido. Ele era meu agora. Todo meu. Meus pensamentos se voltaram para a pilha de papelada que ele havia deixado para eu examinar em seu escritório. Eu sempre suspeitei que ele tinha mais dinheiro do que aparentava ter, mas eu não tinha nenhuma ideia que ele tinha acumulado tanto. Entre as propriedades que possuía, os clubes e seus investimentos, ele havia acumulado uma
fortuna. Ele era cuidadoso com seu dinheiro. Eu tinha feito as contas em suas despesas a cada mês. Ele vivia muito bem e gostava de luxos, mas não era tolo. Embora eu pretendesse continuar trabalhando e contribuindo com nossa casa, era reconfortante ver que Besian tinha as coisas sob controle. A tela do meu telefone se iluminou atrás de mim, jogando um brilho azulado no teto que chamou minha atenção. Rolei para pegar meu telefone, torcendo para que fosse minha mãe. Fiquei olhando para a tela e minha esperança se esvaiu. Era mais um pedido de desculpas de Nicole. Mesmo que tivéssemos conversado por volta da meia-noite e feito as pazes, ela ainda estava me mandando mensagens. Ela tinha magoado muito meus sentimentos, mas eu me sentia muito mal por ela. Aquilo com Dan já vinha acontecendo há meses, e ele havia mentido para ela sobre romper com a outra mulher e se comprometer com ela. Ela foi pega de surpresa, e tenho certeza de que me ver tão feliz foi uma experiência dolorosa e cruel. Ela não deveria ter dito as coisas que disse, mas eu a perdoei. Enviei-lhe uma mensagem dizendo que a amava e que estávamos bem. Implorei-lhe que fosse dormir, descansasse e tirasse um dia para cuidar da mente em vez de trabalhar. Lembrei a ela que Besian havia prometido não dizer nada a Marissa e que ela não precisava se preocupar em perder o emprego. — Tudo certo? — Besian perguntou quando saiu do banheiro e me encontrou olhando para o meu telefone. — Sim. — Eu disse, virando meu telefone para baixo sobre a mesa. — Era apenas Nicole se desculpando pela milionésima vez.
— Ótimo. Ela deveria. — Ele apagou a luz do banheiro e o quarto mergulhou na escuridão quase total. Não conseguindo mais cobiçar seu corpo nu, esperei que ele deslizasse sob as cobertas comigo. Ele se aconchegou nas minhas costas e beijou meu ombro e pescoço. Ele acariciou meu cabelo. — Você está com meu cheiro. — Fiquei sem shampoo, então peguei emprestado um pouco do seu quando tomei banho antes de dormir. — Precisamos ir às compras mais tarde. — Uma de suas mãos escorregou por baixo da minha blusa. Ele raspou suavemente as unhas ao longo da minha barriga e subiu em direção aos meus seios. — Você precisa de roupas e outras coisas. Faremos isso depois de parar no banco. — Ok. — Eu disse, minha voz trêmula quando sua mão mudou de direção e deslizou pela minha barriga em direção ao meu short de dormir. — Você está cansada? — Ele perguntou com voz rouca. — Não mais. — Eu sussurrei, meu corpo todo aceso com a excitação e a necessidade. — Ótimo. — Ele me pressionou contra o colchão e eu ofeguei quando ele me prendeu na cama, montando a parte de trás das minhas pernas. Ele beliscou meu pescoço e chupou forte no local que havia mordido levemente. Todo o tempo, ele empurrava seu pau contra minha bunda, me deixando chocada com a possibilidade provocante de um ato que eu nunca tinha considerado algo que eu pudesse gostar. — Porra, eu senti sua falta. — Ele praguejou e empurrou minha blusa para cima. Ele beijou e lambeu ao longo das minhas costas, parando aqui e ali para roçar os dentes sobre a minha pele. Presa debaixo dele, eu não podia fazer nada além de sentir.
E – oh, Deus – me senti bem. Muito bem. Ele puxou meu short de dormir para baixo em meus quadris e coxas, deslizando-os pelas minhas pernas e para fora do meu corpo. Eu choraminguei quando ele agarrou meus quadris e me puxou para cima de joelhos. Eu não tinha certeza do que ele planejava fazer até que senti sua língua me apunhalando por trás. — Besian! — Eu gritei em choque com a invasão inesperada e tentei me esquivar. Ele era muito mais forte. Ele agarrou a frente das minhas coxas e me forçou a ficar bem ali, com as pernas bem abertas enquanto ele se deliciava com minha boceta. Ele fez os sons mais perversos enquanto lambia e chupava. Ele empurrou sua língua em mim, arrancando outro suspiro meu, e então escorregou para baixo para bater sobre meu clitóris. Oprimida por seu ataque sensual, deixei de lado o constrangimento de estar de joelhos e completamente aberta para ele. Ele obviamente gostava de me saborear – totalmente – e eu não iria discutir com ele. Fechei meus olhos, agarrei os travesseiros na minha frente e abracei a sensação selvagem de sua língua mapeando meu corpo. Quando dois de seus dedos se afundaram em mim, eu perdi o controle. Seus dedos empurrando e sua língua sacudindo me enviaram ao limite. Eu gozei forte, pressionando contra sua boca enquanto as ondas de êxtase me tomavam e me engoliam inteira. — B! Ele me deixou chocada novamente, beliscando minha bunda e, em seguida, batendo em ambas as nádegas. Eu ofeguei com o tapa e gemi quando seus dedos procuraram meu clitóris, esfregando círculos lentos. Ele alternou tapas na minha bunda, movendo-se de um lado para o outro até que eu estava tremendo de excitação e desesperada para que ele me fodesse.
— Por favor. — Eu implorei. — Por favor, Besian. — Diga. — Ele ordenou e bateu na minha bunda novamente. — Me diga o que você quer. — Eu quero seu pau. — Implorei. — Eu quero você dentro de mim. Ele bateu na minha bunda mais duas vezes, desta vez com força suficiente para que eu grunhisse com a explosão de dor. Eu rapidamente gemi de prazer quando ele se inclinou e lambeu longa e lentamente entre meus lábios. Ele saiu da cama para pegar uma camisinha e eu choraminguei em protesto. Ele riu sombriamente e rapidamente colocou a camisinha. Ele agarrou meu tornozelo e me arrastou para a beira da cama. Ele me virou de costas e empurrou um travesseiro sob meus quadris. Segurando a base de seu pau, deslizou a cabeça grossa pelas minhas dobras lisas e mergulhou na minha boceta. Ele foi cuidadoso ao entrar em mim, mostrando o quão gentil ele podia ser quando importava. Ele deslizou para dentro lentamente, deixando-me aclimatar centímetro após centímetro de seu eixo grosso. Quando ele estava totalmente afundado, nós dois gememos. Seu ritmo foi suave no início, suas estocadas lânguidas e sem pressa. Eu agarrei seu antebraço com minha mão ilesa, segurando firme enquanto ele me dava exatamente o que eu queria. Meus seios estavam doendo e pesados, e meus mamilos imploravam por atenção. Eu os toquei, beliscando e esfregando de uma forma que me senti muito bem. — Porra. — Besian praguejou. — Sua boceta é tão quente e apertada. — Ele gemeu enquanto acelerava o ritmo, estalando os quadris enquanto enterrava seu pau em mim vezes sem fim. — Sinta como você está molhada para mim.
Cada palavra que ele dizia me deixava cada vez mais enlouquecida. Eu amava a aspereza de sua voz enquanto ele se aproximava de seu clímax. Eu gostava das coisas indecentes que ele dizia, os elogios sujos que ele dizia enquanto me destruía. Quando ele tocou meu clitóris novamente, esfregando o polegar sobre ele, minha boceta apertou em torno de seu eixo. — É isso, Marley. — Ele insistiu. — Aperte meu pau enquanto você brinca com seus seios. — B. — Eu gemi, meu rosto queimando com sua instrução. Eu fiz exatamente o que ele pediu, puxando meus mamilos sensíveis e apertando-o com minha boceta. A mistura de empurrões e seu polegar no meu clitóris me deixou insanamente molhada. Eu podia me sentir fazendo uma bagunça entre nós, mas era tão bom que eu não conseguia parar. Eu não queria parar. Eu apertei seus quadris com minhas coxas trêmulas e gritei seu nome quando meu orgasmo explodiu no fundo do meu núcleo. Besian caiu para frente, plantando as mãos em cada lado da minha cabeça. Ele me destruiu enquanto perseguia sua liberação, empurrando tão rápido e forte que eu não conseguia recuperar o fôlego. Meu orgasmo continuou crescendo e me consumindo enquanto ele batia em mim repetidamente. Eu agarrei seu braço, seu ombro, seu pescoço, desesperada para senti-lo, para segurá-lo. Ele gemeu meu nome, estremecendo fortemente enquanto gozava. Sua testa tocou a minha e nós ofegamos por ar, ambos agarrados e tomados pelos tremores secundários de nosso intenso ato de amor. Ele me beijou profundamente, sua língua dançando ao redor da minha até que estivéssemos ambos sonolentos e relaxados. Besian me ajudou a levantar, e fomos até o banheiro para nos recompormos. Besian me pegou contra o balcão do banheiro, me encaixando e capturando minha boca com beijos sensuais que deixaram
meus joelhos fracos. De alguma forma, nós finalmente voltamos para a cama e caímos no colchão em um emaranhado de membros. Apoiada contra seu peito, ouvi seu batimento cardíaco enquanto sua respiração desacelerava e estabilizava. Ele adormeceu e eu o segui não muito depois, contente e segura nos braços de meu marido. Quando acordei mais tarde, o sol havia nascido. Um fino feixe de sol apareceu por uma abertura nas cortinas blackout, me dizendo que era hora de levantar. Não querendo acordar Besian, que estava dormindo há pouco tempo, eu cuidadosamente me desvencilhei e fui na ponta dos pés para o banheiro. Eu estava sem roupas confortáveis e ainda não tinha lavado a roupa, então peguei uma de suas camisetas escuras para usar como uma espécie de vestido casual. Eu não me preocupei com calcinha. Minha necessidade desesperada de café superava a modéstia esta manhã. Coloquei uma calça de pijama dobrada na mesa de cabeceira de Besian antes de sair do quarto com meu telefone na mão. Eu tinha acabado de pegar uma cápsula de café do organizador e enfiá-la na máquina quando meu telefone tocou. Olhei para a tela e sorri com o nome de Agnesa piscando lá. — Olá! — Marley! É muito cedo aí? — Ela perguntou rapidamente. — Posso ligar de volta mais tarde. — Não, está tudo bem. — Esperei a máquina de café terminar de encher minha única xícara de café de torra média. — Estou tomando café e curtindo minha manhã. — Peguei minha xícara da máquina e levei para o balcão, onde comecei a adicionar creme e açúcar. — Como você está? — Eu estou bem. Lucky também! Ele está indo muito bem. Mandarei mais algumas fotos mais tarde.
— Oh, por favor! Sinto falta de sua carinha aconchegante! — Acho que ele sente sua falta também. Depois que você saiu, ele chorou e choramingou. — Oh, não. — Eu disse, me sentindo triste. — Coitadinho! — Talvez da próxima vez que você estiver na Albânia, você pode vir nos visitar. — Claro que eu vou! Mal posso esperar para que você conheça Besian. — Como está a vida de casada? As fotos do casamento que você enviou são lindas! Você parecia tão feliz, Marley. — Eu estava feliz. Estou feliz. A vida de casada está ótima. — Eu soprei meu café antes de tomar um gole e decidir que precisava de alguns cubos de gelo para baixá-lo a uma temperatura palatável. — Fico feliz. De verdade. — Ela enfatizou. — Espero que vocês tenham uma vida feliz e maravilhosa juntos. — Obrigada. — Joguei dois cubos de gelo em minha xícara e mexi. — Marley. — Disse ela em um tom que me deixou imediatamente em alerta. — Há algo que notei nas fotos que você me enviou. — Oh? — Parei de mexer para prestar mais atenção. — O quê? — Achei que ele fosse um turista nas primeiras fotos. — Ela explicou. — As de antes de você começar sua caminhada e vir para minha fazenda. — Ela esclareceu. — Mas então eu o vi no fundo das selfies que você tirou enquanto dançava com suas amigas.
— O quê? Um homem? Nas minhas fotos? — Mudei meu telefone para viva-voz. — Espere. Coloquei você no viva-voz. Vou olhar as fotos agora. — Ele tem cabelo escuro. Parece uma doninha. Há algo de errado com ele. — Decidiu Agnesa. — Você vai entender o que quero dizer quando o vir. Encontrei as fotos da noite em que saí para dançar com Rina e Stefana. No começo, não vi nada estranho. Foi só quando cheguei à quarta foto que localizei o homem que Agnesa tinha visto. Ele se escondia ao fundo, perto do bar do primeiro clube que visitamos. Ele parecia completamente deslocado, velho demais para a multidão que o rodeava. Agnesa estava certa. Ele parecia uma doninha. — Você o vê? — Sim. — Eu disse, arrastando meu polegar pela tela para ver as outras fotos. Ele estava em muitos delas, apenas quase invisível em algumas e perto demais em outras. Foi este o homem que tirou fotos minhas? De Rina? Ele estava ligado a essa confusão de criptomoedas? A Adrian? À minha mãe? — Agnesa, eu te ligo mais tarde, ok? Preciso mostrar isso a Besian. — Está bem. Ligue-me quando tiver tempo. Por favor, tome cuidado, Marley. — Terei cuidado. — Prometi. — E obrigada! Por me ligar e me dizer o que você encontrou. Nos despedimos e encerramos nossa ligação. Eu encarei o cara de doninha e estremeci com o olhar inquietante em seus olhos redondos. Ele estava em Tirana? Seguindo Rina?
Ou ele tinha me seguido até Houston? O medo tomou conta de mim enquanto eu olhava para as janelas que davam para a cidade. Ele poderia estar lá fora, em qualquer lugar, observando e esperando. Mas para quê? Para me matar? Para me sequestrar? O que ele queria? Hesitei em acordar Besian. Ele precisava descansar, mas eu sabia que ele ficaria chateado se eu esperasse para lhe contar algo tão importante. Comecei a atravessar a sala em direção ao quarto, mas congelei quando ouvi uma chave girando na fechadura da porta da frente. Meu coração saltou na minha garganta e arregalei meus olhos de horror quando a porta começou a se abrir. Com medo de que nossa casa estivesse sendo invadida, gritei: — Besian! A porta se abriu de repente e eu estremeci, certa de que estava prestes a ser baleada e morta pelo homem que estava me seguindo pela Albânia. Mas não era o cara de doninha parado ali, olhando para mim da porta de nossa casa. Não, era uma mulher. Uma linda mulher. Um nocaute. E quando o cheiro de seu perfume de algodão doce e baunilha me atingiu, meu coração se estilhaçou em um milhão de pequenos pedaços.
CAPÍTULO 29 O grito apavorado de Marley tirou Besian de um sonho feliz. Ele pulou da cama e pegou a Ruger da gaveta de cima da mesinha de cabeceira. Sem se preocupar com roupas, ele correu para fora do quarto, pronto para matar se necessário. Quando ele parou na sala de estar, encontrou Marley olhando feio para Sinnamon, que estava parada na porta da frente. A dançarina segurava uma de suas camisas e ele fez uma careta com a conversa muito estranha que estava prestes a acontecer. — Coloque uma roupa! — Marley gritou, seu rosto ficando vermelho enquanto ela gesticulava descontroladamente para seu corpo nu. — Querida, eu já vi tudo isso antes. — Disse Sinnamon com um aceno de sua mão perfeitamente cuidada. — De perto e pessoalmente. Oh, porra. Besian queria morrer. Ele queria que o chão se abrisse e o engolisse inteiro. Ele queria estar em qualquer lugar, menos ali, nu em sua sala de estar, observando sua amiga com benefícios de longa data e sua esposa se enfrentando. — Que bom. — Marley respondeu entredentes. — Sinto muito, docinho. — Desculpou-se Sinnamon. Ela não estava tentando ser condescendente. Essa simplesmente era a maneira como ela era com todos, chamando-os de nomes fofinhos como docinho e flor. Marley, entretanto, se irritou, e Besian esperou que a merda batesse no ventilador. — Sente muito por me dizer que você tem uma história sexual com meu marido ou por invadir minha casa sem bater? — Perguntou
Marley. — Eu tenho uma chave. — Disse Sinnamon, segurando-a como prova. — Eu nunca tive que bater antes, e eu nem sabia que você estava morando aqui. — Onde mais eu moraria? — Marley disparou. — Bem, docinho, eu não sei. Vocês dois se casaram tão rápido. Quem sabe que tipo de arranjo vocês têm? — Estou começando a me perguntar que tipo de arranjo vocês dois têm. — Marley atirou de volta, desta vez concentrando toda a sua ira nele. — Nada sério. — Sinnamon assegurou-lhe. — Éramos dois amigos nos divertindo. Isso é tudo. — Oh, tenho certeza de que isso é tudo. — Marley respondeu sarcasticamente. — Olha, docinho, eu não vim aqui para começar uma briga. — Sinnamon caminhou em direção a Marley e estendeu os itens que trouxera com ela. — Vim devolver a camisa e a aliança dele. Ele as deixou em minha casa. Marley olhou para a aliança de casamento na palma da mão de Sinnamon. Ela balançou a cabeça. — Sabe de uma coisa? Fique com ela. — Marley. — Besian se apressou em explicar. — Ela não quis dizer sua casa. Ela quis dizer... — Eu não me importo. — Ela disse e o empurrou, passando por ele. O pânico tomou conta de seu coração. — Que diabos você está fazendo? — Ele rosnou para Sinnamon. — Por que diria isso?
— Dizer o quê? A verdade? — Sua casa? — Ele repetiu. — Sua parte do camarim, Sinn. Foi onde eu a deixei. Ela revirou os olhos. — Não é minha culpa que ela seja tão sensível. — Isso não é um jogo, Sinn. Essa é minha vida. Você e eu somos amigos há muito tempo, mas você não pode entrar na minha casa e começar uma confusão com minha esposa. — Chefe, se ela não consegue lidar com uma de suas antigas namoradas passando por aí com uma camisa e sua aliança, ela não foi feita para a vida que você leva. — Se você fizer merda de novo, você não vai conseguir trabalhar em qualquer lugar desta cidade. — Ele rosnou e pegou sua aliança e camisa dela. — Dê-me a chave. Ela a entregou com outro revirar de olhos. — Você e eu sabemos que vou receber a chave de volta em algumas semanas, quando a Mary Sue37 aí perceber que não é mulher o suficiente para um homem como você. — Saia! — Ele a conduziu até a porta e a fechou atrás dela. Depois de trancá-la, ele correu de volta para o quarto onde Marley já estava vestida e jogando suas coisas na mala e na mochila. Seu estômago revirou e ele tentou desesperadamente explicar a situação. — Eu me meti em uma briga com um cliente na noite passada. — Uh-huh. — Ela evitou fazer contato visual e enfiou as roupas sujas na mochila. 37
Mary Sue surgiu na década de 70, quando foi lançada uma fanfic de Star Trek. A personagem que deu origem ao nome usado no termo era uma mulher perfeita, bonita, inteligente, forte, que conquistava todos com seu charme e não tinha nenhum defeito.
— Minha camisa ficou suja de sangue. Entrei no camarim das meninas para me limpar e me trocar. O lugar de Sinnamon é o mais próximo dos banheiros das dançarinas, então deixei minha aliança lá onde sabia que estaria segura. Eu estava com pressa e então a polícia chegou. Esqueci de voltar e pegar minhas coisas. — Tanto faz. Suas respostas curtas atingiram o medo em seu coração. — Marley, por favor. — Ele implorou. — Fale comigo. Ela fechou o zíper da mochila com raiva e olhou para ele. — Você quer falar? OK. Quando foi a última vez que você transou com ela? Besian se mexeu desconfortavelmente e admitiu: — Algumas semanas atrás. A expressão dela caiu e ela engoliu em seco. — Entendi. — Tecnicamente. — Acrescentou, tentando tornar a situação melhor. — Tecnicamente? Tentando ser delicado, ele explicou: — Ela gozou, mas eu não. — Que diabos isso significa? Odiando a si mesmo e sua fraqueza, ele admitiu: — Eu não consegui ficar duro. — O quê? — Ela fez uma careta de confusão. — Eu não conseguia ficar duro com ela. Nós tentamos, mas não deu... — Ele soltou um suspiro exasperado e passou a mão pelo cabelo. — Tenho tido problemas com isso desde a noite em que fui baleado.
Achei que fosse algo físico, mas era mental. Era um bloqueio porque... — Por quê? — Porque ela não era você. — Ele gritou. — Eu não tive nenhum problema com você. De jeito nenhum. — Isso é para me fazer sentir melhor? — Eu tecnicamente não fiz sexo com Sinnamon ou com as outras. — Outras? — Havia algumas. — Ele admitiu. — Mas era o mesmo com todas elas. Dei prazer a elas, mas não obtive. Não até você. Não até Tirana. — Isso é para me fazer sentir especial? — Sim. — Ele disse estupidamente. — Você é especial para mim. — Oh, me poupe, porra! — Ela jogou um travesseiro nele. — Eu sou tão especial que você estava aqui tentando transar enquanto supostamente estava loucamente apaixonado por mim? — Você namorou também! — Ele atirou de volta, irritado por estar sendo julgado. — Namorar? Sim. Foder? Não. — Como eu deveria saber disso? — Você poderia ter perguntado! — Ela jogou outro travesseiro nele. — Você poderia ter me convidado para um encontro. Você poderia ter me dito que se preocupava comigo!
— Eu me importo com você. Eu amo você. — Ele se aproximou em passadas poderosas. — Eu fui para a Albânia para encontrar você. Eu me casei com você porque não consigo imaginar um dia sem você ao meu lado. Quero construir uma vida com você, um futuro. — Ele deslizou a mão ao longo de sua nuca e segurou seu rosto com a outra. — Marley, eu morreria por você. Sem hesitação. Sem arrependimento. Eu morreria se isso significasse que você viveria. — Ele se inclinou e encostou a testa na dela. — Eu amo você. Você, Marley. Só você. Seus olhos se encontraram e as lágrimas escorreram pelo rosto dela. O coração dele se partiu novamente com a dor que ele havia causado a ela. Ela não merecia nada disso. — Sinto muito, Marley. Lamento ter estado com outras mulheres em vez de te dizer como me sentia. Lamento não ter pegado minha chave com Sinnamon. Lamento ter deixado minha aliança e minha camisa sem querer. Lamento não ter contado a você sobre a briga com o cliente. Eu sinto muito. Por tudo isso. Ela manteve os olhos bem fechados, chorando silenciosamente e se recusando a olhar para ele. Desesperado para fazê-la entender o quanto ela significava para ele e o quão comprometido ele era com ela, ele disse: — Vou vender minha participação nos clubes. Hoje. Agora mesmo. Kostya vai comprá-los de mim, se eu pedir. Os olhos dela se abriram rapidamente. Ela examinou o rosto dele como se tentasse detectar um sinal de mentira. — Você está falando sério. — Como dois e dois são quatro. — Respondeu ele facilmente. — Eu não preciso dos clubes, Marley. Existem outras maneiras de ganhar dinheiro. A única coisa que importa para mim é você. — Ele passou os polegares ao longo de suas bochechas e enxugou suas lágrimas. — Só você. Só você. — Ele engoliu em seco. — Por favor, Marley, não me deixe por causa disso.
Sua justa indignação desapareceu. — Eu não vou te deixar por isso. Ele relaxou de alívio. Mesmo assim, ele insistiu: — Eu falei sério, Marley. Vou vender os clubes. Não vale a pena correr o risco de você se machucar novamente. — Não. — Disse ela, balançando a cabeça. — Eu não tenho o direito de julgá-lo ou ficar com raiva de você por coisas que aconteceram antes de ficarmos juntos. É só... — Ela baixou o olhar. — Eu me senti especial para você. Eu me senti especial em sua casa quando você a chamou de nossa casa. Eu me senti especial quando você compartilhou sua situação financeira comigo e confiou em mim para examinar toda a sua papelada. Então ela simplesmente entra na casa como se fosse a dona, e isso fez eu me sentir estúpida, pequena e insignificante. — Você não é nenhuma dessas coisas, Marley Beciraj. Você é brilhante e muito importante para mim. Sinto muito que ela tenha te machucado. Não sei por que ela se comportou assim. Ela nunca foi cruel. Marley encolheu os ombros. — Quem sabe por que as pessoas fazem as coisas que fazem? O telefone dela começou a tocar, mas ela o ignorou. — Precisamos mudar as fechaduras. Hoje. — Feito. — Ele prometeu. Encontrando o olhar dele, ela perguntou timidamente: — Você estava falando sério sobre comprar uma casa nova? — Sim. — Ele respondeu sem hesitação. — Podemos começar a procurar hoje. — Não temos que nos apressar. Acho que um novo lar para
começarmos nossas vidas juntos é uma boa ideia. — É. — Ele concordou. Desejando estender uma bandeira branca mais longa, ele ofereceu: — Podemos contratar Nicole como nossa corretora de imóveis. Ela gargalhou alto. — Ok, isso poderia ser levar as coisas um pouco longe demais. — Ela é sua amiga e se desculpou. Se você a perdoou, não vejo problema. — Você está sendo assustadoramente legal. — Ela murmurou quando seu telefone começou a tocar novamente. Com um suspiro de mágoa, ela o tirou do bolso e verificou a tela. Ela franziu a testa e atendeu. — Olá? — Ela ficou rígida e seu rosto ficou lívido com o aparente choque. — Mãe!
CAPÍTULO 30 Mãe: Marley? Por favor, se apresse! Eu: Estamos quase aí. Apenas espere. Mãe: Eu te amo, Marley. Eu: Eu também te amo, mãe.
Me remexendo no banco do passageiro, torci minhas mãos enquanto Besian disparava pela I-10 em direção a San Antonio. Estávamos na estrada há quase três horas e eu estava com os nervos à flor da pele o tempo todo. Besian estendia a mão para pegar minha a todo momento, acalmando meu nervosismo com seu toque terno. Mesmo que tivéssemos superado aquela confusão horrível esta manhã, eu podia ver quanta culpa ele ainda sentia. Algumas horas depois do choque de ver Sinnamon entrar com sua aliança e camisa, me senti mal com minha reação. Escolher começar a fazer as malas imediatamente foi errado e o assustou terrivelmente. Meu telefone tocou e eu deslizei para abrir a mensagem da minha mãe. — Ela está pirando, B. — Claro que ela está. — Respondeu ele com naturalidade. — Ela é suspeita de um assassinato. Ela está no meio de um esquema de internacional de criptomoedas. Seu marido está sob custódia federal. Ela cometeu um crime roubando seu dinheiro. Se ela não estivesse pirando, eu ficaria preocupado que ela tivesse enlouquecido. Fiz uma careta para ele. — Uau.
— O quê? É a verdade. — Talvez um pouco menos de verdade, especialmente quando chegarmos ao parque de trailers onde ela está se escondendo. — Sugeri. — Tudo bem. — Ele respondeu sombriamente. Gesticulando para uma placa verde à frente na estrada, ele perguntou: — Essa é a saída? Eu verifiquei o aplicativo de navegação. — Sim. Saída 582. Kirby. — Você já esteve aqui? — Não. Provavelmente é um dos buracos do Spider. — Mandei uma mensagem para minha mãe para avisá-la que estávamos a apenas alguns minutos de distância. — Eu costumava saber de todos, mas ele trocou muitos deles depois da coisa do cartel. — A coisa do cartel. — Besian repetiu com um bufo. — Essa é a maneira mais agradável que já ouvi alguém descrever um golpe sangrento. Eu fiz uma careta. — Tento não pensar muito nisso. — Eu sei. — Ele disse gentilmente e apertou minha mão. — Quando voltarmos, precisamos conversar sobre meus esconderijos secretos e o que você deve fazer se algo acontecer comigo. — Ligar para Zec? — Imaginei. — Sim, e se ele não atender, você liga para o Luka. Mas você corre primeiro. — Ele disse, sua expressão séria. — Eu sei. — Eu tinha ouvido um conjunto semelhante de instruções de Spider uma centena de vezes. Lembrando-me vividamente do estresse de crescer assim, eu disse: — Não quero que nossos filhos
se sintam assim, B. — Eu também não. — Ele admitiu. — Então o que nós vamos fazer? — Vamos ver como Nikolai organizou sua vida para isolar sua família e fazer um plano para fazer o mesmo. — Ele acenou com a cabeça como se estivesse vendo o plano acontecer. — Vou me afastar dos clubes. — Acrescentou ele, me surpreendendo. — Eu não tenho que estar mais tão envolvido com eles. Posso contratar uma equipe administrativa para fazer o trabalho do dia a dia. — Tem certeza? Você trabalhou tão duro para construir seus negócios. — Sim, e acho que ganhei o direito de recuar e deixar que os outros façam o trabalho duro. Não quero voltar para casa às quatro da manhã pelo resto da vida. — Confessou. — Eu quero estar presente. Quero ser um marido melhor e um bom pai. Não quero que o trabalho me acompanhe até em casa. Sua decisão acalmou meus nervos ainda em frangalhos pelo desastre desta manhã. — Eu aprecio muito isso, B. — É a decisão certa para nós. — Ele olhou para mim e sorriu. — Para nossa família. Ouvi-lo falar sobre nossa família e o futuro que ele desejava me encheu de calor e felicidade. — Além disso, haverá menos glitter para aspirar todas as manhãs. — Ele brincou com um olhar brincalhão em seus olhos escuros. Eu revirei meus olhos. — Você é ridículo.
— Ridiculamente apaixonado por você. — Ele insistiu. Eu ri e gesticulei para uma rua à frente. — Vire à direita. Em seguida, siga em frente por quatro quarteirões e vire à esquerda. Besian seguiu minhas instruções e finalmente entrou no parque de trailers mais decadente e mais triste que eu já tinha visto. — Puta merda, isso é um pesadelo. — Não é muito agradável. — Concordei. — Quando o sol se põe, este lugar deve parecer o paraíso de um serial killer. — Ele comentou cruelmente. — Quantos anos tem essa? — Ele gesticulou para uma casa móvel de largura única38 que tinha painéis de parede enferrujados e nenhum rodapé. — Olhe para a porta daquela! Fiquei triste ao ver as péssimas condições de vida. Quase não havia grama e apenas algumas árvores desfolhadas. As crianças brincavam na calçada quebrada e rachada e um bando de cachorros esqueléticos corria em volta delas, tentando roubar sua bola de futebol desbotada e gasta. — Essa merda é terrível. — Disse Besian, com raiva. — Os proprietários não deveriam ter permissão para deixar as pessoas viverem assim. — É tudo uma questão de dinheiro. — Murmurei, pensando em como teria sido fácil para mim crescer em um lugar semelhante a este. — Spider não era o melhor senhorio, mas ele se certificava de que suas propriedades fossem limpas e bem conservadas. — Ele era um santo comparado ao idiota dono deste lugar.
38
Algumas casas móveis são consideradas com “largura única” - o que significa que têm geralmente 2,40 3,65 metros de largura. Elas podem ter até cerca de 40 m² de espaço vital dentro.
— Murmurou Besian. — Qual número de lote? — Lá embaixo. — Apontei para a placa. — 43. É um trailer de viagem. Cinza com listras azuis. — Eu vejo. — Ele apontou com um movimento do dedo. — Não é tão ruim quanto os outros. O trailer de viagem tinha pelo menos vinte anos e era muito pequeno, mas parecia bem conservado. Ele estava em um canto do parque longe de outras unidades. Não havia nenhum veículo estacionado nas proximidades, e eu me perguntei como minha mãe estava se locomovendo pela cidade para comprar mantimentos e outras necessidades. Besian estacionou na vaga ao lado do trailer de viagem. Ele pegou sua Ruger debaixo do assento e a enfiou no coldre de ombro que havia escondido sob o paletó. — Marley, ao primeiro sinal de problema, vamos embora. Entendido? Eu concordei. — Entendi. Saímos do carro e Besian ficou alguns metros atrás enquanto eu caminhava até a porta. Antes que eu pudesse bater, a porta se abriu de repente e minha mãe apareceu. Sua aparência era terrível. Seu rosto estava cansado e havia olheiras sob seus olhos. Em vez de seu usual cabelo cacheado e lindamente arrumado, ela tinha seus fios ensebados e sujos presos com um prendedor na parte de trás de sua cabeça. Seus lábios estavam pálidos e rachados, e ela tremia quando estendeu a mão para mim. — Mãe! — Subi correndo as frágeis escadas de metal para os braços dela, apertando-a em um abraço. Ela estremeceu e soluçou, agarrando-se a mim como se temesse que eu pudesse desaparecer. — Está tudo bem, mãe. Estou aqui. Tudo vai ficar bem.
— Oh, Marley, sinto muito. — Ela chorou. — Eu sinto muito. — Tudo bem. — Eu esfreguei suas costas e a apertei ainda mais forte. — Nós vamos resolver isso. — Afastando-me, eu gentilmente a direcionei de volta para o trailer para dar espaço para Besian se juntar a nós nos aposentos extremamente apertados. Mal havia espaço suficiente para nós três ficarmos de pé, e eu conduzi mamãe em direção à banqueta. Quando me sentei em frente a ela, ela agarrou minha mão e passou o dedo sobre a minha aliança de casamento. Ela ergueu seu olhar lacrimoso para o meu. — Minha filhinha se casou. — Sim. — Eu disse, sorrindo para ela e depois para Besian. — Foi uma espécie de turbilhão. — Foi? — Ela se perguntou, olhando para ele e depois para mim. — Porque Spider e eu sabíamos como ele era doce com você o tempo todo. Isso costumava deixar Spider louco. — Ela disse com uma risada. — Pensar que você era apaixonada por ele. — Era tão óbvio? — Eu perguntei, já sabendo a resposta. — Para todos, menos para vocês dois. — Observou minha mãe. Ela apertou a mão de Besian, surpreendendo-o com seu toque inesperado. — Prometa que vai cuidar dela. — Pela minha vida. — Ele jurou. Mamãe assentiu e soltou sua mão. Ela enxugou o rosto e soltou um suspiro ruidoso. — Não sei por onde começar, Marley. — Como você conheceu Adrienne? — Antes de deixarmos a cobertura, Besian explicou a coisa Adrienne / Adrian para mim. Eu não conseguia entender como minha mãe estava se envolvendo com uma mulher, não depois de uma vida inteira de relacionamentos
heterossexuais. — Em um grupo do Facebook. — Disse ela, desenhando círculos no tampo da mesa lascado e amassado. — Para mulheres mais velhas presas a casamentos sem amor. Meu coração doeu por minha mãe, e peguei sua mão, segurando seus dedos finos e desejando poder tirar todos os anos de dor que ela suportou. — Nós nos demos muito bem. — Ela continuou. — O marido dela é como Spider. Ali, mas não exatamente. Sempre dentro e fora da prisão. Dormindo com outras mulheres. Julgando-a por fazer o mesmo. Recusando-se a permitir o divórcio. Chantageando-a por dinheiro. Fazendo-a dormir com seus amigos por favores. Ouvir minha mãe descrever seu casamento dessa forma deixou claro o quão pouco eu entendia sobre o relacionamento que ela tinha com Spider. Do lado de fora, os dois eram disfuncionais como o inferno, mas eu sempre fui culpada por ser mais condescendente com Spider. Agora, eu entendia como eu estava errada. Por que eu tinha sido tão dura com ela e tão indulgente com ele? — Ele fez você fazer sexo com os amigos dele? — Eu perguntei, absolutamente destruída. Ela não conseguiu encontrar meu olhar enquanto o confirmava. — A última vez que ele esteve na prisão. Os caras do clube não queriam me dar minha parte a menos que eu dormisse com eles primeiro. Pensei naquela época de nossas vidas. Foi quando minha mãe começou a jogar, fazer compras e acumular. Quando ela parou de cuidar da casa. Quando começamos a discutir muito. Claro! Ela estava tentando se cercar de coisas, construir barreiras para se proteger. O jogo e as compras provavelmente a fizeram se sentir
bem por um tempo, fizeram ela esquecer o abuso que estava sofrendo para manter um teto sobre nossas cabeças e comida na mesa. — Foi por isso que você o esfaqueou no Natal? — Sim. Estávamos brigando por dinheiro e ele me disse algo horrível. Eu perdi a cabeça. — Eu gostaria de ter sabido o que estava acontecendo, mãe. Eu teria encontrado uma maneira de ajudar. Eu poderia ter ganhado algum dinheiro como babá ou algo assim. — Você era uma criança e seu único trabalho era ir à escola e tirar boas notas. O que estava acontecendo na minha vida não era algo para uma menina se preocupar. — Ela insistiu. Seu desejo de me proteger de realidades horríveis teve um custo muito alto, e eu não tinha certeza de como iria retribuí-la. — Adrienne e eu nos unimos por esse tipo de coisa. Nós compartilhamos muitas fotos. Ela achava você tão bonita. — Minha mãe disse com um sorriso. — Não que isso seja algo incomum. Todo mundo sempre achou que você era a pessoa mais bonita que já tinham visto. — Ela apertou minha mão, seu sorriso amoroso e maternal. — Adrienne queria filhos, mas seu marido não permitia. Eu acho que isso a distorceu, a deixou amarga e um pouco louca. — Louca tipo? — Ela estava obcecada em se vingar dele. — Explicou minha mãe. — Ela queria que o marido sofresse do jeito que ela sofreu. Eu pensei que era tudo conversa fiada. Muitas de nós fantasiávamos sobre fazer nossos homens sentirem o mesmo que sentimos. — Mas? — Ela começou a falar sobre criptomoedas, carteiras e sérvios e
eu não sei. — Minha mãe puxou a mão e apertou a cabeça. — Eu não entendi metade daquilo. Era tudo jargão tecnológico sem sentido. Achei que ela estava apenas inventando uma história louca para se sentir melhor. Algum plano de vingança falso que continuaria sendo uma fantasia! Nunca pensei que ela fosse realmente fazer isso! — Bem, ela fez. — Besian comentou de sua posição em uma das janelas. Ele estava de costas para nós enquanto monitorava a situação lá fora. — E ela arrastou você e Marley para isso. — Marley? — Minha mãe repetiu em choque. — Como? — As fotos que você compartilhou com ela? De você e Marley? — Besian disse, movendo-se para outra pequena janela para verificar a área atrás à esquerda do trailer. — Alguém procurando por Adrienne tinha aquelas fotos. Eles estavam seguindo Marley pela Albânia. — Você está falando sério? — Os olhos da mamãe se arregalaram de horror. — Oh meu Deus! Marley! Eu nunca quis que isso acontecesse! — Eu sei que você não queria. — Assegurei a ela. — Tudo bem. Estou bem. Apenas... conte-nos o resto. — Fui a Lake Charles para jogar e me diverti muito, mas... — Mas? — Eu perguntei. — Eu perdi tudo. — Ela confessou. — Todo o dinheiro que você me deu e muito mais. Eu peguei muito dinheiro emprestado de um agiota perto do cassino. — E foi por isso que você limpou minhas contas bancárias? — Eu adivinhei, sentindo a frustração bem dentro de mim. — Sim. — Ela admitiu suavemente. — Eu não sabia mais o que fazer. Aqueles caras não eram como ele. — Ela apontou para Besian.
— Se eu tivesse emprestado dinheiro dele, ele teria me pressionado, mas aquelas pessoas eram duras e más. Mas eu vou te pagar de volta! Eu vou, Marley! — Mãe, eu não me importo com o dinheiro. Sério. — Eu enfatizei. — No momento, essa é a última das minhas preocupações. Conte-me o resto. Diga-me como Adrienne acabou morta no chão da minha cozinha. Minha mãe baixou o olhar com vergonha. — Eu atirei nela. Engoli a verdade que esperava. — Por quê? — Quando voltei de Lake Charles, ela estava esperando na casa. Fiquei chocada ao vê-la ali. Nunca, em um milhão de anos, pensei que ela realmente viria para Houston. — Minha mãe suspirou. — E ela estava tão agitada. Ela não parava de andar e de se mexer e eu podia dizer que havia algo acontecendo com ela. Não eram apenas as drogas, no entanto. Ela não estava normal. — Mamãe tocou sua cabeça. — Ela estava perdendo o controle. Ela falava sobre um sindicato, uma conspiração e um contêiner de transporte. — Mamãe balançou a cabeça. — Eu não sei. Nada daquilo fazia sentido. Notei o olhar pensativo de Besian e me perguntei o que ele sabia sobre um sindicato e uma conspiração. Suspeitei que Adrienne não fosse tão paranoica e louca quanto mamãe pensava. — Ela me disse que tínhamos que sair de Houston, mas eu não queria sair. Minha vida inteira está aqui. Eu não queria fazer parte de qualquer golpe que ela estava planejando. — Como ela reagiu a isso? — Não muito bem. — Mamãe disse. — Ela gritou e disse que eu era uma mentirosa que a tinha enganado fazendo-a acreditar que eu me importava com ela. Eu me importava com ela, mas não do jeito que
ela se importava comigo. Foi uma loucura. Uma merda absoluta. — Mamãe colocou as mãos sobre a mesa e suspirou. — Eu precisava conseguir o dinheiro para pagar os agiotas da Louisiana, e Adrienne não me dava cinco malditos minutos para fazer o que precisava ser feito. Então, eu disse a ela para ir comigo até sua casa. Eu sabia que poderia entrar em suas contas dessa forma. Besian olhou feio para minha mãe e eu silenciosamente implorei a ele para não dizer uma palavra. Ele se voltou para a janela e eu voltei minha atenção para minha mãe. — Ela estava vagando por sua casa enquanto eu estava em seu escritório usando seu computador para acessar suas contas. — Disse mamãe, com a voz tensa de ansiedade. — Ela começou a gritar de repente, dizendo que eu era um deles e tinha armado para ela. Saí do escritório para ver por que diabos ela estava gritando e a encontrei na sala de estar com seu quadro de avisos na mão. Ela estava acenando e batendo em alguma coisa. Meu rosto ficou vermelho como uma beterraba enquanto eu antecipava o que ela estava prestes a dizer. Engoli em seco nervosamente e evitei o olhar curioso de Besian. — Meu painel de metas? — Era isso? Com todas as fotos e páginas de revistas? — Sim. — Bem, isso explica por que você tinha aquele artigo sobre ele pregado nele. — Disse minha mãe, revelando meu segredo embaraçoso. — Adrienne apontava a página da revista com o rosto de Besian nela. Estava escrito sobre ele e seus negócios, mas ela estava focada no nome dele. Ela gritou que ele era um deles e parte da conspiração, então isso significava que eu era parte da conspiração e estava armando para ela.
Eu não conseguia acreditar em quantos fios desconectados da minha vida, de minha mãe e de Besian, haviam se juntado em um emaranhado de coincidências tão apavorante. Nada que Adrienne acreditasse ser uma conspiração era verdade. Foi tudo casualidade, mas em sua mente distorcida e doente, fazia sentido da pior maneira possível. — Tentei acalmá-la, mas ela não parava de gritar. Ela me atacou e começamos a brigar. Quero dizer – derrubar, arrastar, puxar o cabelo, socar, lutar contra arranhões. Uma de nós bateu na mesa e minha bolsa caiu no chão. Ela me prendeu no chão, imobilizada. Suas mãos estavam no meu pescoço. Ela estava me sufocando. Eu podia ver os hematomas esverdeados de dedos no pescoço da minha mãe, provando que o que ela descreveu era verdade. — Eu vi minha Kimber no chão. Eu a peguei e atirei nela. — Minha mãe baixou a cabeça entre as mãos e começou a chorar. — Eu atirei nela novamente, e ela caiu de cara no chão. Havia sangue e pedaços de cérebro por toda parte. — Ela soluçou, quase histérica. — Eu apenas fiquei deitada lá no chão, tremendo, coberta com o sangue dela. Estava uma tempestade lá fora e houve um relâmpago e um trovão. A eletricidade caiu e isso me assustou. Isso me fez levantar e ver o que eu tinha feito. — O que você fez depois daquilo? — Limpei-me o melhor que pude. Voltei para minha casa. Tomar banho. Limpei o banheiro. Quebrei a arma em pedaços. Coloque minhas roupas e a arma em uma bolsa. Desci até La Porte e fui em direção a Galveston. Parei algumas vezes e joguei pedaços da arma na água. Cheguei a Galveston e peguei a rodovia San Luis Pass e a Bluewater até Surfside. Joguei o resto da arma enquanto dirigia, no Golfo e na Christmas Bay. Quando cheguei a Surfside, encontrei uma casa de praia vazia e usei a churrasqueira do lado de fora para queimar
minhas roupas. Joguei as cinzas em diferentes latas de lixo. A descrição detalhada de minha mãe sobre a maneira como ela destruiu as evidências me chocou. Ela foi muito objetiva sobre isso. — Voltei para o meu carro e continuei dirigindo até que percebi que estava em Brownsville, de todos os lugares. — Ela enxugou o rosto com a manga da camisa. — Eu entrei em uma daquelas money stores39 e transferi o dinheiro que peguei emprestado de você para a conta do agiota, como ele me disse. Vendi meu carro para uma revenda de automóveis e joguei fora meu telefone. Peguei uma passagem de ônibus para San Antonio. Paguei um cara no terminal de San Antonio para me trazer aqui. Achei que poderia me esconder aqui por alguns dias, mas então li sobre a invasão do MC e, alguns dias atrás, li sobre o acidente de Spider. Eu não sabia o que fazer. Eu finalmente decidi que precisava entrar em contato com você. — Estou feliz que você entrou em contato, mãe. — Mesmo que agora estivéssemos atolados em sua grande confusão, eu realmente estava aliviada por termos feito contato. — Nós vamos resolver isso, mãe. — Olhei para Besian, desesperada por sua ajuda. — Certo? — Isso é tudo, Kim? — Ele perguntou bruscamente. — Ou há mais? Não podemos ajudá-la se não soubermos de tudo. — Há mais uma coisa. — Ela admitiu e se levantou da banqueta. — Eu peguei algo de Adrienne. Os olhos de Besian se estreitaram. — O que você pegou? Ela pegou sua bolsa do sofá-cama manchado e rasgado. Ela enfiou a mão e pegou um envelope grosso que entregou a ele. Ele pegou dela, e eu esperava que ele puxasse uma pilha de dinheiro. Quando era 39
Uma loja onde se pode obter dinheiro; especificamente um estabelecimento que desempenha algumas das funções de um banco e é especializado na obtenção de empréstimos.
apenas papelada dobrada, eu fiz uma careta. — O que é isso, B? Ele desdobrou o papel impresso e leu. Seus olhos se arregalaram. — É um conhecimento de embarque de um contêiner que deixou a Grécia e está chegando em Houston amanhã. Meu queixo caiu. — As carteiras criptográficas que faltam? — Eu apostaria minha vida nisso. — Ele murmurou, folheando a papelada. — Isso ajuda? — Minha mãe perguntou esperançosa. — Kim, este é o seu bilhete dourado. — Respondeu Besian. — Se você tem exigências, faça-as agora. — Eu quero sair do Texas. — Ela disse imediatamente. — Sair dos Estados Unidos. — Ela esclareceu. — Quero morar em um lugar aconchegante com uma bela praia. Um lugar seguro que Marley possa visitar. — Acrescentou ela. — Algum lugar onde meus netos possam brincar e ser felizes. — Feito. — Disse ele sem hesitação. — Quero um salário mensal para o resto da minha vida. O suficiente para viver e ficar confortável. — Ela esclareceu. — Nada louco. — Isso é fácil o suficiente de organizar. — E eu quero Spider fora da prisão e livre. — Mamãe disse, surpreendendo a nós dois. Besian olhou para mim. — Kim, não tenho certeza se isso é algo que posso fazer. — Mentira. — Ela atirou de volta. — Seja lá o que for essa coisa.
— Ela apontou para a papelada que ele segurava. — Vale muito dinheiro. Tenho certeza de que há o suficiente para pagar quem precisa ser pago para tirar Spider. — Não legalmente. — Advertiu Besian. Ele olhou para mim novamente. — Eu posso fazer outros arranjos, no entanto. Ele terá que ser transportado do hospital para a cadeia em algum momento ou da cadeia para o tribunal e vice-versa. Não será fácil, mas conheço algumas pessoas que podem interceptar esses transportes. — Besian. — Eu disse, preocupada. — Você está falando sobre tirar meu pai da custódia federal. — Sim, eu estou. Ele disse isso como se fosse a coisa mais fácil do mundo arranjar uma fuga da prisão. Talvez fosse se você fosse um homem como Besian, com o tipo de conexão que ele tinha. — Fique aqui. — Ele ordenou. — Estou indo lá fora para fazer algumas ligações. Estarei bem na porta se você precisar de mim. Quando ele se foi, minha mãe suspirou de alívio e sentou-se do outro lado da banqueta novamente. Vendo como ela parecia exausta, estendi a mão sobre a mesa e esfreguei a dela. — Vai ficar tudo bem, mãe. — Não. — Ela disse calmamente. — Há outra coisa que você precisa saber. Minha sobrancelha franziu. — Algo sobre Adrienne e a criptografia? — Não. — Ela acenou com a outra mão. — Isso não. Não, isso já é de muito tempo. — De quando? — A tristeza e a sugestão de medo em seus olhos
me assustaram. — Mãe? O que é? Ela agarrou minhas duas mãos e pude sentir seus dedos tremendo descontroladamente. — Eu queria te contar há muito tempo. — Disse ela, começando a chorar de novo. — Eu implorei a Spider para me deixar dizer a você. Eu disse a ele que você merecia saber a verdade, mas ele não permitiu. Engoli em seco ansiosamente. — A verdade sobre o quê? — Sobre quem você realmente é, querida. Meu coração pulou uma batida. — O que isso significa? — Oh, docinho, você nunca se perguntou de onde veio o seu lindo cabelo ruivo? — Sempre achei que fosse do meu pai biológico. Quem quer que seja – acrescentei, perguntando-me se este era o momento em que ela finalmente me diria o nome dele. — Não, querida. — Ela disse tristemente. — Você puxou o cabelo da sua mãe. Suas palavras não faziam sentido para mim. — Mãe, o que você... — O nome dela era Annie. — Minha mãe interrompeu rapidamente. — Ela era minha melhor amiga em todo o mundo, e eu a amava muito. Éramos como irmãs. Como você e Aston. Não consegui processar o que ela estava dizendo. Eu a encarei estupidamente, me perguntando o que diabos estava acontecendo. — Annie era a irmã mais nova de Spider. — Ela explicou, seus dedos trêmulos segurando minhas mãos com mais força. — Ela era tão bonita. Assim como você. Todo aquele cabelo ruivo, olhos azuis e sardas no nariz. Ela era doce e sensível, e todos a amavam. — Minha
mãe soluçava fortemente. — Havia um homem. Um motoqueiro do clube. — Explicou ela. — Ele era um idiota de merda mau, e ele lutou com Spider desde o início. Ele percebeu que Annie era o ponto fraco de Spider e decidiu machucar Spider da única maneira que podia. Eu arranquei minhas mãos da minha mãe e pulei para fora da banqueta. Meu coração disparou e meu estômago revirou e pesou. Por favor, pensei desesperadamente, por favor, não diga isso. — Ele a estuprou. Acabou com ela. — Mamãe chorou. — Foi horrível o que ele fez com ela. Spider e Romero o fizeram pagar. Eles o mataram. Fizeram com que cavasse sua própria cova antes que eles o matassem. Eu vou vomitar. Eu me apoiei no balcão da pia minúscula e tentei engolir a bile subindo na minha garganta. — Annie engravidou e pensamos que ela estava bem. Nós realmente achamos. Não sabíamos que ela estava sofrendo por dentro de algo horrível. — Continuou mamãe, ainda soluçando. — Spider a encontrou no carro com uma mangueira do escapamento. Ela não aguentou. Ela não conseguia mais viver assim. Eu perdi o controle então. Vomitei violentamente na pia enquanto minha vida virava de cabeça para baixo com esse segredo horrível, terrível. — Oh, querida. — Minha mãe gritou e correu para o meu lado. Ela ligou a água para enxaguar a bagunça enquanto eu me apoiava na pia. — Oh, querida. Eu sinto muito. A porta do trailer se abriu e Besian correu para dentro. — O que há errado? Querida? Marley? — Ele tirou minha mãe do caminho. — O que você fez Kim? — Eu tinha que contar a ela! — Minha mãe chorou. — Ela
merecia saber a verdade! — Que verdade? Dizer a ela o quê? — Besian rasgou um punhado de toalhas de papel do rolo próximo e enxugou meu rosto e boca. — Marley? Rrushe? — Ele olhou para minha mãe. — Kim! O que você disse? — Eu não sou a mãe biológica de Marley. Sua mãe era Annie, a irmã mais nova de Spider, e seu pai era um... — Minha mãe não conseguiu terminar. — Era o quê? — Besian exigiu com raiva. — Um estuprador. — Solucei de vergonha e horror. — Meu pai era um estuprador. Besian me apertou contra o peito, passando os dedos pelo meu cabelo e beijando o topo da minha cabeça. — Maldita seja, Kim. — Ele rosnou. — Por que disse isso a ela? — É a verdade. Ela merecia saber! — Às vezes, é melhor deixar a verdade enterrada. — Ele rosnou. — Especialmente quando vai machucar as pessoas que amamos. — Ela ia descobrir. — Insistiu minha mãe. — A polícia provavelmente já tem o DNA dela e o meu. Assim que o confrontassem, saberiam que não somos parentes de sangue. O DNA de Spider está em um banco de dados por causa da quantidade de vezes ele esteve na prisão. Eles a teriam conectado a ele! Pelo que eu sei, o homem que machucou Annie está em um banco de dados em algum lugar também! Eu não podia suportar a ideia de ela descobrir assim! Agarrei-me a Besian, segurando seu paletó com as duas mãos enquanto chorava e tentava aceitar a horrível verdade da minha concepção. Mesmo em meio à névoa da turbulência, eu podia ver por
que minha mãe havia me contado agora. Foi horrível ouvir isso dela. Eu não conseguia imaginar ouvir isso de alguém como Eric. — Marley, fizemos o que achamos melhor. — Minha mãe insistiu. — Eu me casei com Spider. Eu adotei você. Fizemos documentos falsos para que você nunca precisasse saber. Muito bons. Eles nunca foram questionados. Você os usou para a escola e seu passaporte. Queríamos que você vivesse uma vida feliz e normal, sem tudo isso pairando sobre você. — Minha mãe soluçou entrecortada. — Marley, por favor. — Ela implorou. — Por favor, olhe para mim. Piscando para afastar as lágrimas inundando meus olhos, eu olhei. Ela tocou meu ombro e depois minha bochecha. — Eu sei que não fui a melhor mãe. Eu cometi erros. Há tantas coisas que eu gostaria de poder voltar atrás. Coisas que eu gostaria de poder refazer e consertar. — Ela admitiu. — Mas uma coisa nunca mudou e é o quanto eu te amo. Você pode não ter crescido na minha barriga, mas você é minha filha. Eu amo você. Minha vida inteira ficou melhor por sua causa. Você é como a luz do sol para mim e eu te amo. Eu te amo muito. — Mamãe. — Eu disse, voltando ao nome que a chamava quando era criança. Eu me afastei de Besian e joguei meus braços em volta de minha mãe. Ela me abraçou e balançou de um lado para o outro, balançando-me suavemente enquanto esfregava minhas costas. — Oh, querida. — Ela murmurou. — Eu sinto muito. Eu sinto muito. Atrás de mim, Besian colocou uma mão amorosa em meu ombro. Eu olhei para ele e vi as lágrimas em seus olhos. Ele estava sofrendo muito por mim, e foi outro lembrete do quanto ele me amava e queria me proteger e me manter segura. Ele se inclinou e beijou minha bochecha, seus lábios demorando daquela forma terna que eu amava. Ficamos assim por um tempo. Minha mãe me segurando. Besian
me tocando e dando beijos suaves no topo da minha cabeça e na minha têmpora. Por fim, parei de chorar e deixei Besian limpar meu rosto com toalhas de papel úmidas. Abalada e ainda sem saber como dar sentido à verdade que havia descoberto, eu contava com o apoio deles. Apoieime em minha mãe quando saímos do trailer e fiquei sentada enquanto Besian afivelava meu cinto de segurança. Besian saiu do estacionamento e depois do parque decadente. Ninguém falou enquanto ele dirigia e eventualmente voltou para a I-10 indo para o leste desta vez. Notei que ele dirigia com cuidado, permanecendo abaixo do limite de velocidade e deixando bastante espaço entre o nosso carro e os outros. Ele claramente queria evitar qualquer desentendimento com a polícia. Eu não o culpava. Não com minha mãe fugitiva no banco de trás. E ela ainda era minha mãe. Mesmo que eu não tivesse certeza de como me sentir sobre saber sobre minha mãe biológica ou o monstro que me gerou, eu sabia de uma coisa com certeza absoluta. Minha mãe me amava e eu a amava. Não éramos perfeitas, e Deus sabe que precisávamos de uma terapia séria para resolver nossas questões, mas éramos uma família. — O que acontece agora? — Mamãe perguntou do banco de trás. — Estamos indo para o sul. Para Freeport. — Porque para lá? — Porque há um navio-tanque ancorado lá e a capitã deve um grande favor a Kostya. Então, você vai entrar no navio dela e ela vai levá-la para a Espanha. — Espanha? — Minha mãe repetiu em choque. — E depois para onde?
— Zec vai lhe oferecer algumas opções. Lugares sem tratados de extradição. — Explicou. — Até que você decida para onde quer ir, ele irá mantê-la segura e garantir que você tenha tudo de que precisa. Certa de que minha mãe estava nervosa, eu me mexi no assento e olhei para ela. — Zec é intimidante, mas é um cara legal. Ele é leal e, quando dá sua palavra, a cumpre. Ele vai garantir que você receba tudo o que é devido. Mamãe acenou com a cabeça. — OK. Se você confia nele, eu confio nele. — E quanto ao doninha? — Eu perguntei nervosamente. Besian havia amarrado cuidadosamente todas as outras pontas soltas, mas ninguém mencionou o canalha que estava seguindo a mim e a Rina na Albânia. Mamãe se inclinou para frente. — Doninha? Que doninha? — O marido de Adrienne – explicou Besian, preenchendo as lacunas. — Era ele quem estava seguindo Marley e minha sobrinha e as ameaçando. — Besian agarrou minha mão e entrelaçou nossos dedos. — O doninha não é mais um problema. — Zec? — Imaginei. Besian balançou a cabeça. — Luka. — Luka? — Eu recuei, surpresa. — O homem ameaçou sua irmã, sua tia e a irmã de seu melhor amigo. A honra exigia isso. Honra. Lealdade. Sangue. Família. Todas as coisas que mais importavam para Besian estavam se tornando as coisas que mais importavam para mim.
Paramos apenas uma vez em nosso caminho para Freeport, parando em um pequeno posto de gasolina para usar o banheiro e comprar algo para beber. Quando chegamos a Freeport, o cheiro químico no ar revirou meu estômago. Besian me pediu para encontrar o endereço de um motel específico e usei meu aplicativo de navegação para nos levar até lá. Ele me pediu para verificar o telefone pré-pago que ele tinha usado para ligar para Zec mais cedo. Havia uma mensagem de texto com o número do quarto e ele estacionou em frente a ele. Inclinei-me para ter uma visão melhor daquele lugar velho e sombrio. Era o tipo de motel que parecia não ter sido repaginado ou reformado em cinquenta anos, a alvenaria em ruínas, janelas sujas e portas frágeis que não impediriam a entrada de um mosquito, muito menos de um intruso. Minha mãe e eu trocamos olhares duvidosos antes de sair e seguir Besian para o quarto. A porta estava destrancada e ele gesticulou para que esperássemos enquanto ele verificava o espaço. Quando ficou satisfeito com a segurança do quarto, conduziu-nos para dentro e fechou a porta, trancando-a e espiando pela janela ao lado para se certificar de que não tínhamos sido seguidos. — O que é isso? — Apontei para as sacolas do Walmart na cama e o macacão vermelho sujo com listras refletivas. Um par de botas de trabalho velhas e gastas estava no chão ao lado da cama, junto com um capacete de segurança manchado. — Isso é o que sua mãe vai vestir quando sair deste lugar. — Besian pegou o macacão sujo e o ergueu na frente de minha mãe. — São um pouco grandes, mas servem. Mamãe olhou para as sacolas e começou a retirar os itens de dentro delas. Artigos de higiene pessoal, roupa íntima, meias, sutiãs esportivos, leggings e um pacote de camisetas brancas masculinas.
— Eu sei que não está na moda. — Disse Besian. — Mas é o melhor que você vai conseguir em tão pouco tempo. — Está tudo bem. — Mamãe respondeu, pegando os produtos de higiene pessoal. — Eu tenho tempo para tomar banho? Besian consultou o relógio. — Sim. Eles não vão buscá-la em menos de meia hora. — Vou me apressar. — Ela prometeu, pegando a sacola de roupas e correndo para o banheiro. Quando ela se foi, Besian estendeu a mão para mim. Ele segurou meu rosto e olhou para mim com amor e preocupação. — Você está bem? — Eu não sei. — Eu admiti incerta. — Minha mãe acabou de me dizer que ela matou alguém e que ela não é realmente minha mãe biológica e agora ela está fugindo para sempre. É muito para processar. — Eu sei. — Ele murmurou e me beijou docemente. — Eu gostaria de poder fazer tudo isso ir embora, Marley. Eu gostaria de poder tirar toda a dor que você está sentindo. Inclinei-me em seu abraço e descansei minha bochecha contra seu peito. — Apenas me abrace. — Eu implorei suavemente. — Não me solte ainda. Ele me segurou, passando os dedos pelo meu cabelo e salpicando beijos castos ao longo do meu rosto. Procurei sua boca para beijos mais íntimos, desesperada para me lembrar o quanto eu era amada e como a vida poderia ser boa. Ele retribuiu meus beijos com a paixão que eu esperava dele. No momento em que o chuveiro parou, eu me senti firme o suficiente para me afastar e sentar na ponta da cama para esperar por minha mãe.
— Eu já volto. — Disse ele, dirigindo-se para a porta. — Preciso tirar algo do carro. — Tenha cuidado. — Eu insisti. — Eu terei. — Ele prometeu. — Tranque a porta atrás de mim. Eu o segui até a porta e fiz o que ele pediu. Voltei para a cama e esperei minha mãe sair do banheiro. Ela saiu em uma nuvem de vapor. Fazendo uma careta, ela disse: — Essa água fede. — Com certeza. — Eu concordei, franzindo meu nariz com o cheiro de enxofre amplificado pelo calor do chuveiro. — A água naquele navio provavelmente estará tão ruim quanto. — Ela comentou nervosa. — Espero não enjoar no mar. — Você já fez cruzeiros antes. — Eu a lembrei. — Você não teve problemas com eles. — Isso é verdade. — Disse ela e embalou os produtos de higiene e os pacotes abertos de roupas. — Você foi à Espanha na sua viagem? — Não, mas conheci um espanhol muito legal enquanto fazia uma caminhada. Ele mora em The Woodlands, e nos tornamos amigos. — Decidi não falar sobre seu ferimento. — Ele estará de volta em algumas semanas, e nós vamos nos encontrar para jantar. — E Besian não se importa? — Ela perguntou, preocupada. — Não, ele não se importa. — Não mais, pelo menos. — Você está feliz com ele? — Ela procurou em meu rosto qualquer sinal de arrependimento. — Ele é bom para você? — Estou muito feliz e ele é bom para mim. — Nem sempre será fácil. — Ela avisou. — Mas se vocês dois
realmente se amam e estão empenhados em fazer isso funcionar, o casamento pode ser uma coisa maravilhosa. — Vou manter isso em mente. Ela abriu o zíper do macacão e sentou-se ao meu lado. — Na verdade, não pensei que ele me tiraria do país tão facilmente. — Ele fez uma promessa e sempre cumpre sua palavra. Ela enfiou as pernas no macacão até que seus pés saíram da bainha. Ela se levantou e enfiou os braços nas mangas. O macacão era provavelmente um tamanho grande demais, mas não parecia tão ridículo. — Espero passar por um trabalhador naval. — Você irá. — Entreguei a ela as botas. — Ai credo! Elas estão ensebadas! — Eles cheiram como se tivessem saído da bunda de um burro. — Ela disse e fez uma cara de nojo. — Eu volto já. Se Besian bater, atenda a porta. — Entrei no banheiro e limpei o óleo e a sujeira dos meus dedos com a água fedorenta e o sabonete barato. Besian havia retornado quando eu voltei para a parte principal do quarto. Ele entregou à minha mãe cinco pesados envelopes brancos. — Para ajudá-la a começar. — Explicou ele. — Zec fará os arranjos bancários para sua nova vida. Até então, isso deve suprir você. — Você mantém envelopes cheios de dinheiro no seu carro? — Eu perguntei, atordoada. — De que outra forma eu teria acesso a dinheiro se precisasse fugir? Bem, ele me pegou. — Estavam no porta-luvas? Não é perigoso
ter dinheiro parado assim? — Não, rrushe. Estão em compartimentos que eu instalei. — Como ele te chamou? — Mamãe perguntou enquanto colocava os envelopes em uma sacola do Walmart. — Uvas. — Eu disse, captando os olhos de Besian e sorrindo. — Uvas? — Perplexa, ela olhou para ele e depois para mim. — Você está falando sério? Houve uma batida na porta e Besian se virou para atender. — É uma coisa albanesa. — Claramente. — Mamãe murmurou. Besian verificou o olho mágico e destrancou a porta. Uma mulher em torno da idade da minha mãe, vestindo macacões semelhantes, entrou no quarto do hotel. Ela não se incomodou em se apresentar e foi bastante brusca ao perguntar: — É você quem vai se juntar à nossa equipe? — Sim, sou eu. — Então vamos. Mamãe se virou para mim e eu corri para os braços dela. Nós nos abraçamos uma última vez, agarrando e apertando e transmitindo todo o amor que tínhamos uma pela outra em um abraço. Ela deu um tapinha nas minhas costas duas vezes e depois se separou de mim. Ela pegou suas sacolas do Walmart e pigarreou. — Eu te ligo mais tarde, querida. — Ok, mãe. — Mais tarde? Quando seria mais tarde? Um dia? Uma semana? Um mês? — Tchau, querida.
— Tchau, mãe. Ela girou em direção à porta e saiu rapidamente antes que qualquer um de nós pudesse mudar de ideia. A porta se fechou atrás dela, e foi como se um capítulo inteiro da minha vida tivesse acabado. — Marley? — Besian perguntou com cuidado. — Estou bem. — Eu limpei as lágrimas nos meus olhos. — Mesmo. Ele não parecia convencido. — Está tudo bem se você não estiver. — Eu sei, mas eu estou. Ele deixou por isso mesmo. — Você está pronta para ir para casa? Exausta por mais um dia longo e difícil, eu balancei a cabeça. Percebendo há quanto tempo ele estava acordado e como ele dormia pouco, caminhei até ele e, de brincadeira, coloquei minha mão no bolso da frente de sua calça, onde ele guardava seu chaveiro. O desejo despertou em seus olhos e eu me levantei na ponta dos pés para beijálo. — Eu vou dirigir. — Temos quarto pelo resto da noite. — Ele murmurou contra meus lábios. — B, luz da minha vida, labareda em minha carne. — Parafraseei Nabokov. — Não há como qualquer parte do meu corpo nu tocar aquela cama. Ele brincou com a minha boca. — Quem disse alguma coisa sobre a cama? E então ele me mostrou exatamente o que queria dizer.
Duas vezes. Completamente.
CAPÍTULO 31 20 de dezembro
— E mais uma assinatura aqui, Sr. e Sra. Beciraj. — Disse o funcionário da empresa de título. Besian rabiscou sua assinatura na linha em branco e deslizou o último papel da pilha gigante em direção a Marley. Ela assinou seu nome embaixo do dele e o empurrou sobre a mesa para o advogado imobiliário que conduzia o processo. Ela sorriu para ele, seus olhos brilhando de alegria e entusiasmo. — É isso. — O advogado anunciou com um floreio de sua caneta. Ele entregou tudo ao representante da empresa titular. — Vocês dois são agora os orgulhosos proprietários desta casa incrível. — Parabéns! — Nicole sorriu e entregou as chaves a Marley, fechando simbolicamente o negócio da casa em Tanglewood que ela os ajudara a encontrar. — Parabéns a você. — Disse ele, apertando a mão dela. Ele tinha sido cético em relação a ela, mas ela recuperou seu respeito e perdão ao se desculpar e não tentar amenizar seu comportamento rude naquela noite no chá de panela improvisado. — Foi uma comissão muito pequena que você ganhou. — Você não tem ideia do quanto significa para mim. — Nicole abraçou Marley. — Vocês dois fizeram deste o melhor ano que já tive! — Você nos ajudou a encontrar a casa perfeita. Você merece cada centavo depois de tudo o que a fizemos passar. — Observou
Marley com um sorriso de desculpas. — Estou surpresa que você não tenha desistido de nós depois da décima casa que ele amou e eu odiei. — Você está brincando comigo? Foi uma boa experiência. Agora, posso anunciar-me como uma corretora de imóveis especializada em clientes muito particulares! Besian odiava admitir o quanto eles haviam sido difíceis durante a caça à casa. Ambos queriam coisas tão diferentes em uma casa. Ele gostava de coisas modernas e espaçosas. Marley tendia a lugares mais aconchegantes, parecidos com casas de campo, com muitas árvores e espaço para jardim. Ele queria uma piscina. Ela queria uma biblioteca. Ele preferia um lado da cidade. Ela queria estar mais perto de Aston. De alguma forma, Nicole finalmente conseguiu reunir todas essas diferentes necessidades e desejos. Assim que passaram pelas portas da frente de uma casa de estilo rural francês em um enorme terreno de esquina em Tanglewood, ele olhou para Marley e sorriu. Ela sorriu de volta, e ele sabia que era a casa onde eles criariam sua família. — Aston ainda está ansiosa para organizar sua festa de inauguração? — Nicole perguntou quando elas deixavam a empresa com toda a papelada em mãos. — Claro! — Marley riu. — Eu tentei dizer a ela que eu deveria estar organizando minha própria festa de inauguração da casa, mas ela está inflexível em que eu permita que ela cuide de tudo. — Bem, ela dá festas incríveis. — Nicole parou perto de seu Lexus. — Se você permitir que ela planeje a inauguração da casa, talvez ela pare de nos enviar todos aqueles vlogs e artigos horripilantes sobre parto. Besian franziu a testa e olhou para Marley, que parecia divertida com o nojo de Nicole.
— Ponto justo. — Decidiu Marley. — Vocês dois vão ficar na cidade para as festas? — Nicole perguntou enquanto procurava as chaves na bolsa. — Não. — Interrompeu Besian, surpreendendo Marley com sua resposta. — Vamos finalmente fazer nossa lua de mel. — Ooh. — Nicole comentou com um sorriso atrevido. — Algum lugar quente e praiano? — Com certeza. — Besian respondeu, ainda segurando o olhar curioso de Marley. — Bem, divirtam-se e conversaremos quando vocês voltarem. — Ela rapidamente abraçou Marley. — Cuidem-se! — Nós vamos. Feliz Natal. — Marley gritou quando Nicole entrou em seu Lexus. Voltando sua atenção para ele, ela estreitou os olhos e cutucou seu peito. — OK. Quando você estava planejando me contar sobre esta viagem de lua de mel? — Hoje. Em algum momento. — Ele adorava surpreendê-la e gostava da maneira como ela protestava contra os presentes que ele dava. — Quando vamos partir? — Amanhã de manhã. — E para onde estamos indo? — Vocês dois não vão a lugar nenhum. — Uma voz familiar e indesejada interrompeu atrás deles. Besian suspirou e se aproximou de Marley, deslizando o braço em volta da cintura dela enquanto eles se viravam para o Detetive
Santos. Sem humor para suas besteiras, Besian perguntou: — O que diabos você quer, Eric? — Você sabe exatamente por que estou aqui. — Eric insistiu. Besian sabia, mas se fez de bobo. — Eu não sei. Eric voltou sua ira em direção a Marley. — E você? Você não tem nada a dizer? — Não sei do que você está falando. — Marley disse honestamente. — Você é quem está nos abordando no meio de um estacionamento. O que quer que você tenha a dizer, diga ou saia do caminho para que possamos ir para casa e fazer as malas! Deus, Besian amava a versão agressiva de sua esposa. Ele queria tanto beijá-la agora. — Spider. — Eric retrucou. — Ele foi embora! Marley recuou em choque. — Desapareceu? Morreu? — Não! — Eric gritou. — Foi embora como se tivesse escapado. — O quê? — Marley gritou de volta. — Como? Quando? — Cerca de duas horas atrás. — Eric disse com raiva. — Ele estava no meio de transporte entre o hospital e a prisão. A van foi atingida em um cruzamento. Ele foi levado. — Os guardas? — Ela perguntou preocupada. — Tudo bem. Principalmente. — Ele admitiu. — Arranhões e solavancos e algumas queimaduras de Taser. Nem um único tiro foi disparado por qualquer lado. — Bem, isso é bom, certo? — Marley respondeu com
expectativa. — Você ouviu o que eu disse? Seu padrasto escapou da custódia federal! — Eu ouvi você, assim como todo mundo dentro de cinco quarteirões. — Ela resmungou. — Você está aqui gritando como um lunático. — Se você tiver algo a ver com isso... — Eric avisou. Marley revirou os olhos. — Eric, estivemos aqui na empresa de títulos durante a maior parte da tarde. Antes disso, estávamos no banco organizando a transferência eletrônica. — Você sabe exatamente o que quero dizer! — Eric insistiu e olhou para Besian. — Você acha que vai se safar com tudo isso? — Mais uma vez, Eric, não tenho ideia do que você está falando. — Besian respondeu calmamente, secretamente deliciado com a maneira como aquela veia latejava na têmpora de Eric. — Mentira. — Eric rosnou. — Primeiro, o corpo que foi encontrado na cozinha de Marley desaparece misteriosamente da geladeira do legista. Então, todas as evidências de DNA e vestígios retirados da cena desaparecem? Kim desapareceu. Agora, Spider escapa em um ataque obviamente orquestrado em um transporte de prisão? Me dê um tempo! Devo acreditar que tudo isso é uma grande coincidência? — Na verdade, parece que seu departamento tem sérios problemas de segurança. — Observou Marley. — Como se vocês devessem investigar isso ou algo antes de um jornalista decidir investigar e descobrir todos os segredos sujos que vocês estão escondendo na HPD. Eric estreitou os olhos. — Isso é uma ameaça?
— Por que seria uma ameaça? Se você não tem nada a esconder. — Ela esclareceu em um tom enlouquecedoramente doce que pareceu enfurecer Eric. Besian nunca tinha imaginado que iria perceber isso no meio de um estacionamento em plena luz do dia, mas maldição se Marley não tinha apenas provado que ele estava errado. Havia algo escandalosamente sexy em ela ser um pouco má. — Veremos o quão presunçosa você é quando tudo desabar em suas cabeças. — Eric avisou. — Aproveitem suas férias, Sr. e Sra. Beciraj. — Boas festas! — Gritou Marley enquanto se afastava. Quando Eric estava fora de vista, ela olhou para ele e fez uma careta. — Sério, B? — Não aqui. — Ele murmurou e a levou para seu carro. Assim que eles entraram e saíram da empresa de títulos, ele disse: — Sim, é sério. — Eu quero saber como? Ele ergueu a mão e esfregou os dedos em um gesto silencioso que significava dinheiro. — Entendo. Ele encolheu os ombros. — Esse foi o acordo que fizemos com sua mãe. — Sim, foi. — Ela brincou com o colar de cruz que usava quase todos os dias. — Será que algum dia o verei de novo? — Eu não sei. — Admitiu Besian. Ela não tinha feito nenhum contato com Spider desde o dia em que ele a expulsou tão cruelmente de seu quarto de hospital. Depois de descobrir sobre como ele havia
permitido que o clube abusasse de sua mãe em troca de dinheiro, Marley não estava particularmente interessada em restabelecer o relacionamento entre pai e filha. — Você quer? — Talvez. — Ela respondeu incerta. — Algum dia. — Quando você decidir, me avise. — Eu vou. — Ela inalou uma respiração purificadora e então se virou para ele com um sorriso brincalhão. — Ei, sabe de uma coisa? — Não, rrushe, o quê? — Já se passaram sete dias que tomei minha injeção. Você sabe o que isso significa, certo? — Que não temos que passar na farmácia antes de partir em nossa lua de mel? Uma onda de calor queimou em sua virilha enquanto ele se imaginava finalmente fazendo amor com sua esposa sem nada entre eles. Os médicos sugeriram um DIU, pílulas apenas de progesterona ou a injeção até que ela fosse liberada para engravidar. Marley havia decidido pela injeção, e eles estavam contando os dias até que pudessem riscar algo novo da lista crescente de experiências sexuais que ela desejava. — Sim. — Ela provocativamente passou os dedos ao longo de da coxa dele. — Você sabe. — Disse ela, prolongando as palavras de forma sedutora. — Poderíamos passar na casa que acabamos de comprar e comemorar lá. — Estou ouvindo. — Ele se mexeu no assento enquanto os dedos dela se aproximavam cada vez mais do lugar onde ele realmente os queria. — Nós poderíamos brincar de esconde-esconde, mas como a
versão adulta e travessa. — Ela sugeriu perversamente. — E o que eu ganho quando encontrar você? — Ele respirou fundo quando a mão dela o segurou através do tecido da calça. Ela deslizou seus dedos ágeis ao longo do contorno de seu pau e sorriu. — O que você quiser, B. — Marley. — Ele gemeu enquanto a mão dela o massageava com golpes tortuosamente lentos. — Sim? — Eu amo você. — E eu amo você, B. Fim.